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A exigência de capital mínimo na

constituição de EIRELI

A EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

CONCEITO

Ao buscar o conceito da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


- EIRELI, de forma sintética, apontando suas qualidades, deve-se passar
pela definição de sua natureza jurídica.

Marcela Maffei Quadra Travassos conceitua da seguinte forma:

Dessa forma, pode-se conceituar a EIRELI como sendo a sociedade


unipessoal de tipo societário próprio, em que a unipessoalidade é
permanente (originária ou superveniente) e o sócio único tem
responsabilidade limitada ao total do capital social, que, por sua vez, não
pode ser inferior a 100 (cem) salários mínimos e deve estar integralizado
no ato de constituição, cujo nome empresarial (firma ou denominação)
deve vir acompanhado da expressão EIRELI. (TRAVASSOS, 2015, p. 163).

Assim sendo, a EIRELI, em sua essência, é uma sociedade unipessoal de


tipo jurídico próprio, com características próprias.

/
Sua unipessoalidade será sempre permanente, pois uma vez que, se
porventura esta vir a unir-se com outro sócio a fim de somar novos
esforços agregando nova quantia em seu capital social, deixará de ser uma
sociedade unipessoal – EIRELI - passando a ser uma sociedade limitada –
espécie jurídica própria.

A Lei 12.441 de 11 de julho de 2011, em seu artigo 980-A prevê:

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será


constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o
maior salário-mínimo vigente no País. (BRASIL, 2017).

A luz do artigo supracitado, se entende que a Empresa Individual de


Responsabilidade Limitada, deverá ser constituída por uma pessoa, que
será titular da totalidade do capital social. Pode-se classificar o nascimento
da EIRELI, neste caso, como a constituição originária, uma vez que sua
criação se deu completamente autônoma e sem qualquer ligação com outro
tipo societário anterior a ela. Enquanto que, também há possibilidade de
uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada ter seu
nascimento classificado como superveniente permissiva contida no
parágrafo 3º do artigo 980-A da Lei n.º 12.441 de 2011, a saber:

§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá


resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num
único sócio, independentemente das razões que motivaram tal
concentração. (BRASIL, 2017).

Isso ocorre quando, a título exemplificativo, uma sociedade decide – e o


artigo mencionado acima deixa claro que o motivo aqui é totalmente
irrelevante – se desfazer mas ao mesmo tempo continuar suas atividades,
ou seja, a sociedade entre os sócios termina porém o único sócio
remanescente decide por dar continuidade em sua empresa. É exatamente
/
o que quer dizer o artigo acima, quando o nascimento da EIRELI se dá
dessa maneira, acontece a chamada transformação de tipo jurídico,
significa dizer que a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada é
constituída com o capital remanescente de outra modalidade jurídica.

OS PRIMEIROS PROJETOS DE LEI ACERCA DA EIRELI

É valioso fazer menção do que diz Márcio Tadeu Guimarães Nunes sobre a
criação da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI:

A Lei nº 12.441/11, que instituiu a EIRELI no Direito brasileiro, foi


aprovada a partir do amálgama de dois projetos de lei que tramitaram
simultaneamente nas casas legislativas do país. Fala-se dos projetos de lei
nº 4.605/08 e 4.953/09, que previam propostas distintas para a limitação
da responsabilidade patrimonial do empreendedor individual.

É possível perceber, a partir da leitura das justificativas para a


apresentação de cada projeto, que, apesar das respostas distintas, ambas
se preocuparam em oferecer proteção ao empreendedor, que, até então,
via-se obrigado a associar-se a terceiros para tentar limitar a extensão de
sua responsabilidade pessoal pelos riscos da atividade a ser desenvolvida.
(NUNES, 2014, p. 61).

Os projetos que deram início ao processo legislativo de criação da EIRELI


embora distintos em alguns pontos buscassem o mesmo objetivo.

Dentre as principais preocupações a serem solucionadas, destacam-se


problemas como, a grande massa de empreendedores que buscam sua
empresa, dotada de responsabilidade limitada ao capital investido, ou seja,
proteger seu patrimônio pessoal se via obrigados a associar-se com um
sócio estranho, se viam obrigados a criar uma situação que não existia,
nascia então uma falsa sociedade.

