Você está na página 1de 11

III semana de pesquisa em artes

10 a 13 de novembro de 2009 art uerj


ensino de arte e cultura

A construção da nação nos quadros de história do século XIX: uma visão


pedagógica

Artur de Almeida Malheiro

História – Universidade Gama Filho

Durante o reinado de D. Pedro II foi formulado o projeto de construção da nação brasileira.


Os quadros de História foram um dos meios de viabilização deste projeto. Este trabalho
propõe a utilização dessa arte no desenvolvimento de uma metodologia de ensino de História,
possibilitando ao aluno identificar teses opostas e elaborar um pensamento e uma leitura crítica
da sociedade.

Quadro de História; Segundo Reinado; Metodologia de ensino.

During the reign of D. Pedro II was formulated the project of construction of the Brazilian nation.
The pictures of History had been one of the ways to achieve this project. This work considers
the use of this art in the development of a methodology of teaching History, making possible to
the student to identify opposing theses and to elaborate a thought and a critical reading of the
society.

Picture of History; Second Reign; Methodology of education.

Em pesquisa realizada nas turmas de Ensino Médio de escolas públicas e


privadas com a qual se tentava buscar os problemas do ensino de História para
esse segmento (2008, Conhecendo o ensino médio), foram identificadas algumas
resistências quanto ao ensino de História por parte dos alunos. Os que não gostavam
da disciplina, se justificaram com as seguintes respostas: “Não gosto”, “Monótona”,
“Só fala do passado”, “Professor autoritário”, “Não gosto de decorar”, “Falta
linearidade”, “Cuspe e giz”, “Não gosto de ler”.
134
Ainda de acordo com a pesquisa, quando solicitados a elencar por ordem de
importância o que eles achavam necessário para se fazer uma boa prova de História,
a ordem das respostas indicadas foi, em primeiro lugar, “ter uma boa memória”; em
segundo, “ler o livro didático”; em seguida, “ter uma opinião crítica sobre o assunto”;
em quarto, “escrever bem”; e, por fim, “colar”. Na opinião dos entrevistados, a
disciplina é ainda vista como um amontoado de textos que devem ser decorados e
não refletidos. A reflexão, geradora de um pensamento crítico, aparece expressa na
resposta que ficou em terceiro lugar. A importância de se ter uma opinião crítica sobre
o assunto é desvalorizada em prol da memória e da leitura do livro didático.
Numa tentativa de aliar aulas mais dinâmicas com a possibilidade de
desenvolver um pensamento crítico, o trabalho com fontes iconográficas revela-se
bastante proveitoso. Sem a pretensão de querer revolucionar o ensino, a ideia é
fazer com que os alunos reconheçam a construção da História a partir da leitura de
quadros de história do século XIX, utilizando para isso um método dialético onde
ele será capaz de identificar teses opostas, possibilitando a elaboração da crítica. O
aluno terá a percepção de que o que foi pintado na tela não corresponde exatamente
à realidade dos fatos, mas sim que aqueles quadros estavam a serviço de interesses
maiores que objetivavam passar uma mensagem específica.
Deve-se ressaltar que foi durante o reinado de D. Pedro II que se formulou o
projeto de construção da nação brasileira. Após a maioridade e a partir de 1850, um
processo centralizador começa a ser articulado no império. Membros da elite saquarema,
de base conservadora, assumem os ministérios e realizam reformas judiciárias que viriam
a concentrar o poder nas mãos dessas elites. Neste momento começa-se a pensar na
construção da nação brasileira e três instituições serão fundamentais: o Colégio Pedro
II, local de formação da intelectualidade brasileira; o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, que propunha demarcar o território nacional e reescrever a História do povo,
valorizando o índio como o antepassado do brasileiro e propiciando o desenvolvimento
de uma literatura e de quadros que tinham por tema o indianismo; e a Academia Imperial
de Belas-Artes. Fomentando artistas como um verdadeiro mecenas, Pedro II teve à sua
disposição artistas plásticos que retrataram o Brasil idílico, por vezes, como nas pinturas
indianistas, ou forte, por outras, como naquelas que retratavam a Guerra do Paraguai.

