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REPÚBLICA DE ANGOLA

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE ANGOLA


FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ECONOMIA POLÍTICA

TRABALHO EM GRUPO

LUANDA, 2023
ESCOLA PÓS KEYNESIANA E NOVAS CONTRIBUIÇÕES EM
CIÊNCIA DO SÉC. XX

A ESCOLA DA ECONOMIA MATEMÁTICA E A TEORIA DOS


JOGOS

Nome Participação Domínio Total N. Trabalho M. individual


Eduin Vieira Dias 45% 20% 65%
Dickson Custódio 35% 10% 45%
Fábio Alves 45% 20% 65%
Margarida Neto 45% 20% 65%
Mukidi Caladissa 10% 5% 15%
Ninda da Costa 45% 20% 65%
Ricardo Fulevo 30% 10% 40%
Virginia Chipindo 45% 20% 65%
Waldimir Fernandes 30% 10% 40%

Sala: F41
Turma: D1M1

Trabalho de Economia Política, como quesito de 2ª prova parcelar do II


semestre, sob orientação do Professor Nkrumah Tuma.

Docente

__________________________
Dr. Professor Nkrumah Tuma.

2
Resumo
Neste trabalho iremos abordar os seguintes temas: as escolas pós-keynesianas e novas
contribuições à ciência no século XX e a escola da Economia Matemática e a teoria dos
jogos.

As escolas pós-keynesianas são escolas econômicas de pensamento influenciado pelo


próprio Keynes e pela tradição francesa que evita a metodologia neoclássica. Este termo
“pós-keynesiano” surgiu na década de 70 no século XX.

A teoria dos jogos, é um ramo da matemática aplicada que estuda situações estratégicas
onde os jogadores escolhem diferentes ações na tentativa de melhorar o seu retorno. Essa
teoria se desenvolveu a partir de estudos sobre economia e matemática, através de
situações estratégicas em que um jogador precisa fazer as melhores escolhas, porém,
existe uma relação de interdependência com outros jogadores. A interdependência nas
situações estratégicas acontece quando há concorrência e, a ação de cada jogador,
modificará o resultado dos outros jogadores e de todo o jogo. Esse estudo, então, passou
a ter relação com o comportamento das pessoas, empresas e do governo.

Palavras Chaves: Teoria do jogo, Pós Keynesianismo, Economia, Tableau.

3
Índice
A ESCOLA PÓS-KEYNESIANA E NOVAS CONTRIBUIÇÕES A CIÊNCIA NO SÉCULO XX .... 5
Pós-keynesianismo de 1978 a 1988: ................................................................................................... 6
O pano de fundo: Keynes ..................................................................................................................... 7
O desenvolvimento de teorias pós-keynesianas ................................................................................... 7
Os elementos fundamentais do Pós-Keynesianismo ............................................................................ 8
Pós-keynesianos: um modelo alternativo diante da crise .................................................................... 8
As principais contribuições de Keynes no campo econômico? ........................................................... 9
A CONCORRENCIA IMPERFEITA DE JOAN ROBINSON ................................................................................ 9
A CONCORRENCIA MONOPOLISTA DE EDWARD CHAMBERLIN. ............................................................... 17
Fontes de diferenciação dos produtos: .............................................................................................. 17
Características dos modelos .............................................................................................................. 18
Equilíbrio da empresa no curto prazo ............................................................................................... 19
Equilíbrio da empresa no longo prazo .............................................................................................. 19
Procura .............................................................................................................................................. 19
3 PRODUÇÃO DE MERCADORIAS POR MEIO DE MERCADORIAS DE SRAFFA ............................................. 20
4 O TABLEAU DE MICHAEL KALECKI ..................................................................................................... 22
A ESCOLA DA ECONOMIA MATEMÁTICA E A TEORIA DOS JOGOS .................................... 27
Teoria dos Jogos ................................................................................................................................ 27
O Modelo da Teoria dos Jogos ......................................................................................................... 28
Vale a pena usar a teoria dos jogos? ................................................................................................. 30
COMPORTAMENTO ECONÓMICO ............................................................................................................... 30
1. FUNDAMENTOS DO MODELO DE VON NEUMANN ............................................................... 31
FORMULAÇÃO MATEMÁTICA E EXTENSÃO DO MODELO ....................................................... 32
2 O TEOREMA DE EQUILÍBRIO DE NASH .................................................................................................... 36
Tabela 1: Matriz de payoffs do Dilema dos Prisioneiros .................................................................... 38
A DEMONSTRAÇÃO ........................................................................................................................ 38
O TEOREMA DO VALOR MÉDIO GARANTE QUE ............................................................................................ 41
AS TABELAS DE INSUMO-PRODUTO DE WASSILY LEONTIEF ............................................................... 45
(1906-1999)............................................................................................................................................ 45
A CONTRIBUIÇÃO PARA O MODELO IS-LM DE JOHN R.HICKS 1904-1989 ....................................... 47
A CONTRIBUIÇÃO DE PAUL SAMUELSON .............................................................................................. 50

4
A escola pós-Keynesiana e novas contribuições a ciência no
século xx

Na ciência econômica, ao longo de sua história, é comum a existência de correntes


teórico-metodológicas alternativas à perspectiva dominante, usualmente denominada de
mainstream. Na segunda metade do século XX, economistas pertencentes a essas
correntes começaram a entender suas perspectivas como parte do que se chama, agora, de
heterodoxia. Segundo Backhouse, uma heterodoxia é mais do que um mero conjunto de
ideias dissidentes.Uma dessas correntes heterodoxas é o pós-keynesianismo que é quase
exclusivamente uma abordagem da economia voltada aos problemas da macroeconomia.

Joan Robinson viajou várias vezes aos Estados Unidos para apresentar conferências sobre
diversos temas, dentre eles, sobre aquilo que via como as principais falhas da teoria
macroeconômica neoclássical. Depois dessas viagens, em dezembro de 1971, Robinson
ministrou a conferência que pode ser tratada como uma espécie de inauguração formal do
pós-keynesianismo. Convidada por John Kenneth Galbraith, na época presidente da
American Economic Association, Robinson apresentou a principal palestra do
encontro.Sua exposição reclamava uma profunda releitura de Keynes. Ela acusava o
mainstream de “ter colocado Keynes para dormir”.

Robinson conversou com vários economistas que compartilhavam sua insa- tisfação com
o mainstream. Nessas conversas, ela sugeriu que a empreitada de reconstrução da teoria
econômica que acabara de propor se chamasse pós-keynesianismo. A única coisa que os
unia naquele momento era o desejo de superar o que identificavam como problemático
na corrente dominante. Contudo, essa insatisfação foi suficiente para impulsionar uma
série de ações para constituir uma rede de cooperação com vistas a propagar e desenvolver
ideias de superação das limitações do mainstream no sentido do que viria a ser o pós-
keynesianismo,

A empreitada foi encabeçada por Eichner, que enviou cartas aos participantes com
perguntas relacionadas a possível alternativa ao mainstream e a seguir pediu que os meios
indicassem outros economistas para participarem.

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Depois disso, Eichner encontrava-se preparado para escrever um trabalho que
apresentasse à comunidade acadêmica as características fundamentais do pós-
keynesianismo.Todavia, não queria fazer isto sozinho e, assim, com Jan Kregel como
coautor e com a ajuda de Robinson, Paul Davidson, Geoffrey Harcourt e Luigi Pasinetti,
ele deu um passo importante para a consolidação do nome “Post keynesian” para designar
a nova abordagem, publicando seu artigo seminal na edição de dezembro de 1975 no
Journal of Economic Literature.

Pós-keynesianismo de 1978 a 1988:


A construção do suporte institucional

Por volta de 1977, a rede social pós-keynesiana já estava suficientemente desenvolvida


nos Estados Unidos para tornar possível a fundação de uma revista acadêmica. Foi Sidney
Weintraub que, percebendo isto, conseguiu o suporte financeiro necessário junto à
Universidade de Rutgers, através do apoio de Davidson, de modo que a primeira edição
do Journal of Post Keynesian Economics (doravante JPKE) veio a público em 1978.
O primeiro editorial apresentava “uma declaração de propósitos”, afirmando que o pós-
keynesianismo seguia o esteio de vários economistas importantes, tais como: Smith,
Ricardo, Marx, John Stuart Mill, Jevons, Marshall, Keynes, Robinson, Kaldor, Kahn,
Kalecki, Abba Lerner, Galbraith e Minsky.4 Sobre o termo “pós-keynesianismo”,
escreveram que: “The term ‘Post Keynesian’ will thus be broadly interpreted, spotlighting
new problems and revealing new theoretical perspectives”.

A escola pós-keynesiana é uma escola econômica de pensamento influenciado pelo


próprio Keynes e pela tradição francesa que evita a metodologia neoclássica.
O termo Pós-Keynesianismo surgiu na década de 70 do século XX. Em sua origem, serviu
para referir-se a qualquer ideia econômica baseada na Teoria Geral do economista
britânico John Maynard Keynes.

Suas principais características são: sua rejeição às idéias defendidas pela escola
neoclássica e seu compromisso com uma política fiscal de promoção do emprego e da
renda. Entre seus participantes há uma grande variedade e heterogeneidade. As três

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principais vertentes são os Keynesianos Fundamentalistas, os Kaleckianos e os
Institucionalistas (Economia Institucional)

O pano de fundo: Keynes

No chamado "período entre guerras", após a feliz década de 1920 e em um contexto de


crise econômica excepcional, Keynes propôs uma série de políticas econômicas
destinadas a atenuar os efeitos da Grande Depressão. O keynesianismo estava empenhado
em mitigar os desequilíbrios que os ciclos de negócios causavam nas economias
capitalistas.

Para fazer isso, ele levantou a necessidade de intervenção do Estado na economia. Keynes
tentou resolver problemas sérios: crises de demanda e desemprego. Entre estes havia,
segundo Keynes, uma relação de causa-efeito, segundo a qual o primeiro era a causa do
segundo. Partindo dessas premissas, nas décadas subsequentes, diversos economistas
levantaram novos desafios, novas soluções e diferentes perspectivas, alternativas à
economia neoclássica. O pós-keynesianismo seria uma dessas alternativas.

O desenvolvimento de teorias pós-keynesianas

Na década de 1970, o termo Pós-Keynesianismo apareceu e se popularizou. Antes de


1975, esse termo se referia a qualquer tentativa de desenvolver a Teoria Geral do
economista britânico. Embora existam diferenças entre os vários ramos que partem do
tronco comum, existem alguns pressupostos fundamentais, nos quais se baseiam seus
postulados:

 O sistema capitalista não oferece naturalmente uma tendência para o pleno


emprego. Isso requer investimento público;
 O elemento fundamental do nível de demanda agregada em uma economia
fechada é o investimento fixo;
 Existe uma incerteza sobre os acontecimentos do futuro, que determina as
decisões tomadas sobre investimentos e rumos que, apesar de tudo, procuram
antecipar os acontecimentos.

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Os elementos fundamentais do Pós-Keynesianismo

Há uma série de elementos fundamentais na economia pós-keynesiana:

 1º elemento: está relacionado ao princípio da "demanda efetiva". Para os pós-


keynesianos, a demanda é o que, no longo prazo, determina a situação econômica
no longo prazo;
 2º elemento: é o conceito de "tempo histórico dinâmico". Para os pós-keynesianos,
as decisões tomadas em um ponto no tempo influenciam as decisões
subsequentes;
 3º elemento: é a "flexibilidade de preço". Os pós-keynesianos apontam que as
consequências dessa flexibilidade são negativas, na medida em que afetam os
salários reais, que podem ser reduzidos. Isso gera uma perda de poder aquisitivo
para os trabalhadores, o que acaba afetando a demanda e, portanto, a economia
como um todo
 4º elemento: é a "economia monetária de produção". Este termo se refere ao fato
de que os salários acordados são feitos com base em dinheiro, e não em medidas
de produção. Uma característica das economias familiares é a dos ativos
financeiros. O uso que se faz do dinheiro, bem como a predisposição à
predisposição a abrir mão de ativos menos líquidos podem causar uma crise.

