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OLINDA
2012
ALYNNE CAVALCANTE BEZERRA DA SILVA
OLINDA
2012
FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE OLINDA – FUNESO
UNIÃO DAS ESCOLAS SUPERIORES DA FUNESO – UNESF
CENTRO DAS HUMANIDADES
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Orientadora: Profª Eva Maria da Silva
_________________________________________________
Prof(a) Convidado (a)
_________________________________________________
Prof(a) Convidado (a)
OLINDA
2012
FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE OLINDA – FUNESO
UNIÃO DE ESCOLAS SUPERIORES DA FUNESO – UNESF
P. N° 397 de 07/07/97 CNE, modificado pelo P. N° 14 de 06/03/98;
P N° 944 de 15/08/97 DOU de 18/08/97, alterada Portaria N° 174 04/03/98 DOU
06/03/98
Campus Universitário da FUNESO, S/N – Jardim Fragoso
BIBLIOTECA LUIZ DELGADO
FICHA CATALOGRAFICA
42f.
CDU
Agradeço a minha família pelo apoio
durante a elaboração da monografia e
ao Pedro Campos, Roberto Beltrão e a
minha orientadora, Eva Maria da Silva.
Além de todas as pessoas que
estiveram envolvidas direta ou
indiretamente com este trabalho.
À memória de minha avó Rita Bezerra,
que desde cedo incutiu em mim o gosto
por coisas do além através de suas
histórias de assombração.
“Os mistérios que se prendem à
história do Recife são muitos:
sem eles o passado recifense tomaria o
frio aspecto de uma
história natural. E pobre da cidade ou
do homem cuja história
seja só história natural”.
(Gilberto Freyre)
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
The past of Recife houses a rich and extensive collection of tales, myths, legends
and stories reported by the citizens of the city. The hauntings of Recife, contrary to
what thinks popular opinion, were extremely important when it comes to popular
belief most accepted in the decades leading to the occurrence of these cases - 50,
60 and 70. The christianity, specifically Catholicism, housed a significant number of
supporters that had been victims of haunting. With that, we get into a analytical point
of the facts, because according to the dogmas and precepts of religion mentioned,
the belief in haunting and things from beyond, should be ignored, however, it was not
uncommon to see or hear any reports of a catholic running away from haunting. This
contradiction popular and religious caused an impact on Catholicism and the religion
had to create ways to self-affirm about that. The research work will be conducted
from this contradiction between religion and belief in hauntings and the main
methods used by the church in order to safeguard its hegemony.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................12
1. CATOLICISMO X ASSOMBRAÇÕES............................................................17
2. A IGREJA COMO “ANTÍDOTO” E PROTEÇÃO À ASSOMBRAÇÃO..........23
2.1 OS PRINCIPAIS SUBTERFÚGIOS.................................................................23
2.1.1 O PEDIDO DE REZAS E MISSAS..................................................................24
2.1.2 OS SINAIS E JARGÕES RELIGIOSOS..........................................................29
2.1.3 O USO DA TERMINOLOGIA “MILAGRE”.......................................................33
3. O IMPACTO DO CATOLICISMO NA ASSOMBRAÇÃO................................35
CONCLUSÃO............................................................................................................38
REFERÊNCIAS..........................................................................................................42
12
INTRODUÇÃO
normalmente tratavam a lenda com sarcasmo. (A Perna Cabeluda. Dir.: Gil Vicente
Finalizando os capítulos, será feita uma inversão de lados. Muito será dito
à respeito do impacto que essa relação ‘catolicismo x assombração’ gerou dentro da
religião, mas é importante atentar para o que o catolicismo provocou sobre a crença
sobrenatural, tornando alguns de seus fiéis céticos sobre as assombrações e outras
coisas do além, mas essa situação foi contornada pelo velho ditado “Ver para crer”.
Após vivenciar a experiência assombrosa, não havia quem continuasse descrente.
Para concluir a introdução desta pesquisa, é importante salientar que não
é propósito do trabalho afirmar ou negar a existência dos casos estudados, muito
menos prestigiar ou desprestigiar as crenças e religiões aqui apontadas. Como base
fundamental da pesquisa, as assombrações do Recife não serão desmistificadas ou
exaltadas. A pesquisa limitar-se-á em analisar a experiência sobrenatural humana.
