Você está na página 1de 10

Quedas em mulheres idosas com dor articular

Quedas em mulheres idosas com dor articular


Marlon Francys Vidmar*, Amanda Sachetti**, Michele Marinho da Silveira***,
Rodolfo Herberto Schneider****, Lia Mara Wibelinger*****

Resumo

No decorrer do ciclo da vida, as pessoas de 67 (100%) idosos do gênero feminino,


estão expostas a várias situações que po- 31 (46,27%) têm dor articular e dessas 19
dem levar à perda da autonomia e inde- (61,3%) têm risco de quedas. Das idosas
pendência, sendo a queda acidental e as com dor articular, 16 (51,61%) se enqua-
dores articulares fatores que impedem dram na faixa etária de 60-69 anos; e todas
essa autonomia. Com este estudo quer se essas realizam atividades físicas. Já na fai-
avaliar o risco de quedas em um grupo de xa etária dos 70-79 anos, encontram-se 13
idosas que apresentavam dor no joelho. (41,93%) idosos; dos quais 12 (92,3%) rea-
É um estudo retrospectivo quantitativo de lizam atividades físicas. Portanto, a partir
idosas de um grupo de terceira idade de da análise dos resultados foi possível con-
Passo Fundo-RS e a coleta foi realizada nos cluir que os idosos que apresentavam dor
meses de agosto e setembro de 2009. Fi- na articulação do joelho são os que apre-
zeram parte da amostra 67 indivíduos do sentaram maior risco de quedas e estavam
gênero feminino com idade igual ou supe- na faixa etária dos 60 aos 69 anos.
rior a sessenta anos. O instrumento utiliza-
do para a coleta de dados foi a Escala de Palavras-chave: Acidentes com quedas.
Avaliação de Risco de Quedas de Dowton, Idoso. Mulheres.
e as variáveis estudadas envolvem presen-
ça de quedas anteriores, uso de medica-
mentos, déficit auditivo, visual, alterações
na marcha. Como resultados da amostra

*
Acadêmico de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo. Bolsista Pibic/Universidade de Passo Fundo.
**
Acadêmica de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo.
***
Fisioterapeuta, pós-graduada em Ortopedia e Traumatologia pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos,
mestranda bolsista Capes do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade
de Passo Fundo.
****
Médico, Mestre e Doutor em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. Docente do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica da Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio Grande do Sul.
*****
Fisioterapeuta. Docente da Faculdade de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, doutoranda em
Gerontologia Biomédica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Endereço para cor-
respondência: Rua José Bianchini, no 77, CEP 99930-000. Estação - RS. E-mail: marlonfrancys@msn.com.
Pesquisa realizada na Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo - RS.

Recebido em fevereiro de 2011 – Avaliado em fevereiro de 2011.


doi:10.5335/rbceh.2011.032

RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011 333


Marlon Francys Vidmar et al.