Pós-keynesianos: um modelo alternativo diante da crise

Durante a década de 1970, as políticas keynesianas começaram a ser desacreditadas pela


estagflação. Nas décadas de 1930 e 1940, o desemprego e a deflação coexistiam, portanto,
o uso de políticas expansionistas reativou a economia. No entanto, por volta da década de
1970, o fenômeno da estagflação surgiu. Cenário em que as políticas keynesianas não
eram apenas ineficazes, mas também contraproducentes.

O neoliberalismo respondeu por meio do Consenso de Washington. Esse modelo estava


comprometido com a desregulamentação da economia, minimizando a intervenção do

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Estado e liberalizando o comércio mundial. Com a crise da segunda década do século 21,
foi o neoliberalismo que começou a ser criticado e identificado como o causador da crise.
As propostas pós-keynesianas baseiam-se na intervenção da administração pública na
economia, implementando mínimos, um sistema fiscal e tributário progressivo e
revertendo a privatização de alguns setores econômicos e sociais. O objetivo: aumentar a
demanda para manter a boa saúde da economia. No entanto, seus detratores acreditam
que essas medidas, por outro lado, serviriam apenas para interferir no mercado, alterando
seu funcionamento normal, o que teria graves consequências.

As principais contribuições de Keynes no campo econômico?

Criação do sistema de seguridade social, com destaque para o seguro desemprego e a Lei
de Seguridade de 1935;

Direito de organização sindical;

Estímulo à produção agrícola;

Construção de uma grande quantidade de obras públicas, com destaque às hidrelétricas e


rodovias.

A concorrencia imperfeita de Joan Robinson

O objetivo explicitado pela Autora em A Economia da Concorrência Imperfeita é


apresentar "uma caixa de ferramentas" inspirada nas críticas de Sraffa (1926) à teoria da
concorrência perfeita, ou seja, "desenvolver sua fértil sugestão de que toda a teoria do
valor deve ser analisada em termos da análise do monopólio".

Esta é uma das passagens mais citadas e tem servido de base às interpretações mais
comum deste livro, como é o caso das de Shackle e de Loasby, para quem a importante
conclusão de Joan Robinson, nesta obra, é a de que é necessário e possível abandonar de
forma radical o postulado da concorrência perfeita e adotar o pressuposto de estruturas de
mercado com caraterísticas monopolísticas.

Shackle identifica nesta obra de Joan Robinson uma das alternativas que surgiram, dentro
dos marcos da análise do equilíbrio parcial, como resposta ao "dilema de Sraffa”, que

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eram, por um lado, o monopólio, e, por outro, a concorrência perfeita: "O dilema de
Sraffa primeiramente apareceu como uma simples questão: o que limita o tamanho da
firma se os custos por unidade da produção física diminuem a cada aumento da
quantidade produzida?

Este segundo caminho, que consiste na demolição, peça por peça, e na substituição do
modelo perfeitamente competitivo, era, num certo sentido, mais árduo, pois em vez de
'dar passos livres num terreno inexplorado', o explorador tinha um campo atravancado
pela teoria existente.

Segundo Loasby, a crítica de Sraffa dizia respeito, em primeiro lugar, à consistência


interna do "paradigma" da concorrência perfeita, e em segundo lugar, à sua utilidade, vis-
à-vis paradigmas alternativos, como seria o do monopólio.

o custo de abrir mão da análise do equilíbrio parcial estático em termos da teoria existente
a ser descartada, era muito superior ao custo da desistência da concorrência perfeita, e os
ganhos, em termos de uma teoria alternativa pronta a ser explorada, muito menores".

Mesmo sem entrar no mérito do debate em torno da caracterização da concorrência


perfeita como "paradigma", deve-se ressaltar - seguindo o raciocínio de Loasby - que a
escolha de Joan Robinson teria sido a de abandonar o "paradigma" da concorrência
perfeita e adotar o contrário, o da concorrência imperfeita.

e visto que o mercado de qualquer dado fator de produção uniforme pode ter a mesma
extensão de toda a economia, o pressuposto da competição perfeita geral, tanto nos
mercados de produto quanto nos de fatores, permite que o equilíbrio geral de toda a
economia seja definido de maneira suficientemente simples, possibilitando assim um
estudo da existência ou não existência, tanto num sentido lógico como matemático, de
soluções que constituiriam tal equilíbrio.

Schumpeter considera que a importância de A Economia da Concorrência Imperfeita


reside principalmente em ter permitido que "...toda a análise do processo de
[determinação do] preço adquirisse uma unidade inesperada cobrindo os casos limites da
concorrência perfeita e do monopólio perfeito, deixando de ser a colcha de retalhos que
vinha sendo por tanto tempo".

O grande defeito do livro de Chamberlin, segundo Galbraith, foi o de não ter encontrado
uma solução determinada para o equilíbrio do oligopólio, pois mesmo sob o critério da

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maximização dos lucros, o padrão de comportamento individual e as soluções de mercado
resultantes são quase infinitas em quantidade.

Na introdução à primeira edição do volume I de seus Collected Economic Papers, Joan


Robinson faz uma autocrítica por ter seguido os passos - errados - de Pigou, a partir da
crítica de Sraffa: "Quando voltei a Cambridge em 1929 e comecei a ensinar, as palestras
de Sraffa penetravam nossa insularidade.

O Professor Pigou havia transformado o cerne da análise de Marshall num sistema lógico
de teoria estática (para fazê-lo, ele introduziu a idéia de tamanho ótimo da firma, como
uma maneira de salvar a concorrência das economias internas).

A firma de Pigou num mercado perfeitamente competitivo sempre vende o volume de


produção que maximiza seus lucros, isto é, a quantidade para a qual um pequeno aumento
da produção faria com que o custo marginal se tornasse superior ao preço...

As duas passagens resumem a trajetória seguida pela Autora no que se refere à análise da
concorrência: tendo partido de um arcabouço da análise estática (reconhecidamente
pigouviano), na obra de 1933, ela chega a uma visão dinâmica de crescimento das
empresas e das inovações, que se poderia lato sensu qualificar de schumpeteriano
(inclusive pela distinção que faz entre os conceitos de “invenção” e de “inovação”,
embora às vezes os utilize como sinônimos).

Em seu prefácio à segunda edição de A Economia da Concorrência Imperfeita, Joan


Robinson afirma: "Toda a análise, que na realidade consiste de comparações de posições
estáticas de equilíbrio, está mascarada para aparentar a representação de um processo que
ocorre ao longo do tempo".

Para que isso seja factível, a curva de demanda deveria ficar rigidamente fixa por um
período de tempo suficientemente longo para que as firmas pudessem descobrí-la, e as
experiências de elevar e reduzir o preço para determinar a resposta das vendas teriam que
ter um custo negligenciável e não causar qualquer reação no comportamento dos clientes
da firma".

No que se refere especificamente à utilização de um pressuposto típico da análise "micro"


na análise "macro" - isto é, do grau de monopólio na distribuição da renda - deve-se
registrar a seguinte passagem na introdução que a Autora escreve ao livro de Kalecki
intitulado Essays on Developing Economies (1976), na qual reconhece o "grau de

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monopólio" como uma característica da concorrência imperfeita, entendida num sentido
amplo: "Kalecki levou em conta a concorrência imperfeita.

A participação relativa do lucro bruto no valor adicionado depende do 'grau de


monopólio', enquanto que o montante de lucro realizado no período de um ano depende
do gasto capitalista.

Ingrid Rima também ressalta a influência de Kalecki sobre Joan Robinson, mas enfatiza
o princípio da determinação dos preços, ao considerar que A Economia da Concorrência
Imperfeita relaciona-se ao que denomina "a outra face da revolução keynesiana", isto é,
a proposição de que numa economia industrial o nível de preços é governado pelo nível
das taxas monetárias de salário, "...

O que é particularmente importante, é que Rima é uma das poucas intérpretes de Joan
Robinson que destaca o papel do mercado de trabalho na obra da Autora: "Embora
Robinson tenha se desencantado com a utilidade das teorias da concorrência imperfeita
(e monopolista) para tratar de questões relativas às decisões empresariais sobre preços e
produção, e tenha criticado, especialmente, o conceito de elasticidade da demanda como
um instrumento útil, estas mesmas reservas levaram-na a reconhecer o papel singular do
mercado de trabalho em economias capitalistas e que as taxas salariais relacionam a teoria
do valor à teoria do emprego".

Mesmo os intérpretes que reconhecem outras características heterodoxas neste livro de


Joan Robinson, não exploram a contribuição que aqui se quer ressaltar em A Economia
Da Concorrência Imperfeita: trata-se da descrição do funcionamento do "mercado de
trabalho" em regime de monopólio (e/ou monopsônio), considerado não no sentido
formal e puro como contraposto à concorrência, mas sim incorporando características
monopolistas típicas da concorrência imperfeita, gerando situações de "exploração do
trabalho" - para as quais a Autora oferece sugestões de atuação governamental.

A construção de uma estrutura de mercado em concorrência imperfeita serve, de acordo


com outras interpretações que destacam o ponto que aqui se quer ressaltar, para o
desenvolvimento de uma "teoria da exploração do trabalho em virtude da imperfeição do
mercado".

Embora não chegue a destacar o mercado de trabalho como principal objeto da análise de
Joan Robinson, chama a atenção para as particularidades que decorrem da aplicação da

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noção destes dois tipos de "exploração" quando o mercado de que se trata é justamente o
mercado de trabalho: "Existem ...

diferenças do ponto de vista da política econômica, uma vez que os efeitos da exploração
monopolista do trabalho são inevitáveis, enquanto que a exploração monopsonista, por
outro lado, pode ser compensada com a ajuda da negociação coletiva...

A ênfase no mercado do fator trabalho seria, neste caso, segundo o Autor, um viés
ideológico de Joan Robinson, e as definições da Autora não explicitariam se se referem a
questões de eficiência alocativa (problemas econômicos stricto sensu) ou de justiça na
distribuição da renda (uma questão ideológica), ou ambos.

Do ponto de vista aqui defendido, não se trata meramente de uma questão de eficiência
da alocação dos recursos (escassos), mas da própria existência de "imperfeições", dentre
as quais se destaca o fato de que nem a demanda por um bem é sempre perfeitamente
elástica - que vem a ser precisamente o que define um mercado imperfeito - nem a oferta
de fatores (inclusive o "fator" trabalho) é perfeitamente elástica.

Além disso, distingue dois tipos de exploração: a monopolista, que ocorre “quando a
curva de demanda por um bem não é perfeitamente elástica” (Robinson, 1933a: 311) e a
monopsonista, que surge “quando a curva de oferta de um fator não é perfeitamente
elástica para um empregador individual” (Robinson, 1933a: 311).

A relação que existe entre o conceito de exploração e a liberdade de entrada deriva da


idéia de que a restauração do nível normal dos lucros (redução dos lucros extraordinários)
mediante uma elevação dos salários resulta em um preço maior para o bem e menos
emprego, no ramo de atividade, ao contrário do ajuste que ocorreria mediante a entrada
de novos concorrentes, pois isto expande a produção, reduz os preços e gera emprego.

