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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO - FACOM

ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA:


Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

SALVADOR – BA
2016
ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA:


Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal da Bahia como exigência
para a obtenção do título de bacharel em
Comunicação – Produção em Comunicação e
Cultura, sob a orientação da Profa. Carla Risso.

SALVADOR – BA
2016
ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA:


Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal da Bahia como exigência
para a obtenção do título de bacharel em
Comunicação – Produção em Comunicação e
Cultura sob a orientação da Profa. Carla Risso.

Aprovada em: 20 / 05 / 2016

BANCA EXAMINADORA

_____________________________
Profa. Carla de Araújo Risso

Professor Doutor Fábio Sadao Nakagawa

Professor Doutor Lúcio Valera


A todos os “amadores profissionais”, que
se desdobram por uma demanda do
coração, tendo em suas mãos valiosos
trabalhadores voluntários, escassos
recursos, e muita boa vontade.
AGRADECIMENTOS

AO MEU PAI ANTONIO CARLOS DE SOUZA E A MEU GURU DHANVANTARI SWAMI (IVAN
AUGUSTO LISBOA RIBEIRO), QUE NUNCA ME PERMITIRAM ABANDONAR A FACULDADE.
A JAGAD VICHITRA PRABHU (SÉRGIO LISBOA RIBEIRO), QUE ME FEZ REFLETIR SOBRE A

VERDADEIRA REALIZAÇÃO DE RENÚNCIA E SERVIÇO DEVOCIONAL.

À MINHA MÃE AURENI RODRIGUES DE SOUZA, COM QUEM APRENDI MUITAS LIÇÕES DE VIDA.
AO MEU MARIDO ANANTA VASUDEVA DAS (SAMUEL LOURENÇO THÉ), POR FLORESCER NA

MINHA VIDA.

A ANO, DEU, RÔ, SOFI E AYLA. POR SEREM.


A TODOS MEUS AMIGOS, QUE ACHAM QUE EU SOU (QUE SOO E SOUL). E ME OBRIGAM A

ACREDITAR NISSO.

ÀS MINHAS VÁRIAS MÃES E IRMÃS: KUNTI, KADAMBA, MADALENA, RADHA KRSNA, HITA
KARINI, GOPESVARI LEUNY E GAURA PRIYA.
A GOVINDAJI DEVI DASI (GOVINDA VENTURA), CAITANYA DOIDO DAYA DAS (CLEITON
VENTURA), E RAVI KRISHNA (ÊÊÊÊ!!!) PELO COMBUSTÍVEL DA RETA FINAL.
A VERINHA E SUELI POR TANTO TEMPO, E A TODOS COLEGAS, PROFESSORES E

FUNCIONÁRIOS QUE TORCERAM A FAVOR POR MIM.

AO SENHOR JAGANNATHA, QUE, ESTANDO SEMPRE EM MEU CAMINHO, OU MEU CAMINHO A

ELE SE DIRIGINDO, É O OBJETO DE MINHA VISÃO. (JAGANNATHA SWAMI NAYANA PATAGAMI

BHAVA TU ME)

AO PODEROSO SENHOR HANUMAN, QUE ME DÁ FORÇAS DE TRANSPORTAR MONTANHAS E

SEMPRE ME ACOMPANHA. (BOLO HANUMAN BAJRANGBALI)

A SRILA PRABHUPADA, EM HOMENAGEM AOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DA ISKCON.


E AO MEU ANJO-EX-ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOSÉ ROBERTO SERAFIM
SEVERINO, QUE ME GUIOU ATÉ A BORDA, E À DOCE PROFESSORA DOUTORA CARLA DE

ARAÚJO RISSO, QUE DEU O EMPURRÃO FINAL.

MEUS AGRADECIMENTOS E REVERÊNCIAS AOS GRANDES MESTRES E PREDECESSORES.


A ELES OS CRÉDITOS DE MEUS TRABALHOS.

OBRIGADA.
“Abhay encantou-se também com o festival de
Ratha-yatra do Senhor Jagannatha,
comemorado anualmente em Calcutá. O maior
Ratha-yatra de Calcutá era conduzido no
Radha-Govinda Mandir, com três carruagens
individuais, carregando as Deidades de
Jagannatha (Krsna), Balarama e Subhadra.
Saindo do templo de Radha-Govinda Mandir,
as carruagens seguiam a Rua Harrison por
uma curta distância, após o que voltavam.
Nesse dia, os dirigentes do Templo distribuíam
ao público grandes quantidades de prasada do
Senhor Jagannatha.

Promovia-se Ratha-yatra pelas cidades de toda


a Índia, mas o Ratha-yatra original, do qual
participavam a cada ano milhões de
peregrinos, ocorria a 500 quilômetros ao sul de
Calcutá, em Jagannatha Puri. Por séculos em
Puri, multidões têm rebocado no percurso de
três quilômetros da procissão as três
carruagens de madeira de cerca de 14 metros
de altura, em comemoração a um dos
passatempos eternos do Senhor Krsna. Abhay
ficou sabendo como o próprio Senhor Caitanya,
há 400 anos, dançara e liderara o extático
canto de Hare Krsna no Festival de Ratha-yatra
de Puri. Abhay às vezes olhava para o roteiro
de horários de trens ou perguntava sobre o
preço da passagem até Puri, pensando sobre
como conseguir dinheiro para ir até lá.

Abhay [aos cinco anos de idade] queria ter sua


própria carruagem e realizar seu próprio Ratha-
yatra e, naturalmente, recorreu ao auxílio de
seu pai. Gour Mohan lhe trouxe uma réplica
usada de um ratha (carruagem) de um metro
de altura, e, junto, o pai e o filho construíram as
colunas de sustento e colocaram um dossel no
topo, para dar a maior semelhança possível
com aqueles nas grandes carruagens de Puri.
Abhay ocupou seus companheiros em ajuda-lo,
especialmente sua irmã Bhavatarini, e tornou-
se seu líder natural.

Respondendo a seus pedidos, as mães que


viviam na vizinhança se divertiam e
concordaram em cozinhar preparações
especiais para que ele pudesse distribuir
prasada neste festival de Ratha-yatra.

Como o festival de Puri, o Ratha-yatra de


Abhay durou oito dias consecutivos. Os
membros de sua família se reuniram, e as
crianças da vizinhança puxavam o carro da
procissão, cantando e tocando tambores e
karatalas.
(...)
Quando, no final da década de 1960, Srila
Prabhupada começou a introduzir grandes
festivais de Ratha-yatra nas cidades dos
Estados Unidos e quando começou a instalar
Deidades de Radha-Krsna em seus templos da
ISKCON, ele disse que aprendera todas essas
coisas com seu pai.”
Satsvarupa Dasa Gosvami (2014)
RESUMO

Este documento registra um estudo das produções do evento “Festival de


Verão Ratha Yatra” realizadas pela ISKCON Bahia, Brasil, com foco no período de
2003 a 2013. Seu objetivo é apontar caminhos para o aprofundamento do Produtor
Cultural interessado no campo do evento Ratha Yatra, e de outros similares. Este
Trabalho apresenta um histórico do Movimento Hare Krishna, ISKCON (mundial, no
Brasil e na Bahia), e do Ratha Yatra (na Índia, no Ocidente, no Brasil e por fim em
Salvador); destrincha experiências de produção deste evento em Salvador (BA), e
revela considerações do produtor sobre o trabalho na prática realizando este evento
por mais de 10 anos. Vagueia sobre a participação de voluntários, a escassez de
recursos, as limitações do produtor, concluindo com a importância da simbiose entre
o Produtor Cultural e seu produto.

Palavras-chave: Ratha Yatra; ISKCON; Movimento Hare Krishna; Jagannatha;


Voluntário; Festival
ABSTRACT

This document contains a study about the productions of the event "Festival
de Verão Ratha Yatra" [Ratha Yatra Summer Festival] organized by ISKCON Bahia,
Brazil, focused on the period 2003 to 2013. Its objective is to point ways to
deepening for any Cultural Producer interested on the field of the Ratha Yatra event
or similar ones. This paper presents a history of the Hare Krishna Movement,
ISKCON (world, Brasil and Bahia), and a history of Ratha Yatra (in India, in the
Occident, in Brazil, and at last in Salvador); it details production experiences of the
event in Salvador (BA) and it reveals the producer's considerations about the job in
practice by organizing the event for over 10 years. It wanders by the volunteers's
participation, the shortage of resources, the producer's limitations, and it concludes
with the importance of the symbioses between the Cultural Producer and his product.

Keywords: Ratha Yatra; ISKCON; Hare Krishna Movement; Jagannatha;


Volunteer; Festival
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AP Acervo Pessoal
APV Alimentos Para a Vida (FFL)
BBT Bhaktivedanta Book Trust
CGB Conselho Governamental Brasileiro
FFL Food for Life
GBC Governiment Body Comission
ISKCON International Society for Krishna Conciousness (Sociedade
Internacional para a Consciência de Krishna)
RY Ratha Yatra
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13
1.1 GLOSSÁRIO PRÉVIO 15
2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE
E NO BRASIL 16
2.1 ISKCON 17
2.2 Ratha Yatra: sua origem e elementos 18
2.2.1 Deidades do Ratha Yatra 24
2.2.2 Pujari 25
2.3 Ratha Yatra no Ocidente 26
2.3.1 Ratha Yatra no Brasil 30
3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA 35
3.1 Deidades da ISKCON Bahia 39
3.2 Snana Yatra 43
3.3 Carro do Ratha Yatra 44
3.3.1 Cúpulas 50
3.4 Prasada – Alimentos Para a Vida 54
3.5 Música 54
4 BOTANDO A MÃO NA CORDA 57
4.1 A “Religião” como um rótulo 58
4.2 Escolha do Percurso, Dia e Horário 58
4.3 Snana Yatra 60
4.4 Acompanhamento Percussivo 60
4.5 Sonorização 60
4.6 Apresentações Artísticas 61
4.7 Cerimônia dos Cocos 61
4.8 Chhera Pahanra (varredura) 61
4.9 Banquinhas 62
4.10 Manutenção, Transporte e Montagem do Carro 62
4.10.1 Pós-evento 63
4.11 Decoração 65
4.12 Alimentos Para a Vida 66
4.12.1 Madalena Koppe (Mada) 67
5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR 69
5.1 Planejamento e Execução 70
5.1.1 Projeto 70
5.1.2 Plano de Comunicação 71
5.1.3 Autorizações 72
5.2 Gerenciando Recursos 74
5.2.1 Voluntários, Tempo e Outros Recursos: o
Panorama da Mudança 74
5.2.2 Recurso Humano 75
5.2.3 Recursos Financeiros 76
5.2.4 Apoios Públicos 77
5.2.5 Distribuição de Prasada - Alimentos Para a Vida 77
5.3 Produção como Seva 78
5.3.1 Um Espaço para o Místico 79
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 84

REFERÊNCIAS 86
APÊNDICE A 88
ANEXOS 93
ANEXO A 94
ANEXO B 110
ANEXO C 125
1/5 Por que Krishna Aparece como Jagannatha? 126
2/5 Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar 134
3/5 Jagannatha: O Êxtase do Reencontro 138
4/5 Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha 151
5/5 Archana: Adoração à Deidade 160
ANEXO D 166
ANEXO E 184
ANEXO F 202
RELAÇÃO DE ANEXOS ÁUDIO VISUAIS (F a N) 204
GLOSSÁRIO 206
13

1 INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é ampliar o campo de visão do produtor cultural


enquanto um ser, se não já inserido, a se inserir no mundo de sua produção, através
do estudo de caso de Produção do “Festival Ratha Yatra”, realizado pela Sociedade
Internacional Para a Consciência de Krishna (ISKCON) na cidade de Salvador,
Bahia, no período compreendido entre, e incluso, os anos de 2003 a 2013.
Serão levantadas observações sobre uma produção sem fins lucrativos, que
tem sua base no trabalho voluntário, realizada por devotos, por, e para, uma
instituição de poucos recursos financeiros, com apenas 40 anos de história no Brasil.
Devido às particularidades desse específico serviço de produção, este
trabalho de conclusão de curso versa sobre o indispensável vínculo entre o(s)
produtor(es) e seu produto ao trabalhar em um cenário peculiar, que imporá sua
dinâmica, do início ao fim. Inevitável tratar das dificuldades enfrentadas e como
minimizá-las, bem como do caráter salutar de tal tipo de evento e suas benesses
para o profissional da Produção.
Os significados das palavras estranhas à Língua Portuguesa, mais
especificamente em Sânscrito, que serão constantemente usadas, podem ser
encontrados ao final do Trabalho, na seção Glossário. Uma linguagem única é
utilizada, e termos são condensados, visto tratar-se de um cenário próprio e
específico. Para situar inicialmente o leitor desde trabalho, os mais relevantes
desses termos são apresentados nesta Introdução, como um GLOSSÁRIO PRÉVIO.
Necessária, também, é a contextualização sobre a SOCIEDADE
INTERNACIONAL PARA CONSCIÊNCIA DE KRSNA (ISKCON), e sobre as
tradições e elementos do Ratha Yatra, ao que o Capítulo 2 se propõe. O Anexo A
contém informações institucionais sobre a ISKCON, seu fundador e suas bases; e o
Anexo B, o histórico da ISKCON na Bahia, e as concepções de divindade desta
instituição. O Anexo C enriquece o leitor com as origens e passatempos do
personagem principal do Ratha Yatra, o Senhor Jagannatha, em 5 artigos da
revista “Volta ao Supremo”. Maiores dúvidas quanto à tradição vaishnava podem ser
sanadas através da leitura do Anexo D.
No Capítulo 3, observamos o cenário da produção do RATHA YATRA NA
BAHIA, mas especificamente em Salvador, e sua movimentação estrutural,
quando a organização do evento passa das mãos da administração oficial da
14

Instituição para os seus membros voluntários autônomos (produtores-


profissionais-amadores). Essa movimentação da estrutura social da ISKCON é
apresentada por Dhanvantari Swami, pioneiro da ISKCON no Brasil, no Anexo E.
O Capítulo 4, “BOTANDO A MÃO NA CORDA”, dá sequência ao
desenvolvimento da ideia de se produzir um Ratha Yatra ou eventos similares. Trata
das bases das escolhas a serem feitas na organização desses eventos.
O Capítulo 5 continua apresentando os elementos que se destacaram na
produção do Ratha Yatra em Salvador de 2003 a 2013, e as experiências e
considerações sobre cada um. “DE PRODUTOR PARA PRODUTOR” é emitido
finalmente como a voz latente do produtor do Ratha Yatra, direcionada a outro
produtor, esmiuçando o “andar da carruagem” de seu trabalho: seu modo de agir
frente a todo o contexto apresentado, inserido em um cenário mais amplo da
produção.
Para complementar este trabalho, uma vez que sua conclusão se deu após a
realização do Ratha Yatra 2016 de Salvador, o Apêndice A traz um relato sobre o
processo atual de licenciamento de eventos do município.
Muitos detalhes da execução de um Festival de Ratha Yatra não foram
ampliados, dado o objetivo deste trabalho, sendo passíveis de se tornarem matérias-
primas para um futuro trabalho mais extensivo. O foco aqui são as experiências e
impressões mais marcantes de um produtor, profissional por sua formação
acadêmica e/ou experiência, mas amador por escolha, em mais de 11 de
edições de um mesmo evento.
Ainda que limitado, espera-se que este trabalho sirva de auxílio para
interessados na produção do evento em questão, ou outros de natureza similar.
15

1.1 GLOSSÁRIO PRÉVIO

a) Gaudya-Vaishnavismo - tradição monoteísta e personalista, ensinada através


da corrente de sucessão discipular que advém da Encarnação de Deus Caitanya
Mahaprabhu (Gauranga). Sua prática essencial é a Bhakti-Yoga.
b) Vaishnava - seguidor do gaudya-vaishnavismo.
c) Bhakti Yoga - pratica espiritualista que compreende o serviço devocional
espontâneo, imotivado e amoroso à Suprema Personalidade de Deus, como
forma religiosa, religare, de conexão com o Divino.
d) Bhakta - praticante da Bhakti-Yoga.
e) Devoto - será utilizado como variação para “Bhakta”. Compreende o membro da
ISKCON, residente ou não do Templo.
f) Devocional - próprio do devoto, feito por amor e espontaneamente.
g) Seva - serviço devocional. Todo trabalho feito por, ou destinado a, o devoto.
h) Voluntário ou colaborador - apoiador da produção do Ratha Yatra, sendo
devoto ou não, e não remunerado por isso, a menos que seja ressalvado.
i) Simpatizante - aquele que não pratica a religião vaishnava, mas apoia e
simpatiza com a instituição e seus objetivos, sendo ou não um voluntário ou
colaborador.
j) Carro, carruagem ou Carro do RY - veículo no desfile RY para levar as
Deidades, sendo puxado por cordas pelos participantes.
k) Mantra - Conjunto de sons, que por suas propriedades e vibrações intrínsecas
possui o poder de realizar transformações, sutis ou grosseiras na matéria
orgânica.
l) Maha Mantra ou Maha Mantra Hare Krishna: hare krishna hare krishna
krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare. É uma
oração de aclamação e louvor à Suprema Personalidade de Deus. Considerada
a mais poderosa oração pela tradição Gaudya-Vaishnava.
16

2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE E NO BRASIL


17

2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE E NO BRASIL

2.1 ISKCON

Figura 1: Srila Prabhupada (Acervo Pessoal)

A Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna, ISKCON (do


inglês International Society for Krishna Consciousness) foi fundada em 1966, nos
Estados Unidos, por seu acarya (aquele que ensina pelo exemplo) Abhay
Caranaaravinda Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Srila Prabhupada, que aos
69 anos de idade saiu pela primeira vez da sua terra natal, Índia, visando satisfazer
o desejo e sugestão de seu mestre espiritual de levar aos países de língua inglesa
os conhecimentos da tradição monoteísta e personalista Gaudya Vaishnava.
Durante a viagem de três dias em um barco cargueiro chamado Jaladutta, Srila
Prabhupada completou 70 anos e sofreu dois ataques cardíacos. (SATSVARUPA,
2002)
A ISKCON é uma instituição sem fins lucrativos, de carácter religioso
(monoteísta e personalista), filosófico, social, cultural e beneficente, que, por ter
como fundamento em suas práticas religiosas diárias o cantar de mantras (cânticos
ou recitações) na língua sânscrita, sendo desses o principal o Maha Mantra “Hare
Krishna” (hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama
rama rama hare hare), se tornou popularmente conhecida como “Movimento Hare
Krsna”.
18

Em sua missão, Srila Prabhupada não se limitou aos países de língua inglesa,
e surpreendeu seus compatriotas não só por obter sucesso na consolidação da
ISKCON nos Estados Unidos da América, - o que seus contemporâneos indianos já
consideravam impossível antes de sua partida da Índia, - mas efetivamente
expandiu esta Sociedade para todos os continentes e principais países do mundo,
incluindo Estados da própria Índia, onde os Templos e discípulos da ISKCON se
tornaram referências no Gaudya Vaishnavismo. (SATSVARUPA, 2002)
Maiores informações sobre a ISKCON e Srila Prabhupada se encontram nos
Anexos A, B e D.

2.2 Ratha Yatra: sua origem e elementos

Figura 2: Ratha Yatra em Jagannatha Puri (AP)

“Ratha” significa carruagem, e “Yatra”, viagem, passeio. O Ratha Yatra é um


festival religioso que originalmente acontece na cidade de Puri (ou Jagannatha Puri),
Orissa, Índia, quando três grandes carruagens de madeira, são puxadas por cordas
por um percurso de 3 quilômetros, do Templo de Jagannatha Puri ao Templo de
Gundica (pronuncia-se “Gunditcha”), sempre com o acompanhamento de música
devocional e distribuição de alimentos consagrados (prasada) (KHUNTIA, PARIJA,
19

BIBUDHARAÑJAN, 2002). A primeira procissão data de 1150 dC, e anualmente 1


milhão de participantes são aguardados, sendo este um dos mais antigos e
maiores eventos religiosos do mundo.

Dois elementos principais caracterizam a base de um evento Ratha Yatra:


a) Carros de passeio (carruagens) puxados por cordas (ou outro artifício)
pelas pessoas presentes; e
b) As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra como passageiros
dessas carruagens (vide item 3.2.1).

Carruagens - com 16 metros de comprimento e pesando cerca de 5


toneladas cada, os Carros de RY de Puri são considerados como a própria Deidade.
Sua confecção ocorre como um ritual, e todas as medidas, pinturas, cores, tanto do
Carro como de Suas cúpulas, são religiosamente pré-determinados.

Passageiros - No Ratha Yatra de Puri, as três Deidades: Jagannatha, Seu


irmão Baladeva, e Sua irmã Subhadra, assumem Seus tronos em cada uma das três
carruagens, e saem para passear, na única oportunidade por ano em que podem ser
vistas por aqueles que não têm permissão de entrar em Seu Templo - estrangeiros e
indianos de determinadas castas, classes sociais, não têm esse privilégio e só
podem ver as Deidades durante seu passeio Ratha Yatra. (KHUNTIA, PARIJA,
BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 3: Baladeva, Subhadra e Jagannatha de Puri em Seus Carros de RY


(AP)
20

Figura 4 – cordão de segurança para puxar as cordas do RY em Puri (AP)

Cordas - O significado místico das cordas puxadas pelos presentes no RY é


“o esforço necessário para se alcançar Deus.” Os participantes estão puxando Deus
para dentro de Seus corações. Segundo a tradição, quem puxa a corda do carro do
Senhor Jagannatha no dia de Seu Ratha Yatra obtém a liberação deste mundo
material. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 5 – Deidades de Puri prontas para o banho (AP)

Snana Yatra - Aproximadamente quinze dias antes do desfile principal, as


Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra passam pela cerimônia de Snana
Yatra, que consiste em serem banhadas pelos pujaris (Seus cuidadores pessoais -
21

vide 3.2.2) com diversos líquidos, como sucos de frutas, mel, água de coco, leite,
essências, ghee (manteiga sem impurezas), iogurte e água. Como esse banho é
realizado na parte externa do Templo, considera-se que as Deidades ficam doentes
devido ao frio, após o que ficam reclusas no altar da sala do Templo de Puri, de
portas fechadas, até a data do Ratha Yatra, sendo cuidadas de Sua doença, e
vistas, neste período apenas por seus servos íntimos (pujaris). (KHUNTIA, PARIJA,
BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 6 – Jagannatha sendo levado para o Carro no movimento de Pahanti (AP)

Pahanti - No dia do Ratha Yatra, após Sua recuperação, as Deidades são


levadas, uma a uma, pelos pujaris e pessoas autorizadas, para Suas carruagens
fora do Templo, onde são recebidas com grande festa pelos fiéis, e colocadas nos
assentos de Seus respectivos carros de Ratha Yatra. Como as Deidades em Puri
são grandes e pesadas, este movimento de saída do Templo se torna um evento à
parte, chamado Pahanti. Grandes toras de madeiras e/ou almofadas são colocadas
à frente das Deidades, que são levantadas e empurradas para frente, dando a
impressão das Deidades estarem dançando, embriagadas, em meio à multidão.
Seus servos entendem que é devido a estarem intoxicadas de amor puro. (Vide
Anexos áudio visuais I e J)
22

Figura 7 – Deidades de Puri sendo levadas do Templo para os Carros (AP)

Chhera Panhara (pronuncia-


se ‘pan-RRa-ra’) - É uma tradição
na qual o maharaja, ou rei, de Puri
varre o chão na frente dos Carros
antes da procissão. (KHUNTIA,
PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)
Com este gesto ele demonstra que
apesar dele ser a maior autoridade
do templo de Puri, Deus,
Jagannatha, é a autoridade
Suprema, acima dele mesmo.

Figura 8: Governante de Puri realiza o Chhera Panhara (AP)

Maha Prasada - Durante o Ratha Yatra, muitos alimentos lacto-vegetarianos


são consagrados durante o percurso,
através do seu oferecimento pelos pujaris a
estas Deidades. A partir dessa consagração,
os alimentos passam a ser chamados de
“prasada”, misericórdia de Deus, ou
“mahaprasada” (maha = grande).
Figura 9: Prasada (AP)
23

Figura 10: Templo de Gundica (AP)

Retiro - As Deidades saem do Seu Templo em Puri percorrendo os três


quilômetros que O separa do Templo de Gundica, onde passam 7 dias
repousando, e retornam ao Templo de Puri no 9º dia. Apesar de o Festival abranger
esses 9 dias, o evento principal do Ratha Yatra compreende o primeiro dia da
procissão.

