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Oliveira, J. C.¹*, Castro, E. G.¹; Miranda, C. S.¹; Gonçalves, A. P. B.¹; José, N. M.¹
1- Universidade Federal da Bahia. Programa de Pós-graduação em Engenharia
Química, Rua Aristides Novis, n° 2, 2° andar, Federação - CEP: 40210-630 -
Salvador/BA, Brasil. Grupo de Energia e Ciências dos Materiais, GECIM.
*jamersonoliveira1@hotmail.com
RESUMO
INTRODUÇÃO
A palmeira de Syagrus coronata, conhecida popularmente como licuri,
pertencente à família Arecaceae, é uma palmeira que apresenta preferência pelas
regiões secas e áridas das caatingas, abrangendo as regiões de Minas Gerais,
(1)
Bahia e Pernambuco . As fibras de licuri, assim como todas as fibras vegetais, têm
como componentes principais três diferentes biopolímeros: celulose, hemicelulose e
lignina.
A celulose é um homopolímero sindiotático e linear de glicopiranoses ligadas
por ligações glicosídicas do tipo β-(14), sendo fibrilar e cristalina(2). Possui
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aplicação de longa data nas indústrias de papel e fibras têxteis sintéticas, e mais
recentemente tem sido bastante estudada nas áreas de biocombustíveis e na
produção de nanowhiskers de celulose para a aplicação em materiais compósitos(3).
Entretanto, para se pensar em uma utilização sustentável das fibras vegetais é
necessário que não apenas a celulose seja aproveitada. Os demais constituintes
devem ser vistos não como resíduo da produção de nanowhiskers de celulose, e sim
avaliados como materiais com potencial semelhante a essas. A hemicelulose, por
exemplo, tem sido investigada como um material promissor para uma variedade de
aplicações tais como espessantes, emulsificantes, estabilizantes e aglutinantes nas
indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética(4). O termo hemicelulose refere-se a
um grande grupo de polissacarídeos complexos, ramificados e de baixo peso
molecular, sendo as duas principais classes de hemicelulose as glicomananas e as
xilanas(5).
A lignina é o terceiro biopolímero mais abundante, depois da celulose e da
hemicelulose. É amorfa e de estrutura complexa, sendo sua unidade repetidora
básica o fenil-propano. É um subproduto do processo de polpação, com aplicações
já firmadas na produção de absorventes, agentes dispersantes, resinas à base de
lignina, adesivos, retardadores de chama e outros produtos de valor agregado(6,7).
O presente trabalho visa isolar e caracterizar a celulose, hemicelulose e lignina
de uma fibra vegetal ainda pouco estudada e cuja valorização poderá beneficiar
comunidades com recursos bastante limitados.
METODOLOGIA
A fibra de licuri in natura foi inicialmente seca em estufa e depois triturada em
um moinho tipo Willye. A fibra triturada foi então lavada com água fria e seca em
estufa a 80ºC por 24 horas. Para a remoção de alguns extrativos solúveis em água
foi realizado uma lavagem da fibra com água a 50ºC por 40 minutos, sendo este
procedimento executado duas vezes.
Para isolar a celulose e hemicelulose da fibra utilizou-se a metodologia
proposta pelo método Tappi T-203 cm-99. Para este método, devem ser utilizadas
as polpas previamente branqueadas, não sendo ele aplicável à fibra in natura.
Dessa forma, fez-se necessária a deslignificação da fibra através de mercerização
com solução de hidróxido de sódio 5% por duas horas. Posteriormente a fibra foi
lavada com água destilada, até que a solução filtrante adquire-se um pH neutro,
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sendo então postas para secar à 50ºC por 24 horas. Para branquea-la utilizou-se
uma solução tampão 1:1 de hidróxido de sódio 5% e ácido acético 5% com
hipoclorito de sódio 2,5%. A fibra resultante dessa etapa foi lavada até a obtenção
de uma solução filtrante de pH neutro e então seca em estufa a 50ºC por 24 horas.