No prefácio à segunda edição de A Economia da Concorrência Imperfeita, Joan Robinson


ao mesmo tempo em que resgata a importância de seu livro, a despeito de sua autocrítica,
lamenta não ter sido entendida: "O que para mim era o ponto principal, é que obtive
sucesso em provar, nos marcos da teoria ortodoxa, que não é verdade que os salários em
geral se igualam ao valor do produto marginal do trabalho.

Da mesma forma, em seu prefácio ao livro de Kregel (The Reconstruction of Political


Economy - An Introduction to Post-Keynesian Economics, 1973), Joan Robinson volta
ao tema: afirma que tinha por objetivo, em A Economia da Concorrência Imperfeita,

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combater a lógica interna da teoria do equilíbrio estático e refutar, através dos seus
próprios argumentos, a doutrina segundo a qual os salários são determinados pela
produtividade marginal do trabalho.

Esta preocupação se manteve ao longo de toda a sua obra, que se caracterizou pela
divulgação e principalmente pelo desenvolvimento da revolução keynesiana Isto abre
uma nova questão, bastante polêmica, que é a da relação entre A Economia da
Concorrência Imperfeita e a Teoria Geral.

Feiwel (1989d), por exemplo, chama a atenção para o aparente descaso de Keynes com
relação à concorrência imperfeita, bem como sua aparente aceitação dos postulados da
concorrência perfeita, e o caráter paradoxal disto, já que tanto a Teoria Geral quanto A
Economia da Concorrência Imperfeita foram escritos no mesmo lugar, na mesma época
e por pessoas que tomaram parte ativa do mesmo movimento intelectual, a "revolução
keynesiana" 11 .

Keynes, em carta escrita em 04 de fevereiro de 1941, criticava (entre outros pontos) o


pressuposto que Kalecki adotara em seu artigo intitulado "A Theorem on Technical
Progress" 13, de que todas as firmas operam com capacidade ociosa (ou, literalmente,
"abaixo da capacidade").

Estas passagens, ainda que não explicitem se o que estava em jogo é a capacidade ociosa
do "capital" ou da "mão-de-obra" (ou ambos), parecem demonstrar que Keynes não
reconhecia a importância da relação entre concorrência imperfeita e capacidade ociosa (e
entre estas e o progresso técnico) 14 .

E no entanto, tanto Galbraith (1948) quanto Tobin (1989) encontram, pelo menos
implicitamente, o pressuposto de concorrência imperfeita na Teoria Geral, estabelecendo
uma relação entre a imperfeição do mercado e os efeitos sobre o emprego e o salário real
com o desemprego de Keynes, isto é, capacidade ociosa no mercado de trabalho.

Independentemente do quanto Keynes tenha ou não adotado - de modo implícito ou


explícito - o pressuposto da concorrência imperfeita em sua análise, o fato é que a
preocupação com o desemprego - ou formalmente, com o "mercado de trabalho" - e mais
especificamente, com a oferta de trabalho, é constante na obra de Joan Robinson e deriva,
indubitavelmente, da sua participação na "revolução keynesiana".

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Os debates, a despeito do curto período em que ocorreram (de janeiro a maio de 1931) 16
foram intensos e ricos, e são considerados, por quase todos os intérpretes, como tendo
sido de importância fundamental para a formulação das principais idéias da Teoria Geral.

A ênfase na determinação do nível geral de preços (em detrimento da determinação de


preços relativos, tema considerado como pertencente à teoria da utilidade marginal) era
uma maneira de combater a teoria quantitativa da moeda, segundo a qual o aumento dos
gastos em consumo e/ou investimento teria como decorrência uma elevação geral de
preços 17 .

Um dos artigos que representam o início da participação de Joan Robinson na "revolução


keynesiana" é o que se intitula “A Parable on Savings and Investments” (1933b), escrito
no verão de 1931, antes que Joan Robinson iniciasse sua carreira universitária e tendo
como público alvo "aqueles que não sabem o que pensar, e não aqueles que têm respostas
para tudo" 18 .

No artigo, ela inventa uma parábola, na qual os bens de consumo perecíveis são
representados por ervilhas e os bens de capital duráveis são representados por ouro, e
mostra como a determinação dos preços dos bens de consumo é diferente da dos bens de
capital.

O argumento se baseia fundamentalmente na possibilidade - diferenciada - de se especular


com estes dois tipos de bens: "Enquanto houver estoques de bens de consumo disponíveis,
e se os especuladores de bens de consumo 'derem uma olhada' em seu preço, o preço será
determinado pela curva de oferta especulativa de bens de consumo, e não pelo fluxo
corrente da produção.

Mas, uma vez que a nova produção representa uma alta percentagem do estoque total no
caso dos bens de consumo, esta influência sobre seu nível de preço é relativamente
desprezível, enquanto que no caso dos bens de capital tem importância preponderante.

O preço diário dos bens de consumo depende, portanto, em grande parte, da produção
corrente, e o preço diário dos bens de capital depende principalmente não da produção
corrente, mas dos negócios em títulos de capital produzidos há muito tempo".

O que Joan Robinson queria ressaltar é a diferença entre poupança (nãoconsumo) que é
utilizada para comprar títulos de capital (estoque de riqueza já existente) e poupança (não-

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consumo) que é utilizada para compra de bens de capital a serem produzidos
(investimento, ou fluxo de riqueza).

Embora o debate girasse essencialmente em torno do caráter monetário da economia


capitalista, explicitando em particular a importância do mercado de capitais (títulos),
pode-se perceber, na argumentação da Autora, o reconhecimento de dois critérios
diferentes para a determinação de preços, um deles relacionado a produtos cuja
elasticidade de oferta é alta e sensível às variações da demanda, e outro referido a
produtos cuja oferta é relativamente pouco elástica.

A própria Autora, na introdução à primeira edição do primeiro volume de seus Collected


Economic Papers destaca que este artigo fora escrito para o primeiro número da nova
Review of Economic Studies, periódico criado como fórum de discussão pela nova
geração de professores da London School of Economics e da Universidade de Cambridge.

Foi a partir da publicação da Teoria Geral que Joan Robinson adicionou à tarefa de
explicar e defender, também a de divulgar a "revolução keynesiana", com a preocupação
de ampliar o alcance de seus escritos para além do esclarecimento de questões específicas,
em direção à construção de um consenso em torno das novas idéias.

Não era outro, aliás, o intuito do seu pequeno livro-texto - o qual, na correspondência
com Keynes apelidava de my baby book - publicado em 1937, de caráter explicitamente
didático e intitulado Introdução à Teoria do Emprego.

Na segunda edição do livro, em 1947, quase dez anos depois da primeira, Joan Robinson
já reconhecia a necessidade de sua atualização, principalmente porque considerava que a
experiência da Segunda Guerra Mundial e a então já generalizada aceitação de que o
pleno emprego deveria ser objeto de política econômica exigiam novas interpretações das
questões colocadas no livro.

No prefácio à terceira edição, intitulado (na versão em português) "Trinta Anos Depois",
a Autora considerou que a Segunda Guerra Mundial transformara a posição de Keynes
numa nova ortodoxia, representada pela aceitação geral de que um dos principais
objetivos dos governos é a manutenção de níveis de emprego altos e estáveis.

Na avaliação de Joan Robinson, no entanto, a manutenção de níveis de emprego altos e


estáveis era algo muito mais complicado que a redução do nível de desemprego, a partir

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de um alto nível inicial - situação na qual a Teoria Geral havia surgido e cujas causas
pretendia, não apenas equacionar, mas também ajudar a dirimir.

Enquanto a primeira crise era aquela que não dava conta de explicar e, consequentemente,
de reduzir o desemprego, a segunda não dava conta de reduzir a miséria, uma vez que -
mesmo com crescimento econômico e alto nível de emprego - a miséria persistia e,
associada a ela, colocava-se a questão (considerada por ela "mais moderna") que consistia
não mais de "como aumentar o nível de emprego e produto" mas a o que se deveria
produzir e que tipo de emprego deveria ser gerado.

A concorrencia Monopolista de Edward Chamberlin.

O modelo de concorrência monopolística foi desenvolvido por Edward Chamberlin nos


anos trinta, baseado na observação empírica de que um elevado no de indústrias são
compostas por muitas empresas de pequena dimensão, que produzem produtos
diferenciados. Em todos os outros aspectos que não a diferenciação do produto, o modelo
de concorrência monopolística é similar ao de concorrência perfeita.

Exemplo: o mercado dos restaurantes tem as características da concorrência


monopolística. Em cada grande cidade existem milhares de restaurantes com grande
variedade de comidas, preços, ou serviços. A entrada (e saída) no mercado é fácil e é
frequente a publicidade reforçando alguma diferenciação

Fontes de diferenciação dos produtos:


• diferentes características físicas dos produtos produzidos por cada empresa;

• localização das diferentes empresas;

• diferenças induzidas pela publicidade;

• reputação do produto (marca);

• forma de apresentação do produto (embalagem).

17
Características dos modelos
1. Elevado número de consumidores: cada um individualmente não consegue
exercer qualquer influência sobre o preço.

2. Existe um grupo bem definido (indústria) de empresas que vendem produtos que são
diferenciados, mas que, não sendo substitutos perfeitos, têm um elevado grau de
substituibilidade (elasticidades-preço cruzadas da procura elevadas). Por outras palavras,
os produtos são heterogéneos (ou diferenciados), mas cada produtor não está em
monopólio, pois os produtos também são substitutos próximos, fazendo com que as
acções de uma empresa afectem os preços e os lucros das outras. Essa diferenciação faz
com que os vendedores sejam price-makers.

3. Apesar do que foi dito no ponto anterior, o número de empresas da indústria é


suficientemente grande e a dimensão de cada empresa suficientemente pequena para que
cada empresa não reconheça que as suas acções afectam os lucros das rivais.

4. Os consumidores podem estar bem informados ou não sobre os preços e as alternativas


existentes, já que a existência de falta de informação por parte dos consumidores pode ser
uma razão para os produtores serem price-makers.

5. Todos os membros actuais e potenciais da indústria têm as mesmas funções custo e


enfrentam a mesma função procura. Este é um pressuposto muito pouco realista num
contexto de produtos diferenciados, mas que irá permitir analisar o equilíbrio da indústria
a partir da empresa típica.

6. As funções custo das empresas não se alteram com mudanças no tamanho da indústria
ou na quantidade agregada de produtos presente no mercado, isto é, não existem fontes
externas de economias ou deseconomias de escala, quer sejam pecuniárias quer sejam
tecnológicas.

7. Não existem quaisquer barreiras à entrada de novas empresas na indústria.

18
Equilíbrio da empresa no curto prazo

No curto prazo, o número da empresas é fixo. Cada empresa é price-maker, pelo que a
procura que cada uma enfrenta é decrescente. Para maximizar o seu lucro, no curto prazo,
a empresa típica vende uma quantidade de produto igual a 9pc a um preço de Ppc No
entanto, esta solução nunca pode representar uma situação de equilíbrio da indústria de
período longo. Tal como em concorrência perfeita, as empresas podem ajustar a
quantidade de todos os factores e entrar/sair da indústria livremente. Só haverá
estabilidade no número de empresas se os lucros forem normais.

Equilíbrio da empresa no longo prazo

Como vimos no acetato anterior, no curto prazo existiam lucros supranormais. Desta
forma, entrarão empresas, deslocando as funções procura de cada empresa para baixo e
para a esquerda, já que ao mesmo preço, cada empresa venderá menos (produtos das
entrantes são substitutos próximos das instaladas). Para haver equilíbrio da indústria de
período longo, a empresa típica deve auferir lucros normais, pelo que no preço de
equilíbrio (resultante de RmgPL=CmgPL), a função procura de cada empresa será
tangente à função custo médio de período longo

Procura

* Se todas as empresas cobrarem o mesmo preço, venderão quantidades iguais, que se


obtêm dividindo a função procura pelo número de empresas.

