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PROVAS DE CARGA ESTÁTICAS

(Evolução dos ensaios e cuidados a tomar para evitar acidentes)


(Prática brasileira até a NBR 6122:2010)

Urbano Rodriguez Alonso


1. Introdução

Neste trabalho trataremos apenas das provas de carga estáticas com ênfase para as provas
de carga em estacas. Neste caso não se abordarão os “ensaios de carregamento dinâmico” (NBR
13208:2007) denominados, erroneamente, por vários engenheiros geotécnicos, de “provas de carga
dinâmicas”.

É importante lembrar que o ensaio de carregamento dinâmico (aplicado tanto às estacas


cravadas quanto às “moldadas in loco” após se concretar um bloco sobre as mesmas) não é uma prova
de carga no sentido amplo da expressão pois não mede diretamente o comportamento “carga x
deslocamento” da estaca. O que se mede, nesses ensaios, são as cargas mobilizadas que dependem
da energia aplicada à estaca decorrente dos golpes do pilão com determinada altura de queda e,
mesmo assim, usando correlações (módulo de elasticidade dinâmico médio, seção da estaca (com
avaliação difícil no caso de estacas moldadas in loco), velocidade de propagação da onda, comprimento
real da estaca). Tal não ocorre com as provas de carga estáticas, já que nestas as cargas e os
deslocamentos são obtidos por medidas diretas e não a partir de correlações.

2. Normas pertinentes

Duas são as normas da ABNT que regulam a execução das provas de carga nas estacas:

NBR-12131:2006 – Estacas – Prova de Carga Estática – Método de Ensaio.

NBR-6122:2010 – Projeto e Execução de Fundações.

A primeira especifica os tipos de ensaios e os procedimentos executivos e a segunda define a


quantidade de provas de carga a executar (Tabela 1).

A NBR 6122:2010 especifica que as provas de carga devem ser realizadas sempre nas primeiras
estacas da obra a fim de validar os procedimentos de previsão de comprimento das mesmas ou adaptá-
los em função dos resultados dessas provas de carga.

Esta norma também define os fatores de segurança a serem empregados: fator de segurança de
2,0 para a carga admissível prevista no projeto (usando métodos semi-empíricos) ou fator de segurança
de 1,6 quando a carga admissível é fixada com base em provas de carga, desde que:

a) as provas de carga sejam estáticas;


b) especificadas na fase de projeto e executadas no início do estaqueamento;
c) sejam levadas até, no mínimo, duas vezes a carga admissível prevista em projeto.

Cabe, finalmente lembrar, que a NBR 12131 exige que a estaca a ser ensaiada deva estar
suficientemente documentada e que a realização da prova de carga seja comunicada ao executante das
estacas, ao solicitante dos ensaios e ao projetista das fundações, devendo ser garantido seu acesso em
todas as fases da execução do ensaio.
Tabela 1: Quantidade de provas de carga (NBR 6122:2010)
A b,c, d B b,c, d
Tipo de estaca Tensão (admissível em MPa) máxima Número de estacas da
abaixo da qual não serão obrigatórias obra a partir do qual
provas de carga, desde que o no de serão obrigatórias
estacas da obra seja inferior à coluna provas de carga
B
Pré-moldada a 7,0 100
Aço 0,5fyk 100
Hélice contínua 6,0 (*) 100
Trado segmentado 5,0 50
Escavadas c/ou s/ fluido (Φ≥70 cm) 5,0 75
Escavadas s/fluido (Φ<70 cm) 4,0 100
Raiz e microestacase 15,5 75
Franki 7,0 100
Strauss 4,0 100
(*) corrigido conforme Tabela 4 da NBR 6122:2010
a para o cálculo da tensão admissível máxima consideram-se as estacas vazadas como maciças, desde
que a seção vazada não exceda 40% da seção total.
b
Os critérios acima são válidos para as seguintes condições (não necessariamente simultâneas)
- Áreas onde haja experiência prévia com o tipo de estaca empregado
- Onde não houver particularidades geológicas-geotécnicas.
- Quando não houver variação do processo executivo padrão.
- Quando não houver dúvida quanto ao desempenho das estacas.
c
Quando as condições acima não ocorrerem devem ser feitas provas de carga em no mínimo 1% das
estacas, observando-se um mínimo de uma prova de carga (conforme NBR 12131) qualquer que seja o
número de estacas
d
As provas de carga executadas exclusivamente para avaliação de desempenho devem ser levadas até
que se atinja pelo menos 1,6 vezes a carga admissível ou até que se observe um deslocamento que
caracterize ruptura.
e
Diâmetro nominal

3. Conceito e breve histórico da evolução das provas de carga em estacas

A prova de carga consiste em se carregar a estaca (à compressão, à tração ou horizontalmente)


com incrementos progressivos de carga (P) e medida dos deslocamentos correspondentes (d),
resultando um gráfico carga x deslocamento conforme apresentado na Figura 1.

P
d

Carga (P) d
ESTACA

solo
ESTACA

SOLO

deslocamento (d)

Figura 1: Trajetória de equilíbrio do conjunto estaca-solo (“prova de carga”)


Notas: 1) Utiliza-se o termo deslocamento quando se ensaiam as estacas à tração ou horizontalmente.
No caso de estacas comprimidas o deslocamento, por ser vertical e descendente (portanto
para baixo), é denominado “recalque”.

2) Não confundir deslocamento com deformação. Deslocamento refere-se a uma mudança de


posição de um ponto relativamente a um sistema de referência fixo no espaço. É uma
grandeza vetorial caracterizada por uma direção, um sentido e uma intensidade.

Já a deformação é uma variação de comprimento em relação ao comprimento inicial (∆L/L),


σ ∆L P
como por exemplo ε, na lei de Hooke: ε = ou = .
E L A.E

A comprovação da capacidade de carga das fundações (diretas ou profundas) sempre foi o


grande anseio dos engenheiros diante das dúvidas que os critérios de cálculo usados, geralmente
obtidos a partir dos parâmetros de resistência dos solos (γ, c e φ) “avaliados” e não medidos.

No caso de estacas, no passado, surgiram as fórmulas baseadas na “nega” mas mesmo estas
fórmulas eram questionadas pois se baseavam na Teoria de Choque de Newton que só se aplica aos
“corpos rígidos” o que está longe de ocorrer com uma estaca ainda mais se ela for longa e de pequeno
diâmetro (estaca esbelta). Hoje estas fórmulas são apenas utilizadas por uma questão de “tradição” e
servem apenas para uniformizar o estaqueamento.

A Teoria da Equação da Onda, devida a Smith (1960) representa, mais realisticamente, o


comportamento de uma estaca submetida a um golpe do pilão e dela surgiu o controle pelo ensaio de
carregamento dinâmico (regido pela NBR 13208:2007) e pelo repique elástico.

É importante registrar que no passado as provas de carga era “um acontecimento relevante” e
todos queriam ser fotografados. Para registrar este aspecto mostra-se na Foto abaixo a prova de carga
para avaliar a capacidade de carga do solo das fundações do edifício Martilnelli (1928/29) em SP.

