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DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS – DESER

SECRETARIA DE AGRICULTURA FAMILIAR/ MDA


(Convênio MDA 112/2006).

Estudo Exploratório da Cadeia Produtiva da Castanha-do-


Brasil

Curitiba, junho de 2008


DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS RURAIS
Monitoramento da Conjuntura de Mercado das Principais Cadeias Produtivas Brasileiras.
(CONVÊNIO MDA Nº. 112/2006)

DIRETORIA EQUIPE INTERNA

Presidente: Alvori Cristo dos Santos


Luis Pirin – STR – Francisco Beltrão - PR Área: Produção Familiar e Mercado, Redes e
Sistemas
Vice-Presidente: Amadeu Antonio Bonato
Cláudio Risson – Cresol Central/SC e RS Área: Políticas Públicas, Redes e Sistemas,
Desenvolvimento Institucional.
1º Secretária: Denilson Pasin
Sandra Nespolo Bergamin – Fetraf - Sul/CUT Área: Desenvolvimento Institucional.
2º Secretário: Ézio Gomes
Marcio Luiz Cassel – STR de Sarandi/RS Área: Produção Familiar e Mercado.
1ºTesoureiro: Gerson Ferreira Lima
Genês da Fonseca Rosa - Cresol Chapecó/SC Área: Desenvolvimento Institucional.
2ºTesoureiro: Ivone Pereira Ataíde
Ademir Luiz Dallazen - UNICAFES/PR Área: Desenvolvimento Institucional.
Membros Efetivos: João Carlos Sampaio Torrens
Avelino Callegari - ASSESOAR/PR Área: Políticas Públicas, Redes e
Valdir Zembruski - STR de Xanxerê e Região/SC Sistemas.
Gervásio Plucinski - COORLAC/RS Marcos Antonio de Oliveira
Augusto V. Pinto - STR de Mallet/PR Área: Produção Familiar e Mercado.
Bernardo Vergapolem - Ecoaraucária/PR Moema Hofstaetter
Severine Carmem Macedo - Fetraf Brasil/CUT Área: Desenvolvimento Institucional.
Membros Suplentes: Sidemar Presotto Nunes
Rinaldo Segalin - Ascooper/SC Área: Políticas Públicas e Produção Familiar e
Denise Knereck - SINTRAF de Laranjeiras do Sul/PR Mercado.
Adir Fiorese - Cresol-Baser/PR Thiago de Angelis
Conselho Fiscal Efetivo: Área: Produção Familiar e Mercado.
Celso Prando - STR Sananduva/RS Thiago Gonçalvez Basilio
Manoel Cardozo - Sintraf Itaperuçu/PR Área: Desenvolvimento Institucional.
Vera Lucia Cecchin Dapont - STR Marmeleiro/PR

EQUIPE TÉCNICA:

Sidemar Presotto Nunes, Thiago de Angelis.

DESER – Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais


Endereço: Rua Ubaldino do Amaral, 374 - Alto da Glória
80060-90 - Curitiba - PR
Tel: (41) 3262-1842 - Fax: (41) 3362-3679
http://www.deser.org.br

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SUMÁRIO

Lista de Figuras, Quadros e Tabelas..................................................................................... 4


Apresentação............................................................................................................................ 5
1. Antecedentes........................................................................................................................ 6
2. A produção brasileira de Castanha-do-Brasil ............................................................... 12
3. A Produção Brasileira no Contexto da Produção Mundial......................................... 17
4. O processo de industrialização e as indústrias do setor.............................................. 23
5. Os Preços nos Diversos Níveis da Cadeia ..................................................................... 29
6. A Produção Familiar na Cadeia ...................................................................................... 32
6.1 Os produtores de Castanha-do-Brasil ...................................................................... 32
6.2 As Organizações dos produtores de Castanha ....................................................... 36
7. Limites e perspectivas ao extrativismo da Castanha-do-Brasil e possíveis
estratégias para ampliação do mercado dos produtos da sociobiodiversidade .......... 41
7.2 Estratégias específicas, de acordo com as especificidades dos produtos e das
cadeias produtivas ............................................................................................................ 43
7.3 Estratégias orientadas pelo produto final: alimentos, essências (cosméticos,
medicinais, etc.), industrial, alimentos funcionais ....................................................... 43
Contatos .................................................................................................................................. 48

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Lista de Figuras, Quadros e Tabelas

Figuras

Figura 1: Fases do uso econômico dos recursos naturais na Amazônia (Homma, in:
Erhinghaus, 2007). ................................................................................................................... 9
Figura 2: Evolução da produção de Castanha-do-Brasil de acordo com os principais
estados produtores (toneladas) ........................................................................................... 12
Figura 3: Produção de Castanha-do-Brasil nas principais regiões produtoras do Norte
do Brasil (Fonte: IBGE, elaboração: DESER)...................................................................... 14
Figura 4 – Exportações brasileiras de Castanha-do-Brasil sem casca de acordo com os
países de destino.................................................................................................................... 20
Figura 5: A cadeia produtiva da Castanha-do-Brasil (Souza, 2006). ............................. 24
Figura 6: Fluxograma de produção de castanha-do-Brasil desidratada e descascada
(SOUZA, 2006) ....................................................................................................................... 25
Figura 8: Evolução do preço da castanha (R$/ Hectolitro). Fonte: Conab (2006)........ 29
Figura 9: A inserção da castanha no Fair Trade................................................................ 31

Quadros
Quadro 1: Possíveis estratégias para ampliação do mercado dos produtos estudados
.................................................................................................................................................. 43

Tabelas
Tabela 1: Valor da produção (mil R$) na extração vegetal por tipo de produto
extrativo em 2005................................................................................................................... 10
Tabela 2: Produção brasileira de Castanha-do-Brasil segundo os principais estados
produtores .............................................................................................................................. 13
Tabela 3: Produção brasileira de Castanha-do-Brasil nos principais municípios
produtores dos estados do Acre, Amazonas, Pará e Rondônia...................................... 15
Tabela 4: Produção de Castanha-do-Brasil nos principais países produtores ............. 17
Tabela 5 - Exportações brasileiras de Castanha-do-Brasil (fresca ou seca, com casca)21
Tabela 6: Exportadores brasileiros de Castanha-do-Brasil (com e sem casca)
classificados de acordo a participação nos volumes exportados em 2007.................... 26
Tabela 7: Evolução do preço da Castanha-do-Brasil pago aos extrativistas no Acre
entre 2001 e 2007.................................................................................................................... 30
Tabela 8: Evolução da Renda Média Bruta do Castanheiro no Acre ............................. 35

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Apresentação

A atividade extrativista da castanha permeia realidades diversas, inerentes à


região amazônica. Devido à abrangência restrita desse trabalho, não foi possível
abarcar todas as particularidades das diferentes regiões e comunidades produtoras
de castanha. No entanto, por meio de uma abordagem regionalizada, o presente
estudo exploratório, apresenta alguma das características, desses contextos
diversificados, e os aspectos pertinentes à cadeia produtiva da castanha como um
todo.
Por outro lado, de modo particularizado, mostra a situação em que se encontra
a atividade da castanha no estado do Acre, através da perspectiva das organizações
representativas dos castanheiros (cooperativas), bem como, pelas informações
cedidas por instituições governamentais e não governamentais que de alguma forma
se envolvem com a cadeia produtiva da Castanha-do-Brasil.

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1. Antecedentes

A castanheira do Brasil (Bertholletia excelsa), espécie da família


LECYTHIDACEAE, ocorre naturalmente, na maioria dos estados da Amazônia
Legal, bem como na região amazônica da Bolívia, Peru, Venezuela e Equador,
preferencialmente em áreas de terra firme, de solos argilosos ou argilo-arenosos.
A Castanha-do-Brasil é uma amêndoa comestível, como as nozes, o amendoim,
a avelã, a noz macadâmia e a castanha de caju. A castanheira é uma árvore de grande
porte, atinge até 60 metros de altura e 1 4m de circunferência na base do tronco. Suas
flores são grandes, perfumadas e tubulares, com seis pétalas. Floresce entre outubro e
dezembro e as castanhas amadurecem depois de 14 a 15 meses da floração. Não
sendo, portanto, uma planta produtora anual.
A Castanha-do-Brasil está inserida em uma das mais importantes cadeias
produtivas da economia na Amazônia. A colheita do ouriço, realizada por
“ribeirinhos” seringueiros e índios, coincide com a história da ocupação econômica
da região neste século. Trata-se de uma atividade laboral profundamente
incorporada aos costumes das populações tradicionais Amazônicas. A seringueira e a
castanheira contribuem com aproximadamente 65% da renda extrativista do Estado
do Acre. Desses 65%, a castanheira participa com 22,5%.
O uso da Castanha na alimentação pode ser feita de formas diferentes. Pode-se
fazer: leite integral, farinha de castanha, castanha salgada, mingau de castanha,
sorvete, bolos, bombons com chocolate, além de ser muito apreciada quando
consumida in natura.
A Castanha é altamente nutritiva em proteínas, lipídios, vitaminas e minerais.
Alguns elementos químicos encontram-se em maior quantidade nas amêndoas de
Castanha do que em outros produtos similares, destacando-se o Bário, o Césio e o
Selênio (um anti-oxidante natural que auxilia no combate às doenças coronarianas e
câncer). Referindo-se à castanheira, Pennacchio afirma que:
Seu fruto é um pixídio lenhoso, globoso, recebendo o nome de
“ouriço” e suas sementes ou “castanhas”, que possuem no seu
interior as amêndoas, são de grande utilidade e de alto valor

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econômico. Seu valor protéico é grande para fins alimentícios, pois a
amêndoa desidratada possui em torno de 17% de proteína - cerca de
cinco vezes o valor protéico do leite bovino in natura, rica também em
gordura, possui em torno de 67% (Pennacchio, 2006, p. 1).