* Ao fixar o preço do seu produto, cada empresa assume que as outras não reagirão.
Espera, assim, vender uma quantidade que designamos por procura percebida.

19
3 Produção de mercadorias por meio de mercadorias de
Sraffa
Mercadorias por Meio Mercadorias começa por construir um quadro do tipo insumo
produto, no qual as relações de troca entre diferentes valores de uso são determinadas por
coeficientes técnicos e pela estrutura da demanda. Mostra a seguir que, havendo um
excedente.

Os Economistas

Mesmo que se suponha a mesma taxa de lucro em todos os setores, os preços relativos e
essa taxa de lucro se determinam mutuamente. Quando se adiciona o salário ao sistema,
o número de equações é menor que o de incógnitas, o que significa que apenas quando é
fixado seja o salário seja o lucro é que os preços relativos se determinam.

Para demonstrar que, num sistema abstrato que apresenta as principais características da
economia capitalista, existe um conjunto de relações que determinam os preços relativos,
os salários e os lucros, Sraffa precisava demonstrar que tais quantias são comensuráveis,
ou seja, que podem ser reduzidas ao mesmo denominador. Para resolver esse problema,
Sraffa utilizou um “construto” teórico a mercadoria-padrão que se compõe de todas as
mercadorias básicas isto é, as que entram na produção de outras mercadorias em tal
proporção que “o produto e os meios de produção são quantidades da própria mercadoria
composta”. A mercadoria- padrão tem por característica conservar o mesmo preço em
face de qualquer variação dos salários ou lucros, o que não se dá com nenhuma
mercadoria simples. Esta terá não só seu custo de trabalho acrescido, se o salário aumenta,
mas seus insumos também sofrerão aumentos em proporções variáveis, conforme a
proporção do custo do trabalho em seus custos totais.

Como essas proporções variam entre as diversas indústrias, cada mercadoria será afetada
de modo diferente por um aumento de salários, de modo que no fim depois que a alteração
salarial tiver reajustado os preços mercadorias que eram mais baratas que outras podem
ter ficado mais caras, e sucessivamente.

Com a mercadoria-padrão Sraffa descobriu uma espécie de pedra filosofal da economia,


à cuja procura estiveram Ricardo, Marx e muitos outros: a de uma medida invariante do
valor. Com esta sua descoberta, Sraffa mostrou que uma teoria objetiva do valor é
perfeitamente possível e se pode, a partir dela, construir uma visão coerente embora
complexa do movimento dos grandes agregados econômicos e das leis que os regem. Ele

20
mesmo inicia a aplicação desta sua teoria ao problema da depreciação do capital fixo, da
renda da terra e do deslocamento dos métodos de produção.Em tal proporção que “o
produto e os meios de produção são quantidades da própria mercadoria composta”. A
mercadoria- padrão tem por característica conservar o mesmo preço em face de qualquer
variação dos salários ou lucros, o que não se dá com nenhuma mercadoria simples. Esta
terá não só seu custo de trabalho acrescido, se o salário aumenta, mas seus insumos
também sofrerão aumentos em proporções variáveis, conforme a proporção do custo do
trabalho em seus custos totais.

Como essas proporções variam entre as diversas indústrias, cada mercadoria será afetada
de modo diferente por um aumento de salários, de modo que no fim depois que a alteração
salarial tiver reajustado os preços mercadorias que eram mais baratas que outras podem
ter ficado mais caras, e sucessivamente.

21
4 O Tableau de Michael Kalecki

Michael Kalecki é economista, polonês e é conhecido por ter desenvolvido uma


abordagem macroeconômica similar à de Keynes, dando ênfase a temas como o problema
da demanda efetiva, porém pautado na teoria econômica marxista. No texto As equações
marxistas de reprodução e a economia moderna (Kalecki/ 1977), tendo por base os
esquemas de reprodução de Marx, que constam no livro II de O capital (Marx/2014, caps
20 e 21), ele apresenta uma série de equações sobre certos agregados macroeconômicos
e extrai conclusões sobre as relações existentes entre eles.

Segue o exemplo:

O raciocínio kaleckiano tem início com o “tableau economique da renda nacional”:

I II III Total

P₁ P₂ P₃ P

W₁ W₂ W₃ W

I Cc Cw Y

A economia é dividida em três departamentos. O departamento I produz bens finais não


consumidos (meios de produção), o departamento II produz bens finais consumidos pelos
capitalistas (bens de luxo), e o departamento III produz bens finais consumidos pelos
trabalhadores (meios de subsistência).

No quadro acima, valem as seguintes designações:

P: lucros brutos
W: salários
Y: renda nacional bruta

22
I: investimento bruto
Cc: consumo dos capitalistas
Cw: consumo dos trabalhadores

Assim como nos esquemas de reprodução de Marx, faz-se abstração do comércio exterior
(X – M) e do governo (G – T). O termo “bruto” significa antes de deduzir a depreciação.

II

A partir disso, são derivadas as equações kaleckianas. A primeira delas é a fundamental


equação de troca.

Os bens de consumo dos trabalhadores produzidos pelo DIII (Cw = P₃ + W₃) são vendidos
aos trabalhadores do próprio DIII (W₃) e aos trabalhadores de DI e DII (W₁ + W₂). Logo,
tem-se:

Cw = P₃ + W₃
Cw = W₁ + W₂ + W₃
P₃ + W₃ = W₁ + W₂ + W₃

(1) P₃ = W₁ + W₂

Essa equação vale tanto para a reprodução simples como para a reprodução ampliada.

Assim como Marx, Kalecki supõe que os trabalhadores não poupam; além disso,
desconsidera-se a acumulação de estoques de bens não vendidos.

Adicionando-se P₁ + P₂ a ambos os lados da equação 1, obtém-se a equação dos lucros:

P₃ = W₁ + W₂
P₁ + P₂ + P₃ = P₁ + P₂ + W₁ + W₂
P = (P₁ + W₁) + (P₂ + W₂)

23
(2) P = I + Cc

Sejam w₁ = W₁/I, w₂ = W₂/Cc e w₃ = W₃/Cw, obtém-se, a partir da equação 1, a equação


do consumo dos trabalhadores:

P₃ = W₁ + W₂
Cw – W₃ = W₁ + W₂
Cw – w₃ . Cw = w₁ . I + w₂ . Cc
(1 – w₃) . Cw = w₁ . I + w₂ . Cc

(3) Cw = (w₁ . I + w₂ . Cc) / (1 – w₃)

Por meio da equação 3, obtém-se a equação da renda nacional:

Y = I + Cc + Cw

(4) Y = I + Cc + (w₁ . I + w₂ . Cc) / (1 – w₃)

Conclui-se que, dada a distribuição da renda entre lucros e salários nos três departamentos
(w₁, w₂ e w₃), o investimento (I) e o consumo dos capitalistas (Cc) determinam os lucros
(P, equação 2) e a renda nacional (Y, equação 4) que se podem vender/realizar.

I, Cc (variáveis independentes) ⇒ P, Y (variáveis dependentes)

III

As repercussões de um aumento em I e Cc dependem da existência ou da inexistência de


capacidade ociosa no DIII:

i) havendo capacidade ociosa no DIII:

Cw = (w₁ . I + w₂ . Cc) / (1 – w₃)

↑ I, ↑ Cc ⇒ w₁, w₂ e w₃ constantes, ↑ Cw

ii) não havendo capacidade ociosa no DIII:

24
Cw = B = (w₁ . I + w₂ . Cc) / (1 – w₃)

↑ I, ↑ Cc ⇒ Cw = B constante, ↓ w₁, w₂ e w₃

IV

A acumulação uniforme de capital ou reprodução ampliada pode ser descrita pela equação
da acumulação:

(5) I = (r + d) . K

Em que:

I: investimento bruto
r: taxa de acumulação líquida
d: taxa de depreciação
K: estoque de capital

Considerando-se o crescimento a longo prazo, pode-se postular que o consumo dos


capitalistas (Cc) é proporcional aos lucros (P). Assim, dada a equação 2, tem-se que o
consumo dos capitalistas (Cc) mantém uma relação constante com o investimento (I):

Cc = m . I

Dada a equação 4, tem-se:

(6) Y = I . (1 + m + [(w₁ + m . w₂) / (1 – w₃)])

Dada a equação 5, tem-se:

(7) Y = K . (r + d). (1 + m + [(w₁ + m . w₂) / (1 – w₃)])

Sempre que w₁, w₂ e w₃ não se alterarem, isto é, sempre que houver capacidade ociosa no
DIII e a capacidade produtiva dos três departamentos se expandir à mesma taxa, a renda
nacional (Y) manterá uma relação constante com o estoque de capital (K).

25
Com uma dada relação entre a capacidade produtiva e o estoque de capital, o grau de
utilização do equipamento de capital é constante. Assim, se na posição inicial o
equipamento for utilizado satisfatoriamente, essa situação se manterá no decorrer da
reprodução ampliada e não surgirá o problema da demanda efetiva.

A obra de Michal Kalecki representa uma importante contribuição à teoria econômica


contemporânea. Seu sistema analítico, baseado nos esquemas de reprodução de Marx,
proporcionou uma solução coerente ao problema da realização da mais-valia, ou seja, a
determinação da demanda efetiva, que até então ninguém havia conseguido desentranhar
dos textos de Marx. Elaborou a partir daí um modelo endógeno das flutuações
econômicas, valendo-se do princípio de ajustamento do estoque de capital como
determinante das decisões de investimento.

Sua teoria da distribuição de renda a curto prazo está relacionada com o grau de
monopólio, e diretamente ligada à determinação da demanda efetiva. Pôde assim criticar
a fundo a proposição neoclássica de redução dos salários como forma de eliminar o
desemprego, mostrando como as influências monopolísticas impedem em parte a redução
subsequente dos preços, provocando uma queda no poder de compra dos salários, na
produção e no emprego.

26
A escola da Economia Matemática e a Teoria dos jogos

Teoria dos Jogos


(John Von Neumann)

John von Neumann (1903-1957) foi o génio matemático que conceptualizou a Teoria dos
Jogos.

A Teoria dos Jogos é a ciência da estratégia, usando um paradigma matemático e da lógica


para racionalizar as ações que os "jogadores" devem escolher para garantir os melhores
resultados para si mesmos, usando uma ampla gama dos "jogos" possíveis.

A teoria dos jogos é uma teoria matemática utilizada para modelar fenômenos que se
manifestam quando dois ou mais agentes de decisão interagem entre si. Ao utilizar esses
modelos, podemos formular uma linguagem comum aos mais diferentes tipos de jogos, o
que facilita o estudo e análise dos resultados dessas interações. Apesar de ser um campo
de estudo ligado à matemática, os campos em que se aplica esta teoria é diversificado.

Esta teoria trata apenas dos chamados jogos de estratégia, isto é, aqueles cujos resultados
não dependem somente de chance, mas sobretudo, da habilidade de cada jogador

Von Neumann trabalha nos domínios da Teoria dos Jogos, da mecânica e lógica Quantum,
da ciência computacional e dos sistemas auto-reprodutíveis.

"Qualquer um que considere métodos aritméticos de produção de dígitos aleatórios é,


naturalmente, em um estado de pecado. Pois, como já foi apontado várias vezes, não há
como um número aleatório - existem apenas métodos para produzir números aleatórios,
e um procedimento aritmético rigoroso, é claro, não é esse método" - John von Neumann

A Teoria dos Jogos fez grandes contribuições para vários campos de aplicação, incluindo
matemática, física, economia, informática, heurística e estatística.