/
E também o elevado grau de informalidade dos empreendedores, pois
enquanto uns optavam constituir uma falsa sociedade, admitindo como
sócias pessoas estranhas – que de fato não faziam parte do plano inicial do
negócio a ser constituído – outros preferiam ficar na informalidade.
Assim, os prejuízos acumulados eram enormes. Para os empresários, a
grande dificuldade em se organizarem no tocante às questões
administrativas da empresa, impossibilitando-os de: registrar seus
empregados e propiciar ao mesmos todos os direitos conferidos pelas Leis
Trabalhistas; tomar créditos junto às instituições financeiras; aderir às
facilidades tecnológicos de recebimento – máquinas de cartões de
créditos; ingressar em concorrências públicas e licitações, dentre outras.

Já para o fisco, sejam eles Federal, Estadual ou Municipal, os prejuízos vão


além de meros problemas administrativos. A informalidade de
empreendedores traz um enorme prejuízo aos cofres públicos, isso porque,
volumosas quantias de impostos deixavam de ser recolhidas, travando o
crescimento econômico de modo geral em todo país.

REGISTRO DA EIRELI

É importante salientar que o nascimento da EIRELI, para que tenha sua


devida validade bem como eficácia no campo jurídico, adquirindo assim
personalidade jurídica e, decorrente disso, contrair direitos e obrigações
próprias, deve ser registrada no órgão competente. Vale fazer menção dos
artigos 967, 984, 985, 998, “caput”, e 1.150, todos do Código Civil, Lei
10.403 de 10 de janeiro de 2002:

Artigo 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de


Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Artigo 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade


própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo
com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do
/
art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os
efeitos, à sociedade empresária.

Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles


tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas
que regem a transformação.

Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no


registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e
1.150).

Artigo 998. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade


deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas do local de sua sede. Artigo 1.150. O empresário e a
sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas
Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao
Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas
fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de
sociedade empresária. (BRASIL, 2017).

Ante aos artigos acima expostos, conclui-se que a Empresa Individual de


Responsabilidade Limitada – EIRELI precisa obrigatoriamente de registro
junto ao órgão competente de acordo com sua natureza jurídica. Em se
tratando de empresários e sociedades empresárias o registro deve ocorrer
perante o Registro Público de Empresa Mercantis da respectiva sede, a
ofício das Juntas Comerciais, ao passo que as sociedades simples deverão
realizar o arquivamento de seus atos constitutivos perante o Registro Civil
das Pessoas Jurídicas do local da sua sede.

Levando em consideração que a Empresa Individual de Responsabilidade


Limitada é uma sociedade unipessoal, deve-se uma análise cuidadosa no
tocante ao órgão competente para realizar o devido registro. O fator
/
determinante a ser levado em consideração no momento desta análise é a
atividade a ser praticada pela EIRELI.

Para uma melhor compreensão sobre o assunto, observa-se o artigo 966 e


seu parágrafo único da Lei n.º 10.406 de 10 de janeiro de 2002 – Código
Civil:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens
ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa. (BRASIL, 2017).

O artigo supra traz a definição de empresário, levando em conta a prática


profissional de atividade econômica, de forma organizada, para a produção
ou circulação de bens ou de serviços. Partindo desse princípio, pode-se
concluir que, quando a EIRELI possuir em sua atividade essas mesmas
características contidas no “caput” do artigo 966, logo, deverá ser
registrada no Registro Público de Empresa Mercantis – Junta Comercial.

Já no parágrafo único do dispositivo supracitado, por exclusão, nos é


explanado o conceito de uma sociedade simples, tendo como o principal
elemento sua atividade. Ou seja, quando a atividade a ser exercida pela
EIRELI não possuir as características elencadas no “caput” do artigo 966,
a mesma será uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada de
natureza simples, consequentemente, deverá ser registrada junto ao
Registro Civil das Pessoas Jurídicas de sua sede.

