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Um guia prático com tudo o que você precisa saber para a sua empresa economizar
com o pagamento de impostos
Composta por 56.000 artigos, 33.000 parágrafos e 23.497 incisos, de acordo com o
IBPT, a legislação representa uma espécie de Muralha da China, que impede a
popularização de conhecimento na área, mesmo entre empresários e executivos das
principais empresas do país. 'Quem não estiver ligado o tempo todo não tem
condições de acompanhar as freqüentes mudanças na legislação', afirma a
contabilista Isabel Bertoletti, do escritório Machado Associados Advogados e
Consultores. Embora os impostos representem, hoje, o principal custo das empresas,
poucas procuram racionalizar os gastos por meio do chamado planejamento
tributário - procedimentos previstos em lei ou não proibidos por lei que permitem a
redução dos impostos. 'Ainda estamos engatinhando neste aspecto no Brasil', afirma
Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT.
Para ajudá-lo a pagar menos tributos, Pequenas Empresas & Grandes Negócios ouviu
alguns dos principais advogados, consultores e contadores do país (veja a lista dos
profissionais consultados pela revista no final desta reportagem). Concentramos o
sumo do que conseguimos apurar em 16 sugestões práticas, listadas abaixo. Tudo
dentro da lei, é claro.
Quem é dono de uma microempresa, com faturamento de até 120.000 reais por ano,
não tem muito em que pensar. É Simples na cabeça! Pelo Simples, a microempresa
pagará de 3% a 5% de sua receita e não precisará mais se preocupar com impostos
federais e contribuições sociais. Num país em que a área tributária é um imbróglio
monumental, não é pouca coisa.
Agora, no caso das chamadas empresas de pequeno porte (EPP), com faturamento
de 120.000 a 1,2 milhão de reais por ano, a coisa muda de figura. Embora também
possam optar pelo Simples, as EPP são penalizadas com alíquotas mais altas do que
as microempresas (de 5,4% a 9% do faturamento). Por isso, muitas vezes, o regime
de lucro presumido, que pode ser adotado por empresas com faturamento de até 48
milhões de reais por ano, ou o regime de lucro real, aberto a qualquer empresa,
poderá ser bem mais vantajoso. Tudo vai depender do tamanho das despesas, do
lucro e do ramo de atividade da empresa.
A opção pelo lucro presumido é indicada quando o lucro for maior do que as
estimativas usadas pela Receita Federal (de 8% a 32% sobre o faturamento, de
acordo com a atividade), para calcular o imposto. Se o lucro for menor do que as
estimativas, o regime de lucro real será mais interessante.
Também deve optar pelo sistema de lucro real quem pretende investir no negócio ou
tem uma quantia significativa de depreciações de bens, como veículos, máquinas e
imóveis, para contabilizar como despesa. O mesmo caminho deve ser seguido por
empresas que estejam no vermelho. Assim, não precisarão pagar tributos sobre um
lucro que não tiveram, como aconteceria no sistema de lucro presumido.
Oficialmente, o regime tributário só pode ser revisto uma vez por ano - na data do
primeiro recolhimento, em fevereiro. Mas existem formas de alterá-lo durante o
exercício, caso as previsões de faturamento e de lucro, para cima ou para baixo, não
se confirmem.
3. Identifique todos os créditos que a sua empresa pode ter e não deixe de
aproveitá-los
Se a sua empresa for tributada com base no lucro real, você não deve se esquecer
de cobrar os créditos que ela tem com o Fisco, como os do PIS (Programa de
Integração Social), ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) e IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados). Mesmo empresas de renome costumam
deixá-los para trás e, às vezes, nem sequer identificam todos os insumos que podem
lhes gerar créditos tributários. Os gastos com uma central de compra e venda de
produtos e com energia nem sempre são compensados. As embalagens são
consideradas insumos para o produto final e também geram créditos para o
contribuinte.
Recentemente, uma grande rede de varejo da área de vestuário descobriu que podia
considerar as etiquetas das roupas como um insumo do produto final. Com a
descoberta, passou a creditar-se do ICMS pago na compra das etiquetas e conseguiu
economizar um valor considerável.
A mamata de alugar uma 'caixa-postal' numa cidade que cobra ISS (Imposto sobre
Serviços) de 0,5% sobre o faturamento e prestar serviço em outra, que cobra 5%,
como a maior parte dos municípios brasileiros, parece que está chegando ao fim. O
cerco aos contribuintes por parte das prefeituras que se sentem prejudicadas começa
a se fechar. Além disso, a reforma tributária em análise no Congresso Nacional deve
fixar a alíquota mínima de ISS em todo o país em 2% do faturamento.