Introdução 2002; FEDRIGO, 1999). Entre as perdas


apresentadas pelo idoso, está a insta-
O crescimento da população de bilidade postural, que ocorre devido às
idosos é um fenômeno mundial e está alterações do sistema sensorial e motor,
sendo ultimamente enfatizado, sobretu- levando a uma maior tendência a quedas
do no que se refere às suas implicações (BARBOSA, 2001; MATSUDO; MATSU-
sociais e em termos de saúde pública. A DO, BARROS NETO, 2000).
Organização Mundial de Saúde (OMS) Dentre os acidentes mais comuns
prevê que em 2025 a população mundial entre os idosos, as quedas são os mais
de pessoas com mais de sessenta anos frequentes e possuem graves consequ-
será de aproximadamente 1,2 bilhões, ências, que podem resultar em isola-
e os muitos idosos (com oitenta anos ou mento social, perda da independência,
mais) constituem o grupo etário de maior necessidade prematura de cuidados
crescimento (WHO, 2005). mais intensivos e óbito (HONEYCUTT;
A população idosa no Brasil vem RAMSEY, 2002). Cerca de 30 a 60% dos
crescendo de forma abrangente. Segundo idosos caem ao menos uma vez ao ano e
dados do Instituto Brasileiro de Geogra- cerca da metade cai de forma recorrente
fia e Estatística (IBGE), a população (PERRACINI; RAMOS, 2002).
com mais de sessenta anos de idade O risco de cair aumenta significati-
representará aproximadamente 11% vamente com a idade, o que coloca essa
da população geral até o ano de 2020 síndrome geriátrica como um dos gran-
(SIQUEIRA et al., 2007). des problemas de saúde pública devido
O envelhecimento manifesta-se por ao aumento expressivo do número de
declínio das funções dos diversos órgãos, idosos na população e à sua maior longe-
o ritmo desse declínio varia de um órgão vidade, competindo por recursos escassos
a outro e também entre idosos de mesma e aumentando a demanda por cuidados
idade. É de fundamental importância de longa duração (PERRACINI, 2005).
discernir os efeitos naturais desse pro- A diminuição, com o envelhecimento,
cesso (senescência) das alterações que diminui a mobilidade funcional e aumen-
podem acometer o idoso (senilidade) ta a propensão a quedas em indivíduos
(NETTO, 1999; CARVALHO; THOMAZ; idosos (BRANDON et al., 2000), e o
NETTO, 2000). desempenho da função muscular está ex-
O envelhecimento é um processo plicitamente comprometido na presença
dinâmico e progressivo, no qual há de dor (HASSAN et al., 2002).
alterações morfológicas, funcionais e Considerando o envelhecimento po-
bioquímicas, com redução na capaci- pulacional e o aumento da expectativa de
dade de adaptação homeostática às vida do idoso, acompanhados de qualida-
situações de sobrecarga funcional, que de de vida, observa-se a necessidade de
alteram progressivamente o organismo estudos que foquem ações preventivas a
e o tornam mais suscetível às agressões fim de minimizar a incidência de quedas
intrínsecas e extrínsecas (CARVALHO, (VERAS, 2003). O presente estudo teve

334 RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011


Quedas em mulheres idosas com dor articular

como objetivo avaliar o risco de quedas idosos com dor articular, 12 (38,7%)
em um grupo de idosas que apresenta- não têm risco de quedas e 19 (61,3%)
vam dor no joelho. têm risco de quedas. Da totalidade de
idosos com dor articular encontrados
Materiais e métodos na pesquisa, 16 (51,61%) se enquadram
na faixa etária de 60-69 anos; desses,
Este estudo é retrospectivo quanti- 16 (100 %) realizam atividades físicas,
tativo, baseado em uma população de somente 1 (6,25%) realizou cirurgia no
1000 idosos, participantes de um grupo joelho, 9 (56,25%) já tiveram quedas an-
de terceira idade da cidade de Passo teriores, 5 (31,25%) utilizam medicamen-
Fundo - RS. A coleta foi realizada nos tos diuréticos e 4 (25%) medicamentos
meses de agosto e setembro de 2009. não diuréticos. Já na faixa etária dos
Fizeram parte da amostra 67 indivíduos 70-79 anos, encontramos 13 (41,93%)
do gênero feminino, pertencentes a um idosos; dos quais 12 (92,3%) realizam
grupo de terceira idade da cidade de atividades físicas, nenhum realizou ci-
Passo Fundo-RS. rurgia no joelho, 9 (69,23%) já tiveram
Os critérios de inclusão para o tra- quedas anteriores, 7 (53,84%) utilizam
balho foram indivíduos idosos do gênero medicamentos diuréticos e 4 (30,76%),
feminino, com idade igual ou superior a medicamentos não diuréticos. Na faixa
60 anos. O instrumento utilizado para etária superior a 80 anos, encontramos
a coleta de dados foi a Escala de Ava- 2 (6,45%) idosos e ambos realizam ativi-
liação de Risco de Quedas de Dowton, dades físicas, nenhum realizou cirurgia
que é constituída por uma pontuação no joelho; os 2 (100%) já sofreram quedas
na qual três pontos ou mais indicam o anteriores, e somente 1(50 %) fazia uso
risco de quedas. As variáveis estudadas de medicamentos diuréticos.
envolvem presença de quedas anteriores, Duas condições devem existir para
uso de medicamentos, déficit auditivo, que ocorra uma queda: perturbação do
visual, alterações na marcha. Este es- equilíbrio e também uma falência do sis-
tudo foi aprovado pelo Comitê de Ética tema de controle postural em compensar
e Pesquisa (CEP) da Universidade de essa perturbação; ocorrem quando uma
Passo Fundo (UPF) conforme determina perturbação interna fisiológica inter-
a resolução nº CNS 196/96, sob registro rompe momentaneamente a operação do
182/2008. sistema de controle postural (FREITAS,
2002).
Resultados e discussão Pessoas de todas as idades apresen-
tam risco de sofrer queda, para os idosos,
A amostra constituiu-se de 67 (100%) contudo, essas possuem um significado
indivíduos idosos do gênero feminino; muito relevante, pois podem levá-lo à
destes, 36 (53,73 %) não tinham dor incapacidade, injúria e morte. Seu custo
articular, sintoma que foi relatado por social é imenso e torna-se maior quando
31(46,27%) participantes. Dos 31(100%) o idoso tem diminuição da autonomia e

RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011 335


Marlon Francys Vidmar et al.

da independência ou passa a necessitar Nascimento et al. (2009) analisaram


de institucionalização (FABRICIO; RO- o número de quedas de acordo com o
DRIGUES; COSTA, 2004; ESTEFANI, sexo; observaram que os idosos do sexo
2007). feminino tinham frequência de quedas
Balbinot et al. (2010) avaliaram 68 de 39,3%, superior aos homens que
indivíduos idosos; desses, 31 (45,5%) apresentavam 25% de risco de quedas.
apresentaram risco de quedas, desses, 24 Já em um estudo realizado no Japão, de
(77,4%) já haviam caído anteriormente. Niino et al. (2003), foram encontrados
Tais dados corroboram o evidenciado valores de 17,2% para mulheres e 8,3%
pelo nosso estudo, que também encon- nos homens, ao passo que na Tailândia
trou incidência de quedas anteriores na encontraram 24,1% e 12,1%, respectiva-
amostra analisada. mente (ASSANTACHAII et al., 2003).
Aproximadamente 30% dos indivídu- As quedas são resultado de um
os com mais de 65 anos de idade caem grande número de fatores extrínsecos
ao menos uma vez por ano, dos quais a e intrínsecos, que perturbam o alinha-
metade de forma recorrente (TINETTI, mento entre o centro de massa corporal
2003; LIU-AMBROSE et al., 2004; GUI- e a base de suporte, fundamental ao
MARÃES; FARINATTI, 2005; MAZO et equilíbrio (SANTOS; PEREIRA, 2003).
al., 2007). Um estudo realizado na Tur- Os fatores de risco intrínsecos estão re-
quia mostra que 31,9% dos idosos caíram lacionados com a saúde do idoso: fatores
pelo menos uma vez no último ano (EVCI hemodinâmicos, doenças neurológicas,
et al., 2006). Esse valor é semelhante doenças osteomusculares, desordens
aos 43% encontrados em outro estudo neurosensoriais e uso de medicamentos.
realizado no país, sobre quedas no ano Os fatores de risco extrínsecos estão
anterior à entrevista, com mulheres que relacionados com problemas ambientais
praticavam atividade física (GUIMA- (BARBOSA, 2001).
RÃES; FARINATTI, 2005). No Brasil, Dentre as diversas funções prejudi-
cerca de 30% dos idosos sofre quedas ao cadas pelo avanço da idade, está a perda
menos uma vez ao ano (PERRACINI; de massa muscular ou sarcopenia. Estu-
RAMOS, 2002). dos sugerem que a sarcopenia é exem-
Setenta e nove casos (46,7%) e 109 plificada por um duplo complexo, entre
controles (34,7%) relataram pelo menos o músculo (miopatia) e o nervo (neuro-
uma queda no ano anterior. Entre os patia) e suas alterações e declínios para
homens, essa proporção foi de 31,4% e esses dois sistemas fisiológicos decorren-
entre as mulheres foi de 41,3%. O grupo tes da diminuição das atividades físicas.
com 80 anos ou mais referiu 64,1% de A mudança nas fibras dos músculos e no
quedas nos últimos 12 meses, contra número de fibras é a provável razão para
36,7% e 33,5% daqueles com 60-69 anos a diminuição da massa muscular. Uma
e 70-79, respectivamente (COUTINHO; das mais perceptíveis manifestações da
SILVA, 2002). perda de massa muscular é a diminui-

