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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO RELATOR ALEXANDRE

DE MORAES

ADI 3.481/DF

Breve panorama dos impactos imediatos da decisão em caráter


nacional e interinstitucional. Da cautelar incidental. Matéria
relevante de especial significado para a ordem social e a
segurança jurídica. Modulação pro futuro dos efeitos da
decisão. Segurança jurídica e excepcional interesse social.
Período de transição e adaptação.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA(1), já


qualificado nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade em epígrafe que tem
movida contra si, vem, mui respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar pedido

CAUTELAR INCIDENTAL COM MODULAÇÃO PRO FUTURO DOS


EFEITOS DA DECISÃO

face à publicação da Ata de Julgamento do Plenário, Sessão Virtual de 26.02.2021 a


05.03.2021, com fulcro nos arts. 12 e 27 da Lei nº 9.868/99, c/c art. 170, §3º do RISTF,
nos termos e razões a seguir aduzidas.

1
Conferir: Doc. 01 – Procuração e Doc. 02 - Ata de posse do XVIII plenário do CFP.
I) BREVE PANORAMA DOS IMPACTOS IMEDIATOS DA
DECISÃO EM CARÁTER NACIONAL E
INTERINSTITUCIONAL – NECESSIDADE DE
MODULAÇÃO PRO FUTURO DOS EFEITOS –
TRANSIÇÃO E ADAPTAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL
DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

No dia 16.03.2021 fora publicada no Diário da Justiça Eletrônica


Ata de Julgamento do Plenário, referente à Sessão Virtual de 26.2.2021 a 05.03.2021,
onde se verifica como resultado, fundado em maioria de 7x4 conduzida pelo E. Relator
Ministro Alexandre de Moraes, a declaração de inconstitucionalidade material do inciso
III, caput, e §§ 1º e 2º do art. 18, da Resolução CFP nº 02/2003.

Neste sentido, como se observa do texto normativo impugnado, a


matéria objeto da declaração de inconstitucionalidade diz respeito, precisamente, à
restrição de comercialização dos testes psicológicos, e aos procedimentos de controle de
vendas por parte de editoras, assim deduzidos:

Art. 18 - Todos os testes psicológicos estão sujeitos ao disposto


nesta Resolução e deverão:
(...)
III - ter sua comercialização e seu uso restrito a psicólogos
regularmente inscritos em Conselho Regional de Psicologia.
§ 1º - Os manuais de testes psicológicos devem conter a
informação, com destaque, que sua comercialização e seu uso são
restritos a psicólogos regularmente inscritos em Conselho
Regional de Psicologia, citando como fundamento jurídico o § 1º
do Art. 13 da Lei no 4.119/62 e esta Resolução.
§ 2º - Na comercialização de testes psicológicos, as editoras, por
meio de seus responsáveis técnicos, manterão procedimento de
controle onde conste o nome do psicólogo que os adquiriu, o seu
número de inscrição no CRP e o(s) número(s) de série dos testes
adquiridos.

Nas dispositivas palavras do E. Relator, restou consignado o


reconhecimento de que, nos termos do art. 13, §1º, da Lei nº 4.119/62, a aplicação dos
testes psicológicos constitui função privativa dos profissionais da psicologia, o que, no
entanto, não autorizaria esta autarquia de fiscalização profissional a restringir a livre
circulação dos referidos testes no mercado, compreendidos, assim, como produtos de
conhecimento científico protegidos nos termos do art. 220 da Constituição Federal de
1988.

Em que pese restar ainda carente de elucidação o destino a ser


dado aos gabaritos e folhas de respostas (tecnicamente denominados por “crivo de
correção”) dos referidos materiais, haja vista comporem, atualmente, em meio às regras
de restrição de comercialização, o “kit” de testes comercializados, o que deve ser objeto
de oportunos de embargos de declaração a serem interpostos na medida da estabilização
da decisão plenária, mediante publicação do respectivo acórdão no DJe, o fato é que a
produção imediata dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade sobre referida
restrição gera impacto direto e também imediato sobre uma série de instituições públicas,
processos administrativos e judiciais e rotinas profissionais da área da saúde e gestão de
pessoas que estão estruturados ou ao menos embasados, nos seus procedimentos ou
deliberações, em resultados produzidos por testes psicológicos.

Não menos verdade é o fato de que, há décadas, todo este Sistema


de Avaliação Psicológica utilizado em diferentes ambientes institucionais está estruturado
sobre a lógica de restrição de acesso aos manuais de aplicação e respectivos gabaritos e
folhas de respostas dos testes a serem aplicados em cada uma das situações institucionais,
administrativas, judiciais, organizacionais ou terapêuticas, pela evidente e significativa
razão de que a confiabilidade da avaliação psicológica, como soe acontecer em processos
avaliativos, depende essencialmente do singelo fator de que a pessoa avaliada não
conhece previamente nem os desafios que lhe serão apresentados, e menos ainda as
respostas corretas e esperadas como resultado.

Repita-se: a confiabilidade da avaliação psicológica, como soe


acontecer em processos avaliativos, depende essencialmente do singelo fator de que a
pessoa avaliada não conhece previamente nem os desafios que lhe serão apresentados, e
menos ainda as respostas corretas e esperadas como resultado.

Ainda neste diapasão, é preciso reconhecer que em seu voto o E.


Relator faz consignar a compreensão de que em uma sociedade com amplo acesso à
informação, sobretudo através de meios virtuais, a restrição de comercialização não se
afigura meio útil para coibir o exercício ilegal da profissão via aplicação de testes
psicológicos por pessoas leigas, com consequências para a saúde pública, de modo que,
por suas próprias palavras:
“A proibição de aquisição de testes por não psicólogos constitui
medida que não proporciona proteção útil ao bem jurídico ‘saúde
pública’ (ou proteção ao exercício profissional), ao mesmo tempo
em que acarreta restrição à livre circulação de ideias e
conhecimento, mostrando-se, por isso, materialmente
inconstitucional”.

É preciso notar, entretanto, que em que pese jurídica e


aparentemente lógica a sua intuição, qual seja, a impressão de que a restrição de
comercialização dos testes não seria útil para coibir eventual acesso e aplicação dos testes
psicológicos por pessoas leigas, bem como autodiagnostico, o fato é que, a par desta
hipótese intuitiva – vale ressaltar o caráter intuitivo, e portanto destituído de constatação
empírica ou elemento fático fundado em prova ou indício nos autos – todo o Sistema de
Avaliação dos Testes Psicológicos – e em todo o mundo, vale observar – está hoje
estruturado (do ponto de vista normativo e instrumental), condicionado (do ponto de vista
da produção e confiabilidade dos resultados), e treinado (do ponto de vista da formação
universitária, rotinas técnicas de aplicação e especialização profissional) sobre a premissa
técnica e científica do campo psicológico de que a restrição de comercialização é meio
essencial e apto a evitar o autodiagnostico, além de conferir e garantir a confiabilidade
dos resultados.

É o que se verifica, por exemplo, nos documentos da American


Psychological Association(2) e da Australian Psychological Society(3), bem como uma
vasta produção científica anexada a esta petição.