LIMITAÇÃO DE RESPONSABILIDADE – SEGURANÇA PERANTE OS


CREDORES
/
O empresário individual durante anos só podia praticar suas atividades
empresárias por meio de firma individual, sendo que o patrimônio do
empresário – pessoa natural – se confundia com o patrimônio da empresa.

Aos dizeres de Fábio Ulhoa Coelho (2014, p. 41):

O empresário individual, em regra, não explora atividade economicamente


importante. Em primeiro lugar, porque negócios de vulto exigem
naturalmente grandes investimentos. Além disso, o risco de insucesso,
inerente a empreendimento de qualquer natureza e tamanho, é
proporcional às dimensões do negócio: quanto maior e mais complexa a
atividade, maiores os riscos. Em consequência, as atividades de maior
envergadura econômica são exploradas por sociedade empresárias
anônimas ou limitadas, que são os tipos societários que melhor viabilizam
a conjugação de capitais e limitação de perdas. Aos empresários
individuais sobram os negócios rudimentares e marginais, muitas vezes
ambulantes. Dedicam-se a atividades como varejo de produtos
estrangeiros adquiridos em zonas francas (sacoleiros), confecção de
bijuterias, de doces para restaurantes ou bufês, quiosques de miudezas em
locais públicos, bancas de frutas ou pastelarias em feiras semanais etc.
(COELHO, 2014, p. 41).

Embora os negócios iniciados por empresários individuais não tenham


tanta expressão no que tange à complexidade da atividade praticada, bem
como no valor do capital inicialmente investido, possuem a devida
importância em no cenário econômico, pois muitos deles podem iniciar
como empresário individual e devido ao seu crescimento, podem se
tornarem grandes empreendimentos.

Por muitos anos os empresários individuais que queriam dar início seu
novo negócio, sem a companhia de um sócio, tinham muito receio pois
estavam cientes de que essa modalidade de empresa não confere proteção
patrimonial alguma. Isto porque, o tipo jurídico de empresário individual é
/
uma modalidade sem personalidade jurídica, não possuindo vida própria.
Logo, o patrimônio do empresário – pessoa natural – e da empresa tonar-
se apenas um, não há qualquer diferenciação, principalmente no tocante à
responsabilidade pelas obrigações contraídas decorrentes do exercício
empresarial. Desta forma, o empresário individual responde, perante os
credores, com todo o seu patrimônio pessoal.

Isso gerou durante um longo período um enorme receio por parte dos
empresários individuais, pois até o eventual insucesso proveniente de
fatores externos à vontade do empresário – risco existente em todo e
qualquer empreendimento - é suportado pelo empresário juntamente com
todo seu patrimônio pessoal.

A fim de se constar a problemática enfrentada por empresários


individuais, decorrente de um atraso em nosso ordenamento jurídico, veja
o que diz Marcela Maffei Quadra Travassos:

Não há dúvidas do atraso no direito brasileiro em relação a outros países


no tratamento legislativo do tema relacionado aos mecanismos jurídicos
de limitação de responsabilidade patrimonial dos empresários individuais.
Em relação às economias mais fortes da Europa, o fato é evidente e, de
certo modo, até se explica pela conjugação de outros fatores.

O que mais espanta, porém, é o fato de países vizinhos da América do Sul,


como Chile e Peru, com economias bem menos expressivas que a
brasileira, já admitirem, há bastante tempo, a constituição de
empreendimentos contemplando a limitação de responsabilidade do
empresário individual.

Aqui, ainda se resistia à ideia da limitação de responsabilidade do


empresário individual em razão do forte receio de que tais estruturas, em
vez de estimular o crescimento econômico do país e incentivar a livre
iniciativa, acabassem por servir de subterfúgios à pratica de fraudes. O
/
receio, apesar de exagerado, tem fundamento: a cultura do “jeitinho” e da
“vantagem a qualquer preço” sempre levou o legislador brasileiro a ter
mais cautelas com mudanças mais radicais voltadas à proteção
patrimonial. (TRAVASSOS, 2015, p. 101).