As amêndoas da castanheira, começaram a ser exploradas comercialmente a


partir do século XVII (Almeida, 1963), tratando-se de um produto destinado a
exportação desde a década de 20 (Homma et. al. 2000). Devido ao declínio e a crise
do ciclo econômico da borracha, a castanha tornou-se o mais importante produto
extrativo da Amazônia. Chegou a responder no ano de 1956, por 70,57% das
exportações feitas pela região Norte. Constituiu-se, a principal atividade econômica,
de grandes estados produtores, como foi o caso do Pará. Ilustrando a relevância que
a castanha possuía para esse estado, em 1979, alcançou-se um máximo de volume
negociado de mais de 43 milhões de dólares (Homma et. al, 2000).
Dados do IBGE apontam grandes oscilações na produção brasileira e uma
queda nos últimos anos da atual década. A variação do volume produzido, e
especialmente a propensão à queda coincidem com episódios relacionados a: (i)
redução do estoque de castanhais nas últimas três décadas (sudeste paraense); (ii)
substituição do extrativismo por outras atividades; e (iii) concorrência das indústrias
de beneficiamento bolivianas; (iv) perda da importância da atividade no contexto
regional, principalmente no Pará. Essas variáveis, aliam-se à demanda irregular de
compradores internacionais não tradicionais ao longo do tempo e a oferta de
produtos substitutos.
A história da atividade extrativa da castanha, e o seu presente cenário,
permitem uma leitura das políticas de desenvolvimento aplicadas à região
amazônica.
O sudeste paraense, abrigava as formações mais compactas e densas de
castanhais da Amazônia brasileira, no qual, o município de Marabá ocupava a
destacada posição, de maior produtor brasileiro de castanha. Entretanto, séries de
eventos desencadearam a destruição sistemática e indiscriminada dessa base de
recursos.
Os fatos mais contundentes remetem aos anos 60, onde é pleiteada a conexão
de Marabá à rodovia Belém-Brasília pelos próprios donos dos castanhais sob, a

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alegação de baratear os custos com o transporte da produção. Na seqüência, o
movimento de expansão da pecuária liderado por empresários de São Paulo propicia
o lançamento, em 1966, de créditos para subsidiar o setor na região.
No ano seguinte é descoberta a província mineral de Carajás, aguçando os
interesses nacionais e internacionais para a exploração de minérios, o que mudaria
futuramente o enfoque da economia do Pará, do extrativismo vegetal da castanha
para o mineral.
Em 1972, a rodovia Transamazônica é inaugurada, ligando a Paraíba ao estado
do Amazonas e trazendo consigo um contingente de migrantes ao sudeste paraense.
Nesta mesma época estava em curso a implantação do Projeto Integrado de
Colonização (PIC) Marabá. O sentido de luta dos migrantes e da política de
colonização era a ocupação da terra para fins agrícolas e não a exploração do
extrativismo de coleta da castanha (Homma, 2000)
O resultado inevitável destes acontecimentos foi a derrubada indiscriminada
das áreas de castanhais. Com o incidente da guerrilha do Araguaia, o governo
militar, como medida estratégica de segurança, determinou a abertura de estradas
operacionais, uma delas unindo Marabá a São Geraldo do Araguaia, atual PA-153,
posteriormente a PA-150 e outras. Naturalmente, essas estradas facilitaram a
migração e a destruição das castanheiras.
Nos anos 80, a ocupação dos castanhais pelos posseiros migrantes, associada à
extração madeireira, potencializaram a destruição da espécie. Findado o ciclo do
mogno, a castanheira, pela sua facilidade de localização, passou ser alvo de abate dos
madeireiros. Muitas vezes os colonos trocavam árvores de suas áreas por madeira
serrada para construção de casas.
Nesse processo de depredação, os manejos dados às pastagens e a agricultura
baseados na utilização do fogo constituíram também fatores preponderantes na
eliminação dos recursos florestais e por conseguinte dos castanhais.
Ainda na década de 80, houve a inauguração da hidrelétrica de Tucuruí, a
implantação do megaprojeto da Companhia Vale do Rio Doce para a exploração das
jazidas de minério de ferro e a descoberta de garimpos de ouro, como o de Serra
Pelada. Todos esses episódios, produziram grandes transformações de cunho sócio-

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econômico e desastres ambientais imensuráveis, que levaram à desintegração da
economia extrativa da castanha no Estado do Pará e o atual quadro de decadência
que vem repercutindo na diminuição da produção nacional.
Uma amostra da destruição são os números do desmatamento. Somente na
mesorregião do sudeste paraense, no período de 1991-1992, desapareceram
244.149,60 hectares de floresta, e entre 1992-1994 foram desmatados 320.429,40
hectares. Respectivamente nos períodos citados foram destruídas: 13 mil e 33 mil
castanheiras (Homma et al. 2000). De acordo com o autor, as fases do uso econômico
dos recursos naturais na Amazônia foram: expansão, estabilização e declínio.
Atualmente estaria-se na fase de cultivos, conforme figura a seguir.
Figura 1: Fases do uso econômico dos recursos naturais na Amazônia (Homma, in:
Erhinghaus, 2007).

Atualmente, a Castanha-do-Brasil, de acordo com o IBGE, responde por 1,35%


do valor da produção extrativa brasileira. No entanto, cabe considerar que a
exploração madeireira lidera essa lista, conforme se verifica através da tabela a
seguir.

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Tabela 1: Valor da produção (mil R$) na extração vegetal por tipo de produto
extrativo em 2005.
Brasil Norte Nordeste % total
Total 3.463.036,0 1.422.081,0 1.053.727,0 100,00
1 - Alimentícios 233.769,0 133.604,0 16.395,0 6,75
1.1 - Açaí (fruto) 83.220,0 78.027,0 5.193,0 2,40
1.2 - Castanha de cajú 5.631,0 15,0 5.606,0 0,16
1.3 - Castanha-do-Pará 46.866,0 46.230,0 - 1,35
1.4 - Erva-mate cancheada 76.712,0 - - 2,22
1.5 - Mangaba (fruto) 1.028,0 - 1.021,0 0,03
1.6 - Palmito 10.747,0 9.329,0 3,0 0,31
1.7 - Pinhão 4.940,0 - - 0,14
1.8 - Umbu (fruto) 4.625,0 2,0 4.572,0 0,13
2 - Aromáticos, medicinais, tóxicos e corantes 3.578,0 14,0 1.314,0 0,10
2.1 - Ipecacuanha ou poaia (raiz) 0,0 - 0,0 0,00
2.2 - Jaborandi (folha) 470,0 2,0 468,0 0,01
2.3 - Urucum (semente) 274,0 - 175,0 0,01
2.4 - Outros 2.833,0 12,0 670,0 0,08
3 - Borrachas 8.439,0 8.434,0 5,0 0,24
3.1 - Caucho - - - 0,00
3.2 - Hevea (látex coagulado) 8.368,0 8.363,0 5,0 0,24
3.3 - Hevea (látex líquido) 71,0 71,0 - 0,00
4 - Ceras 60.511,0 7,0 60.504,0 1,75
4.1 - Carnauba (cera) 13.689,0 7,0 13.683,0 0,40
4.2 - Carnauba (pó) 46.821,0 - 46.821,0 1,35
4.3 - Outras 0,0 0,0 - 0,00
5 - Fibras 91.473,0 14.247,0 77.219,0 2,64
5.1 - Buriti 879,0 98,0 780,0 0,03
5.2 - Carnauba 1.202,0 - 1.202,0 0,03
5.3 - Piaçava 89.345,0 14.142,0 75.204,0 2,58
5.4 - Outras 47,0 7,0 34,0 0,00
6 - Gomas não elásticas 136,0 136,0 - 0,00
6.1 - Balata - - - 0,00
6.2 - Maçaranduba 16,0 16,0 - 0,00
6.3 - Sorva 121,0 121,0 - 0,00
7.1 - Carvão vegetal 848.404,0 57.668,0 363.900,0 24,50
7.2 - Lenha 460.115,0 60.153,0 179.182,0 13,29
7.3 - Madeira em tora 1.645.368,0 1.144.226,0 249.861,0 47,51
8 - Oleaginosos 110.527,0 3.583,0 105.164,0 3,19
8.1 - Babaçu (amêndoa) 98.892,0 835,0 98.057,0 2,86
8.2 - Copaíba (óleo) 1.741,0 1.714,0 - 0,05
8.3 - Cumaru (amêndoa) 440,0 440,0 - 0,01
8.4 - Licuri (coquilho) 4.187,0 14,0 4.173,0 0,12
8.5 - Oiticica (semente) 277,0 - 277,0 0,01
8.6 - Pequi (amêndoa) 4.284,0 456,0 2.130,0 0,12
8.7 - Tucum (amêndoa) 495,0 26,0 470,0 0,01
8.8 - Outros 210,0 99,0 57,0 0,01
9.1 - Pinheiro brasileiro (nó-de-pinho) 522,0 - - 0,02
9.2 - Pinheiro brasileiro (árvores abatidas) - - - 0,00

1
0
9.3 - Pinheiro brasileiro (madeira em tora) - - - 0,00
10 - Tanantes 195,0 8,0 182,0 0,01
10.1 - Angico (casca) 179,0 1,0 178,0 0,01
10.2 - Barbatimão (casca) 4,0 - 4,0 0,00
10.3 - Outros 13,0 7,0 1,0 0,00
Participação regional 100,00 41,06 30,43
Fonte: IBGE/ Produção Extrativa Vegetal (2007).

1
1
2. A produção brasileira de Castanha-do-Brasil

A destruição dos castanhais nativos do sudeste paraense, dividiu a histórica


supremacia do Pará em produção, com os Estados do Acre e Amazonas, os quais
desde o período de 1990 a 2005 (IBGE, 2007), se revezam na primeira colocação em
volume produzido de castanha, juntamente com o Pará. Destaca-se que o estado do
Acre conseguiu estar em primeiro lugar em produção em vários anos na década e
atualmente é o maior produtor nacional, conforme demonstra o gráfico a seguir.