Se a vítima da assombração viu, de fato, um ser oriundo da pós-morte ou se a
mesma estava sob efeito de devaneios, ilusões de ótica, alucinógenos, etc. (Como
costumam afirmar os céticos) não cabe à pesquisa responder. Até porque todos
esses relatos foram colhidos através de história oral. E, não diminuindo a
importância dessa forma de busca de informações, mas a história oral é sujeita à
situações emocionais e à memória. Muitas pessoas, ao relembrar os fatos, retomam
as sensações do momento e acabam exagerando na narrativa e pode ocorrer, em
alguns casos, distorções do que realmente aconteceu.
Por isso, a motivação deste trabalho são as sensações, elucubrações e
inquietações causadas pela experiência assombrosa, incitando uma ruptura na zona
de conforto da crença do indivíduo, o que resulta na busca de auto-afirmação por
parte da crença.
17
1. CATOLICISMO X ASSOMBRAÇÕES
Como religião de tantos não praticantes, tantos outros que praticam por
obrigação e poucos que exprimem, de fato, sua fé nas práticas e preceitos, é
importante perceber que, quantitativamente falando, o catolicismo sempre estará em
alta, mas qualitativamente, vemos um grande déficit na mentalidade religiosa de
seus seguidores. Além da falta de apego às práticas religiosas, esse déficit poderia
ser explicado pela falta de leitura bíblica. Os adeptos do catolicismo, em suma, não
possuem a prática de “buscar na fonte”, para adquirir o devido conhecimento sobre a
crença a que se apega.
18
Sobre o contato do povo com a Bíblia, afirma João Fagundes Hauck que
este era feito [...] tão somente por meio de representações, mormente na
época da Semana Santa e Natal. Estabelecia-se dessa forma entre a
população e o Evangelho um relacionamento “de cunho folclórico,
festivo, nos reisados e congadas, e na apresentação do presépio. (idem).
Para essa “classe” de espíritos, com caráter maligno, a igreja não teria
uma explicação senão atribuir-lhes a nomenclatura de demônio, já que esse termo é
muito utilizado no catolicismo, a saber, conhece-se muito sobre a terminologia citada
a partir dos famosos padres exorcistas.
Porém, mesmo com tantas tentativas de fuga no momento de encontrar
explicações para o que é encoberto, todas essas tentativas acabam desembocando
no mesmo lugar, já que Delumeau também fala sobre os demônios e sobre a
também permissão divina para que estes tomem emprestados corpos de cadáveres
(com a ajuda de feiticeiras) para aparecer aos vivos para o bem destes. (p.125).
20
Ginzburg usa em muitas de suas obras, se faz importante, pois quando nos
distanciamos do caso regional, encontramos situações semelhantes, longínquas em
tempo e espaço, entretanto poder-se-á atribuir-lhes as mesmas explicações; tirar-
lhes as mesmas interpelações. Em “Os Andarilhos do Bem”, é encontrado um fato
semelhante aos acontecimentos do Recife. Tomemos como exemplo o caso da
chamada “Anna, a Ruiva”, italiana que via e falava com fantasmas. Em um dos seus
encontros, “a morta lhe havia pedido para transmitir à mãe as suas últimas vontades:
[...] fazer peregrinações a alguns santuários” (2010, p.57).
Note-se que a aparição do além, nesse caso não pede especificamente
uma missa ou uma reza, mas “peregrinações a alguns santuários”. Claro que se
deve levar em consideração o fato de que isso ocorreu em período e lugar diferentes
do nosso recorte de estudo. Mas nota-se um padrão nas aparições de fantasmas.
Esse padrão é voltar-se ao sagrado. Pedir missa, pedir reza, fazer peregrinação à
santuários. Todas essas ações bebem da mesma fonte. Todas essas ações buscam
o auxílio no sagrado, na religião, na fé.
E a mãe da morta realiza o desejo da filha para ajudá-la e para “acalmar o
seu próprio espírito” (idem).