135 art uerj III semana de pesquisa em artes


Autores como Vítor Meireles e Pedro Américo, financiados pelo governo
imperial, desenvolveram as suas técnicas no exterior e se prestaram a pintar o
Brasil que deveria ser mostrado. Suas guerras eram colossais e seus heróis eram
magnânimos. Esses quadros contavam a história do Brasil na visão do império.
Para uma definição objetiva do que se pode considerar um quadro de história,
Jorge Coli descreve:

constitui-se como o apogeu da arte de pintar, articulando-se diretamente


com o princípio da narração. Trata-se de contar histórias com clareza,
com grandeza; histórias bíblicas, sagradas; histórias dos heroísmos
humanos, presentes e passados; histórias dos poderosos em suas ações
mais magníficas, em seus triunfos soberbos.
A questão é, portanto, a de narrar visualmente. O pintor devia articular
formas visuais significantes, devia inventar cenas, poses, gestos,
ambientes (COLI, 2007, p.51)

Com o desenvolvimento do pensamento crítico, ao analisar esses quadros do


século XIX, para os quais os pintores “deviam inventar cenas”, o aluno deverá ser
capaz de fazer a mesma leitura crítica com imagens que povoam o seu universo nos
dias atuais. Procura-se, portanto, mostrar que a História, muito mais do que simples
decoreba, tem a função de fazer com que se interprete a realidade a partir de um
entendimento mais aprofundado, possibilitando uma ampliação de visão de mundo.
Conhecer é um passo em direção à preservação. Preservar é ter o
entendimento da importância do objeto para a construção da sociedade. E pensar
em sociedade é pensar em inserção. É perceber que tudo acontece a partir de uma
interação pessoal e se perceber agente ativo da História.
A aplicação de um método dialético que visa a desenvolver no aluno um olhar
crítico sobre a sociedade é de suma importância para a formação do cidadão e
está em perfeita consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Médio e com a Lei 9.394, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20
de dezembro de 1996. Em diversos momentos, a LDB ressalta que a educação, de

136 art uerj III semana de pesquisa em artes


uma forma geral, deve ter por finalidade “o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (LDB,
artigo 2). Especificamente, a lei determina que o ensino médio seja o momento em
que deverá ocorrer “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo
a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico” (LDB, artigo 35).
Para atingir os objetivos preconizados pela lei é preciso fazer com que o aluno
reflita sobre o que está estudando e não seja apenas um receptor de informações
passadas pelo professor. Por isso a utilização do método dialético, através do qual
se acredita ser possível fazer com que ele confronte várias realidades e perceba
o quão multifacetado é o mundo em que ele vive. Privilegia-se, neste caso, uma
educação humanista, baseada em princípios estéticos, políticos e éticos, conforme
indicam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Para que essas
premissas sejam verdadeiras, é necessário que o aluno aprenda a conhecer, aprenda
a fazer, aprenda a conviver e aprenda a ser, conforme estabelecem os Parâmetros
Curriculares Nacionais.
Esses preceitos podem ser facilmente observados na metodologia utilizada.
A estética da sensibilidade, por meio da qual o aluno aprende a conhecer e aprende
a fazer, está no próprio objeto de viabilização metodológica, ou seja, os quadros
de História do século XIX. Como diz o PCN, é neste momento que o aluno aprende
a conhecer o seu objeto e, ao mesmo tempo, entender um pouco mais de arte
brasileira, aliada ao aprendizado de História. Aprende também a fazer, já que ele teve
a oportunidade de aplicar a teoria junto com a prática de análise de fonte, construindo
uma História a partir desta análise. O aluno aprende a conviver, visto que ele pôde
desenvolver uma percepção outra da sociedade, mais aprofundada e mais crítica. Por
fim, utilizando esses conhecimentos, pôde formar uma identidade pessoal e coletiva,
aprendendo a ser, inserido no seu tempo e no seu espaço, a partir do estudo de
tempos e espaços do passado. Importante, portanto, é a correlação entre o tempo
passado e o tempo presente nas análises das fontes históricas.
É por meio da História Cultural que se busca, então, o caminho para uma
identidade coletiva. Entendendo a História Cultural como aquela que está ligada às

137 art uerj III semana de pesquisa em artes


práticas e representações sociais, dentro da perspectiva de que as primeiras são
geradas a partir das segundas. As práticas são as ações, as atitudes, dos indivíduos
geradas por suas representações, que são as suas crenças e interpretações.
(CHARTIER, 1990).
Para isso, é importante que as aulas sejam construídas partindo do
conhecimento que o aluno traz a partir da sua experiência de vida, da sua realidade
sócio-cultural e sua visão de mundo. O professor já não é mais entendido como
o detentor absoluto do conhecimento e este deverá surgir das intervenções dos
alunos e da forma como ele entende a realidade proposta. Ao professor cabe o
papel de mediador e orientador, dialogando e trocando conhecimento. Aprendendo e
ensinando.
É no método dialógico, proposto por Paulo Freire, que este trabalho deve
buscar referência. Carlos Rodrigues Brandão, ao tratar do método, ressalta:

Paulo Freire pensou em um método de educação construído em cima da


idéia de um diálogo entre educador e educando, onde há sempre partes
de cada um no outro [...].
Um dos pressupostos do método é a idéia de que ninguém educa
ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação, que deve ser um ato
coletivo [...] não pode ser imposta. Porque educar é uma tarefa de trocas
entre pessoas e, se não pode ser nunca feita por um sujeito isolado [...]
não pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que possui
todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que
não possui nenhum. (BRANDÃO, 2006, p. 21).

Com esse entendimento de processo pedagógico deve-se partir para uma educação
na qual o centro da construção do conhecimento é o aluno, que participa ativamente
com a colaboração da sua própria história.
Já a aplicação do método dialético propõe a problematização do objeto de estudo,
a partir dos diversos entendimentos que podem surgir com a sua análise. Ao fazer
uma análise pela compreensão de teses contrárias, o aluno chega ao conhecimento

138 art uerj III semana de pesquisa em artes


percebendo que a construção da História não se dá por meio de afirmações
absolutamente verdadeiras ou falsas, mas, sim, por um conjunto de múltiplas visões
possíveis acerca de um objeto. Segundo Maria Circe Bittencourt, citando o filósofo
francês Henri Lefebvre,

o método dialético atribui primazia às contradições por essas serem


inerentes ao pensamento humano e manifestarem-se em toda a parte e
a cada instante. (...) A análise, ou seja, a decomposição dos elementos
faz-se pelo ‘pró e o contra, o sim e o não’, e as contradições fornecem
a possibilidade de perceber não apenas os múltiplos aspectos, mas
também os aspectos mutáveis e antagônicos (Bittencourt, 2004, p. 231).

Segundo Vigotski, a relação entre o ser e o meio social é mediada. Isso


quer dizer que o homem se relaciona com o mundo não de forma direta, mas pela
mediação de instrumentos ou de signos. Deve-se, pois, considerar a iconografia
como um signo a ser decodificado. Desta forma, o quadro, a obra de arte, é também
o meio pelo qual a pessoa interage com o mundo.

O que não estamos em condição de compreender diretamente podemos


compreender por via indireta, através da alegoria, e toda a ação
psicológica da obra de arte pode ser integralmente resumida ao aspecto
indireto dessa via. (VIGOTSKI, 1999, p. 35).

A obra de arte é, ao mesmo tempo, meio e linguagem. O aluno a utilizará


para compreender o mundo que ela simboliza. Ao mesmo tempo, ela é a linguagem
pela qual o mundo se comunica com o aluno e ele, em algum momento de sua vida,
por meio dela, se comunicará com o mundo. Mas só o fará a partir da sua leitura e
investigação que, aqui, pretende-se crítica, dialética.
Paulo Knauss lembra que ao se instaurar o processo de investigação na
aprendizagem, elimina-se uma etapa do processo que é o de fixação. A pesquisa é uma
construção do aluno e para essa atividade não é mais necessário que se decore datas

139 art uerj III semana de pesquisa em artes


ou fatos históricos, transformando o aprendizado em um processo mais orgânico.

Considerando-se que o conhecimento é produção do próprio aluno, tudo


é fixação, ao mesmo tempo em que esta perde seu sentido. Por outro
lado, a cronologia e as biografias ganham um novo sentido, pois não é
a sua memorização que interessa, mas a sua interrogação. (KNAUSS,
2007, p. 45).

Pretende-se a aproximação do aluno com a obra, por meio de alguma mídia


eletrônica, e, posteriormente, que ele seja capaz de decodificá-la para entender os
processos históricos. Para Walter Benjamin, é como que retirar a aura da obra de arte
para que ela possa estar cada vez mais próxima de seus observadores. Benjamin
diz que a partir da possibilidade da reprodução técnica da obra de arte, várias
possibilidades estão abertas aos olhos humanos. Pode-se ampliá-la, destacar uma
parte, ressaltar outra. (BENJAMIN, 1994).
Deve-se tomar o cuidado, entretanto, para que a obra de arte não se
transforme em objeto fatal contra a realidade. Arte e realidade são dimensões
distintas e é importante ter em mente a liberdade de representações que a arte pode
dar para a realidade. Segundo Vigotski,

a obra de arte nunca reflete a realidade e toda a sua plenitude e verdade


real mas é um produto sumamente complexo da elaboração dos
elementos da realidade, de incorporação a essa realidade de uma série
de elementos inteiramente estranhos a ela. (VIGOTSKI, 2004, p. 329).