Figura 11: Carros de RY estacionados às portas do Templo de Gundica (AP)


24

2.2.1 Deidades do Ratha Yatra

Nos Templos Gaudya-vaishnavas, os altares são ocupados por formas que


são manifestações diversas de Deus. São as Deidades. Elas podem ser de madeira,
mármore, metal, pedra, ou qualquer outra composição, desde que autorizada na
linha de sucessão discipular da tradição.
São três as Deidades predominantes no Templo de Puri, esculpidas em
enormes toras de madeira, que passeiam cada qual em Sua carruagem. A principal,
que tem a cor negra e representa o próprio Deus (ou Krishna) chama-se
Jagannatha, o “Senhor do Universo” (jagat = “universo”, nath = “senhor”, “amo”). As
outras duas são Baladeva (ou Balarama, ou Balabhadra), de compleição branca,
que é o irmão mais velho de Deus (Jagannatha); e terceira é Subhadra, a irmã mais
nova dos outros dois, de cor amarela. No Ratha Yatra em Puri, cada uma dessas
Deidades assume uma das três carruagens do desfile.

Figura 12: Deidades de SSA: Baladeva (branco) Subhadra (amarela) e Jagannatha (AP)

As cores das Deidades possuem significados místicos: o negro se refere à


inescrutabilidade da plenitude de Deus; o branco, à pureza e força espiritual; e o
amarelo ao conhecimento e divindade. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN,
2002)
O Ratha Yatra é um evento próprio dessas Deidades: Jagannatha, Baladeva
e Subhadra. Caso haja outras Deidades no altar, Elas podem ir junto com as três
Deidades principais nos rathas (carruagens).
O Anexo C traz diversos artigos retirados da revista do Movimento Hare
Krsna “Volta ao Supremo” onde a relação de Jagannatha e Seus devotos é bem
exemplificada.
25

Figura 13: Deidades de Sudarshana (AP) Fig. 14: topo Templo Puri (AP)

Sudarshana Chakra - Jagannatha possui uma Deidade adjacente que


representa a Sua principal arma, chamada Sudarshana (chakra = disco, círculo), que
é um disco incandescente cortante que se manifesta apenas quando invocado.
Enquanto não manifesta, no altar é representada repousando em uma coluna de
madeira, seja esculpida ou pintada, e é esta coluna que segue no Ratha Yatra no
carro de Subhadra.

2.2.2 Pujari

São pessoas credenciadas para cuidar das Deidades no altar. Consideradas


manifestações na Terra do divino, as Deidades são tratadas como o próprio Deus
vivo no altar: Lhes são oferecidos alimentos, sempre lacto-vegetarianos, que após
oferecidos são chamados de prasada, ou mahaprasada; Elas são colocadas para
dormir à noite e acordadas pela manhã; banhadas (geralmente por processo
indireto); vestidas; decoradas; e adoradas ritualisticamente (puja = “reverência”,
“adoração”) com diversos elementos, como flores, incenso, fogo, água, música etc.
(PAÑCARATRA-PRADIPA).

Figura 15: Prato de elementos


oferecidos no Puja (AP)
26

No Templo de Jagannatha Puri, existem mais de cinco mil pujaris. Mas,


devido à história da origem da adoração à Jagannatha, os principais pujaris, servos
mais íntimos das Deidades, não são pujaris clássicos, e sim descendentes de um
criador de porcos chamado Vishuavasu, de uma classe específica de “intocáveis”,
chamados Dayitapatis. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Quarto de Pujari (Pujari room) - O local onde todo o material necessário à


adoração e ao cuidado as Deidades fica guardado, e onde também o alimento que
Lhe será oferecido é preparado, é chamado de pujari room, ou no Brasil
simplesmente de Pujari.

2.3 Ratha Yatra no Ocidente

Anexos à tradição filosófica religiosa, aspectos culturais, como indumentária,


culinária, instrumentos e ritmos musicais, festividades e outros, foram introduzidos
no Ocidente por Srila Prabhupada, e apropriados pelos membros da ISKCON e
simpatizantes. O Ratha Yatra foi um desses Festivais introduzidos pela ISKCON.

Figura 16 Jayananda
Prabhu construindo o
1º Carro de RY de São
Francisco (AP)

O primeiro Festival Ratha Yatra fora da Índia feito com carruagem,


arquitetada e construída pelo discípulo de Srila Prabhupada Jayananda Prabhu,
ocorreu em Junho de 1968, em São Francisco, Estados Unidos. (SATSVARUPA,
2002) (Vide vídeo Anexo L).
27

Fig. 17: 1º RY de São Francisco 1967 (AP) Fig. 18: RY de São Francisco – 1968 (AP)

Em 1967, essas Deidades já haviam sido levadas para passear fora do


Templo, sendo este considerado o 1º Ratha Yatra de São Francisco, mas por ter
sido em cima da carroceria de um caminhão com tração mecânica, descaracterizou-
se um dos pilares do RY: o carro ser puxado por cordas pelos presentes. Sendo
assim, temos o 1º Ratha Yatra no Ocidente em 1967, mas com carruagem
apenas em 1968. (Vide vídeo Anexo K, L e M).

Adaptações - Em suas edições fora da Índia, devido a não haver tradição,


nem as facilidades e know-how dela advindas, muitos desfiles não possuem todas
as características originais. Os carros do desfile podem ser menores, ou possuir
apenas um carro para as três Deidades, variar de modelos, entre outras adaptações
necessárias para a realização do passeio. Também há adaptações no Snana Yatra,
tanto nos elementos usados, como a data do banho, não sendo necessariamente 15
dias antes do Ratha Yatra, sendo até mesmo prescindível.
No entanto, os dois elementos
devem permanecer: as Deidades
Jagannatha, Baladeva e Subhadra; e
o carro do desfile ser tracionado
pelos participantes.

Figura 19: Participante puxa a corda


do Carro de RY em Salvador (AP)
28

Hoje, o Ratha Yatra é uma tradição da ISKCON em todo o mundo,


acontecendo em todos os Continentes.

Todas as figuras a partir desta página são Figuras do Acervo Pessoal, com
exceto quanto explicitado o Autor entre parênteses, ou impresso na foto.

Figura 20: Austrália Figura 21: Estados Unidos da América

Figura 22: África do Sul Figura 23: Londres

Figuras 24 e 25: Rússia


29

Figura 26: Kenya Figura 27: Taiwan

Figura 28: Indonésia Figura 29: Canadá

Figura 30: Argentina Figura 31: México


30

Figura 32: Holanda Figura 33: Índia

2.3.1 Ratha Yatra no Brasil

Segundo o devoto Paravioma Das (Pedro Paulo Gomes Marim), discípulo de


Srila Prabhupada e pioneiro do Movimento Hare Krishna no Brasil (1973), contatado
via Skype, o primeiro Ratha Yatra no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 1991.

Figura 34: RY no Rio de Janeiro


31

As principais edições anuais são em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador,


Belo Horizonte e Curitiba. Mas há Ratha Yatras esporádicos feitos em muitas outras
cidades.

Figura 35: Salvador

Figura 36: Curitiba Figura 37: Belo Horizonte

Figura 38: Porto Alegre Figura 39: Recife


32

Todos acontecem com as Deidades sendo levadas em apenas um Carro, e o


acompanhamento musical é feito com mantras e instrumentos tradicionais, como o
tambor chamado mrdanga, e címbalos de mão chamados karatalas (ou kartalas).

Figura 40: Mrdanga Figura 41: Karatalas

Além do Maha Mantra, outros mantras são entoados espaçadamente durante


o RY, em glorificação a Deus, Seus associados, e a Seus santos nomes. Os
principais são:

 “jaya jagannatha, jaya baladeva, jaya subhadra” – Glórias a


Jagannatha, Baladeva e Subhadra

 “jagannatha swami nayana pata gami bhavatu me” – Que o adorável


Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão.

 “jaya gaura nitai” – Glórias aos Senhores Gauranga e Nityananda.

 “nitai gaura haribol” – Cantemos os nomes de Deus.

Figura 42: Kirtan


33

Ratha Yatra 2007

Figura 44: Banda É ao Quadrado


Figura 43: Vaiasaki Prabhu e Vrndavana Das lideram o kirtan

Interação Cultural - Em algumas edições do RY no Rio de Janeiro, a


abertura do evento foi feito juntamente com uma bateria de escola de samba, ou
acompanhado por uma banda marcial.
Em Salvador, a interação com a Cultura local é marcante, pois durante todo o
percurso os mantras são cantados ao ritmo dos tambores baianos – inicialmente o
RY foi acompanhado pelo grupo Olodum, e, em anos seguintes, por outros grupos
de percussão locais, como “‘É’ ao Quadrado”, “Orquestra de Pandeiros de Itapuã”, e
“Meninos da Rocinha do Pelô.”

Figura 45: RY 2013 Orq. Pandeiros de Itapuã Figura 46: RY 2014 em Villas
34

O RY é essencialmente é um evento religioso. Para os devotos, é uma


procissão onde fiéis e simpatizantes puxam o Carro onde Deus (Deidade), em Sua
manifestação de Jagannatha, sai para passear com Seus Irmãos Baladeva e
Subhadra, apreciando Seus domínios e dando alegria a Seus súditos.
Espetáculo Cultural - Para além do caráter religioso, o cortejo e suas cores,
música, dança, às vezes encenações, instrumentos e vestes incomuns, alegria,
Carro alegórico, alimentos lacto-vegetarianos gratuitos, acessibilidade, conferem sua
ímpar riqueza sociocultural. Todos os que se aproximam da manifestação são
acolhidos, e chamados à participação no canto e na dança. A maioria caminha à
frente e ao lado do Carro, alguns se dispondo a puxar as cordas. Diversos músicos
se juntam no cantar e tocar de instrumentos. Eventualmente, e principalmente em
seus primórdios, rodas de capoeira também se formam no final do desfile por grupos
de capoeiristas e crianças que acompanham o desfile.

Figura 47: Ratha Yatra 2011


35

3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA


36

3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA

O primeiro RY em Salvador foi em 1995, organizado pela ISKCON Bahia, pela


orla do Bairro Barra, terminando no Porto da Barra, onde houve show de estreia da
banda de reggae Vishnudutas, liderada por Vrndavana Das, apresentações
teatrais, de dança, palestra e distribuição de alimentos lacto-vegetarianos (prasada)
- tudo completamente gratuito.

Figuras 48 e 49: II Ratha Yatra de Salvador – 1996 (de Ondina ao Farol da Barra) com
as presenças de Iswara Maharaj e Krishna Kishora Prabhu

A orla da Barra acabou se tornando o percurso para mais 16 edições anuais


do RY, de Ondina ao Farol da Barra, tendo sido alterado apenas nos anos de 1998,
quando foi realizado na orla de Piatã, em 2014, feito pela primeira vez fora de
Salvador, em Lauro de Freitas, no loteamento Villas do Atlântico, e em 2016, quando
o percurso foi pela orla do Largo de Amaralina ao final da Pituba; totalizando 20
edições realizadas até o ano de 2016. (Obs.: a ISKCON Bahia se encontra sediada
na capital, Salvador, e não possui ações significativas em outras cidades do Estado)

Figura 50:
Devotas apresentam coreografias no II
Ratha Yatra de Salvador – 1996 (de
Ondina ao Farol da Barra).

No canto esquerdo superior da foto,


as Deidades de Gaura Nitai são
levadas em um palanquim.
37

Edições do Ratha Yatra realizados pela ISKCON Bahia:

Ano / Edição / Snana Yatra / Local Ano/Edição/S.Yatra / Local


1995 I não Barra 2006 XI sim Barra
1996 II não Barra 2007 XII sim Barra
1997 III não Barra 2008 XIII sim Barra
1998 IV não Piatã 2009 XIV sim Barra
1999 V não Barra 2010 XV sim Barra
2000 Não houve 2011 XVI sim Barra
2001 VI não Barra 2012 XVII sim Barra
2002 VII não Barra 2013 XVIII não Barra
2003 VIII não Barra 2014 XIX sim V. Atlântico
2004 IX não Barra 2015 Não houve
2005 X não Barra 2016 XX sim Pituba

De 1996 a 2000, quando havia muitos residentes no Templo de Salvador


(ISKCON Bahia), à Rua Álvaro Adorno, nº 17, Brotas, os RY eram organizados pelos
administradores do Templo, que ocupavam os monges residentes, com a
cooperação dos “devotos externos” (membros que não residem nos Templos), em
diversas tarefas para o Ratha Yatra, como captar recursos financeiros, doações,
flores, serviços artesanais e culinários; providenciar as autorizações do evento;
motivar a participação dos membros “não-residentes” e simpatizantes; montagem,
pintura e decoração do carro; divulgação do evento nas ruas e na mídia; preparação
das grandes quantidades de prasada a serem distribuídas; confecção de guirlandas
para as autoridades e demais participantes; apresentações artísticas de teatro,
dança e música etc.

Figura 51: Saída na UFBA Ondina


Ratha Yatra 2013 - Salvador / Bahia
38

Movimentação social da ISKCON Brasil - Com a redução de residentes dos


Templos da ISKCON, fenômeno que ocorreu naturalmente em todo o Brasil e muitos
lugares do mundo, com a maturidade da Instituição, (vide Anexo E) devido a que os
antigos monges estabeleceram famílias e residências fora do ambiente templário, e
com os novos membros aderindo à religião sem necessariamente passarem pela
fase de residir nos Templos, os serviços internos (do Templo) em Salvador se
resumiram ao do Pujari com as Deidades, e à organização da recepção semanal de
visitantes, o Festival de Domingo. Essa redução chegou ao número de haver apenas
um residente: o pujari, devido à natureza de seu serviço (cuidar das Deidades,
iniciando ao acordá-lAs às 3h45min da manhã).

Figura 52 (E): Alannatha


Prabhu e sua filha Ananda
Govinda, ex-residentes de
Templo. (Carlos Jorge)

XX RY SSA 2016

Figura 53 (D): Três


gerações de devotos. (CJ)

Com essa mudança, o RY sofreu um impacto em sua concepção, e a edição


de 2001, que correu o grande risco de não acontecer, foi idealizada e organizada
precariamente, em apenas uma semana, graças à determinação do presidente da
ISKCON Bahia na época, Gopa Kumara Das (Grenffel Bomfim da Silva) - que
residia com apenas mais 3 devotos no Templo - e do devoto “não-residente” Jaya
Das (Ricardo Campos), para que não se passasse mais um ano sem a realização
do evento.
A partir daí, ficou clara a necessidade de reestruturação do processo de
produção do Ratha Yatra da ISKCON Bahia. Membros da congregação com maiores
aptidões na área começaram a se responsabilizar pelo evento de forma autônoma à
administração interna do Templo, com a autorização da mesma, que funcionava
através de Equipe Administrativa na época.
E dessa movimentação de jurisdição, surge a experiência de que trata este
trabalho, quando “membros externos” da ISKCON Bahia, passam a estar à frente da
produção deste evento em Salvador, do ano 2003 ao 2013.
39

3.1 Deidades da ISKCON Bahia

As Deidades são formas aparentemente materiais nas quais a Divindade


aceita se manifestar para permitir uma experiência mais pessoal com o devoto. Os
devotos, então, têm uma ligação íntima muito particular com as Deidades, e se
relacionam com as mesmas como se na presença pessoal de Deus.
(PAÑCARATRA-PRADIPA)

A ISKCON Bahia possui instaladas no altar em seu Templo as Deidades:

Figura 54: Jagannatha (E), Baladeva (C) e Subhadra (D) (madeira)

Jagannatha - Manifestação de Deus em uma forma negra, de madeira, com


olhos que nunca se fecham, braços sempre estendidos receptivamente, e um sorriso
eterno. Significa “Senhor do Universo”.

Baladeva - Manifestação Divina como o Irmão de Deus, diferenciando-Se de


Jagannatha apenas pela cor branca e diferenças sutis em Suas feições (pintura),
mas também em madeira e possuindo olhos, sorriso e braços sempre abertos.

Subhadra - Manifestação Divina da Irmã de Deus, de cor amarela, também


em madeira, com olhos sem pálpebras que nunca se fecham e largo sorriso, mas
sem braços estendidos.
40

Observação: As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra não


possuem mãos nem pés, com um significado místico de mesmo não tendo pés,
podem ir a diversos locais do mundo, e sem mãos receber tudo que Lhes é
oferecido. (Sobre isso, pode-se ler o Anexo C)

Figura 55: Nityananda (E) e Caitanya (D) (metal)

Caitanya Mahaprabhu (Gauranga ou Gaura) - Segundo a tradição Gaudya-


vaishnava, foi a última manifestação pessoal de Deus na Terra. Tinha a compleição
dourada (“gaura” significa dourado) e veio como um devoto fiel ao Senhor,
ensinando como a devoção deveria ser exercitada nesta era, e revelando e
propagando o cantar do Maha Mantra, antes um privilégio de uma seleta classe
intelectual indiana.

Nityananda Prabhu (Nitai) - Assim como Deus vem como o Senhor


Caitanya, Seu irmão Balarama advém como o Senhor Nityananda, auxiliando em
Seu propósito de difusão de bhakti a todo o mundo (não limitado à Índia).
41

Figura 56: Deidade de Prabhupada (metal)

Prabhupada - Uma deidade em metal do acarya-fundador da ISKCON.

Sudarshana ou Sudarshana Chakra -


Manifestação da arma de Deus (Krishna),
esculpida/desenhada em madeira. Foi a última
Deidade a ser instalada, no ano de 1998, durante
um Maha Festival de três dias que incluía o desfile
do RY.

Fig. 57, 58: Deidade de Sudarshana (madeira) Fig. 59: (Kadamba 2016)

Todas essas Deidades são levadas no carro durante o desfile de RY.

Consideradas os convidados principais do RY, é fundamental a articulação de


Seu transporte apropriado até o local do desfile e o Seu retorno ao Templo.
42

Os devotos de Jagannatha possuem um humor devocional característico,


considerando o Senhor do Universo como um ente de sua família. Então, realizar o
passeio de Ratha Yatra para o prazer das Deidades é um serviço (seva) muito
amado e ansiado.
As Deidades possuem ritos específicos, tanto diários como para sair ao Ratha
Yatra. Apenas os pujaris com segunda iniciação, brahmínica, (vide Anexo D e E)
podem tocá-lAs, com a devida purificação, através de banho, jejum, vestimenta
específica e limpa, mudras (gestos com as mãos) e mantras.
Há uma cerimônia para a saída das Deidades do Templo, bem como uma
recepção especial em Sua chegada ao local do desfile, quando são acomodadas no
Carro. São os momentos mais solenes do evento. Tudo deve estar pronto para Sua
chegada, para que Elas subam imediatamente ao Carro, e ao final do desfile para
Sua volta ao Templo. Após estarem assentadas no Carro, arrumadas e decoradas, é
realizado um puja (adoração cerimonial) providenciado pelos pujaris.
Espera-se no desfile que as Deidades possuam roupas novas,
confeccionadas e bordadas por devotos locais, (como já foram por Kadamba Devi
Dasi (Naíra Gomes Silva), Mãe Ananda Devi Dasi (Fernanda Rodrigues), Lalita Devi
Dasi (Tatiany Oliveira), Bhakti Devi Dasi (Janice Chiarioni), Radha Madana Gopala
Devi Dasi (Thiana Costa), entre outros), ou trazidas da Índia, para serem
inauguradas neste dia. Aprazíveis guirlandas de flores também são providenciadas
para que as Deidades usem durante o desfile, e, se possível, para outros
participantes do RY.
Chhera Pahanra (varredura) – No início do desfile, vários devotos e outros
participantes se revessam varrendo a rua em frente ao Carro, em sinal de humildade
e reconhecimento à supremacia Divina.

Figura 60: RY de Londres


43

3.2 Snana-Yatra

É realizado uma semana antes do Ratha Yatra. Foi iniciado pela produção de
2006, com o trabalho fundamental de Vamshivata Das na confecção da “mesa de
banho”. A equipe de pujari do Templo se encarrega dos materiais e rituais
necessários para o banho. Apesar de aberta ao público, é uma cerimônia íntima,
quando as Deidades ficam fisicamente mais próximas de seus devotos, que, após o
banho com diversos sucos e elementos feito pelos pujaris, podem banhar as
Deidades diretamente, com água comportada em conchas do mar. A bem-
aventurança prevalece entre os participantes.

Figura 61, 62 (Kadamba 2016) e 63: Snana Yatra no Templo de Salvador


44

3.3 Carro do Ratha Yatra

O Carro de RY tem um papel


fundamental, sendo considerado uma
expansão de Jagannatha, do Divino.
Todo serviço feito, desde a sua
construção até os serviços de
retoques, conservação e decoração,
são realizados como se estivessem
sendo realizados na própria Deidade.

Figura 64 (D): Carro construído por


Jagannatha Dhama em 1998 - Salvador

Figura 65 (Abaixo): XVIII RY SSA 2013


45

Cerimônia dos Cocos - Antes do Carro ser movido pelos presentes,


iniciando o cortejo, é realizada a “cerimônia dos cocos”: um ou três cocos secos
servem de base para um punhado de cânfora, onde é ateado fogo, e cada coco é
girado com os braços estendidos, em sentido horário, por um devoto, direcionado ao
conjunto Carro e Deidades. Depois os cocos são arremessados ao chão para que se
quebrem. Objetiva-se a retirar qualquer influência inauspiciosa que possa haver para
o desfile.

Figura 66: Mandaracala Dasi (E), Aniruddha Das (C) e Dhanvantari Swami (D).
Cerimônia de cocos - XX RY SSA 2016 (Kadamba 2016)

O Carro de Ratha Yatra da ISKCON Bahia utilizado até 2013 foi construído
para o Ratha Yatra de 1998 pelo devoto Jagannatha Dhama Das, sob a supervisão
do então presidente Aniruddha
Das (José Alberto Guanaes). Ele
segue a estrutura, cores e
desenhos definidos para os Carros
de Ratha Yatra da ISKCON, com
grandes rodas de madeira
circundadas por aros de ferro, o
que, juntamente com sua alta
cúpula, confere um ar majestoso ao
cortejo.
Figura 67: Carro construído por Jagannatha
Dhama em 1998 - Salvador
(No entanto, entre os anos de 1998 e 2003, sua cúpula sofreu uma drástica
alteração, como veremos no próximo tópico)
46

Figura 68: Jagannatha Dhama conduzindo o Carro – IV RY SSA 1998

Este Carro possui uma estrutura de madeira montada sobre um eixo de


caminhão, sendo preservados apenas os eixos dianteiro e traseiro, sistema de freio
e direção. Algumas partes são removíveis para facilitar seu transporte da garagem
ao local do desfile, e sua volta.
Figura 69: Deidades no Morro do Cristo.
XI RY 2006
Figura 70: foto mais ampla do Carro
47

Nos desfiles de 2014 e 2016, os dois Carros utilizados foram idealizados e


construídos pelo devoto Yamunacarya
Goswami, residente em Campina
Grande (PB). Estes Carros são
itinerantes, montados sobre um
reboque, que também comporta toda a
sua estrutura quando desmontada, tanto
para transporte como para guarda, e
foram trazidos de Campina Grande
especialmente para o RY de Salvador,
com o apoio do Instituto Jaladuta, seus
estudantes e seu coordenador,
Dhanvantari Swami. É um modelo mais
prático e rápido de montar e transportar,
e é a tendência para os futuros RY.

Figura 71: Maharaj Yamunacarya Goswami

Figura 72: Carro de 2016 terminando de ser montado


48

Figuras 73 e 74: RY 2014. Abaixo à direita, em primeiro plano, Dhanvantari Swami.


49

Figuras 75 e 76: Ratha Yatra 2016


50

3.3.1 Cúpulas

Figura 77: Ratha Yatra 1998

A cúpula do Carro projetada e confeccionada em 1998 possuía uma estrutura


metálica retrátil, com aproximadamente 6 metros de altura a partir de sua base, e
seu tecido seguia todos os padrões tradicionais de confecção e aparência (cores,
símbolos, formato, adereços) definidos pela ISKCON. A cúpula do Carro de Ratha
Yatra deve se sobressair, a uma grande altura, com seu tecido em cores pré-
determinadas e com símbolos específicos (bordados ou desenhados), e, no topo,
uma “chalisa” (recipiente feito ritualisticamente para evocar auspiciosidade), e a
representação da Sudarshana Chakra.