É percebível que nessa situação, a preocupação em atender ao pedido
sacro da alma do além não é só o de fazer o bem unicamente à tal alma, mas o bem
a si próprio. O fantasma tendo encontrado a paz, sua vítima, conseqüentemente,
também a encontra.
Nos relatos reunidos pelo jornalista Roberto Beltrão em seu livro “Histórias
Medonhas d’O Recife Assombrado 1” há também um bom punhado de assombrações
pedindo missas e rezas. Entre eles, o caso de uma assombração que suplicava por
rezas:
Certa noite, enquanto o meu avô trabalhava em seu escritório, minha avó
retirou-se para o seu aposento, que ficava de frente. Já havia deitado
quando, de repente, viu aproximar-se da beira de sua cama a figura de uma
jovem mulher. Era muito alta, bastante magra e suplicava à minha avó que
rezasse por ela. (p.39).
1
Dois livros do jornalista Roberto Beltrão lançados no mesmo ano foram utilizados na pesquisa
bibliográfica, então, para não confundir o leitor durante as citações ao longo do texto, elas serão
tratadas da seguinte forma:
BELTRÃO, Roberto. Histórias Medonhas d’O Recife Assombrado. 2ed. Bagaço: Recife, 2007.
_____. Estranhos Mistérios d’O Recife Assombrado. Bagaço: Recife, 2007b.
27
E os pedidos de missas não param por aí. Observe esta passagem onde
o fantasma manda um recado para determinada pessoa:
É desonesto falar sobre almas pedindo rezas e missas sem citar algo
bastante comum no mundo assombroso e que também se associa ao pedido de
missa: As botijas.
Segundo Roberto Beltrão “a botija é um tesouro em dinheiro, ouro ou
prata que foi escondido em uma residência ou terreno por uma pessoa que já
morreu” (ibidem p. 67), e a tradição de enterrar botijas era bastante comum nas
décadas em questão. O que é interessante ressaltar é que quando um falecido
escondia uma botija, o seu espírito ficava preso ao seu bem material, e isso o
impedia de descansar em paz. Para se livrar desse fardo,
Rezar ou encomendar missas, como foi mostrado, era uma atitude muito
comum para “remediar” a assombração; fazê-la encontrar a paz para que não mais
assole sua vítima. Mas quando essa assombração não surge às pessoas com a
intenção de pedir ajuda ou até mesmo de ajudar? Viu-se que o catolicismo
encontrou lacunas na Bíblia onde ele pôde incutir explicação para a aparição desses
fantasmas que necessitam dessas rezas para que cessem seus lamentos pós-morte
e eles encontrem o caminho da paz.
Porém, Freyre, pesquisadores e cronistas trazem à tona uma classe
diferente de aparições. São assombrações que surgem com a intenção única de
aterrorizar suas vítimas. Dentro dessa classe encontramos fantasmas e outras
criaturas fantásticas que povoaram o imaginário recifense nas décadas de 50, 60 e
70.
Diante dessas situações, as quais as vítimas não recebiam um simples
pedido de missa ou de reza, mas, ao contrário, eram assoladas por sustos, gritos,
risos fantasmagóricos e, em alguns casos mais extremos, agressões físicas, como
buscar, na crença religiosa, uma saída para esse momento assustador?
A solução era bem simples e instintiva: “Benzer-se, fazer o pelo-sinal”.
(FREYRE, 1974, p.126).
Mas é interessante ressaltar que, quando se tratava de espíritos
sofredores pedindo socorro às suas vítimas, a primeira intenção era, de fato, ajudar.
Mesmo sentindo medo. Porém, quando trazemos a assombração para a classe
dessas “aparições malignas”, a primeira reação, nem sempre foi buscar auxílio na
crença, mas antes de tudo, tentar fugir por outros caminhos.
Voltando à narrativa de Gilberto Freyre sobre uma tal “cabra cabriola”,
que nada mais era senão um “bicho de arrepiar de medo ao mais bravo menino.
Deitava fogo pelos olhos, pelas ventas e pela boca” (p. 6).