336 RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011


Quedas em mulheres idosas com dor articular

ção da habilidade da produção de força mente comprometido na presença de dor


(GUCCIONE, 2002). (HASSAN et al., 2002).
A perda da força muscular em idosos O exercício melhora e mantém a
afeta o equilíbrio, a postura e o desempe- força muscular, aumentando a densidade
nho funcional, aumenta o risco de quedas óssea e diminuindo a dor (MARQUES;
e problemas respiratórios, diminui a KONDO, 1998). Pesquisas feitas na
velocidade da marcha e dificulta ativi- Escola de Medicina da Universidade de
dades da rotina diária (CANDELORO; Indiana indicam que pessoas que fazem
CAROMANO, 2007). exercícios apropriados e regulares para
Entre os 50 e 70 anos, há uma per- manter os músculos do quadríceps mais
da de 15% de força por década (DES- fortes podem ajudar a diminuir a de-
CHENES, 2004; KAUFFMAN, 2001; generação da articulação artrodezada,
BACHIN et al., 2009). A partir dos reduzindo o estresse sobre a articulação
65-70 anos, a perda da força torna-se do joelho, diminuindo, assim, a dor
mais severa, principalmente no gênero (LIMEIRA, 2002). Biasoli e Izola (2003)
feminino, e é responsável pelos conside- descrevem que a reabilitação física
ráveis déficits motores observados em oferece excelente resposta quando bem
indivíduos nessa faixa etária (FLECK; indicada, atuando no controle da dor e
KRAEMER, 1999). na manutenção da função articular e da
A manutenção da força muscular, musculatura que atua na articulação
sobretudo de membros inferiores, é afetada.
um elemento primordial no controle do O risco de quedas pode ser minimi-
equilíbrio e, consequentemente, preven- zado com a prática de exercícios físicos.
ção de quedas (COUTO, 2006). Em um A atividade física tem sido comprovada
estudo realizado por Brandon (2000), como fator de melhora da saúde global do
demonstrou que a diminuição da força idoso, sendo o seu incentivo uma impor-
de membros inferiores com o envelheci- tante medida de prevenção das quedas,
mento diminui a mobilidade funcional e oferecendo aos idosos maior segurança
aumenta a propensão a quedas em indi- na realização de suas atividades de vida
víduos idosos. A fraqueza dos membros diária (BARBOSA, 2001). Por outro
inferiores é comum nos idosos e tem sido lado, a falta da atividade física contribui
identificada como a segunda maior causa ainda mais para a propensão de quedas,
de quedas (MAZZEO et al., 1998). por acelerar o curso do envelhecimento,
A dor prejudica tanto o componente pois algumas modificações fisiológicas e
motor do músculo (movimento, força e psicológicas observadas no idoso podem
ativação) como o componente sensorial ser em parte atribuídas ao estilo de vida
(propriocepção e equilíbrio), desprote- sedentário (GEIS, 2003; SOARES et al.,
gendo assim a articulação nas absorções 2003).
de choques durante a deambulação Os fármacos são utilizados para
(SHARMA, 1999). Por isso, o desempe- tratar e reduzir a morbidade associada
nho da função muscular está explicita- a diversas doenças, entretanto o uso

RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011 337


Marlon Francys Vidmar et al.

