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WBA0837_v1.

APRENDIZAGEM EM FOCO

MECÂNICA DOS SOLOS


APLICADA A GEOTECNIA
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira

Na disciplina de Mecânica dos solos aplicada a geotecnia


aprofundaremos nosso conhecimento acerca de alguns conceitos,
ensaios, discussões e definições que podemos e precisamos fazer
em nossas obras. Certamente algumas coisas serão como uma
revisão, mas buscaremos sempre aprofundar o conhecimento
que você traz, aprimorando suas competências como profissional
que atua em obras geotécnicas. Você verá temas como origem
e formação dos solos, para saber como podem influenciar nas
decisões de obra; verá mais sobre a aplicação de sistemas de
classificação e como isso é determinante para que algumas soluções
geotécnicas sejam aceitas ou refutadas; relembrará o que são e
como determinar os índices físicos e de parâmetros de compactação
dos solos, características com as quais trabalhamos diariamente,
seja em projetos ou em campo. Também verá como é indicado
realizar a interpretação de perfis geológicos-geotécnicos, sabendo
o que precisa levar em consideração dependendo do tipo de solo
observado no perfil, quais as soluções cabíveis para algumas
ocorrências específicas e como buscar as respostas aos problemas
que podem surgir em campo. Além disso, verá como trabalhamos
para definir adequadamente os níveis de tensões no solo e o efeito
de qualquer sobrecarga associados ao estudo das deformações.
De modo complementar, solidificaremos com situações práticas
de como fazer uma análise de recalque devido a compressibilidade
dos solos argilosos a longo prazo. Por fim, você também terá
contato com a teoria e aferições práticas do estudo da hidráulica
dos solos, área de extrema importância para a solidez das soluções
geotécnicas que podemos propor.

Bons estudos!
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INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 1

Origem, formação e classificação


dos solos
______________________________________________________________
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira
DIRETO AO PONTO

A Geotecnia é uma ciência considerada recente, perto de outras


vertentes estudadas pela Engenharia Civil. Trabalha com o conceito
de solo e suas relações com as obras civis. Via de regra, entende-se
que o solo provém da desintegração e decomposição das rochas
devido à ação do intemperismo, seja físico ou químico, e que
existem inúmeros fatores que influenciam em sua formação, como,
por exemplo: a rocha mãe (ou material de origem), os organismos
e microrganismos, o clima (temperatura e precipitação), fisiografia
(relevo) ou topografia e o tempo.

Com toda essa possível variação em sua formação, é conveniente


agrupar solos diferentes, porém, com características e propriedades
geotécnicas similares, com a finalidade de poder estimar o provável
comportamento do solo para uma adequada análise do problema.
Os sistemas de classificação de solos ajudam a encaminhar o
planejamento das investigações e obras. Existem vários sistemas de
classificação, sendo os mais utilizados na prática:

a. Classificação preliminar: classificação por meio da análise tátil-


visual (sensação ao tato, plasticidade, resistência etc.), análises
realizadas sem a utilização de equipamentos e laboratório.
b. Classificação pedogenética geral: classificação dos solos se
baseia no conhecimento da gênese dos solos, diferenciando
o solo como residual ou transportado, solo superficial ou de
alteração, entre outros.
c. Classificação granulométrica: classificação prévia do solo
quanto ao tamanho de suas partículas, subdividindo
pedregulho, areia, silte e argila.
d. Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS):
classificação do solo é feita por duas letras: um prefixo,
ligado ao tipo de solo, e um sufixo, ligado às características

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granulométricas e de plasticidade. Os solos são divididos em
granulares (mais de 50 % retidos na # 200), e finos (mais de
50 % passam na #200). Os solos granulares são divididos em
pedregulhos (prefixo G) e areias (prefixo S), e os solos finos
em silte e areia muito fina (M), argila inorgânica (C) e siltes e
argilas orgânicas (O). Além desses, também são classificados
os solos turfosos (Pt), de alta compressibilidade e constituintes
de grande quantidade de matéria orgânica. Em relação aos
sufixos, os pedregulhos e as areias são ainda subdivididos
pelos sufixos W (well) e P (poorly), característica relacionada
ao coeficiente de não uniformidade do solo, enquanto solos
finos são subdivididos pelos sufixos H (high) e L (low), estes
definidos em função do índice de plasticidade e o limite
de liquidez. Um esquema para realizar a classificação é
apresentado na Figura 1.

Figura 1 - Esquema para a classificação prévia pelo SUCS

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 68).

e. Classificação AASHTO (ou HRB): classificação se baseia nas


características do solo quanto a granulometria, ao limite de
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liquidez, ao índice de plasticidade, além do índice de grupo.
Nesse sistema, por meio do Quadro 1, são considerados solo
de granulação grosseira quando menos que 35% passam na
#200, enquadrando-se em um dos seguintes grupos: A-1, A-2
e A-3. Quando mais de 35 % das partículas passam pela #200º
solo será de granulação fina e poderá estar classificado como
A-4, A-5, A-6 ou A-7.