Foto 1: Prova de carga para avaliar a capacidade de carga do solo (Edifício Martinelli)
Me parece importante fazer um resumo da “história” deste edifício (Foto 2) por ser um marco
importante na cidade de São Paulo e pelo envolvimento técnico que teve no início do século quando as
duas grandes cidades, Rio de Janeiro e São Paulo, disputavam a primazia de ter o edifício mais alto do
Brasil. Para tanto me valo do livro do prof. Augusto Carlos de Vasconcelos – “O Concreto no Brasil –
Recordes – Realizações – História” – volume I, editado pela PINI. O prédio situa-se na av. São João,
esquina com as ruas Líbero Badaró e São Bento, à época o lugar mais importante no centro da capital
do café: local movimentado e elegante da cidade, cercado de construções famosas de bancos, jornais,
correios e telégrafos, etc, da elite.

Foto 2: Vista atual do prédio Martinelli

O projeto sofreu muitas modificações e durante a execução das fundações houve grande
dificuldade face ao fluxo da grande quantidade de água que minava do solo, descalçando as fundações
do prédio vizinho tendo havido um início do seu desmoronamento, motivo para embargar a obra.
Martinelli resolveu o problema comprando o prédio e mandando demoli-lo, construindo em seu lugar o
Cine Rosário (Prédio do Cinema, como era conhecido).

Houve falência da firma empreiteira que estava construindo o prédio e a partir daí a construção
passou a ser conduzida por Ítalo Martinelli, sobrinho do Comendador, recém-formado no Mackenzie.
Martinelli que residia no Rio de Janeiro, instalou seu escritório no 9º andar do prédio que passou a usar
nas suas frequentes viagens a São Paulo.

O problema é que Martinelli continuou acrescentando novos pavimentos, levando em conta “suas
amizades” com na Prefeitura, até chegar ao 24º pavimento. Entretanto o eng. fiscal Regino Aragão não
concordava com os aumentos e multou a construtora (no caso, apenas o eng. Ìtalo Martinelli) e
embargou, novamente a obra.

Repentinamente, em 1928, Martinelli resolveu aumentar o número de pavimentos, ao que tudo


indica, motivado pela construção do Edifício “A Noite” no RJ. Diante deste novo fato, os jornais estavam
ansiosos por debater o ocorrido e o assunto tomou conta da população (Figuras 2 e 3).
Figura 2
Figura 3:

Diante de toda a polémica, Ítalo e o próprio Comendador foram visitar o Prefeito, Pires do Rio,
para solicitar a anulação do pedido de embargo. Prontificou-se por escrito a demolir os pavimentos
construídos a mais no caso de se chegar à conclusão de que as condições exigidas de segurança não
fossem satisfatórias. Pires do Rio “deixou-se comover” e declarou aos jornais “O Martinelli não se
embarga! ”. Foi um escândalo. Pode-se imaginar as intrigas que surgiram na população.

E aí, chegamos a prova de carga mostrada na Foto 1 que foi exigida pelos peritos. Nessa foto
estão presentes, entre outros, o Prefeito, o Comendador, Regino Aragão, Toledo Malta e Saboya.

Essa prova de carga, analisada no Laboratório de Ensaios de Materiais da Escola Polytécnica,


(pois o IPT ainda não existia) indicou a necessidade de redução das cargas, quer pela eliminação de
pavimentos, quer pela supressão de paredes internas, fato não aceito pelo Comendador, principalmente
com redução de pavimentos.

Para manter o projeto, Martinelli solicitou parecer de um grupo de engenheiros do Rio de Janeiro
de competência comprovada, entre eles Emílo Baumgart e outros. O laudo correspondente foi emitido
num prazo curtíssimo com conclusão favorável: “a obra satisfaz plenamente às condições de
estabilidade e resistência, tendo sido executada com grande esmero e com materiais de primeira
qualidade”. Não é preciso encarecer que a imprensa explorou o fato com grande estardalhaço, como o
mostram os jornais da época, mas Martinelli, premido pelas circunstâncias, desistiu de construir os dois
últimos pavimentos, reduziu o peso dos materiais usados nas paredes (tijolos furados, pois à época se
usavam tijolos maciços), e o prédio está até hoje sem problemas. Aqueles que se interessam pelo
assunto, recomenda-se não só a leitura do livro do prof. Vasconcelos como a tese de mestrado da arq.
Maria Cecília N. Homem “O Prédio Martinelli, publicada em 1982 por Projeto Associados Ltda.
4. Caminho para a realização de uma Norma de Provas de Carga

Com o advento das estacas tipo Franki como fundação aqui no Brasil a partir de 1935, iniciou-se
por assim dizer um controle da capacidade de carga por meio de prova de carga, sendo a primeira obra
em que se realizou essa prova de carga, nesse tipo de estaca, no Brasil, foi na “Casa Publicadora
Batista” no Rio de Janeiro (Foto 3).

Iniciou-se a partir daí uma fase de provas de carga utilizando-se “cargueiras” que eram
executadas com quaisquer tipos de materiais “pesados” para servir de reação ao carregamento a ser
usada na prova de carga. Nas Fotos 3 a 7 apresentam-se vários tipos de cargueira que ilustram o
estado da arte até a década de 70 onde se começaram, também, a utilizar tirantes ancorados no solo
cujo desenvolvimento se deve ao professor Antônio José da Costa Nunes (da Tecnosolo), conforme se
exporá mais adiante.

Foto 3: Caixão de areia c/ 100 tf (1ª Prova de carga em estacas Franki no Brasil – RJ - 1935)

Foto 4: Cargueira com trilhos (estaca Franki em Kiev, 1.913)


Foto 5: Cargueira com sacos de areia (estaca Franki em Tóquio, 1.926)

Foto 6: Cargueira para prova de carga em tubulão de ar comprimido (1954)


Foto 7: Cargueira com ferro gusa c/ 270 tf (Edif. Banco do Estado de São Paulo - anos 40)

A Franki contratou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para planejar e executar as provas
de carga da sua empresa. Não temos registro para saber se a primeira prova de carga (mostrada na
Figura 4) foi executada pelo IPT (provavelmente não!). O relato de Massad (1985) não faz menção a
essa primeira prova de carga e cita que a primeira (que na realidade é a segunda prova de carga em
estaca Franki) ocorreu em fevereiro de 1936 nas estacas Franki das fundações da Estação da E. F.
Noroeste, em Bauru (ensaio 6.885 do IPT). Ainda segundo Massad o sistema de reação desta prova de
carga constituiu-se em duas outras estacas Franki trabalhando à tração que distavam 1,70 m do eixo da
estaca ensaiada. Massad não menciona os diâmetros nem os comprimentos dessas estacas.

É importante ressaltar que a prova de carga citada por Massad e outras que se seguiram até 1938
foram realizadas pelos engenheiros do IPT que trabalhavam na Seção de Estruturas e Fundações sob a
chefia do prof. Telêmaco van Langendonck. Só a partir de 1938 é que as provas de carga passaram a
ser realizadas pelos engenheiros da Seção de Solos e Fundações desse Instituto, criada por Odair
Grillo, que tinha como assistentes Raimundo de Araújo, Othelo Machado e Milton Vargas.

As provas de carga àquela época eram do tipo rápido, porém não no sentido que existe hoje, pois
eram “muito mais rápidas” conforme se mostra a seguir.
CURVA CARGA-RECALQUE CARGA (tf)
0 10 20 30 40 50 60 70
0

-1
RECALQUE (mm)

-2

-3

recalque não estabilizado

-4

Figura 4: Resultado da prova de carga na estaca Franki de Bauru


O ensaio na estaca de Bauru foi iniciado aplicando-se uma carga de 8,5 tf e medindo-se o
recalque correspondente. A seguir o carregamento foi incrementado por estágios de carga de 12,5 tf, 25
tf, 37,5 tf e 50 tf. As leituras dos recalques eram feitas a cada minuto e o carregamento era mantido até
que não houvesse variação entre duas leituras consecutivas. A descarga foi feita praticamente nas
mesmas cargas de carregamento, até 8,5 tf, realizando-se apenas uma leitura em cada estágio de
descarga. A seguir elevou-se a carga até 50 tf, 62,5 tf e 69,5 tf sendo que nesta carga o recalque não se
estabilizou.