John von Neumann trabalhou na filosofia da inteligência artificial com Alan Turing e
facilitou as descobertas mais importantes do século como o computador moderno, a teoria
dos jogos, os autómatos celulares, a bomba atômica, o radar e muitas mais.

"Se as pessoas não acreditam que a matemática é simples, é só porque não percebem o
quão complicada é a vida." - John von Neumann

27
O Modelo da Teoria dos Jogos

O modelo da Teoria dos Jogos de Von Neumann e Morgenstern, partem do princípio de


que o número e a identidade dos jogadores são fixos e conhecidos, assim como as
alternativas possíveis baseadas na função do seu valor de utilidade.

A Teoria dos Jogos é utilizada para compreender o processo de decisões racionais em caso
de conflito e os envolvidos são vistos como jogadores que escolhem opções ou jogadas.

Partindo do princípio de que os jogadores são racionais permite compreender as


estratégias escolhidas e retroações possíveis em função dum resultado esperado por cada
um para maximizar a função utilidade.

Temos conhecimento absoluto de todos os jogadores ou negociadores, o conjunto de


resultados possíveis e suas retroações nos processos de negociação e tomada de decisão.

Os resultados possíveis do jogo para ambos os negociadores são: ganha-Ganha, Perde-


Ganha, Ganha-Perde ou Perde-Perde.

Por isso, é grande a dificuldade em aplicar esses modelos aos sistemas computacionais,
quer pela modulação, quer pela construção, mas que será possivelmente solucionado pela
computação quântica.

Dentre um dos principais conceitos explicados por essa teoria está o fato de que antes de
tomar qualquer decisão, colocar-se no lugar dos concorrentes e imaginar a sua reação é
uma das principais atitudes a se tomar.

Por exemplo, uma empresa pode optar por baixar o preço de seus produtos vendidos de
modo a tentar aumentar o seu volume de vendas. No entanto, quando os outros
concorrentes souberem dessa situação, tenderão a fazer o mesmo que a primeira empresa,
mitigando a estratégia da mesma

No entanto, quando os outros concorrentes souberem dessa situação, tendem a fazer o


mesmo que a primeira empresa, mitigando essa estratégia.

A teoria dos jogos é uma teoria matemática utilizada para modelar fenômenos que se
manifestam quando dois ou mais agentes de decisão interagem entre si. Ao utilizar esses

28
modelos, podemos formular uma linguagem comum aos mais diferentes tipos de jogos, o
que facilita o estudo e análise dos resultados dessas interações. Apesar de ser um campo
de estudo ligado à matemática, os campos em que se aplica esta teoria é diversificado.

A teoria dos jogos foi iniciada por John Von Neumann, cuja primeira análise matemática
dos jogos de salão apareceu em 1928. Em colaboração com O. Morgenstern publicou, em
1943, o famoso tratado Theory of Games and Economic Behavior, de grande
repercussão entre matemáticos e economistas.

Esta teoria trata apenas dos chamados jogos de estratégia, isto é, aqueles cujos resultados
não dependem somente de chance, mas sobretudo, da habilidade de cada jogador.

Como usar a teoria dos jogos?

A teoria dos jogos provocou uma revolução na economia, pois abordou problemas
cruciais em modelos econômicos anteriores.

Por exemplo, na economia neoclássica era difícil entender a antecipação do


empreendedorismo e não conseguia lidar com a concorrência imperfeita.

Dessa forma, essa nova teoria conseguiu desviar a atenção do equilíbrio estacionário para
o processo de mercado. Por isso é importante saber como aplicar teoria dos jogos em
negócios e finanças.

Nos negócios, a teoria dos jogos é benéfica para modelar comportamentos concorrentes
entre agentes econômicos.

De maneira geral, as empresas possuem várias opções estratégicas que afetam a sua
capacidade de obter ganhos econômicos. Por exemplo, as empresas podem enfrentar
dilemas como desenvolver novos produtos ou desenvolver novas estratégias de marketing
para os antigos.

Desse modo, para solucionar esse problema, muitos economistas costumam usar a teoria
dos jogos para entender o comportamento das empresas de um oligopólio.

Algumas empresas conseguem crescer continuamente até dominar o seu mercado,


ocupando a maior parte do market share. No entanto, para que isso ocorra é preciso de
uma estratégia dominante, da qual o movimento das outras empresas não influencie nos
resultados desta.

29
Vale a pena usar a teoria dos jogos?
Primeiramente, é preciso notar que, no mercado, de maneira geral, as empresas vivem em
um mercado competitivo.

Sendo assim, conhecer os outros concorrentes passou a ser uma estratégia vital para essas
companhias, de forma a prever formas de diferenciação e de tirar vantagens de
abordagens não antes vistas.

Portanto, a teoria dos jogos veio para tentar solucionar muitos dos problemas observados
no cotidiano, interligando conceitos de diversas áreas.

Desse modo, acredita-se que a sua aplicação é de grande serventia para as pessoas de
maneira geral, independente da área de atuação.

Entretanto, vale notar a importância da teoria dos jogos, pois ela é aplicável não só nos
investimentos, mas em diversas outras áreas da vida.

Comportamento Económico
(John Von Neumann)

Como é bem conhecido, o mérito maior do modelo de von Neumann está na elegância da
solução matemática de um problema teórico bastante complexo. Ele trata,
simultaneamente, de diversas questões que, para muitos economistas, não eram vistas
como componentes de um mesmo problema ou cuja dificuldade supera o instrumento
requerido para tal análise — a topologia.

Do ponto de vista teórico, von Neumann se preocupa com a escolha de níveis de


atividades que permitam a expansão uniforme de uma economia que produz ”n” bens
através de “m” processos (n < m) envolvendo retornos constantes de escala, em um
esquema de produção conjunta. Sua atenção centra-se na possibilidade de um valor
máximo para a taxa de crescimento de tal modelo.

Naturalmente, em um mundo econômico com mercadorias produzidas conjuntamente, se


as taxas de crescimento das mesmas são distintas, não existe sentido operacional no
conceito de taxa de crescimento uniforme a menos que seja introduzido um complicado
problema de números índices.

As preocupações essenciais do modelo de von Neumann podem ser assim sumarizadas:

30
● (i) possibilidade de uma trajetória de expansão uniforme máxima;
● (ii) eficiência intertemporal da mesma;
● (iii) significação normativa de tal trajetória. Sua resposta a essas questões requer
um tratamento formal intrincado. Ele se concentra no rigor do argumento
matemático, no enunciado completo e sem ambiguidades das hipóteses relevantes
e nas conclusões decorrentes.
Essa abordagem austera e compacta, despojada de ilustrações exemplificadoras, ou de
elementos descritivos na forma literária, sugere razões da dificuldade encontrada por seus
contemporâneos em avaliar certas questões de fundo tratadas por von Neumann.

Segundo Romer (1995: 67), pode-se suspeitar que esse longo hiato entre a apresentação
original do trabalho e sua publicação definitiva pode ser atribuído à percepção, por parte
de von Neumann, de que o problema formal (modelagem) envolvido era demasiadamente
trivial para um grande matemático. Essa, no entanto, não nos parece ser a percepção
correta. Na prova da existência do equilíbrio, von Neumann utiliza um novo instrumental
analítico, que é uma generalização do teorema do ponto fixo de Brouwer.1 O uso de
desigualdades em vez de equações, a adoção do critério “max-min” associado à teoria dos
jogos, assim como a concepção da dualidade entre preços e quantidades, além da própria
técnica formal da prova, sugerem que o autor valorizava não apenas o conteúdo
matemático inovador de seu modelo mas também a generalidade, do ponto de vista da
teoria econômica, do mesmo.

1. FUNDAMENTOS DO MODELO DE VON NEUMANN

Como já vimos, von Neumann trata a atividade econômica do ponto de vista da produção
conjunta e a partir de um sistema de desigualdades lineares. Seu conceito de produção
conjunta não se limita ao caso trivial de bens que não podem ser obtidos separadamente
tal como, digamos, lã e carne de carneiro, que têm um papel apenas subsidiário na análise
econômica (Teixeira, 1998: 283). Ele trata as mercadorias (inclusive a força de trabalho)
como insumos no início do processo produtivo e como resultado da própria atividade no
final do período uniforme de produção. Assim, o produto dos trabalhadores de cada “ano”
é igual à nova produção mais o que sobra dos insumos utilizados. Sua abordagem permite

31
tratar tanto do capital fixo como do circulante, podendo descrever o desgaste e a
depreciação via diferentes estágios (bens distintos) no próprio processo produtivo.

O modelo de von Neumann requer cinco regras de comportamento:

● (i) da lucratividade;
● (ii) dos bens livres;
● (iii) do sistema produtivo;
● (iv) da taxa de juros (ou lucro);
● (v) dos sistemas de preços.
A primeira garante que serão utilizados apenas aqueles processos cujos preços de
produção e taxa de juros impliquem lucros extras (supernormais) nulos.

A segunda estabelece que, em equilíbrio, aquelas mercadorias cuja produção exceda a


taxa de expansão da economia são bens não escassos e, logo, têm preço nulo. Essa regra
não se aplica à força de trabalho, cujo wage bundle (pacote salarial) é dado exogenamente
e independente tanto dos preços relativos como do nível de emprego.

A terceira regra indica que o sistema de produção efetivamente utilizado terá maior taxa
de expansão (equilibrada) que qualquer outro possível.

A penúltima mostra que, em equilíbrio, a taxa de juros (lucro) é igual à taxa de expansão
da economia.

A regra final anuncia que, em equilíbrio, o sistema de preços estará associado a uma taxa
de juros cujo valor é menor ou igual a qualquer sistema alternativo de preços.

FORMULAÇÃO MATEMÁTICA E EXTENSÃO DO MODELO

Nas versões correntes da teoria do crescimento baseadas no modelo de von Neumann, em


grande parte derivadas do trabalho de Kemeny, Morgenstern e Thompson (1956),
algumas das hipóteses restritivas do modelo original foram afrouxadas. Por exemplo, foi
removida a necessidade de ”C” ser uma matriz positiva, substituindo-a pela proposição
de que cada linha de ”A” e coluna de “B” devem conter pelo menos um elemento positivo.
Com isso é contornada a restrição original de cada processo requerer insumo positivo de
todos os bens, o mesmo valendo para o produto. Essa nova formulação também flexibiliza

32
a necessidade de a força de trabalho ficar limitada a receber apenas o salário de
subsistência.

Morgenstern e Thompson, em dois trabalhos publicados em 1969 e 1976, generalizaram


ainda o modelo para o caso de uma economia aberta. O esforço nessa direção foi
completado por Lös (1974). Nessas novas versões fica contornada a necessidade de todas
as mercadorias superproduzidas serem bens livres, já que os preços das mesmas não
devem cair abaixo dos seus respectivos preços de exportação ou subir acima dos de
importação.

Uma das generalizações mais interessantes, do ponto de vista neoclássico, consiste em


introduzir decisões de consumo por parte das famílias e decisões de investimento por
parte das firmas. No contexto desse marco teórico, é possível obter um completo modelo
de equilíbrio geral multiperíodo.

Outra possibilidade, agora associada à abordagem ricardiana, é salientar aspectos


distributivos, reconsiderando o modelo de von Neumann à luz da teoria sraffiana, na qual
fica explicitado o esquema de repartição do produto líquido entre salário e lucro. No caso
simplificado em que os processos produtivos (lineares) são todos baseados na produção
simples (não conjunta), foi provado por Lombardini e Nicola (1974) que a inclusão de
decisões individuais de consumo não prejudica a integridade da fronteira taxa de salário-
taxa de lucro, desde que exista um único fator primário. Estendendo essa análise para a
situação em que existe produção conjunta, apenas os pontos fixos de uma certa
transformação particular são soluções do modelo de von Neumann com demanda final
exógena.

