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Exame 2018/19
Os negócios jurídicos são factos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou
mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos
concordantes com o conteúdo da vontade das partes, tal como este é objetivamente (de fora)
apercebido. Nos negócios jurídicos, o comportamento de cada parte aparece exteriormente
como uma declaração visando certos resultados prático-empíricos, sob a tutela do
ordenamento jurídico, e os efeitos determinados pela lei são os correspondentes aos
resultados cuja intenção foi manifestada. Os efeitos dos negócios produzem-se ex voluntae e
não apenas ex lege.
Os simples atos jurídicos são factos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não
tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja concordância
entre a vontade destes e os referidos efeitos. Os efeitos dos simples atos jurídicos, ou atos
jurídicos stricto sensu, produzem-se ex lege e não ex voluntae.
NOTA: O CC não toma partido, diretamente, numa questão dogmática; mas é manifesto o
intuito do legislador de se não comprometer, sequer ao nível terminológico, com as conceções
voluntaristas, pois não emprega a expressão «declaração de vontade», falando antes em
«declaração negocial».
c) Defina vontade hipotética ou conjetural das partes e diga em que contextos
recorre a lei a esse critério.
A vontade hipotética ou conjetural das partes constitui uma das três fases da integração,
consistindo na posição/ decisão que teriam tomado as mesmas se tivessem previsto o caso
omisso. Por exemplo, na falta de disposição supletiva que possa aplicar-se, o artigo 239º
remete para esta mesma definição da vontade das partes- “… a que elas teriam tido se
houvessem previsto o ponto omisso”.
O juiz deverá afastar-se da vontade hipotética ou conjetural das partes quando a solução,
que estas teriam estipulado, contrarie os ditames da boa fé; neste caso, deve a declaração ser
integrada de acordo com as referidas exigências da boa fé, isto é, de acordo com o que
corresponda à justiça contratual.
Para responder à questão qual o tratamento jurídico particular que conduz à afirmação da
existência de um ou vários patrimónios separados ao lado do património geral do sujeito
admitem-se diversos critérios.
Se o património tem como função principal responder pelas dívidas do seu titular, então
parece que o critério mais adequado para caracterizar a separação de patrimónios deve ser o
da existência de um tratamento jurídico particular em matérias de responsabilidade por
dívidas.
Património autónomo ou separado será o que «responde por dívidas próprias», isto é, só
responde e responde só ele por certas dívidas. Para se falar de autonomia patrimonial ou
separação de património é necessário que um certo património responda apenas por certas
dívidas do seu titular, não respondendo pelas outras, e que por aquelas dívidas só o
património autónomo responda, não podendo elas afetar o património geral do seu titular.
As dívidas pelas quais só o património responde, sem responder por quaisquer outras, são
as dívidas relacionadas com a função específica, com a finalidade ou afetação especial desse
património.
Por exemplo, o caso mais nítido e claro de património autónomo no direito privado
português era, até 1986, a herança. A herança é o conjunto das relações jurídicas patrimoniais
que, por força da morte de um indivíduo, passam da titularidade deste para os herdeiros e
legatários.
São casos de aquisição originária a ocupação de coisas móveis (arts. 1318.° e segs.), a
usucapião (art. 1287.° e segs.), etc.
Dentro da aquisição derivada pode ainda distinguir-se entre aquisição derivada translativa,
aquisição derivada constitutiva e aquisição derivada restitutiva.
Esta teoria é a posição adotada pela nossa doutrina. É a mais justa por ser a que dá tutela
plena à legítima confiança da pessoa em face de quem é emitida a declaração. É também a
posição mais conveniente, por ser largamente mais favorável à facilidade, à rapidez e à
segurança da vida jurídico-negocial.
O Código Civil define o tipo de sentido negocial decisivo para a interpretação nos termos
daquela posição objetivista: «a declaração vale com o sentido que um declaratário normal,
colocado na posição do real declaratário, possa deduzir do comportamento do declarante (art.
236.°, nº1).
Os terceiros para efeitos do registo predial, são as pessoas que adquiram do mesmo autor
ou transmitente direitos incompatíveis (total ou parcialmente) sobre o mesmo prédio e
justificava essa definição de uma forma convincente: trata-se da ideia de que o registo, dada a
forma como está organizado, não pretende assegurar a existência efetiva do direito da pessoa
a favor de quem está registado o bem, mas só que a ter ele existido ainda se conserva. O
registo não dá direitos, apenas os conserva (nº 4 do artigo 5º do Código do Registo Predial).
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob
tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos
conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.
A falta de vontade de efeitos jurídicos distingue os negócios jurídicos dos chamados meros
acordos ou agreements, ou ainda «gentlemen’s agreements» («acordos de cavalheiros»).
Estas convenções são combinações sobre matéria que é normalmente objeto de negócios
jurídicos, mas que, excecionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos.
Pode surgir a dúvida sobre se numa dada hipótese existe um negócio de pura
obsequiosidade ou um negócio jurídico – ou antes sobre se existe um mero gentlemen’s
agreement ou um negócio jurídico.
Enquanto o negócio simulado é nulo, e na simulação absoluta não se põe mais nenhum
problema, na simulação relativa surge o problema do tratamento a dar ao negócio dissimulado
ou real que fica a descoberto com a nulidade do negócio simulado.
c) Uma importante distinção neste domínio é a que se deve estabelecer entre negócios
unilaterais receptícios e negócios unilaterais não receptícios; nos receptícios, a declaração só é
eficaz, se for e quando for dirigida e levada ao conhecimento de certa pessoa, enquanto nos
não receptícios basta a emissão da declaração, sem ser necessário comunicá-la a quem quer
que seja.
Acerca dos contratos. Os contratos unilaterais geram obrigações apenas para uma das
partes (p. ex., a doação e o mútuo). Os contratos bilaterais ou sinalagmáticos geram
obrigações para ambas as partes, obrigações ligadas entre si por um nexo de causalidade ou
correspectividade (p. ex., a compra e venda, a locação, etc.).