2
"A adoção de qualificações e competências de avaliação para psicólogos fornece ao público informações
identificáveis sobre treinamento, avaliação, supervisão e competência daqueles que procuram serviços. Por
sua vez, a competência na avaliação protege os destinatários dos serviços de avaliação, esclarecendo os
processos avaliativos e apoio à qualidade profissional dos serviços de entrega, validade e precisão dos
instrumentos psicológicos e uso apropriado dos resultados da avaliação" (tradução livre). Fonte: American
Psychological Association, APA Task Force on Psychological Assessment and Evaluation Guidelines.
(2020). APA Guidelines for Psychological Assessment and Evaluation, pág. 05. Disponível em:
https://www.apa.org/about/policy/guidelines-psychological-assessment-evaluation.pdf.
3
“9. Segurança dos testes psicológicos:
9.1. Os psicólogos têm a responsabilidade de proteger a propriedade intelectual dos autores e editores dos
testes. Se terceiros solicitam protocolos de teste originais, estes geralmente recebem um relatório que não
inclui os protocolos de teste originais.
9.2. Os materiais dos testes psicológicos são mantidos seguros para que a aplicação, pontuação e
interpretação dos testes não sejam comprometidas, por exemplo, por um cliente ter conhecimento prévio
do conteúdo do item de teste.
9.3. Quando os materiais de teste são usados para fins de ensino ou demonstração, os alunos são informados
de todas as responsabilidades éticas delegadas que eles também assumem, particularmente em relação à
não divulgação de materiais de teste seguros e a confidencialidade dos resultados. Os estagiários também
são informados de que assumem responsabilidade de manter os testes armazenados de forma segura durante
o uso” (tradução livre). Fonte: Ethical guidelines for psychological assessment and the use of psychological
tests - Australian Psychological Society. (2009) APS Board of Directors. Pág. 127. Disponível em:
Isso porque a restrição de acesso produz obstáculos para o
chamado “efeito de aprendizado”, ou seja, a situação em que a pessoa avaliada tem acesso
e aprendizado não apenas em relação ao teste, como também à folha de respostas e
gabaritos que apresentam como devem ser produzidas as respostas, de modo a atingir os
resultados esperados.

É o que se extrai, vale notar, do Ofício nº 7-


Cmdo/CPAEx/CEP/FDC, enviado pelo Coronel Rodrigo Lopes Rodrigues, Comandante
do Centro de Psicologia Aplicada do Exército Brasileiro, a este Conselho Federal de
Psicologia, no ambiente de discussão sobre os impactos da decisão da ADI 3.481
(anexo4):

“Senhora Conselheira,

Em resposta ao Ofício nº 558/2021/GJur/CG-CFP, o Centro de


Psicologia Aplicada Exército (CPAEx) informa que, após análise
dos termos da ADI 3481 e verificação de possíveis consequências
no âmbito do Exército, foi levantado o seguinte:

a. a decisão do STF não afetará as avaliações psicológicas em


concursos públicos sob responsabilidade do Exército Brasileiro,
tendo em vista que, atualmente, esta Instituição tem um Termo de
Execução Descentralizada (TED) com o Instituto de Psicologia
da Universidade de Brasília para a construção de instrumentos
psicológicos próprios do Exército e que não serão
comercializados;

[...]

d. a Instituição já está se adequando à nova realidade, investindo


na construção de instrumentos próprios.”

Como se observa, diferentemente de todo o restante de testes


aplicados no âmbito do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos, a integridade dos
testes aplicados pelo Exército não será afetada pela decisão desta Suprema Corte

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6819371/EG-Psychological-tests.pdf.
4
Conferir: Doc. 03 - Ofício nº 7-Cmdo/CPAEx/CEP/FDC - Considerações do Centro de Psicologia
Aplicada do Exército Brasileiro sobre os impactos dos efeitos imediatos da decisão.
justamente porque o Exército investiu na produção de instrumentos exclusivos que, nas
suas palavras, não serão comercializados.

Isto posto, cumpre reconhecer, como demonstrado abaixo e


através da manifestação de diferentes instituições e entidades ligadas ao Sistema de
Avaliação dos Testes Psicológicos, que a vigência imediata da decisão produz impacto
direto, imediato e também prejuízos não apenas sobre este Conselho Profissional e a
categoria de psicólogos, como também sobre os seguintes campos, desenvolvidos no item
III desta petição:

1. Processos judiciais em curso nas temáticas de criança e


adolescente, capacidade civil, imputabilidade penal, direitos
trabalhistas e previdenciários;

2. Processos administrativos em curso nas áreas de porte de


armas, trânsito e previdência social;

3. Concursos públicos em curso no sistema de justiça, segurança


pública e forças armadas, nas esferas estadual e federal;

4. Processos de seleção profissional em curso no mundo


organizacional;

5. Processos terapêuticos e procedimentos cirúrgicos em curso na


área da saúde mental.

Por evidência lógica e jurídica, o presente pedido cautelar não tem


por objeto a rediscussão do mérito da ação de inconstitucionalidade em epígrafe, senão
que se destina única e exclusivamente a elucidar que a vigência imediata dos efeitos da
decisão – qual seja, a liberação da comercialização de testes psicológicos para toda a
sociedade – gera impacto em diversos sentidos, ambientes, práticas e searas institucionais
que, por seu turno, tendem a se converter em prejuízos para as referidas instituições e por
via de consequência para toda a sociedade, na medida em que as avaliações psicológicas
praticadas em todas estas diferentes situações tenderão a produzir resultados falseados,
desvirtuando não apenas a lógica de sua aplicação, mas sobretudo o processo ou
procedimento administrativo, judicial ou profissional que, lançando mão de avaliação
psicológica como instrumento de aferição de aptidão, sanidade, imputabilidade penal,
discernimento, impulsividade, agressividade, cognição ou capacidade civil, tem no seu
resultado elemento útil e essencial para a tomada de posição, deliberação, resolução ou
seleção dos seus resultados.
Isso significa reconhecer, de um lado, que a vigência imediata da
decisão tende a derrubar ou no limite vulnerar uma série de procedimentos, normativas,
instrumentos e rotinas em diferentes níveis e instituições, o que por via de consequência,
de outro lado, insta a admitir que estabelece uma corrida contra o tempo para a avaliação
e mensuração destes impactos, bem como a produção de meios para a adaptação destes
procedimentos, normativas, instrumentos e rotinas em seus mais diversos ambientes
institucionais.

Como parece evidente, se afigura deveras complexa, para não


dizer hercúlea, esta tarefa de adaptação normativa, instrumental, profissional e
institucional aos termos da decisão. Isso demanda tempo e sugere, por via de
consequência lógica, o deferimento de um período de transição para que o Sistema de
Avaliação dos Testes Psicológicos, em suas ramificações no sistema de justiça, segurança
pública, saúde, previdência social, trabalhista e de trânsito, possa adaptar seus respectivos
instrumentos normativos, ferramentas técnicas de aplicação e rotinas operacionais.

Vale mencionar, ainda, a própria necessidade de adaptação e


reestruturação do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos no ambiente deste
Conselho Federal de Psicologia, ensejando um processo de avaliação e reelaboração das
normativas aplicadas ao tema, como o sistema de validação de novos testes e as suas
formas de comercialização, bem como diálogos com editoras e especialistas com vistas a
projetar novas formas de evitar o autodiagnostico e o “efeito de aprendizado”, de modo a
conferir proteção à saúde pública, e garantir a segurança e confiabilidade dos resultados.

Como se verifica em documento ora anexado(5), esta é também a


compreensão do mercado editorial especializado na comercialização dos testes
psicológicos, que compreende, de um lado, que a restrição da comercialização constitui
mecanismo de garantia de validade e confiabilidade, ao passo em que, de outro lado, a
liberação das vendas demanda um período de transição para as respectivas adaptações à
nova realidade.