Em 1.937 foi realizada uma prova de carga na Av. Angélica (não tenho o no do terreno) em uma
estaca pré-moldada de concreto armado de seção quadrada com 25 cm de lado e 6,40 m de
comprimento. Nesta prova de carga as leituras foram realizadas a cada 30 segundos (Ensaio Oficial no
8.503 do IPT). O resultado é mostrado na Figura 5.
CURVA CARGA-RECALQUE CARGA (tf)
0 10 20 30 40 50
0

-4
RECALQUE (mm)

-8

-12

-16

Figura 5: Prova de carga na Av. Angélica

Em 1939 foi executada uma prova de carga em uma das estacas Franki do Viaduto do Chá. As
estacas tinham 52 cm de diâmetro, comprimento variando de 8,20 m a 12,63 m e foram as primeiras
estacas Franki executadas com este diâmetro aqui em São Paulo. A prova de carga foi também do tipo
“muito rápida” analogamente às anteriores. O total de tempo entre o carregamento e o descarregamento
foi de102 min (1h e 42 min). O resultado é apresentado na Figura 6, extraída do meu arquivo pessoal.

Nota: Nesta obra cabe um reparo da História das Fundações no Brasil. Apesar do prof. Milton Vargas
(1.996) citar que o primeiro problema de “levantamento” de estacas Franki decorrente da
cravação de estacas próximas (separando o fuste da base) tenha sido no Edifício do Banco do
Estado de São Paulo (Prova de carga mostrada na Foto 7) a realidade é que este fenômeno já
havia ocorrido quando das fundações do Viaduto do Chá, conforme relata Newman (1939).
Segundo este autor: na execução de dois grandes grupos de estacas em cada encontro do arco
central a terra deslocou-se, seguindo a lei de menor resistência, no sentido vertical e de um
modo impressionante. O solo que estava antes da cravação bem nivelado subiu, acompanhando
o progresso da execução das estacas, formando lombos e irregularidades de dimensões
surpreendentes. O deslocamento de terra atingiu tal grau que pôs em movimento um dos pilares
do antigo viaduto metálico, que, na vizinhança do novo encontro, repousava em estacas de
madeira, igualmente fincadas nas camadas arenosas do subsolo. Este movimento foi para cima,
e por si próprio não teria significado algum perigo para a estabilidade do antigo viaduto, pois o
movimento foi para cima. Mas considerando que o deslocamento se daria de um modo
desuniforme, na proporção da distância das diversas partes desse pilar e, argumentando que, na
medida da futura consolidação do solo, este pilar poderia descer em proporção daninha para a
estabilidade, foi resolvido construir um reforço desse pilar para poder garantir a continuação do
trânsito sobre esta via.
Figura 6: Resultado da prova de carga na estaca Franki do Viaduto do Chá

Os exemplos aqui mostrados ilustram o procedimento da execução das primeiras provas de


carga em estacas no Brasil mostrando que àquela época ainda não existia um procedimento
normalizado desse ensaio. O que se fazia era adaptar a prática trazida pelos engenheiros europeus da
Franki que, em linhas gerais, consistia num carregamento rápido (para os padrões de hoje “muito
rápidos”) até 1,5 ou 2,0 vezes a carga de trabalho da estaca. Além disso, não havia uma especificação
clara de qual seria a carga admissível nem qual a fração da carga de “ruptura” que seria aceita como
carga de trabalho (admissível) da estaca a partir do resultado da prova de carga.
A seguir mostram-se várias provas de carga com cargueira realizadas até fins de 1970

Foto 8: Cargueira de chapas de aço

Foto 9: Cargueira com perfis metálicos c/ 200 tf – Marginal do Rio Pinheiros, 1.978

Foto 10: Cargueira com blocos de concreto com densidade alta c/350 tf – PB Alemoa, 1.977
Apoio simples p/
garantir carga
centrada na
“fogueira” de
apoio da cargueira

Foto 11: Cargueira com bobinas de aço c/300 tf – CBA Mairinque, 1.975

5. Alguns acidentes com cargueiras

O uso dessas cargueiras exigia que o terreno superficial tivesse suficiente capacidade de
suporte para resistir, com baixos recalques, toda a carga que a cargueira lhe impunha. Além disso não
era raro que acidentes acontecessem como se mostra na Foto 12.

Foto 12: Acidente com cargueira confeccionada com blocos de concreto


Foto 13: Montagem “pouco segura”

A montagem da cargueira mostrada na Foto 13 é pouco segura por algumas razões: usa blocos
de espessuras diferentes num mesmo plano. O mais adequado seria usar os blocos de maior espessura
(imaginando que todos tenham o mesmo peso específico) logo acima da plataforma de apoio e só após
essa disposição, colocar por cima os outros blocos de menor espessura, mas nunca misturar, num
mesmo plano, blocos com espessuras diferentes como se mostra nesta Figura.

Além disso, deveriam se instalar “tiras” (poderiam ser tábuas) perpendicularmente aos blocos
(paralelos à face da plataforma) a certas alturas (por exemplo a cada 3 ou 4 linhas de blocos). Isso
garantiria uma resistência contra o escorregamento dos blocos caso a cargueira começasse a se
inclinar, evitando escorregamento dos blocos e, consequentemente acidente na prova de carga. Veja-se
a Foto 9 onde foram colocadas essas “tiras” perpendicularmente às estacas metálicas da cargueira para
evitar que elas escorregassem quando da movimentação da cargueira principalmente nos últimos
estágios de carga. Veja-se que além das “tiras” (pontaletes de madeira) também se tomou cuidado em
envolver os perfis com cabo de aço (detalhe à direita da Figura, que estava em fase de montagem).

Dois fatos históricos marcaram a evolução das provas de carga no Brasil e neles sempre houve a
participação do mesmo engenheiro e professor, Antônio José da Costa Nunes:

O primeiro diz respeito à sua proposta para a “Norma para Prova de Carga em Estacas”,
apresentada na 6ª Reunião da ABNT, realizada em Belo Horizonte (MG), em 1945, época em que
Costa Nunes era diretor técnico da Franki e professor da Escola Nacional de Engenharia (atual
EEUFRJ). Esta proposta apresentada por Costa Nunes ganhou o status de norma brasileira em 1951,
sob a denominação de NB-20. Esta norma já se encontra na 4ª revisão (1977, 1986, 1991 e 2006).

O segundo fato histórico, também com a participação do prof. Costa Nunes, ocorreu em 1970
onde se empregou, pela primeira vez, tirantes ancorados no solo como elementos de reação em
substituição às cargueiras. Trata-se da prova de carga em uma estaca escavada de grande diâmetro
que faz parte das fundações da ponte Rio – Niterói (ponte Presidente Costa e Silva) que cruza a Baía
da Guanabara, no RJ. A primeira tentativa de execução da prova de carga sobre espessa lâmina de
água foi com uma cargueira com peso aproximado de 2.000 tf (Foto 14). O projeto dessa cargueira
consistiu em se executar 34 tubos metálicos de 1,80 m de diâmetro, com 22 m de altura e preenchidos
com água.
O conjunto foi instalado sobre uma plataforma apoiada em quatro estacas escavadas que
serviam de suporte desses tubos. Entretanto, a plataforma cedeu e o conjunto adernou, perdendo
estabilidade. O acidente ocorreu em 24 de março de 1970 às 15h30min, causando a morte de oito
pessoas que trabalhavam na plataforma: três engenheiros e cinco operários. Os engenheiros
acidentados foram José Machado e Raul Araújo Arantes, do IPT e Nilson Vianna, do Consórcio
Construtor Rio-Niterói. O fato causou grande comoção no meio geotécnico (Figuras 7 a 9).