Quadro 1 - Classificação de solos pelo sistema AASHTO

Fonte: adaptado do SENÇO (2007).

f. Classificação MCT (Miniatura, Compactado, Tropical):


classificação que divide os solos tropicais em diferentes
grupos de comportamentos distintos: lateríticos e não
lateríticos. Os solos lateríticos são típicos da evolução de solos
de clima quente, com regime de chuvas moderadas a intensas,
com elevado índice de vazios e pouca resistência quando não
compactados.

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Referências bibliográficas
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas
- com exercícios resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
SENÇO, W. Manual de técnicas de pavimentação. 2. ed. São Paulo: PINI,
2007.

PARA SABER MAIS

Os sistemas de classificação AASHTO e SUCS podem ser


comparados, no entanto, é interessante sabermos que há algumas
combinações que são prováveis e outras que são improváveis. As
Tabelas 1 e 2 podem ajudar quando tiver que trabalhar com os dois
sistemas de classificação, verificando se as classificações que você
fez indicam estar corretas.

Tabela 1- Comparação entre os sistemas: de AASHTO para SUCS

Fonte: adaptado de DAS (2007).

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Tabela 2 - Comparação entre os sistemas: de SUCS para AASHTO

Fonte: adaptado de DAS (2007).

Referências bibliográficas
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6. ed. São Paulo:
Thomson Learning, 2007.

TEORIA EM PRÁTICA

Imagine que você é um dos profissionais envolvidos na construção


de um monumento na entrada de uma cidade turística, na qual
será necessário, dentre outras coisas, mudar os atuais locais das
vias pavimentadas. Assim como toda obra, é necessário conhecer
o solo sob o qual serão impostas as cargas e como pode reagir à
solicitação. Nesse caso, tanto estática (o monumento em si) quanto
dinâmica (do tráfego de veículos ao redor do monumento). Em um
primeiro momento, você foi designado a caracterizar e classificar o

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solo no local e, para isso, precisa elaborar um plano de amostragem
e uma lista de ensaios necessários para a finalidade.

Para isso, de modo prévio, você realiza in situ uma análise tátil-visual,
um método barato e prático de identificação de solo, sem utilização
de equipamentos. Em seguida, começa a elaborar a lista de ensaios
necessários para fazer a caracterização e classificação do solo. Nessa
situação, e considerando o sistema que mais se adequa às obras
viárias, quais são as análises laboratoriais que, minimamente, terá
que solicitar?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

O capítulo 3 do livro de Carlos Sousa Pinto (2006) possibilita


a compreender como são feitas as classificações dos solos,
considerando os principais sistemas de classificação utilizados na
engenharia civil e qual sua importância.

Para realizar a leitura, acesse a nossa Biblioteca Virtual e busque


pelo título da obra no parceiro Biblioteca Virtual 3.0.

SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos em 16


aulas. 3 ed. São Paulo: Oficina de textos, 2006.

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Indicação 2

O capítulo 1, do livro de Manuel Matos Fernandes (2016), trata da


classificação dos solos, importância de sua correta determinação
e quais são os mais indicados sistemas de classificação de solos
utilizados, atualmente, para o escopo da engenharia civil.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro Biblioteca Virtual 3.0.

FERNANDES, M. M. Mecânica dos solos: conceitos e princípios


fundamentais. v.1. São Paulo: Oficina de textos, 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. No Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS), o solo


é representado por duas letras: um prefixo, ligado ao tipo de
solo, e um sufixo, ligado às características granulométricas e
de plasticidade. Já o sistema AASHTO (American Association
of State Highway and Transportation Officials) se baseia nas
características do solo quanto a granulometria, ao limite de

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liquidez, ao índice de plasticidade, além do índice de grupo.

Sabendo que determinado solo apresentou os seguintes


parâmetros:

• LL = 44,9 %.

• IP = 19,9%.

• % passa na #4 = 96,0 %.

• % passa na #10 = 95,0 %.

• % passa na #40 = 92,0 %.

• % passa na #200 = 67,0 %.

Classifique o solo pelo método SUCS e pelo sistema AASHTO.

Assinale a alternativa correta:

a. CL e A-7-6.
b. ML e A-5.
c. CL e A-5.
d. SP e A-3.
e. SC-SP e A-4.

2. Nogami e Villibor (1981) propuseram uma classificação mais


específica para os solos tropicais, com o objetivo de serem
mais bem utilizados em projetos de estradas, o sistema MCT
(Mini-compacted tropical). Essa classificação divide os solos
tropicais em diferentes grupos de comportamento distinto.
Quais são as classificações designadas pelo sistema MCT?
Assinale a alternativa correta:

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a. Argiloso e arenoso.
b. Fino e granular.
c. Laterítico e não laterítico.
d. Tropical e glacial.
e. Compactado e não compactado.

GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: Classificação SUCS.

Sabe-se que o 67% dos grãos passam pela peneira #200,


portanto, devemos seguir o caminho indicado pelo shape 1,
onde a porcentagem que passa na peneira #200 é maior que
50%.
Em um segundo momento, devemos utilizar os valores de IP, LL
e a carta de plasticidade indicada pelo shape 2 como guia.
A sigla da região cujo ponto derivado das retas oriundas de IP e
LL indica a classificação CL, indicada pelos shapes 3 e 4, ou seja,
uma argila de baixa compressibilidade.