Figura 2: Evolução da produção de Castanha-do-Brasil de acordo com os principais


estados produtores (toneladas)

Evolução da produção de Castanha-do-Brasil


(Produção Extrativa Vegetal - IBGE)

20.000
18.000
16.000
Acre
14.000
Amazonas
12.000 Pará
10.000 Rondônia
8.000 Amapá
Mato Grosso
6.000
Roraima
4.000
2.000
0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2005

A produção brasileira de Castanha-do-Brasil em 2005 foi de 30,5 mil toneladas.


Desse total, o estado do Acre respondeu no referido ano por 36,47% da produção
nacional. Em seguida aparecem o Amazonas (29,41%), o Pará (22,30%), Rondônia
(8,87%). Os estados do Amapá e o Mato Grosso respondem, cada um, por pouco
mais de 1% da produção nacional. O estado de Rondônia foi o que apresentou um
importante aumento em sua produção entre 1990 e 2005, contrariamente a tendência
ocorrida em praticamente todos os outros estados, entretanto, a produção desse
estado também tem oscilado bastante ao longo dos anos considerados.

1
2
Tabela 2: Produção brasileira de Castanha-do-Brasil segundo os principais
estados produtores
90/05
Estado 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2005 (%)
(%)
Acre 17.497 11.156 11.034 3.858 3.628 8.247 6.674 5.859 11.142 36,47 -36,32
Amazonas 13.059 193 15.465 6.670 7.368 7.823 8.985 9.150 8.985 29,41 -31,20
Pará 16.235 10.962 9.689 8.458 8.150 8.935 5.770 7.642 6.814 22,30 -58,03
Rondônia 1.472 1.043 794 461 2.063 6.508 4.385 2.830 2.710 8,87 84,10
Amapá 2.250 1.556 1.650 1.776 1.606 1.639 1.157 1.106 440 1,44 -80,44
Mato Grosso 674 392 250 245 241 245 351 385 373 1,22 -44,66
Roraima 7 - - - 54 34 66 88 91 0,30 1.200,00
Brasil 51.195 25.303 38.882 21.469 23.111 33.431 27.389 27.059 30.555 100,00 -40,32
Fonte: Produção Extrativa Vegetal/ IBGE.

O gráfico a seguir apresenta, de forma ilustrativa, a concentração da produção


de Castanha-do-Brasil no interior dos principais estados produtores. Verifica-se que,
apesar da ocorrência da castanheira em grande parte da região amazônica, a
produção se concentra bastante em certas regiões. A tabela que se segue ao gráfico
ajuda a ilustrar essa constatação.

1
3
Figura 3: Produção de Castanha-do-Brasil nas principais regiões produtoras do
Norte do Brasil (Fonte: IBGE, elaboração: DESER).

AMAZONAS

ACRE PARÁ

RONDÔNIA

Produção (ton.)
De 0 a 300
NORTE

De 301 a 800
De 801 a 1.500
Acima de 1.501

O Brasil, é dividido segundo, o IBGE em 18 grandes mesorregiões produtoras


de castanha-do-Brasil:
1) Mato Grosso: Norte e Nordeste Mato-grossense;
2) Rondônia: Leste Rondoniense e Madeira-Guaporé;
3) Acre: Vale do Acre e Vale do Juruá;
4) Amazonas: Sul Amazonense, Sudeste Amazonense, Centro Amazonense e
Nordeste Amazonense;
5) Pará : Sudeste Paraense, Sudoeste Paraense, Nordeste Paraense e Marajó;
6) Amapá: Sul do Amapá e Norte do Amapá;
7) Roraima: Sul de Roraima e Norte de Roraima.

A tabela a seguir apresenta a produção nos principais municípios produtores.


Verifica-se que Rio Branco aparece à frente na lista, tendo produzido 2,8 mil

1
4
toneladas em 2005, seguido por Porto Velho (2,3 mil toneladas), Brasiléia (2,15 mil
toneladas), Xapuri (2 mil toneladas). Em 2005, também conforme a tabela, 38
municípios brasileiros apresentaram produção acima de 100 toneladas, totalizando
27,5 mil toneladas e respondendo por aproximadamente 90% da produção brasileira.

Tabela 3: Produção brasileira de Castanha-do-Brasil nos principais municípios


produtores dos estados do Acre, Amazonas, Pará e Rondônia.
Municípios 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2005
Rio Branco - AC 2465 2524 1107 726 686 662 676 587 2823
Porto Velho - RO 437 430 439 244 453 6 5400 2505 2354
Brasiléia - AC 840 1111 520 912 720 1,106 1620 1486 2155
Xapuri - AC 1270 1685 1413 1019 508 636 763 1552 2007
Sena Madureira - AC 995 535 391 57 58 6000 1253 812 1615
Oriximiná - PA 2750 2035 1650 2200 1925 2,1 1375 1400 1425
Alvarães - AM 220 5 - 903 995 1005 1124 1210 1240
Óbidos - PA 3025 1210 2,2 2200 2035 2,2 1540 1500 1200
Lábrea - AM 369 7 452 878 958 1,01 1050 1150 1180
Novo Aripuanã - AM 52 5 520 995 1074 1133 1228 1336 1004
Boca do Acre - AM 1589 1299 3999 2600 662 704 794 818 826
Epitaciolândia - AC - - 539 774 676 904 1,08 551 793
Humaitá - AM 917 23 2149 1934 655 690 761 776 791
Alenquer - PA 3850 1650 1,1 3500 1450 1500 1200 820 700
Tefé - AM 422 1148 286 449 519 545 611 623 636
Tapauá - AM 350 6 683 355 406 427 609 621 634
Manicoré - AM 196 19 2455 2701 492 518 599 611 623
Capixaba - AC - - 487 513 461 522 468 363 563
Tabatinga - AM - - - 355 406 453 514 526 536
Altamira - PA 435 140 150 693 324 1237 160 593 474
Acará - PA 379 315 317 316 495 350 395 425 425
Plácido de Castro - AC 10693 7058 2563 1782 39 41 53 55 365
Fonte Boa - AM 99 3 0 230 251 264 300 312 320
Curuá - PA - - - - 275 275 110 390 310
Porto Acre - AC - - 775 204 205 197 196 173 266
Codajás - AM 125 0 163 120 209 220 248 253 260
Acrelândia - AC - - 1709 1466 204 205 184 167 246
Faro - PA 138 138 165 275 83 83 66 325 211
Juruti - PA 44 35 44 39 153 385 66 150 200
Portel - PA 110 122 120 150 150 160 150 175 180
Almeirim - PA 349 325 293 262 234 196 177 177 169
Beruri - AM 334 0 0 96 107 134 153 157 161
Nhamundá - AM 0 3 201 106 123 128 147 149 152
Bujari - AC - - 611 55 55 53 78 83 146
Itupiranga - PA 335 300 250 260 185 176 175 182 146
Senador Guiomard - AC 1220 1539 1401 1003 11 12 19 24 144
Eldorado Carajás - PA - - 200 160 140 142 140 125 120
Bom Jesus Tocantins - PA 60 54 41 120 129 92 98 107 108
Fonte: Produção Extrativa Vegetal/ IBGE.

1
5
No Acre, conforme definição da SEPROF1, diferente da classificação do IBGE,
existem 03 regiões produtoras que englobam 12 municípios: 1) Alto Acre: Xapuri,
Brasiléia, Epitaciolândia e Assis Brasil 2) Baixo Acre: Rio Branco, Senador Guiomard,
Capixaba, Acrelândia, Porto Acre, Plácido de Castro e Bujari 3) Purus: Sena
Madureira.
No Amazonas, as principais microrregiões produtoras encontram-se no Médio
Amazonas, Alto Amazonas, rios Madeira, Purus e Negro, (IBAMA – CNPT, 1998).
Sendo algumas delas municípios como: Itacotiara, Coari, Codajás, Lábrea,
Manacapuru, Manicoré, Tefé e Humaitá (Almeida, 1963).
A produção no Estado do Pará tem origem ainda nos remanescentes, da
mesorregião do sudeste paraense entre os rios Tocantins e Xingu, onde está a
microrregião de Marabá, se estendo às margens do rio Tapajós. Porém os castanhais
mais extensos hoje, localizam-se nos rios Trombetas e Curuá (MMA, 1998). Segundo
o depoimento do pesquisador da EMBRAPA Amazônia Oriental, Alfredo Homma,
na atualidade, a microrregião do município de Oriximiná (rio Trombetas), é o grande
fornecedor de castanha deste Estado.
No Amapá, a microrregião do Laranjal do Jarí, detém o primeiro lugar em
potencial e produção de castanha. Já em Rondônia, os vales dos rios Guaporé,
Mamoré e Madeira são os grandes produtores do estado (MMA, 1998), destacando-se
as microrregiões de Porto Velho e Costa Marques.