O tecido dessa cúpula, no entanto, foi emprestada para outro Ratha Yatra no
Brasil, com estrutura igual ao Carro de Salvador, também construído por Jagannatha
Dhama. Na época, não havia pessoas responsáveis pelo acompanhamento pós-
evento, e essa tecido não mais retornou a ISKCON Bahia. O Ratha Yatra de 1999
ocorreu então com o mesmo Carro construído em 98, mas sem sua cúpula.
51

Figura 78: Ratha Yatra 2001

Nos anos de 2001 e


2002, as Deidades desfilaram,
improvisadamente, com
grandes e coloridos
sombreiros de praia sobre
Suas cabeças. Sombreiros
estes cedidos pela senhora
Aureni Rodrigues, mãe de
uma das produtoras, em seu
seva particular: ela já vinha
emprestando em edições
anteriores e posteriores um
pequeno sombreiro japonês
de madeira e tecido para as
deidades de Gaura e Nitai em
Seu palanquim.

Figura 79: Ratha Yatra 2001


52

Figuras 80 e 81: Gaura Nitai em Seu palanquim no


XII RY 2007 – Ondina
(detalhe do sombreiro de D. Aureni)

Em 2003, verificando-se a inviabilidade de fazer uma réplica da cúpula


original (por falta de mão-de-obra especializada, e recursos financeiros e de tempo),
foi então providenciada a
produção de uma estrutura
simples, piramidal, com a chalisa
(objeto de proteção) em seu
topo, e o tecido da cúpula sem
os detalhes originais. Esta foi
uma cúpula improvisada, aquém
da original, mas que se
adequava à estrutura do Carro.
Esse trabalho foi realizado
especialmente por Vamshivata
Das e Kadamba Devi Dasi.

Figura 82: XIV RY 2009


53

Aproveitou-se a oportunidade em 2003 para acrescentar ao Carro a bandeira


do Senhor Hanuman (o semideus macaco, que possui enorme força e poder de
proteção).

Figura 83: XVIII RY 2013

Esta é a estrutura que foi usada desde então até o ano de 2013.

Figura 84: XII RY 2007

Estando sem utilização, a estrutura metálica original ficou esquecida sobre a


laje do Templo de Salvador, sujeito às intempéries, e subsequentemente sucateando
e sendo descartada.
54

3.4 Prasada – Alimentos Para a Vida

Ao final do evento, uma grande quantidade de alimentos lacto-vegetarianos é


distribuída gratuitamente. Inicialmente eram distribuídos PF (Pratos Feitos) com suco
e doce, mas nos últimos anos houve a alteração para kits de lanches, sempre que
possível em embalagens biodegradáveis, contendo samosa (pasteis fritos ou
assados), salgado (bolo salgado, alupatra ou outra preparação tipicamente indiana),
doce (bolo ou também uma preparação tipicamente indiana, como “língua de
Jagannatha”), e bolinha doce, feita à base de leite em pó, açúcar e uma fruta. Esta
distribuição integra o programa Mundial Food for Life (FFL) ou Alimentos Para a Vida
(APV) do Movimento Hare Krishna (Vide Anexo A). Eventualmente, durante a
procissão também são distribuídas bolinhas doces, ou outros doce/petiscos,
anexados a informações de contato (site, email e telefone da ISKCON); e água para
as crianças e cantores. Todos os alimentos são consagrados antes de serem
distribuídos durante o evento, concedendo o caráter espiritual de prasada.

3.5 Música

O som instrumental é produzido por um grupo percussivo local, e a voz do


cantor amplificada com microfone através de caixas de som. O sistema de canto
consiste em uma voz principal, que “puxa” o ritmo e a melodia, e em seguida a
estrofe cantada é repetida pelo coro dos presentes. A música, ou mantra, entoada é
o Maha-mantra Hare Krishna, com poucas variações para outros mantras
direcionados às Deidades (Vide 3.3.1). A sonoridade fica marcada pela interação
das culturas da Índia e da Bahia. (RY 2008: Anexo G em vídeo)

Figura 85: o devoto


Brahmarsi Das lidera o
kirtan no XX RY – 2016

(Romildo de Jesus 2016)


55

Carros de som pequenos eram utilizados inicialmente, com o apoio do


Vereador Cristovinho, que nos cedia gratuitamente seu equipamento para uso no
evento, passando a fornecer um carro de som maior (para o qual as Deidades foram
transferidas em 1999 devido ao problema com as rodas – vide 5.10.1).

Figura 86: carro de som que levou as Deidades em 1999

O RY chegou a
utilizar um trio elétrico
na edição de 2009.
(Anexo H em vídeo)

Figura 87: XIV RY SSA


2009
Apresentações
56

Artísticas - sempre que possível, um palco e som são montado, ou um espaço é


reservado, ao final do desfile para apresentações de bandas, danças (indianas
clássicas ou contemporâneas) e encenações teatrais. Antes das atrações, é
proferida uma breve palestra sobre o que é o evento RY, sobre o Movimento Hare
Krishna, e feitos os devidos agradecimentos.

Figura 88: show de Vayasaki Prabhu (discípulo de Srila Prabhupada) no RY 2007, com
participação de Júlio Caldas, Calazans Cominato, Gilmário Celso e Radha Vitória

Figura 89 e 90: participantes do XII RY SSA - 2007


57

4 BOTANDO A MÃO NA CORDA


58

4 BOTANDO A MÃO NA CORDA

Após tantos aspectos constitutivos do evento Ratha Yatra, que foram


apresentados nos capítulos anteriores, - na tentativa de inserir o leitor nesse mundo
peculiar, - passamos a uma análise mais direcionada ao trabalho de produção e as
escolhas dos rumos a serem tomados.
Por estarem inter-relacionados, os tópicos podem reincidir em diferentes partes
do trabalho, ou fazerem referências a outros complementares.

4.1 A Religião como um rótulo

Devido a um histórico sociocultural de algumas linhas religiosas, ao se estar à


frente de um evento que possui um caráter religioso o produtor se depara com uma
dificuldade que é o preconceito religioso. Há uma concepção por parte de possíveis
patrocinadores e apoiadores de que o carácter do evento é sempre proselitista e
explorador, ignorando completamente seu valor cultural e inclusivo. Há quem opte
por realizar o evento apenas como uma atração cultural, ou musical, em projetos de
captação e apresentações, mas é impossível isolar a dinâmica religiosa existente,
causando uma tensão constante em não parecer “religioso demais”. A produção do
RY em Salvador preferiu não optar por esse caminho, deixando o evento e seus
participantes livres para suas manifestações culturais ou religiosas.
No entanto, ao produtor cabe ter bom-senso, com os pés na realidade da
sociedade secular. Por mais amador que se seja do evento, o produtor deve ter o
profissional à frente de suas ações, principalmente quando tratar com o público
externo, incluso governo, mídia, outras religiões.

4.2 Escolha do Percurso, Dia e Horário

Percurso - O trajeto prevalecente do RY de Salvador tem sido de Ondina,


nos arredores da Avenida Ademar de Barros, pela orla, ao Farol da Barra pela
Avenida Oceânica. É um percurso que agrega muito valor ao evento, não só pelo
público que naturalmente já estará pelo percurso, mas também levando em
consideração o prazer das Deidades por passear pela orla (a cidade original de
59

Jagannatha, Puri, também é uma cidade litorânea). Respeitando-se a tradição do RY


e a relação com as Deidades, quando possível, o percurso litorâneo é o preferido.
Data - O Domingo é escolhido devido à possibilidade de maior tempo
disponível dos colaboradores, além de ser um dia mais receptível pela Transalvador,
por razões óbvias de mobilidade urbana. O dia prevalecente de realização é o
Domingo duas semanas antes do Carnaval de Salvador.
Esta é uma data conveniente, pois a cidade esta em natural movimento,
estrutural e pessoal, para seu maior evento (o Carnaval), num período de férias, com
muitos turistas e pessoas propensas à diversão, aumentando a probabilidade de um
maior público. Assim criou-se a chamada publicitária “Festival de Verão” Ratha
Yatra. Tendo em vista também o trajeto, inverso ao Circuito de Carnaval Barra-
Ondina, e não negligenciando sua natureza espiritualista, o RY evoca os
participantes a clamarem pela predominância de Paz quando outros estiverem no
mesmo percurso para a “festa carnal” que virá em seguida.
Horário - O período da tarde, iniciando após às 16h, quando o sol está
baixando, tem sido o escolhido para as edições do RY. Esta estratégia permite mais
tempo para os preparativos do Carro (montagem e decoração), e outras demandas
do dia do evento, bem como é um horário mais aprazível, quando o Sol está
baixando, evitando que os participantes do cortejo fiquem expostos a sol forte, o que
é desagradável e pode causar mal-estar. Por fim, na chegada entre o Morro do
Cristo e o Farol da Barra, o pôr-do-sol na Baía de Todos os Santos confere uma
cena espetacular ao evento.
Há devotos que questionem, por ser o horário da manhã considerado mais
auspicioso e quando se está mais inclinado para atividades religiosas, que o Ratha
Yatra seja efetuado pelo período matutino. Quando há mão-de-obra outros recursos
suficientes para que isso ocorra sem prejudicar a produção do evento, essa proposta
deve ser levada em consideração.

Público Alvo - Apesar de possuir um público específico, o objetivo é que o


evento alcance o maior público possível. Por isso, a preferência por épocas do ano
em que a cidade está com mais turistas e soteropolitanos, geralmente em períodos
de férias ou grandes festividades da cidade, como o Carnaval. Por isso, seu público
alvo é não só os devotos e seus familiares, atendendo uma demanda particular,
mas também residentes e turistas de Salvador, bem como pesquisadores culturais.
60

4.3 Snana Yatra

O Snana Yatra acaba por se configurar um evento à parte, e o entusiasmo


dos devotos devido a proximidade do RY faz com que este evento flua de forma
completamente participativa e surpreendente. Geralmente o produtor seleciona a
data e horário, cuida da comunicação, e fornece recursos, inclusive financeiro,
quando já não foram doados pelos devotos (o que acontece quase que
invariavelmente). A organização do Snana-Yatra e sua realização são assumidas
alegremente pelos pujaris e ajudantes de pujaris, e demais devotos, cabendo ao
produtor à periódica supervisão visando facilitar o serviço dos devotos, e sanar
qualquer demanda necessária.

4.4 Acompanhamento Percussivo

O acompanhamento tradicional indiano é também sugerido por alguns de


forma exclusiva. No entanto, há uma dificuldade de se estabelecer um grupo de
acompanhamento apenas com instrumentos indianos compatível com o tamanho e
características do evento. As principais dificuldades são escassez de instrumentos e
instrumentistas disponíveis no Brasil, necessidade de equipamentos de sonorização
específicos, e mais caros, para mrdangas e karatalas, necessidade da participação
do coro, acompanhando os músicos principais. O que percebe-se em outros RY pelo
Brasil é a perda muito rápida de coalizão do público com o grupo musical à medida
que se distanciam.
Com a potência do grupo de percussão baiano, aliado à utilização de
amplificação para voz, é possível manter essa sincronia por um espaço de
abrangência maior. A Figura do evento também é altamente valorizada quando da
junção de grupo de percussão local para acompanhar o entoar de mantras. Além de
ser um dos carros-chefes do turismo na Bahia.

4.5 Sonorização

Devido ao formato e execução das canções durante a procissão em espaço


aberto, é indispensável a amplificação da voz que lidera o coro no cantar. Com a
entrada de Madalena Koppe na equipe de produção, o evento chegou a contar com
61

trios elétricos pagos com recursos coletados por ela especificamente para este fim.
Essa opção, apesar do receio inicial da produção de que o trio elétrico fosse ofuscar
o Carro do desfile, deu muito certo, e em uma das edições chegamos a contar com
2.000 pessoas ao final do desfile no Farol da Barra. Com a assinatura do TAC
(Termo de Ajuste de Conduta) entre a Sucom e associações de moradores da Barra
em 2011, se tornou praticamente impossível contarmos com a autorização para o
uso de um trio para o som do RY.

4.6 Apresentações Artísticas

Quando há a utilização de carro de som, trio ou mini-trio elétrico, este é o som


utilizado para as apresentações artísticas ao final do evento. A maior dificuldade é
conseguir estrutura de palco e iluminação. A realização do evento pela parte da
manhã, bem como em um local que já possua uma estrutura (palco e som)
adequada sanariam essas demandas.

4.7 Cerimônia dos Cocos

A cerimônia rápida e simples consiste em girar um coco seco com cânfora


incandescente em sua superfície superior. Três devotos sêniors, ou representativos,
devem ser chamados a realizar o ato, que representa a invocação de toda a
auspiciosidade para o desfile. Por ser utilizada rotineiramente no serviço de pujari, a
cânfora é fornecida pelos pujaris, e os cocos secos devem ser providenciados pela
produção. A comunicação da produção com a equipe de pujari deve ser constante e
clara, principalmente nos dias que antecedem o passeio. Tudo deve ser checado.

4.8 Chhera Pahanra (varredura)

A produção de Salvador nunca teve que se preocupar muito com isso: uma
vassoura sempre é providenciada, ou pela produção ou por devotos. Simplesmente
levar uma vassoura para a saída do cortejo já é suficiente. O público se encarrega
de dar prosseguimento à cerimônia de varredura após ser iniciada por qualquer dos
devotos presentes.
62

4.9 Banquinhas

Também quando possível, e permissão para tal, bancas e/ou tendas de livros,
comidas e artigos indianos são montadas para venda aos participantes, com recurso
destinado a cobrir os custos do evento, visto que a realizadora é uma Instituição sem
fins lucrativos. Está opção deve se gerir de forma autônoma, visando não
sobrecarregar os produtores do evento.

4.10 Manutenção, Transporte e Montagem do Carro

O Carro de 98, por ter mantido a parte mecânica, necessita de manutenção


regular. A troca das madeiras do assoalho (folhas de madeirite) geralmente é
inevitável, caso não haja a guarda adequada em local coberto. Para evitar gastos e
maiores preocupações, a correta preservação e conservação do Carro é um trabalho
ao qual o produtor deve investir esforços.
Com dimensões fora do padrão de veículos ordinários, para além das
permitidas nas Leis de trânsito quando completamente montado, e ficando guardado
a uma distância de 30 km do local do Desfile, uma das maiores preocupações do
produtor é o transporte do Carro ao local do desfile, e sua volta.
Como - Para o seu transporte por vias públicas (com exceção durante o
cortejo), se faz necessário transportar desmontadas as varandas laterais superiores,
a cúpula e as rodas. Ao final todas as peças desmontadas devem ser guardadas
com muito cuidado, a fim de que estejam facilmente disponibilizadas e utilizáveis
para uma nova montagem. Para comportar adequadamente a estrutura principal
sem danos, deve-se usar um guincho de caminhões com rampa, de forma que o
Carro fique completamente suspenso. Guinchos que elevam apenas um dos eixos
também podem ser utilizados, a depender de sua capacidade, desde que observado
durante todo o reboque o cuidado com elevações/depressões da pista o que pode
danificar seriamente a estruturas de madeira do Carro. No lugar das rodas, são
utilizados pneus para a movimentação do Carro e colocação e retirada sobre o
caminhão guincho.
As rodas do desfile são transportadas juntamente no guincho. Ao ser
descarregar o Carro no local de início do desfile, o próprio caminhão guincho serve
de macaco mecânico para a troca dos pneus pelas rodas do desfile. Esta é uma
63

operação um pouco demorada, devido à grandeza das rodas, e a que tem de se


contar com a boa vontade dos operadores do guincho, visto que este serviço não
está incluso no valor do transporte.
É necessária pesada mão de obra, portanto colaboradores devem estar a
postos para esse serviço (4 homens com razoável força), sem esperar por ajuda do
operador do Guincho no trabalho braçal.
Equipe do Carro - Com o passar do tempo alguns devotos desenvolveram
afinidade com o serviço de montagem e desmontagem do Carro, e uma equipe,
sempre sob a supervisão de Vamshivata Das (Armênio Luiz Bordim), se formou
apenas para este serviço.
Quando - Devido a suas dimensões, o Carro só pode ser transportado à
noite/madrugada, quando a equipe do Carro é acionada. Uma das preocupações é a
guarda do Carro no local do desfile, o que também força a ter que fazer o reboque
na noite anterior ao evento. Regularmente, considerando o risco de vandalismo ou
de que qualquer peça fosse levada, o devoto Ângelo se predispunha a passar a
noite vigiando o carro. Quando esta ajuda não era possível, procurava-se contratar
um vigia para tal. Em 2013, foi pleiteado junto à Universidade Federal da Bahia -
UFBA - a utilização de um espaço interno próximo à Portaria principal da Av. Ademar
de Barros do Campus de Ondina, local onde havíamos iniciado o desfile no ano
anterior, o que foi atendido. Com isso, foi possível contratar o guincho para três dias
antes do evento, possibilitando uma janela de tempo maior para a montagem final do
Carro.
Para a montagem final do Carro, uma vez já no local do desfile, é necessária
uma manhã de trabalho pesado para 4 homens (sem contar o tempo para a
decoração). Esse é um dos motivos do horário escolhido para o desfile ser pela
tarde, conforme já mencionado. Fica a cargo da produção providenciar o
fornecimento de água e alimentação para a Equipe do Carro. Esta preocupação é
essencial para a satisfação dos voluntários desta equipe, novamente lembrando,
levando em consideração o humor dos devotos que se encarregam deste serviço.

4.10.1 Pós-evento

Com a indesejável experiência de perder um recurso valioso já conquistado


que era a cúpula de 1998, a produção do Ratha Yatra 2003 passa a se
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responsabilizar particularmente pela guarda e manutenção da cúpula e de sua


estrutura metálica entre as edições do RY. Assim que o tecido é desmontado de sua
estrutura, ao final do evento, é limpo e hermeticamente embalado, de forma a
preservá-lo por um ano até o próximo RY.
Este cuidado estende-se também a conservação dos itens possíveis de
reutilização nos anos subsequentes, como as cordas de tecido que atam as
Deidades de Jagannatha, Baladeva, Subhadra e Sudarshana ao Carro, peças de
decoração não perecíveis, ferramentas, tecido usado para forrar os assentos do
veículo usado para levar e trazer as Deidades ao desfile. Esse serviço, apesar de
ser feito em um momento de estresse e sobrecarga do produtor (culminação do
evento) indubitavelmente reduz a quantidade de serviço e recursos necessários para
a próxima edição. Tornou-se, então, invariavelmente parte da rotina da produção do
RY.
Em 1999 houve também outro episódio, inesperado, mas inevitável para o
garantido sucesso das futuras edições: devido a não receber manutenção entre as
edições de 98 e 99, após 200 metros do início do desfile, a circunferência metálica
de duas das rodas começou a se desprender da madeira ficando desalinhada com o
eixo e tornando impossível a continuação do desfile com o Carro do RY. Como
solução, as Deidades foram passadas para o carro de som que acompanhava o
evento, que possuía a estrutura de um pequeno trio elétrico e a mesma altura do
Carro do RY, facilitando a transferência das Deidades, que foram alocadas sobre
uma superfície elevada do novo veículo, e assim continuando o desfile. Foi um
momento muito marcante: de ansiedade para os presentes, e frustração para os
realizadores do evento ao terem que abandonar o Carro recém-restaurado (referente
à limpeza e pintura) para trás... A partir daí a manutenção das rodas passou a ser
revisada com cuidado nas edições subsequentes.
Também o Carro era deixado ao relento. Com a nova organização, foi
providenciada a guarda em local coberto e manutenção do Carro e rodas (estrutura
de madeira, mecânica, metálica e pintura), sob a responsabilidade do devoto
Vamshivata Das. O que reduziu praticamente a zero a necessidade de trocas de
madeiras e pintura (eram feitos apenas retoques e manutenção mecânica).
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4.11 Decoração

O Carro deve ser decorado preferencialmente com flores e plantas naturais.


Também são usadas guirlandas coloridas de tecido ou papel. Deve-se evitar o uso
de materiais plásticos, ou derivados do petróleo. Decoração é um serviço que
poucas pessoas se propõem a fazer, ou, quando se propõem, dificilmente
conseguem realizar o serviço completamente - ou por não terminarem a tempo da
chegada das Deidades, ou mesmo por não conseguirem chegar a tempo de fazer a
decoração. É um serviço a ser feito poucas horas antes do desfile, após a
montagem do Carro estar concluída. Mesmo que o Carro seja montado no dia
anterior, as plantas naturais não podem ser colocadas muito cedo, pois o calor do
meio-dia as faria murchar. Daí que um devoto precisa se sacrificar para fazê-lo, pois
precisa chegar mais cedo, decorar e ficar direto para o evento, ou decorar
rapidamente para dar tempo de ainda ir para casa se arrumar e voltar para o local do
RY. Quando o devoto possui família, filhos, é mais complicado, e quase sempre
inviável devido ao cuidado que a ela se dispensa neste dia de grande festa (como se
arrumar para um casamento ou um outro evento importante da família). É pouca a
mão-de-obra disponível entre os devotos nessa área de decoração com flores e
folhas naturais, que geralmente está ocupada no serviço direto às Deidades (pujaris
e ajudantes). Mesmo havendo pessoas chegando cedo ao local de concentração
para a saída do cortejo, pouquíssimos se arriscam a serem os responsáveis pela
decoração, ainda que todo o material esteja disponível. Por muita das vezes,
percebendo que o responsável pelo serviço não chegará a tempo, o produtor teve de
formar rapidamente uma força tarefa com quem estivesse presente e designar um
líder (quase sempre ele próprio). As ajudas mais marcantes nas últimas edições
foram de Purushottama Das (Josemar Salles) e sua esposa Krsna Yoga Devi Dasi
(Cristiane Vitória), Ricardo “Bigode”, Sueli Lago, Palmiro Jorge, Mitzna Olegário,
Presthali Devi Dasi (Alessandra Santos), Ângelo, e simpatizantes que estavam no
local. Quase sempre é feito por pessoas que não estavam designadas para este
serviço; sendo que sempre alguém estava designado para tal.
Na edição de 2013, Ângelo se destacou ao providenciar de última hora uma
cobertura de folhas de coqueiro para a armação piramidal da Cúpula, que não havia
sido achada até a manhã do evento por Vamshivata Das. Teria sido uma cúpula
memorável, não fosse a cúpula de tecido ter sido llocalizada e, sem consulta prévia
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da equipe de produção, a equipe do Carro ter desfeito o trabalho artesanal de


Ângelo para realizar a substituição.

4.12 Alimentos Para a Vida

Apesar de não obrigatório, essa parte se tornou um compromisso social após


o desfile. O Movimento Hare Krishna possui por todo o mundo a tradição de
distribuição gratuita de alimentos lacto vegetarianos (Vide Anexo A), e qualquer
evento realizado pela Instituição se torna completo com essa atividade - aliada à
distribuição de livros (gratuita ou com o recebimento de retribuições financeiras), e o
cantar do Maha Mantra: hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare
rama hare rama rama rama hare hare. No Festival Ratha Yatra de Salvador, dado o
seu porte, os devotos sentem-se na obrigação de oferecer prasada, sempre
atribuída ao movimento “Alimentos Para a Vida - APV” (Food For Life - FFL).
Para além do Ratha Yatra, grandes distribuições de prasada sempre foram
realizadas em Salvador, ao estilo “indiano”: em grandes recipientes, panelões ou
toneis, contendo arroz, preparações vegetarianas temperadas, sopas, samosas de
diferentes recheios, suco, e outras atrativas preparações, incluindo doces, (e
principalmente a “Bolinha Doce”), servidas às pessoas, dispostas em fila, em pratos
e copos descartáveis.
O RY iniciou-se com essa forma de distribuição. Mas, com o passar das
edições, observando-se que ao final do evento esse processo era demorado para
atender a totalidade do público, e com a integração de fundamental importância da
devota Sra. Madalena Koppe, este serviço foi sendo especializado
progressivamente. Mesmo ainda quando do sistema de distribuição de alimentos em
pratos e copos, Sra. Madalena elaborou e aperfeiçoou esquemas com mais
“servidores”, amigos seus próximos, ou colaboradores não-devotos, de seu
conhecimento pessoal, que recebiam ajuda de custo, pago particularmente por ela.
Conseguir devotos que realizassem o seva de servir os alimentos após o
desfile é uma tarefa árdua, pois para esse serviço é necessário que o devoto se
ausente da procissão antes de seu término (40 min a 1h antes), não participando do
êxtase que envolve a todos na chegada ao Farol, pois nesse momento ele já deve
estar a posto para servir a fila que se forma imediatamente (ou mesmo antes, com
pessoas que não participaram da procissão). É um sacrifício que poucos estão
67

dispostos a fazer. Ainda que se comprometam com antecedência, em meio aos


apoteóticos canto e dança finais, se esquecem de seu serviço, ou mesmo não são
capazes de realizar este sacrifício.