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Classificação AASHTO.

Solo A-7: Se IP ≤ LL-30, será A-7-5; Se IP > LL-30, será A-7-6.

4: Como IP > LL-30 (19,9 > 44,9-30)  A-7-6.

Sabe-se que o 67% dos grãos passam pela peneira #200,


portanto, devemos iniciar a determinação pelos Materiais
siltosos e argilosos (mais de 35% passando na peneira n.200), o
que satisfaz a condição Peneiração - % que passa: n.200 de 36
mín.
A seguir, inicia-se a avaliação quando a Fração que passa n.40.
No grupo A-4 não é satisfeita a característica LL (%) de 40 máx,
já que no enunciado temos LL = 44,9 %. Tal item é satisfeito
no grupo A-5, porém, a próxima caraterística, IP (%) de 10 máx
não se enquadra, o que também descarta o referido grupo
(enunciado nos diz que IP = 19,9%). Ao chegarmos no grupo
A-6, também temos que LL (%) de 40 máx não possibilita o
enquadramento da classificação neste. Por fim, com LL (%) de
41 mín e IP (%) de 11 mín, grupo A-7. Para este grupo, ainda é
preciso avaliar se IP ≤ LL-30, a classificação será A-7-5, se IP >
LL-30, será A-7-6. No exercício: Como IP > LL-30 (19,9 > 44,9-30)
 A-7-6.

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Questão 2 - Resposta C
Resolução: Esta classificação divide os solos tropicais em
dois grupos: os de comportamentos laterítico e não laterítico.
Os solos lateríticos são típicos da evolução de solos de clima
quente, com regime de chuvas moderadas a intensas, bastante
encontrados no Brasil. Para caracterizá-los, é preciso seguir um
roteiro de procedimentos específicos.

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 2

Perfis geotécnicos e interpretação


de ensaios
______________________________________________________________
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira
DIRETO AO PONTO

A fim de realizar o dimensionamento de obras geotécnicas, é


imprescindível que os responsáveis técnicos conheçam o local da
obra.

Denomina-se perfil geotécnico a representação das camadas


presentes de solo em profundidade, acrescidas de parâmetros
característicos dos solos, sobretudo, nas cotas de maior interesse.

Uma exploração de subsolo adequada é aquela que permite, dentre


outras coisas, definir a natureza e estratigrafia das camadas de
solo, determinar a profundidade e natureza do topo rochoso (se
alcançado), obter amostras para identificação tátil-visual e ensaios
de laboratório (se necessário), determinar a ocorrência de água
subterrânea, estimar das propriedades geomecânicas dos materiais
presentes e avaliar quaisquer problemas devido a construções de
estruturas próximas já existentes (DAS, 2007).

Destaca-se que os perfis geotécnicos são elaborados a partir da


aplicação de técnicas de investigação em campo e em laboratório.
Como as técnicas de campo, geralmente, são mais rápidas e menos
onerosas, a grande maioria dos profissionais da área tendem a
solicitar apenas esste tipo de investigação. No entanto, dependendo
do tipo de obra, bem como das incertezas envolvidas no projeto, as
análises de laboratório podem auxiliar os projetistas de modo mais
assertivo.

Os principais ensaios a serem considerados na análise do perfil


de solo em campo são: de penetração dinâmica (sondagem de
simples reconhecimento tipo SPT – Standard Penetration Test ou
sondagem rotativa); de penetração estática (CPT – Cone Penetration
Test); pressiométricos (PMT – Pressuremeter Test); dilatométricos
(DMT – Dilatometer Test); ensaio de palheta (VST – Vane-Test ou Vane
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Shear Test); ensaio de medida de pressão neutra; prova de carga; e
permeabilidade.

Dentre estes,les merece maior destaque a sondagem de simples


reconhecimento tipo SPT, por ser este o método de exploração
de subsolo mais empregado, atualmente, no Brasil. Dentre suas
vantagens, tem-se a simplicidade do método, o baixo custo de
execução a obtenção de valores que podem ser relacionados
diretamente com alguns parâmetros empíricos de projeto, segundo
Belincanta ( (BELINCANTA, 1998). Destaca-se que o ensaio não
determina diretamente os parâmetros de resistência do solo
prospectado, mas possibilita fazer correlações do valor N obtido
metro a metro do solo, com a expectativa do comportamento do
solo.

É interessante também perceber que para o projetista poder utilizar


um perfil geotécnico, ele precisa lidar com as incertezas como a real
extensão vertical e lateral das camadas do subsolo. Por mais amplas
que sejam as prospecções realizadas, dificilmente as condições do
perfil são plenamente definidas. A Figura 1 apresenta um exemplo
de simplificação, que, geralmente, é feita.

Figura 1-: Simplificações realizadas no perfil geotécnico

Fonte: Aadaptado de Magalhães (2015, p.), pág. 83).