Diante do fracasso e da necessidade premente da comprovação da eficiência das estacas


projetadas para a obra que estava em andamento e com prazo crítico, o Consórcio Construtor, com
consultoria do engenheiro Raymundo de Araújo Costa, chamou o professor Costa Nunes, reconhecido
na época por sua criatividade, para desenvolver uma solução segura para executar a prova de carga.
Costa Nunes desenvolveu, então, um novo sistema de reação, baseado em ancoragens chumbadas em
profundidade no terreno, método por ele desenvolvido pioneiramente no Brasil (Figura 10).

Segundo relato do engo Paulo Henrique, na revista Fundações e Obras Geotécnicas (nov. 2014),
o serviço foi intenso, não só pelo pioneirismo e trabalho sobre espessa lâmina de água, mas também
pelas rígidas condições contratuais impostas por João Carlos Guedes, coronel e presidente da ECEX
(Empresa de Construção e Engenharia de Obras Especiais).

Ainda segundo Paulo Henrique, o contrato, envolvendo multa pesada por atraso e prêmio pelo
sucesso, tinha prazo de 30 dias para execução dos tirantes. As condições de execução eram difíceis,
sobre lâmina de água superior a 20 m, em plataforma com dimensões restritas, com quatro sondas
MAQ-700 trabalhando em dois turnos para instalar 20 tirantes com cerca de 90 m cada, composto de 12
fios de aço de 8 mm de diâmetro.

Foi adotado pioneiramente um “capitel” (alguns colegas denominam “carapaça”) de concreto


para fixação dos 20 tirantes verticais e instalados quatro macacos hidráulicos entre o bloco no topo da
estaca e a base do capitel de concreto, para aplicação da carga de teste de 1.200 tf; um recorde à
época.

Segundo o relato do engenheiro Mario Camacho, diretor técnico da Tecnosolo e responsável


pelo serviço, os tirantes foram concluídos em 14 dias, com trabalho contínuo em dois turnos ao longo da
24 horas do dia, ainda sob a liderança do encarregado Eugênio Campbell.

Foto 14: Início da montagem dos tubos para a prova de carga na estaca da pon
te Rio-Niterói (Foto cedida ao autor pelo prof. Falcão Bauer)
Figura 7: Reportagem do jornal “O Globo” (25/03/1.970)

Figura 8: Vista dos tubos sobre a plataforma antes do acidente


Figura 9: Local da prova de carga após o acidente

Figura 10: Primeira prova de carga com tirantes (1970)

As barcaças chegavam com os tirantes já montados e enrolados, partindo da Ilha do Fundão


para a região do vão central onde o serviço era executado. Houve dificuldade em instalá-los nos furos.

Nota: Não conseguimos maiores informações sobre esta prova de carga, mas nos parece que a
necessidade de se usar colunas de apoio do capitel (Foto 15) se deveu ao fato de que o curso dos
macacos hidráulicos era “pequeno” e não podiam absorver todo o deslocamento sofrido pelos
tirantes. Daí que ao se esgotar seu curso, calçavam-se as colunas, retraia-se o curso dos
macacos e após calçar o topo dos mesmos, retomava-se a prova de carga e assim
sucessivamente.
O livro do prof. Walter Pfeil “Ponte Presidente Costa e Silva” pouco fala sobre esta prova de carga
e omite o acidente com a cargueira mas estende-se, e bastante, sobre demais aspectos
construtivos da ponte.

Foto 15: Pormenor do “capacete” e dos macacos hidráulicos

A partir desta prova de carga, o mercado passou a aceitar e difundir a execução de provas de
carga usando tirantes como reação permitindo, desta maneira, chegar-se a cargas bem superiores às
mostradas nas Fotos 3 a 11. Hoje já se executaram provas de carga até 3.000 tf usando tirantes,
havendo previsão de se chegar a 4.000 tf após se introduzir reforço no capitel, mostrado mais adiante
em nota na Foto 27.

Atualmente, provas de carga superiores a 3.000 tf costumam ser feitas utilizando-se estacas
(geralmente da própria fundação) reagindo contra o bloco ou usando células hidrodinâmicas, como
também se apresentará a seguir.

Um terceiro episódio, não tão marcante do ponto de vista técnico ou executivo, mas também de
grande importância, foi a última revisão da NBR-6122:2010 – Projeto e Execução de Fundações, que
exige a realização de provas de carga em 1% da quantidade de estacas, seguindo os critérios da
Tabela 6 do seu item 9.2.2.1 (transcrita aqui na Tabela 1).

6. Montagens típicas para provas de carga à compressão

A seguir mostram-se algumas montagens para a realização de provas de carga à compressão,


usando estacas tracionadas, tirantes e a própria estrutura da fundação (blocos e estacas) bem como o
uso de células hidrodinâmicas.

6.1) Uso de estacas tracionadas

Se em uma obra as estacas forem “moldadas in loco” ou do tipo pré-moldadas vazadas, as


mesmas podem ser utilizadas como elementos tracionados após se instalar em seu interior barras
DYWIDAG, INCOTEP ou similares e preenchidas com argamassa, conforme se mostra na Figura 11.
Figura 11: Prova de carga usando estacas pré-moldadas vazadas armadas com barras
DYWIDAG, INCOTEP ou similares como elementos de tração

No caso de estacas maciças convenientemente armadas para tração pode-se fazer a


transferência de carga para cordoalhas ou barras DYWIDAG, INCOTEP ou similares usando luvas
prensadas conforme se mostra na Foto 16.

Foto 16: Transferência de carga das barras de estaca raiz para um tirante (ver Foto 26) usando
luvas prensadas. Esta transferência também pode ser feita para barras DYWIDAG,
INCOTEP ou similares)

Também se podem usar estacas metálicas tracionadas realizando a transferência de carga para
essas estacas através de solda ou de “forquilha” conforme se mostra na Foto 17.
Nas Fotos 18 a 20 mostram-se provas de carga usando estacas moldadas “in loco”, no caso
estacas hélice contínua, armadas com barras DYWIDAG, INCOTEP ou similar e na Foto 21 a utilização
de estacas escavadas com fluido estabilizante sendo tracionadas para a realização da prova de carga à
compressão.

Em todas as montagens, deve-se seguir o exposto nos itens 3.2.1.7 e 3.2.1.8 da NBR 12131:2006
ou seja:

Entre o sistema de reação e a estaca ensaiada deve haver uma distância mínima de três vezes o
diâmetro da maior seção transversal da estaca ou ao menos 1,5 m. Essa distância deverá ser
majorada em pelo menos 20% quando o sistema de reação e a natureza do terreno puderem
influenciar o comportamento da estaca ensaiada; quando a estaca a ensaiar tiver comprimento
superior a 25 m e no caso de tirantes cujo topo do bulbo de ancoragem estiver acima da cota da
ponta da estaca a ensaiar.