concomitante predispõe o idoso aos ris- de quedas. Moura et al. (1999), em seu
cos de seus efeitos aditivos (NOBREGA; estudo, associaram as quedas ao uso de
KARNIKOWSKI, 2005). diuréticos devido à depleção de volume
Estudos anteriores (BLAKE et al., e hipocalcemia, que podem causar hipo-
1998; EVCI et al., 2006; ZIERE et al., tensão ortostática e arritmias.
2006) mostraram que a utilização de O efeito das quedas para a população
medicamentos aumenta a ocorrência idosa, na maioria das vezes, tem como
de quedas. É necessário lembrar que os consequência traumas, fraturas e feri-
idosos que utilizam mais medicamentos mentos, prejuízo à saúde, hospitalização
normalmente são aqueles que já mos- e morte (PERRACINI; RAMOS, 2002).
tram propensão ou necessidade natural Gonçalves (2006), em seu estudo, in-
e, consequentemente, estão submetidos vestigou o problema de quedas em idosos
a maior possibilidade de quedas. Em e sua relação com taxas de mortalidade
estudos realizados por Siqueira (2007), e internações, no qual pôde verificar
observou-se relação direta entre o nú- que as quedas ocupam o terceiro lugar
mero de medicamentos referidos para nas taxas de mortalidade causadas por
o uso contínuo e a ocorrência de quedas agentes externos, e, em relação à morbi-
entre idosos; os que utilizavam mais me- dade, as quedas ocupam o primeiro lugar
dicamentos estavam submetidos a maior entre as causas de internações de idosos,
possibilidade de quedas. A Sociedade totalizando 56,1% das internações em
Americana de Geriatria (2001) aponta hospitais.
que reduções no número e dosagem de O trauma psicológico ou o simples
medicamentos prescritos contribuíriam medo de cair pode levar ao aumento
para a diminuição do número de quedas da dependência e vão levar, por conse-
em idosos que viviam na comunidade e guinte, a uma maior imobilidade, com
institucionalizados. agravamento dos déficits funcionais, à
Brito e Costa (2001) relatam que me- insegurança, à redução da autoestima
dicações como diuréticos, psicotrópicos, e à redução das atividades num ciclo
anti-hipertensivos e antiparkinsonianos vicioso que potencializa o risco de novas
podem ser considerados medicamentos quedas (LIMA, 2006), além de haver
que propiciam episódios de quedas. Isso uma maior dependência de terceiros,
muitas vezes ocorre porque essas drogas isolamento e sintomas de ansiedade e
podem diminuir as funções motoras, cau- depressão (FABRÍCIO; RODRIGUES,
sar fraqueza muscular, fadiga, vertigem 2006).
ou hipotensão postural. O grupo dos As quedas, além de produzirem uma
diuréticos pode facilitar quedas devido importante perda de autonomia e de
à fadiga ou distúrbio hidroeletrolítico qualidade de vida entre os idosos, podem
(ROZENFELD, 2003). Em nosso estu- ainda repercutir entre os seus cuidado-
do, foram encontrados altos índices de res, principalmente os familiares, que
uso de medicamentos, principalmente devem se mobilizar em torno de cuidados
diuréticos, entre os idosos com risco especiais, adaptando toda a rotina em