A toda evidência, a modulação pro futuro dos efeitos da decisão


traz razões de segurança jurídica e excepcional interesse social, a justificar a incidência
do art. 27, da Lei nº 9.868/99.

5
Conferir: Doc. 04 – Nota Pública da Editora Vetor sobre a decisão da ADI 3481 publicada nas redes
sociais da empresa.
Como se verifica, enfim, o presente pleito se mostra prenhe de
matéria relevante de especial significado para a ordem social e a segurança jurídica,
justificando a incidência de medida cautelar, nos termos do art. 12, da Lei nº 9.868/99.

II) DA CAUTELAR INCIDENTAL – MATÉRIA


RELEVANTE DE ESPECIAL SIGNIFICADO PARA A
ORDEM SOCIAL E A SEGURANÇA JURÍDICA –
PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO DJe –
AUSÊNCIA DE ACÓRDÃO – URGÊNCIA DA MATÉRIA –
MODULAÇÃO DOS EFEITOS – AUSÊNCIA DE DEBATE
E DELIBERAÇÃO PELO PLENÁRIO

Como verificado acima, a decisão ora debatida impacta de modo


imediato não apenas na competência normativa e fiscalizatória deste Conselho Federal
face aos profissionais de psicologia, senão que tende a causar prejuízos imediatos em
processos administrativos e judiciais de diferentes searas, bem como no andamento de
concursos públicos nas áreas de justiça, segurança pública e forças armadas, além de
processos terapêuticos e cirúrgicos, além de seleção profissional, o que expressa a
urgência do pleito ora posto à apreciação de V. Exas.

A par do caráter de urgência da matéria aqui tratada, cumpre


observar, ainda de saída, que certamente em razão dos limites da dinâmica trazida por
ocasião da nefasta pandemia da Covid-19, e o consequente deslocamento do julgamento
para a Sessão Virtual, que no presente caso não fora objeto de debate ou deliberação
pelo Colendo Plenário desta Corte a questão da modulação dos efeitos da decisão, nos
termos do art. 27 da Lei nº 9.868/99.

Tal constatação não apenas abre a oportunidade como explicita a


verdadeira necessidade de, completando o caráter binário do julgamento em controle
concentrado de constitucionalidade, realizar a urgente modulação pro futuro dos efeitos
da decisão, conforme entendimento extraído a contrario sensu dos precedentes no
julgamento da ADI 3246 ED/PA (Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/6/2018
(Info 906) e ADI 2949 QO/MG (Rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, Red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

Diante deste contexto, se é certo que este Conselho Federal se vê


na expectativa da publicação do acórdão da referida decisão para, nos termos dos arts. 95
e 337 do RISTF, interpor embargos de declaração a fim de discutir a obscuridade em
relação à comercialização dos gabaritos e folhas de respostas dos testes, o fato é que a
publicação da Ata de Julgamento no dia 16.03.2021 inaugurou a vigência dos efeitos da
decisão, conforme precedente desta Colenda Corte Constitucional (Reclamação 3.473-
AgR/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 31/08/2005, DJe 08/09/2005).

Assim, face à inauguração dos efeitos da decisão, porém ante a


ausência da publicação do acórdão e a respectiva estabilização da decisão, resta
prejudicado o pleno exercício das faculdades recursais para fins de interposição de
embargos de declaração, nos termos do art. 26 da Lei nº 9.868/99 c/c art. 337 do RISTF,
dando ensejo e motivando, assim, o presento pedido cautelar incidental, ante lapso
temporal com impacto fulminante para matéria de tamanha relevância para a segurança
jurídica e ordem social em diferentes searas e instituições.

Desse modo, afigura-se plausível, senão necessário, o cabimento


da presente medida cautelar incidental com fulcro no sistema cautelar condizente com os
princípios do due process e ampla defesa encartado no texto do art. 5º, LV, da
Constituição Federal de 1988, materializados no art. 12 da Lei nº 9.968/99, c/c art. 170,
§3º, do RISTF.

Confira-se, a propósito, que o sistema cautelar da Lei nº 9.868/99


não apresenta qualquer limitação temporal no que pertine ao cabimento de medida
cautelar, afigurando-se plenamente plausível o seu cabimento na hipótese dos autos,
sobretudo ante o lapso temporal entre a produção dos efeitos da decisão e a publicação
do acórdão ensejador das condições para a interposição de embargos de declaração, nos
termos do art. 26 da referida legislação especial.

De fato, parece pacífico o entendimento desta Corte sobre o


cabimento de pedido cautelar incidental no curso do controle concentrado de
constitucionalidade, seja antes ou depois do advento da legislação especial atinente à
matéria, conforme precedentes na ADI 143 (rel. min. Celso de Mello, julgamento
02.09.1993) e ADPF 347/DF (Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento dia 18.03.2020).

Neste sentido, portanto, requer este Conselho Federal de


Psicologia seja conhecido e deferido o pedido cautelar incidental para, como medida de
urgência, proporcionar a modulação pro futuro dos efeitos da decisão, nos termos a seguir
aduzidos.
Requer, alternativamente, seja reconhecida a necessidade e
urgência da situação, determinando-se de ofício, data vênia, a modulação dos efeitos da
decisão pro futuro, conforme precedente na ADPF 347/DF (Rel. Min. Marco Aurélio,
decisão de 17.03.2020).

III) MODULAÇÃO PRO FUTURO DOS EFEITOS DA


DECISÃO – SEGURANÇA JURÍDICA E EXCEPCIONAL
INTERESSE SOCIAL – IMPACTO IMEDIATO – AÇÕES
JUDICIAIS E PROCESSOS ADMINISTRATIVOS –
CONCURSOS PÚBLICOS – SELEÇÕES
ORGANIZACIONAIS – NORMATIVAS,
INSTRUMENTOS, TÉCNICAS, ROTINAS
INSTITUCIONAIS E TREINAMENTO PROFISSIONAL

Como observado nas seções anteriores, este Conselho Federal de


Psicologia possui um sistema consolidado de gestão da política de avaliação psicológica,
com ramificação e impacto em diferentes instituições. Isso incide na forma como todo o
sistema de orientação e de fiscalização da categoria profissional se organiza. Diante disso,
do ponto de vista prático, a decisão ora debatida acarreta em um impacto que significa o
colapso da estrutura de gestão da avaliação psicológica do ponto de vista de seu
funcionamento e regulação em todo o território nacional, em perspectiva
interinstitucional.

Nestes termos, nos tópicos subsequentes serão explicitados


alguns dos impactos práticos e imediatos da decisão em diferentes searas e instituições, a
partir de informações prestadas ao Conselho Federal de Psicologia por diversas entidades
e órgãos públicos de diferentes áreas técnicas especializadas na construção e aplicação de
avaliação psicológica, oportunamente anexadas à presente petição, a fim de demonstrar
o caráter de relevância da matéria, bem como excepcional interesse social e risco à
segurança jurídica em diferentes perspectivas e dimensões judiciais, administrativas e
organizacionais em todo o território nacional.

1. O impacto nos serviços prestados à sociedade nos diversos


campos da avaliação psicológica
Importante ressaltar que existem contextos nos quais a avaliação
psicológica oferece um critério para subsidiar decisões acerca de habilidades, capacidades
e perfis de um indivíduo.

Serão apresentados, na sequência, os impactos sociais imediatos


de alguns destes contextos, indicando-se a preocupação de que ocorra um colapso do
ponto de vista das orientações (garantidas em resoluções e que sofrerão alterações
substanciais) e fiscalização junto à categoria.

