Você está na página 1de 3

INSTITUTO TEOLÓGICO SÃO PAULO- ITESP

INSTITUTO SÃO PAULO DE ESTUDO SUPERIOR- ISPES

Aluno: José Rafael Rodríguez Franco Turma: 2 ano de Teologia

Disciplina: Liturgia

Professor: Antônio Bogaz Data: 15 de março de 2021

SANTIDADE MANIFESTADA ONTEM E HOJE

Martin de Porres do final do século XVI e início do século XVII. Mulato como a
raça era classificada na época, nasceu na cidade de Lima, Peru, em 9 de dezembro de 1579.
Era filho de Juan de Porres, cavaleiro espanhol da ordem de Alcântara, e de Ana Velásquez,
um panamenho negro livre. Martín cresceu em um ambiente de baixa renda. Devido à sua
condição de mulato, trabalhou como barbeiro e auxiliar de boticário, aprendendo tarefas de
enfermagem, que mais tarde o ajudariam no serviço aos mais necessitados e neles encontrar
o caminho para a sua vocação e o encontro com Deus. Agora, no final do século 19, início
do século 20, da união de Benigno Hernández e Josefa Antônia Cisnero, uma união
romântica de refugiados “llaneros” na pequena cidade de Isnotú, estado de Trujillo-
Venezuela, nasceu uma criança a quem foi dado o nome de José Gregório. Ao contrário de
Martín, "Gollo", como é comumente conhecido naquele país, cresceu em um ambiente de
bom status social. Embora os pais tenham tido oportunidade de casar e viver juntos, aos
oito anos faleceu a mãe de José Gregório. Tal adversidade não impediu que durante os anos
que antecederam a morte da mãe, José Gregório sentiu no seu ser o amor materno e o
desejo de ter Deus no coração a serviço dos mais necessitados. Podemos ver isso em ambos
os personagens, apesar dos muitos anos de vida de diferença um com o outro. O serviço aos
mais necessitados subsiste nos estranhos desses seres que amam a Deus.
Quanto ao modo de vida de Martín e José Gregorio, podemos dizer que Martín se
dedicava à barbearia e à arte da enfermagem, se dedica com profunda paixão. Ao ponto,
que segundo os historiadores, a casa de Martín se enchia de moribundos e infelizes,
implorando ao jovem mulato que aplicasse ao seu ser os seus conhecimentos de medicina.
É preciso lembrar que na época as doenças que dominavam especificamente na cidade de
Lima, Peru, eram: Varíola, Sarampo e Gripe. Na época, essas doenças eram extremamente
perigosas. É por meio dessa arte que Martín descobre sua vocação religiosa. Ora, a
realidade vivida por Martín, no que se refere ao cuidado dos enfermos não é alheia à vida
de José Gregorio, ao contrário de Martín, "Gollo" cresceu em maturidade e estudos, a ponto
de neles se destacar e ser enviado para Caracas, capital da Venezuela, onde se formou em
Medicina com excelentes notas em uma das universidades mais prestigiadas do país, a
Universidade Central da Venezuela (UCV). Depois de terminar seus estudos, ele preferiu
voltar para sua cidade natal para atender seus pacientes lá. Vale ressaltar que tanto Martín
quanto “Gollo” enfrentaram doenças que assolaram seus países em seu próprio tempo e
espaço. Assim como Martín teve que lidar com as doenças de seu tempo, médicos rurais
como ele tiveram que lidar na Venezuela no final do século 19 e no início do século 20 com
doenças como a tuberculose ou a malária, que eram comuns entre a população. Hernández,
ao contrário de Porres, teve a felicidade de obter uma bolsa para concluir seus estudos em
Paris, então na vanguarda da ciência médica. Lá ele conheceu os avanços que traria ao seu
país. Dr. Hernández se destacou como professor e pesquisador, mas o que o fez ganhar
fama entre os setores populares foi seu trabalho na consulta, já que atendia pacientes pobres
de graça. Qualidade comum que destaca esses dois grandes personagens. O médico é
creditado por ter introduzido o microscópio e ter lançado as bases para a bacteriologia e
outros campos científicos até então pouco desenvolvidos na Venezuela.
Estes dois seres de ilustre memória, não só se destacaram e ficaram marcados no
coração dos seus povos, por servirem os mais necessitados. Mas eles também se tornaram
incrustados em cada pessoa por sua espiritualidade e dedicação a Deus. Martín, por meio de
seu serviço aos mais pobres, descobre sua vocação para a vida religiosa, decidindo
ingressar no convento dominicano de "Nossa Senhora do Rosário" na cidade de Lima, Peru.
Devido à sua condição de mestiço e à forte arrogância da época, em 2 de junho de 1603 fez
a profissão religiosa de irmão cooperador e em 1606 fez finalmente os votos perpétuos,
prometendo pobreza, castidade e obediência. Não podendo ser ordenado sacerdote devido à
sua condição racial. Ainda no convento, destacou-se pelo atendimento aos enfermos.