Como é bem conhecido, Sraffa (1960) utilizou sistemas de produção conjunta nos quais
o número de processos utilizados é igual ao número de mercadorias — como
consequência da minimização de custos. Como argumenta Schefold (1998: 195), para
comparar os sistemas de Sraffa e von Neumann, os primeiros economistas ricardianos
usavam o conceito de crescimento equilibrado, com a taxa de lucro se igualando à taxa
de expansão. Nas contribuições mais recentes, sobre tal comparação, tornou-se possível
flexibilizar essa restrição, e permitir que a taxa de lucro seja superior à de crescimento.
Este tema é explorado por Schefold (1988) e Bidard (1991).

Uma vez mencionadas certas relações e diferenças entre von Neumann e Sraffa, é
necessário voltar a atenção para Leontief (1951). Para esses três autores, a produção é o

33
centro do sistema econômico, concebido como um processo circular. O objetivo essencial
de Leontief é descrever e quantificar a estrutura de uma economia real através de um
modelo linear que opera com o par de matrizes (A e B) de insumo e produto,
respectivamente. Quando cada processo se refere à produção de apenas uma mercadoria,
a matriz B fica reduzida à matriz identidade. Neste caso, o modelo de Leontief pode ser
visto como um caso particular de von Neumann. Uma questão central refere-se à
possibilidade de substituir a forma extensiva, como base da produção conjunta, pelo
modelo na tradição de Leontief, envolvendo produção simples. A abordagem do tipo von
Neumann-Sraffa lança luzes sobre as dificuldades envolvidas.

O problema da diferenciação entre consumo proveniente dos lucros e aquele decorrente


dos salários tem sido outra preocupação que parece se constituir em linha promissora de
pesquisa.

von Neumann e Morgenstern, os autores argumentam em sua obra que na física as vezes
surgem teorias buscando estabelecer bases para um sistema universal, porém, não haveria
progresso se os pesquisadores se concentrassem no estabelecimento de grandes sistemas
universais. Não se aplicando a economia, dada como uma área muito menos
compreendida, e em um estágio anterior se comparada com a física. Dessa forma, a
economia necessita de uma teoria micro, que busque resolver os problemas individuais,
para posteriormente partir-se para um sistema geral. Os autores acreditavam que para o
entendimento dos problemas econômicos era necessária uma nova matemática, diferente
das formulações de Walras sobre os equilíbrios dos mercados. Assim, a matemática dos
jogos ao ser aplicada no comportamento humano era fundamental para aos processos
econômicos (SOUSA, 2005).

“[...] fiquemos cientes de que atualmente não existe um sistema universal de teoria
econômica e que, se alguém desenvolver, muito provavelmente não será durante a nossa
vida. A razão para isso é simplesmente isso. A economia é uma ciência muito difícil para
permitir sua construção rapidamente, especialmente tendo em vista o conhecimento muito
limitado e a descrição imperfeita dos fatos com os quais os economistas estão lidando.
[...] temos que notar que as diferenças em questões científicas tornam necessário o uso de
métodos variáveis que possam ser posteriormente descartados se forem oferecidos
melhores. Isso tem uma implicação dupla. Em alguns ramos da economia, o trabalho mais
frutuoso pode ser o de descrição cuidadosa e paciente; [...] em outros, pode ser possível

34
desenvolver uma teoria de forma rigorosa, e para esse fim, pode ser necessário o uso de
matemática.” (VON NEUMANN; MORGENSTERN, 1944).

Conforme observado e anteriormente, os autores buscam fortemente a utilização da


matemática em economia, e ainda, destacam a necessidade de um rigor metodológico, e
de como a matemática supriria essa necessidade, pensamento característico do
positivismo. E argumentam que:

A matemática realmente foi usada na teoria econômica, talvez até de forma exagerada.
Em qualquer caso, seu uso não tem sido bem-sucedido. Isso é contrário ao que se observa
em outras ciências. [...] Não é que exista uma razão fundamental pela qual a matemática
não deve ser usada em economia. Os argumentos voltam-se ao elemento humano, dos
fatores psicológicos, etc., ou porque - supostamente – não há nenhuma medida de fatores
importantes. [...] Quase todas essas objeções foram feitas, ou podem ter sido feitas, há
séculos em campos onde a matemática agora é o principal instrumento de análise. Existem
muitos cientistas sociais que se opõem ao desenho de tais paralelos em vários motivos,
entre os quais geralmente é encontrada a afirmação de que a teoria econômica não pode
ser modelada como a física, uma vez que é uma ciência do fenômeno social, humano, tem
que levar em consideração a psicologia, etc. Essas declarações são pelo menos
prematuras. É sem dúvida razoável descobrir o que levou ao progresso em outras ciências
e investigar se a aplicação dos mesmos princípios não pode levar ao progresso em
economia também.

[...] é essencial perceber que os economistas não podem esperar um destino mais fácil
do que o que aconteceu aos cientistas em outras disciplinas. [...] e tentar estabelecer
teorias que explicam e que realmente se adequam a padrões científicos rigorosos. Nós
podemos ter confiança suficiente para que, a partir daí, a ciência da economia cresça
ainda mais.” (VON NEUMANN; MORGENSTERN, 1944).

O discurso dos autores está na importância da matemática e da quantificação do


comportamento humano. Além disso, ressaltam que em economia, assim como já
ocorrido nas outras ciências, o desenvolvimento se dará através da inserção da matemática
e dos padrões científicos rigorosos.

35
2 O Teorema de Equilíbrio de Nash
(Teoria dos jogos)

A teoria dos jogos é uma teoria matemática utilizada para modelar fenómenos que se
manifestam quando dois ou mais agentes de decisão interagem entre si. Ao utilizar esses
modelos pode-se formular uma linguagem comum aos mais diferentes tipos de jogos, o
que facilita o estudo e análise dos resultados dessas interações.

É um campo bastante ligado a matemática e é o escopo de várias áreas assim como: o


resultado das eleições, a filosofia, antropologia, importantes conceitos económicos, etc.

Jogos

Formalmente falando, um jogo tem alguns elementos básicos: um conjunto finito de


jogadores definido por G = {g1, g2, ..., gn}. Cada jogador gi G possui um conjunto
finito de estratégias Si = {si1, si2, ..., simi}. O conjunto de todos os conjuntos de estratégia
forma, assim, o produto cartesiano
S = ∏ni=1 Si = S1 × S2 × ... × Sn,
chamado de espaço de estratégia do jogo. Para cada jogador gi G existe uma função de
utilidade
Ui: S → R
s → Ui (s)
que nos dá o “bem-estar” ou payoff Ui (s) imagem de um vetor s S para o jogador gi
associado a esse perfil de estratégia.
Dados esses elementos, podemos notar que o resultado do jogo para cada um dos
jogadores gi não depende apenas de suas escolhas individuais, simi, e sim do “encontro”
das escolhas de todos os jogadores de G. Representamos esse encontro pelo vetor s.
O jogo que acabamos de definir possui estratégias discretas e finitas. No entanto, mais
importante para este projeto é trabalhar com jogos em que as opções de estratégia de cada
jogador estejam em conjuntos contínuos e, portanto, todos os jogadores tenham a sua
disposição, infinitas estratégias dentro de um intervalo. Em uma definição mais formal
continua-se com um conjunto finito de jogadores definido por G = {g1, g2, ..., gn}. Cada

36
jogador gi G possui agora um intervalo compacto de estratégias Ii = [ai, bi]. O conjunto
de todos os intervalos forma, portanto, o produto cartesiano
I = ∏ni=1 Ii = I1 × I2 × ... × In,
que podemos chamar de espaço de estratégia contínua do jogo. Vale ressaltar que o espaço
gerado é compacto e convexo, pois é produto de intervalos também compactos e
convexos. Para cada jogador gi G existe uma função de utilidade
Ui: I →
x → Ui (x)
que nos dá o “bem-estar” ou payoff Ui (x) imagem de um vetor x I para o jogador gi
associado a esse perfil de estratégia, em que x = (x1, x2, ..., xn) com xi Ii.

Equilíbrio de Nash

Um equilíbrio de Nash é uma situação na qual, dadas as decisões tomadas pelos outros
competidores, nenhum jogador pode melhorar sua situação mudando sua própria decisão.
Em outras palavras, não há incentivos para tal mudança.

O célebre “dilema dos prisioneiros”, formulado por Albert W. Tucker em 1950,


oferece uma boa ilustração deste conceito.
O dilema surge na seguinte situação: dois suspeitos, “A” e “B”, são acusados de
um mesmo crime. Presos em celas separadas e sem possibilidade de se comunicarem, uma
proposta lhes é feita: cada um deles pode escolher entre confessar ou negar o crime. Se
ambos negarem, serão presos por um ano. Se os dois confessarem, serão presos por três
anos. Mas, se um deles confessar e o outro negar, o que confessou será libertado
imediatamente enquanto o que negou será submetido à pena de 10 anos de prisão. Temos
assim os seguintes resultados:

Confessar Negar

Confessar (-3, -3) (0, -10)

Negar (-10, 0) (-1, -1)


Prisioneiro A

37
Tabela 1: Matriz de payoffs do Dilema dos Prisioneiros

Vemos na matriz de payoffs acima que, atendida a hipótese de ausência de um acordo


prévio entre os prisioneiros, tenha o outro confessado ou negado, é sempre melhor
confessar. Assim, o ponto (Confessar, Confessar) representa um exemplo de equilíbrio de
Nash. Isso fica mais claro analisando a questão do ponto de vista de cada jogador. Eles
raciocinam da seguinte maneira: “O outro prisioneiro pode, assim como eu, negar ou
confessar. Se ele confessar, o melhor que posso fazer é confessar também, já que ficarei
preso por três anos no lugar de 10 anos. Se ele negar, o melhor para mim ainda é
confessar, pois assim estarei livre em vez de condenado a um ano. Nos dois casos, o
melhor é confessar, portanto, eu confessarei”. Como ambos os prisioneiros, se forem
racionais, pensarão dessa maneira, ficarão presos por três anos.
O resultado do dilema dos prisioneiros nos permite fazer observações bastante
interessantes. Não é difícil perceber que o ponto de equilíbrio de Nash não é eficiente no
sentido de Pareto, isto é, existe uma maneira de melhorar a situação de um dos jogadores
sem piorar a situação do outro. De facto, o equilíbrio é o único que não é ótimo de Pareto!
Na verdade, nesse jogo existe uma forma de melhorar a situação de ambos os jogadores
concomitantemente. Se ambos cooperarem se deslocando para o ponto (Negar, Negar)
terão dois anos a menos de pena. Mas por que isso não ocorre? A resposta reside no fato
de que o ponto (Negar, Negar) não obedece à racionalidade. Estando nesse ponto, os dois
terão um incentivo enorme a confessar o crime: sua liberdade. A desconfiança os leva a
confessar o crime.

A Demonstração

Como visto anteriormente na definição de um jogo, o bem-estar de cada jogador não


depende somente da escolha que ele próprio faz, mas também da escolha feita pelo outro
jogador.
A partir destas funções-utilidade, define-se agora como sendo funções tais que, dada a
decisão de um dos jogadores, Φi leva o outro a tomar uma decisão que maximize sua
utilidade. Por exemplo: Φ1 leva x*2 no único x 1 que maximize a utilidade do jogador 1,
ou seja, o ponto (Φ1 (x*2), x*2) será tal que

38
U1 (x 1, x*2) ≥ U1 (x1, x*2) x1 I1

e, equivalentemente, o ponto (x*1, Φ2 (x*1)) será tal que

U2 (x*1, x 2) ≥ U2 (x*1, x2) x2 I2.