4.12.1 Madalena Koppe (Mada)

Mada, ou Mandaracaala Devi Dasi (DVS), se empenhou arduamente em


envolver devotos e simpatizantes comprometidos com o
APV, dispostos a se aterem especificamente à prasada -
confecção dos kits para distribuição e seu conteúdo, o
serviço de montagem da estrutura de distribuição no Farol
da Barra na manhã do RY, supervisionando o local durante
o desfile, organização das filas, manutenção do espaço
público limpo antes e a após a distribuição, e a própria
distribuição -, satisfazendo-se mais com a distribuição de
prasada do que com a participação na procissão.
Figura 91: Madalena Koppe

Figura 92: Kits prontos Figura 93: Equipe coordenada por Madalena
“Mada” também aperfeiçoou o sistema de serviço de prasada em recipientes
fechados, e do suco em garrafinhas lacradas, agilizando completamente o processo
de distribuição. Ela assume a responsabilidade por todo o material para a
preparação dos lanches (chamado bhoga antes de ser alimento sacralizado), bem
como para a distribuição (vasilhas, garrafinhas, caixas de isopor, gelo, guardanapos)
e recolhimento dos resíduos (baldes de lixos e sacos plásticos). Através de
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empresários e pessoas abastadas de sua rede de contato, ela consegue


gratuitamente, mas não sem muito sacrifício pessoal, a maior parte do que é
necessário, sendo o que falta suprido pela doação e serviço dos devotos. A
confecção das massas também passa a exigir menos mão de obra e tempo, quando
ela consegue, de cortesia, a utilização dos fornos de uma padaria próxima ao
Templo.
Contando com seu caráter profundamente empreendedor, a participação de
Madalena Koppe foi trazendo novas dimensões, não só no serviço de distribuição de
prasada, como também em diversas áreas da produção, chegando à edição de 2013
sendo ela a principal produtora
do Ratha Yatra, possuindo os
coprodutores papéis mínimos
na totalidade do serviço. Sua
capacidade nata de captação
de recursos e de facilitação de
empreendimentos em diversas
áreas gradualmente a colocou
no topo da equipe executiva,
contando sempre com o
suporte e planejamento dos
produtores líderes anteriores.

Figura 94: Mandaracala


Devi Dasi (DVS)

Foi através dela que carros de som de pequeno porte se transformaram em


trios elétricos (2007) e mini trios elétricos, aumentando a atratividade do Ratha Yatra
para todos os participantes e transeuntes. Também a facilidade de carros de apoio
com água para os participantes e possibilidade de descanso durante a procissão
para os mais debilitados; captação de recursos para o aumento da quantidade de
kits de prasada distribuídos; estruturas fixas no Farol da Barra para a distribuição de
prasada; guincho para o Carro com preços reduzidos e serviço apropriado; dentre
muitos outros avanços.
69

5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR


70

5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR

Neste último capítulo, alguns elementos das produções de 2003 a 2013 serão
avaliados por uma visão direcionada ao produtor e eventos semelhantes ao RY; em
tópicos que serão trabalhados separadamente, embutidos de considerações.

5.1 Planejamento e Execução

Um produtor com um mínimo de conhecimento na área reconhece a


importância da utilização de ferramentas como projeto do evento, orçamento
detalhado, plano de mídia, de capacitação de recurso, envolvimento de uma equipe
de produção sólida, etc. No entanto, no cenário que montamos até aqui, isto é
raramente viável.

5.1.1 Projeto

Um projeto formal pode nos trazer dois benefícios básicos: 1 – facilitar o


acesso à informação, de conhecimento, e linguagem única para todos os membros
da equipe de produção; e 2 - documento imprescindível para captação de recursos
junto a entidades públicas e privadas, como Leis de Incentivo à Cultura. E neste
segundo ponto há uma escolha a se fazer considerando que:
A - com poucos recursos disponíveis, onde os mais preciosos são o tempo e
mão-de-obra, e frequentemente a núcleo de produção se limitando a uma ou duas
pessoas (não por falta de convite e desejo que outros se juntem ao grupo), a
utilização de um projeto simplificado, e uma integrada comunicação entre os
produtores torna-se mais eficaz do que a confecção de um projeto sofisticado. Esse
projeto básico contém as linhas de ações e componentes do RY, mas não detalhes
minuciosos sob a forma de fazê-los: geralmente as mesmas pessoas desempenham
o mesmo papel com know-how, e os que se juntam são acompanhados
pessoalmente; e
B - a ISKCON BA está há anos com seu Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica, CNPJ, irregular (devido apenas a falta de entrega à Receita Federal da
Declaração Anual de Inativos), e com isso não é possível recorrer a nenhuma
facilidade financeira do Governo. Madalena Koppe, nos últimos anos, esta
71

empenhada em realizar sua regularização e várias medidas necessárias já foram


tomadas,
Daí que a elaboração a cada ano de um novo projeto para este evento se
torna secundário às demais providência a serem tomadas.
A atual produção do Ratha Yatra deu entrada na regularização Fiscal e Legal
da ISKCON Bahia em 2015.

5.1.2 Plano de Comunicação

Peça chave para o sucesso de público, e reforço de lembrança para as


próximas edições, nem sempre a comunicação com a mídia conseguiu ser realizada
a contento, devido em muito por falta de colaboradores que se responsabilizassem
por isso.
Assessoria de Imprensa - Release, pautas, peças publicitárias e outros
suportes para a imprensa eram confeccionados e disponibilizados, bem como
mailing dos Cadernos e Programas de Cultura e outros meios midiáticos, mas a falta
de pessoas que realizassem a atualização deste mailing, mantivessem contato
periódico com a mídia, com conhecimento de seus prazos e dinâmica de
funcionamento, boicotou o sucesso da comunicação midiática por muitas edições do
evento. As melhores assessorias de imprensa realizadas foram graças a Sra.
Edinete Melo, devota profissional da área que fazia o serviço como seva. Com ela e
outras contribuições (Gandharvika Devi Dasi (Angelina Celeste), Krishna Maiy Devi
Dasi (Kátia Quadros), Krishna Yoga Devi Dasi (Cristiane Salles) e Purushottama Das
(Josemar Salles) Citralekha Devi Dasi (Carla Fontoura)) conseguimos espaço nos
jornais impressos, chamadas na Rádio, matérias na Televisão, e inclusão na
programação da Fundação Cultural do Estado. No entanto, como apresentado
anteriormente, o tempo necessário a dispensar para suas atividades profissionais
remuneradas, a impediu de dedicar-se, apesar do desejo, em todas as edições a
esta contribuição ao Ratha Yatra.
Ainda que sem uma efetiva assessoria de imprensa, a divulgação através de
cartazes e panfletos sempre foi o carro chefe da divulgação. E novamente:
prejudicada devido a falta de colaboradores que distribuíssem tais peças
publicitárias por locais afins da cidade (casas de yoga, restaurante vegetarianos,
72

naturalistas etc, outras entidades religiosas/espiritualistas, espaços culturais, teatros


e casas de shows.
Também podem ser utilizados com sucesso bus-mídia, outdoor, banners e
faixas, como já foram.
Quanto à elaboração gráfica, convém contar com colaboradores voluntários,
acessíveis e amadores da causa. Desde 2003 a equipe do RY conta com o serviço
de devotos que são profissionais no ramo (Sérgio Lemos (Sri Dwarakadshi Das),
Marília Palmeira (Lila), Vraja Vadhu Devi Dasi). Muitas alterações podem surgir, e o
produtor precisa ter um canal de comunicação desempedida com o designer para
qualquer imprevisto, ou ajuda necessária.

5.1.3 Autorizações

Como utilizamos espaço e vias públicas para o cortejo, autorizações da


Prefeitura e órgãos de transito são necessárias. Para as autorizações, ofícios e
procedimentos padrões são utilizados. De 2013 a 2016, com a mudança de Governo
Municipal, houve alteração no procedimento para liberação de eventos em local
público, o que ocasionou perda para o RY pois é organizado em período de
transição (Dezembro, Janeiro, Fevereiro), e nem mesmo os funcionários públicos
sabiam exatamente como deveriam proceder.
A assinatura em 20/01/2011 do Termo de Ajustamento de Conduta - TAC pelo
Ministério Público Estadual, Superintendência de Controle e Ordenamento do Solo
do Município de Salvador (Sucom), Empresa Salvador de Turismo (Saltur) e
representantes dos movimentos Vozes de Salvador, SOS Barra e Amabarra, quanto
à redução de liberação de eventos com impacto sonoro no Bairro da Barra, dificultou
ainda mais a obtenção de autorização para o evento no percurso tradicional.
Essa dificuldade na obtenção de autorização, bem como a mudança da sede
da ISKCON Bahia do Bairro de Brotas para o Bairro de São Cristóvão (periferia da
cidade) descentralizando o local de encontro dos membros, e uma visível
desmotivação dos colaboradores, foram os principais motivos para que o RY de
2014 ocorresse em Lauro de Freitas, onde uma colaboradora Anônima proporcionou
facilidades locais para a realização do evento. Por esses mesmos motivos, somados
à recursos financeiros e humanos rarefeitos, o Ratha Yatra de 2015 não foi
realizado.
73

É necessário muito tato com o setor público. No Brasil, é fato notório que a
qualidade do serviço público, e em boa parte por depender da “boa-vontade” e
humor dos servidores, é precária. Um simples ofício pode ficar esquecido em uma
mesa de gabinete, esperando uma assinatura, apenas porque outros processos
chegam depois e vão se acumulando sobre ele, ou, ser deixado para depois por ser
considerado como um “serviço sem urgência”. É preciso um acompanhamento
constante (às vezes repetitivamente num mesmo dia) dos documentos entregues,
que necessitam percorrer caminhos burocráticos, para que eles não sejam
extraviados, nem prazos sejam perdidos. Solicitações de autorizações de órgãos
como a Superintendência de Transito de Salvador (Transalvador), ou Sucom,
dependem antes da liberação da Prefeitura, liberação essa cujo procedimento pode
durar apenas uma semana, mas já chegou à marca de dois meses, e a explicação:
apesar de já estar pronto para liberação, o documento necessitava da assinatura de
um funcionário que julgou que, por não estar na véspera do evento, poderia ser
deixado para ser assinado depois (sic).
Anotar nomes, telefones, setores, criar vínculo com funcionários diretamente
ligados a este procedimento, inclusive em outros órgãos que serão consultados pela
Prefeitura, comparecer pessoalmente e aguardar pacientemente, entre outras
virtudes do produtor, são indispensáveis.
Ilustração verídica: para a Prefeitura conceder uma autorização, são
consultados pareceres de outros órgãos e setores, como Transalvador,
Superintendência de Parques e Jardins/Secretaria do Meio Ambiente (SPJ/SMA),
Sucom (e que fique claro, não são autorizações destes para o evento: após a
liberação da Prefeitura, de posse do ofício municipal, o produtor deve recorrer
novamente aos mesmos órgãos para solicitar suas autorizações específicas, e
Ordens de Serviço conforme o caso, quando necessário). Após duas semanas
verificando que o processo encontrava-se estacionado em um mesmo estágio,
através de contatos telefônicos (e muitas transferências de ramais) permeados
cuidadosamente de muita diplomacia e cordialidades, foi descoberto que um
determinado órgão não havia dado seu parecer ainda e está era a única pendência
para o processo seguir a diante. Em meia hora o produtor conseguiu o contato da
secretária do responsável pelo parecer, ressuscitou o processo, sanou as
pendências de esclarecimentos sobre o evento, e o parecer foi envido por fax para
Prefeitura, onde a comunicação foi retomada, e a funcionária de contato
74

imediatamente procedeu à continuidade do processo. No fim do dia, o documento de


Autorização do Ratha Yatra estava pronto para ser retirado.
É importante tomar conhecimento dos procedimentos para cada local, bem
como manter-se atualizado de alterações ocorridas. O Apêndice A apresenta as
mudanças de procedimentos encontradas pela produção do RY 2016 na cidade de
Salvador.
As autorizações anteriores ao período estudado aqui eram facilitados
principalmente pela devota Gandharvika Devi Dasi (Angelina Celeste).
A preocupação e acompanhamento devem ser constantes, prevenindo
contratempos com a documentação no momento do evento. Com outros órgãos de
autorização e apoios há dificuldades semelhantes.

5.2 Gerenciando Recursos

5.2.1 Voluntários, Tempo e Outros Recursos: o Panorama da Mudança

Todos os serviços de produção para o Ratha Yatra em Salvador pela ISKCON


Bahia, tanto realizados pelos membros residentes como pelos “membros externos”,
sempre foram feitos de forma voluntária, ou seja, sem nenhuma remuneração, ou
qualquer característica de vínculo empregatício. A base filosófica e prática religiosa
da ISKCON são a “Bhakti-yoga”, ou serviço devocional espontâneo e amoroso à
Suprema Personalidade de Deus. E esta é a característica predominante do trabalho
voluntário dos membros da Sociedade, a menos que haja contrato específico de
remuneração, como para alguns serviços de tempo integral para o qual os membros
da Instituição são formalmente contratados, ou serviço terceirizado a “não-devotos”,
como serviços de contabilidade. Este serviço devocional espontâneo e amoroso é
chamado de “seva”.
O financiamento da produção do Ratha Yatra acontece através de doações
dos membros da Instituição, simpatizantes, e com recursos coletados pelo trabalho
missionário dos monges residentes (principalmente a distribuição de livros nas ruas -
sankirtana). Não há grandes patrocinadores ou patronos, políticos ou particulares,
ou verbas públicas. Então essa movimentação social do Templo interferiu na entrada
dos recursos coletados pelos monges residentes, que era majoritariamente
destinada à manutenção do Templo e suas atividades missionárias (incluindo o RY).
75

A partir do momento em que houve a redução do número de residentes do


Templo de Salvador, marcantemente no ano de 2003, a organização do RY passa
então a contar apenas com os voluntários “externos”, que possuíam empregos fixos,
o que não possibilitava uma mobilidade de horários para adequação à produção do
RY, como o trabalho autônomo antes exercido pelos membros residentes. Devido à
dispersão, a produção do RY passou a ser, quase que invariavelmente, centralizada
em uma única pessoa, o organizador, ou produtor. A separação física, devido à
maioria dos voluntários não mais residir no mesmo endereço – o Templo –
demandou mais tempo, energia e recursos para manter uma boa comunicação com
os colaboradores, e para captação financeira e demandas de serviços. Captação de
recursos sempre é um trabalho exaustivo, mas os muitos residentes facilitavam ao
possuírem tempo e local disponível para solicitar e receber doações dos membros
da congregação.
Como um emprego paralelo, o trabalho voluntário de organização do RY
concorre em tempo, disponibilidade, disposição e outros recursos com os trabalhos
pessoais e profissionais do produtor-voluntário, visto que a sua atividade principal,
fonte de seu sustento, não é passível de ser negligenciada. Os serviços que devem
ser realizados em horário de seu trabalho, como solicitações públicas, entrega e
recebimento de documentos, vistoria de equipamentos, ficam comumente à mercê
de colaboradores esporádicos dispostos a isso, que também são membros externos
com tempo corrido.
Com outros eventos que não possuem grande visibilidade social, nem retorno
expressivo retorno financeiro ocorre o mesmo: sua base é construída através de
trabalho voluntário, ou com o suporte de ajuda de custo.

5.2.2 Recurso Humano

O Recurso Humano, e consequentemente de Tempo, (principalmente o


recurso humano qualificado), pode ser considerado o recurso mais importante do RY
e eventos semelhantes.
Por ser de carácter religioso e beneficente, sem fins lucrativos, aberto a todos,
a mão-de-obra que é oferecida quase nunca é especialista na área. Então os
voluntários se dispõem aos serviços que desejam, mas, em seu tempo limitado. O
que pode ser oferecido é aceito.
76

O humor particular dos colaboradores deve ser considerado a cada


passo de ação no que se refere Às Deidades e cada seva relacionado ao RY. É
de suma importância para o produtor respeitar a relação das Deidades com Seus
servos, bem como o tempo necessário para isso. Há uma apropriação do RY por
todos os devotos, e qualquer deslize nessa relação pode ter consequências
perturbadoras, como na solicitude dos colaboradores e consequentemente na
execução do evento (para nem recorrer aos méritos místicos associados).
Exemplo disso é a cúpula produzida por Ângelo, que, se fosse pela decisão
da equipe de produção, seria a cúpula utilizada em 2013.
Mesmo com os colaboradores “não-devotos”: com o passar do tempo, a
produção criou relacionamentos com os prestadores do serviço de guincho, e eles
passaram a considerar a troca de rodas gentilmente como parte do serviço.
É essencial para o produtor construir bons relacionamentos. Com empatia e
profissionalismo é possível conseguir muitos recursos antes não disponíveis em
relação de ganha-ganha com todos os envolvidos.

5.2.3 Recursos Financeiros

Os recursos financeiros para o evento RY são oriundos de doações pessoais,


dos devotos ou simpatizantes, ou através de confecção de material temático e sua
troca por contribuições. Visto que a maioria dos devotos não é de uma classe
econômica elevada, não é possível obter muito lucro com esses produtos, pois seus
preços têm de ser populares. Inclusive, muitos desses produtos acabaram sendo
feitos apenas para satisfação dos devotos, por vezes sobrando material (devido a
quantidade mínima de produção), e/ou tendo prejuízo: além do risco inerente desta
forma de coleta, é sempre uma escolha do produtor em realizar este investimento
financeiro, para obter um retorno na realização pessoal dos participantes e devotos.
Dentre as produções temáticas, já foram confeccionadas: camisas, bonés,
chaveiros, bottons, imãs, fitas de pulso (semelhantes às tradicionais do “Senhor do
Bonfim da Bahia”, mas com a inscrição “Lembrança do Senhor Jagannatha da
Bahia”), cartões com o maha mantra, sacolas.
Seguindo o padrão de blocos de Carnaval, também foi idealizado e
confeccionado um carnê com o qual o colaborador contribuía mensalmente, com
77

diferentes valores que davam direitos a diferentes kits: camisa, camisa+boné, etc.
Uma ideia lucrativa, mas que exige um periódico acompanhamento.
A coleta de todos recursos financeiros sempre foram registrados, mas poucas
vezes organizados para serem apresentados à congregação da ISKCON (Prestação
de Contas). Antes da participação de Madalena, 70% dos recursos financeiros eram
oriundos de recurso particular dos produtores.
A busca por recursos públicos, de incentivo à Cultura, por exemplo, só não foi
realizada até 2016 por falta de recursos: humanos e de tempo.

5.2.4 Apoios Públicos

Os apoios públicos são recebidos através das permissões para uso do solo,
Largo do Farol, vias de trânsito, às vezes banheiros químicos, escolta da Polícia
Militar, e Engenharia de Trânsito. Por ser um evento sem consumo de drogas (nem
de bebidas alcoólicas pelos devotos), e pacífico, onde nunca houve ocorrência de
distúrbios, os servidores da PM e da Transalvador sempre se mostraram favoráveis
à sua realização. Os órgãos autorizadores, também reconhecendo o carácter
sociocultural benéfico do RY, nunca se opuseram, com restrições apenas ao uso do
som.
Por possuir Títulos de Utilidade Pública Estadual e Municipal, bem como por
ser uma instituição sem fins lucrativos ou promoção particular, a ISKCON Bahia
obtém facilidades, como isenções do pagamento de taxas públicas, para o evento.

5.2.5 Distribuição de Prasada - Alimentos Para a Vida

Como responsável pelo programa Alimentos Para a Vida, a produtora


Madalena Koppe (Mandaracala Dasi) cuidou pessoalmente de todas as partes deste
seva. Desde a coleta da matéria prima (bhoga), e recipientes de distribuição,
passando pela preparação da prasada, transporte e guarda no local da distribuição,
recursos humanos, com ou sem ajuda de custo, tudo é arrecadado ou doado por ela,
graças a sua rede de contatos e com muito esforço e dedicação.
Quanto mais coesa for a equipe de produção, ainda que pequena, e com
habilidades específicas, mais fluente será a produção de um evento.
78

5.3 Produção como Seva

Por mais que o produtor tente ter uma visão profissional do evento, este é um
evento altamente participativo e apropriado pelos devotos, que se sentem
coprodutores de sua realização - são intensos Amadores. Isto deve ser observado
quando se produz um evento similar.
Os produtores devem se manter maleáveis, com respeito aos limites e às
aptidões de cada colaborador. Torna-se então inapropriado, assim como inviável, a
restrição invariável de serviços durante o Ratha Yatra, pois todos se sentem no
direito de tomar parte em um serviço tão especial a alguém que é considerado como
um familiar. Sugerir alguma espécie de autoridade sobre os serviços causa
desconforto em alguns devotos. Por vezes, “estar à frente” do Ratha Yatra pode ser
visto como “merecimento” de uma “superioridade espiritual”, gerando uma sutil
“guerra de egos”, de “orgulho”, onde o produtor se torna o objeto de julgamentos e
embates. Como é uma produção para uma Instituição religiosa, e seus membros,
sempre iram aflorar críticas baseadas no “nível espiritual” do produtor, e não sua
capacidade de realizar o evento a contento.
É necessário que o produtor contorne os atritos antes que eles surjam, ou
estar bem preparado para estas situações (psicológica, didática e emocionalmente).
Não é viável usar soluções estritamente profissionais, já que todos são voluntários,
de diferentes níveis culturais e intelectuais - a recompensa financeira é mais objetiva
para determinadas perfil de colaboradores -, e no trabalho voluntário a subjetividade
humana aliada ao compromisso apenas por uma ordem sutil (moral, religiosa,
filosófica, emocional etc) é um risco constante à estabilidade do evento.
Felizmente, a gama de serviços disponíveis para se organizar um Ratha Yatra
é infinita, desde os serviços essenciais, até qualquer oferenda pessoal que o devoto
deseje fazer, como parar em frente ao Carro e fazer orações: qualquer nuance é
indissociável do RY. E por serem poucos os voluntários comprometidos, o sucesso
do evento depende do que cada um pode dar espontaneamente. A maioria deles já
tem em mente qual será sua oferenda para o Ratha Yatra seguinte. É preciso
valorizar isso, assim como incentivar e capacitar a participação em serviços que
estão constantemente deficientes, ainda que esta não seja o desejo original do
colaborador. Empatia, tolerância, mudanças de paradigma, de linguagem e
79

estratégias, resiliência, acessibilidade, comunicação ininterrupta, são chaves


preciosas do produtor.
Quando problemas ocorrem, por algo que não foi realizado, a solução
recebida de terceiros é sempre a mesma: “delegue tarefas”. Com a experiência de
anos no mesmo seva, tentando delegar ao máximo as tarefas, o que se verifica é
que no trabalho voluntário o produtor sempre lançará sementes sem a completa
garantia de que germinarão. Pode preparar o terreno, adubar, proteger das
intempéries, mas sempre dependerá da vontade da semente de germinar. Pode-se
preparar o terreno observando a constância de compromisso com as
responsabilidades antes assumidas pelo colaborador, sua tendência natural a algum
serviço (decoração, culinária, serviço braçal, serviço ideológico), pode-se adubar
fornecendo todas as ferramentas necessárias (orientações, multiplicação de técnicas
e experiências, recursos financeiros, modelos de ofício, rede de contatos, inter-
relacionando com outros colaboradores), mas nada disso é garantia da realização
das tarefas demandadas. Pela mesma lógica, o produtor poderá se deparar com
uma roseira brotando de uma rachadura no asfalto, e se surpreender com
colaborações inesperadas.
Com o tempo, aprende-se a identificar quais as sementes são mais seguras
de dar uma boa safra, e a plantação e a colheita ficam sujeitas a um risco mínimo.
Mas sempre há algo de muito místico...