Ao ouvir rumores de que a cabra cabriola estava por perto, “Gritavam por
pai, por mãe, por vó, por sinhama, por bá; ou se escondiam por baixo dos lençóis;
ou rezavam a Nossa Senhora, faziam o pelo-sinal, diziam o padre-nosso”. (idem)
Nota-se nessa citação de Freyre que, por se tratar de um ser fantástico e
muitas vezes desconhecido pelas pessoas que se contentavam com o que ouviam
30
falar (Afinal, ninguém queria ter o desprazer de cruzar com tal bicho), a solução para
fugir do medo provocado pelo simples rumor de suas aparições, as pessoas
buscaram um tipo de fuga sim, mas percebe-se uma ordem de importância no
momento dessa fuga:
1. Pai;
2. Mãe;
3. Vó;
4. Sinhama;
5. Bá;
6. Esconder-se por baixo dos lençóis;
7. Rezar por Nossa Senhora, fazer o pelo-sinal, dizer o padre-nosso.
E o apego à crença foi o que salvou Josefina, pois, segundo Freyre, o tal
lobisomem tinha mais medo de Nossa Senhora da Saúde “que do próprio Nosso
Senhor”. (idem).
Josefina Minha-Fé passou a carregar no nome uma prova de devoção. No
seu caso, à Nossa Senhora da Saúde (Santa que faz parte do acervo sacro católico)
que a livrou da temível situação, que, por sinal, foi presenciada por terceiros, que
depois desse dia, passaram a acreditar em lobisomens e outras criaturas.
Além de forma de remediar uma situação, o apego à crença pode também
servir como prevenção. Ainda em Freyre, há um exemplo disso e que se torna bem
mais abrangente, pois os sinais religiosos possuem uma preparação ainda maior
que nos outros casos já citados, a saber, pelo uso de velas e cânticos para afastar a
ameaça de um bode vermelho e maligno, diziam ser enviado pelo próprio “capeta”:
Não podemos negar que a “fé” seria o motor de toda essa confiança que
as pessoas tinham ao executar esse tipo de ação diante da assombração. E não o
faziam apenas quando se deparavam com um fantasma, mas também quando havia
alguma ameaça de que determinado local abrigava uma assombração. Realizar
alguma ação de cunho religioso, ou desferir algum dos famosos jargões de apelos
às inúmeras entidades cânones, servia como “prevenção”.
Numa cidade essencialmente católica e povoada por criaturas
desconhecidas, a solução era se prevenir desses mistérios apelando para a crença:
Pelo sim, pelo não, vale mais o excesso de cuidado que o descaso com
o desconhecido. E providências tão simples podem reverter situações
malfazejas. Tudo isso sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição,
do Menino Jesus, da Trindade máxima, Deus, Jesus, Espírito Santo.
(QUINTAS, 2009, p. 21)
Era bem melhor se antecipar à assombração que “pagar para ver”, por
isso que passavam pela calçada do sobrado mal-assombrado da Rua de Santa Rita
32
acontecera. O fato é que esse senhor voltava do trabalho todos os dias com um bom
amigo. No dia em questão, o amigo falecera pela manhã, mas o senhor católico não
havia tomado conhecimento dessa morte. Ignorante, tomou o caminho de costume
para voltar para casa, acompanhado pela alma do amigo, falecido horas antes.
De tão cético sobre coisas que não fossem “católicas”, esse senhor nem
percebeu que se tratava de uma assombração. Ao chegar a casa, recebeu a notícia
da morte através de sua esposa e “com todo seu catolicismo, olhou para ela (com
aquela cara dizendo ‘tá doida, é’?)”. (Ibidem, p. 82). Só acreditou quando leu o
obituário no jornal.
Percebe-se que essa falta de informação dentro da religião, acabada
gerando uma negação nas pessoas ou até um ceticismo em relação ao
sobrenatural. Algo que poderia ser evitado se todas as práticas da igreja fossem
translúcidas aos seus fiéis.
Vale ressaltar que, apesar desse impacto que gerou, à início, um pouco
de ceticismo nos católicos, quando esses tinham a sua própria experiência e
vislumbravam o sobrenatural, mesmo em negação, a crença era creditada à
assombração. É a execução do velho ditado “Ver para crer”. E essa experiência nem
precisava ser especificamente com o cético. Foi mostrado o caso da Josefina Minha-
Fé que foi atacada por um lobisomem. Pois bem, Freyre cita que esse ataque
aconteceu na frente de outras pessoas: “[...] Aos gritos da negrota, acudiram os
homens que estavam à porta da venda. Inclusive, o português que, não acreditando
em bruxas, passou a acreditar em lobisomem”. (p. 34).