A fibra branqueada com hipoclorito pôde então ser submetida a uma solução
de hidróxido de sódio 17,5% para a separação da celulose, que não é solúvel em
meio básico, da hemicelulose, solúvel nesse pH. Assim, o licor foi separado da parte
insolúvel através de filtração. Essa última, após lavagem, foi seca e analisada como
a fração de celulose presente na fibra. A hemicelulose foi precipitada do licor através
da mistura deste com uma solução de etanol 95% contendo 10% (v/v) de ácido
acético glacial. Alternativamente, separou-se parte do licor obtido e precipitaram-se
os açucares degradados, conhecidos como β-celulose, com ácido sulfúrico 3N. As
frações assim separadas foram filtradas em cadinho de vidro sinterizado e secas em
estufa a 60ºC.
Para isolar a lignina utilizou-se o método lignina Klason.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise espectroscópica das frações e da fibra de licuri revelou os perfis
mostrados na Fig. 1. Para a lignina, a absorção com máximo em 3425 cm-1
corresponde ao estiramento OH nos grupamentos ligados a anéis aromáticos e
cadeias alifáticas. As absorções em 2918 cm -1 e 2850 cm-1 correspondem às
vibrações assimétricas e simétricas, respectivamente, de CH2 nas cadeias laterais. A
absorção com máximo em 1718 cm-1 corresponde ao estiramento C=O dos grupos
carboxílicos e ácido ferúlico. As vibrações de anéis aromáticos, características da
lignina, ocorrem em 1647 cm-1, 1500 cm-1 e 1425 cm-1. O pico em 1463 cm-1
corresponde às deformações C-H e a vibrações no anel aromático. A absorção em
1220 cm-1 corresponde à respiração do anel guaiacila enquanto as bandas em 1115
cm-1 e 889 cm-1 e o ombro em 1196 cm-1 indicam uma estrutura típica da lignina do
tipo p-hidroxi-fenilpropano, guaiacil e siringil(6,7).
Quanto à hemicelulose e a celulose pode-se observar um pico característico
relativo ao estiramento C-O em 1061 cm-1 e outro relativo às ligações β-glocosídicas
em torno de 890 cm-1. Para a celulose existe um dobleto em 1336-1317 cm-1 e uma
banda em 1377 cm-1, típicos da celulose cristalina, correspondentes ao dobramento
angular das ligações COH e HCC(8). Para a hemicelulose, a multiplicidade de picos
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Fibra
Lignina
Transmitância (u.a.)
Hemicelulose
-celulose
Celulose
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Hemicelulose
% Massa
50
40
-celulose
30
20 Celulose
10
0
100 200 300 400 500 600 700 800 900 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Temperatura ºC Temperatura ºC
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Lignina Hemicelulose
100 200 300 400 500 600 100 200 300 400 500 600 100 200 300 400 500 600
Temperatura ºC Temperatura ºC Temperatura ºC
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(d) (e)
Fig. 3 - Curvas de DSC da fibra de licuri (a) e suas frações: (b) lignina, (c)
hemicelulose, (d) β-celulose e (e) celulose.
CONCLUSÃO
O fracionamento dos constituintes das fibras foi realizado com sucesso, e as
caracterizações realizadas mostraram o comportamento térmico e os tipos de
ligações presentes em cada um deles. Essas informações servirão de base para a
exploração de novas aplicações para esses constituintes que propiciarão um melhor
aproveitamento da fibra de licuri.
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The huge potential of vegetable fibers and their large availability and diversity of
sources provided their use in many different research niches. More recently, the
possibility of fractioning the fibers components has been exploited as a way of
maximizing the more specific properties of each one of them to be used in a
particular field of study. In this context, cellulose nanowhiskers emerge as a good
mechanical reinforcement to polymeric matrices. However, if only crystalline cellulose
is used the other fibers components become residues of the process, in
disagreement with the main goals of using renewable materials. Thus, through
isolation of lignin, by the Klason lignin method, and separation of cellulose and
hemicelluloses from the pulp bleached with sodium hypochlorite the present work
characterizes thermal (TG and DSC) and spectroscopically (FTIR) the isolated
fractions.
Keywords: licuri, cellulose, hemicelluloses, lignin, fractioning.
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