5.3.1 Um Espaço Para o Místico

Com a licença dos mais céticos, abre-se aqui um parêntese para algo
impossível de ser ignorado pelo produtor do Ratha Yatra, por mais objetivo que este
deseje ser.
Uma “energia cósmica” rege o Festival de Ratha Yatra, e o produtor há de se
render a ela, senão é clara a sensação de se nadar contra a corrente. Como se o
próprio Senhor Jagannatha fosse o cliente (exigente) que assinou contrato com o
produtor. Planejamentos, organização, horários determinados, tudo pode ser minado
sem qualquer razão palpável. Difícil por em palavras esta experiência, que todo
produtor obviamente tem ao trabalhar associado a outras pessoas e não estando
sobre o controle de todas as situações. Mas no Ratha Yatra, é como se essas
experiências se amplificasse, e uma pequena forma de compartilhar é ilustrando-as.
80

Começando na Índia, em Jagannatha Puri, na cerimônia de Chhera Panhara,


segundo o “Jóia do Universo”:

O maharaja de Puri é conhecido como Gajapati, uma designação que


caracteriza sua posição extraordinária entre os reis. Ele também foi o
imperador natural de Kalinga (Orissa), quando a Índia era governada pelos
reis, devido ao seu relacionamento especial com o Senhor Jagannatha.
(...) Esta história narra um incidente com o Gajapati Maharaj, Dibya
Singha Deva, ocorrido durante o Ratha Yatra em 12 de Julho de 1972. O
Senhor Jagannatha Se recusou a mover o Seu Carro, que ficou parado por
muitas horas na avenida. Por fim, o Gajapati Maharaja foi solicitado a
intervir e suas orações, com lágrimas nos olhos, concluíram a situação.
(...) A procissão cerimonial seguia passo-a-passo, descendo os vinte
e dois degraus até a porta dos leões e a entrada nos carros. Esta procissão
é conhecida como “Pahanti”. Os três carros voltados para o Norte ficam lado
a lado, prontos para o embarque. Quando as Deidades sobem nos carros, o
maharaja é informado. E então, quando o maharaj chega, ocorre outra
procissão. Com a vassoura de cabo de ouro em suas mãos, o rei vai
varrendo à frente dos carros. Este evento é conhecido como “Chhera
Panhara”. Então, as três “charas”, um tipo de elevador feito de palhas de
coqueiro com a finalidade de subir a Deidade até o carro, são desatadas.
Quando tudo está pronto, umas cordas bem fortes são atadas aos carros
para serem puxadas pela multidão.
(...) Agora, lá estavam os três carros, rodeados por uma multidão
enorme. Logo que o Senhor apareceu majestosamente em cena, os
devotos fervorosos começaram a cantar hinos e orações. As pessoas
ficavam nas pontas dos pés, ávidas em ver o Senhor.
A polícia militar de Orissa coordenava o espaço necessário para os
três carros defronte à porta dos leões e fazia esforços para conter a
multidão. Havia um cordão de isolamento e só era permitida a entrada de
pessoas credenciadas. Isso é feito todos os anos para manter a disciplina.
As pessoas se aglomeravam em volta do cordão. Todo mundo estava
olhando o “pahandi”.
(...) Por fim, o Senhor chegou para embarcar no carro. Foi a primeira
vez que as Deidades subiram nos carros tão depressa. Em muitas outras
ocasiões, a procissão com as Deidades continuava até o final da tarde e os
carros só eram puxados no dia seguinte. Mas, por exceção, as Deidades
vieram embarcar muito cedo. O céu estava nublado. Havia garoado um
pouco, o chão ainda estava meio molhado. Logo nuvens mais pesadas,
trovejando, fizeram cair um aguaceiro. Os devotos estavam em êxtase,
pensando que as Deidades haviam Se antecipado por causa da chuva. A
chuva caia e a multidão exclamava: “Hari bol!”. A chuva durou pouco, foi só
para refrescar os devotos.
Era uma hora da tarde quando a rádio Cuttack, que transmitia o
evento, anunciou:
- As Deidades vieram adornar os carro. O recém-coroado Gajapati
Maharaja Sri Dibya Singha Deva deverá chegar em seguida para a
cerimônia da varredura.
Às duas da tarde a rádio anunciou:
Agora o Gajapati está vindo com sua comitiva para a: “Chhera
Panhara”. Ele vem vestido com um trave de seda vermelha e um manto
81

sobre os ombros. Ele vem a pé. O elefante vem atrás dele. Agora ele está
oferecendo as suas orações aos Senhor Balarama com suas mãos postas.
Mais tarde a rádio anunciou:
- Agora o Gajapati está se aproximando de Subhdadra Devi e
prestando-lhe reverência. Agora ele se aproxima do carro do Senhor
Jagannatha.
A cerimônia da varredura é sagrada para o Gajapati. Para este
propósito ele é trazido do palácio por um palanquim. Ao se aproximar dos
carros ele desce do palanquim e vai cumprir o seu dever. O maharaja vindo
a pé era uma quebra da tradição. Os devotos estavam curiosos em saber o
motivo daquilo. (...) O Primeiro ministro e outros ministros estavam ali, bem
próximos da Deidade, esperando que o Senhor subisse no carro, ansiosos.
Todos tentavam mover a Deidade com muito esforço. Ele Se movia um
pouco e voltava para sua posição inicial. Os esforços dos daitapatis e dos
seus auxiliares era inúteis. O administrador do templo empenhado em por
as Deidades em seus tronos nos carros agora estava confuso. Ele verificava
que todos os esforços eram inúteis.
Mahaprabhu Jagannatha não tinha vontade de subir no carro. Os que
tentavam erguê-lo à força eram derrotados, incapazes de suportar o peso.
Parecia que o Senhor era impossível de ser movido. Alguns daitapatis
musculosos estavam ocupados em fazer subir a Deidade, colocando os
ombros nas costas do Senhor.
Passaram-se horas, e quando todos realizaram que os seus esforços
eram inúteis, fadigados, esgotados, eles perderam a esperança. Aquilo fazia
lembrar outros passatempos do Senhor. Na época em que Krishna veio
para o planeta Ele vivia pregando peças nas gopis. Agora Ele não queria
subir do carro. Os daitapatis são as suas pessoas mais íntimas. Se Ele não
desejava ser bondoso e desejava lhes pregar uma peça, quem mais seria
capaz de erguer o Senhor do Universo?
(...) O espetáculo gerava comentários os mais diversos na multidão:
- A falha é do administrador do templo. A procissão de Pahandi com
as Deidades começou muito cedo, antes da hora auspiciosa. O
administrador marcou que as Deidades deveriam estar sobre os carros às
dez horas! E lá pelo meio dia os carros já deveriam estar sendo puxados.
Mas até agora o Senhor Jagannatha nem subiu no carro. Por mais que eles
tentem, nada!
Gajapati Maharaja prostrou-se diante das duas Deidades que
estavam sobre os Seus carros e aproximou-se da Deidade de olhos
redondos com as mãos postas. (...) A cena de duelo entre o criado e o
criador comovia muito o rei. Lágrimas rolavam por suas faces quando ele se
aproximou da Deidade.
Os esforços não haviam cessado. A todo instante a Deidade se movia
um centímetro e escorregava para trás. Gajapati observava atentamente.
Seu coração estava agonizando. Nisso, uma surpresa mística tomou conta
dele.
Não havia muitos anos que os ganapatis maharajas eram as
autoridades absolutas no que dizia respeito a administração do templo.
Segundo a tradição, o rei era a corporificação do Senhor Jagannatha.
Aconteceu que aqueles santos reis caíram de sua glória e deixaram a
administração desleixar. Fora quebrada a disciplina dos vários rituais e
cerimônias das Deidades. O governo de Orissa foi obrigado a assumir o
encargo da administração e a colocou nas mãos de um magistrado distrital.
Mas como ser fixado um tempo para o infinito? Como apreciá-lO com a
82

mente racional se para Ele o racional e o irracional são apenas as duas vias
do infinito?
O administrador havia marcado um tempo para o Senhor chegar ao
carro. Se os funcionários da governo sevem chegar ao serviço na hora
certa, por que não o Senhor Jagannatha? São os homens que fazem tudo
pelo Senhor. Se eles desejavam, por que o Senhor não deveria embarcar
no carro na hora certa? O administrador era muito racional.
O Gajapati estava banhado de lágrimas. O seu olhar estava fixo na
Deidade. Todos deram passagem para o rei. Ele subiu lentamente o
charmal (chara) e ficou às costas da Deidade. Os musculosos daitapatis
amarraram uma corda de seda em volta dEle, mas o Senhor não fazia
progressos. Ele se recusava a embarcar por algum motivo desconhecido.
O jovem Gajapati não pôde conter a emoção. Ele chorava como uma
criança. Colocando as mãos nas costas do Senhor Jagannatha, ele disse:
- Ande, meu Senhor!
A resposta foi imediata. O Senhor subiu rapidamente para o Seu
posto. As pessoas o erguiam pareciam apenas enfeites. Ele havia esperado
pelo Seu querido lugar-tenente, o representante que Ele havia escolhido.
Cabia a ele dar o sinal verde, conforme o Senhor Jagannatha desejava.
Há instantes atrás Ele pesava como uma montanha, e agora estava
leve como uma pluma. Ele logo assumiu seu trono, antes que a multidão
pudesse notar alguma coisa.
Foi um evento, uma mensagem e um alerta contra as atitudes do ego
humano, que vive atolado na poça do pensamento racional. Quem pode
avaliar o quanto o Gajapati é uma alma íntima do Senhor Jagannatha!

(GANESHA PRASAD PARIJA, 2002, pg 145)

Algo semelhante aconteceu no Ratha Yatra de Salvador. Todo o ano, a


parafernália das Deidades, específica do RY, é recolhida após o festival e
cuidadosamente guardada pela equipe de Pujari, em especial pelas pujaris
Madhurya Lila Devi Dasi (Priscila de Oliveira) e Karuna Mayi Radhika Devi Dasi
(Karuma Obi). As cordas de tecido que servem para manter as Deidades fixas em
Suas bases sobre o Carro também são sempre cuidadosamente guardadas. No
entanto, em determinado ano, as cordas simplesmente desapareceram, e só se deu
por sua falta quando as Deidades já estavam sobre o Carro. Tudo estava adiantado,
e o Ratha Yatra iria sair no horário previsto, sem atrasos, como poucas vezes
acontecia. Mas o detalhe dessas pequenas cordas de 3 metros cada estava
atrasando toda a programação! A produção estava incrédula, pois após pesquisar
com quem poderiam estar essas cordas, sem sucesso, pensava em como conseguir,
em uma tarde de Domingo, material que o substituísse sem prejuízo para as
83

Deidades (com a grande quantidade de movimento do Carro durante o percurso,


qualquer material mais grosseiro poderia danificar Sua pintura e Sua madeira).
Havia sido notado pela produção, também, que alguns devotos muito ligados
às Deidades, como o presidente do Templo, Aniruddha Das, e um ônibus de um
grupo de capoeira infantil vindo de Camaçari, além de outros, não haviam chegado,
e, que, se não considerasse uma grande irresponsabilidade com o horário e falta de
respeito com os presentes pontuais e entidades públicas e privadas envolvidas
(concessores das licenças, fiscais de trânsito, polícia militar mídia), decidiria por
postergar o início do evento e aguardar a presença destes participantes fiéis.
Mas não foi necessário: a falta das cordas realizou o justo atraso para estas
chegadas. MISTICAMENTE, Aniruddha Das e as cordas se manifestaram
simultaneamente, e, quando o Carro estava pronto para sair, de um ônibus saiam
crianças sorridentes, vestidas de camisas, calças e cordões de capoeira brancos.
Saímos novamente atrasados. Mas a produção não lamentou.

Pode parecer uma pequena estrela em um céu nebuloso, mas com eventos
como o Ratha Yatra, onde o produtor é mais do que um profissional, instituindo-se
um amador de seu produto, situações assim são como um firmamento repleto de
pequenas e grandes estrelas, que por si só iluminam o planeta sem a necessidade
do auxílio de nenhuma outra fonte de luz. Para não falar das vezes em que aparece
uma grandiosa Lua no céu do Ratha Yatra.
84

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
85

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Festival de Verão Ratha Yatra, como muitas outras manifestações culturais


aguardando para serem promovidas, revela o que há de mais encantador na
vocação do produtor.
Por mais “profissional” que seja o produtor, há de manter-se sempre
“amador”, pois que, senão, não produz, apenas reproduz - fórmulas prontas e
desgastadas e eventos de estagnação cultural. A beleza do trabalho do produtor
está em garimpar as manifestações socioculturais, estranhas ou comuns, mas
verdadeiras, para que não prevaleçam moldes sociais comodistas da atualidade.
O amador é o único capaz de fazer brilhar as essências das manifestações
culturais, porque as explorou e sabe exatamente onde estão. Utilizar-se de “receitas
prontas” e “certeiras”, pode ter o seu valor social ou econômico, mas, para não se
deixar atrofiar, há de arriscar-se, mudar cursos, mergulhar de cabeça.
A experiência de trabalhar em um evento focado, sem fins lucrativos e movido
por fiéis como o Ratha Yatra, tendo de contornar tantas dificuldades, como as de
recursos limitados, poucos voluntários, mão de obra não qualificada, com um público
e contexto (sem fins lucrativos) que não atiça o investimento capitalista, amadurece
o produtor para a sua atividade, e aumenta o seu valor social. É a benesse de fazer
parte da realização de algo único, uma propagação cultural sem igual, onde há o
choque e a interação do diferente próximo, algo desconhecido à massa que vem à
tona e se associa ao ordinário. Atendendo à demanda de suma importância de um
público minoritário, e criando para ele parcerias e profundas raízes com a sociedade
secular.
Para ter sucesso nesse desafio, o produtor deve estar completamente
conectado, embrenhado, ainda que temporariamente, em todas as nuances de seu
produto. Se esta simbiose não ocorrer, ele será apenas um corpo estranho, que será
expelido espontaneamente do organismo cultural detentor desse saber.
86

REFERÊNCIAS

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Ocidentalizado: Um Estudo Etnográfico sobre o Movimento Hare Krishna. Porto
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conflitos e consensos entre os frequentadores indianos e ocidentais no templo
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Sociedade: Inovações e Transformações Contemporâneas: Porto Alegre, 2008.

______, Vítor Hugo da Silva. ETNOGRAFIAS COMO MÉTODOS E DADOS


DEPESQUISAS: AS EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS QUE ATRAVESSAM OS
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Mónica; CANTÓN, Manuela; BLANES, Ruy Llera. Teorías e Prácticas Emergentes
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postcharismatic fate of a religious transplant. New York: Columbia University Press,
2004.

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Caruaru, 2014.

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(Comp.). Pancharatra Pradipa: Método de Adoração à Deidade para a ISKCON.
Mayapur: Gráfica da ISKCON GBC, 1997. Tradução de Indumukhi Devi Dasi.
87

GUERRIERO, Silas. O Movimento Hare Krishna do Brasil: A comunidade


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KHUNTIA, Somanatha; PARIJA, Ganesh Prasad; BIBUDHARANJAN (Comp.). Jóia


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SATSVARUPA, Satsvarupa Dasa Goswami. Prabhupada - Um Santo do Século


XX. 2. ed. São Paulo: Bbt, 2014. 320 p.
SATSVARUPA, Satsvarupa Dasa Goswami. Srila Prabhupada Lilamrta. 3. ed.
Brasília, Df: Associação Bbt Brasil, 2002.

SOBRE A ISKCON. Disponível em <http://iskconbahia.com.br>. Acesso em 01 JUN


2015.
88

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)


89

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

Entre as edições de 2013 e 2014 do Ratha Yatra soteropolitano


houve mudança de governo municipal, e foi dado início às obras de
reformas da orla da Barra, compreendendo o Farol da Barra. Com isso,
não apenas a realização do evento no Farol se tornou inviável, como as
consequentes e morosas alterações nos órgãos e processos de
solicitação de licença para eventos em locais públicos desestimularam a
produtora na época, Mandaracala Dasi, para que realizasse a edição de
2014 em Salvador.

Obtendo maiores facilidades no município de Lauro de Freitas,


mais especificamente no loteamento Villas do Atlântico, através de uma
colaboradora anônima, aí foi realizada a edição de 2014: o XIX Festival
de Verão Ratha Yatra da ISKCON Bahia.

Em 2015, por ainda estar sozinha na produção do Ratha Yatra, e


encontrando as mesmas dificuldades no processo de licenciamento, não
houve a realização do evento.

Em 2016, contando com o apoio da coprodutora Áurea Cristina,


que ficou responsável pelas autorizações, o evento pode retornar à
capital baiana, não no percurso costumaz da orla da Barra, mas sim na
orla da Pituba, tendo em vista o pouco tempo em batalhar pela
autorização na orla recém-reformada do Farol da Barra. O trajeto do XX
Ratha Yatra da ISKCON Bahia foi do Largo de Amaralina (antigo Largo
das Baianas) até a praça Wilson Lins (antigo Clube Português) na orla
da Pituba, pela avenida Octávio Mangabeira.

Funcionando nas instalações da SUCOM (Secretaria Municipal de


Urbanismo) no 18º andar do prédio Empresarial Thomé de Souza (Av.
Antônio Carlo Magalhães), uma Central de Licenciamento foi criada pela
Prefeitura Municipal de Salvador, composta por representantes de todos
os órgãos envolvidos no licenciamento, com o objetivo de facilitar o
processo de autorizações de eventos. Na Central Integrada de
90

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

Licenciamento de Eventos (CLE), “os produtores podem retirar a licença


em um único local, acabando com a burocracia e a necessidade de
comparecer a diversas secretarias”, segundo a Prefeitura de Salvador
(http://cle.salvador.ba.gov.br/).

A Central é composta pelos seguintes orgãos: Secretaria


Municipal de Urbanismo (Sucom), Empresa de Limpeza Urbana de
Salvador (Limpurb), Superintendência de Trânsito e Transporte de
Salvador (Transalvador), Secretaria Municipal de Ordem Pública
(Semop), Vigilância Sanitária (Visa), Secretaria da Fazenda Municipal
(Sefaz), Secretaria Cidade Sustentável (Secis), Salvador Turismo
(Saltur), Fundação Gregório de Matos (FGM).

No entanto, para a realização do Ratha Yatra, que é promovido


por uma Instituição sem fins lucrativos, com Títulos de Utilidade Públicas
Municipal e Estadual, e que, por isso, recebia isenções das taxas de
serviços por ventura existentes junto a esses órgãos, a produção teve
pouco tempo – a co-produtora reside e trabalha desde 2013 em outro
Estado, tendo pouca disponibilidade de estar em Salvador - para se
adequar ao novo processo.

Antes familiar aos órgãos de licenciamento envolvidos na


liberação do evento, o Ratha Yatra tem agora que reconquistar seu
espaço junto aos representantes do CLE, cujo funcionamento distanciou
a comunicação que antes era feita diretamente com os funcionários dos
órgãos responsáveis pelas autorizações e apoios.

Dando entrada no CLE, a documentação segue na mesma sala


pelo representante de cada órgão, e DAMs (Documento de Arrecadação
Municipal) são emitidos e devem ser pagos, e comprovantes
apresentados lá mesmo, para que o pedido de licenciamento siga para
os órgãos competentes física e digitalmente. Para que seja concedida
91

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

isenção do pagamento de taxas, é necessário que a produção dê


entrada independentemente em cada órgão, com ofícios específicos, e
esperar que os processos sejam concluídos em cada um deles, para
então o licenciamento ter continuidade pelo CLE. Por ser muito moroso,
a produção optou por dar entrada através da Secretaria Municipal de
Cultura e Turismo (SECULT): a informação obtida foi que, sendo uma
solicitação de evento apoiado por este órgão, o pagamento das taxas
seria dispensado.

Ratha Yatra marcado para 24 de Abril, um Domingo, foi dado


entrada a solicitação de apoio na SECULT no dia 23 de Março, após
tentativas anteriores junto à Sucom e CLE. Um ofício foi encaminhado à
SECULT, endereçada ao Secretário Érico Pina Mendonça Júnior, na
esperança de ter dispensada ao menos a taxa da Transalvador, que era
a mais cara no processo de licenciamento (para o apoio de trânsito para
evento até 1.000 pessoas foi cobrado o valor de R$ 1.285,47). Por estar
em meio à organização da semana de comemoração do aniversário da
Cidade (29 de março), o Secretário só deu prosseguimento ao processo
duas semanas depois, sendo solicitado o parecer da Secretaria de
Turismo, a qual, após insistentes contatos telefônicos da produção,
retornou com resposta favorável à SECULT, e então o processo foi
encaminhado em 05/04 à CLE, que providenciou encaminhamento aos
demais órgãos, sendo indispensável o pagamento da taxa da Sucom de
R$ 39,26, pago com recursos de uma das produtoras. Apenas no dia
12/04 fomos informados da necessidade de solicitar dispensa de
pagamento de taxa diretamente à Transalvador, mesmo sendo uma
solicitação de evento da SECULT. Referida dispensa foi solicitada
através de formulário específico na CLE ao responsável pela
Transalvador. No dia 14/04 recebemos por email da Transalvador o
boleto para pagamento da taxa, e, após ser questionado tal cobrança
tendo em vista a solicitação de dispensa, outro email foi enviado pedindo
92

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

que se desconsiderasse a cobrança até julgamento da dispensa. Uma


vez que a ISKCON Bahia atende a todos os requisitos conforme a Lei
para a solicitação de dispensa (sem fins lucrativos, com Títulos de
Utilidade Pública, sem a promoção de políticos ou outras pessoas etc), a
produção optou por dar continuidade ao evento mesmo não tendo, a
menos de duas semanas, resposta de seu licenciamento. No dia 19/04
tivemos acesso à decisão da Transalvador de não dispensar a taxa.

Estando na semana do evento, a duas produtoras, Madalena


Koppe e Áurea Cristina, considerando que dia 21 de Abril seria feriado, e
dia 22 não haveria expediente para o Público, tendo apenas um dia e
meio para recorrer a esta decisão, com o grande risco de não haver
tempo hábil para receber a autorização da Transalvador, a produção
decidiu arcar provisoriamente com a taxa para que o evento ocorresse
em segurança. Com este gasto, contando apenas com doações
espontâneas de membros da Instituição, não havendo provisão de
recursos próprios, o Ratha Yatra 2016 foi realizado como previsto, mas
com o déficit de R$ 1.492,99.

Com essa primeira experiência com a CLE, a produção do Ratha


Yatra almeja conseguir autorização e dispensa das taxas de
licenciamento e apoio dos órgãos públicos para a edição de 2017, a ser
pleiteada no trajeto tradicional: orla de Ondina ao Farol da Barra.
93

ANEXOS

IMPRESSOS
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Anexo A – Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna ISKCON

Arquivo em PDF.

Autor: Secretaria de Comunicação da ISKCON

Disponível em: http://communications.iskcon.org

Acessado em: 02/06/2015


SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

ORGANIZAÇÃO: OS SETE PROPÓSITOS DA ISKCON


Popularmente conhecida como Movimento Hare Krishna, a Quando a ISKCON foi fundada em Nova York em
Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna 1966, Srila Prabhupada determinou os sete pontos
(ISKCON) é uma confederação mundial com mais de 400 seguintes como propósitos da Sociedade:
1. Propagar sistematicamente o conhecimento
templos, 100 restaurantes vegetarianos e uma grande espiritual na sociedade em geral e educar as
variedade de projetos comunitários. pessoas nas técnicas da vida espiritual a fim de
fazer frente ao desequilíbrio de valores na vida e
obter verdadeira unidade e paz no mundo.
HISTÓRIA: 2. Propagar a Consciência de Krishna, tal como se
A ISKCON pertence à Gaudiya-Vaisnava Sampradaya, revela no Bhagavad-Gita e no Srimad-
uma tradição monoteísta dentro da ampla cultura hindu. É Bhagavatam.
3. Fomentar a aproximação entre os membros da
baseada, de maneira escritural, no Bhagavad-gita, ou ISKCON e entre estes e Krishna, o Ser Originário,
Canção de Deus, texto em Sânscrito de 5 mil anos de para assim desenvolver a ideia, entre os membros
e na humanidade em geral, de que cada alma é
idade. A ISKCON segue sua linhagem diretamente do qualitativamente parte integrante de Deus
Senhor Krishna, o orador do livro sagrado, reverenciado (Krishna).
como a Suprema Personalidade de Deus; e do Senhor 4. Ensinar e promover o movimento de sankirtana,
o canto congregacional do santo nome de Deus, tal
Caitanya Mahaprabhu, a encarnação de Deus no Séc. XVI, como se revela nos ensinamentos do Senhor Sri
na Índia, que enfatizou o entoar do mantra Hare Krishna Caitanya Mahaprabhu.
como o meio mais eficaz de alcançar auto realização e 5. Erigir, para os membros e para a sociedade em
geral, um lugar sagrado de passatempos
amor por Deus nesta era. transcendentais, dedicado à Personalidade de
Krishna.
6. Promover a união entre os membros para
FUNDADOR: ensinar um modo de vida mais simples e natural.
Em 1965, aos 69 anos, Sua Divina Graça A. C. 7. Com o objetivo de obter os mencionados
Bhaktivedanata Swami Prabhupada viajou sozinho da Índia objetivos, publicar e distribuir periódicos, revistas,
livros e outros escritos.
para a América, para trazer os ensinamentos de Krishna
para o Ocidente. Em 11 de julho de 1966, Srila
Prabhupada registrou oficialmente a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna
(ISKCON), em Nova York, e assim começou o Movimento Hare Krishna na América. Srila
Prabhupada faleceu em 1977.