Diante da situação supramencionada, os empresários individuais que


buscavam um tipo jurídico mais seguro – com responsabilidade limitada –
eram levados a aderir a uma sociedade fictícia. Já que a sociedade
limitada, por ser um modelo jurídico personificado, possui por essência
limitação de responsabilidade – até o limite do capital social – perante
credores, assim ensina Fábio Ulhoa Coelho:

Em razão do princípio da autonomia patrimonial, ou seja, da


personalização da sociedade empresária, os sócios não respondem, em
rega, pelas obrigações desta. Se a pessoa jurídica é solvente, quer dizer,
possui bens em seu patrimônio suficientes para o integral cumprimento de
todas as suas obrigações, o ativo patrimônio particular de cada sócio é,
absolutamente, inatingível por dívida social. Mesmo em caso de falência,
somente após o completo exaurimento do capital social é que se poderá
cogitar de alguma responsabilidade por parte dos sócios, ainda assim
condicionada a uma série de fatores. (COELHO, 2014, p. 144 – 145).

Os empresários aderiam então a esse recurso, todavia, o escopo do


empreendimento ora rascunhado nunca continha um outro sócio, tanto
por questões financeiras – o ramo de atividade não necessitava de maior
capital para ser iniciado -, quanto por questões de trabalho empenhado – o
empresário por si só suportava a demanda. O empresário, então, se via
sem outra alternativa, procurava-se outra pessoa para se tornar seu sócio,
o chamado “sócio laranja”.

Com o advento da Lei n.º 12.441 de 11 de julho de 2011, que instituiu a


Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, os empresários
passaram a ter a grande oportunidade de dar início em seus negócios, de
/
forma individual, e, principalmente com proteção do seu patrimônio
pessoal, assim como acontece com as sociedades limitadas – pois ambas
possuem personalidade jurídica.

Na Lei n.º 12.441/11 o empresário encontrou a segurança mínima no


tocante às responsabilidades junto à credores, tendo seu patrimônio
protegido no caso de insucesso do empreendimento. Entretanto, é
importante saber que:

[...] Contudo, é bom advertir que a EIRELI também está sujeita a ter sua
personalidade jurídica desconsiderada quando for empregada para a
prática de atos fraudulentos ou abusivos.

Aliás, é pacifico que a Teoria da Desconsideração da Personalidade


Jurídica prevista no artigo 50 do Código Civil aplica-se também a EIRELI.
Como ente personificado, tal instituto não pode ser veiculado para
perpetrar a fraude e o abuso de direito. (AGRIÃO, Renan Muriel, 2013, p.
34).

Ainda sobre as situações excepcionais que causam a responsabilização


pessoal do titular da EIRELI, além das que foram retro mencionadas, vale
citar os artigos 28 “caput”, § 5º da Lei N.º 8.078 de 11 de setembro de 1990
– Código de Defesa do Consumidor e o 135 “caput”, inciso III da Lei n.º
5.172 de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional,
respectivamente:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso
de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração.

/
§ 5.º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores. (BRASIL, 2017).

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a


obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de
poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:

III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de


direito privado. (BRASIL, 2017).

Face ao exposto, fica claro que, embora a Empresa Individual de


Responsabilidade Limitada goza do benefício de limitação patrimonial de
seu titular, é previste no ordenamento jurídico situações que excepcionam
à regra caso aconteça situações semelhantes às elencadas acima. Isto
serve, porém, para os empresários individuais que almejam aderir ao tipo
jurídico em tela, saibam que o limite de responsabilização comporta
exceções, e, portanto, são necessários alguns cuidados no que tange à
gestão de suas empresas.

CAPITAL SOCIAL

DEFINIÇÃO E OBJETIVO

Oportuno se faz mencionar a definição do termo capital social, a palavra


capital social possui diversos significados, como substantivo feminino,
designa a cidade que abriga a sede do governo de um país, de um estado
ou de uma província. Como substantivo masculino, conjunto dos bens
materiais de uma pessoa ou instituição, e, como adjetivo, significa aquilo
que é essencial, indispensável ou fundamental.