Ainda assim, será possível economizar no pagamento de ISS daqui para a frente. Só
que, agora, a empresa precisará se instalar de verdade numa cidade que cobre ISS
mais baixo. Há inúmeras cidades em volta das grandes metrópoles do país que
oferecem boa infra-estrutura para os negócios e querem atrair novos investimentos.
Você poderá poupar até 3% em ISS, o que não é nada desprezível. Sobre um
faturamento de 1 milhão de reais, significaria uma economia de 30.000 reais. Está
ruim?
Se a sua empresa é tributada com base no lucro real e precisa de uma injeção de
capital, evite fazê-lo da forma convencional. Do ponto de vista tributário, sempre
será desvantajoso capitalizá-la, caso os recursos não tenham destino operacional. O
dinheiro entrará no caixa e não gerará benefício fiscal. A melhor forma de realizar a
operação é por meio de um empréstimo da pessoa física para a jurídica. As despesas
financeiras geram créditos que poderão ser usados para abater o valor de tributos
federais, como o PIS e o Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social).
Se a sua empresa gastar 10.000 reais com serviços terceirizados por mês, por
exemplo, você poderá descontar 165 reais do valor do PIS que terá que pagar. Para
uma empresa que fatura 100.000 reais por mês, isso representará 6% do valor que
seria devido do PIS, de 1.650 reais. Nada mal.
A compra de um bem por meio de uma operação de leasing permite que a sua
depreciação seja feita de forma acelerada, isto é, num prazo menor do que nos
financiamentos convencionais ou nas compras à vista com capital próprio.
Conseqüentemente, a empresa poderá reduzir o lucro e o valor do imposto a pagar.
Na compra de um veículo, cuja depreciação normalmente é feita em cinco anos, a
empresa poderá fazê-la em apenas dois anos.
Uma das raras formas de reduzir o peso dos encargos sociais é por meio da
distribuição de lucros aos funcionários. As empresas têm, hoje, liberdade para definir
sua política salarial e podem congelar os salários de seus funcionários, para evitar o
crescimento dos encargos, que atingem cerca de 70% sobre a folha. Em troca,
podem compensar a diferença com o pagamento de um 'salário' variável, como
distribuição de lucro, isenta de encargos.
Embora só possa ser feita a cada seis meses, de acordo com a legislação, a
distribuição de lucro tem sido utilizada de forma crescente não apenas para reduzir
os encargos sociais, mas também para aumentar o envolvimento dos funcionários
com o trabalho.
Se você ainda faz suas retiradas mensais sob a forma de pró-labore, está pagando
mais imposto do que deveria. A melhor maneira de fazê-lo é por meio da distribuição
de dividendos, isentos do pagamento de Imposto de Renda.
Parece incrível, mas muita gente ainda trabalha como autônomo, em vez de atuar
como empresa. Apesar do custo contábil ser mais alto, é muito melhor, segundo os
especialistas, tornar-se pessoa jurídica. O autônomo precisa pagar até 27,5% de
Imposto de Renda (IR) sobre seus ganhos, como se fosse assalariado, enquanto uma
empresa tributada pelo lucro presumido paga, em média, 'apenas' 12% (de 8% a
17% de IR, conforme a atividade).
Se você for autônomo e tiver um faturamento anual de 500.000 reais, por exemplo,
pagará um total de 137.000 reais de imposto. Se atuar como pessoa jurídica, a sua
despesa com o Fisco cairá para 60.000 reais. Ou seja, a sua economia será de
77.000 reais (leia o item 'Receba seus rendimentos como dividendos').
Se a sua empresa for tributada pelo lucro real e negociar produtos com margens de
lucro muito diferentes, poderá ser mais econômico, segundo os tributaristas, separar
as unidades de produção ou de comercialização em empresas independentes. Desta
forma, cada unidade poderá aderir ao sistema mais conveniente (lucro presumido ou
lucro real). Se a margem de um dos produtos for maior do que 8% do faturamento
(estimativa usada pela Receita para tributar as empresas do setor), ele deverá ser
tributado pelo lucro presumido. Se for menor, deverá optar pelo lucro real.