1.1. Avaliação Psicológica no contexto da Neuropsicologia(6)

A avaliação neuropsicológica constitui-se em amplo processo


investigativo que fornece dados e informações sobre os funcionamentos cognitivos,
comportamental e emocional de sujeitos com lesões e/ou disfunções neurológicas, sendo
a aplicação dos testes psicológicos etapa decisiva que integra o processo.

A avaliação neuropsicológica é utilizada em contextos clínicos,


hospitalares, escolares e judiciais. No contexto judicial, tem por objetivo auxiliar nas
decisões dos operadores do Direito, em determinadas questões legais, sendo uma
ferramenta importante para o convencimento do juiz, tais como: ações envolvendo
resultados de concursos; disputa de guarda de crianças; ações penais em casos de abuso
infantil, dentre outros; pedidos de aposentadoria por invalidez; causas trabalhistas;
pedidos de tutela do idoso por diagnóstico de demência ou para indeferimento
testamentário; laudos de aptidão ao exercício profissional após recuperação de
traumatismos cranianos, como exemplos.

Tais ações atendem, por exemplo, a impactantes dispositivos


destacados na legislação penal: Artigo 149 do Código de Processo Penal -
Inimputabilidade Superveniente; Artigo 183 da Lei de Execução Penal – Doença mental
no curso da execução penal - Artigo 217-A, §1° - Avaliação da sanidade mental de vítimas
vulneráveis de estupro.

Desse modo resta evidente a importância dessas avaliações para


a sociedade, e a necessidade de ajustes aos procedimentos avaliativos de modo a não

6
Com informações prestadas pela Associação Brasileira de Neuropsicologia (ABRANEP) e Instituto
Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento (IBNeC) conforme anexo (Conferir: Doc.05).
comprometer a veracidade dos dados, a partir da decisão proferida nos autos da presente
ação de inconstitucionalidade.

As questões legais anteriormente descritas representam medidas


extremas que impactam sobremaneira os direitos civis das pessoas. Nesse sentido, a
avaliação neuropsicológica, sem um motivo concreto, ou seja, sem que possa definir,
objetivamente, o grau de discernimento do interditado, pode comprometer o resultado de
processos judiciais nas esferas supracitadas.

Nesse sentido, ressalta-se que o acesso dos sujeitos aos testes


psicológicos pode implicar em experiência prévia (denominado “efeito de prática”), ou
seja, o treino na execução das atividades propostas, o que resultaria em pareceres finais
pouco confiáveis, comprometendo, consequentemente, as decisões judiciais.

Desta feita, é imperativo que a área tenha tempo para realizar as


adequações necessárias decorrentes da comercialização livre de testes psicológicos, de
modo a enfrentar os possíveis efeitos deletérios deste acesso amplo e irrestrito por parte
de sujeitos envolvidos em processos de avaliação neuropsicológica nos seus diferentes
âmbitos de atuação.

Será necessária a revisão de procedimentos e protocolos, o que


precisa ser realizado paulatinamente. A hipótese em contrário, por seu turno, ou seja, da
vigência imediata dos efeitos da decisão, pode ocasionar um colapso no sistema judiciário
e, inclusive, anular processos judiciais em andamento, representando danos concretos
para a justiça brasileira e seus cidadãos.

Para que a Psicologia consiga manter a qualidade técnica e a ética


na prestação de seus serviços, faz-se necessário estabelecer novos mecanismos que
garantam a eficiência dos processos avaliativos. Salienta-se, neste sentido, que os
estímulos que compõem os testes (ex: pranchas, protocolos, dentre outros), as folhas de
respostas e os dados referentes à aplicação e correção dos instrumentos não têm interesse
para a sociedade como um todo. A bem da verdade, em sentido contrário representam
perdas, pois como já destacado, inviabilizam ações, como as judiciais, repercutindo sobre
os direitos civis das pessoas.
Vale salientar que a realidade brasileira aponta que a grande
parcela dos testes psicológicos brasileiros é desenvolvida por pesquisadores integrantes
de programas de pós-graduação. Isso posto, ressalta-se que a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ao caracterizar a produção
técnica e tecnológica da pós-graduação brasileira, no seu eixo I, estabelece que os
Produtos e Processos são caracterizados pelo desenvolvimento de produto técnico ou
tecnológico, sendo este passível de proteção, ou seja, são produtos que se configuram
como ferramentas do exercício profissional de uma categoria, não tendo as demais
pessoas competências técnicas para utilizá-los.

Insta reconhecer, ainda, que o entendimento acima reportado é


seguido por outros países, como por exemplo os Estados Unidos da América. Como
aludido acima, a APA (American Psychological Association) preconiza que deve haver
controle de acesso aos materiais de testes. Deve-se reconhecer que testes utilizados pelos
profissionais da Psicologia, sem o devido controle, podem causar danos irreparáveis.

As entidades estadunidenses defendem, portanto, que itens dos


testes, tais como chaves de pontuação ou protocolos e outros materiais não podem ser
divulgados publicamente. Vale ressaltar que neste país há distinção entre os materiais
referentes ao teste em termos de sua disponibilização. O manual técnico do teste,
contendo dados teóricos e estudos de normativos e de evidências, pode ser adquirido pelo
público em geral. Por sua vez, o manual técnico, com orientações de aplicação e correção,
bem como os estímulos dos testes, são materiais privativos do psicólogo, resguardando
desta maneira o seu caráter técnico e a sua função social.

1.2 Avaliação Psicológica na interface com a Justiça(7)

No Brasil, procedimentos de avaliação psicológica são


recorrentes nos serviços psicológicos posicionados na interface com a Justiça, estando
presentes em ações de execução penal, nas varas de Infância e Juventude (adoção,
medidas de proteção, destituição do poder familiar), de Família e Sucessões (divórcio,
modificação de guarda, regulamentação de visitas), e nas medidas de proteção das Varas
de Idoso e de Violência Doméstica.

Algumas leis chegam, inclusive, a prever a intervenção


obrigatória de serviços de Psicologia, como a Lei de Execução Criminal, a Lei da
Alienação Parental e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente em matérias

7
Com informações prestadas pelo Grupo de Trabalho sobre Avaliação Psicológica em Contexto Judiciário,
do Conselho Federal de Psicologia, conforme anexo (Conferir: Doc.06).
específicas associadas às ações de adoção, destituição do poder familiar e habilitação para
adoção. Nesse sentido, o cenário da Psicologia em serviços na interface com a Justiça tem
sido marcado por demandas linearmente crescentes, tanto em volume quanto em
complexidade.

Ocorre, que diferentemente de avaliações psicológicas em


contextos tradicionais, os procedimentos periciais possuem especificidades associadas ao
arranjo institucional estabelecido pelo enquadre jurídico e processual. A demanda por
procedimentos avaliativos com finalidades processuais é atravessada por conflitos de
interesses e, frequentemente, se materializa em tentativas de interferir nos resultados da
avaliação, produzindo riscos à validade dos resultados obtidos.

Isso porque, no contexto litigioso, a demanda dos avaliandos não


se encontra necessariamente no processo de conhecimento que a avaliação psicológica
permite, mas nos apontamentos que a mesma pode produzir enquanto prova num processo
judicial e nos interesses por uma sentença. Tal característica, somada à coercibilidade do
procedimento, faz com que a relação entre avaliado e avaliador seja determinada por
fatores complexos que demandam controle por parte do profissional psicólogo.