1 Secretaria de Estado de Extrativismo e Produção Familiar do Acre.

1
6
3. A Produção Brasileira no Contexto da Produção Mundial

Historicamente a produção mundial de castanha in natura tem sido dominada


pelo Brasil. Entretanto, tem havido uma tendência de queda da participação da
produção brasileira diante da produção de outros países, principalmente da Bolívia.
De acordo com a FAO, em 2004 a Bolívia foi o maior produtor de Castanha-do-Brasil,
respondendo por 52,7% da produção, seguido pelo Brasil (39,6%), a Costa do Marfim
(7,1%) e o Peru (0,8%), conforme se verifica através da tabela a seguir.
Tabela 4: Produção de Castanha-do-Brasil nos principais países produtores
País 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Bolívia 36.000 38.000 38.000 38.500 38.170
Brasil 33.431 28.467 27.389 28.000 28.500 30.000
Costa do Marfim 5.200 5.200 5.200 5.200 5.200 5.200
Peru 525 550 560 570 580 590
Total 75.156 72.217 71.149 72.270 72.450 35.790
Fonte: FAO (2007)
Dentro do mercado das castanhas e amêndoas, a participação da castanha-do-
Brasil é bastante reduzida, girando em torno de 6%. Isso se deve, em parte, à baixa
oferta do produto e à agilidade do mercado internacional em encontrar produtos
substitutos (IBAMA-CNPT, 1998). Atualmente toda a produção de Castanha-do-
Brasil é extrativa, não havendo produção cultivada, portanto.
A produção de Castanha-do-Brasil nos dois países produtores (Bolívia e Brasil)
se concentra em uma área mais ou menos contígua, o que tem favorecido a
concentração de indústrias na região Boliviana, que se beneficiou da logística para
instalar um importante parque industrial na região de Riberalta. A figura a seguir
apresenta as principais áreas de produção no âmbito desses dois países.

1
7
Figura 1 - Área de produção de castanha no Brasil e na Bolívia

Fonte: Coslovsky (2005)

O Brasil exporta grande parte da castanha que produz. Atualmente, os


principais importadores da castanha brasileira são os Estados Unidos, a Bolívia e a
Austrália. As figuras que se seguem apresentam os principais destinos da castanha
produzida no Brasil.

1
8
Figura 2: Exportações brasileiras de Castanha-do-Brasil com casca de acordo com
os países de destino

No que se refere à castanha com casca, o Brasil exportou 12.743 toneladas em


2005, o que rendeu US$ 12,32 milhões, aproximadamente US$ 1,00/kg. Do total
exportado pelo Brasil, 8.371 toneladas foram exportadas para a Bolívia (65,69% do
total) e 4.001 toneladas (31,4%) foram exportadas para os Estados Unidos. Os dois
países juntos respoderam por aproximadamente 96% do total da castanha com casca
exportada pelo Brasil em 2005, conforme se verifica através da figura acima.

1
9
Figura 4 – Exportações brasileiras de Castanha-do-Brasil sem casca de acordo com
os países de destino

No que se refere às exportações de Castanha-do-Brasil sem casca, o País


exportou 4.184 toneladas em em 2005, rendendo US$ 22 milhões de dólares. O preço
médio de exportação, de acordo com a FAO (2007), ficou em US$ 5,25/ kg de
castanha. Do total exportado, 2.022 toneladas foram destinadas aos Estados Unidos
(48,33%) e 695 toneladas para a Austrália (16,61%), os dois maiores importadores do
produto, conforme se verifica através da figura acima.
Verifica-se, com base nas duas figuras anteriores, que enquanto para os
Estados Unidos são exportadas castanha com e sem casca, para a Bolívia as
exportações em 2005, de acordo com a FAO, era basicamente de castanha com casca,
destinando-se às indústrias locais. As castanhas descascadas são vendidas
principalmente para torrefadores, que as empacotam ou elaboram misturas para as
indústrias alimentícias.
A castanha-do-Brasil é um produto essencialmente de exportação. Das 30 mil
toneladas produzidas em 2005, conforme o IBGE, cerca de 12,7 mil toneladas foram
exportadas na forma de castanha com casca e pouco mais de 4 mil toneladas foram
exportadas na forma de castanha sem casca. Verifica-se, com base nessas

2
0
informações, a grande importância que assume as exportações em relação à
produção total.
As exportações de castanha com casca às indústrias da Bolívia vem sendo
limitadas através da legislação que procura incentivar a industrialização dentro do
próprio país. No entanto, suspeita-se que os volumes exportados à Bolívia são ainda
maiores dos que aqui apresentados em virtude de que parte desse intercâmbio são
realizados ilegalmente, já que a proximidade com a Bolívia facilita esse processo.
Estima-se que apenas 5%, da produção líquida de Castanha-do-Brasil é
consumida internamente, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste do país, por
indústrias alimentícias ou pelas pessoas tradicionalmente na época de natal.
Regionalmente, nos Estados produtores o consumo é muito pequeno, geralmente se
dando na forma de castanha in natura, ou como “leite de castanha”, um preparado
que mistura água e castanha moída.
As castanhas secas com casca, são vendidas nos meses de outubro, novembro e
dezembro, período que coincide com festividades nos Estados Unidos e Europa. De
acordo com o Ministério do Meio Ambiente, menos de 2% dos 2 bilhões de dólares
do mercado mundial de castanhas comestíveis é de Castanha-do-Brasil (MMA, 1998),
indicando que a Castanha-do-Brasil compete com o mercado de castanha de uma
forma geral.

Tabela 5 - Exportações brasileiras de Castanha-do-Brasil (fresca ou seca, com casca)


Período US$ FOB (milhões) Peso líquido (milhões de kg) Preço médio (US$/ Kg)
2000 13,37 13,56 0,99
2001 6,26 7,9 0,79
2002 7,35 6,94 1,06
2003 7,17 5,61 1,28
2004 6,84 10,3 0,66
2005 12,43 13,06 0,95
2006 10,69 11,21 0,95
Jan/ago 2007 11,95 11,62 1,03
Fonte: AliceWeb/ MDIC (2007)

Em 2005, 60% da produção de castanha do estado do Estado do Acre, por


exemplo, o maior produtor nacional de Castanha-do-Brasil, era exportada para a
Bolívia, 35% destinados à Belém, e 5% para outros Estados brasileiros (SEPROF,

2
1
2005). Outro fator, a se ponderar, são os investimentos nos realizados na Bolívia nos
últimos anos em unidades de beneficiamento próximas às áreas produtoras do Brasil,
inclusive em localidades fronteiriças, como é o caso de Cobija e Riberalta. É
importante salientar, também, que a indústria boliviana buscou o domínio da
tecnologia para o setor, algo que tem agregado vantagens ao produto do país.
Além disso, os preços FOB de exportação da castanha da Bolívia, e também do
Peru, são geralmente mais baixos que os do Brasil. Para esses países há a facilidade
destes países em exportar pelo porto do Chile, com serviços portuários mais baratos
e permitindo atingir a costa oeste dos Estados Unidos, que é o maior comprador.
Uma vez que o mercado de exportação do Brasil é operado, em grande parte,
por empresas do Pará, e como estas têm necessidade de buscar a produção de outros
Estados via rio Purus, e sendo o mesmo navegável por um curto período, o produto
brasileiro acaba se tornando mais caro e menos competitivo (Homma et.al,2000).
O mercado exterior de castanha de uma maneira geral é estável e os países
consumidores apreciam bastante o produto. No entanto, a baixa oferta de castanha
que tem sido uma tendência registrada a cada ano pelo Brasil, por razões
relacionadas ao desflorestamento e queimadas na Amazônia, acrescida à
flexibilidade deste mercado em encontrar outras castanhas comestíveis com preços
mais atrativos, poderá num futuro próximo desestruturar o mercado do produto
amazônico irreversivelmente.

2
2
4. O processo de industrialização e as indústrias do setor

Após a coleta, a Castanha passa por um processo de industrialização que


possibilitará usos bastante diversos, tanto na alimentação humana, quanto na
produção de essências utilizadas pela indústria cosmética, que são os principais usos.
De acordo com Amapá (2006), as principais formas de comercialização da castanha
são:
1. Farelo e Torta de Castanha
2. Farinha de Castanha
3. Biscoito de Castanha
4. Castanha com casca e Desidratada
5. Sabão de Castanha
6. Sabonete de Castanha
7. Castanha Torrada com Sal
8. Farinha Láctea de Castanha
9. Sorvete e Picolé
10. Paçoca de Castanha
11. Óleo biológico bruto
12. Óleo biológico refinado (Azeite)
13. Óleo biológico filtrado.

Não se identificou através do presente trabalho as proporções de Castanha-do-


Brasil destinadas a cada uso no mercado externo e interno. O que se sabe é que vem
aumentando a proporção das exportações em relação ao consumo interno e que o
consumo interno vem se diversificando. Nesse aspecto, tornou-se comum observar a
presença do produto associado a outros produtos mais consumidos no país e que
também possuem um menor valor de mercado, como em barras de cereais e óleos
corporais, na indústria alimentícia e cosmética. O principal limitante à ampliação do
consumo interno de Castanha é o alto valor que alcança, obrigando os consumidores
buscar outros tipos de castanhas com preços mais acessíveis.
Na indústria cosmética, o óleo de Castanha-do-Brasil vem sendo utilizado na
forma de óleos para tratamento corporal. A Natura é a empresa que se destaca nesse
tipo de uso, através da linha de produtos denominada de Natura Ekos, lançada no
início da atual década. A empresa tem adquirido diversos produtos da Amazônia

2
3
para a fabricação de seus produtos, associando-os à idéia de preservação da floresta
amazônica e da cultura local e diferenciando seus produtos em relação aos existentes
no mercado atualmente. O lançamento dessa linha de cosméticos contribuiu com a
elevação do nível de lucros e para alavancar os negócios da empresa.
Até chegar ao consumidor final, a Castanha normalmente passa por diversos
agentes. No início da cadeia encontram-se os coletores extrativistas que percorrem a
floresta à procura da Castanha, que é comercializada para intermediários (ou
cooperativas, como acontece em 3 casos no Acre, 1 no Amazonas e 1 no Amapá). Em
seguida, segue três possíveis caminhos: exportadores, atacado ou agroindústrias.
Logo em seguida, vai para um dos seguintes agentes: indústria química ou indústrias
de alimentos e daí para indústrias de cosméticos ou para o varejo, no caso do uso
alimentício. A figura a seguir, elaborada por Souza (2006), procura apresentar os
fluxos mais comuns na cadeia da castanha.
Figura 5: A cadeia produtiva da Castanha-do-Brasil (Souza, 2006).