É fácil notar que x i é melhor que qualquer outra estratégia à disposição do jogador i dado
que o outro jogador escolheu a estratégia x*j.
Se considerarmos o produto Φ1 × Φ2 obteremos uma aplicação

Φ: I1 × I2 I1 × I2,
que leva o par (x*1, x*2) no par (Φ1 (x*2),Φ2 (x*1)); os pontos fixos desta aplicação serão
equilíbrios de Nash no jogo. Logo a demonstração da existência de um equilíbrio de Nash
se resume a obter um ponto fixo da aplicação Φ1 × Φ2. De facto, o teorema de Nash nos
dá a seguinte informação:

Teorema de Nash:

Todo jogo finito, isto é, com finitos jogadores e um conjunto compacto e convexo de
estratégias, tem uma solução em estratégias mistas.

A prova deste teorema utiliza conceitos que exigem matemática relativamente


avançada. Em nossa demonstração, faremos uma hipótese adicional (a concavidade na
própria estratégia) que facilitará enormemente a compreensão dos passos da
demonstração, mas compromete em muito pouco a força do resultado, que é a prova da
existência do equilíbrio de Nash.
Algumas condições devem ser atendidas para que as Φi sejam realmente funções
bem definidas. Para garantir a boa-definição de Φi, as funções-utilidade U1 e U2 devem
ser contínuas, pois segue então pelo teorema de Weierstrass que existem pontos que
maximizam U1 (∙ ,x*2) e U2 (x*1, ∙ ), já que I1 e I2 são compactos. No entanto, por si só a
continuidade das funções-utilidade não é o bastante para afirmar que cada Φi é função
bem-definida, pois podem existir vários pontos que maximizem Φi nos dados intervalos.
Queremos, portanto, uma condição que garanta a unicidade do ponto maximizante de
utilidade. Essa condição é a concavidade das funções-utilidade em cada estratégia. Como

39
foi mencionado, a demonstração de Nash não tem essa condição como pré-requisito, pois
qualquer jogo finito em estratégias mistas tem solução. No entanto, para nossos objetivos,
ela é altamente válida e simplificadora. Nos termos formais de um jogo definidos
anteriormente, isso quer dizer que, uma vez fixadas as escolhas de todos os outros
x
jogadores “– i”, a função Ui (xi, - i): I1 → que relaciona unicamente as escolhas do
jogador i com sua utilidade deve ser côncava em I1. Observe dois casos extremos:

Figura 4: Figura 5:

Podemos provar que a concavidade implica na unicidade do ponto máximo


demonstrando que se existissem dois máximos, por exemplo, em dado intervalo, a função
não poderia ser côncava nesse mesmo intervalo.
Tome x e y I tal que x ≠ y, ambos pontos de máximo de f: em I, portanto,

f (x) = f (y) ≥ f (z) z I.

Dado 0 < t < 1, da definição de concavidade estrita afirmamos que:

f (t.x + (1 - t). y) > t.f (x) + (1 - t).f (y),

Temos por hipótese que f (x) = f (y) e x e y são máximos, um absurdo, já que esta última
equação nos informa que uma média ponderada qualquer de x e y possui imagem de valor
maior que f (x) = f(y). Tal fato mostra que f só pode ter um máximo em I se f for
côncava.

40
Para garantir a concavidade, bastará para nossos objetivos supor que a segunda
derivada de Ui seja negativa no intervalo [0, 1], uma vez fixada a escolha do outro jogador.
Utilizaremos o teorema do valor médio para provar que f’’(x) < 0 implica em concavidade.
Suponha

f: tal que f´´ (x) < 0 x [a, b].


Sabemos que f é côncava se

f (x) f (a) + f´ (a). (x - a),

ou seja, f é côncava se está localizada abaixo da reta que tangencia f no ponto a, fato
ilustrado no seguinte gráfico de uma f qualquer:

Figura 6

O teorema do valor médio garante que

z (a, b) tal que f´ (z) = f (b) – f (a) / b - a.

Considere f | (a,x] . Pelo teorema do valor médio

z (a, x) tal que f´ (z) = f (x) – f (a) / x - a.

Remanejando a equação obtemos

41
f (x) = f (a) + f´(z). (x - a).

Como, por hipótese, f´´ < 0 e z > a, podemos afirmar que f’ (z) < f’ (a). Temos assim

f (x) = f (a) + f´ (z). (x - a) < f (a) + f´ (a).(x - a),

f, portanto, é côncava.
Estabelecidas as condições para a existência de Φ1 e Φ2, devemos nos voltar agora
para a necessidade de sua continuidade. Para tanto, demonstramos que, com as hipóteses
sobre as quais “construímos” as funções Φi, elas serão sempre contínuas. Utilizando agora
a notação x I1 e y I2, no caso de Φ1, teremos:

Φ1 (y*) = x I1 / U1 (x, y*) ≥ U1 (x, y*) x I1.

Afirmamos que Φ1: I2 → I1 é contínua.


Suponha agora que a afirmação é falsa, ou seja, Φ1: I2 → I1 não é contínua e,
portanto, existe uma seqüência yn I2 tal que

yn → mas Φ1 (yn) → Φ1 ( ).

Tomando uma subseqüência yk de yn temos Φ1 (yk) → em que não é maximizante.


Concluímos que
U1 (Φ1 ( ), ) ≥ U1 ( ) e também que U1 (Φ1 ( ), yn) → U1 (Φ1 ( ), ),

já que U1: I1 × I2 → é contínua. Logo vemos que, para n grande o suficiente:

U1 (Φ1 (), yn) → U1 (Φ1 ( ), ) e U1 (Φ1 (yk), yk) → U1 ( , ), com U1 (Φ1 ( ), ) ≥ U1 ( , ),

o que é um absurdo já que Φ1 foi construída como uma função maximizadora. O mesmo
se pode afirmar a respeito de Φ2. Φi são, portanto, funções contínuas.
Uma vez que a existência e a continuidade de Φ1 e Φ2 estejam garantidas,
precisamos de um argumento para garantir a existência de um ponto fixo de Φ1 × Φ2, ou
seja, de um equilíbrio de Nash. Utilizamos para tanto o seguinte teorema:

Teorema do Ponto Fixo de Brouwer: Seja B conjunto compacto e convexo. Se f: B


B é uma aplicação contínua. Então existe x B tal que f (x) = x.

42
Parte final da demonstração do Teorema de Brouwer. Provaremos o teorema no
caso em que B é uma bola fechada, e tomando como fato a seguinte (e difícil) proposição:
se B é compacto então não existe nenhuma aplicação contínua f: B B tal que f | B =
id| B. A Figura 7 ilustra essa “impossibilidade”:

B Figura 7

Supomos, por contradição, que existe aplicação contínua f: B B tal que f não
possui nenhum ponto fixo, ou seja, f (x) ≠ x para todo x B. Definimos então g: B B
da seguinte maneira: g (x) = interseção com B do segmento de reta que começa em f(x)
e passa por x.

Intuitivamente vemos que g é contínua e, se x B, vale que g (x) = x. Então g é


contínua e g | B = id| B, o que contradiz o fato citado cima.

Figura 8: A função g: B B

43
Como no contexto de nosso jogo o domínio I1 ×I2 é compacto e convexo e a
aplicação Φ: I1 × I2 I1 × I2 é contínua, pois é o produto de duas funções contínuas Φ1
e Φ2, podemos, pelo teorema do ponto fixo de Brouwer, afirmar que existe um ponto
x I1 × I2 tal que Φ ( x) = x, ou seja, que existe um equilíbrio de Nash.
Com um software de otimização, podemos encontrar e calcular os equilíbrios de
Nash dos jogos citados ao longo do trabalho em estratégias mistas.

Figura 9: Representação gráfica do Dilema dos Prisioneiros

44
As Tabelas de Insumo-produto de Wassily Leontief
(1906-1999)

Insumo é o conjunto de todos fatores necessários para fabricação de um produto O


insumo-produto apresenta entre os setores da economia ao registas os fluxos de bens de
serviços e demonstrar as relações intersectoriais dentro do sistema econômico de um país
ou estado. Consiste em uma ferramenta que auxilia os setores público e orivados na
tomada de decisão, pois apresenta indicadores do funcionamento sistêmico da economia
por meio das relações intersectoriais e neste caso das relações entre os estados. O método
de Leontief é o ponto de chegada de uma longa trajetória que remonta a meados do século
XVIII com o Tableau economique de François Quesnay, passa pelas considerações de
Smith, Ricardo e Marx, sobre a interdependência dos mercados, e encontra um momento
privilegiado nas formulações matemáticas de Walras, que pretendeu representar aquela
interdependência por meio do seu complexo sistema de equações simultâneas. Leontief
simplificou as equações, tornou o sistema mais reduzido, inteligível. O método de
insumo-produto é uma adaptação da teoria neoclássica do equilíbrio geral foi
originalmente desenvolvido para analisar e avaliar as relações entre os diversos setores
produtivos e de consumo de uma economia nacional, mas vem sendo aplicado ao estudo
dos sistemas econômicos menores, como uma área metropolitana, ou até mesmo ao
estudo de uma grande empresa individual integrada; também vem sendo aplicado à
análise das relações econômicas internacionais. O método se baseia na chamada tabela de
estatística de insumo-produto, cujo modelo simplificado, representando uma economia
de três setores, segue abaixo:

Para: Setor 1 Setor 2 Indústria Setor 3 Famílias Produto total


Agricultura
Setor 1: 25 20 55 100 Bruhels de
Agricultura trigo
Setor 2: Indústria 14 6 30 50 jardas de
tecido
Setor 3: Famílias 80 180 40 300 Homens

Nas linhas, encontram-se as quantidades (ou valores) que cada setor vende aos demais;
nas colunas, as quantidades (ou valores) que cada setor compra dos demais. Uma tabela

45
de insumo---produto dessa natureza permite caracterizar a estrutura de uma economia
nacional. Essa tabela está expressa em quantidades, mas em geral é expressa em valores
e, quando isso ocorre, ela representa um sistema de Contas Nacionais. Por meio de um
sistema de equações aplicado a essa tabela, Leontief obtém coeficientes que expressam
as características estruturais de um dado sistema econômico. Essas tabelas de coeficientes
expressam a percentagem de cada insumo sobre a produção final de cada setor, como
segue abaixo:

Para: Sector 1: Sector 2: Indústrias Sector 3: Famílias


Agricultura

Sector 1: 0,25 (25/100) 0,4 (20/50) 0,183 (55/300)


Agricultura

Sector 2: Indústrias 14 6 3

Sector 3: Famílias 80 180 4

Quanto maior o número de setores de uma economia nacional descritos nas tabelas de
insumo-produto e melhor a qualidade das informações estatísticas, mais detalhados
podem ser os resultados e as análises sobre essas informações. Elas podem ser úteis, por
exemplo, para avaliar os efeitos das mudanças tecnológicas sobre a produtividade, os
efeitos das mudanças de salários, lucros e impostos sobre os preços, analisar as relações
econômicas inter-regionais e internacionais, avaliar a utilização de recursos naturais e
definir planos de desenvolvimento. Em síntese, poderíamos afirmar que Leontief se
“apropriou” do modelo matemático do equilíbrio geral de Walras, concebido segundo os
pressupostos da concorrência perfeita, e o articulou à abordagem macroeconômica
keynesiana, com o objetivo de obter uma representação do sistema econômico que dotasse
a ação intervencionista de mecanismos de controle mais eficazes e assegurasse base
segura e consistente ao planejamento Insumo-produto permitiam explicar e compreender
o funcionamento da estrutura da economia nacional e forneciam subsídios importantes
para os desafios do desenvolvimento e tarefas do planejamento. Sua convicção na efi
cácia do planejamento não era incondicional, era balizada pelo duplo critério de

46
salvaguardar os valores da democracia, do lucro e da livre empresa e assegurar benefícios
sociais.