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Além da exploração de subsolo por meio de ensaios de campo,
por vezes, é necessária uma complementação, ou seja, utilizar
também ensaios de laboratório. Os principais ensaios de laboratório
empregados nestse contexto são: caracterização física (umidade,
peso específico do solo e dos sólidos, limites de consistência e
granulometria) e hidromecânica (ensaios de compactação, Índice
de Suporte Califórnia (ISC/CBR), permeabilidade, adensamento e
resistência ao cisalhamento).

Referências bibliográficas
BELINCANTA, A. Avaliação dos fatores intervenientes no índice de
resistência à penetração do SPT. Tese (Doutorado), – Universidade de
São Paulo., São Carlos, 1998.
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da 6.
ed. norte-americana.6.ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. 577 p.
Tradução da 6ª edição norte-americana.
MAGALHÃES, M. S. Dimensionamento de estruturas de contenção
atirantadas utilizando os métodos de equilíbrio limite e de
elementos finitos. Dissertação (mMestrado), – Pontifícia, Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil. Rio de
Janeiro, 2015. 192 f.

PARA SABER MAIS

A sondagem de simples reconhecimento SPT (Standard


Penetration Test) permite ao projetista geotécnico compreender o
comportamento do solo e suas características. Para isso existem
correlações do valor de “N” (número de golpes necessários para a
cravação dos 30 últimos centímetros do amostrador padrão) e os
parâmetros físicos e de resistência ao cisalhamento do material.

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No Quadro 1 estão apresentadas as mais importantes correlações
utilizadas na estimativa de parâmetros dos solos para fundações e
obras geotécnicas.

Quadro 1:- Parâmetros de resistência e de


deformabilidade em função do SPT

Fonte: Aadaptado de NBR 6484 (2020) e Marangon (2018, p. ), pág. 20).

Apenar desses parâmetros serem, em sua grande maioria, baseados


nos estudos de solos subtropicais do hemisfério norte (Europa
e Estados Unidos), sua aplicação para estudos preliminares de
comportamento de solo de regiões tropicais é aceitável.

Caso você se interesse um pouco mais, saiba que existem outras


correlações especificamente para solos tropicais, como a proposta
por Cintra (2003 apud MARANGON, 2018), onde a coesão não
drenada pode ser estimada por Cu (kPa) = 10 x N, ou ainda o
proposto por Godoy (1983 apud MARANGON, 2018) na qual o ângulo
de atrito interno das partículas pode ser definido por o º = 28º + 0,4 x
N.

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Referências bibliográficas
ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo –
Sondagens de simples reconhecimentos com SPT – Método de ensaio. Rio de
Janeiro,. 2020.
MARANGON, M. Unidade 03: investigação geotécnica e parâmetros para
fundações. In: Notas de aula: Geotecnia de Fundações e Obras de Terra.
2018. Disponível em: < https://www.ufjf.br/nugeo/files/2017/07/GEF03-
Investiga%c3%a7%c3%a3o-Geot%c3%a9cnica-e-Par%c3%a2metros-para-
Funda%c3%a7%c3%b5es-2018.pdf >. Acesso em: 2 mar. 06 jan. 2021.

TEORIA EM PRÁTICA

Um projetista de fundações recebeu os laudos de sondagem SPT


(Figura 2) e precisa estimar os parâmetros de comportamento do
solo.

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Figura 2 :- Relatório de SPT

Fonte: Acervo da autora.

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Determine o peso específico natural, além de coesão e ângulo de
atrito interno das cinco camadas subdivididas no laudo.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

O capítulo 2, do livro ‘Mecânica dos solos: conceitos e princípios


fundamentais’, de Manuel Matos Fernandes, apresenta algumas
explicações complementares sobre a prospecção do solo, –
Caracterização geotécnica: ensaios in situ. Você poderá ver mais
sobre as particularidades dos ensaios SPT e CPT, e até mesmo as
correlações matemáticas entre os resultados, que possibilita a
utilização conjunta das duas técnicas para melhor compreensão do
perfil de solo.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro “Biblioteca Virtual 3.0”.

FERNANDES, M. M. Mecânica dos solos: conceitos e princípios


fundamentais. v.2. São Paulo: Oficina de textos, 2014.

Indicação 2

O livro “Mecânica dos solos experimental”, de Faiçal Massad,


apresenta um apanhado a respeito das principais técnicas de

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laboratório, com algumas explicações pontuais dos ensaios, bem
como a interpretação de seus resultados. Trata-se de uma leitura
fácil e de grande valia quando quaeremos compreender melhor o
que o ensaio efetivamente nos possibilita como resposta.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro “Biblioteca Virtual 3.0”.