Pesquisadores da área recomendam que a coleta de dados seja,


nesse contexto, contemplativa de várias fontes de informação, o que envolve, não raro, o
uso de testes psicológicos. Há, inclusive, instrumentos específicos voltados para a área
forense.

Nesse sentido, a comercialização para não psicólogos de material


de testes psicológicos (instrumentos e gabaritos) pode agravar significativamente o
trabalho nesse campo, pois permitirá que os avaliandos tenham condições de interferir
nos procedimentos visando a um determinado resultado, aumentando os já existentes
problemas de cooperação e veracidade das alegações.

Assim, o psicólogo pode ver-se até mesmo impossibilitado de


aplicar testes psicológicos em seus procedimentos periciais, posto que não terá garantias
de que o dado obtido no procedimento seja fidedigno e válido, mesmo se o instrumento
atender as exigências técnicas para seu uso. O risco imediato do uso de tais instrumentos,
nesse novo cenário, é o de induzir os órgãos do Poder Judiciário a erro em suas decisões,
o que, consequentemente, representa grave perigo para toda a sociedade, sobretudo
quanto à garantia de direitos de pessoas vulneráveis (crianças, adolescentes, pessoas com
deficiência, pessoas em situação de violência, idosos, pessoas privadas de liberdade etc.).

1.3 Avaliação psicológica no contexto do concurso público(8)

Entre as avaliações compulsórias, depois da Avaliação


Psicológica no contexto do trânsito e porte de armas, a de concursos públicos
possivelmente atinja o maior número de indivíduos no Brasil, totalizando os três campos,
a casa de milhões de pessoas diretamente submetidas à avaliação psicológica.

A avaliação retrata uma das fases de um certame e tem como


objetivo identificar se os candidatos possuem características compatíveis a um perfil
previamente estabelecido para determinado cargo ou função. Para isso, o psicólogo avalia
o perfil desejado, escolhe o conjunto de técnicas ou instrumentos que melhor avalie esse
perfil, e aplica os critérios que definem a aptidão ou não dos candidatos avaliados.

Por uma questão de tempo, padronização, custos e confiabilidade,


hoje são escolhidos testes psicológicos restritos à compra e uso dos psicólogos com a
finalidade complementar à avaliação dos candidatos, a partir da integração de vários
dados coletados nesta fase do processo. Os testes psicológicos têm sido as técnicas
comumente aplicadas para esse contexto, como um processo de medição objetivo,
padronizado e imparcial, avaliado pelo campo jurídico como uma das formas mais justas
de seleção, inclusive pensando na isonomia do processo.

A avaliação psicológica em processo de seleção em serviços


públicos visa à contratação de pessoal com nível cognitivo compatível com o
cargo/função (ex. atenção dividida, concentrada, memória, raciocínio lógico e abstrato,
etc.), bem como condições psicológicas e características de personalidade adequadas (ex.
baixa impulsividade, controle de emoções, ponderação nas decisões, motivação, abertura
à experiências, baixo neuroticismo, etc.).

Nesse sentido, em determinados casos um perfil específico é


necessário para evitar grandes consequências negativas para a própria sociedade. Assim,
contratar policiais impulsivos pode gerar mortes evitáveis, violência desnecessária,

8
Com informações prestadas pelo Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) e pela Associação
Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos (ASBRo), conforme anexo (Conferir: Doc.07).
homicídios e suicídios galopantes, já que as instituições policiais também geram grande
pressão ao colaborador.

Da mesma forma, um juiz desmotivado, altamente ansioso e/ou


sem controle de impulsos pode também tomar decisões que oneram pessoas e/ou parcelas
importantes da sociedade. Um indivíduo ansioso ou com alta irritabilidade e, armado pode
vir a cometer um erro que gerará consequências catastróficas para outros cidadãos,
famílias e, consequentemente, processos contra o próprio Estado.

A venda de material atualmente sigiloso à população em geral


gerará a possibilidade de treino de respostas e aumenta em muito o ingresso de
profissionais sem preparo e/ou com características indesejáveis ao cargo/função, mais
uma vez onerando o próprio Estado.

Como aludido reiteradamente nesta petição, o intuito da


elucidação de tais informações técnicas é de evidenciar a necessidade de concessão de
prazo para que se estabeleça um período de transição, de modo que todo este sistema de
avaliação psicológica possa adaptar-se à nova realidade normativa, a fim de garantir a
eficácia e confiabilidade dos resultados.

Vale notar, a esta altura, que a maior quantidade de certames e de


candidatos envolvidos está na área de segurança pública. Isso quer dizer que a maior parte
dos candidatos a concursos públicos no país irá trabalhar não somente, mas
principalmente, em uma das profissões qualificadas como de maior risco e vivencia
constantemente situações altamente perigosas em seu dia a dia.

A título de elucidação, ante a cogitação da não modulação pro


futuro dos efeitos da decisão, nos próximos anos estar-se ia diante da seguinte situação:

Instituições de justiça e segurança pública abrirão processos


seletivos por meio de concurso público, definindo as fases previstas neste certame com
base na definição de conhecimentos prévios necessários, competências previamente
delimitadas para o bom desempenho do cargo, requisitos psicológicos cuidadosamente
levantados por meio de estudos científicos do cargo.
Cumprida esta etapa, estarão sendo entregues com antecedência
aos candidatos exatamente todas as questões que serão exigidas nesta prova de
conhecimentos, com acesso prévio às questões pensadas para a arguição oral e sendo
concedido acesso aos estímulos ou itens de testes psicológicos, previstos para avaliação
de características psicológicas.

Afinal, o que estará sendo medido? O que se estará mensurando?


Se um candidato tem acesso a cada uma das questões para se preparar para respondê-las,
que validade terá essa avaliação?

Ressalte-se que não se está cogitando de acesso ao material


didático de estudo, nem de conteúdo programático para estudo, mas do acesso aos itens
(questões) e respostas propriamente ditas, exatamente aqueles que serão cobrados no
certame.

Nestes termos, é preciso avaliar os prejuízos que serão causados


no período que se avizinha, caso não haja a suspensão dos efeitos da decisão, uma vez
que toda essa logística de seleção perderá seu valor.

Se todos os itens (ex. questões, perguntas, exigências) de um


concurso são construídos e salvaguardados por total sigilo e guarda de dados, de forma a
assegurar que não haja acesso prévio aos itens que serão aplicados nas provas, por que
haveria de ser diferente no que tange à avaliação psicológica?

Conforme estudos na área, um teste, para ser construído, testado


com todas as evidências de validade e confiabilidade científicas necessárias, e
normatizado, a depender do construto a ser estudado (ex. inteligência, personalidade),
pode demorar de 3 a 10 anos de investimentos em seu desenvolvimento. Esse
desenvolvimento é balizado por manuais internacionais de qualidade de medidas
psicométricas, bem como aquelas apresentadas pelo próprio Conselho Federal de
Psicologia, logo, a perda de investimentos financeiros, humanos e dos órgãos de fomento
será incalculável com a abertura imediata de acesso dos testes para a população geral.

Com a abertura imediata dos testes à população geral, portanto,


décadas de investimento em confecção e estudos científicos nestes materiais seriam
perdidos, já que os mesmos deixariam de cumprir sua função. Existem saídas? Sim, no
entanto nenhuma delas exigiria menos que 3 a 4 anos para uma adaptação às novas
exigências.