Quando os elementos tracionados (tirantes, barras, etc.) forem testados o fator de segurança
deverá ser no mínimo 1,2 conforme NBR 5629, caso contrário esse fator deverá se 2.

Foto 17: Prova de carga para 380 tf utilizando 4 estacas metálicas HP 310x125 tracionadas

Foto 18: Prova de carga para 250 tf usando 4 estacas hélice contínua tracionadas armadas com 1
barra DYWIDAG 85/105 e vigas cruzadas
Foto 19: Idem ao da Foto 14, porém com vigas de reação em formação H

Foto 20: Prova de carga para 500 tf - vigas em formação H ancoradas em 4 estacas hélice
contínua armadas, cada uma, com 2 barras DYWIDAG 85/105

Foto 20: Prova de carga para 1.000 tf – Quadro metálico ancorado em 2 estacas escavadas
Nota: No caso da prova de carga acima mostrada (uso de apenas uma viga de reação e duas estacas
tracionadas), é importante evitar o tombamento dessa viga (já que a mesma é ancorada em
apenas duas estacas) conforme se mostra nas Foto acima. No caso desta Foto 20, face à
magnitude das cargas, a viga de reação deverá ser “ligada” a um guindaste de modo a evitar
acidente durante a prova de carga, como se mostra na Foto 28. Por esta razão é mais estável se
projetarem sistemas de reação com vigas dispostas em forma de cruz ou de H que apresentam
rigidez nos dois planos perpendiculares ao da estaca a ensaiar, conforme se mostrou nas Fotos
18 a 20 e se mostra a seguir nas Fotos 22 e 23.

Foto 22: Prova de carga para 1.000 tf - vigas em formação H ancoradas em 4 estacas escavadas

Foto 23: Prova de carga para 2.000 tf com vigas ancoradas em 4 estacas tubadas
Uma situação pouco discutida quando se trata do uso de “sistemas hiperestáticos” de reação,
onde as cargas nas estacas de tração não resultam simplesmente da divisão da carga total pela
quantidade de estacas tracionadas, como se mostrou nas montagens acima. Para divulgar o cálculo
deste tipo de reação apresenta-se, a seguir, um sistema que utiliza 3 vigas ancoradas em 6 estacas
metálicas para a realização de uma prova de carga de 600 tf, em estaca metálica W 610x155.

Figura 12: Planta do sistema hiperestático a ser estudado

Figura 13: Vista do sistema hiperestático a ser estudado


Coeficiente de mola (K) para as vigas secundárias (2W 610x174):

1x500 3 P 1
Para P = 1tf f = ≅ 0,05 cm K= = = 20 tf/cm
48 x 2.090 x 2 x12.374 f 0,05

Cálculo da viga principal (2W 610x174)

27.408.000 fu 4.500
σ = ≅ 2.900 kgf/cm2 FS = = = 1,6 OK! Obra provisória
2 x 4.797 σ 2.900
Para aumentar o fator de segurança FS, a viga será enrijecida lateralmente e terá duas chapas
soldadas às mesas conforme se mostra na Figura 14.

Figura 14: Detalhe dos reforços na viga principal

Verificação das vigas secundárias usar a viga central (mais carregada) Rmáx ≈ 203 tf

6.2) Uso de tirantes

Conforme se expôs acima, o uso de tirantes para executar provas de carga ocorreu em 1970 por
ocasião da execução da ponte Rio – Niterói (Figura 10). Entretanto os principais inconvenientes do
“capitel” de concreto eram sua confecção e peso que implicava na impossibilidade de reaproveitá-lo em
outras provas de carga.
Assim, surgiu naturalmente o primeiro “capitel” metálico (também confeccionado pela Tecnosolo
sob orientação do prof. Costa Nunes) para realização de provas de carga até 1.000 tf utilizando 2
macacos hidráulicos de 500 tf. Este capitel podia ser transportado normalmente em uma carreta e ser
utilizado em qualquer obra. A Foto 24 mostra esse capitel sendo utilizado em uma prova de carga
realizada por nós em uma obra em São Paulo (bairro de Alphaville) em 1.978. Sua ancoragem ao solo
foi feita por 16 tirantes constituídos, cada um, com 12 fios Φ 8 mm de diâmetro e aço CP 150 RB. Como
nesta época ainda não se haviam desenvolvido os “clavetes” de ancoragem, os fios eram “rebitados”
com uso de um macaco hidráulico (sistema STUP desenvolvido por Freyssinet).

Foto 24: Detalhes do “capitel” da década de 70 para provas de carga até 1.000 tf

Entretanto esse capitel metálico por ser pioneiro, era significativamente grande e usava muitos
tirantes para ancorá-lo. Por isso, quando se passou a utilizar cordoalhas substituindo os fios foi possível
desenvolver capitéis de menores dimensões que utilizam cordoalhas de 12,7 mm (CP 190 RB).
Atualmente já se dispõe de cordoalhas de 15,2 mm (CP 190 RB) o que está modificando o panorama
das provas de carga na atualidade.

Nas Fotos a seguir mostram-se montagens típicas usando tirantes com cordoalhas
confeccionadas com aço CP 190 RB. Cada dois tirantes (simetricamente disposto) são acionados por
uma bomba hidráulica. Antes da realização da prova de carga, todos os tirantes devem ser testados até
1,2 vezes a carga de trabalho, conforme exige a NBR 12131:2010.

Foto 25: Prova de carga para 500 tf - vigas em formação H ancoradas em 4 tirantes com
10 cordoalhas de 12,7 mm aço CP 190 RB
Foto 26: Prova de carga para 700 tf - Capitel metálico (4 tirantes 12 cordoalhas de 12,7 mm)

Foto 26: Prova de carga p/ 1.000 tf - Capitel metálico (6 tirantes 12 cordoalhas de 12,7mm)

Foto 27: Prova de carga p/3.000 tf -Capitel metálico (16 tirantes c/10 cordoalhas de 15,7 mm)
Notas: 1) A primeira prova de carga para 3.000 tf usando o capitel acima foi realizada em 2.014 em um
barrete com carga de trabalho de 1.500 tf na marginal do Rio Pinheiros (artigo deste autor no
SEFE 8).

2) Segundo informações da TESTEGEO, proprietária do capitel, o mesmo devidamente reforçado,


permite realizar provas de carga até 4.000 tf, pois tem espaço para acomodar 20 macacos
hidráulicos com capacidade nominal de 250 tf.

É importante lembrar (como já mencionado acima) que nas provas de carga à compressão,
quando se usa apenas uma viga de reação é necessário escorá-la lateralmente a fim de evitar
acidentes como o mostrado na Foto 28. No caso desta prova de carga, caso não existisse uma estaca
pré-moldada com topo acima do terreno (que impediu que a viga caísse até o chão), o tombamento
dessa viga teria causado uma tragédia.

Foto 28: Tombamento da viga de reação em prova de carga com dois tirantes

6.3) Uso de elementos da própria estrutura como reação

Embora a NBR 6122:2010 exija que se realizem as provas de carga nas primeiras estacas da
obra, nem sempre isso é possível, pois as montagens acima mostradas demandam tempo que na
maioria das vezes não se ajusta ao cronograma da obra. É comum, portanto, que em algumas
situações se utilizem elementos da própria estrutura como reação. Com isto barateia-se o custo das
provas de carga mesmo que esses elementos da estrutura/fundação tenham que ser reforçados. Alguns
destes tipos de montagem são mostrados na Foto 29 e Figuras 15 a 17.