MASSAD, F. Mecânica dos solos experimental. São Paulo: Oficina


de textos, 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Para que se possa realizar um dimensionamento de obras


geotécnicas adequado, é imprescindível que os responsáveis
técnicos conheçam o local da obra. Sobre o assunto, analise as
afirmativas a seguir:
I - Uma exploração de subsolo adequada é aquela que permite,
dentre outras coisas, definir a natureza e estratigrafia das
camadas de solo, a ocorrência e profundidade do nível d’água
subterrâneo e as propriedades geomecânicas dos materiais

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presentes.
II - Quando são encontrados topos rochosos em uma prospecção
de subsolos antes de serem atingidos 2 dois metros de
profundidade, o terreno torna-se impróprio para a construção de
qualquer tipo de obra.
III - Considerando os ensaios SPT, sua realização possibilita obter
amostras para identificação tátil-visual e ensaios de laboratório.;
IV - Ao estimar das propriedades geomecânicas das camadas
de solo em subsuperfície, descartamos definitivamente a
necessidade de ensaios laboratoriais.;
V - Uma exploração de subsolo adequada também possibilita
avaliar quaisquer problemas devido a construções de estruturas
próximas já existentes.
Assinale a alternativa correta:

a. Estão corretas as afirmativas I, II e V, apenas.


b. Estão corretas as afirmativas II, III e IV, apenas.
c. Estão corretas as afirmativas I, III e V, apenas.
d. Estão corretas as afirmativas II, IV e V, apenas.
e. Todas as afirmativas estão corretas.

2. A sondagem de simples reconhecimento SPT (Standard


Penetration Test) permite ao projetista geotécnico
compreender o comportamento do solo e suas características.
Para isso, existem correlações do valor de N (número
de golpes necessários para a cravação dos 30 últimos
centímetros do amostrador padrão) e os parâmetros físicos e
de resistência ao cisalhamento do material.
Se um solo tipicamente arenoso apresentou “N” igual a 16,
utilizando as correlações preditas por Marangon (2018), quais
os valores você poderia adotar para os parâmetros ângulo de

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atrito interno e coesão do solo, respectivamente?
Assinale a alternativa correta:

a. 20º e 20 kPa.
b. 30º e 100 kPa.
c. 35º e 0 kPa.
d. 45º e 0 kPa.
e. 90º e 180 kPa.

GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: II - A presença do topo rochoso próximo à
superfície apenas limita a colocação de subsolos, não
impedindo a utilização do terreno para qualquer tipo de obra.
IV - Os ensaios laboratoriais complementam a sondagem em
campo nos pontos de maior interesse ao projeto.

Questão 2 - Resposta C
Resolução:

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 3

Tensão x deformação nos solos


______________________________________________________________
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira
DIRETO AO PONTO

Para solucionar problemas de engenharia, é necessário conhecer


as tensões aplicadas no subsolo, tanto aquelas referentes ao
peso próprio das camadas adjacentes, como aquelas oriundas do
acréscimo de tensões devido a carregamentos externos.

Segundo Das (2007), as principais formulações relacionas as tensões


devido ao peso próprio do solo são:

Sendo: e - tensão total; ’- tensão efetiva; u - pressão neutra; -


peso específico da água; i - peso específico natural do solo da
camada i; zi - profundidade da camada i.

Já quanto aos esforços externos, a distribuição em profundidade é


obtida em função do tipo, magnitude e geometria da área carregada,
além da cota analisada no perfil. As formulações e indicativos para
resolução e cálculo do acréscimo de tensão para carregamentos
retangulares e circulares uniformemente distribuídos, os mais
comuns, para projeto, são mostrados na Figura 1.

Além disso, é interessante saber que os solos possuem


comportamento específico de tensão-deformação devido à sua
estrutura multifásica. Admitindo o solo fino como saturado, sua
variação de volume quando submetido a um esforço de compressão
deverá ocorrer por redução de vazios devido à expulsão da água
intersticial, segundo Caputo (1996). Esse fenômeno é chamado de
adensamento.

O recalque total do solo fino é composto pelo recalque imediato


(estudado pela teoria da elasticidade), o recalque por adensamento
(que depende da tensão de pré-adensamento e do nível de tensão

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do projeto), formulação na Figura 2, e o recalque secundário (dado
pela fluência das partículas), de acordo com Souza Pinto (2006).

Figura1 - Formulários e ábacos para cálculo do acréscimo


de tensão para carregamentos retangulares e circulares
uniformemente distribuídos

Fonte: adaptado de Souza Pinto (2006, p. 168-170).

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Figura 2 - Classificação e formulário de cálculo de recalque por
adensamento

Fonte: adaptado de Souza Pinto (2006, p. 168-170).

Referências bibliográficas
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da 6. ed.
norte-americana 6.ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. .
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: fundamentos. 6. ed. Rio
de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1996.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas - com
exercícios resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

PARA SABER MAIS

Existe uma propriedade que possibilita os líquidos de se elevarem


acima do nível onde há pressão atmosférica, denominada de
capilaridade. É fácil perceber sua ocorrência, por exemplo, quando
coloca um canudo em um copo com um líquido colorido. No interior
do copo, o líquido atinge uma determinada altura, enquanto dentro
do canudo essa altura é maior. A diferença entre elas é maior,
quanto menor for o diâmetro do canudo.

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No caso da água no subsolo, pode ocorrer o mesmo fenômeno
de ascensão capilar do nível d’água devido à tensão superficial do
líquido e os vazios interligados que formam tubos capilares. Assim
como no exemplo genérico, a altura da coluna de água acima do
nível freático será inversamente proporcional ao tamanho dos
vazios do solo. Isso implica que solos mais granulares tendem a
ter ascensão capilar menor (areias puras, por exemplo, poucos
centímetros), enquanto solos mais finos apresentam ascensão
capilar maior (solos muito argilosos podem chegar a muitos metros).