338 RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011


Quedas em mulheres idosas com dor articular

função da recuperação ou adaptação após that prevent this autonomy. This study ai-
o trauma (COUTINHO; SILVA, 2002). med to evaluate whether the risk of falls in
O aumento da expectativa de vida an older group who had knee pain. It is a
quantitative retrospective study of elderly
e o consequente envelhecimento popu- women from a group of seniors from Passo
lacional aumentam a probabilidade de Fundo-RS data was collected in August and
doenças e dependências, e nem sempre September 2009, comprised the sample 67
está acompanhado pela melhora ou ma- female subjects aged over 60 years. The
nutenção da qualidade de vida. Por esse instrument used for data collection was to
Scale Risk Assessment of Falls Dowton and
motivo, torna-se importante uma inter-
variables involve the presence of previous
venção na promoção da saúde do idoso, falls, medications, hearing impairment,
já que a capacidade funcional e o bem- visual, gait. As results of the sample of 67
-estar são fundamentais no contexto do (100%) elderly women, 31 (46.27%) had
envelhecimento (BACHIN et al., 2004). joint pain, and these 19 (61.3%) are at risk
of falls. Elderly women with joint pain 16
(51.61%) fall in the age group 60-69 ye-
Conclusão ars, 16 of these (100%) perform physical
activities. In the age group of 70-79 years,
A queda é um evento realmente we found 13 (41.93%) patients, of these 12
importante e, devido às influências (92.3%) perform physical activities. There-
extrínsecas e intrínsecas, está presente fore, analyzing the results it was concluded
na vida dos idosos, podendo interferir that the elderly who suffer from pain in the
knee joint are the ones with higher risk of
drasticamente nas atividades da vida
falls and were aged from 60 to 69 years.
diária e consequentemente na qualidade
de vida. Sua alta incidência faz com que Keywords: Accidental falls. Elderly. Wo-
as práticas de saúde sejam repensadas, men.
pois essas retardam o desenvolvimento
dos fatores intrínsecos para a ocorrên- Referências
cia de quedas. Sendo assim, com base
na análise dos resultados, foi possível AMERICAN GERIATRICS SOCIETY. Brit-
concluir que os idosos que apresentavam ish Geriatrics Society & American Academy
dor na articulação do joelho são os que of Orthopaedic Surgeons Panel on Falls
Prevention. Guidelines for the prevention of
apresentaram maior risco de quedas e falls in older persons. Journal of the Ameri-
esses se enquadravam na sua maioria can Geriatrics Society. Malden, v. 49, n. 5,
na faixa etária dos 60 aos 69 anos. p. 664-72, 2001.
ASSANTACHAII, P.; et al. Risk factors for
falls in the Tai elderly in an urban com-
Falls in elderly women with joint pain munity. Journal of the Medical Association
of Thailand. Bangkok, v.86, n. 2, p. 124-30,
Abstract 2003.
During the cycle of life people are expo- BACHIN, A. et al. Programa de fisioterapia
sed to various situations that can lead to educativa na saúde do idoso. Fisioterapia
loss of autonomy and independence, with Brasil. Rio de Janeiro: Atlântica, ano VIII,
an accidental fall and joint aches factors n. 67, set./out., 2004.
???
RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011 339
Marlon Francys Vidmar et al.

BALBINOT, N.; BIAZUS , M.; WIBELIN- DESCHENES, M. R. Effects of aging on


GER , L. M. Avaliação do risco de quedas muscle fibre type and size. Sports Medicine.
em idosos. Revista Brasileira de Ciências do v. 34, n. 12, p. 809-827, 2004.
Envelhecimento Humano. Passo Fundo, v. 7, ESTEFANI, G. A. Perfil de idosos atendidos
n. 1 , p. 34-41, jan/abr, 2010. em ambulatório de geriatria segundo a ocor-
BARBOSA, M. T. Como avaliar quedas em rência de quedas. 2007. 118f. Dissertação
idosos? Revista Associação Médica Brasi- (Mestrado em Gerontologia) – Universida-
leira. São Paulo, v. 47, n. 2, p. 85-109, abr./ de Estadual de Campinas, Faculdade de
jul, 2001. Educação. Programa de Pós-Graduação em
BIASOLI, M. C.; IZOLA, L. N. T. Aspectos Gerontologia, Campinas, 2007.
gerais da reabilitação física em pacientes EVCI, E. D.; ERGIN, F.; BESER, E. Home ac-
com osteoartrose. Revista Brasileira de cidents in the elderly in Turkey. The Tohoku
Medicina. São Paulo, v. 60, n. 3, p. 133-136, Journal of Experimental Medicine. Japan,
março, 2003. v. 209, n. 4, p. 291-301, 2006.
BLAKE, A. J.; et al. Falls by elderly people at FABRÍCIO, S. C. C.; RODRIGUES, R. A.
home: prevalence and associated factors. Age P. Percepção de idosos sobre alterações das
Ageing. Oxford, v. 17, n. 6, p. 365-72, 1988. atividades da vida diária após acidente por
BRANDON, L. J.; et al. Effects of lower queda. Revista Enfermagem UERJ. Rio de
extremity strength training on functional Janeiro, v. 14, n. 4, p. 531-537, out/dez, 2006.
mobility in older adults. Journal of Aging FABRICIO, S. C. C.; RODRIGUES, R. A.
and Physical Activity. New Jersey, v. 8, n. 3, P.; COSTA, M. L. Causas e conseqüências
p. 214-27, 2000. de quedas de idosos atendidos em hospital
CANDELORO, J. M.; CAROMANO, F. A. público. Revista de Saúde Pública. São Paulo,
Efeito de um programa de hidroterapia na v. 38, n. 1, p. 93-99, fev, 2004.
flexibilidade e na força muscular de idosas. FEDRIGO, C. R. A. M. Fisioterapia na ter-
Revista brasileira de Fisioterapia. São Car- ceira idade – o futuro de ontem é a realidade
los, v. 11, n. 4, p. 303-309, 2007. de hoje. Reabilitar. São Paulo, v. 4, n. 1,
N. CARVALHO F., E.T. de. Fisiologia do En- p. 18-26, 1999.
velhecimento. In: PAPALÉO NETTO, M. FLECK, S. J. E.; KRAEMER, W. J. Funda-
de Gerontologia: A velhice e o envelhecimento em mentos do treinamento de força muscular. 2.
visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 2002. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999, 375p.
p. CARVALHO, E.; THOMAZ F.; NETTO, M. P., FREITAS, E. V. Tratado de Geriatria e
Geriatria: Fundamentos, Clínica e Terapêuti- Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara
ca. São Paulo: Atheneu, 2000. 788p. Koogan, 2002.
COUTINHO, E. S. F.; SILVA, S. D.; Uso de GEIS, P. P. Atividade Física e Saúde na
medicamentos como fator de risco para fra- Terceira Idade: teoria e prática. São Paulo:
tura grave decorrente de queda em idosos. Artmed, 2003, 278p.
Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, GONÇALVES, D. F. F. Avaliação do equilí-
v. 18, n. 5, p. 1359-1366, set/out, 2002. brio funcional de idosos de comunidade com
COUTO, F. B. D. Perfil de idosos ativos par- relação ao histórico de quedas. 2006. 89 f.
ticipantes de um grupo de terceira idade do Dissertação (Mestrado de Gerontologia), Uni-
município de Itu que sofreram quedas. 2006, versidade Estadual de Campinas, Faculdade
114f. Dissertação (Mestrado em Gerontolo- de Educação. Programa de Pós-Graduação
gia) – Universidade Estadual de Campinas, em Gerontologia, Campinas, 2006.
Faculdade de Educação. Programa de Pós-
-Graduação em Gerontologia, 2006.