Foto 29: Reação contra o bloco (Ponte sobre o Rio Negro - Manaus) 3.600 tf
(Antunes, W.R. e E.R. Dourado - COBRAMSEG 2010).
Figura 15: Reação contra o bloco (Ponte da Redinha - Natal) 440 tf

Na Figura 16 mostra-se a montagem de uma prova de carga foi realizada por nós em 1.997 em
uma estaca hélice contínua utilizando o capitel metálico da Tecnosolo mostrado na Foto 24, cuja
confecção remonta ao início da década de 70.

(a) Detalhes da montagem (b) Vista da prova de carga em andamento


Figura 16 Prova de carga em estaca hélice contínua (Aeroporto Salgado Filho - P. Alegre)
Na Figura 17 mostra-se uma prova de carga em uma estaca hélice contínua do edifício garagem
do Aeroporto de Porto Alegre, usando detalhe similar ao do bloco da Figura 16(a) acima, porém com o
capitel mostrado na Foto 26 e barras DYWIDAG inclinadas e ancoradas no bloco.

Figura 17: Variante da prova de carga da Figura 11 com capitel da Figura 23 (ano 2.000)

7. Montagens típicas para provas de carga à tração

Os sistemas de reação para as provas de carga à tração constituem-se, basicamente, de dois


esquemas estruturais, a saber: apoio em “fogueiras” (Foto 30) e apoio em estacas (Foto 31),
principalmente se a estaca a ensaiar é inclinada (Foto 32). Também se pode utilizar a combinação
fogueira e estaca (Foto 33).

Foto 30: Sistema de reação apoiado em fogueira (pontas de estacas)


Foto 31: Sistema de reação apoiado em estacas

Nota: Veja-se o escoramento da viga de reação nas Fotos 30 e 31, pois a mesma se encontra em cota
acima da cabeça dos operários, como já comentado nas Fotos 20 e 28.

Foto 32: Prova de carga à tração em estacas inclinadas (130 tf) – Alonso (SEFE III)

Foto 33: Sistema de reação apoiado em fogueira e estaca (125 tf)


Quanto ao tipo de macaco hidráulico tanto se pode utilizar macacos vazados (Fotos 32 e 33)
como macacos não vazados (Foto 34).

Foto 34: Prova de carga à tração com macacos não vazados (330 tf)

Nota: Nesta Figura não se indica o escoramento lateral da viga de reação, pois a prova de carga ainda
não estava em andamento.

8. Montagens típicas para provas de carga horizontais

As provas de carga horizontais podem ser realizadas usando-se o solo como elemento de
reação (Foto 35) ou usando-se o macaco reagindo contra duas estacas (Foto 36).

Foto 35: Prova de carga horizontal usando o solo como elemento de reação

Foto 36: Prova de carga horizontal com o macaco hidráulico entre duas estacas
9. Provas de carga com células expansivas hidrodinâmicas

Em 1986 o engo. Pedro Elísio apresentou ao VIII COBRAMSEG, em Porto Alegre, o uso de
“célula expansiva hidrodinâmica” para realização de provas de carga por ele usado, em tubulões a
céu aberto, desde 1983. O processo consiste em instalar uma ou mais células de carga (tipo “macaco
tórico”) no interior da estaca utilizando o fuste como elemento de reação, conforme Figura 18.

Figura 18: Princípio do funcionamento da célula expansiva hidrodinâmica

Há dúvidas de quem primeiro desenvolveu este processo que acabou sendo patenteado por
Osterberg com a denominação O-Cell. Na pesquisa que realizamos não foi possível obter a data da
patente da O-Cell. No trabalho publicado pelo próprio Ostenberg (1989) dá a entender que a data da
patente teria sido 1989-10 = 1979, portanto anterior a 1983 (1a divulgação do Pedro Elísio).

No livro do prof. Bengt H. Fellenius “Basics of Foundation Design”, conhecido como o “livro
vermelho do Fellenius” disponível gratuitamente na Internet, cita que os primeiros testes com célula
bidirecional foram realizados por Gibson e Devenny (1973) e Amir (1983).

Nesse tipo de prova de carga obtêm-se duas curvas carga-deslocamento conforme se mostra na
Figura 19. A interpretação dessas duas curvas ainda carece de estudos que permitam conhecer a curva
carga-recalque do topo da estaca, quando na mesma se aplica carga 2F. Mas cabe esclarecer que com
este tipo de ensaio consegue-se medir a carga mínima resistida pela estaca (2F).
Figura 19: Resultado de uma prova de carga com célula expansiva hidrodinâmica

Na Foto 37 mostra-se a montagem de três células hidrodinâmicas em uma estaca escavada com
auxílio de fluido estabilizante com 110 cm de diâmetro e na Foto 38 o mesmo procedimento em uma
estaca barrete.

Foto 37: Montagem de três células hidrodinâmicas em uma estaca escavada com 110 cm de
diâmetro (carga por célula 124 tf)
Foto 38: Montagem de duas células hidrodinâmicas em uma estaca barrete
(carga por célula 190 tf)

Também é possível instalar as células em estacas hélice contínua desde que se utilize um traço
auto-adensável com fluidez adequada. A primeira experiência feita com este tipo de célula, neste tipo de
estacas, foi publicada por Alonso & da Silva (SEFE IV). O resultado mostrado na Figura 19 foi o obtido
nessa primeira experiência. Na Foto 39 mostra-se o detalhe da instalação de três células
hidrodinâmicas em uma estaca hélice contínua com 90 cm de diâmetro.

(a) início da introdução da armadura com as células (b) células já instaladas


Foto 39: Instalação de células hidrodinâmicas em estaca hélice contínua

Como já informado acima, os ensaios de carga com células hidrodinâmicas ainda carecem de
um avanço técnico na sua interpretação. Elas são excelentes para comprovar a carga mínima resistida
pela estaca (principalmente à correspondente à ponta), mas não permitem avaliar a curva carga-
recalque do topo da mesma quando aí se aplica o dobro da carga das células (2F).
Se houvesse coincidência ao se aplicar a carga 2F no topo da estaca e com isso se atingisse a
carga F onde se situam as células, o diagrama de transferência de carga para o solo, ainda assim, seria
diferente. Entretanto, como geralmente o fuste “sobe pouco” (não ocorre ruptura geotécnica do mesmo)
o diagrama de transferência de carga é totalmente diferente, do mostrado na Figura 35.

Figura 20: Diagramas de transferência de carga caso ao se aplicar 2F no topo da estaca fosse
possível atingir F na cota de implantação das células hidrodinâmicas

Outro aspecto importante a ser levado em conta refere-se às células instaladas em estacas
escavadas com auxílio de fluido estabilizante (bentonita ou polímero). Por serem descidas juntamente
com a armadura e antes do início da concretagem (ver Fotos 37 e 38) não há garantia de um contato
eficiente entre a base da célula e o concreto, pois durante a concretagem (que é submersa e de baixo
para cima) pode haver concreto contaminado sob a base das células retido por estas durante a subida
da concretagem. Caso isto ocorra o recalque medido na base das células pode não corresponder ao
recalque da ponta da estaca. No caso de hélice contínua (Foto 39), embora com menor probabilidade,
esse problema também poderá ocorrer. Para dirimir esta dúvida propõe-se que se instale um tell-tale,
solidário à armadura da estaca, posicionado na ponta da mesma e se comparem os recalques nele
medidos com os medidos na base das células. Também seria desejável instalar um tell-tale no topo da
célula o que permitiria calcular o encurtamento elástico do fuste, conforme se mostra,
esquematicamente, na Figura 21.