Mesmo assim, os concursos que estão em curso e aqueles neste


intermédio, até adaptações necessárias, seriam anulados e/ou não selecionariam pessoas
adequadas. Estamos falando de uma mudança de paradigma, uma mudança de processo
de avaliação, e não somente da extinção de ferramentas que atualmente são válidas,
fidedignas e garantem a isonomia dos certames públicos, além de segurança para a
população.

Todo o processo de avaliação de motoristas, porte de armas e


seleção de concursos precisará ser repensado, o que demandará, vale notar, um alto
investimento das próprias corporações para desenvolverem sistemas de seleções próprios,
como hoje é realizado pelo Exército Brasileiro. A par do investimento em recursos
financeiros, se necessita de tempo.

Por exemplo, enquanto a aplicação de vários testes para avaliação


de habilidades cognitivas (ex. inteligência, raciocínio) e de personalidade leva algumas
horas entre a aplicação, correção, integração de dados e confecção de laudo para apenas
um candidato, a utilização de outros métodos (ex. entrevistas estruturadas, métodos
projetivos) levaria dias para tal fim, além de encarecerem absurdamente todo o processo,
e ser ainda questionável do ponto de vista da subjetividade do processo.

No entanto, também há regras de isonomia que não permitem o


uso de entrevistas ou outros métodos mais dispendiosos em concursos públicos, alegando
subjetividade da técnica. Isso quer dizer que psicólogos terão que aplicar instrumentos
que possivelmente já foram “estudados” e “decorados”, neste período de transição, caso
a decisão não seja suspensa via modulação de efeitos.

1.4 Avaliação Psicológica no contexto da especificidade do


porte de arma(9)

Em se tratando da avaliação psicológica para a concessão de porte


de arma de fogo, a literatura científica aponta que o foco é a averiguação de características
adequadas do indivíduo, visando aferir se este apresenta as condições psicológicas

9
Com informações prestadas pela área técnica do Conselho Federal de Psicologia, conforme anexo
(Conferir: Doc.08).
compatíveis para o porte, posse e manuseio no caso de civis e trabalho armado para
funções das quais legalmente se permite seu uso.

Trata-se de uma avaliação que implica, por um lado, na


averiguação se o indivíduo reúne certas características para obter o direito de possuir ou
portar uma arma de fogo, e por outro, verificar se há implicações sociais oriundas deste
tipo de avaliação.

A Resolução CFP nº 18/2008 dispõe acerca do trabalho do


psicólogo na avaliação psicológica para concessão de registro e/ou porte de arma de fogo
e regulamenta essa atuação profissional.

Face ao disposto, importante quantificar que o Brasil é o oitavo


país em número absoluto de óbitos por suicídio, sendo esta é a quarta causa de notificação
por morte por causas externas no país, alcançando a média de um suicídio a cada 64
minutos (cf. Atlas da Violência, 2020). Neste sentido, é possível observar relação entre o
uso de arma de fogo e o aumento da taxa de suicídios e mais recentemente estudos
evidenciaram a relação entre quadro de doença mental do atirador e número de vítimas.

Dessa forma, nos próximos anos será necessário e urgente


repensar as Resoluções do CFP que incidem sobre este tema, pois o risco de ter uma
pessoa/leiga com acesso aos conteúdos técnicos (agora não mais privativos) implicará na
possibilidade dessa pessoa manipular as respostas, considerando que terão acesso aos
cadernos de aplicação e gabaritos. Daí novamente a necessidade e urgência na concessão
de prazo, via modulação dos efeitos, para o início da vigência da decisão.

Assim, competirá neste próximo período à Psicologia brasileira


pensar novas e diferentes formas de se estabelecer critérios seguros para efetivar tal
avaliação sob os novos parâmetros da comercialização irrestrita dos testes psicológicos,
de modo a não correr o risco de aplicar critérios falseados.

1.5 Avaliação Psicológica no contexto do trânsito(10)

10
Com informações prestadas pela Associação Brasileira de Psicologia de Tráfego (ABRAPSIT), conforme
anexo (Conferir: Doc.09).
Os testes psicológicos empregados na avaliação no contexto do
trânsito implicam em se obter, por meio de medidas seguras, respostas para diversas
aptidões e comportamentos em prol da segurança viária de toda a população.

A perícia psicológica para o trânsito é uma avaliação psicológica


compulsória, portanto, de caráter obrigatório. Nela, o candidato à habilitação ou condutor
é avaliado em razão do cumprimento às exigências legais e normativas específicas para a
obtenção do direito a conduzir veículo automotor.

O Estado determina o processo pericial psicológico para


preservar a saúde e a vida da população do país que transita nos espaços onde os
motoristas estarão conduzindo veículos, de modo que esse condutor deva apresentar
comportamentos seguros e minimizar os comportamentos de risco, uma vez que o veículo
automotor pode ser um instrumento de força letal, quando usado de forma inadequada.

O trânsito é considerado há décadas um problema de saúde


pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo a segunda maior causa de
morte externa no Brasil e a primeira causa entre jovens de cinco a vinte e nove anos.

Os números são preocupantes, pois o trânsito provoca a morte de


uma média de 40 mil pessoas por ano, deixando mais de 400 mil sequelados. Hoje, o
Brasil possui cerca de 75.144.910 (setenta e cinco milhões, cento e quarenta e quatro mil
e novecentos e dez) motoristas habilitados em dados mais atuais do Ministério da
Infraestrutura e do Departamento Nacional de Trânsito.

Para realização das perícias psicológicas de candidatos à Carteira


Nacional de Habilitação e condutores habilitados, os órgãos de trânsito credenciam
muitos profissionais psicólogas e psicólogos especializados neste contexto de avaliação
psicológica. Inclusive, há uma especialização para esse tipo de manejo da avaliação
psicológica, denominada Especialização em Psicologia do Trânsito. Estes profissionais
utilizam há mais de um século os instrumentos psicológicos (testes) para avaliar estes
motoristas e obter dados de auxílio ao seu diagnóstico pericial.

Diante disto, a liberação generalizada dos testes de forma


imediata impactará diretamente na qualidade e nas condições existentes para a realização
da perícia psicológica técnica e eficaz na prevenção de acidentes. A avaliação psicológica
para o trânsito representa uma parcela significativa de profissionais que utilizam os
referidos testes psicológicos.

Considerando os mais de 75 milhões de habilitados, os muitos


psicólogos atuantes, as gestões governamentais da esfera federal e das estaduais que são
responsáveis pelo credenciamento e disponibilização destes exames periciais, além dos
testes psicológicos que embasam tais perícias e que foram elaborados para serem
aplicados e analisados dentro de uma modalidade existente até a presente data, o impacto
da decisão da ADI 3481 é significativo. Uma adaptação de tal natureza requer um tempo
para planejamento de ações e elaborações de técnicas, procedimentos e qualificações
atualizadas para a manutenção da qualidade pericial.

1.6 Avaliação Psicológica no contexto da Psicologia


Organizacional e do Trabalho (POT)(11)

No Brasil, estudos apontam que uma das atividades da área mais


realizadas por psicólogos brasileiros é a seleção de pessoas, regulamentada como prática
do psicólogo na Lei 4119/1962, que cria e regulamenta o exercício profissional do
psicólogo. Outra atividade de atuação da POT importante no campo é o de orientação
profissional.

Neste campo, a hipótese de aprendizagem dos padrões de


respostas acabam por invalidar os resultados desejados. Como exemplo cita-se os testes
de níveis de inteligência, utilizados amplamente em processos seletivos por haver
evidências empíricas de ser preditor de desempenho no trabalho.