Amava e curava a todos sem distinção de origem étnica (indígenas, espanhóis e negros).
Estar na Ordem Religiosa permitiu-lhe expandir a sua rádio, passando assim por diversos
setores da sociedade limenha. Foi um verdadeiro exemplo de unidade em uma sociedade
fragmentada por vários conflitos. José Gregorio, aplicando seus conhecimentos científicos
aos mais vulneráveis, também descobriu sua vocação religiosa. O distinto médico sentiu
fortemente o desejo de ser padre. Por isso decidiu entrar no mosteiro da Cartuja de Farneta,
na Toscana, Itália, sendo internado em 1908, mas poucos meses depois apresentou sintomas
de uma doença respiratória que o aconselhou a regressar à capital do seu país. Em 1913,
uma segunda tentativa de um seminário romano terminou da mesma forma. Retornou ao
seu país, a Venezuela, e uma vez estabelecido, desenvolveu extenso trabalho clínico e de
pesquisa, e até concluiu um tratado de filosofia. Ao contrário de Frei Martín, o Dr. José
Gregorio não ingressou em nenhuma ordem religiosa ou seminário, mas se dedicou de
corpo e alma ao cuidado dos pobres enfermos, como um leigo comprometido na Igreja
Católica.
Enfim, depois que esses personagens viveram uma vida de dedicação ao cuidado do
outro, à oração assídua e ao encontro com Deus através da realidade humana e espiritual
que ambos os personagens vivenciaram. Frei Martín de la Caridad, como recebeu o título
no final de sua vida, aos 60 anos, faleceu em 3 de novembro de 1639 no convento
dominicano de “Nuestra Señora del Rosario”. Considerou-se que seu enterro foi um dos
mais movimentados da época na cidade de Lima, a tal ponto que tanto na catedral como em
outras igrejas o dispensaram ao som dos sinos. Os seus restos mortais foram sepultados na
cripta da igreja do convento onde permaneceu até ao fim da sua vida. Devido aos extensos
testemunhos levantados na população após sua morte, o Arcebispo de Lima Pedro de
Villagómez iniciou o processo de beatificação. No entanto, a sociedade colonial da época se
oporia à abertura de seu processo, dada sua origem racial. É após a independência do país,
em 1837, que o processo de beatificação pode prosseguir. Foi então que o Papa Gregório
XVI o beatificou e é para o ano de 1962, quando Sua Santidade o Papa João XXIII o
canonizou na Cidade do Vaticano no dia 6 de maio. Seu exemplo de humildade transcende
as fronteiras do tempo, superando as barreiras culturais e raciais existentes na sociedade da
época.
Ao contrário de San Martín de Porres, que depois de uma vida inteira cuidando e
servindo aos pobres, e por causa de uma doença, desistiu de seu ânimo, o doutor José
Gregorio Hernández tinha pressa em atender a um enfermo que precisava de seus
conhecimentos, e quando cruzando uma das quinas da cidade de Caracas, sem perceber um
carro vindo em sua direção, foi investida por ela, o corpo do querido médico caindo
violentamente na calçada aonde a morte veio de repente. Assim, em 29 de junho de 1919.
Na esquina da Amadores, um dos poucos carros que existiam em Caracas atropelou José
Gregorio. Levado ao Hospital Vargas, Razetti, na capital, na companhia dos formandos
Julio García Álvarez e Antônio Briceño Rossi, atesta óbito por traumatismo craniano na
região parietal esquerda com radiação fatal na base. Após atestar sua morte, a notícia se
espalhou por toda a região, a dor pela perda daquele famoso médico foi sentida pela mídia
da época. Após a morte do “médico dos pobres” como é conhecido em todo o país, José
Gregorio Hernández passou a ser objeto de devoção para muitos na Venezuela. Em 1949,
Monsenhor Lucas Guillermo Castillo, Arcebispo de Caracas, iniciou o processo de
beatificação e canonização, em 1972 a Santa Sé reconheceu suas virtudes heróicas e o
declarou “Servo de Deus”. Em 16 de janeiro de 1986, foi declarado "Venerável" por João
Paulo II. No dia 9 de janeiro, a comissão médica da Congregação para a Causa dos Santos
aprovou o milagre atribuído à sua intercessão, e era 27 de abril de 2020 quando a comissão
teológica da Congregação para a Causa dos Santos aprovou por unanimidade o milagre
atribuído à sua intercessão. Foi apenas 30 de abril do mês passado, dia em que ocorreu a
cerimônia de sua beatificação na cidade de Caracas, capital da Venezuela. Este ato que foi
realizado de forma simples, mas carregado de grande sentimento espiritual, em uma
Venezuela atormentada pelo descaso de seus governantes, simboliza a esperança de um
povo que implora a Deus, através deste grande santo, pela cura em todas as suas áreas.
Assim, tanto Martin como José Gregorio são um sinal de confiança, humildade e santidade
para a humanidade, nestes tempos de profunda calamidade.

Você também pode gostar