Na franja capilar formada, a saturação do solo não é 100% como


no solo submerso, mas essa simplificação é feita para facilitar os
cálculos das tensões geostáticas e tudo bem, pois está a favor da
segurança.

Para determinar numericamente a pressão neutra, nesses casos,


é preciso saber que seu resultado, obtido pela multiplicação do
γw pela altura da coluna d’água, será negativo. A ação das forças
capilares desaparece caso ocorra saturação do solo. Na Figura 1 é
apresentado o efeito da capilaridade na distribuição das tensões
geostáticas de um solo.

31
Figura 3 - Efeito da capilaridade na distribuição das
tensões geostáticas do solo

Fonte: adaptado de Das (2007).

É interessante você saber que a ascensão do nível d’água, seja


por sazonalidade ou pela condição natural, precisa ser avaliada
e considerada no projeto. O ensaio SPT (Standard Penetration
Test) possibilita verificar a ocorrência da franja capilar: quando se
encontrar o nível d’água em campo, no furo de sondagem, deve-se
esperar ver se permanece constante ou se sumirá com a abertura de
um tubo de maior diâmetro. Quando se alcançar o nível d’água real
do perfil, a água não mais rebaixará.

Referências bibliográficas
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da 6. ed.
norte-americana. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

32
TEORIA EM PRÁTICA

Um centro comercial será construído em um terreno adquirido


recentemente por um grupo de empresários. A sondagem de
simples reconhecimento possibilitou a definição do perfil de solo
estratificado apresentado na Figura 1.

Figura 4 - Perfil de solo encontrado por simples reconhecimento

Fonte: elaborada pela autora.

Para conhecer melhor o perfil de solo, você e sua equipe precisam,


inicialmente, traçar os diagramas de tensões geostáticas (tensão
vertical total, poropressão e tensão vertical efetiva). A partir
dos resultados e da concepção da edificação e do monumento
arquitetônico projetado (Figura 2), você e uma equipe decidiram
por fundações em radiers na cota – 0,5 m do terreno. Além disso,
sabendo que as construções causariam incremento de tensão
no solo, também precisam determinar o acréscimo de tensões
provocada na cota – 6,0 m, na vertical que passa pelo centro dos
seguintes carregamentos: um monumento cuja projeção em planta

33
é uma placa circular (D = 2,0m), q = 50 kN/m²; e um prédio de
projeção em planta retangular (L = 14,0 m e B = 20 m), q = 250 kN/m²

Figura 5 - Disposição da obra

Fonte: elaborada pela autora.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Os capítulos 8 e 9 do livro Fundamentos de engenharia geotécnica,


de Braja M. Das, apresentam a teoria e a aplicação dos conceitos
relacionados às tensões in situ (geostáticas) e tensões devido a
carregamentos externos. Com os conceitos, ábacos e até situações
34
problemas resolvidas, trata-se de um ótimo material para solidificar
o aprendizado.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro Biblioteca Virtual 3.0.

DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da


6. ed. norte-americana. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

Indicação 2

A teoria vinculada à relação tensão versus deformação dos solos


finos, sobretudo, quando submetidos a cargas externas, é de suma
importância para a aplicação prática da engenharia, principalmente,
em regiões de solo muito intemperizado, como ocorre em grande
parte do Brasil. O capítulo 4, do livro Mecânica dos solos: conceitos e
princípios fundamentais, apresenta uma breve explanação sobre o
tema, sendo muito útil para os profissionais da área.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro Biblioteca Virtual 3.0.

FERNANDES, M. M. Mecânica dos solos: conceitos e princípios


fundamentais. v.1. São Paulo: Oficina de textos, 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

35
Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão
elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. No perfil abaixo, qual a profundidade em que teremos,


aproximadamente, σ’v0 = 68,6 kN/m²?

Figura 6 - Exercício 1

Fonte: elaborada pela autora.

Assinale a alternativa correta:

a. 1,2 m.
b. 3,5 m.
c. 7,2 m.
d. 8,1 m.
e. 9,9 m.

36
2. Uma empreiteira deseja construir dois prédios de esquina
separados por uma rua de 5m de largura. Ambos têm plantas
retangulares, conforme mostrado na figura abaixo. Qual o
cálculo de acréscimo de tensão ocasionado no centro do
prédio A a 10 m de profundidade?

Figura 7 - Exercício 2

Fonte: elaborada pela autora.

Assinale a alternativa correta:

a. 95 kPa.
b. 118 kPa.
c. 18 kPa.
d. 700 kPa.
e. 200 kPa.

37
GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: Para a camada 0,0 a 1,0 m - γ = 15,2 kN/m³.
Para a camada 1,0 a 3,0 m - γ = 18,9 kN/m³.
Para a camada 3,0 a 6,0 m - γ = 18,0 kN/m³.
Para a camada 6,0 a 10,0 m - γ = 19,8 kN/m³.

