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FUNDAMENTAIS
RESUMO
11
Delegado de Polícia Civil, Mestrando em educação pela Universidade de Lusófona de
Humanidades e Tecnologias de Portugal. Professor de direito penal da CESREI Faculdade. e-
mail: iasley_cesrei@hotmail.com.
1 INTRODUÇÃO
O tema, ora proposto, vem à tona com bastante força nos nossos dias frente às
recomendações do Ministério Público Federal dirigidas às polícias civil e militar, no
sentido de impedir a exposição indevida de presos pela imprensa, recolhendo-o a
viaturas ou ao interior das instalações policiais, sempre que possível, ou condicionando
o acesso ao interior das instalações policiais à não realização de imagens não
consentidas, além da proibição de entrevistas com qualquer preso, exceto com o
consentimento deste, determinando que o registro de qualquer imagem só poderá ser
gravado com o prévio consentimento do preso.2
Ressalte-se que essas recomendações destinam-se apenas às filmagens e
registros para fins jornalísticos, que se destinam à divulgação pública.
Desse modo, criou-se um impasse de ordem constitucional a respeito da
exposição de pessoas presas na imprensa pela polícia.
Essa exposição violaria o direito fundamental a imagem, vida privada e honra
das pessoas? Por outro lado, a proibição da veiculação pela imprensa ofenderia a
liberdade jornalística de informar e os direitos dos cidadãos de serem informados? E o
interesse público que exige uma segurança pública efetiva pode ser descartado?
São essas e outras indagações que justificam a nossa pesquisa e nos propiciam
um largo campo de estudo dos direitos fundamentais e se sua efetiva aplicabilidade no
meio social e jurídico.
A proibição da exposição da imagem de pessoas presas através da televisão ou
jornais, não pode ter por fim absoluto e único preservar sua intimidade e seu direito a
imagem, pois em contrapartida existem outros direitos constitucionais que reclamam
amparo jurídico.
Assim, se de um lado está à preservação da imagem, privacidade e honra das
pessoas, do outro surge à liberdade de imprensa, o direito e der informado, e o direito a
segurança pública, no tocante a necessidade de se descobrir outros delitos que estão com
autoria desconhecida, cuja exposição através dos meios de comunicação contribuirá
efetivamente para elucidação dos fatos criminosos.
A salvaguarda de práticas ilícitas não pode se esconder sob o manto protetivo
de direitos fundamentais, pois no juízo de ponderação de valores constitucionais àqueles
2
Recomendação nº 009/09 – Ministério Público Federal da Paraíba.
que, momentaneamente, estiverem encobrindo a existência de fatos criminosos não
poderão prevalecer sobre o direito à segurança da coletividade.
Hodiernamente, a população de sente refém da criminalidade, que cresce
geometricamente, e assola todos os rincões do Brasil, pois não é mais mazela das
grandes cidades, se infiltrou em todos os lugares e em todas as cidadelas.
Nesse ponto, urge a necessidade de se utilizar um mecanismo moderno e de
difusão em massa que são os meios de comunicação, redes de televisão, jornais, sites,
etc, que transmitem informações a cerca de criminosos para a população, que em uma
relação recíproca ajudam os órgãos de segurança a elucidar infrações penais, no
combate ao crime organizado.
Todavia, não poderá ocorrer banalização e uso incontrolado e exagerado da
imprensa para divulgação da imagem de presos, sendo necessário haver um filtro que
verifique a real e efetiva necessidade de se proceder a exposição dessas pessoas, com o
único fim de contribuir na elucidação de outros crimes, para serem mostrados como
troféus, haja vista que a exibição pode provocar prejuízos irreparáveis.
Certo é que não podemos utilizar a garantia fundamental da inviolabilidade da
imagem e privacidade das pessoas para salvaguardar práticas criminosas e nem muito
menos para impedir a realização da justiça pública, promovendo segurança e paz social.
Daí a necessidade premente de instituição de regas legais definidoras dos casos
e em que circunstâncias poderão ser veiculadas imagens de pessoas presas na imprensa,
através de registros visuais ou de entrevistas, pela polícia, para não gerar incertezas
quanto à incidência do ordenamento jurídico punitivo sobre os supostos autores de
violações aos direitos constitucionais, buscando-se preservar a dignidade da pessoa
humana.
Todavia, não podemos suplantar todo ordenamento jurídico a aplicação irrestrita
e individual de um direito fundamental, pois paralelamente se mostram outros direitos e
garantias com o mesmo valor e importância para a vida social.
A Constituição Federal em seu art. 5º consagra esses direitos fundamentais, nos
seguintes termos:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes do
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e
de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;
XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
3
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 30ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p.
246.
4
Idem, ibidem, p. 247.
eles, deverá prevalecer na situação concreta. Entretanto, esse juízo decisório não se faz
de por abstrata e uniforme para ser aplicada em todas as situações, devendo recair sobre
cada situação em concreto e de acordo com as peculiaridades de cada caso, para se
evitar decisões injustas, para não se dizer absurdas.
Tratando sobre a colisão de direitos fundamentais, o professor Marcelo Novelino
esclarece que “a colisão de direitos ocorre quando dois ou mais direitos abstratamente
válidos entram em conflito diante de um caso concreto, hipóteses na qual as soluções
serão divergentes de acordo com o direito aplicado”5.
Nesta esteira, o novel mestre conclui que a colisão de direitos fundamentais
deverá ser resolvida por um juízo de ponderação de valores constitucionais6.
Esse juízo de ponderação consiste no mecanismo que conduzirá o exegeta na
identificação e análise dos direitos constitucionais em colisão, para, em seguida,
fundado nas circunstâncias do caso concreto, decidir qual terá maior prevalência.
Note-se que um direito não excluirá o outro, apenas se fará um juízo de
ponderação para se verificar qual direito constitucional, diante daquele caso concreto,
terá uma maior intensidade de aplicação, ou seja, mais preferência aplicativa.
Além disto, é de bom alvitre ressaltar que nenhum direito constitucional é
absoluto, todos eles possuem zonas limítrofes de incidência que são estabelecidos por
outros direitos igualmente previstos no texto constitucional.
Neste sentido, adverte Alexandre de Moraes que “os direitos e garantias
constitucionais consagrados na Constituição Federal, portanto, não são ilimitados, uma
vez que encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados pela Carta
Magna”7.
Corroborando este entendimento Kildare Gonçalves Carvalho aduz que:
5
NOVELINO, Marcelo. Direito constitucional. 2ª Ed. São Paulo: Método, 2008, p. 241
6
Idem, ibidem, p. 242.
7
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 46.
8
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional didático. 9ª Ed. Belo Horizante: Del Rey,2003.
Contudo, a decisão quanto à exibição de pessoas presas à imprensa é de
responsabilidade das autoridades policiais incumbidas da função investigativa de
identificar os autores de crimes. Porém, essa decisão deve se basear no binômio
necessidade-utilidade da medida, e observar regras pré-fixadas que venham a preservar
o direito à intimidade e privacidade.
Agora, o que não pode ser aceito é que o Ministério Público venha a querer
controlar a atividade de polícia judiciária, sob a alegação que está exercendo o controle
externo da atividade policial, utilizando de artifícios como uma recomendação, pois
foge do âmbito de suas funções institucionais e impede a realização da segurança da
coletividade que tanto clama por proteção e paz.
3 CONCLUSÃO
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Malheiros,
2008.
BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. 10ª Ed. Rio de Janeiro: campus, 1992.
FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 12ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2008.
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 5ª Ed. São Paulo: Atlas,
2003.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 30ª, São Paulo:
Malheiros, 2007.
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 6ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008.