Além disso, a utilização da arte no ensino de História acaba por sensibilizar


o olhar, a vida, dos alunos, a partir da sua observação e entendimento da mesma.
Mais uma vez é Vigotski quem nos chama a atenção para este fato. Ele diz que o
contato com um quadro, por exemplo, pressupõe a existência de três momentos:
a estimulação, que é o primeiro contato, no caso, visual; a elaboração, que é a
interpretação física que o espectador faz do quadro, ou seja, a identificação de que

140 art uerj III semana de pesquisa em artes


aquelas linhas e tintas formam uma paisagem; e a resposta. Esta última é a que faz a
aproximação ou não do aluno em relação ao objeto. Vigotski explica que

há muito tempo os psicólogos vêm dizendo que todo o conteúdo e os


sentimentos que relacionamos com o objeto da arte não estão contidos
nela, mas são por nós incorporados, como que projetados nas imagens
da arte, e os psicólogos denominaram empatia o próprio processo
de percepção. Essa complexa atividade da empatia consiste num
reatamento de uma série de reações internas, da sua coordenação
vinculada e em certa elaboração criadora do objeto. Essa atividade é o
que constitui o dinamismo estético básico que, por sua natureza, é um
dinamismo do organismo que reage a um estímulo externo (VIGOTSKI,
2004, p. 330).

A proposta de estruturação das aulas dá-se, primeiramente, apresentando os


quadros, fazendo uma breve explicação sobre o que eram os quadros de história e
também sobre a arte brasileira do século XIX. Os alunos passam a analisar a obra,
neste caso valorizando o conhecimento que eles trazem a partir suas vivências. Vale,
então, analisar os aspectos externos, como dimensões, formato, cores utilizadas,
nitidez da imagem, passando pelos juízos de valores, como a beleza dos desenhos,
e, principalmente, aqueles aspectos, que chamo de internos, que trazem à tona a
informação que o quadro passa para o grupo de alunos. Ou seja, o que ele “enxerga”
no quadro como meio de informação; que fato da História está sendo retratado
e assim por diante. Cabe ao professor, então, ministrar a sua aula com o auxílio
da imagem e a ajuda dos alunos. As informações preliminares passadas por eles
servirão de base para a aula, pois a partir dela, o professor deverá construir o fato,
utilizando-as como hipóteses para a formação do assunto tratado. Ao final da aula,
os alunos deverão construir um material apontando as incoerências das imagens
estudadas em confronto com o que foi visto em sala de aula junto com o professor.
Pretende-se, dessa forma, chegar a uma construção do conhecimento no seu
sentido mais literal. Como explica Ubiratan Rocha,

141 art uerj III semana de pesquisa em artes


a aprendizagem é um processo em que um sujeito assume,
invariavelmente, uma postura ativa diante do objeto que deseja
apreender, mesmo que o sujeito não tenha plena consciência disso.
É necessário que ele desmonte e torne a montar o objeto, não
necessariamente obtendo o mesmo produto final. Ao se isolar as partes
que compõem o todo, novas combinações podem ser produzidas,
criando-se as possibilidades para as emergências do novo. O
conhecimento é adquirido, desse modo, por meio da ação do sujeito
sobre o objeto que se dá a conhecer. O conhecimento histórico não foge
à regra. Ele segue este mesmo padrão de aprendizagem. (ROCHA,
2007, p. 63).

Como avaliação será solicitado aos alunos que criem uma nova obra de arte,
de livre expressão, desde que envolva imagens. Elas devem representar algum fato
que esteja acontecendo no Brasil ou no Mundo atual. Algum fato que esteja presente
nas páginas dos jornais. Os trabalhos deverão ser apresentados à turma e, da
mesma forma que os quadros do século XIX foram desconstruídos durante a aula,
essas obras produzidas pelos grupos também o serão. Assim, conclui-se o ciclo que
formará a ideia de que a arte é a representação do fato e não ele próprio.
Essa metodologia que busca a utilização da criatividade visa a sublimação
de uma energia latente que não é utilizada em atividades normais do organismo.
Segundo Vigotski,

[...] a criação é a necessidade mais profunda do nosso psiquismo em


termos de sublimação de algumas espécies inferiores de energia. A
mais verossímil na psicologia moderna é a concepção da criação como
sublimação, ou seja, como transformação das modalidades inferiores de
energia psíquica, que não foram utilizadas nem encontraram vazão na
atividade normal do organismo, em modalidades superiores. (VIGOTSKI,
2004, p. 337).