No que se refere ao processo de industrialização, pode-se afirmar que a


castanha passa por um processo inicial comum tanto ao uso alimentar quanto
cosmético. Após ser recebida pelas indústrias a castanha com casca é armazenada,
secada, selecionada, secada e estocada. Em seguida, ela é quebrada, selecionada e

2
4
destinadas ou para a produção de óleo, farinhas e biscoitos ou para o consumo in
natura (menores e maiores, respectivamente). A figura a seguir apresenta o
fluxograma mais comum na produção industrial.
Figura 6: Fluxograma de produção de castanha-do-Brasil desidratada e descascada
(SOUZA, 2006)

No que se trata das empresas e indústrias exportadoras de Castanha-do-Brasil,


identifica-se, através do Portal do Exportador, que um número relativamente
pequeno de empreendimentos atuam nessa parte da cadeia produtiva. Em 2007, 21
empreendimentos (empresas, cooperativas e pessoas físicas) exportaram castanha
com casca, enquanto que 19 exportaram castanha sem casca nesse mesmo ano. A
maior parte desses exportadores é da região Norte do Brasil e muitas vezes se trata
de empresas do mesmo grupo familiar, como é o caso dos Mutram de Belém.

2
5
Tabela 6: Exportadores brasileiros de Castanha-do-Brasil (com e sem casca)
classificados de acordo a participação nos volumes exportados em 2007
Nº Castanha-do-Brasil com casca Castanha-do-Brasil sem casca
1 PRETE & PRETE IMP. E EXP. LTDA BENEDITO MUTRAN E CIA LTDA
2 I B SABBA S A EXPORTADORA FLORENZANO LTDA
CIEX COMERCIO INDUSTRIA E
3 EXPORTADORA MUTRAN LTDA
EXPORTACAO LTDA
CIEX COMERCIO INDUSTRIA E
4 BENEDITO MUTRAN E CIA LTDA
EXPORTACAO LTDA
JORGE MUTRAN EXPORTADORA DE JORGE MUTRAN EXPORTADORA DE
5
CASTANHA LTDA CASTANHA LTDA
CIEX COMERCIO INDUSTRIA E
6 CAIBA INDUSTRIA E COMERCIO SA
EXPORTACAO LTDA
COOPERATIVA CENTRAL DE
7 COMERCIALIZACAO EXTRATIVISTA DO I B SABBA S A
ESTADO DO ACRE LTDA
8 EXPORTADORA MUTRAN LTDA PRETE & PRETE IMP. E EXP. LTDA
JOSE HENRIQUE FERNANDES
9 CAIBA INDUSTRIA E COMERCIO SA
FARALDO
MUNDIAL EXPORTADORA COMERCIAL R. BERTULINO DA COSTA
10
LTDA - EPP IMPORTACAO E EXPORTACAO (ME)
CONSUS CENTRO - COMERCIO E JORGE MUTRAN EXPORTADORA DE
11
CONSULTORIA LTDA CASTANHA LTDA
SW TRAJANO IMPORTACAO E CIEX COMERCIO INDUSTRIA E
12
EXPORTACAO LTDA EXPORTACAO LTDA
SS TRADE IMPORTACAO,
13 EXPORTADORA FLORENZANO LTDA EXPORTACAO E REPRESENTACAO
COMERCIAL LTDA.
URUBATAN-PIATA PRODUTO DA MIRAGINA SA INDUSTRIA E
14
FLORESTA LTDA COMERCIO
CASSIMIRO JOSE CARREIRO FILHO IMP AGTAL A GUEDES TORREFACAO DE
15
E EXP AMENDOIM LTDA
COOPERATIVA AGRO-PECUARIA E
FACITRADE COMERCIO E
16 EXTRATIVISTA DE EPITACIOLANDIA
CONSULTORIA LTDA.
E BRASILEIA LTDA
F J F MORAES DA SILVA IMPORTACAO COOPERATIVA AGROEXTRATIVISTA
17
E EXPORTACAO DE XAPURI LTDA
18 HENRIQUE VIEIRA NOBRE - EPP CURUCA AVICOLA LTDA
19 J. K. C. DE ARAUJO IMP. E EXP. JOSE DE OLIVEIRA VALENTE
JORGE MUTRAN EXPORTADORA DE
20
CASTANHA LTDA
21 JOSE DE OLIVEIRA VALENTE
Fonte: Portal do Exportador (2007).
Cabe destacar que as empresas que exportam produtos especiais da Castanha-
do-Brasil, como é o caso da Brasamazon, que exporta princípios ativos encontrados
no óleo, não apareceram na lista de exportadores de Castanha-do-Brasil. É provável
que diversas empresas desses segmentos também não tenham sido identificadas em
virtude do produto que exportam ser identificado através de outras nomenclaturas.

2
6
Além de ser um dos mais importantes exportadores de Castanha-do-Brasil,
conforme se verifica através da tabela acima, as empresas do grupo Mutram também
são responsáveis pelo abastecimento de grande parte do mercado interno. Essas
empresas, que se localizam em Belém, no Pará, atuam no setor há muitos anos. Em
virtude de partilhas familiares, foram se formando um conjunto de empresas ligadas
ao mesmo grupo familiar que atuam na industrialização e exportação de Castanha-
do-Brasil, mas que nos últimos anos passou a diversificar um pouco mais as áreas de
atuação.

Além das empresas, três cooperativas situadas no estado do Acre, a


Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre
(COOPERACRE), a Cooperativa Agropecuária e Extrativista de Epitaciolândia e
Brasiléia Ltda (COMPAEB) e a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (CAEX)
aparecem entre os exportadores brasileiros de Castanha-do-Brasil, de acordo com o
Portal do Exportador. Em 2007, a primeira cooperativa exportou castanha com casca
e as outras duas exportaram castanha sem casca. Além de os mercados tradicionais
dos Estados Unidos e da Europa, essas cooperativas tem comercializada parte de sua
produção através do Comércio Justo sob a certificação da Fair Trade Labelling
Organization (FLO) e também através do Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA), do Governo Federal.
Além desses canais de comercialização (exportação mercados tradicionais,
exportação através do Comércio Justo e PAA), essas cooperativas também utilizam
outros canais de comercialização. A Nutrimental, indústria de alimentos localizada
no Paraná, é uma das grandes compradoras desses produtos. Comercializam
também eventualmente castanha com casca para a redes de hipermercados de São
Paulo (como o Carrefour). Outra empresa que adquire os produtos dessas
cooperativas é a Miragina, um empreendimento do Estado do Acre que utilizaa a
castanha na forma de farinha para fabricação de biscoitos.
Além do setor alimentício, as indústrias de cosméticos encontraram no óleo da
castanha uma excelente matéria-prima para fabricação de produtos, como é o caso da
empresa Natura. A empresa mantém projetos com vistas a adquirir castanha para
obtenção de óleo junto algumas comunidades de extrativistas. Essa relação com as

2
7
tem apresentado diversos conflitos, em que as comunidades acusam a empresa
como a única grande beneficária dessa relação de parceria.
A Brasamazon, empresa localizada em Belém, que também trabalha em regime
de parceria com as comunidades, se especializou na extração de óleos de diversas
espécies oleaginosas da Amazônia. O óleo da castanha tem sido destaque na sua
linha de produtos. Além da elaboração de cosméticos, a empresa exporta óleos já
beneficiados para indústrias de cosméticos do exterior.
Devido ao apelo social e ambiental que vem se desenvolvendo em relação à
Amazônia, um conjunto de empresas tem se utilizado desse apelo para promover
seus produtos, apesar de, muitas vezes, utilizarem uma pequena quantidade de
produto efetivamente extraído de espécies vegetais exploradas sustentavelmente,
como se costuma chamar. Esse é o caso das empresas que trabalham com óleos e
essências (Castanha-do-Brasil, andiroba, babaçú, etc.), mesmo que o óleo de
andiroba, por exemplo, que possui um valor de mercado bastante alto, entre em uma
pequena proporção na composição dos produtos finais. A Natura, a Body Shop, a
Brasamazon e a Chama da Amazônia são algumas empresas que tem utilizado do
apelo sócio-ambiental para promover seus produtos.

2
8
5. Os Preços nos Diversos Níveis da Cadeia
Apesar da queda drástica nos níveis de produção, que ocasionaram a
diminuição na oferta e elevação dos preços da castanha, particularmente no final da
última década, não se registrou, em contrapartida, um retraimento da demanda
devido à alta de preços, pois, simultaneamente, houve um aumento na renda nos
países importadores e incremento nas taxas de consumo de amêndoas, o que
contribuiu para um resultado financeiro maior nas exportações brasileiras (MMA,
1998).
Na atual década os preços da castanha continuaram aumentando acima da
inflação registrada no período. De acordo com a Conab, o preço médio do hectolitro
da castanha com casca nas regiões produtoras passou de R$ 35,50 em 2001 para R$
85,00 em 2005, conforme se verifica através do gráfico a seguir. Atualmente este
preço está em aproximadamente R$ XXXX/ hectolitro.

Figura 7: Evolução do preço da castanha (R$/ Hectolitro). Fonte: Conab (2006).

De acordo com Pennacchio (2006), alguns fatores contribuíram com a elevação dos
preços da Castanha-do-Brasil:
1) Programas estaduais de revitalização do extrativismo florestal sustentado,
incluindo melhoria de renda do produtor (coletador), com destaque para o
estado do Acre, que junto com o Estado do Amazonas responde por 50% da
produção nacional:
2) Melhoria da qualidade do produto via implantação de programas de boas
práticas de manejo junto aos extrativistas, em especial no estado do
Amazonas;

2
9
3) Implantação pela Conab do Programa de Compra Antecipada da Produção
de Extrativistas Familiares, dentro do PAA, junto a cooperativas localizadas
no Acre e no Amazonas (região Boca do Acre), o que elevou os preços
recebidos pelos produtores de R$ 0,80/ kg em média para R$ 1,70/ kg;
4) Forte redução da saída de matéria-prima do Acre por conta da tributação em
mais de 100% da castanha in natura e da implantação de usinas de
beneficiamento naquele Estado, medida que refletiu diretamente nos preços e
na qualidade do produto;
5) Reação dos preços no mercado externo, que passaram de US$ 1,20/lb peso
(FOB porto de origem, na média dos meses de fevereiro de 2005 e julho de
2005) para US$ 1,80/ lb peso em agosto de 2005, alcançando US$ 1,90/ lb peso
no mês de setembro (Pennacchio, 2006).