MISSÃO:
A missão não-sectária deste movimento monoteísta é desenvolver o bem-estar da sociedade,
promovendo a ciência da Consciência de Krishna. Para isso, Srila Prabhupada estabeleceu a
declaração de missão da ISKCON em sete propósitos.

TEXTOS SAGRADOS:
A filosofia da ISKCON baseia-se em antigos textos védicos. Estes incluem o Bhagavad-gita, o
Srimad-Bhagavatam e o Caitanya-Charitamrita. O estudo dessas escrituras ocorre em templos
da ISKCON diariamente, e narrações especiais, ou palestras, muitas vezes fazem parte de
encontros comunitários semanais e festivais.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

Bhagavad-gita
O Bhagavad-gita explica lucidamente a natureza da consciência,
o ego, e o Universo. É a essência da sabedoria espiritual da Índia,
as respostas para perguntas posadas por filósofos durante séculos

FILOSOFIA:
Devotos de Krishna ensinam que as pessoas não são seus corpos materiais, mas são almas
espirituais eternas, e que todos os seres são interligados por meio de Deus, o Pai comum. Na
tradição Vaishnava Deus é conhecido por muitos nomes, sendo o principal nome Krishna, que
significa “a Toda-Atrativa Pessoa Suprema”. Os membros da ISKCON acreditam que o mesmo
se fala de Deus em todas as grandes escrituras do mundo.

A ISKCON ensina que o objetivo da vida é desenvolver o amor por Deus. O amor por Deus
realiza-se por meio da prática de bhakti-yoga, ou serviço devocional. Este sistema antigo de
Yoga ensina a arte de se espiritualizar todas as atividades humanas. Para alcançar
efetivamente a consciência de Krishna, os membros cantam e meditam sobre os santos nomes
do Senhor Krishna:
Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare;
Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

PRÁTICAS E PRINCÍPIOS:
Além de cantar e meditar diariamente, os membros da ISKCON praticam sua fé participando de
cultos regulares, estudando as escrituras, compartilhando refeições vegetarianas santificadas e
promovendo o companheirismo entre outros devotos de Krishna.

Os membros também praticam quatro “princípios” religiosos: compaixão, honestidade, limpeza


e austeridade. Para defender esses princípios e concentrar a mente e os sentidos em suas
buscas espirituais, seguem regras básicas de conduta. Eles são lacto-vegetarianos, não
comem nenhum tipo de carne, peixe ou ovos. Também se abstêm de jogos de azar e sexo
ilícito. Não fumam, não bebem, nem usam drogas.

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Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

SOCIEDADE:
A ISKCON tem mais de um milhão de membros em todo o mundo. Enquanto alguns membros
vivem em templos e ashrams (monastérios), como monges e monjas, a maioria dos devotos
Hare Krishna vive, trabalha e vai à escola na sociedade secular. Praticam Consciência de
Krishna em suas casas e frequentam os templos regularmente. A participação é aberta a
qualquer pessoa, independente de raça, religião, gênero, etnia ou qualquer outro fator.

Números relevantes:

 4 princípios religiosos: compaixão, veracidade, limpeza e austeridade;


 4 princípios reguladores: nada de comer carne ou ovos, jogar, sexo
ilícito e intoxicação;
 mais de 40 comunidades rurais;
 mais de 100 restaurantes vegetarianos;
 mais de 400 templos;
 mais de um milhão de seguidores no mundo inteiro;
 mais de 10 mil seguidores no Brasil

LIDERANÇA:
Antes de seu falecimento, em 1977, Srila Prabhupada estabeleceu uma Comissão de
Administração (GBC) para supervisionar as atividades da Sociedade Internacional para a
Consciência de Krishna. Esse conselho eclesiástico consiste em devotos de Krishna sêniores
na ISKCON, que trabalham juntos, como um corpo, para guiar a organização. Cada templo da
ISKCON está incorporado e gere individualmente os seus assuntos por meio de uma liderança
local.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

O MOVIMENTO HARE KRISHNA NA AMÉRICA “A Sociedade Internacional para Consciência de Krishna


está fazendo um excelente trabalho em permitir que as
DO NORTE TEM RAIZES NA TRADIÇÃO pessoas saibam que a comida vegetariana é saudável,
ANTIGA VAISHNAVA DA ÍNDIA deliciosa e agradável aos olhos... Não há elogios que
bastem pelo seu sucesso na promoção da causa do
vegetarianismo no mundo todo.”
Scott Smith, Associate Editor, Vegetarian Times

Popularmente conhecida como Movimento Hare Krishna, a Sociedade cott Smith, Associate
Internacional Editor,
para a
Consciência de Krishna (ISKCON) pertence à Gaudiya-Vaisnava Sampradaya, tradiçãoVegetarian Times
monoteísta dentro da cultura védica, ou Hindu. Baseia-se no Bhagavad-gita, ensinamentos
espirituais proferidos pelo Senhor Krishna. Segundo a tradição, esse texto sagrado tem mais de
5 mil anos e documenta a conversa entre o Senhor Krishna e seu primo, amigo e discípulo
Arjuna.

A ISKCON traça a sua linhagem espiritual diretamente do interlocutor do livro sagrado, o


Senhor Krishna, que é reverenciado como a Suprema Personalidade de Deus. O texto ensina
que o objetivo da vida é desenvolver amor por Deus, ou Krishna. O amor por Deus é realizado
por meio da prática de Bhakti-Yoga, a ciência do serviço devocional.

Na última parte do Séc. XV, um santo chamado Caitanya Mahaprabhu revitalizou a tradição de
Bhakti-Yoga por meio da introdução de um movimento espiritual expansivo, que varreu a Índia.
O ponto central desse renascimento foi a ênfase de Caitanya no canto do nome de Krishna.
Subjacente a essa prática simples está uma teologia profunda, racional e intelectualmente
abrangente. Devotos Hare Krishna adoram o Senhor Caitanya como uma encarnação de
Krishna para esta era, e a ISKCON é uma continuação vibrante do movimento que Sri Caitanya
começou.

O Movimento Hare Krishna diminuiu um pouco nos anos que se seguiram. Então, no final do
Séc. XIX, Bhaktivinoda Thakura, um estudioso, magistrado e líder religioso na tradição de
Caitanya, conduziu um segundo renascimento da devoção a Krishna. Seu filho, Srila
Bhaktisiddhanta Sarasvati, continuou o seu trabalho e estabeleceu templos proeminentes e
instituições na Índia. Bhaktisiddhanta Sarasvati foi o mentor espiritual de A. C. Bhaktivedanta
Swami Prabhupada, e foi ele que pediu a Srila Prabhupada que levasse os ensinamentos de
Krishna para fora da Índia.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

Srila Prabhupada chegou a Nova York em 1965, com


69 anos. Nos 11 anos seguintes estabeleceu uma CHAITANYA MAHAPRABHU
instituição internacional, guiou milhares de homens e
mulheres, de diversas origens e nacionalidades, em Chaitanya exibiu sintomas do amor por Deus
no grau mais elevado e enfatizou o cantar
suas vidas espirituais e ajudou a fazer de "Hare dos santos nomes de Krishna como o melhor
Krishna" uma frase familiar em todo o mundo. A meio para se alcançar o amor por Deus.
ISKCON, desde então, tem crescido em uma
confederação mundial de mais de um milhão de
membros, a partir de uma variedade de origens. Hoje
existem mais de 400 templos Hare Krishna em seis
continentes.

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inglesa em http://communications.iskcon.org

Ele era uma pessoa santa genuína com integridade


e compaixão enorme e teve impacto poderoso
sobre os que o conheceram. Ele nunca reivindicou
autoridade e respeita para ele; o que ele disse e fez
sempre foi em nome de Krishna...

- Dr. Thomas J. o Hopkins

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Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

SUA DIVINA GRAÇA


A.C. BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPADA

Quando Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada entrou no porto de Boston,
em 17 de setembro de 1965, poucos americanos tomaram conhecimento – mas ele não era
apenas outro imigrante. Ele estava em missão, para introduzir uma antiga religião originada na
Índia na América. Antes de Srila Prabhupada falecer em 14 de novembro de 1977, aos 81
anos, sua missão foi bem-sucedida. Ele fundou a Sociedade
Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON) e a viu
crescer em uma confederação mundial de mais de 100 templos,
ashrams e centros culturais.

Srila Prabhupada nasceu Abhay Charan De, em 1 de


setembro de 1896, em Calcutá, numa família hindu
piedosa. Quando jovem, enquanto crescia na Índia sob
controle dos britânicos, Abhay se envolveu com o
movimento de Mahatma Gandhi de desobediência civil para
garantir a independência de sua nação. No entanto, em
1922, um encontro com um proeminente estudioso e líder
religioso, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, mostrou-se
influente no futuro de Abhay. Srila Bhaktisiddhanta foi um líder na Gaudiya-Vaishnava
sampradaya, uma tradição monoteísta dentro da ampla cultura hindu, e pediu a Abhay
para levar os ensinamentos do Senhor Krishna para os países de língua inglesa. Abhay
tornou-se discípulo de Srila Bhaktisiddhanta em 1933, e decidiu executar o pedido de
seu mentor. Abhay, mais tarde conhecido pelo título honorífico Bhaktivedanta Swami
Prabhupada, passou os 32 anos seguintes se preparando para sua jornada rumo ao
Ocidente.
“Ele era uma pessoa santa genuína com
Em 1965, aos 69 anos, Srila Prabhupada viajou enorme integridade e compaixão, e ele teve um forte
para os Estados Unidos a bordo de um navio de impacto sobre aqueles que o conheceram. Ele
carga. A viagem foi traiçoeira, e o idoso mestre nunca reivindicou autoridade e respeito para sii; o
que ele disse e fez sempre foi em nome de
espiritual sofreu dois ataques cardíacos a bordo do Krishna...”
navio. Chegando aos Estados Unidos com apenas - Dr. Thomas J. Hopkins
sete dólares em rúpias indianas e suas traduções
de textos sagrados em Sânscrito, Srila Prabhupada
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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
começou a compartilhar a sabedoria atemporal da Consciência de Krishna. Sua mensagem de
paz e boa-vontade ressoou entre jovens, alguns dos quais se destacaram como estudantes
sérios da tradição de Krishna. Com a ajuda desses alunos, Srila Prabhupada alugou uma
pequena loja no Lower East Side, em Nova York, para usar como um templo. Em 11 de julho
de 1966, ele registrou oficialmente sua organização no estado de Nova York, fundando
formalmente a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna.

Nos 11 anos que se sucederam, Srila Prabhupada deu a volta ao mundo 14 vezes em
ciclos de palestras, trazendo os ensinamentos do Senhor Krishna para milhares de
pessoas em seis continentes. Homens e mulheres de todas as origens e classes
sociais aceitaram sua mensagem, e, com a ajuda deles, Srila Prabhupada estabeleceu
centros da ISKCON e projetos em todo o mundo. Sob sua inspiração, os devotos de
Krishna estabeleceram templos, comunidades rurais, instituições de ensino, e
começaram o que se tornaria o maior programa de ajuda alimentar vegetariano do
mundo. Com o desejo de cultivar as raízes da Consciência de Krishna em seu país de
origem, Srila Prabhupada voltou à Índia várias vezes, onde provocou um renascimento
da tradição Vaishnava. Na Índia ele abriu dezenas de templos, incluindo grandes
centros nas cidades sagradas de Vrindavana e Mayapur.

As contribuições mais significativas de Srila Prabhupada talvez sejam seus livros. Ele
escreveu mais de 70 volumes sobre a tradição de Krishna, altamente respeitados por
estudiosos graças à autoridade, profundidade, clareza e fidelidade à tradição. Várias de
suas obras são usadas como livros didáticos em inúmeros cursos universitários. Seus
escritos foram traduzidos para 76 idiomas. Suas obras mais importantes são:
Bhagavad-gita como ele é; Srimad-Bhagavatam e Sri Caitanya-Charitamrita.

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ISKCON – EXPRESSÃO DA DEVOÇÃO POR MEIO DAS


ARTES

Com raízes nas tradições da Índia antiga, o movimento Hare


Krishna se manifesta em cores vibrantes, melodias marcantes,
preparações culinárias de dar água na boca e em festivais
alegres, com glorificação a Krishna, ou Deus, no centro. Aqui
estão algumas das maneiras pelas quais os membros da
Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna
(ISKCON) transmitem sua devoção por meio das artes.

MÚSICA E DANÇA
A tradição diz que, na morada do Senhor Krishna, "cada palavra é uma canção e cada passo é
uma dança”. A música desempenha um papel fundamental na vida dos devotos de Krishna.
Quando Srila Prabhupada trouxe pela primeira vez a tradição de Krishna para o Ocidente, em
1965, ele introduziu a arte de cantar kirtan devocional, acompanhado por instrumentos
tradicionais indianos. Devotos da ISKCON têm partilhado esta expressão musical dinâmica
com o mundo, e muitos se tornaram cantores e músicos talentosos. Templos Hare Krishna
também abrigam regularmente espetáculos de palco e oferecem aulas de dança indiana
clássica, como Bharata Natyam, Kathak e Odissi. Essas performances complexas e graciosas
fazem parte de uma rica tradição de representar as atividades divinas de Deus ou de Seus
devotos por meio da dança.

BELAS ARTES
Artistas dentro do Movimento Hare Krishna criaram centenas de pinturas originais retratando o
Senhor Krishna e Sua morada espiritual. Misturando características de estilos orientais e
ocidentais, essas obras de arte ilustram vários volumes de livros, decoram templos da ISKCON
e ajudam a apresentar visualmente a tradição de Krishna.

ARQUITETURA
Muitos templos da ISKCON em todo o mundo são exemplos magníficos de arquitetura
tradicional e neovédica. Em Spanish Fork, Utah, o templo da ISKCON segue o molde de um
palácio do Séc. XV do norte da Índia. Ostenta elaborados designs em arcos, colunas, varandas
e cascatas. Em West Virginia, os devotos de Krishna construíram um templo com cúpula de
ouro, chamado de “Taj Mahal da América”, pelo New York Times. A ISKCON também erigiu na
Índia dezenas de templos que empregam estilos arquitetônicos clássicos, em grandes cidades
como Nova Délhi e Mumbai e em cidades sagradas de peregrinação como Vrndavana e
Mayapur.

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CULTOS
Os membros e convidados são atraídos pela autenticidade e vibração dos
cultos de adoração na ISKCON. A teologia Hare Krishna ensina que todos
os sentidos devem ser envolvidos na glorificação a Deus. Assim, ao entrar
em um culto de adoração na ISKCON, os olhos do visitante se regalam com
um altar decorado de maneira elaborada; seus ouvidos são invadidos pelo
canto melodioso; seu nariz alcança flores perfumadas e incenso; e sua boca
saboreia deliciosa comida vegetariana santificada.

FERIADOS E FESTAS
Na comemoração de dias sagrados do Calendário Vaishnava, o
SERVIÇOS DE ADORAÇÃO
Movimento Hare Krishna promove festivais coloridos e
emocionantes que atraem milhares de visitantes e seguidores. Um pujari (sacerdote) faz soar
Feriados como Janmastami (aniversário do nascimento de Krishna) uma concha, significando o
e Diwali (Ano Novo) são observados com grande festejo e alegria. começo de um serviço de
adoração tradicional (arati).
Talvez o mais famoso festival público, chamado Ratha Yatra, ou
“Festival das Carruagens”, é comemorado anualmente em grandes
cidades do mundo, incluindo marchas pela 5ª Avenida de Nova York, o calçadão de Venice
Beach, em Los Angeles, e a Independence Avenue, em Washington, DC, nos padrões do
festival milenar realizado na cidade indiana de Jagannath Puri. A festa inclui puxar carros
decorados de 40 metros de altura.

ALIMENTOS
Às vezes chamado de "religião da cozinha", o Movimento Hare Krishna oferece aos visitantes
dos templos da ISKCON deliciosa comida vegetariana santificada. O menu, de inspiração
internacional, pode variar de legumes ao curry a berinjela à parmegiana. Para que se
conheçam melhor os benefícios de uma dieta vegetariana, o Movimento Hare Krishna também
estabeleceu mais de 100 restaurantes vegetarianos em todo o mundo.

LITERATURA
Com o objetivo de lançar luz sobre a profunda filosofia subjacente a essas expressões
culturais, a Bhaktivedanta Book Trust (BBT), editora associada da ISKCON, tem imprimido e
distribuído mais de 400 milhões de livros e revistas. Estas publicações contêm frequentemente
traduções do Sânscrito ou Bengali, reproduções de comentários raros, ilustrações originais
atraentes e fotografias. Diz-se que a maior editora do mundo de textos clássicos Vaishnavas, a
BBT, é conhecida como um excelente recurso para o estudo da cultura e da filosofia da Índia.

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MOVIMENTO HARE KRISHNA PROMOVE


“A Sociedade Internacional para Consciência
VEGETARIANISMO E CONSCIÊNCIA de Krishna está fazendo um excelente trabalho
AMBIENTAL em permitir que as pessoas saibam que a
comida vegetariana é saudável, deliciosa e
Os membros da Sociedade Internacional para a agradável aos olhos... Não há elogios que
bastem pelo seu sucesso na promoção da
Consciência de Krishna (ISKCON) acreditam que os causa do vegetarianismo no mundo todo”.
recursos da Terra, a natureza e nossos corpos são Scott Smith,
todos dons sagrados de Deus e que devem ser Editor Associado, Vegetarian Times
tratados de forma responsável. A Filosofia
Vaishnava, na qual o Movimento Hare Krishna está enraizado, nos ensina que todos os seres
vivos estão interligados por Krishna, o Pai comum. Devotos de Krishna respeitam o direito dos
animais de viver e praticam dieta que visa minimizar a violência e a exploração. Assim, eles
veem o vegetarianismo como mais propício para uma forma compassiva, ambientalmente
amigável e saudável de vida – com seus inúmeros benefícios de saúde, ecológicos e sociais
documentados.

Às vezes citado como "a religião da cozinha," o Movimento Hare Krishna promove ativamente
os benefícios do vegetarianismo. Aos visitantes, os templos da ISKCON oferecem comida
vegetariana santificada deliciosa e costumam oferecer aos domingos programas open house
semanais, que culminam em uma festa. O Movimento Hare Krishna estabeleceu mais de 100
restaurantes vegetarianos em todo o mundo e já distribuiu mais de 300 milhões de refeições
vegetarianas nutritivas para os menos favorecidos, por meio da instituição afiliada Food for Life.
Devotos de Krishna promovem regularmente aulas de culinária vegetariana em seus templos e
universidades locais, e vários membros da ISKCON são autores de livros de receitas
aclamados. A popular série Cozinhar com Kurma, do chef australiano Kurma Dasa, foi ao ar em
emissoras públicas de televisão em todo o mundo, e Yamuna Devi foi premiada com o James
Beard Award de 1992 de melhor livro de receitas internacional, pelo seu livro Yamuna’s table.

O fundador da ISKCON Srila A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada incluiu na


declaração do movimento missionário o objetivo de "trazer os membros unidos com o propósito
de ensinar uma forma mais simples, mais natural da vida". Para este fim, alguns membros da
ISKCON têm desenvolvido comunidades agrícolas em nível internacional. Essas comunidades
visam autossuficiência, explorando técnicas de controle natural, tanto de pragas como de ervas
daninhas, produção de combustíveis alternativos, gestão de resíduos e rotação de cultura. Em
consonância com o ideal da Consciência de Krishna de "vida simples e pensamento elevado",
membros da ISKCON tornaram seu objetivo produzir apenas o que precisam e evitar excessos

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
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egoístas, proporcionando, assim, modelo para uma sociedade espiritualmente consciente e
centrada.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
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. Tufão Haiyan – Filipinas ( 2013): A situação


PROGRAMA ALIMENTOS PARA VIDA humanitária nas áreas devastadas pelo tufão
COMPROMETIDO COM O COMBATE Hiya (Yolanda) foi catastrófica. Quase 13
À FOME NO MUNDO milhões de pessoas nas Filipinas foram
afetadas, incluindo cerca de cinco milhões de
crianças. Quase dois milhões de homens,
A Sociedade Internacional para a Consciência de mulheres e crianças foram deslocados, muitos
Krishna (ISKCON) está fazendo sua parte para desesperados por comida, água potável,
combater a fome no mundo. Nas últimas três abrigo e saneamento básico. Ao longo dos
cinco meses seguintes, voluntários do
décadas, o programa Alimentos para Vida, da programa Alimentos para Vida de Manila
ISKCON, já distribuiu mais de 300 milhões de distribuíram dezenas de milhares de refeições
refeições vegetarianas quentes e nutritivas para os vegetarianas preparadas na hora.
mais desfavorecidos, em toda a América, Ásia, . Tsunami no Japão (2011): O programa
África, Oceania e Europa. Alimentos para Vida forneceu milhares de
quilos de frutas e vegetais frescos, bem como
jantares vegetarianos prontos, aos
Em 1974, ao ver crianças de rua revirando o lixo
sobreviventes, em abrigos de Wataricho
para comer, o fundador da ISKCON, A. C. Shiyakysho, no distrito de Miyagi-ken, por
Bhaktivedanta Swami Prabhupada foi às lágrimas muitos meses após o tsunami devastador.
e instruiu seus seguidores para que ninguém
. Terremoto no Paquistão (2006): Voluntários
dentro de um raio de dez quilômetros de qualquer do programa Alimentos para Vida de várias
templo de Krishna passe fome. Hoje o programa cidades da Índia se uniram para prestar
inclui restaurantes de alimentos gratuitos, socorro. Trabalhando em estreita colaboração
com as forcas e a polícia local, os voluntários
cozinhas móveis e serviços de socorro de montaram base em um templo da ISKCON em
emergência, e distribui mais de 400 mil refeições Udhampur, na região afetada pelo terremoto,
vegetarianas gratuitas por dia para pessoas com caminhões carregados de água potável,
arroz, pão e cobertores. Esses itens eram para
carentes, em mais de 60 países. as vítimas do terremoto, incluindo
sobreviventes em cidades com danos mais
"Muita tristeza e desespero no mundo são graves.
causados pela fome", diz o australiano nascido
. Furacão Katrina, Costa do Golfo, EUA
Paul Turner, coordenador internacional do (2005): Membros do programa Alimentos para
programa Food for Life (Alimentos para a Vida). a Vida local se aventuraram nas áreas mais
"Devotos de Krishna são dedicados a trazer atingidas da Costa do Golfo para distribuir
refeições vegetarianas quentes e frescas para
esperança às pessoas por meio da distribuição de os moradores afetados. As equipes de
alimentos saudáveis e santificados." voluntários do programa no Texas continuaram
a oferecer ajuda aos desabrigados e
refugiados, servindo até 800 refeições por dia
Recentemente as filiais do programa Food for Life durante vários meses após o desastre.
em Nova Délhi e Mumbai inauguraram um
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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

. Tsunami no Sudeste a Ásia (2004):


programa bem-sucedido para combater a fome – o Programa Alimentos para Vida respondeu
rápido, quando proveu apoio de conforto e
"Mid-Day Meal". Este programa destina-se a refeições vegetarianas quentes às pessoas, no
libertar as crianças carentes do círculo vicioso da mesmo dia do desastre. Só no Sri Lanka,
pobreza; busca encorajar a frequência escolar, foram distribuídas mais de 10 mil refeições
proporcionando aos alunos almoços nutritivos diárias, junto com cuidados médico, roupas, e
abrigo para crianças órfãs.
frescos, livre de custos. Em Mumbai o programa,
com parceria do governo estadual e do grupo de . Ciclone em Orissa, Índia (1999): Programa
mídia Times of India, alimenta diariamente mais de Alimentos para Vida foi capaz de distribuir mais
de um milhão de refeições vegetarianas, junto
30 mil estudantes em mais de 100 escolas. com garrafas de água, mantas, roupas e
tratamentos de primeiro socorro aos
sobreviventes devastados.
Este material está disponível online em . Guerra em Grozny, Chechnya (1995): Com
http://communications.iskcon.org o começo da campanha russa contra
### insurgência no dia 11/12, 1994, voluntários do
programa Alimentos para Vida arriscaram suas
vidas para servir 850 mil tigelas de mingau de
aveia quente, pão fresco assado e chá aos
residentes locais. Um artigo do New York
Times artigo declarou que em Grozny, os
devotos de Krishna do programa Alimentos
para Vida "têm uma reputação igual à que irmã
Teresa tem em Calcutta: não é difícil encontrar
alguém que jure que eles são santos. Em uma
cidade cheia de mentiras, ganância e
corrupção, os Krishna distribuem o bem”.