Um produto vendido por 50 reais, com margem de lucro de 30 reais, por exemplo,
pagaria 60 centavos de Imposto de Renda pelo sistema de lucro presumido (15%
sobre o lucro de 4 reais, equivalente a 8% do faturamento) e 4,50 reais pelo sistema
de lucro real (15% sobre o lucro efetivo de 30 reais). Um outro produto, vendido
pelo mesmo preço, mas com margem de lucro de apenas 1,50 real, pagaria os
mesmos 60 centavos de imposto pelo lucro presumido e 22 centavos pelo lucro real.
Se a sua empresa se enquadra no sistema de lucro real e possui imóvel próprio, cuja
depreciação já foi totalmente deduzida como despesa, convém repassar o imóvel
para os sócios. Eles poderão alugá-lo para a própria empresa, que poderá deduzir o
valor do aluguel do Imposto de Renda (IR). Para fazer isso da forma mais vantajosa,
o repasse do imóvel deve ser feito pelo valor de custo, por meio de uma operação de
redução de capital. Assim, a empresa não precisará pagar IR sobre o lucro. O
recebimento do aluguel estará sujeito ao pagamento de IR, de acordo com o valor.
Ainda assim, pode ser um ótimo negócio.
16. Venda sempre um imóvel próprio por meio de uma pessoa física ou de
uma incorporadora
Se a sua empresa tem um imóvel próprio e quer vendê-lo, esqueça a idéia de fazê-lo
em nome dela mesma. Existem, ao menos, duas outras formas de vendê-lo, dentro
da lei, com melhor resultado financeiro. A primeira é repassá-lo para um dos sócios.
A segunda é fazê-lo por meio de uma incorporadora imobiliária controlada pela sua
própria empresa.
Com a incorporadora, daria para economizar 77% do imposto que você pagaria se
fizesse o negócio por meio da empresa original. Com a venda por meio de um dos
sócios, a economia seria de 56%.
Para vender o imóvel por meio da incorporadora, será necessário repassá-lo a preço
de custo, por meio de uma operação de aporte de capital. Também será preciso
enquadrá-la no regime de lucro presumido, que leva em conta uma estimativa de
lucro de 8% sobre o faturamento.
Se o imóvel for vendido por 1 milhão de reais, por exemplo, a incorporadora pagará
um total de 61.300 reais em tributos (12.000 reais por conta dos 15% de IR sobre o
lucro presumido de 80.000 reais, mais 2.000 reais em razão de o lucro ultrapassar
240.000 reais no ano, mais 10.800 reais de CSLL, mais 6.500 reais de PIS, mais
30.000 reais de Cofins).
Caso o imóvel fosse repassado para um sócio, o imposto seria maior. Mas a operação
ainda valeria a pena. Para realizá-la, seria preciso promover uma redução de capital
com o repasse do imóvel pelo valor de custo. Desta forma, se o custo tivesse sido de
200.000 reais, por exemplo, e o imóvel fosse vendido pelo mesmo milhão de reais, o
valor do imposto seria de 120.000 reais (equivalente a 15% do lucro de 800.000
reais).
Agora, se o imóvel fosse vendido pela empresa original, nas mesmas condições, o
imposto alcançaria 270.000 reais (120.000 reais por conta dos 15% do IR sobre o
lucro de 800.000 reais, mais 78.000 reais de adicional de 10% por ter ultrapassado o
faturamento de 240.000 reais no ano e mais 72.000 reais de CSLL). Conclusão: a
venda por meio da incorporadora permitiria uma economia de 208.700 reais e por
meio de um sócio, de 150.000 reais.
• Se a sua empresa optou pelo Simples mas já foi tributada no passado com base no
lucro real, continua com direito a pleitear, por meio de processo administrativo, os
créditos da fase anterior
• Os recursos que a sua empresa investir em treinamento de funcionários podem ser
deduzidos das chamadas contribuições 'S' (Sesi, Senac e Senat), desde que seja
feito um convênio com a entidade correspondente ao seu setor de atuação
• Não deixe de usar o valor da depreciação de bens de sua empresa para aumentar
as despesas, reduzir o lucro e, conseqüentemente, o valor que você precisará pagar
de Imposto de Renda
• Não devolva despesas extras dos funcionários, como gastos com combustível a
serviço da empresa, junto com o salário. Faça-o mediante a apresentação de nota
fiscal, em outra data, para não ter que pagar encargos trabalhistas sobre elas
• As contribuições feitas para projetos culturais, que podem ser deduzidas até o
limite de 4% do Imposto de Renda das empresas tributadas pelo sistema de lucro
real, não representam uma efetiva redução de despesas, mas contribuem
positivamente para a sua imagem no mercado