142 art uerj III semana de pesquisa em artes


Vigotski é categórico em afirmar uma espécie de salvação pela utilização
da criatividade na construção de uma obra de arte. Ele explica que a não
utilização dessa energia excedente acaba se transformando em formas anormais
de comportamento, psicoses, que “não significam outra coisa senão o conflito
da aspiração subconsciente não realizada com a parte consciente do nosso
comportamento” (VIGOTSKI, 2004, p. 338). Para ele,

o que fica sem realização em nossa vida deve ser sublimado. Para o
que não se realiza na vida existem apenas duas saídas: a sublimação
ou a neurose. Assim, do ponto de vista psicológico a arte constitui
um mecanismo biológico permanente e necessário de superação de
excitações não realizadas na vida e é um acompanhante absolutamente
inevitável da existência humana nessa ou naquela forma. (Idem, 2004, p.
338).

Os quadros de História do século XIX prestaram-se ao serviço de descortinar


uma outra História, aquela que não foi contada, aquela que o artista, em sua
licença poética, preferiu colorir com toques de imaginação, borrões de criatividade e
pinceladas de luz e sombras.
Ao perceber a construção do artista, o aluno reconstrói o seu pensar e a sua
visão de mundo. Reconstrói também o seu entendimento de História e passa a
reconstruir a sua própria. Reconstrói a leitura da sua vida e a da sociedade na qual
ele está inserido. Percebe os melindres por trás do fato, identifica os meandros dos
acontecimentos e toma consciência de que para se posicionar no tempo e no espaço,
com pleno entendimento da contemporaneidade, ele deve ter visão crítica. O aluno,
ao passo que aprende a ler a obra, passa a ler a vida.
Com uma metodologia que também privilegia a construção de outra obra
artística, o aluno põe em prática o próprio ato de moldar o Mundo como ele o
enxerga, e, assim, compreender que também é artífice de uma produção repleta de
subjetividade e que poderá, e deverá, fazer parte da leitura crítica de tantas outras
pessoas, alunos ou não.

143 art uerj III semana de pesquisa em artes


Se para Vigotski a arte é libertadora de processos psíquicos neurotizantes
(VIGOTSKI, 2004), entendê-la é libertar-se das amarras alienadoras de tantas
imagens geradas no mundo contemporâneo. É neste sentido que segue o trabalho.
Desvelar a História trazendo ao aluno a compreensão de que ele, nela está inserido.

Referências Bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. (Obras
escolhidas) 7. ed. 1 v, São Paulo: Brasiliense, 1994.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 1. ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. Coleção Primeiros Passos; n. 38. 1. ed. São
Paulo: Braziliense, 2006.
BURKE, Peter. O que é história cultural? 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1990.
COLI, Jorge. Como estudar a arte brasileira do século XIX? (Série Livre Pensar) 1. ed. São Paulo:
SENAC, 2005.
______. Introdução à pintura de História. In: MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, 2007, Rio de Janeiro, Anais
do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2007, 39 v.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2006.
KNAUSS, Paulo. Sobre a norma e o óbvio: a sala de aula como lugar de pesquisa. In: NIKITIUK, Sônia
L. (Org.). Repensando o ensino de história. Coleção questões da nossa época; v. 52. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2007.
ROCHA, Ubiratan. Reconstruindo a História a partir do imaginário do aluno. In: NIKITIUK, Sônia L. (Org.).
Repensando o ensino de história. Coleção questões da nossa época; v. 52. 6. ed. São Paulo: Cortez,
2007.
SCHWARCS, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São
Paulo: Cia da Letras, 2006.
VIGOTSKI, L. S. Psicologia da arte. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
______. Psicologia pedagógica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acessado em 19 de outubro de 2008.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino médio. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
seb/arquivos/pdf/cienciah.pdf. Acessado em 19 de outubro de 2008.
Conhecendo o ensino médio. Pesquisa de campo realizada pelos alunos da turma 340 para a disciplina
CSO 922 – Estágio II. Rio de Janeiro, 2008.

144 art uerj III semana de pesquisa em artes

Você também pode gostar