Cabe destacar que a castanha se caracteriza como um produto com alta


elasticidade na demanda. Assim, se os preços aumentam a tendência é de que o
consumo caia, pois os consumidores tendem a reduzir o consumo ou procurar outros
substitutos do grupo das castanhas. Assim, se a oferta de castanha continuar caindo e
os preços se elevarem a ponto de inibir o consumo externo, bem como o mercado dos
produtos substitutos crescer, a tendência seria de perda do espaço dentro do
mercado. Apenas um aumento nos salários dos trabalhadores compensaria um
aumento de preço sem provocar grandes reduções do consumo.
Considerando que houve um aumento dos preços da castanha nos últimos anos
pelos motivos já destacados, os extrativistas também foram beneficiados por essa
elevação. No estado do Acre, em 2001 os produtores recebiam em média R$ 5,00/
lata de castanha, em 2004 recebiam R$ 12,69 e em 2007 receberam em média R$ 12,00.
A tabela a seguir apresenta a evolução desses preços ano a ano.
Tabela 7: Evolução do preço da Castanha-do-Brasil pago aos extrativistas no Acre
entre 2001 e 2007
Ano Preço/ lata
2001 5,00
2002 5,75
2003 9,50
2004 12,69
2005 15,50
2007 12,00
Fonte: SEPROF e cooperativas.

3
0
Esse aumento dos preços pagos aos extrativistas, segundo as cooperativas,
deve-se ao fortalecimento das organizações, do apoio governamental (como o PAA) e
o surgimento da COOPERACRE, que integra um número considerável de
associações de extrativistas. A conjunção destes fatores forçou a rede de
atravessadores a elevar o nível dos preços praticados e, conseguinte, dividiu de
modo mais equilibrado o lucro da cadeia com os produtores de castanha.
Algumas cooperativas começaram a comercializar castanha através do Fair
Trade, com certificação da Fair Trade Labelling Organization (FLO), conforme já se
afirmou anteriormente. Nesse caso, a castanha é exportada para a Europa através de
um preço pré-fixado, acrescentado de um valor adicional, chamado de prêmio. Em
2007, o preço FOB da Castanha-do-Brasil orgânica era de US$ 1,92/ libra peso e o
prêmio era de US$ 0,17/ libra peso, conforme se verifica através da tabela a seguir.

Figura 8: A inserção da castanha no Fair Trade

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1
6. A Produção Familiar na Cadeia

6.1 Os produtores de Castanha-do-Brasil

A castanha é um produto que se origina totalmente do trabalho familiar de


coletores. O sustentáculo da cadeia produtiva da castanha está unicamente alicerçado
no trabalho destes coletores. Pode-se afirmar que praticamente inexiste grandes
proprietários de castanhais ou a contratação de mão-de-obra pelas famílias que
realizam a coleta.
A maioria dos coletores da castanha na Amazônia são grupos familiares
inseridos em comunidades que possuem ou ocupam pequenos estabelecimentos
circunvizinhos à áreas de floresta. No entanto, no passado, quando a castanha era
fundamental na geração de divisas no estado do Pará, o governo local fazia
concessões (arrendamentos) das áreas de castanhais à famílias politicamente e
economicamente importantes. Essa prática contribuiu na concentração de terras e
exploração da mão-de-obra de posseiros, o que veio formar a oligarquia dos donos
de castanhais.
Contudo, a perda da importância do extrativismo da castanha no Estado do
Pará, o avanço da fronteira agrícola e a entrada de outras atividades, desagregaram o
modelo dos donos dos castanhais, fazendo desaparecer o monopólio sobre a
extração. Entretanto, a antiga oligarquia permanece hoje com o domínio, nos níveis
de intermediação da produção e beneficiamento industrial.
O perfil das comunidades coletoras de castanha é diversificado, bem como as
relações que estabelecem no trabalho de coleta e com mercado de castanha. No
estado do Acre, os coletores de castanha são quase que exclusivamente seringueiros
descendentes de migrantes da Região Nordeste que se instalaram no Acre no tempo
do ciclo da borracha.
Cada família, possui sua “colocação”, dentro da floresta. Limitadas pelas
estradas de seringa, cada família tem em média três “estradas”. As “estradas”
equivalem a 100 hectares, resultando 300 hectares por família. A partir desta área
individualizada, os grupos familiares realizam a coleta da castanha.

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2
É comum a formação de associações entre os seringueiros e, a partir destas, é
realizada o escoamento da produção e comercialização da castanha às cooperativas.
No entanto, a atuação dos “marreteiros”, como são chamados os atravessadores, é
grande, principalmente daqueles vindos da Bolívia, mas cuja importância vem se
reduzindo nesses dois últimos anos em virtude da alta tributação sobre a exportação
de castanha com casca.
O Estado do Pará recentemente tem sido abastecido internamente por
comunidades do rio Trombetas. Em geral, essas comunidades, segundo FASE,
extraem a castanha de áreas de florestas que são coletivas, não havendo uma
delimitação por família como acontece no Acre. Assim, o trabalho de extração, pode
acontecer com diversas famílias ou individualmente.
Na maioria dos casos, as comunidades, necessitam fazer uso de barcos a motor
ou canoas para chegar aos castanhais. A venda se dá entre intermediários da própria
comunidade ou nos regatões (entreposto do comércio atravessador) de municípios
como Oriximiná e Óbidos. Importantes comunidades do rio Trombetas, são formadas
por remanescentes de quilombolas. Em Oriximiná, encontra-se uma das mais
organizadas, que é representada pela Associação dos Remanescentes dos
Quilombolas do município de Oriximiná. A entidade tem procurado por meio de
parcerias com outras instituições, desenvolver ações de organização e verticalização
da produção e melhorar a qualidade de vida da comunidade.
O técnico da FASE, Carlos Augusto Ramos, comentou que as comunidades do
Pará, pela questão cultural, são em grande parte pouco ou nada organizadas. Por
isso, ainda é comum o escambo de produtos extrativos por mercadorias ou a
característica de subserviência às condições dos atravessadores, o que dificulta ações
no sentido de melhorar as relações mercadológicas ou de elevação no nível de vida
das comunidades.
No Amazonas, nas zonas de produção de castanha, em comunidades
ribeirinhas, também ocorrem situações de natureza cultural dos sistemas sociais que
impedem às famílias coletoras conseguirem maiores benefícios com o extrativismo.
São as delimitações dos territórios pelos atravessadores, ou seja, determinada
comunidade somente pode vender a produção para um intermediário específico, a

3
3
preços pré-estabelecidos, não havendo liberdade de se negociar a mercadoria com
outros canais. Dificilmente as regras são quebradas, pois o atravessador tem capital
para exercer o domínio e o seu trabalho é bem aceito.
Em Rondônia os coletores também são seringueiros. A maioria da castanha
produzida neste Estado tendo origem nas reservas extrativistas, federais ou
estaduais. Em se tratando de reservas extrativistas, as famílias não podem ter acesso
a um título de propriedade, somente o direito concedido pelo governo federal ou
estadual de residência e usufruto dos recursos naturais.
A grande dificuldade em Rondônia são as políticas locais que pouco
valorizam os recursos florestais, principalmente os não madeireiros. As iniciativas
governamentais privilegiam a pecuária de corte e o cultivo de soja. Vale ressaltar que
Rondônia é um dos Estados mais desmatados da Amazônia Legal.
No Amapá, como no caso do Pará e Amazonas, as comunidades extrativistas
são exploradas fortemente pelas redes de atravessadores. Por outro lado este Estado
tem incorporado algumas ações governamentais para beneficiar os produtores, como
a instalação de uma cooperativa de beneficiamento, no município do Laranjal do Jarí,
um dos mais produtivos do Estado.
Um estudo da Universidade Federal do Acre (UFAC), de 1997, demonstrou que
dentro da microrregião do Vale do Acre (Xapuri, Brasiélia, Assis Brasil e Acrelândia),
que o sistema extrativista é caracterizado pela predominância das atividades
extrativistas de castanha e borracha. Essas atividades econômicas são associadas a
uma agricultura e pecuária de subsistência suplementar. No universo da pesquisa,
verificou-se que 66% das famílias vendiam castanha associadas à extração de látex.
Calcula-se que 4.000 famílias praticam atualmente a coleta da castanha no Estado do
Acre, conforme informações da Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar do
Acre (SEPROF).
A mesma pesquisa da UFAC concluiu que cada família produz em média 300
latas de castanha e, conforme monitoramento dos preços médios até o ano de 2004,
realizado pela SEPROF, a renda do castanheiro evoluiu da seguinte forma:

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Tabela 8: Evolução da Renda Média Bruta do Castanheiro no Acre

Produção Média por Preço Médio pago ao Renda Média Bruta


Ano
Família (latas) Produtor (lata) (R$)

2000 300 4,60 1.380,00


2001 300 5,00 1.500,00
2002 300 5,75 1.725,00
2003 300 9,50 2.850,00
2004 300 12,69 3.807,00

Fonte: UFAC (1997); SEPROF (2005)