Assim, o acesso dos candidatos em processos seletivos ou


situações de orientação profissional aos manuais de testes inviabilizaria o poder preditivo
do que se denomina atividade mental edutiva. A avaliação se restringiria apenas à
capacidade reprodutiva, relacionada à memória. Esse mesmo argumento se aplica aos
testes de aptidão, personalidade, dentre outros.

Na prática, isso significa que a vigência imediata da ampla


comercialização, sem um período de transição e adaptação dos respectivos materiais e
técnicas de aplicação, inviabiliza a sua utilização para os fins destinados, o que significa

11
Com informações prestadas pela Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho
(SBPOT), conforme anexo (Conferir: Doc.10).
dizer que a decisão, ao vetar a imediata restrição da comercialização, na verdade implica
na restrição da sua própria utilização.

Do ponto de vista dos prejuízos para a população, ainda é possível


compreender que a possibilidade de acesso aos gabaritos dos testes psicológicos por
profissionais de diferentes formações e à população leiga expõe a sociedade ao risco de
interpretações errôneas e indevidas sobre as condições psicológicas próprias ou de outras
pessoas, causando situações de sofrimento mental aos avaliados.

De modo complementar, a combinação do acesso de pessoas


leigas aos manuais e a possibilidade de sua utilização por profissionais não habilitados,
ainda que em contextos ilícitos, implicaria em comprometer a equidade nos processos
decisórios de contratação das pessoas, por exemplo, gerando consequências materiais
graves para os candidatos e para as organizações de trabalho.

Sendo assim, resta evidente a necessidade de se canalizar esforços


para a construção de proposições para enfrentar os impactos produzidos pela decisão,
implicando em tempo para se maturar e buscar caminhos para dar suporte técnico para a
área como um todo.

1.7 Avaliação Psicológica no Contexto da Aviação(12)

A aviação, atividade complexa e de risco, é objeto de extensa


legislação, estabelecida por órgãos reguladores internacionais e nacionais, com o objetivo
de promover a segurança, a regularidade e a eficiência das operações.

Neste sentido, o Regulamento Brasileiro da Aviação Civil RBAC


Nº 67 Emenda nº 01, de 19 de março de 2020, que trata dos "requisitos para concessão de
certificados médicos aeronáuticos, para o credenciamento de médicos e clínicas e para o
convênio com entidades públicas", onde a alínea ‘e’, do tópico 67.75, sobre os
“Requisitos mentais e comportamentais” dispõe que:

e) Avaliações psicológicas devem subsidiar todos os exames de


saúde periciais com atestados psicológicos, conforme o Manual

12
Com informações prestadas pela Associação Brasileira de Psicologia da Aviação (ABRAPAV),
conforme anexo (Conferir: Doc.11).
de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo
psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica (RESOLUÇÃO
CFP N.º 007/2003). Tais avaliações devem ser realizadas por
psicólogo e devem ser subsidiadas por dados colhidos e
analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas,
dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico,
intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-
filosófico e científico adotado pelo psicólogo.

Assim, em função da possibilidade de livre comercialização de


testes psicológicos, decorrente da decisão nos autos, a eficácia das avaliações
psicológicas que devem subsidiar todos os exames de saúde periciais iniciais, para a
concessão de Certificado Médico Aeronáutico (CMA), requisito para obtenção das
licenças; os exames periódicos, para a manutenção das referidas licenças; e, também, as
avaliações de readmissão de função, que devem ser realizadas nos casos de pós-acidente;
torna-se comprometida, tendo em vista o acesso indiscriminado de pessoal não habilitado
à sua realização, além do fato de tornar os resultados pouco confiáveis, estando sujeitos
à aprendizagem de respostas aos testes empregados.

Esta medida impacta na concessão de novas licenças, e ainda na


renovação de mais de 35.000 licenças ativas, conforme divulgado no site da Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC).

O exame de saúde pericial tem o objetivo de certificar a aptidão


física e mental de tripulantes, considerando o exercício de cada função e limitar o risco à
segurança do voo decorrente de problemas de saúde.

Embora sabedores de que o psicólogo possui o conhecimento de


diferentes técnicas que o auxiliam na realização de exames e perícias psicológicas, os
testes constituem-se como instrumentos que ratificam e embasam objetivamente seus
pareceres.

Assim sendo, sem a concessão de prazo hábil para adaptações no


campo da aviação, os profissionais da Psicologia passariam a ter uma limitação na
realização dos exames psicológicos e na aferição das variáveis necessárias para a emissão
do referido certificado, tendo em vista a impossibilidade de assegurar a fidedignidade e a
confiabilidade dos resultados obtidos.
Assim sendo, a possibilidade de riscos imediatos à segurança de
toda a comunidade aeronáutica e a seus usuários torna-se evidente, demandando um
período de transição apto a garantir novos procedimentos de confiabilidade dos testes
aplicados.

2. Impactos do ponto de vista da Transição Normativa junto


ao Sistema Conselhos de Psicologia

Como é possível observar, todas as questões e problemas


levantados nos itens anteriores acabam por gerar uma demanda por adaptações no âmbito
da gestão do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos no ambiente do Sistema
Conselhos de Psicologia.

Desse modo, terão que ser avaliados os impactos da decisão em


diferentes campos deste Sistema de Avaliação Psicológica, compreendido desde os
regulamentos para a apresentação, aprovação e validação de novos testes psicológicos,
como as normativas referentes à sua aplicação, elaboração de documentos e laudos
técnicos da profissão e política de fiscalização, que sofrerá impacto significativo dada a
tendência à difusão dos testes e gabaritos e, por via de consequência lógica, a profusão de
práticas de exercício ilegal da profissão.

A princípio é possível afirmar que deverão ser realizadas


reformulações em diferentes Resoluções deste Conselho, em especial na Resolução CFP
nº 09/2018, que sucedeu a Resolução CFP nº 02/2003, cujos dispositivos foram
declarados inconstitucionais, considerando que deverão ser adotadas novas orientações à
categoria em relação aos requisitos mínimos de testes psicológicos, considerando que eles
se tornam agora acessíveis ao público em geral.

Por essa razão, novas diretrizes deverão ser estudadas junto a


especialistas para que novas medidas de confiabilidade e validação possam ser
desenvolvidas neste ambiente. Insta ressaltar que o processo de elaboração de tais regras
costuma consumir cerca de dois anos de trabalho, abrangendo desde os estudos e debates
técnicos e científicos até o processo de elaboração e redação normativa, associado ainda
à análise de legalidade e constitucionalidade no ambiente da autarquia.
Vale notar que este processo de transição e adaptação não envolve
somente o Conselho Federal de Psicologia e a categoria dos psicólogos, como também
outras instituições e o mundo corporativo, como a necessidade de envolvimento das
editoras especializadas na área.

Outra preocupação refere-se à observância dos prazos previstos


na resolução CFP nº 09/2018 no que concerne à avaliação da qualidade técnico-científica
de testes psicológicos já submetidos ao SATEPSI (Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos/CFP), cujos trabalhos estão em curso. Com a vigência imediata da decisão,
e diante de muitas alterações a serem efetivadas, não será possível atender os prazos
previstos, o que acarretará em danos aos autores e pesquisadores que submeteram os
testes para a avaliação.