Questão 2 - Resposta B
Resolução: Iniciando pelo prédio A:

Agora para o prédio B:

38
39
INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 4

Hidráulica nos solos


______________________________________________________________
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira
DIRETO AO PONTO

O solo possui uma estrutura sólida arranjada e vazios preenchidos


com água e/ou ar. Quando preenchidos com água, há a
possibilidade desse líquido estar sob equilíbrio hidrostático ou
fluir sob a ação da gravidade quando submetida a um potencial
hidráulico, segundo Das (2007). Quando a água do solo está em
equilíbrio hidrostático, é possível calcular a poropressão da água
(ou pressão neutra) no solo pela multiplicação do peso específico da
água pela altura de coluna d’água. Quando está em fluxo, é preciso
utilizar as chamadas Leis de Fluxo.

As Leis de Fluxo da água no solo, considerando escoamento laminar,


são:

• Lei de Darcy: , onde Q - vazão; K - coeficiente de


permeabilidade de Darcy; i é o gradiente hidráulico dado pela
relação H / L (perda de carga / distância de percolação); A -
seção transversal do escoamento.

• Adaptação da Lei de Bernoulli: , onde,


para cada seção i tem-se: HT - carga hidráulica total; ui / -
carga piezométrica; zi - carga altimétrica; ui - pressão neutra; g
- força de gravidade; = massa específica da água.

A permeabilidade do solo é a propriedade que expressa a facilidade


deste em deixar a água percolar entre os vazios do solo. É possível
obter o coeficiente de permeabilidade (K) por métodos indiretos
(correlações com parâmetros do solo) ou métodos diretos (ensaios
de laboratório e campo).

Os principais métodos indiretos são:

41
• Equação de Hazen (válida para areias e pedregulho, com
coeficiente de não uniformidade menor que 5): ,
onde De - diâmetro efetivo do solo (cm); C - coeficiente
referente a forma da curva granulométrica - varia entre 90 a
120, sendo 100 o valor mais utilizado.

• Equação a partir dos parâmetros de adensamento:


, onde Hd - altura de drenagem; av - coeficiente
de compressibilidade; - peso específico da água; t50 - tempo
de 50% do adensamento primário (s); e0 - índice de vazios
inicial.

Já para métodos indiretos, os principais ensaios são apresentados


na Figura 1.

42
Figura 1- Métodos diretos de determinação do K

Fonte: elaborada pela autora.

Tanto as características do solo (tamanho das partículas, índice


de vazios, grau de saturação e estrutura), como as do fluido
(viscosidade e massa específica) podem interferir na permeabilidade,
segundo Sousa Pinto (2006). Quando há movimento de água no
solo, o atrito viscoso gera uma força efetiva definida como força de
percolação. Essa força pode gerar alguns problemas na engenharia
43
geotécnica, como a areia movediça e o piping, de acordo com
Fernandes (2016).

Referências bibliográficas
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da 6. ed.
norte-americana. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
FERNANDES, M. M. Mecânica dos solos: conceitos e princípios
fundamentais. v.1. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas - com
exercícios resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

PARA SABER MAIS

Em muitos projetos de engenharia que envolvem a avaliação da


percolação da água no solo, a solução quanto às determinações
das forças de percolação estão vinculadas a delimitação de
redes de fluxo. Uma rede de fluxo é um procedimento gráfico
que consiste em traçar na região em que ocorre o fluxo de água
por dois conjuntos de curvas perpendiculares e que formam,
aproximadamente, regiões quadradas em seu cruzamento: as
linhas de fluxo, que são as trajetórias das partículas do líquido; e
as linhas equipotenciais, que como o nome conota, são linhas de
mesma carga hidráulica pelas quais é considerada que se divide a
carga hidráulica total.

A Figura 2 apresenta dois exemplos de redes de fluxo, uma para


um fluxo confinado e outra para não confinado. O que distingue os
tipos de percolação são as condições de contorno ou o tipo de obra.
Por exemplo, no caso uma cortina de estaca-prancha, há linhas
de equipotenciais máxima e mínima e linhas de fluxo superior e
inferior, o fluxo é determinado como confinado. Já no caso de uma

44
barragem de terra, verifica-se a ausência da linha de fluxo superior,
tem-se o fluxo não confinado.

Figura 2 - Exemplos de rede de fluxo confinado A)


e não confinado B)

Fonte: adaptado de Marangon (2018).

A partir disso do traçado, diz-se que o trecho compreendido entre


duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer é denominado canal de
fluxo e sempre corresponderá a uma fração da quantidade total de
água que se infiltra no maciço, o que faz com que a vazão em cada
canal de fluxo (Nf) seja constante e de igual valor. Outra imposição é
a de que se considera que existe a mesma perda de carga entre as
linhas equipotenciais adjacentes, denominada de queda de potencial
(Nd). Na Figura 1 também estão representados o número de canais
de fluxo e quedas equipotenciais de cada exemplo apresentado.
A partir da definição da rede, as seguintes relações matemáticas
possibilitam os cálculos hidráulicos:

45
Referências bibliográficas
MARANGON, M. Capítulo 1 - Hidráulica dos solos. Notas de aula: Mecânica
dos Solos II. Faculdade de Engenharia, NuGeo/Núcleo de Geotecnia, 2018.
Disponível em: https://www.ufjf.br/nugeo/files/2013/06/MARANGON-2018-
Cap%c3%adtulo-01-Hidr%c3%a1ulica-dos-Solos-2018.pdf. Acesso em: 2 mar.
2021.