/
No sentido patrimonial do termo, capital social representa o montante
patrimonial – podendo ser tanto em dinheiro quanto em bem, desde que
suscetível de avaliação pecuniária – reunido pelos sócios da sociedade
empresária limitada para fazer com o objeto social da mesma seja
realizado, essa é a essência do capital social. Em se tratando da Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada, esse montante é levantado por
seu titular. Para esta, aplica-se a mesma definição pois também é um tipo
jurídico personificado, e na grande maioria, de atividade empresária,
sendo assim, tal montante, deverá ser transferido do acervo patrimonial
dos sócios – ou titular - e compor o acervo patrimonial – no sentido amplo
– da sociedade bem como da EIRELI.

Nesse contexto, observam-se os escritos da obra de José Edwaldo Tavares


Borba:

O capital social, o qual consta do contrato ou estatuto, é a cifra


correspondente ao valor dos bens que os sócios transferiram ou se
obrigaram a transferir à sociedade. Os sócios, ao subscreverem suas cotas,
comprometem-se a integralizá-los, transferindo à sociedade dinheiro ou
bens que lhes correspondem. (BORBA, 2004, p. 63).

Vejamos ainda o que ensina Márcio Tadeu Guimarães Nunes:

Desde os primórdios, na estrutura da atividade empresária, identifica-se a


relevância desta figura. A expressão capital social ou simplesmente capital
significa o montante de capital financeiro de propriedade da sociedade que
os sócios lhe vinculam a partir de seu patrimônio pessoal, destinado, de
modo permanente, à realização de objeto social.

Em outras palavras, capital social é a “cifra de contenção”, fixada no


contrato social, do valor das contribuições que os sócios fazem ou
prometem fazer, para a formação da sociedade, e que a lei submete a um
regime legal cogente, com a finalidade de proteger os credores sociais.
/
Trata-se, o capital social, de requisito inerente à própria configuração da
pessoa jurídica, e não um adorno meramente formal para que seja ela
validamente constituída. É, em verdade, um meio jurídico-econômico
imprescindível à consecução dos objetivos da sociedade quando em
vivência no mundo dos negócios.

A dotação de um capital social é, portanto, elemento indispensável para a


realização da finalidade desejada pelos sócios [...] (NUNES, 2014, p. 135).

Incumbe-se ao capital social, seja na Empresa Individual de


Responsabilidade Limitada ou nas sociedades limitadas empresárias,
propiciar a realização da atividade pretendida pelo titular – no caso da
EIRELI – descrita em seu instrumento particular de constituição - e no
contrato social quando sociedade empresária limitada.

Ressalta-se, no entanto que, não se pode confundir capital social com


patrimônio da pessoa jurídica, ou seja, o capital social – tecnicamente –
não faz parte do ativo da empresa. Tal diferenciação fica clara nos dizeres
do grande escritor José Edwaldo Tavares Borba:

O patrimônio da sociedade é o conjunto de valores de que esta dispõe.


Nesse patrimônio existem valores ativos – tudo o que a sociedade tem
(dinheiro, créditos, imóveis, móveis etc.); e valores passivos – tudo o que a
sociedade deve (títulos a pagar, saldo devedor de empréstimos, folha
salarial, impostos devidos). Fala-se assim em patrimônio líquido, que é a
diferença entre ativo e o passivo. Se o ativo for superior ao passivo, a
sociedade terá um patrimônio líquido positivo; se inferior, terá um
patrimônio líquido negativo.

Verifica-se, por conseguinte, que o capital é um valor formal e estático,


enquanto o patrimônio é real e dinâmico. O capital não se modifica no
diaadia da empresa – a realidade não o afeta, pois se trata de uma cifra
contábil. O patrimônio encontra-se sujeito ao sucesso ou insucesso da
/
sociedade, crescendo na medida em que esta realize operações lucrativas, e
reduzindo-se com os prejuízos que se forem acumulando. (BORBA, 2004,
p. 63).

