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IMÓVEIS

01/08/05

Cooperativa dos companheiros


Sindicalistas controlam a segunda maior incorporadora de imóveis de São Paulo

RICARDO GRINBAUM E PATRÍCIA CANÇADO

Um nome pouco conhecido até no meio empresarial veio à tona nos últimos
dias por ter recebido um grande investimento de fundos de pensão estatais.
Embora não seja familiar para a maioria dos brasileiros, a Bancoop ganhou
fama entre sindicalistas, políticos e gente de primeiro escalão do governo,
incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Bancoop é uma
cooperativa para a construção de casas e apartamentos em São Paulo. Foi
criada há nove anos pelo então presidente do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, Ricardo Berzoini, mas cresceu muito além de seu objetivo inicial. A
cooperativa dos sindicalistas virou uma potência empresarial.

Hoje, a instituição não atende só bancários. Tem 15 mil cooperados,


movimenta R$ 150 milhões por ano e já entregou 5 mil imóveis, alguns
deles para autoridades como o ex-ministro Luiz Gushiken. De acordo com a
Amaral D'Ávila Engenharia de Avaliações, a cooperativa dos bancários
virou a segunda maior incorporadora de São Paulo. Ou seja, é uma das que
mais lançam novos prédios e condomínios residenciais na cidade. "A
Bancoop é uma das poucas cooperativas sólidas que sobraram no mercado",
diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos do
Patrimônio (Embraesp). "Soube captar bem a demanda da classe média e
popular."

A Bancoop funciona como uma típica cooperativa. Quem quiser comprar um


imóvel não precisa ser bancário. Basta apresentar a carteira de identidade e o
CPF, escolher um empreendimento e começar a pagar as prestações. Quem
ficar três meses sem pagar as parcelas é retirado e substituído por um novo
cooperado. O ritmo das obras depende de quanto se arrecada nos grupos
reunidos ä em cada empreendimento. Como a velocidade de desembolso é
lenta, as construções feitas por cooperativas são mais demoradas, segundo
Cacá Della Libera, diretor da Orienta Coop, consultoria especializada em
cooperativas de construção.
Na virada do ano, a Bancoop ganhou um gás financeiro extra para tocar suas
obras com maior rapidez. A cooperativa foi ao mercado financeiro e lançou
um produto conhecido como FDIC, uma espécie de nota promissória.
Grosso modo, funciona assim: a cooperativa arrecada dinheiro junto aos
investidores e entrega em pagamento os papéis com as dívidas que têm a
receber de seus cooperados. Ao passar o chapéu no mercado, a Bancoop
conseguiu R$ 43 milhões. Desse total, mais da metade veio de fundos de
pensão de empresas estatais. A Petros, dos funcionários da Petrobrás, foi a
primeira a apostar no produto e aplicou R$ 10,6 milhões - um quarto do
total. A Funcef (empregados da Caixa Econômica Federal) entrou com R$
11 milhões e a Previ (Banco do Brasil) deu mais R$ 5 milhões. Outros
quatro fundos de pensão estatais, de menor porte, também compraram cotas
do fundo da Bancoop. Fundos privados respondem pelo resto do
investimento.

Os grandes fundos de pensão estatais são dirigidos por sindicalistas. Wagner


Pinheiro, da Petros, e Sérgio Rosa, da Previ, foram inclusive diretores do
Sindicato dos Bancários. O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, é
militante histórico do PT. Recentemente, a Petros foi acusada de uso político
por ter aplicado em fundos parecidos dos bancos BMG e Rural. No caso da
Bancoop, todos os envolvidos no negócio negam qualquer favorecimento.
"Desde janeiro de 2004, aplicamos em 11 FDICs", diz uma nota da Petros a
ÉPOCA. "O fundo da Bancoop tem baixo risco, e sua maior atratividade é a
meta de rentabilidade (IGP-M mais 12,5% ao ano)." Demosthenes Marques,
diretor-financeiro da Funcef, diz que a maior prova de que não houve
privilégio político é que a instituição aplica em dois FDICs, o da Bancoop e
um da Fidúcia Rio Bravo, do ex-presidente do BC Gustavo Franco. "Se
fosse escolha política, não investiríamos com alguém do governo anterior."

Com ou sem dinheiro dos fundos, a Bancoop cresce num ritmo espantoso e é
a menina-dos-olhos do movimento sindical. Em 2004, lançou 52% mais
imóveis que em 2003. O mercado caiu 15%. A Bancoop tem obras em
andamento no valor de R$ 420 milhões. Muitos bancários, sindicalistas e
seus amigos compram imóveis da Bancoop para morar ou como
investimento. Seus lançamentos variam de apartamentos de 35 metros
quadrados (um quarto), de R$ 60 mil, até a coberturas tríplex, de 250 metros
quadrados, de R$ 650 mil. A construtora dos companheiros sindicalistas
oferece de casas na praia a apartamentos em Moema, bairro nobre de São
Paulo. "Como somos eficientes e não visamos lucros, conseguimos construir
casas e apartamentos com valor 30% mais baixo", diz João Vaccari, que
deixou a presidência do Sindicato dos Bancários para cuidar da Bancoop.
Vaccari substituiu o ex-presidente Luiz Malheiro, que morreu num acidente
de automóvel. O presidente Lula aprova e dá uma força. Em 1999, visitou
um canteiro de obras da cooperativa acompanhado pelos companheiros
Berzoini, Vaccari e Malheiro. O pôster com a imagem está na porta da
cooperativa, em São Paulo.
Em oferta
Condomínio residencial Casas no bairro do
Tremembé, zona norte de São Paulo
Área de lazer
Imóvel no Ipiranga tem "espaço gourmet"
Torres
Dois prédios da Bancoop no bairro do
Butantã
Condomínio residencial
Casas no bairro do Tremembé, zona norte de
São Paulo

Tijolo por tijolo


A cooperativa dos bancários é a sexta maior
construtora de imóveis residenciais de São
Paulo

Movimenta mais de R$ 100 milhões


por ano
Tem 55 empreendimentos, incluindo
prédios e condomínios residenciais
Já entregou 5.132 casas e
apartamentos. Outros 4.590 estão em
obras
Tem 15 mil cooperados

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT1007365-3771,00.html

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