Figura 21: Proposição de leituras de deslocamentos em estacas ensaiadas com células


hidrodinâmicas (dp e do já são lidas atualmente acrescentar db e df)
10. Cuidados a tomar na execução dos blocos

Os blocos executados nas estacas a serem ensaiados devem atender a dois cuidados:

(i) serem locados em relação ao centro da estaca após o arrasamento da mesma (e não por
topografia). Esta observação é importante pois as estacas nem sempre estão no local teórico
da locação (tolerâncias de norma). Por isso, após se arrasar a estaca (e se constatar que o
concreto está adequado), materializa-se o centro da mesma e centra-se a forma do bloco em
relação a esse ponto central.

(ii) se o concreto na cota de arrasamento prevista for inadequado deve-se demolir o trecho de
estaca até se encontrar concreto com a qualidade especificada no projeto. A seguir, tomando-
se o cuidado de centralizar a forma acima mencionado, a mesma deverá ser recomposta
aumentando-se a altura do bloco. Com este procedimento evita-se a patologia mostrada nas
Fotos 40 (a) e (b) e não se “perde” a prova de carga.

(a) (b)
Foto 40: Bloco de prova de carga assentado em concreto da estaca inadequado
(a) concreto facilmente removido e (b) esmagamento do concreto e ferragem

11. Aspectos relevantes da NBR 12131:2006

O que se exporá a seguir conste da norma NBR 12131:2006, porém ressaltaremos os aspectos
que nos parecem mais importantes para quem vai projetar e executar uma prova de carga.

11.1) O(s) macaco(s) hidráulico(s) devem ter capacidade de carga mínima superior a 20 % da
carga máxima a ser por ele(s) aplicada(s) e curso do êmbolo compatível com o deslocamento
e no mínimo 10% do diâmetro da estaca.

11.2) Caso se projete cargueira esta deverá ter massa 20% superior à da prova de carga e seu
“levantamento” deve ir sendo acompanhado durante todo o ensaio, suspendendo-se o mesmo
quando esse “levantamento” colocar em risco a equipe.

11.3) Quando se utilizarem tirantes os mesmos devem ser ensaiados antes da prova de carga e
resistir a uma carga ≥ 1,2 vezes a carga de trabalho. Lembra-se que estes ensaios são
importantes pois mesmo com quatro tirantes a falha de um deles desequilibra o sistema.

11.4) Qualquer elemento de reação seja tirante, base de fogueira ou estaca de tração deve estar
afastado no mínimo três vezes o maior diâmetro da estaca (ou círculo de área equivalente no
caso de outras geometrias de estaca), e no mínimo 1,50 m medido do eixo da estaca a ser
ensaiada, conforme se mostra na Figura 22. Deve-se majorar essa distância em 20% quando
o processo executivo da reação puder influenciar o comportamento da estaca a ser ensaiada
ou quando esta tiver mais de 25 m de comprimento. Esta majoração também vale quando se
utilizarem tirantes com bulbo acima da cota de ponta da estaca, conforme se mostra na
Figura 22.
Figura 22: Detalhes de uma prova de carga para 1.000 tf usando 6 tirantes

11.5) O conjunto macaco hidráulico-bomba-manômetro deve ter aferição inferior a seis meses e
os deslocamentos da estaca, durante a prova de carga, deverão ser medidos por quatro
extensômetros com leitura de 0,01mm, fixados em vigas de referência e instalados em eixos
ortogonais. Também se recomenda o acompanhamento de deslocamentos laterais do topo da
estaca sempre que houver esta possibilidade. O mesmo deve ser feito em pelo menos um
dos elementos de tração (ver Tabela 2 onde se controlaram 2 estacas de reação).

11.6) O local e os dispositivos de medida devem ser protegidos do vento, de efeitos de variações
de temperatura e de vibrações ou qualquer outra intempérie, bem como de trânsito de
pessoas (“curiosas”) não envolvidas com o ensaio.

11.7) As vigas de referência (geralmente duas, uma de cada lado da estaca) devem ter rigidez
compatível com as leituras e serem fixadas (apoiadas) fora da região de possível influência de
movimentos do terreno (Foto 41). Em caso de dúvida deve haver controle com instrumento
ótico de precisão, com referência de nível profundo e distante mais de 30 diâmetros ou no
mínimo 10 m do eixo da estaca.
Apoios fora da influência da estaca a ensaiar
Estaca tracionada

Foto 41: Vigas de referência fora da influência da estaca a ensaiar e das estacas tracionadas

11.8) O tempo mínimo antes do início do ensaio deverá ser de três dias após a cravação em solos
não coesivos ou 10 dias em solos coesivos, e sempre após o período de cura para ganho de
resistência compatível do concreto no caso de estacas moldadas in loco.

12. Tipos de carregamento previstos na norma NBR 12131:2006

A NBR 12131:2006 prevê quatro tipos de carregamento: lento, rápido, misto e cíclico. Lembra-se
que o ensaio cíclico (que só se aplica às estacas comprimidas) não tem sido usado com frequência. Por
esta razão não será aqui analisado. Aqueles que tiverem interesse no tema podem recorrer ao trabalho
do prof. Massad publicado em 2002 no XII COBRAMSG, vol. 3, pág 1627 a 1638 sob o título “Novo
Método para a Interpretação de Provas de Carga Cíclica, Estáticas ou Dinâmicas, em Estacas
Verticais”.

12.1) Ensaio com carregamento lento:

a.1) No ensaio lento a carga é aplicada em incrementos, denominados “estágios de carga”. Cada
estágio de carga não deverá ser maior do que 20% da carga de trabalho previsto para a estaca. Os
estágios não necessitam ser de cargas iguais podendo-se aceitar variações a fim de tornar mais
fáceis as leituras no manômetro, desde que não se ultrapasse, em cada estágio, 20% da carga
prevista para a estaca. Para cada estágio de carga, os deslocamentos serão lidos imediatamente
após a aplicação da carga e após os seguintes intervalos de tempo: 2, 4, 8, 15, 30 minutos, 1, 2, 3,
4, etc horas contados a partir do início do estágio. Só será aplicado novo acréscimo de carga
quando a diferença entre duas leituras consecutivas corresponder a no máximo de 5% do
deslocamento havido no mesmo estágio (entre o deslocamento da estabilização do estágio anterior
e o atual).

a.2) Cada estágio de carga deverá ser mantida até a estabilização dos deslocamentos e no mínimo por
30 min.

a.3) Terminada a fase de carregamento, a carga máxima do ensaio deve ser mantida no mínimo 12 h
entre a estabilização dos recalques e o início do descarregamento.
a.4) A descarga deve ser feita em no mínimo quatro estágios. Cada estágio é mantido até a
estabilização dos deslocamentos com registro segundo os critérios estabelecidos em (a.1). O
tempo mínimo de cada estágio é de 15 min e após o descarga total, as leituras devem continuar até
a sua estabilização.