. Campina Grande (PB), Brasil (há mais de


10 anos): Com a colaboração de voluntários
do programa Alimentos para Vida, a ISKCON
de Campina Grande distribui diariamente mais
de 200 pratos de sopa fresca e quente para
moradores de rua.

. Chapada dos Veadeiros (GO), Brasil


(desde 2004): A ONG Paraíso dos Pândavas,
em nome do programa Alimentos para Vida,
introduziu a merenda escolar vegetariana nas
escolas públicas municipais em Alto Paraíso e
em outras cidades da região, por meio de
acordo com prefeituras para capacitação das
merendeiras, realizada por chefs da culinária
vegetariana. Hoje o programa é mantido pela
comunidade, independente da ONG Paraíso
dos Pândavas.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

PRINCIPAIS CELEBRAÇÕES

A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna segue um calendário anual cheio de


dias santos e festas. As observâncias podem incluir adoração ou meditação, jejum voluntário e
festividades. Os festivais muitas vezes incluem palestras especiais, performances dramáticas e
grandes banquetes vegetarianos, para membros e convidados. Templos de Krishna, seguindo
a tradição, determinam as datas de suas celebrações segundo um calendário lunar. As datas,
portanto variam de ano para ano, quando se compara com o calendário ocidental. Todos os
eventos são abertos ao público.

KRISHNA JANMASTAMI (celebrado no final de agosto ou início de setembro), aniversário do


Senhor Krishna, é o dia mais sagrado para os devotos da ISKCON. Na Índia, Janmastami é
um feriado importante, comemorado pelos hindus de todas as crenças. Templos da ISKCON
comemoram este dia com culto e programas especiais, incluindo danças tradicionais, canto
congregacional, teatro e banquetes. Devotos jejuam até meia-noite e, em seguida,
banqueteiam-se com várias iguarias para comemorar o aparecimento do Senhor na Terra.

ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE SRILA PRABHUPADA (um dia após o Janmastami), o


aniversário de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada é um dia no qual os membros da
ISKCON observam serviços que expressam gratidão e apreço por Srila Prabhupada, que
cruzou o oceano com 69 anos para difundir o conhecimento da Consciência de Krishna em
todo o mundo. Depois de jejuarem pela manhã, os devotos da ISKCON se reúnem para
lembrar Srila Prabhupada e servir e compartilhar um elaborado banquete, ao meio-dia, em sua
homenagem.

RADHASTAMI (observado em setembro), dia do aparecimento de Radha, o aspecto feminino


da Divindade e consorte do amor eterno de Krishna, também comemorado com canções
especiais, adoração e banquete.

RATHAYATRA (comemorado em meados do Verão), evento alegre moldado segundo o antigo


Festival dos Carros celebrado anualmente em Jagannath Puri, na Índia. Esta comemoração é
realizada há milhares de anos e é o maior festival religioso anual do mundo, atraindo milhões
de peregrinos. Desde 1967, filiais da ISKCON têm realizado anualmente este evento em
dezenas de cidades em todo o mundo, incluindo Nova York, Londres, Moscou, Calcutá e
Sydney. Em Los Angeles mais de 50 mil pessoas participam da caminhada colorida, puxando
três carros gigantes. Frequentemente exposições e performances de palco acontecem de
modo concomitante ao desfile.
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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA
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GAURA PURNIMA (observado em março), dia do aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu,


o santo do Séc. XVI que foi pioneiro na propagação do maha mantra Hare Krishna como o
principal método para se alcançar amor por Deus. É uma data importante para a ISKCON, pois
Sri Caitanya é tido como a encarnação de Krishna para esta era. Esta celebração também
coincide com o HOLI, o Festival das Cores, que é uma celebração hindu da primavera e do
triunfo da nova vida sobre a morte. Cultos especiais e cânticos continuam durante todo o dia,
culminando com um banquete suntuoso à noite.

DIWALI (observado no início de novembro), também conhecido como Dipavali, é a dupla


celebração do Ano Novo e do triunfo do Senhor Rama, uma encarnação de Krishna, sobre o rei
demônio Ravana. Também conhecido como o Festival das Luzes, é uma celebração do bem
sobre o mal, e é sagrado para os hindus de todas as denominações e tradições. Templos da
ISKCON recebem multidões de fiéis, que vêm para celebrar este dia auspicioso com cânticos
cerimoniais, comunhão e banquete à luz de velas e lamparinas.

GOVARDHANA PUJA (observado no início de novembro), celebração que comemora o ato


lendário do Senhor Krishna de levantar uma montanha sagrada, chamada Govardhana, para
abrigar seus devotos da ira de uma tempestade celestial. Devotos de Krishna contam o
passatempo milagroso, que se acredita ter ocorrido há mais de 5 mil anos, na Índia, e
representam-no por meio de música, dança clássica e performance dramática. Em muitos
templos da ISKCON, devotos de Krishna também costumam representar a colina de
Govardhana com uma grande montanha de Halava (doce de semolina de trigo, manteiga e
frutas), como um símbolo da proteção de Krishna. Alguns templos da ISKCON celebram
Govardhana Puja juntamente com o Diwali.

Este material está disponível online em http://communications.iskcon.org


###

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Disponível em: http://www.iskconbahia.com.br/

Acessado em: 02/06/2015


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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Sobre a ISKCON

A ISKCON (Sociedade Internacional para Consciência de Krishna), popularmente


conhecida como Movimento Hare Krishna, é uma organização mundial não sectária
dedicada à propagação do amor a Deus, em particular mediante a prática milenar de
cantar o maha-mantra Hare Krishna (esse mantra é conhecido como o maha-mantra,
o grande mantra, pois todos os benefícios contidos em todos os mantras, estão
presentes nesse maha-mantra):

Hare Krishna Hare Krishna


Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

Fundada por Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada em 1966, a


ISKCON tem crescido em popularidade e influência e hoje em dia é conhecida e
respeitada no mundo inteiro. Com sólidos fundamentos baseados na literatura
védica, incluindo o célebre Bhagavad-gita, e nos ensinamentos do Senhor Caitanya
Mahaprabhu, a mais recente encarnação do Senhor Krishna, a filosofia da ISKCON
elucida detalhes sobre a natureza de Deus, da alma, da criação e de suas inter-
relações, bem como fornece orientações práticas de como levar uma vida feliz, pura
e espiritualmente progressiva.

A ISKCON é uma instituição espiritual e educacional com templos, centros culturais,


comunidades rurais e escolas em todo o mundo. Nesses centros os membros se
congregam, e visitantes interessados aprendem a filosofia védica e práticas
espirituais. Os integrantes da ISKCON seguem um voto de cantar diariamente
o mantra Hare Krishna e também de abster-se do consumo de carne, peixe e ovos,
intoxicação, sexo ilícito e jogos de azar. Qualquer pessoa pode participar nas
atividades da ISKCON segundo seu próprio interesse e dedicação.
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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Os Sete Propósitos da ISKCON

1. Propagar sistematicamente o conhecimento espiritual entre a sociedade em geral

e educar todas as pessoas nas técnicas da vida espiritual a fim de restabelecer o

equilíbrio dos valores na vida e alcançar assim a verdadeira união e paz mundiais.

2. Propagar a consciência de Krishna (Deus), como é revelada nas grandes

escrituras da Índia, o Bhagavad-gita e o Srimad Bhagavatam.

3. Unir os membros da sociedade uns dos outros e torná-los mais próximos de

Krishna, a entidade primordial, desta forma desenvolvendo a idéia, entre os

membros e a humanidade em geral, que cada alma é parte integrante da qualidade

do Supremo (Krishna).

4. Ensinar e encorajar o movimento de sankirtana, o canto congregacional do santo

nome de Deus, como revelado nos ensinamentos do Senhor Sri Caitanya

Mahaprabhu.

5. Erigir, para os membros e para a sociedade em geral, um local sagrado de

passatempos transcendentais dedicado à personalidade de Krishna.

6. Manter os membros unidos com o propósito de ensinar um modo de vida mais

simples e natural.

7. Tendo em vista o cumprimento dos propósitos acima mencionados, publicar e

distribuir periódicos, revistas, livros e outros escritos.


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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

História da ISKCON-BAHIA

A ISKCON (Sociedade Internacional para Consciência de Krishna) foi fundada em


1966, em Nova Iorque, EUA. Mas só veio para a Bahia em 1974 através de
Dhruvananda dasa, um discípulo de Srila Prabhupada que morava no Havaí, EUA.
Ele procurava uma pessoa que falasse inglês para ajudá-lo a pregar a consciência
de Krishna. Através de uma escola de inglês chegou à casa de um jovem estudante
de odontologia chamado Ivan Ribeiro, que já praticava iôga e estava se preparando
para fazer uma viagem à Índia, que concordou em ajudá-lo. Pouco tempo depois
Dhruvananda precisou voltar aos EUA e Ivan Ribeiro com mais algumas pessoas
que se interessaram pela consciência de Krishna continuaram a realizar encontros
aos domingos num pequeno espaço no bairro de Paripe.

Então a esposa de Ivan Ribeiro sugeriu que ele escrevesse para Srila Prabhupada
pedindo que mandasse algum representante para impulsionar a pregação aqui no
Brasil. A carta enviada por Ivan Ribeiro foi entregue por Srila Prabhupada para
Hridayananda dasa Goswami, um dos discípulos mais importantes de Srila
Prabhupada. Hridayananda dasa Goswami veio ao Brasil e simultaneamente abriu
templos em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.

Mais tarde Ivan Ribeiro e seu irmão Sérgio Ribeiro foram iniciados e hoje são
conhecidos por Dhanvantari Swami e Jagad Vicitra Prabhu, respectivamente.

Mas, foi somente em 1991 que a ISKCON-BAHIA foi oficialmente registrada, na


época o presidente da ISKCON-BAHIA era Gaura Krishna dasa, que permaneceu na
administração até 1993. O sucessor dele foi Vrindavana dasa que permaneceu até
1996. Então o cargo foi ocupado por Aniruddha dasa que administrou até 2000.
Sendo substituído por Devananda dasa que ocupou o cargo por um ano. Em
seguida, assumiu o atual presidente da ISKCON-BAHIA Gopa Kumara dasa.

A ISKCON-BAHIA recebeu o título de Utilidade Pública Municipal, durante a gestão


de Vrindavana dasa. E recebeu o título de Utilidade Pública Estadual, durante a
114

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

gestão de Aniruddha dasa. A conquista de ambos os títulos foi totalmente articulada


por Angelina Celeste, relações públicas da ISKCON-BAHIA.

Além de Paripe o templo já foi em Itapuã e no Rio Vermelho, depois se mudou para
Brotas, e hoje está construindo sua primeira sede própria, em São Cristóvão, um
lugar adequado para congregar os membros e receber os visitantes interessados em
conhecer a filosofia, religião e cultura védicas.

A 1ª fase da construção (altar, pujari e cozinha das Deidades) já está pronta, e as


Deidades já estão devidamente instaladas no seu altar próprio.

O Fundador-Acarya da ISKCON

Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada ficou conhecido no


mundo todo como o fundador-acarya da ISKCON-Sociedade Internacional para
Consciência de Krishna (Acarya significa "aquele que ensina através de seu próprio
exemplo pessoal"), como mestre espiritual que sozinho fez de "Hare Krishna" uma
expressão familiar e como o mais destacado autor e erudito no campo da milenar
filosofia, religião e cultura védicas.

Srila Prabhupada aceitou nascimento neste mundo em 1896, em Calcutá, Índia. Em


1922, ele encontrou-se com Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Gosvami, que mais
tarde tornou-se seu mestre espiritual. Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Gosvami pediu
a Srila Prabhupada que ensinasse a ciência da consciência de Krishna no mundo
ocidental. Com esse intento, em 1944, Srila Prabhupada deu início à publicação da
revista "Volta ao Supremo", e no princípio dos anos sessenta ele escreveu e
publicou três volumes, de tradução e comentário ao Srimad-Bhagavatam, literatura
considerada "o summum bonum da literatura védica".
115

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

A pedido de seu mestre espiritual, em 1965, Srila Prabhupada viajou para os


Estados Unidos no navio a vapor "Jaladuta", com apenas sete dólares no bolso (em
moeda indiana), um par de címbalos de mão (karatalas), e algumas cópias de seus
escritos. Após sua chegada, ele escreveu mais trinta volumes do Srimad-
Bhagavatam. Ele também é o autor do Bhagavad-gita Como Ele é e mais outras
quarenta grandes obras. A comunidade acadêmica considera essas publicações
definitivas e as tem usado como livros didáticos e de referência.

Viajando quase que constantemente, Srila Prabhupada orientou sua sociedade


internacional desde os humildes primórdios na Segunda Avenida, 26, em Nova
Iorque, EUA, até seu desenvolvimento numa confederação mundial com mais de
duzentos ashramas, escolas, templos, institutos e comunidades rurais. Ele deixou
este mundo mortal no dia 14 de novembro de 1977, em Vrindavana, Índia (local mais
sagrado para os devotos de Krishna). Agora que Srila Prabhupada partiu, seus
discípulos estão levando avante o movimento por ele criado.

Senhor Jagannatha

A muitos milhares de anos um rei chamado Indradyumna reinava uma província


chamada de Malava. O rei era muito piedoso e buscava pela linda forma azulada do
Senhor que através dos sábios tanto tinha ouvido falar. Certa noite o Senhor Krishna
se aproximou dele num sonho e lhe informou que logo estaria chegando na forma de
um tronco. O Senhor Krishna lhe disse que achando esse tronco transcendental Sua
forma deveria ser esculpida e adorada de acordo com as escrituras reveladas, como
era o costume.

No dia seguinte, Indradyumna de fato achou o tronco boiando num rio sagrado. Mas
apesar de todo o esforço ninguém era capaz de esculpir o tronco, pois todas
ferramentas simplesmente quebravam, sem fazer qualquer marca no tronco.
116

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Finalmente, Indradyumna teve que chamar Vishvakarma, o grande arquiteto dos


semideuses.

Porém, Vishvakarma impôs uma condição ao aceitar o serviço. Disse que sua
meditação não poderia ser interrompida, não importasse quanto tempo levaria. E
que se alguém entrasse no quarto onde estava esculpindo as Deidades
imediatamente ele iria desaparecer sem completar o serviço. Sem alternativa,
Indradyumna aceitou.

Mas com o passar do tempo, a sua impaciência ficou intolerável e, encorajado por
sua esposa, ele entrou para ver como andava o trabalho. Imediatamente o escultor
sumiu, conforme tinha falado. Mas ele deixou para trás três imagens meio acabadas:
Jagannatha, Subhadra e Baladeva. Devido ao grande amor e devoção de
Indradyumna, o Senhor Krishna voltou a se aproximar dele num sonho e disse que
Seu desejo era ser adorado daquela forma, e que ele deveria mandar pintar a forma
de Krishna de preto, de Subhadra de Amarelo e de Baladeva de Branco.

O rei Indradyumna apreciou imensamente o resultado, proclamando quede fato o


escultor tinha captado a essência do Senhor. Portanto, mesmo aparecendo
inacabado, sem pés, mãos, etc., Ele estava espiritualmente completo. Todos os
santos e escrituras Vaishnavas atestam esse fato. E assim a forma do Senhor
Jagannatha, Subhadra e Baladeva têm sido adorada a muitos milhares de anos.
Dizem também que Krishna assumiu essa forma para poder melhor apreciar e captar
a linda forma de Srimati Radharani, por isso tem olhos tão grandes.

Todos os anos o Senhor Jagannatha, Subhadra e Baladeva desfilam pelas ruas das
principais cidades do mundo, durante o Festival Ratha-yatra, dando Suas bênçãos a
todos. Procure os devotos e mantenha-se informado sobre a realização do Ratha-
yatra aqui em Salvador.

Sri Sri Jagannatha, Baladeva e Subhadra ki jaya!!!


117

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Sobre Deus

Que vem em nossa mente ao pensarmos em Deus? Algumas pessoas pensam em


Deus como uma presença espiritual onipenetrante. Outras acreditam que Deus está
situado nos corações de todos os seres vivos. Há ainda quem imagine que Deus é
uma pessoa transcendental, o criador e pai de todos. Quem está certo? Segundo as
escrituras sagradas da Índia, todos eles, em parte estão certos.

De acordo com Bhagavad-gita, a principal escritura da Sociedade Internacional da


Consciência de Krishna (ISKCON), a compreensão de Deus inclui três importantes
níveis de conhecimento. Pode-se compreender Deus como Brahman, uma energia
espiritual amorfa e onipenetrante; como Paramatma, a Superalma situada nos
corações de todos seres vivos; e, enfim, como Bhagavan, a pessoa Suprema. No
Gita, Bhagavan é definido como aquele que possui em plenitude as seguintes seis
opulências: beleza, força, conhecimento, fama, riqueza e renúncia...

Esse três níveis de percepção de Deus podem ser compreendidos em termos de


como percebemos um trem se aproximando da estação ferroviária depois do
anoitecer. O primeiro sinal do trem seria sua luz, que nos daria muita pouca
informação sobre a forma do trem. Esta luz pode ser comparada ao Brahman, isto é,
o aspecto impessoal de Deus. Em seguida ao entrar na estação podemos
compreender melhor a forma do trem, e também ter um vislumbre do maquinista
dentro da cabine. Esta compreensão mais detalhada do trem pode ser comparada à
compreensão sobre Paramatma. Ao embarcamos no trem encontramo-nos com o
maquinista, poderemos falar com ele e aprenderemos qualquer coisa que
desejarmos conhecer sobre o trem e suas várias funções. Este conhecimento pode
ser comparado à compreensão sobre Bhagavan, a fase última de compreensão
sobre Deus, na qual se tem um relacionamento direto e pessoal com Deus em sua
forma pessoal e original, conhecida como Krishna, o "todo-atrativo".
118

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

O conhecimento a cerca de Brahman, sendo impessoal, é o conceito de que Deus é


uma luz branca, ou uma energia, ou uma força e consciência penetrantes que
predominam o Universo. A compreensão impessoal a respeito de Deus é análoga ao
nirvana budista e às filosofias mayavada da Índia. Muitas tradições religiosas do
Ocidente também aceitam esta maneira de ver Deus como a forma última do
absoluto.

Na Índia, os yogis ainda meditam na forma de Deus como Paramatma. Este é um


método para se perceber, através de disciplina ióguica , a forma do ser Supremo
localizada dentro do coração da pessoa. Porque nesta fase de compreensão sobre
Deus pode-se ver pelo menos um aspecto da forma do Senhor, os Vedas
classificam-na como superior à compreensão impersonalista sobre Brahman.

A compreensão sobre Bhagavan refere-se a comunhão íntima com Deus em sua


forma mais pessoal. Na etapa última desta compreensão, a pessoa de fato conversa
com Deus e desfruta com ele muitas variedades de trocas amorosas íntimas. De
acordo com os Vedas, Krishna é a forma original de Deus, de onde ilimitadas
encarnações (incluindo Rama, Buda e Jesus) emanaram e da qual outras irão
aparecer diversas vezes no curso do tempo universal.

Embora Deus tenha inumeráveis nomes em diferentes línguas, o nome Krishna


refere-se ao nível máximo de percepção de Deus. Krishna, no idioma sânscrito,
designa a entidade que "atrai a todos e a tudo". "Krishna" refere-se sempre a Deus
em sua forma original mais íntima e completa.

A maioria das escrituras não apresenta uma imagem muito clara do Ser Supremo.

Na ausência de tal informação, muitas pessoas imaginam Deus como um velho, tal
como foi retratado nas famosas pinturas de Miguelângelo na Capela Sistina do
Vaticano.
119

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

O conhecimento detalhado dos aspectos pessoais de Deus, entretanto, encontra-se


nos Vedas, que fornecem milhares de descrições de Krishna. Uma escritura Védica
diz: "eu adoro Govinda (Krishna), o Senhor primordial, que é o perito em tocar sua
flauta, com os olhos que desabrocham como pétalas de lótus, com Sua cabeça
adornada com uma pena de pavão, Sua bela forma brilhando com o matiz de
nuvens azuladas e Sua beleza única que encanta milhões de Cupidos".

Em sua forma original, Krishna reside eternamente em seu próprio universo


espiritual, conhecido como Goloka. Ali Krishna manifesta-Se perpetuamente como
um belíssimo jovem rodeado de Suas mais queridas associadas. Nesse lugar
enquanto brinca e desfruta de atividades de amor puro com Seus devotos mais
avançados, a Suprema Personalidade de Deus permite que Sua beleza sobrepuje
Sua majestade. Em Sua morada espiritual, Ele exibe Suas infinitas opulências,
talento, beleza e amor. É lá que Krishna está sempre concedendo a Seus amigos
mais confidenciais uma completa dinâmica felicidade transcendental que vai bem
além da nossa experiência e imaginação materiais.

Os Vedas nos ensinam que, na presente era, o meio mais acessível e efetivo de nos
aproximarmos do nível máximo de conhecimento sobre Deus é cantar de Seus
santos nomes na forma do seguinte mantra: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna
Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.
Esse mantra é conhecido como o maha-mantra, o grande mantra, pois todos os
benefícios contidos em todos os mantras, estão presentes nesse maha-mantra.

Krishna, a Suprema Personalidade de Deus

KRISHNA é a Suprema Personalidade de Deus, a Verdade Absoluta, a fonte de tudo


e a causa de todas as causas. Krishna é a forma mais elevada e original de Deus.
Deus assume muitas formas, mas a forma original é de Krishna. Krishna se expande
em ilimitadas formas, porém Ele mantém sempre Sua forma original como Krishna,
no mundo espiritual. Todas Suas expansões são "sac-cid-ananda", ou seja, são
formas de eterna bem aventurança e conhecimento, 100% espiritual. Nas escrituras,
120

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

especialmente o Srimad Bhagavatam, existem explicações detalhadas de Sua


morada, Sua aparência, Seus passatempos, Suas expansões, Suas energias, etc.
Ele é dotado de seis opulências, todas ao grau infinito: beleza, força, sabedoria,
riqueza, fama e renúncia. Ele sabe tudo que aconteceu, tudo que está acontecendo
e tudo que vai acontecer. Ele é infinitamente misericordioso. Ele é o beneficiário de
todos os sacrifícios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e
semideuses e o benfeitor e bem-querente de todas as entidades vivas. As escrituras
explicam que uma das expansões de Krishna (o Senhor Sesa) tem um sem número
de bocas e está descrevendo as glórias de Krishna desde tempos imemoriais, e
mesmo assim não consegue nunca chegar ao final. Outra passagem do Srimad
Bhagavatam explica que mesmo se pudéssemos contar todos átomos no universo,
mesmo assim não poderíamos enumerar todas as qualidades transcendentais do
Senhor Krishna. Krishna é um dos principais nomes de Deus, que significa o todo-
atrativo.

Senhor Caitanya Mahaprabhu

Nos fins do século quinze, o mais extraordinário reformador religioso, cultural e


político apareceu na Bengala Ocidental. Seu nome é Sri Caitanya Mahaprabhu, o
fundador do atual movimento Hare Krishna. Ele também é conhecido como Sri
Gauranga, devido à sua compleição dourada. Aceito por muitos eruditos e teólogos
como encarnação de Krishna, ou Deus, Sri Caitanya Mahaprabhu estabeleceu um
revolucionário movimento espiritual baseado na antiga literatura védica.

Colocando de lado as sufocantes restrições do sistema de castas da Índia, Ele


permitiu que as pessoas de todas as partes transcendessem as barreiras sociais e
alcançassem, através do cantar do maha-mantra: "Hare Krishna, Hare Krishna,
Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare" a
máxima plataforma de iluminação espiritual.
121

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Seu nascimento, no ano de 1486, em Mayapur, Índia, já fora predito há muito tempo
pelas escrituras milenares da Índia. Ao atingir o vigor juvenil, o Senhor Caitanya
começou a executar Sua missão divina de permitir que as pessoas de qualquer
classe social tivessem acesso ao amor a Deus. Sri Caitanya ensinou que este
despertar poderia ser obtido através do cantar dos santos nomes de Deus, o mantra
Hare Krishna: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama,
Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

Enquanto viajava por toda a Índia, multidões compostas de centenas de milhares de


pessoas juntavam-se a Ele em maciços grupos de canto congregacional. Sri
Caitanya receitava-lhes com freqüência um verso sânscrito, descrevendo a essência
de Seus sentimento: "Nesta era de Kali (era das desavenças e hipocrisia) não há
outra maneira para o progresso espiritual, não há outra maneira, não há outra
maneira. Senão cantar os santos nomes de Deus, cantar os santos nomes de Deus,
cantar os santos nomes de Deus".