340 RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011


Quedas em mulheres idosas com dor articular

GUCCIONE, A. A. Fisioterapia Geriátrica. MAZZEO R. S. et al. Exercício e atividade


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. física para pessoas idosas. Revista Brasileira
GUIMARÃES, J. M. N.; FARINATTI, P. T. V. de Atividade Física & Saúde. Londrina, v. 3,
Análise descritiva de variáveis teoricamente n. 1, p. 48-78, 1998.
associadas ao risco de quedas em mulheres MOURA, R. N.; et al. Quedas em idosos:
idosas. Revista Brasileira e Medicina do Es- fatores de risco associados. Revista de Ge-
porte. São Paulo, v. 1, n. 5, p. 299-305, 2005. rontologia. Porto, v. 7, n. 2, p. 15-21, 1999.
HASSAN, B. S.; et al. Effect of pain reduc- NASCIMENTO, B. N.; et al. Risco para que-
tion on postural sway, proprioception, and das em idosos da comunidade: relação entre
quadriceps strength in subjects with knee tendência referida e susceptibilidade para
osteoarthritis. Annals of the Rheumatic Dis- quedas com o uso do teste clínico de intera-
eases. v. 61, n. 5, p. 422-8, 2002. ção sensorial e equilíbrio. Revista Brasileira
HONEYCUTT, P H.; RAMSEY, P. Factor de Clinica Medica. Rio de Janeiro, v. 7, s.n,
contributing to falls in elderly men living in p. 95-99, 2009.
the community. Geriatric Nursing. v. 23, n. NETTO, M. P. Gerontologia: a Velhice e o
5, p. 250-257, 2002. Envelhecimento em Visão Globalizada. São
KAUFFMAN, T. L. Manual de reabilitação Paulo: Atheneu, 1999, 524p.
geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- NIINO, N.; KOZAKAI, R.; ETO, M. Epide-
gan, 2001, 416p. miology of falls among community-dwelling
LIMA, R. A. Ortopedia e Traumatologia. 1a elderly people. Nippon Ronen Igakkai Zashi.
edição, Rio de Janeiro: Roca, 2006. v. 40, n. 5, p. 484-6, 2003.