Sob tal prisma, fica nítida a diferença técnica e pratica do capital social e
patrimônio da pessoa jurídica.

Dentre os diversos objetivos do capital social, destaca-se, e aqui serve


igualmente para as sociedades limitadas e para as EIRELI’s, a garantia em
favor de credores, trata-se do montante patrimonial disponível pela pessoa
jurídica em benefício destes, para grande parte da doutrina esse é um dos
principais objetivos.

Entende-se que, querendo o empreendedor titular a proteção de seu


patrimônio pessoal, sem que o mesmo seja afetado por obrigações da
pessoa jurídica, tem que, em contrapartida, oferecer segurança aos seus
credores. Tal princípio encontra estreita relação com o princípio da
intangibilidade do capital social, que em brevíssimas palavras, significa
dizer que o capital é a cifra representada por dinheiro ou bens que não
poderá ser tocada.

EXIGÊNCIA DO CAPITAL SOCIAL MÍNIMO E SUA INTEGRALIZAÇÃO

Sem dúvidas que a criação da EIRLI foi um grande avanço para o


ordenamento jurídico brasileiro, no entendo esta evolução veio
acompanhada de algumas regras essenciais que serão tratadas a seguir.

O “caput” do artigo 980-A, introduzido pela Lei n.º 12.441, de 11 de julho


de 2011, diz assim:

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será


constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o
/
maior salário-mínimo vigente no País. (BRASIL, 2017).

A luz do artigo acima mencionado, fica claro a obrigação de ter um capital


mínimo para se constituir uma empresa da modalidade individual de
responsabilidade limitada – a EIRELI.

Nesse sentido ensina Marcela Maffei Quadra Travassos em sua obra:

Ao lado da unipessoalidade permanente, a exigência de capital mínimo de


100 (cem) salários mínimos devidamente integralizado no ato de
constituição (originária ou superveniente) da EIRELI apresenta-se como
característica essencial distintiva entre Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada e os demais tipos societários previstos no
Código Civil e nas leis especiais. São, inclusive, estas características que
justificam a inclusão da EIRELI em Título próprio (Título I-A) e em inciso
destacado no corpo do artigo 44 do Código Civil (inciso VI). (TRAVASSOS,
2015, p. 204).

Pode-se concluir, então, que a integralização do capital social mínimo


possui caráter obrigatório na constituição de Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada – EIRELI. Vale destacar ainda que, a efetiva e
devida integralização deste capital social pode ser feita de forma diferente
a que geralmente se faz - aporte em dinheiro -, já que a lei não traz
qualquer vedação no tocante a este assunto. Assim sendo, a integralização
– transferência do valor do patrimônio do titular para a pessoa jurídica -
pode ser realizada através de bens móveis ou imóveis, assim afirma
Bruscato (2005, p. 286) “Se a capitalização dor em dinheiro – ou a parte
que se integralizar em dinheiro – deve haver um depósito em
estabelecimento bancário[...]”, e se ocorrer a integralização de bens
imóveis Bruscato (2005, p. 286) afirma que “[...] a utilização de bens na
composição do capital, sendo imóveis, é necessário – aí, sim – que se faça

/
por afetação por meio de escritura pública[...]”. No que tange a bens
móveis, Bruscato atesta: “[...] é necessária a declaração discriminada do
bem e prova de sua existência, que pode ser a nota de compra do mesmo”.

Para efeito da integralização, o que não se admite no caso da Empresa


Individual de Responsabilidade Limitada, é a contribuição com prestação
de serviço, tal restrição encontra-se respaldada no artigo 1.055, “caput” e §
2.º do Código Civil – Capítulo IV DA SOCIEDADE LIMITADA:

Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais,


cabendo uma ou diversas a cada sócio.

§ 2.º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.


(BRASIL, 2017).

Ressalta-se ainda que, atinente à aplicação do dispositivo legal acima


mencionado, encontra clara permissiva a luz do artigo 980-A § 6.º do
Código Civil: “Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade
limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas”.

Guilherme Osni Santos - Aluno 01113-120 - Universidade de Ararquara -


UNIARA.

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