Isto posto, a gravidade da situação convoca a necessidade de


concessão de prazo para que as medidas sejam efetivadas, de modo a não causar o colapso
no Sistema e um prejuízo irreparável à categoria profissional e à população que se
beneficia de seus serviços nas várias instâncias da sociedade.

2.1 Impactos do ponto de vista da fiscalização

Como aludido acima, a gestão do Sistema de Avaliação dos


Testes Psicológicos se ramifica em diferentes direções, atingindo diversos órgãos
públicos e situações profissionais.

Tal situação demanda uma política de fiscalização profissional


eficiente e adequada às regras de aplicação dos testes e validação dos resultados. Como é
evidente, a estrutura de fiscalização hoje existente no Sistema Conselhos de Psicologia,
envolvendo vinte e quatro Conselhos Regionais, precisará, da mesma forma que as
normativas, ser reavaliada e adaptada à nova realidade de ampla comercialização dos
testes para a população.

Isso demanda a realização de reuniões com as Comissões de


Orientação e Fiscalização do Sistema Conselhos de Psicologia, totalizando a orientação
dos 24 Conselhos Regionais de Psicologia, para avaliar e projetar as providências a serem
tomadas quanto à comercialização irrestrita dos testes psicológicos, construindo as novas
diretrizes para a fiscalização do exercício profissional.
Destaque importante também precisará ser realizado na formação
de futuros psicólogos, pois será necessária a orientação dos Conselhos Regionais dando
ciências às 1.153 instituições de ensino superior com Cursos de Psicologia, sobre as novas
diretrizes resolutivas.

Com a decisão, as novas regras e orientações sobre o assunto


deverão ser enviadas pelos Conselhos Regionais de Psicologia às instituições de ensino
com Cursos de Psicologia, de modo a cumprir seu papel orientador frente aos
profissionais que atuam diretamente com o ensino da avaliação psicológica e dos testes
psicólogos nas instituições de ensino superior.

2.2 Do ponto de vista do desenho institucional para os testes


psicológicos

O Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) foi


desenvolvido em 2001, com vistas a garantir serviços com qualidade técnica e ética à
população usuária desses serviços, de modo a avaliar a qualidade técnico-científica de
instrumentos psicológicos para uso profissional, a partir da verificação objetiva de um
conjunto de requisitos técnicos e divulgação de informações sobre os testes psicológicos
à comunidade e aos psicólogos. Considera-se importante frisar que o SATEPSI é
reconhecido como um dos cinco melhores sistemas de qualificação dos testes no mundo.

Assim, para atender ao disposto na decisão, um conjunto de ações


precisará ser implementado, a saber:

a) atualização da Resolução CFP nº 09/2018, no que respeita aos


artigos revogados, no site do Conselho Federal de Psicologia em
que a referida Resolução é mencionada;

b) adaptação do sistema operacional e de normativas do Sistema


de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) em relação às
novas diretrizes;

c) alteração da ficha de avaliação da qualidade técnico-científica


dos testes psicológicos, que estabelece os critérios de avaliação
dos testes psicológicos, disposta no Anexo da Resolução CFP nº
09/2018;
d) realização de treinamentos para os pareceristas ad hoc de
avaliação da qualidade técnico-científica dos testes psicológicos,
cuja seleção se dá por meio de Edital de Chamada Pública;

e) orientação dos 24 Conselhos Regionais de Psicologia que


integram o Sistema Conselhos quanto às alterações na Resolução
e as implicações nos processos de orientação e fiscalização do
psicólogo;

f) realização de treinamento para os colaboradores do Conselho


Federal de Psicologia.

3. Comunicação com a categoria e a sociedade

3.1 Campanhas de comunicação informativas e elucidativas


sobre as mudanças

Considerando as implicações da não restrição de comercialização


de testes psicológicos, o Sistema Conselhos de Psicologia precisará realizar ampla
campanha informativa e elucidativa à categoria profissional e à sociedade sobre as
possibilidades de comercialização e uso de testes psicológicos, a manutenção da função
privativa do psicólogo de acordo com a Lei nº 4.119/62 e os impactos da decisão desta
Corte Constitucional nas avaliações compulsórias e rotinas profissionais.

Entre as ações informativas e elucidativas à categoria e à


sociedade necessárias a partir desta decisão do STF, destacam-se:

a) Realização de campanhas informativas direcionadas à


categoria para divulgação de orientações gerais sobre a prática
profissional da avaliação psicológica, excluindo-se o que
preconiza a decisão desta Corte;

b) Atualização da cartilha de avaliação psicológica, material


produzido em 2013, impresso e distribuído a todos os
profissionais da Psicologia;

c) Realização de atividades on-line para orientar e discutir as


práticas da avaliação psicológica, em especial sobre os testes
psicológicos;

d) Revisão do guia prático de submissão dos testes psicológicos


ao SATEPSI;

e) Produção de edição especial da Revista Diálogos para atualizar


as informações sobre as avaliações psicológicas compulsórias;
f) Realização de campanhas que visem manter a sociedade
informada acerca das alterações e consequentes riscos e
impactos para a população em geral, como o problema do
autodiagnostico e fraudes via aplicação por profissionais
inabilitados.

A toda evidência e a título de conclusão, portanto, a vigência


imediata dos efeitos da decisão produz impacto e prejuízos sobre normativas, práticas,
procedimentos e sobre o instrumental técnico da política de avaliação psicológica em
caráter nacional e interinstitucional, produzindo impacto imediato e prejuízo de certames
públicos no sistema de justiça, segurança pública e forças armadas, vulneração e
falseamento de perícia, laudos e seleção em processos administrativos nas áreas de
trânsito e segurança pública, além de processos judiciais envolvendo direitos de criança
e adolescente, capacidade civil, imputabilidade criminal, direitos trabalhistas e
previdenciários, dentre outros, além de impactar sobremaneira a prática profissional da
psicologia.

III) DOS PEDIDOS

Considerando a gravidade da situação convoca a necessidade de


concessão de prazo para que as medidas sejam efetivadas, de modo a não causar o colapso
no Sistema e um prejuízo irreparável à categoria profissional e à população que se
beneficia de seus serviços nas várias instâncias da sociedade.

Diante do exposto, requer o Conselho Federal de Psicologia seja


conhecida e deferida a medida cautelar a título de urgência pelo Eminente Relator, ad
referendum do Plenário deste Colendo Tribunal Constitucional, determinando-se, com a
devida vênia, a modulação pro futuro dos efeitos da decisão.

Nestes termos, requer seja determinada a modulação pro futuro


dos efeitos da decisão, a fim de suspender a sua vigência pelo período de 12 meses a
contar do trânsito em julgado, de modo a constituir tempo senão hábil, ao menos
necessário para que sejam empreendidas medidas de transição normativa, instrumental,
técnica, institucional e de capacitação profissional tendentes a evitar o autodiagnostico e
garantir a confiabilidade dos resultados da avaliação psicológica em seus diferentes
campos de aplicação, como medida de urgência necessária à garantia de segurança
jurídica dos processos judiciais, administrativos, terapêuticos e organizacionais em todo
o país, realçando o caráter de excepcional interesse social da matéria.

Alternativamente, na hipótese de entendimento diverso sobre o


cabimento da presente medida, requer seja determinada de ofício a modulação dos efeitos,
pelos motivos explicitados.

Termos em que,
Pede deferimento.

Brasília, 18 de Março de 2021

João Diego Rocha Firmiano


OAB/SP 336.295
OAB/DF 55.507

Antonio Escrivão Filho


OAB/DF 42.223

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