LIMEIRA, S. C. Benefícios dos exercícios con- NOBREGA, O. T.; KARNIKOWSKI, M. G. O.


tra resistidos para idosos com osteoartrose de A terapia medicamentosa no idoso: cuidados
joelho. Digital Vida & Saúde. Juiz de Fora, na medicação. Ciência & Saúde Coletiva. Rio
v. 1, n. 2, p. 2-8, out./nov. 2002. de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 309-313, 2005.
precisa PERRACINI, M. R. Prevenção e manejo de
LIU-AMBROSE, T.; et al. Resistance and
env iar agility training reduce fall risk in women quedas no idoso. In: Guias de Medicina Am-
o nome aged 75 to 85 with low bone mass: a 6-month bulatorial e Hospitalar UNIFESP- Escola
randomized, controlled trial. J Am Geriatr Paulista de Medicina. São Paulo: Manole,
por 2005.
Soc. V. 52, n. 5, p. 1-9, 2004.
extenso
MARQUES, A. P.; KONDO, A. A fisioterapia PERRACINI, M. R.; RAMOS L. R. Fatores
na osteoartrose: uma revisão de literatura. associados a quedas em uma coorte de idosos
Revista Brasileira de Reumatologia. São residentes na comunidade. Revista de Saúde
Paulo, v. 38, n. 2, p. 83-90, mar/abr, 1998. Pública. São Paulo, v. 36, n. 6, p. 709-16,
2002.
MATSUDO, S. M.; MATSUDO, V. K. R.;
BARROS NETO, T. L. de. Impacto do Enve- ROZENFELD, S. Prevalência, fatores
lhecimento nas variáveis antropométricas, associados e mau uso de medicamentos
neuromotoras e metabólicas da aptidão fí- entre idosos: uma revisão. Cadernos de
sica. Revista Bras. de Ciência e Movimento. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 19, n. 3,
Taguatinga, v.8, n.4, p.21-32, 2000. p. 717-724, 2003.

MAZO, G. Z. et al. Condições de saúde, inci- SANTOS, T.; PEREIRA, J. A. Quedas quando
dência de quedas e nível de atividade física e por quê? Revista Portuguesa de Medicina
dos idosos. Revista Brasileira de Fisioterapia. Geriátrica. Porto, v. XV, n. 154, junho, 2003.
São Carlos, v. 11, n. 6, p. 437-442, dez, 2007.

RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011 341


Marlon Francys Vidmar et al.

precisa
SHARMA, L. Proprioceptive impairment in
env iar Knee osteoarthritis. Rheum Dis Clin North
o nome Am. v. 25, n. 2, p. 299-314, 1999.
por SIQUEIRA, F. V.; et al. Prevalência de que-
extenso das em idosos e fatores associados. Revista
de Saúde Pública. São Paulo, v. 41, n. 5,
p. 749-756, Out, 2007.
SOARES, A. V.; et al. Estudo comparativo
sobre a propensão de quedas em idosos ins-
titucionalizados e não-institucionalizados
através do nível de mobilidade funcional.
Fisioterapia Brasil. São Paulo, v.4, n.1,
p. 12-16, jan./fev., 2003.
precisa
TINETTI, M. E. Falls in Elderly Persons. N
env iar Engl J Med. V. 348, n. 1, p. 42-9, 2003.
o nome VERAS, R. Em busca de uma assistência ade-
por quada a saúde do idoso: revisão da literatura
extenso e aplicação de um instrumento de detecção
precoce e de previsibilidade de agravos.
Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,
precisa v.19, n.3, p. 705-713, maio/jun, 2003.
env iar ZIERE, G.; et al. Polypharmacy and falls in
o nome the middle age and elderly population. Br J
Clin Pharmacol. v. 21, n. 2, p. 218-23, 2006.
por
extenso WORLD HEALTH ORGANIZATION. En-
velhecimento ativo: uma política de saúde.
Tradução Suzana Gontijo. Brasília: Organi-
zação Pan-Americana da Saúde, p. 60, 2005.

342 RBCEH, Passo Fundo, v. 8, n. 3, p. 333-342, set./dez. 2011

Você também pode gostar