O coração não sente o que os olhos não mostram, já dizia o dito popular,
mas quando o indivíduo defrontava-se com a aparição, não havia ceticismo que
resistisse.
Dessa forma, analisa-se que o impacto da negação que a religião
causava na assombração durava até o momento da ocorrência. Entretanto, muito
embora muitos recifenses tenham presenciado essas situações, nesse vai-e-vem de
opiniões sobre a existência (ou não) de espíritos e criaturas fantásticas, o maior
impacto (e mais negativo) deixado na assombração e, ainda hoje, sentido, foi a
banalização desses casos.
Ao falar de assombração recifense, não são poucos os que a tratam com
trivialidade, o que é lamentável, a saber, por tudo que foi estudado até agora.
37
CONCLUSÕES
uma missa para que este encontre a paz. Tudo isso deságua para esse mecanismo
de defesa. A vítima faz com a assombração tudo que possa para livrar-se da
aparição, caso ela queira voltar; ou para que, no futuro, não precise passar pelo
temível purgatório antes de encontrar o céu.
Mas quando a igreja se deparava com situações que não se encaixariam
à classe de almas necessitadas de ajuda, como foi aludido, havia a prática de tratá-
las como demônios. Outra crença abrigada pela igreja, já que, para a classe de
demônios, havia a remediação a partir dos padres exorcistas.
Demônios, almas penadas, espíritos zombeteiros, criaturas fantásticas,
enfim, todos esses rótulos partem de um denominador comum: O Sobrenatural.
Como título desse trabalho “O Sagrado e o Sobrenatural”, tratamos o
sagrado como a igreja ou a religião e o sobrenatural como as assombrações do
Recife. No entanto sabe-se que a religião abriga também o conceito de sobrenatural
por abrigar práticas não naturais ou não explicáveis, racionalmente falando, como os
exorcismos e o próprio Museu das Almas do Purgatório.
Mais complicado é, então, analisar a situação de um cético ou ateu diante
da assombração. Se não há esse medo de ir para o purgatório, ou pior, para o
inferno, o que provocaria o medo instintivo nesse tipo de vítima?
Roberto Beltrão trouxe um relato de ataque da famosa Perna Cabeluda
(que não se encaixaria, nesse contexto, à espíritos ou almas, já que a Perna
Cabeluda é fruto de criação popular, o que a caracteriza como lenda, mas pode ser
tratada tal como os lobisomens; criaturas fantásticas).
A Perna desmembrada de um corpo que a sustente, aterrorizou um
professor de física que estava de passagem pelo Alto de Santa Isabel e sofreu o
infortúnio de ter o seu carro quebrado num local que não conhecia muito bem. Ao
sair do automóvel para buscar ajuda, o professor sentiu que alguém/algo o
perseguia, “Anos de crença nas verdades da ciência, de apego ao materialismo
racionalista, desmoronaram quando o professor distinguiu a figura insólita da ‘Perna
Cabeluda’. Abobalhado com a descoberta, o mestre foi alvo fácil do chute que a
assombração desferiu bem no seu traseiro”. (BELTRÃO, 2007b, p.57).
Não foi objeto da pesquisa buscar os casos de quebra de ceticismo, mas
é interessante mencionar isso, já que também houve a presença do medo. Medo do
desconhecido, medo da visualização de algo nunca antes acreditado? Só um estudo
mais aprofundado poderá responder a essa questão.
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REFERÊNCIAS
ARMSTRONG, Karen. Breve História do mito. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.
_____. Histórias Medonhas d’O Recife Assombrado. 2.ed. Recife: Bagaço, 2007.
GIL, Vicente. [et. al.] A Perna Cabeluda. Dur.:16:46. Recife: Center e Parabólica
Brasil, 1996. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=LPAemJpowSg>
Acesso em: 26 de Agosto de 2012