TEORIA EM PRÁTICA

O correto cálculo das forças de percolação em um projeto pode


evitar que ocorram as chamadas rupturas hidráulicas do solo. Na
prática, podemos controlar tais forças de dois modos: reduzindo
a vazão de percolação e/ou adotando alguns dispositivos de
drenagem.

Considerando a redução da vazão, esta pode ser feita com a


construção de tapetes impermeabilizante a montante, construção
de revestimentos de proteção do talude de montante, zoneamento
do maciço, com núcleo constituído de material de baixa
permeabilidade; construção de trincheira de vedação (escavada na
fundação e preenchida com material de baixa permeabilidade) ou
com a construção de cortina de injeção.

Em relação aos dispositivos de drenagem, é possível executar filtros


verticais e inclinados, construir tapetes filtrantes (filtros horizontais),
zonear o maciço com material mais permeável na zona de jusante,
executar drenos verticais ou mesmo construir enrocamento de pé.

Considerando a teoria de Terzaghi quanto à escolha do material de


filtro, sabemos que é feita a partir da curva granulométrica do solo a
ser protegido, considerando ainda as seguintes relações:

46
Partindo disso, especifique o material que utilizaria como filtro de
proteção para o solo, com as características apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Distribuição granulométrica do solo para o qual será


dimensionado o filtro

Fonte: elaborada pela autora.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Carlos Sousa Pinto traz em seu livro, Curso básico de mecânica


dos solos, um capítulo inteiro para tratar sobre os assuntos
permeabilidade, a água no solo e as tensões de percolação. O
capítulo 6 resume muito bem os princípios básicos que norteiam as
discussões sobre o tema, além de possibilitar que se veja, por meio
de exercícios resolvidos, algumas peculiaridades da percolação da
água no solo em obras geotécnicas, solidificando seu aprendizado.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro Biblioteca Virtual 3.0.

47
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas
- com exercícios resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

Indicação 2

O capítulo 3, do livro Mecânica dos solos: conceitos e princípios


fundamentais, apresenta a conceituação, mais explicações sobre a
prática de laboratório e campo e vários exemplos sobre os principais
fenômenos que acontecem no solo quando apresenta percolação de
água. Trata-se de uma boa leitura para verificar conceitos e ampliar
o conhecimento sobre o tema.

Para realizar a leitura, acesse nossa Biblioteca Virtual e busque pelo


título da obra no parceiro Biblioteca Virtual 3.0.

FERNANDES, M. M. Mecânica dos solos: conceitos e princípios


fundamentais. v.1. São Paulo: Oficina de textos, 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

48
1. Considerando a teoria envolvida no fluxo de água no solo,
observando a Figura 3, calcule a vazão do escoamento e a
quantidade de água que escoa através do tubo para um tempo
de escoamento de 42 minutos. Adote que o tubo tem seção
transversal quadrada de 10 x 10 cm e que o coeficiente de
permeabilidade do solo equivale a 4 x 10-5 cm/s.

Figura 3 - Fluxo de água em um solo

Fonte: Caputo (2015, p. 38).

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações -


exercícios e problemas resolvidos. v. 3, São Paulo: LTC. 2015.

Assinale a alternativa correta:

a. 0,003 cm³/s e 8,40 cm³.


b. 0,006 cm³/s e 0,25 cm³.
c. 0,002 cm³/s e 5,67 cm³.
d. 0,003 cm³/s e 0,16 cm³.
e. 0,006 cm³/s e 15,12 cm³.

2. Uma pequena barragem de terra (Figura 4) precisa ser


construída sobre uma camada de areia, cuja finalidade
é deixar escoar água abaixo da base da barragem. Esta
camada tem 1 m de altura e 96 m de extensão. Os ensaios
de permeabilidade executadas em amostra dessa areia

49
indicaram que, quando colocada uma carga de 50 cm, em uma
amostra de 30 cm² de seção transversal e 20 cm de altura,
deixou passar 120 cm³ de água em cinco minutos. Qual é o
coeficiente de permeabilidade dessa areia em (cm/s) e a vazão
de percolação sob a barragem (em l/s).

Figura 4 - Esquema de uma barragem

Fonte: elaborada pela autora.

Assinale a alternativa correta:

a. 5,33 x 10-3 cm/s e 213,20 L/s.


b. 1,2 x 10-1 cm/s e 0,48 L/s.
c. 5,33 x 10-3 cm/s e 48,15 L/s.
d. 1,2 x 10-1 cm/s e 0,21 L/s.
e. 5,33 x 10-3 cm/s e 0,21 L/s.

GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução:

50
Questão 2 - Resposta E
Resolução:

51

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