A Contribuição Para O Modelo IS-LM de John R.Hicks 1904-


1989

O Modelo IS/LM, Modelo Keynesiano Generalizado (MKG), ou ainda Modelo Hicks-


Hansen, é um instrumento para fins de análise macroeconómica de âmbito didático, cuja
representação num espaço cartesiano procura ilustrar os pares ordenados de taxa de juro
nominal e renda, em que temos equilíbrio de curto prazo no Mercado de Bens e Serviços
e no Mercado Monetário económico. É uma formalização matemática iniciada por John
Richard Hicks baseada largamente na teoria de John Maynard Keynes.
A sigla IS/LM do modelo provém do inglês Investment Saving / Liquidity preference
Money supply. A extensão do modelo IS/LM para uma economia aberta é conhecida por
IS/LM/BP ou Modelo Mundell-Fleming.
O modelo IS/LM é uma tentativa de formalização matemática de sumarizar e descrever e
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de John Maynard Keynes.
Os primeiros passos para a sua modelização aconteceram na Conferência de Econometria
realizada em Oxford em Setembro de 1936, onde Roy Harrod, John Hicks e James Meade
apresentaram as suas propostas de modelização. Depois de ver um ensaio do Harrod, o
Hicks publicou o modelo IS/LM (originalmente LL, e não LM) na revista Econometrica
em 1937, nascendo assim o modelo.
Existem diversas versões do modelo, modificadas para melhor ilustrar uma casualidade
específica ou melhor retratar a economia.
O domínio das versões mais avançadas demanda conhecimentos de economia
matemática, bem como de econometria, permitem calcular estimativas, que podem sofrer
com problemas de causalidade reversa e/ou de tendências desintegradas.
Na macroeconomia keynesiana a igualdade entre o Volume de Consumo Postergado, bem
como o Volume das Inversões Planejadas é válida; ainda que a relação de causalidade
temporal entre ambos os agregados seja de natureza reversa - visto que os produtores não
possuem a prerrogativa de determinar, com exatidão, o quanto aferirão de renda pelas
próximas semanas, após o desencalhe de suas respectivas mercadorias, a priori estocadas.
O volume poupado da renda auferida, a qual se procura prognosticar agora, só será
conhecido a posteriori. Daí o nome da primeira curva: IS, de Investment Saving: o volume
poupado efetivar-se-á após a atuação do efeito multiplicador dos gastos, aqui designado
pela entidade x.
lNo mais, o investimento real igualar-se-á ao planejado se, no decurso da realização das
vendas, não houver encalhe das mercadorias nos respectivos estoques.

47
O modelo IS/LM trabalha sob a hipótese de que o investimento planejado é igual ao
realizado, implicando na nulidade do volume estocado quando o equilíbrio estático-
dinâmico do modelo é satisfeito.
Ao contrário do "velho" modelo clássico agregado, em que o volume de produção
postergado é determinado de forma ex-ante, no modelo IS/LM esse equilíbrio se dará ex-
post.
De fato, a leitura da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda nos leva a concluir
que John Maynard Keynes rebateu, de forma lógica e veemente, o raciocínio implícito da
Teoria dos Fundos de Empréstimo, base na qual Knut Wicksell construiu a análise do seu
"processo cumulativo" - a famosa "conexão wickselliana", a qual relaciona bancos
emissores, oferta de crédito e inflação.
Por sua vez, a curva LM (Liquidity Preference Money Supply), representa a igualdade
que deve ser verificada entre a base monetária (supondo dado o multiplicador dos meios
de pagamento), contabilizada nos passivos dos responsáveis pela gestão do numerário, e
a propensão à liquidez dos agentes econômicos. Com essas ferramentas determinar-se-á
a taxa de juros, entendida como o preço do dinheiro.
Por sua vez, os papéis (ou ativos) do mercado financeiro mantêm relação inversa com o
preço do dinheiro, de modo que, se o dinheiro está mais caro, os agentes econômicos
agirão no sentido de recompor seus portfólios com mais papéis (que seguem sendo mais
baratos por conta da elevação da taxa de juros) e menos dinheiro - que, de fato,
nominalmente, não rende absolutamente nada, por ser ativo prontamente líquido!
Um caso demasiadamente explorado pela literatura corrente é aquele em que a taxa de
juros - de tanto cair por conta de uma política monetária relapsa por parte dos bancos
centrais que detêm o monopólio da emissão do numerário - faz com que a expectativa
para o preço do dinheiro se eleve. Sabendo disso, os agentes econômicos livrar-se-ão da
posse dos títulos, em busca da liquidez absoluta: a isso designamos por "armadilha da
liquidez" (liquidity trap), evidência essa que pode ser verificada atualmente nos EUA,
bem como no Japão desde a quebra do Índice Nikkey, no início dos anos 90.
Keynes acreditava que se a taxa de juros básica de um país descesse abaixo dos 2% ao
ano e por lá ficasse por uma longa temporada, configurar-se-ia uma armadilha de liquidez
(ele mesmo duvidava que, algum dia, isso pudesse acontecer).
O detalhe: ao mesmo tempo em que parece ser "fácil" atirar a macroeconomia em direção
a uma armadilha como forma de salvaguardar o sistema de intermediação de uma
bancarrota generalizada, os japoneses, há mais de 20 anos, estão tentando descobrir como
retirar o Japão da armadilha. Para isso colocaram a relação dívida/PIB acima dos 200%!
No aparato IS/LM as decisões de Política Econômica representam Variáveis Exógenas
que são determinadas pelas Autoridades Monetárias e/ou Executivas; ou seja, faz-se
alusão aos Instrumentos que permitem levar à cabo as medidas tomadas na Esfera da
Decisão.
Uma análise mais rigorosa diria que o Modelo IS/LM segue consubstanciado pela
metodologia do macroeconometrista Jan Tinbergen; no que se refere a tudo aquilo que

48
designamos por "Teoria da Política Econômica" (a necessidade de haver o mesmo número
de instrumentos e metas num sistema de política linearmente independente).
Ainda assim, o modelo padece da "Crítica à Teoria da Política Econômica" atribuída ao
macroeconomista Robert Lucas (Nobel de 1994), por tratar as expectativas dos agentes
econômicos de maneira estática e simplória (ainda que desde os anos 80 existam versões
do IS/LM em expectativas racionais).
No IS/LM o equilíbrio estático-dinâmico da renda agregada é determinado pela interação
(intercessão) entre o lado real da Economia (representado pela curva IS) com o lado
monetário (representado pela curva LM).

49
A contribuição de Paul Samuelson

As contribuições de Paul Samuelson a ciências económicas são amplas, e abrangem tanto


o campo conceitual da economia quanto a sua esfera metodológica.

Conceitualmente, Samuelson redefiniu que seja economia contemporânea ao sintetizar


os preceitos microeconômicos neoclássicos com a microeconomia keynesiana no campo
da metodologia, ele revelou a presença de uma estrutura matemática comum a variados
ramos da economia.

As consequências do trabalho de Samuelson sobre a economia se estendem, portanto, a


muitas áreas. O economista e também prêmio Nobel Kenneth Arrow citou a importância
de Samuelson para a reformulação da teoria do consumo, a teoria do capital, o teorema
não-substituição, da determinação de preços, a análise da estabilidade e dos sistemas
dinâmicos e a economia, enquanto Irving Fisher, outro economista influente, cita a
relevância de Samuelson na teoria do consumo e bem-estar ,equilíbrio geral e
dinâmica, comercio internacional, finanças e macroeconomia.

Samuelson demostrou interesse e fez contribuições importantes em vários assuntos dentro


do estudo da economia.

Em teoria do consumo, ele foi um pioneiro da abordagem da preferência relevada, um


método pelo qual é possível comparar a influência de diferentes políticas sobre o
comportamento do consumidor, para descobrir suas preferências.

Em economia do bem-estar social, ele foi responsável por popularizar os critérios de


Lindahl-Bowen-Samuelson, que permitem decidir se uma ação vai gerar impacto positivo
sobre o bem-estar social.

Em teoria de capital, ele se envolveu na controvérsia do capital de combridge,sendo um


dos principais representantes da visão neoclássica. O debate girava em torno de visões
distintas para o problema da agregação.

Em teria financeira, ele tornou conhecido por desenvolver a hipótese do mercado


eficiente.

50
Em teria das finanças públicas, ele desenvolveu trabalhos sobre a alocação ótima de
recursos em relação de bens públicos privados.

Em economia internacional, ele esteve envolvido no desenvolvimento de dois modelos


de comércio internacional: o efeito balassa-Samuelson e o teorema de stolper-Samuelson.

Em macroeconomia, ele popularizou o modelo das gerações sobrepostas para analisar o


comportamento dos agentes econômicos em vários períodos.

Em economia de mercado, ele foi um grande crítico de Von Hayek, argumentando contra
a oposição à intervenção estatal e afirmando que mercados livres com zero regulação não
se estilizam sozinhos.

Além de suas atividades teóricas, Paul Samuelson também se envolveu ativamente em


questões ligadas à economia dos EUA. Em 2003, ele esteve entre os 10 economistas que
assinaram uma declaração em oposição ao corte de impostos proposto pelo então
presidente George W. Bush.

Paul Samuelson recebeu o Prêmio Nobel de economia em 1970, e o comitê responsável


pela premiação afirmou que, Paul Samuelson ajudou mais do que qualquer outro
economista da sua época, a elevar o nível metodológica e analítico do estudo científico
da economia.

O comitê também apontou que Samuelson demostrou a unidade fundamental entre


técnica analítica e problemas. Essa unidade fica clara pelo fato de que o economista
prestou contribuições relevantes em tantos assuntos diferentes.

Samuelson teve duas obras principais publicadas, a primeira foi o livro Fundamentos da
Análise Econômica, baseando em sua tese de doutorado. A segunda foi o livro-texto
Economia: Uma Análise Introdutória, considerado um dos mais vendidos na área de
economia de todos os tempos. Esse foi o segundo livro-texto nos EUA a tentar explicar
os princípios da Economia Keynesiana.

O economista Kenneth Arrow descreve a obra de Samuelson da seguinte forma: “É o


único exemplo que conheço de uma tese de doutoramento que é um tratado. Talvez
deva dizer, de um tratado que tem tanta originalidade em cada uma das suas partes
que tem o direito de ser aceito como uma tese”.

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Bibliografia

https://pt.economy-pedia.com/11035320-post-keynesian-school

https://www.scielo.br/j/ee/a/qKLn4ZwB3YrTQJbTZ6tcBBQ/?lang=pt

https://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_IS/LM

https://itr.ufrrj.br/portal/wp-content/uploads/2017/10/t70.pd

https://itr.ufrrj.br/portal/wp-content/uploads/2017/10/t70.pdf

https://www.fep.up.pt/docentes/joao/material/micro2/micro2_concmonop.pdf

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Teoria_dos_jogos

https://wiki.inf.ufpr.br/computacao/doku.php?

id=t:teoria_de_jogos

https://www.blogs.unicamp.br/sobreeconomia/2022/03/02/as-equacoes-marxistas-de-kalecki/

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