As informações e dados tratados nessa seção, foram pesquisados junto à
instituições governamentais e não governamentais e em organizações ligadas aos
extrativistas da castanha no Estado do Acre. O Acre foi contemplado como objeto da
presente investigação porque nos anos mais recentes tem contribuído
expressivamente para a produção brasileira de castanha e, com freqüência, se
apresentou na liderança ou entre os maiores produtores do país.
A safra da castanha acontece de dezembro a maio e o trabalho de colheita é
essencialmente realizado por homens. Os instrumentos utilizados na extração
consistem de: um facão (terçado) e no paneiro, uma espécie de cesto confeccionado
de fibras naturais. O trabalho é extremamente simples, baseando-se na coleta dos
“ouriços de castanha”, caídos das árvores, e na sua quebra com o auxílio do facão,
para obtenção das amêndoas que depois são colocadas dentro do paneiro.
Apesar da simplicidade, o trabalho exige resistência física, requer que o
extrativista caminhe e suporte o peso dos paneiros carregados. Assim, é incomum
encontrar trabalhadores com idade avançada. A força de trabalho é constituída de
78% adultos, (sendo 71% masculina, com idade média de 31 anos), e 22% adolescente
(70% masculina e idade média de 12 anos). Nos sistemas extrativistas, é muito rara a
contração de mão-de-obra terceirizada.
A forma predominante de acesso à terra nesse sistema é a compra (65%),
seguida pela posse (16%). Há também casos de famílias que vivem nas reservas
extrativistas, não sendo concedido nestas o direito à propriedade, apenas o benefício
de uso dos recursos naturais. Os estabelecimentos estão localizados à médias e

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longas distâncias de centros urbanos, pois a localidade mais próxima está em média
59 Km distante. (UFAC, 1997).
Os produtores de castanha no Estado do Acre são em grande parte seringueiros
de origem. Devido ao sentido da luta pela preservação das florestas, reconhecido
internacionalmente com episódio da morte do líder Chico Mendes e mais
recentemente, com o apoio local ao extrativismo, houve a formação de várias
associações e cooperativas ligadas aos extrativistas neste Estado.

6.2 As Organizações dos produtores de Castanha

No Acre existem quatro cooperativas que absorvem as produções de castanha


in natura: Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (CAEX), Cooperativa Mista de
Produção Agroextrativista dos Municípios de Epitaciolândia e Brasiléia (COMPAEB),
Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Rio Iaco (COOPERIACO) e
Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre
(COOPERACRE). Dessas, as duas primeiras trabalham também com o
beneficiamento das castanhas (secagem e descascamento).
Na intenção de agregar valor à produção e, conseqüentemente, proporcionar
ganhos maiores aos castanheiros, a partir de 2005 a entidade entrou em uma nova
fase com a utilização de uma semi-automatizada, em substituição ao processo
manual de descascamento antes usado pela cooperativa. O projeto da nova usina foi
financiado pelo governo federal através da SUFRAMA, governo do Estado,
cooperativas (CAEX e COMPAEB), e finalmente pela empresa boliviana Tauhamanu,
que entrou inclusive com a tecnologia dos equipamentos.
Para operar esse novo empreendimento, que conta também com outra unidade
de beneficiamento semi-automatizada, no município de Brasiléia, essa gerenciada
pela COMPAEB, formou-se a empresa Castanheira. As cotas da empresa
Castanheira, são divididas da seguinte maneira: CAEX (25%), COMPAEB (25%) e
Tauhamanu (50%).
As capacidades máximas das novas usinas da CAEX e COMPAEB, são de,
produzir 387,2 toneladas por ano de castanha descascada. Estimativas da SEPROF
apontam que as usinas de beneficiamento semi-automatizadas, da CAEX e
COMPAEB, serão capazes de beneficiar 50% da produção de castanha do Acre. Nas

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6
antigas usinas de processamento manual era possível beneficiar apenas 5% da
produção do estado.
Pelo menos a CAEX, no começo do funcionamento da usina, irá utilizar 30% da
capacidade total, para depois aumentar gradativamente a produção. No processo
semi-automatizado as grandes inovações serão a substituição da prensa de ferro,
onde somente é possível quebrar uma castanha por vez, por um quebrador
automático, e a utilização do sistema de embalagem a vácuo. As demais etapas do
beneficiamento, permanecem semelhantes, cuja ordem é a seguinte:
a) Pré-beneficiamento: Secagem inicial e limpeza das castanhas em água
b) Seleção: Após a limpeza é realizada uma primeira seleção em esteira, são
retiradas as castanhas estragadas;
c) Descascagem: Nessa etapa, as castanhas vão para o quebrador automático
para serem descascadas;
d) Classificação: Posteriormente ao descascamento, as castanhas passam por
uma classificação, conforme os tamanhos e qualidade;
e) Desidratação: Já classificadas, as castanhas são encaminhadas para uma
estufa, para uma secagem final (2,5% de umidade);
f) Seleção final e embalagem: As castanhas passam por uma última
verificação, e daí são embaladas a vácuo em sacos alumizados de 20 kg.

Em paralelo à nova unidade de beneficiamento, o projeto também incluiu a


capacitação dos produtores no campo pela EMBRAPA/ACRE, sobre as boas práticas
de colheita, com o objetivo de diminuir a contaminação do fungo que provoca a
formação das aflatoxinas. A medida visa adequar o produto brasileiro aos novos
padrões exigidos pelo mercado internacional.
A CAEX, internamente, prevê um projeto de certificação de parte da produção
de castanha, com a parceria de uma organização italiana, que pretende colocar o
produto da cooperativa no mercado justo europeu. Em relação às cooperativas do
Estado, almeja-se consolidar a “rede das cooperativas”, para que a produção e
beneficiamento sejam trabalhados no âmbito destas organizações.

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Há, portanto, a perspectiva de que esteja em curso mudanças significativas no
mercado de castanha, já que metade da produção do estado do Acre terá a
possibilidade de ser beneficiada localmente e por segmentos representativos dos
produtores de castanha.

Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre


(COOPERACRE)

A COOPERACRE está localizada na capital Rio Branco, fundada em dezembro


2002. Antes da cooperativa o local já funcionava como um entreposto comercial de
produtos extrativistas. A formação da organização teve o apoio do governo estadual,
que doou o prédio, terreno e dois caminhões. Atualmente a entidade é formada por
17 associações de diferentes municípios do Estado e a diretoria é constituída pelos
presidentes dessas associações. Segundo cálculos de um dos diretores, a cooperativa
integra cerca de 1.800 famílias.
O objetivo da COOPERACRE é ser a agência de comercialização das
associações. A cooperativa comercializa principalmente as produções de borracha,
castanha com casca, óleo de copaíba e andiroba. O principal produto com relação a
rendimento tem sido a castanha, seguida da borracha. A quantidade movimentada
de borracha pela cooperativa mensalmente é de 80 toneladas de cernambi virgem
prensado. A produção tem sido escoada para usina de beneficiamento Chico Mendes
em Xapuri e Casa do Seringueiro em Sena Madureira.
Antes da elevação da tributação sobre a exportação de Castanha-do-Brasil sem
casca pelo estado do Acre, era muito comum a atuação de atravessadores das usinas
de beneficiamento da Bolívia. Os preços pagos pelos atravessadores aos produtores
eram compatíveis àqueles oferecidos pela COOPERACRE ou até maiores. Apenas no
município de Plácido de Castro, de acordo com um dos diretores da cooperativa,
havia no auge da safra de 2004 dezesseis compradores de castanha da Bolívia. Os
atravessadores chegavam a buscar as castanhas dentro das comunidades.
Apesar da rede de atravessadores, a criação da cooperativa , na avaliação dos
diretores é positiva porque estabeleceu parâmetros de preços mais justos para os

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produtores, atendendo ao objetivo social da organização e de elevação no nível de
renda dos castanheiros. Ressalta-se que tal condição foi também alcançada porque,
desde 2004, o estado do Acre, especificamente as cooperativas, como a
COOPERACRE, estão sendo contempladas com um programa da CONAB, de
compra antecipada especial da Castanha-do-Brasil. São recursos disponibilizados
exclusivamente para as cooperativas, com a finalidade de apoiar as organizações na
compra da produção no início da safra. É como se fosse um capital de giro que
viabiliza a movimentação das cooperativas e garante a compra da castanha do
produtor. A condição para acessar o financiamento é a devolução em um prazo de
oito meses.

Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (CAEX)

A CAEX está sediada em Xapuri. Tendo sido fundada em 1988, possui 400
associados. A diretoria da cooperativa é escolhida em assembléias que acontecem nas
nove comunidades de seringueiros do município. Em Xapuri está localizada a
Reserva Extrativista Chico Mendes (RESEX Chico Mendes), uma parte das
comunidades se localiza dentro da reserva. A CAEX comercializa castanha com
casca, castanha beneficiada e a borracha.

Cooperativa Mista de Produção Agroextrativista dos Municípios de Epitaciolândia


e Brasiléia (COMPAEB)

Fundada em 1993, a COMPAEB está localizada no município de Brasiléia,


atualmente conta com 250 associados. A cooperativa comercializa borracha, óleos de
andiroba, copaíba, castanha com casca e castanha beneficiada. A COMPAEB,
também é muito conhecida pela sigla CAPEB, pois no passado havia duas
cooperativas diferentes de mesma natureza, que funcionavam em local comum.
A COMPAEB, como também faz parte do projeto das unidades de
beneficiamento semi-automatizadas, acredita que futuramente será possível pagar ao

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produtor um preço mais alto. Atualmente, o PAA tem permitido a cooperativa
operar com um preço um pouco mais elevado, remunerando melhor os extrativistas.