12.2) Ensaio com carregamento rápido:

b.1) No ensaio rápido a carga é aplicada em estágios de carga não superior a 10% da carga de trabalho
prevista. A carga de cada estágio deve ser mantida durante 10 min, independentemente da
estabilização dos deslocamentos. Em casos especiais, como fundações de linhas de transmissão, o
tempo de manutenção da carga pode ser reduzido para 5 min. Vale aqui o exposto no item anterior
de que os estágios não necessitam ser iguais podendo-se aceitar variações a fim de tornar mais
fáceis as leituras no manômetro, desde que não se ultrapasse, em cada estágio, 10% da carga
prevista para a estaca.

b.2) Em cada estágio, os deslocamentos devem ser lidos obrigatoriamente no início e no fim do estágio.

b.3) Atingida a carga máxima do ensaio, devem ser feitas cinco leituras: a 10 min, 30 min, 60min, 90
min e 120 min. A seguir procede-se o descarregamento, que deve ser feito em cinco ou mais
estágios, cada um mantido por 10 min, com leitura dos respectivos deslocamentos.

b.4) Após 10 min do descarregamento total, devem ser feitas mais duas leituras adicionais aos 30 min e
aos 60 min.

12.3) Ensaio com carregamento misto (lento seguido de rápido):

c.1) Este tipo de ensaio inicia-se com carregamento lento (conforme a.1 e a.2) até 1,2 vezes a carga de
trabalho da estaca.

c.2) A seguir, o ensaio é feito com carregamento rápido conforme item b.

13. Apresentação dos resultados

O relatório da prova de carga deve conter no mínimo:

13.1) Todas as informações do projeto da estaca e da montagem da prova de carga, junto com os
dados de execução da mesma, bem como planta de localização e perfil geotécnico contendo as
sondagens próximas do local do ensaio.

13.2) Os certificados de aferição dos dispositivos de medição de carga (macaco-bomba-manômetro) e


de deslocamento (extensômetros) devem ter prazo de validade que não supere seis meses.

13.3) Tabelas com todas as medições realizadas e curvas carga-deslocamento, destacando todos os
tempos em que ocorreram medições, destacando os tempos de início e fim de cada estágio.

13.4) A curva carga-deslocamento deve ser tal que a reta unindo a origem ao ponto da carga de
trabalho na curva tenha inclinação de 20o ± 5o com o eixo das cargas. Com esse procedimento
evita-se uma interpretação visual enganosa como se mostra na Figura 23 onde a mesma prova de
carga está apresentada em duas escalas diferentes. Se formos apenas pela visualização seremos
induzidos a dizer que a estaca está rompendo pela Figura 23 (a) e sem romper pela Figura 23 (b)

Na Tabela 2 apresenta-se uma planilha com as medições de carga e recalque de uma estaca
ensaiada à compressão, com carregamento lento, bem como o controle do levantamento de duas das
estacas de reação (tração) armadas, cada uma com uma barra DYWIDAG St 95/105.
Tabela 2: Planilha com as medidas realizadas durante uma prova de carga

Continua
Tabela 2: Continuação
Figura 23: Efeito da escala na aparência da curva carga-deslocamento (Van der Veen, 1953)

14) Armaduras padrão para blocos sobre 1 estaca para permitir realizar a prova de carga

Conforme já exposto no item 10, os blocos de reação devem ser locados tomando como
referência o centro da estaca a ensaiar e após o arrasamento da mesma até se encontrar concreto
adequado. Por esta razão a altura do bloco não deve ser pré-fixado no projeto pois dependerá da cota
onde se encontrará concreto de boa qualidade a fim de evitar a patologia que se mostrou na Foto 40.

Normalmente as estacas de concreto (pré-moldadas ou escavadas, exceto às do tipo raiz)


apresentam capacidade de carga sem necessidade de armadura. O próprio concreto tem capacidade
de carga e a armadura usada visa a manipulação, no caso das estacas pré-moldadas, ou para garantir
integridade nas estacas escavada quando pode ocorrer impactos da caçamba das retroescavadeiras
usadas para escavar o solo onde se executará o bloco de coroamento das estacas. A armadura nesses
tipos de estacas visa absorver choques da pá da retroescavadeira contra as estacas ou mesmo
absorver os esforços horizontais do solo à volta da mesma quando a pá da retroescavadeira “puxa” o
solo, principalmente se o mesmo for argiloso e aderente à estaca.

Por esta razão, para este tipo de estacas a armadura é meramente construtiva e visa apenas
garantir a integridade da mesma na região imediatamente abaixo do bloco de coroamento.

14.1) Estacas pré-moldadas de concreto e as moldadas “in loco”

Nestas estacas geralmente se utilizam blocos com seção quadrada. Não é conveniente usar
dimensão do bloco, em planta, superior a 10 cm superior ao diâmetro da estaca ou da base do macaco
hidráulico.
Na Figura 24 apresentam-se armaduras típicas para os blocos a serem confeccionados para
provas de carga em estacas isoladas e concreto com fcj = 300 kgf/cm2 (30 MPa) na data da realização
do teste. Admitiu-se como diâmetro mínimo para as estacas 30 cm pois abaixo deste diâmetro
geralmente quem comanda o tamanho do bloco, em planta, é a seção do macaco hidráulico. Também
se admitiu como diâmetro máximo 100 cm visto que para maiores diâmetros se usam blocos para apoio
de capiteis ancorados em tirantes como já exposto acima e mostrado nas Fotos 26 e 27. Neste caso, o
dimensionamento do bloco deverá ser realizado em função do tamanho da base do capitel e da
quantidade de macacos hidráulicos a serem instalados sobre o mesmo.

14.2) Estacas raiz

No caso das estacas tipo raiz, o procedimento para armar o bloco a ser utilizado na prova de
carga segue o mesmo procedimento acima exposto lembrando que neste tipo de estacas só a
argamassa não suporta a carga aplicada à estaca. Por esta razão a armadura denominada N1 e N2 na
Figura 24 deve ser adaptada de modo a que a seção corresponde à soma da seção de aço dos ferros
N1+N2 (na sua totalidade) sejam, no mínimo igual à armadura usada nas estacas a serem testadas.

14.3) Estacas moldadas in loco

Valem aqui as observações feitas para as estacas pré-moldadas de concreto já que nestas
estacas a armadura tem apenas a função de garantir integridade da estaca na região abaixo do bloco
de coroamento bem como a ligação da estaca ao mesmo.

Figura 24: Armadura dos blocos de estacas a serem submetidas a prova de carga
14.4) Estacas metálicas

No caso das estacas metálicas não se costuma executar bloco em concreto armado para a
realização de prova de carga. Nestas estacas utiliza-se uma placa de aço, horizontal, soldada à cabeça
da estaca metálica e reforçada por chapas sob a mesma, conforme se mostra na Foto 42.

Foto 42: Chapa solidarizada à estaca metálica com reforços para apoio do macaco hidráulico da
prova de carga

15. Ensaio de estacas em grupo solidarizadas pelo bloco de coroamento

Embora pouco comum, em algumas situações pode-se realizar provas de carga incluindo o
bloco de coroamento das estacas. Com isso pode-se verificar a contribuição do solo sob o bloco na
capacidade de carga do conjunto (estacas + bloco).

Nas Fotos 43 e 44 mostram-se duas dessas provas de carga, respectivamente, em bloco com
quatro estacas e com duas.

Foto 43: Prova de carga em bloco com quatro estacas


Foto 44: Prova de carga em bloco com duas estacas

No caso da Foto 43 (4 estacas) deve-se cuidar para que os tirantes estejam inclinados com sua
resultante passando pelo centro do bloco (centro do estaqueamento) para evitar torção no bloco,
conforme se mostra na Figura 25. Além disso a prova de carga deve ser feita acionando-se,
gradativamente, dois tirantes simétricos de cada vez para evitar giro do bloco

Figura 25: Disposição dos tirantes para evitar torção no bloco

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