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0
7. Limites e perspectivas ao extrativismo da Castanha-do-Brasil e
possíveis estratégias para ampliação do mercado dos produtos da
sociobiodiversidade

Os extrativistas associados às cooperativas no Estado do Acre relatam como a


principal dificuldade as condições precárias em que realizam o escoamento da
produção de castanha. Nem sempre as comunidades estão em locais de fácil acesso e,
como a safra da castanha acontece quase que totalmente no período de chuvas,
muitas estradas nessa época se tornam intransitáveis, em razão do péssimo estado de
conservação.
Além das estradas precárias, há ainda castanheiros que dependem de outros
transportes, como barcos. A conseqüência imediata é o elevado custo com o frete e
combustível. Desse modo, as associações, quando realizam o trabalho de escoamento
ou recebem a produção, não são bem compreendidas por muitos sócios ou outros
produtores que acabam encarando negativamente a organização, já que se torna
necessário necessário o desconto dos custos de transporte sobre os rendimentos da
produção. Nesse ponto, os atravessadores, que buscam a produção nas casas dos
castanheiros, tornam-se uma alternativa financeiramente mais vantajosa.
Partindo deste raciocínio e imediatismo dos produtores, os intermediários
conseguem enfraquecer as associações e, conseqüentemente, as cooperativas. A
conscientização dos produtores, envolve a percepção de que os atravessadores e
usineiros têm como único fim a obtenção da castanha, diferente das associações e
cooperativas que prestam assistência, reivindicam direitos e, principalmente,
mantém os produtores informados sobre o que acontece no mercado de castanha,
comenta Manoel Gonçalves de Souza, da COMPAEB.
Uma outra questão que as associações e cooperativas acreditam ser prioridade
e que facilitaria o trabalho seria a adoção de medidas complementares ao esquema de
logística, como a construção de armazéns adequados em locais estratégicos, de
preferência nas próprias comunidades. Estas teriam como finalidade evitar perdas e
a diminuição da qualidade da castanha.
As cooperativas do Estado do Acre mencionadas neste estudo já participam de
programas, projetos e ações no sentido de viabilizar a verticalização, a agregação de

4
1
valores à produção e o aumento do poder dos produtores nos níveis de negociação e
comercialização da castanha. Tais iniciativas são:
• Implantação de duas usinas de beneficiamento semi-automatizadas, com
a participação da SUFRAMA, governo do Estado do Acre, CAEX,
COMPAEB e empresa Tauhamanu;
• Programa de compra antecipada da castanha-do-Brasil pela CONAB,
exclusivo para as cooperativas;
• Articulação da rede das cooperativas do estado do Acre;
• Projeto de certificação de castanhas das cooperativas COMPAEB e
futuramente da CAEX, em parceria com a usina Chico Mendes de
Modena na Itália, e instituto ECOAMAZON;
• Previsão de apoio pelo governo estadual na construção de armazéns
comunitários.

7.1 Estratégias gerais, para o conjunto dos produtos da sociobiodiversidade

- Políticas públicas para possibilitar o aumento da produtividade do trabalho (infra-


estrutura, pesquisa sobre manejo, crédito), tornando os produtos mais competitivos
em relação aos seus substitutos;
- Pesquisa orientada ao desenvolvimento de produtos finais (alimentos funcionais,
medicinais, cosméticos, etc.);
- Apoio à industrialização (alimentos, usos medicinais, cosméticos, alimentos
funcionais);
- Compras institucionais;
- Preços mínimos;
- Campanhas para explorar a idéia de consumo consciente (grife produtos da
sociobiodiversidade);
- Articular ações gerais sem esquecer das especificidades das cadeias produtivas
(castanha, guaraná, borracha, etc.);
- Articular ações para viabilizar produtos cultivados em meio à floresta (mandioca,
por exemplo), como forma de manter a própria sociobiodiversidade;
- Apoiar/ fortalecer as associações/ cooperativas já existentes;

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7.2 Estratégias específicas, de acordo com as especificidades dos produtos e das
cadeias produtivas

Quadro 1: Possíveis estratégias para ampliação do mercado dos produtos


estudados
Guaraná Castanha-do-Brasil Borracha (seringueira)
Uso: estimulante Usos: alimentares e Uso: industrial
1) É possível estimular essências. 1) Como aproveitar o
sua produção em meio à 1) Como reduzir o preço boom do petróleo para
floresta? da Castanha-do-Brasil estimular o consumo de
2) É possível desenvolver para estimular o consumo borracha extrativa?
novos produtos à base de alimentar no mercado 2) É possível desenvolver
guaraná, tornando-se nacional? produtos diferenciados a
menos dependente das 2) Quais são os usos não partir da borracha
indústrias de alimentares que poderão extrativa produzida na
refrigerantes? ser estimulados? Amazônia?

Possibilidades: Possibilidades: Possibilidades:


- Desenvolvimento/ - Infraestrutura (ramos); - Infraestrutura (ramos);
estímulo de novas - Compras institucionais; - Preços mínimos;
bebidas à base de - Preços mínimos; - Marca;
guaraná; - Industrialização; - Industrialização;
- Pesquisa sobre
produção e manejo;

7.3 Estratégias orientadas pelo produto final: alimentos, essências (cosméticos,


medicinais, etc.), industrial, alimentos funcionais

Questão-chave: Processamento/ Industrialização e desenvolvimento de marcas


associadas para cada uma das linhas (grupos de produtos finais)

1) Desenvolvimento de indústrias para “alimentos da Amazônia”, por exemplo,


voltando-se para o conjunto dos produtos alimentares (Castanha-do-Brasil, castanha-
de-cajú, óleo de babaçu, açaí, cupuaçu);
2) Desenvolvimento de indústrias de processamento de produtos de uso industriais
(Borracha da Amazônia, por exemplo, valorizando a borracha extrativa);
3) Desenvolvimento de indústrias de essências da Amazônia voltadas aos usos
medicinais;
4) Desenvolvimento de indústrias de essências da Amazônia voltadas ao uso na área
de cosméticos.

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3
Este estudo exploratório deu ênfase ao declínio verificado na produção
brasileira de castanha, como um aspecto que pode vir a comprometer o atendimento
da demanda internacional pelo produto e resultar na perda da fração ocupada pela
castanha amazônica no mercado de amêndoas comestíveis.
Porém, anteriormente às estratégias com fins mercadológicos, é preciso
entender que a diminuição da oferta de castanha está inseparavelmente relacionada
ao desaparecimento gradativo das florestas e à eliminação da biodiversidade. Isso
ocorre em favorecimento dos empreendimentos pecuários de exportação e no avanço
da fronteira agrícola, traduzida na cultura da soja.
Revela-se, em meio a esta realidade amazônica, a incipiência de políticas
públicas e interesses direcionados à ocupação e uso do solo em bases sustentáveis,
uma vez que o estabelecimento do agronegócio representa, também, a fragilidade
dos sistemas de produção da agricultura familiar e extrativistas em prover e fixar as
famílias adequadamente. A incorporação de terras pela agropecuária de larga escala
e pela soja, se dá ao mesmo tempo em que acontece o esvaziamento das
propriedades familiares.
Ao longo da construção deste estudo, vários depoimentos coletados entre as
pessoas entrevistadas demonstraram que há a necessidade de repensar um novo
modelo para o extrativismo da castanha como atividade econômica de sustentação
social e ambiental. As pressões de ordem macroeconômica estão levando o
extrativismo à extinção sob o pretexto de julgá-lo inexpressivo economicamente,
porém sem a preocupação de dar uma resposta social e ambiental em troca.
Um dos entrevistados afirmou que o extrativismo poderá resistir somente
quando se associar a uma agricultura com aporte tecnológico. Muitos afirmaram a
necessidade de agregar valores à produção extrativa com a participação dos
produtores, como acontece no Estado do Acre. Porém, entre outras afirmações, foi
indicado que o componente cultural das populações tradicionais ocupadas no
extrativismo é uma variável que dificulta, ou até inviabiliza, a implantação de ações
no sentido acima citado. Na dinâmica destas populações, o conceito conhecido de
agricultura, a organização social, a auto-gestão de empreendimentos, são elementos
que não fazem parte do universo das comunidades extrativistas.

4
4
Um novo modelo para o extrativismo e de desenvolvimento da região
amazônica passa obrigatoriamente por uma análise profunda dos aspectos sócio-
culturais das populações. Excluí-los, simplesmente, impossibilitaria qualquer
inovação no sistema extrativista.

4
5
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4
6
PENNACCHIO, Humbero Lobo. Castanha-do-Brasil: proposta de preço mínimo
para a safra 2006/07. CONAB, Brasília, 2006.

4
7
Contatos
Instituições e
Contato Telefone E-mail Cidade/Estado
Organizações de Base
SEPROF (Secretaria de
Extrativismo e Gerliano M.
(68) 3223-7404 castanha.seprof@ac.gov.br Rio Branco – AC
Produção Familiar do Nunes
Estado do Acre)
COOPERACRE
(Cooperativa Central de
Alcimar Marcos
Comercialização (68) 3221-7164 Rio Branco-AC
da Costa
Extrativista do Estado
do Acre)
CAEX (Cooperativa
Agroextrativista de Luis Carvalho (68) 3542-3155 ccaex@bol.com.br Xapuri-AC
Xapuri)
COMPAEB
(Cooperativa Mista de
Produção Manoel
Agroextrativista dos Gonçalves de (68) 3546-3126 Brasiléia-AC
Municípios de Souza
Epitaciolândia e
Brasiléia)
PESACRE (Grupo de
Pesquisa em Sistemas Roger/Regiane (68) 226-5288 pesacre@pesacre.org.br Rio Branco-AC
Agroflorestais do Acre)
EMBRAPA Amazônia (91) 299-4582;
Alfredo Homma homma@cpatu.embrapa.br Belém-PA
Oriental 277-0088
POEMA (Programa
Sandro
Pobreza e Meio
Abreu/Reginaldo (91) 3183-1686 Belém-PA
Ambiente na
Von
Amazônia)
FASE Gurupá Carlos Augusto
(91) 342-0318 Belém-PA
Ramos
GTNA (Grupo de
Assessoria em Romier da Paixão (91)231-
Belém-PA
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Amazônia)
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Seringue iros de Rosalvo Joaquim (69) 3224-1031 Porto Velho-RO
Rondônia)

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