Depois que o movimento de sankirtana (canto congregacional) ganhou popularidade,


um pequeno grupo de hindus invejosos, provenientes da terra natal do Senhor
Caitanya, decidiu hostilizar o Senhor e Seus devotos. Então decidiram mentir para o
magistrado muçulmano (Kazi), dizendo que o Senhor estava violando a doutrina
hindu. Em seguida, o Kazi, chamado Nababo Hussain, enviou policiais, que pararam
o canto congregacional dos devotos. Em resposta, Caitanya Mahaprabhu organizou
um grupo de desobediência civil, composto de cem mil homens, o qual cantou e
dançou pelas ruas de Navadvipa em violação à ordem do magistrado.

Chegando à casa do Nababo Hussain, o senhor explicou que o cantar do mantra


Hare Krishna era o autêntico método hindu para se adorar a Deus, sobretudo nesta
era. O Kazi, comovido pela pureza do Senhor, declarou que daquele dia em diante
seria uma ofensa alguém inferir no movimento de sankirtana. Hoje em dia, em
Navadvipa, os peregrinos hindus ainda visitam o túmulo do Kazi para oferecer-lhe
seus respeitos.
122

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Os ensinamentos do Senhor Caitanya formam a base filosófica da Sociedade


Internacional para Consciência de Krishna (ISKCON). Em 1986, os membros da
ISKCON e milhões de pessoas em toda a Índia, e também no mundo inteiro,
celebraram o 500º aniversário do advento de Sri Caitanya.

Através de um processo científico de despertar espiritual, Caitanya Mahaprabhu


advogou uma religião universal para toda a humanidade, a qual agora está se
espalhando com rapidez por todo o mundo.

Palavras de George Harisson extraídas do livro


"Krishna, A Suprema Personalidade de Deus"

“Todo mundo está buscando Krishna.

Algumas pessoas não percebem que estão, mas estão.


KRISHNA é DEUS, a fonte de tudo que existe, a Causa
de tudo que é, foi e sempre será.

Como DEUS é ilimitado, ELE tem muitos nomes. Alá-


Buddha-Jeová-Rama: Todos são KRISHNA, todos são UM. Deus não é abstrato; em
Sua personalidade - que é SUPREMA, ETERNA, BEM-AVENTURADA e plena de
CONHECIMENTO - Ele tem tanto o aspecto impessoal quanto o aspecto pessoal.
Assim como uma simples gota d'água tem as mesmas qualidades que um oceano
d'água, da mesma forma nossa consciência tem as qualidades da consciência de
Deus... mas através de nossa identificação com e nosso apego à energia material
(corpo físico, prazeres dos sentidos, posses materiais, ego, etc.), nossa verdadeira
CONSCIÊNCIA TRANSCENDENTAL tem estado poluída, e, da mesma maneira que
um espelho empoeirado, é incapaz de refletir uma imagem pura.

Há muita vidas que nossa associação com o TEMPORÁRIO vem crescendo.


Interpretamos erradamente que este corpo impermanenete, um saco de ossos e
123

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

carne, é o nosso eu verdadeiro, e aceitamos que esta condição temporária é a


definitiva.

Através de todas as eras, os grandes SANTOS têm permanecido como provas vivas
de que este estado não temporário e permanente da Consciência de Deus pode ser
revivido em todas as Almas vivas. Cada alma é potencialmente divina.

Krishna diz no Bhagavad-gita (6.28): "Fixo no eu, livre de toda a contaminação


material, o yôgi alcança o mais elevado estágio perfeccional de felicidade em
contato com a Consciência Suprema."

YÔGA (um método científico para realização 'do EU' de DEUS) é o processo pelo
qual purificamos nossa consciência, impedimos futuras poluições e chegamos ao
estado da Perfeição, do CONHECIMENTO pleno e da BEM-AVENTURANÇA plena.

Se existe um Deus, quero vê-Lo. Não tem sentido acreditar em algo sem prova, e a
cosnciência de Krishna e a meditação são métodos por meio dos quais você pode
realmente obter a percepção de DEUS. Você pode relamente ver Deus, ouvi-lo e
brincar com Ele. Pode parecer loucura, mas Ele existe de verdade, e está realmente
com você.

Existem muitos Caminhos ióguicos - Raja, Jñana, Hatha, Kriya, Karma, Bhakti - e
cada MESTRE louva o seu método.

SWAMI BHAKTIVEDANTA é, como seu título diz, um BHAKTI Yôgi que segue o
caminho da DEVOÇÃO. Servindo a DEUS por meio de cada pensamento, palavra e
AÇÃO, e cantando SEUS Santos Nomes, o devoto desenvolve rapidamente a
consciência de Deus, cantando:

Hare Krishna, Hare Krishna


Krishna Krishna, Hare Hare
Hare Rama, Hare Rama
Rama Rama, Hare Hare
124

Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

A pessoa chega inevitavelmente à Consciência de KRISHNA. (O sabor do pudim


está em comê-lo!).

Peço-lhe que tire proveito deste livro KRISHNA e o compreenda. Peço-lhe também
que marque um encontro com seu Deus agora, através deste processo de liberação
do eu, a YÔGA (UNIÃO) e DÊ UMA CHANCE À PAZ.

ALL YOU NEED IS LOVE (KRISHNA). HARI BOL!!!”

George Harisson - 31/03/1970

Disponível em: http://www.iskconbahia.com.br/

Acessado em: 02/06/2015


125

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Fonte: Revista “Volta ao Supremo” on line

Disponível em: http://voltaaosupremo.com

Acessado em: 02/06/2015

1/5 - “Por que Krishna Aparece como Jagannatha?”

2/5 - “Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar”

3/5 - “Jagannatha: O Êxtase do Reencontro”

4/5 - “Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha”

5/5 - “Archana: Adoração à Deidade”


126

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 1/5: Por que Krishna Aparece como Jagannatha?

Por Narada Rishi Dasa

Nasci em uma conservadora família vaishnava em Puri, na costa leste da


Índia. O Supremo Senhor Jagannatha e Seus devotos estavam no centro de minha
vida. Quando criança, eu brincava com bonecos de Jagannatha, Baladeva
(Balarama) e Subhadra, as deidades do famoso templo de Puri. Eu ainda me lembro
de como minha mãe me dava enormes pratos de jagannatha-prasada e dizia para
eu sempre me lembrar do Senhor. Eu via como as simples e devotadas pessoas de
Orissa – mesmo doutores, engenheiros ou cientistas – nunca negligenciavam a
adoração ao Senhor Jagannatha. Eu via como o rei de Puri se tornava um servo
humilde e varria as ruas para o carro do Senhor Jagannatha desfilar no anual Ratha-
yatra, o festival de carruagens.

O Senhor Jagannatha talvez pareça peculiar ou estranho aos olhos


ocidentais, mas Ele é a vida e alma do povo de Orissa. Embora eu tenha ido ao
festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu me
encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha
se tornou intensa.

Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON ao


redor do mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-lO como a pessoa mais
misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia
após dia ao longo do caminho do serviço devocional.

Jagannatha significa “Senhor do Universo”. Vários livros védicos mencionam


que o Senhor Jagannatha é Krishna. Baladeva é Seu irmão, e Subhadra, Sua irmã.

Embora Krishna seja absoluto e transcendental à natureza material, Ele, para


aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, aparece perante nós como a Deidade
no templo feita de pedra, metal, madeira ou pintura. Jagannatha é uma forma de
Krishna manifestada em madeira.
127

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krishna, as pessoas talvez


especulem: “Como Ele pode ser Krishna?”. As escrituras contam a história por trás
da peculiar forma de Jagannatha.

O Advento Transcendental do Senhor Jagannatha

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma


Deidade de Krishna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila
Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e
Madhava é um dos nomes de Krishna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em
todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome Vidyapati
retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishvavasu, uma fazenda de porcos
(savara) em uma remota vila tribal, estava-se adorando secretamente Nila Madhava.
Quando Vidyapati retornou ao local com Indradyumna mais tarde, entretanto, Nila
Madhava não estava mais ali.

O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu


Vishvavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou: “Deixe os criadores de porcos
e construa um grande templo para Mim no topo da colina Nila. Lá, você me verá não
como Nila Madhava, mas em uma forma feita de madeira de Nim”.

Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (daru), e por isso Ele é
chamado de daru-brahma(“madeira-espírito”). Indradyumna esperava à beira mar,
quando o Senhor apareceu como uma gigante tora boiando para dentro da praia.

Disfarçado como um senhor de idade, Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses,


apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse
ficar por vinte e um dias sem ser perturbado em seu serviço. O rei Indradyumna
consentiu, e o artista trabalhou a portas cerradas. Antes do período estipulado se
esgotar, todavia, o barulho havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna
levou-o a abrir a porta. Vishvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de
Jagannatha, Baladeva e Subhadra pareciam como se inacabadas – sem mãos ou
pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido
o Senhor.
128

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

O rei Indradyumna vê as formas esculpidas.

Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o


tranquilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma através de Seu
próprio desejo inconcebível a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar
oferendas sem mãos, e se mover sem pés.

O Senhor Jagannatha disse ao rei: “Certamente Minhas mãos e pés são o


ornamento de todos os ornamentos, mas, para sua satisfação, você pode Me dar
mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”.

Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha,


Baladeva e Subhadra em Puri e em templos ao redor do mundo. Essas formas são
parte de Seus eternos passatempos.

Transformados pelas Narrações de Rohini

O Utkala-khanda do Skanda Purana traz outro relato em relação ao


aparecimento de Krishna como Jagannatha. (Utkala é um nome tradicional para
Orissa.) Certa vez, durante um eclipse solar, Krishna, Balarama, Subhadra e outros
residentes de Dwaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra.
129

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Sabendo que Krishna estaria presente no local de peregrinação, Srimati Radharani,


os pais de Krishna, Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrindavana, que
estavam queimando no fogo da saudade do Senhor, foram até lá para se
encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias barracas que os peregrinos haviam
levantado em Kurukshetra, Rohini, mãe do Senhor Balarama, narrava os
passatempos de Krishna em Vrindavana para as rainhas de Dwaraka e outros.

É dito que os moradores de Dwaraka estão no humor de opulência


(aishvarya), e que eles adoram Krishna como o Senhor Supremo. Os residentes de
Vrindavana, em contraste, estão no humor de doçura (madhurya) e têm uma relação
confidencial com Krishna que transpassa a ideia de contemplação e reverência por
ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram
extremamente confidencias, então ela pediu que Subhadra ficasse à porta para que
ninguém ouvisse por acaso.

Krishna e Balarama foram também até a porta e cada um ficou de um lado de


Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini acerca dos passatempos
íntimos de Krishna em Vrindavana, Krishna e Balarama Se tornaram extáticos, e
Seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos dilataram,
Suas cabeças se comprimiram junto ao corpo e Seus membros se recolheram.
Vendo essas transformações em Krishna e Balarama, Subhadra também entrou em
êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos
de Krishna em Vrindavana, Krishna e Balarama, com Subhadra no meio, exibiram
suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O Êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o Jyeshtha-purnima, o dia de Lua cheia do


mês de maio-junho, é o aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krishna,
mas o aniversário de Krishna é o Janmastami, no mês de Bhadra (agosto-setembro).
Esta aparente contradição é solucionada se entendermos que o Jyeshtha-purnima é
o momento quando Krishna aparece na forma do Senhor Jagannatha, com grandes
olhos dilatados e membros reduzidos. Essa forma é conhecida comomahabhava-
130

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

prakasha, a forma extática de Krishna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”,


eprakasha significa “manifestação”, logo o Senhor Jagannatha é literalmente a forma
do Senhor em êxtase.

O poema Mahabhava Prakasha de um poeta de Orissa chamado Kanai


Khuntia descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a
corporificação do sentimento de saudades que Krishna sente em relação aos
residentes de Vrindavana, especialmente de Radha e das gopis. As escrituras
explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação
da pessoa amada, produz transformações no corpo. Uma vez que Krishna não é
diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram-se
externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.

O êxtase mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei


Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de
Jagannatha, Balarama e Subhadra boiam no oceano de mahabhava.

Quando o sábio Narada viu Krishna transformado em Jagannatha, ele orou


para que o Senhor aparecesse naquela forma novamente. Embora o Senhor não
tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele reciproca Seus devotos
satisfazendo seus desejos. Na Garga-samhita (1.27.4), Krishna afirma: “Eu sou
plenamente completo – todas as epopeias estão em Mim. E, mesmo assim, Eu Me
rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”.
Assim, da mesma forma que Krishna aparece como Nila Madhava para satisfazer
Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da Deidade de Jagannatha e reside em
Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni.

Essa forma especial de Krishna também é conhecida como Patita Pavana, “o


salvador dos caídos”, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida
consciência é presenteado com a libertação espiritual.
131

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja comumente identificado como o Krishna de


Dwaraka, no humor de opulência, Sua real – e confidencial – identidade é como o
Krishna de Vrindavana, o amante de Radharani. O Jagannatha-chaitanyam afirma:
“Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krishna no coração de
Radha”.

Krishna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os


residentes de Vrindavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha
nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que Se associa
com Krishna unicamente em Seu humor de Vrindavana. O êxtase resultante do amor
de Krishna por Radharani é a causa de Sua transformação na forma de Jagannatha.

O poeta de Orissa, Banamali, canta: “Ó Jagannatha, amado filho de criação


de Yashodadevi, Sua Radha é como o passarinho chataka, que bebe apenas as
puras gotas de chuva, e Você chove com muita graça”.

Em Vrindavana, Krishna assume a graciosa forma com três curvas


corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta.

O Jagannathashtaka (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor: “Em Sua


mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça, Ele usa
uma pena de pavão e, em Seus quadris, Ele usa um fino tecido de seda amarelo.
Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre Se
revela através de Seus passatempos em Sua divina morada de Vrindavana. Que
este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.

A poetiza Madhavi-devi, a irmã de Ramananda Raya, escreve em uma de


suas canções: “Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de
Radha, se entrelaçam com as khanduas[peças de roupas usadas por Jagannatha
todas as noites], que o Senhor Jagannatha mantém bem próximo de Seus
membros”.
132

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

O Chaitanya-charitamrita explica que Krishna vem como Chaitanya a fim de


entender os sentimentos de Radharani. Durante o Ratha-yatra, Ele dança em êxtase
perante o Senhor Jagannatha (Krishna) para chamar Sua atenção. Em resposta,
Jagannatha O consola: “Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos
Você, Srimati Radhika. Como poderia Eu esquecê-lA?”.

O Senhor Chaitanya dança em êxtase diante do carro de Jagannatha durante o festival de Ratha-
yatra.

Narada Muni revelou a Gopa-kumara no Brihad-bhagavatamrita (2.5.212-


214): “Eternamente querida a Sri Krishnadeva, tanto quanto Sua bela Mathura-
133

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

dhama, é aquela Purushottama-kshetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência


suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa ordinária
deste mundo. E se você continuar não estando plenamente satisfeito após chegar lá
e vê-lO, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta
desejada. É claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krishna, a
vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vrajabhumi do
Senhor. Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é krishna-
prema, amor por Krishna, que é nossa meta última. Krishna Se tornou acessível a
todos em Sua forma como Jagannatha.

Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krishna, Sua morada é
idêntica a Vrindavana, onde Krishna executa Seus passatempos infantis.
Jagannatha Puri – também chamada Purushottama-kshetra, Sri Kshetra e Nilachala
[o local da montanha azul] – contém todos os passatempos (lilas) de Krishna em
Vrindavana, embora possam porventura estarem escondidos de olhos materiais.
O Vaishnava-tantra afirma: “Qualquer lila de Krishna que é manifesta em Gokula,
Mathura ou Dwaraka são encontradas em Nilachala, Sri Kshetra”.

Através da apropriada visão espiritual – olhos untados por amor puro por
Deus, krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krishna ali
presentes.

Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krishna que


apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa,
voltar ao Supremo. Por isso, Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor
Jagannatha em várias cidades ao redor do mundo, exatamente para retirar as almas
condicionadas do feitiço de maya (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo de
benefício de tal evento.

Disponível em: http://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/por-que-


krishna-aparece-como-jagannatha/
134

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 2/5: Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar

Por Chaitanya-charana Dasa

O Senhor do universo passear com Sua carruagem pelas ruas da cidade em todo o mundo,
sob um colorido dossel, é um evento de verdades profundas. Está ali nossa oportunidade de
elevar o nosso amor devocional da separação para a união com o Senhor.

Este ano, alguns de nós veremos em uma rua de nossa cidade uma grande
procissão conhecida como Ratha-yatra, o festival anual das carruagens do Senhor
Jagannatha (Krishna), que acontece há séculos, até mesmo milênios. Em seus
primeiros dias, o Ratha-yatra, que se originou em Jagannatha Puri, Orissa, foi
principalmente para os moradores de Orissa, Bengala, e alguns estados próximos.
Hoje, porém, é muito mais: é um fenômeno cultural global celebrado em dezenas de
países, centenas de cidades, de Boston a Belfast a Brisbane, de Dublin a Dubai a
Dnepropetrovsk. A cidade de Nova Iorque sedia um Ratha-yatra anual pela Quinta
Avenida desde 1976. O primeiro teve a participação de sua Divina Graça A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada, em um retorno triunfal para a cidade onde ele
havia incorporado sua Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna dez
anos antes.

Rompendo as fronteiras geográficas e culturais, o Ratha-yatra demonstra a


universalidade do amor espiritual. Vamos explorar o que este antigo festival oferece
às pessoas modernas de todo o mundo que buscam evoluir como seres melhores.

A Face Misteriosa da Espiritualidade Indiana

O Ratha-yatra expande o amor divino em círculos de uma graça crescente.

Primeiro, ele expande a graça divina do espaço sagrado do templo para o


resto da cidade. O Senhor que anda sobre a carruagem oferece a bênção de
Seu darshana (audiência) para absolutamente todos – mesmo àqueles que não vão
ao templo. O balanço das magníficas carruagens, os enfeites com muitos motivos
135

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

significativos, a beleza das três divindades (Jagannatha com Seu irmão Baladeva e
Sua irmã Subhadra), e a sinfonia de elogios musicais de cantores especializados, e
gritos sinceros, dos adoradores, de “Jaya Jagannatha!” – todos esses ímpetos
devocionais poderosos fazem com que um Ratha-yatra nos acenda experiências
espirituais de transformação da vida.

Em segundo lugar, a globalização do Ratha-yatra expande a graça além de


Jagannatha Puri, e além até mesmo da Índia. Em 1967, Srila Prabhupada inspirou o
primeiro Ratha-yatra fora da Índia, em São Francisco, que também sediou o primeiro
templo ocidental de Jagannatha (Nova Jagannatha Puri). Desde então, o festival tem
assumido proporções internacionais. Com efeito, Jagannatha tornou-se o rosto
encantador da beleza e do mistério da espiritualidade da Índia.

A Agonia Extática

Muito do mistério de Jagannatha centra-se em Seu rosto. Ele é Krishna, mas


Ele não Se parece com o vaqueirinho flautista. A diferença em Sua aparência é um
testemunho do poder transformador do amor.

A tradição de bhakti, a ciência da devoção ao Senhor, declara que as


emoções são eternas – e são portas de entrada para o eterno. Aproximar-se da
Verdade Absoluta não exige a erradicação das emoções, mas a sua elevação. De
fato, a emoção mais elevada da vida, amor, está no centro da vida eterna, onde as
relações entre o Senhor e o devoto prevalecem. Jagannatha é Krishna extasiado
com a mágica do amor – o amor dos Seus devotos mais elevados, as gopis de
Vrindavana, que foram afligidas pela agonia extática da saudade dEle. Agonia
extática? O mistério se aprofunda e adoça.

O amor é como o fogo. Se o fogo for pequeno, uma rajada de vento o


apagará. Se o fogo da devoção for grande, em contraste, o mesmo vento o faz
expandir. Da mesma forma, quando a devoção é fraca, tal como uma fogueira
mirrada, o vento da separação do Senhor o apaga. No entanto, se a chama da
devoção é forte, o vento da separação o intensifica, evocando um desejo
136

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

arrebatador de ter novamente com o Senhor, com todas as batidas do coração. Tal
era a agonia extática das gopisde Vraja quando Krishna partiu de Vrindavan.

Em Dvaraka, Krishna ouviu sobre a situação dolorosa de amor delas. Com


espanto, Sua boca se abriu, Seus olhos se arregalaram, e Seus membros tornaram-
se imóveis e se recolheram para dentro do corpo. Sua consciência, assim como
Seus membros, retirou-se de todo o resto para se concentrar em Seus devotos. E
Krishna Se tornou Jagannatha.

O sábio celestial Narada viu essa forma extraordinária e implorou ao Senhor


que abençoasse a todos com seu darshana divino. O seu desejo foi concretizado
através de um rei posterior chamado Indradyumna, cujo erro induzido pela pressa
acabou por ser parte de um plano divino, como narrado no Skanda Purana e
no Bhahma Purana. O rei conferiu a tarefa de esculpir a forma do Senhor a um
escultor especialista, que era, na verdade, Visvakarma, o arquiteto dos semideuses,
disfarçado. O escultor pediu isolamento total de vinte e um dias ao aceitar a tarefa,
avisando que, se fosse interrompido, deixaria a tarefa. O rei manteve distância por
quatorze dias, com sua paciência alimentada pelos sons do artesão no trabalho.
Todavia, quando os sons pararam sem nenhum sinal de retomada, o ansioso rei
entrou na oficina. Fiel à sua palavra, o escultor tinha partido, deixando o trabalho
pela metade. O rei ficou consternado, até que ele percebeu que as formas
aparentemente incompletas eram devocionalmente completas – elas revelavam
perfeitamente o sentimento extático de incompletude do Senhor quando separado
de Seus devotos.

Um Convite Imortalizado

A forma de Jagannatha tem essa história especial por trás dela, e o mesmo
se dá com Sua carruagem festiva. Muitas deidades (esculturas divinas) saem em
procissões para derramar graça sobre os espectadores, mas Jagannatha sai em
outra missão especial. Após Krishna ter deixado Vrindavana, as gopis de Vraja se
encontraram com Ele muitas décadas mais tarde, em Kurukshetra, onde devotos de
muito longe tinham se congregado para realizar cerimônias religiosas durante um
137

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

eclipse solar. A breve união das gopis com Krishna inflamou em seu interior um
desejo ardente para uma reunião duradoura no paraíso pastoril de Vrindavana – o
lugar original e inimitável de seus passatempos com Krishna. Eles se imaginaram
levando Krishna de volta para Vrindavana em uma carruagem – não dirigida por
cavalos, mas pelo amor de seus corações e o trabalho de suas mãos. Seu desejo
sagrado é imortalizado no Ratha-yatra, em que o ponto de partida representa
Kurukshetra, e o ponto final representa Vrindavana. Quando puxamos a carruagem
do Senhor, nós ajudamos as gopis em seu empenho de amor. Ao ajudar assim
aqueles enriquecidos com bhakti, sentimos nossos corações se enriquecerem
com bhakti. Pela nossa força amorosa, não somente levamos Jagannatha de volta
para Vrindavana, mas também o convidamos de volta para o nosso coração.

Tradução de Maria do Carmo.

Disponível em: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/ratha-yatra-


quando-o-senhor-sair-convide-o-a-entrar/
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 3/5: Jagannatha: O Êxtase do Reencontro

Por Gour Govinda Maharaja

Para ver se Ela ainda está respirando, as amigas de Radharani seguram um pouco de
algodão diante de Suas narinas. Restam esperanças? Krishna virá salvá-lA da saudade, ou
ali é Seu leito de morte?

Os Gosvamis compartilham conosco uma história que é praticamente


desconhecida. É muito confidencial. Krishna está sempre pensando em Srimati
Radharani e sentindo forte aflição devido a estar com saudades dEla. Quer
dormindo, quer desperto, Ele chama por Ela: “Radhe! Radhe! Radhe! Radhe!”.
Assim como as gopis desmaiam, Krishna também desmaia algumas vezes;
especialmente quando Ele pensa em Radharani.

Certa vez, Krishna estava pensando profundamente em Radharani. Sentindo


as dores severas da saudade, Ele desmaiou. Krishna está completamente
139

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

inconsciente agora. Transcorrido algum tempo, como se por arranjo providencial,


Narada Rishi e Uddhava apareceram ali e viram Krishna deitado sem consciência.
Narada e Uddhava são muito queridos a Krishna. Eles sabem tudo, em virtude do
que compreenderam o porquê daquela situação. Aqueles que são premi-
bhaktas podem compreender o que Krishna está fazendo. “Ele revelará
alguma lila muito misteriosa, daí Ele estar em semelhante situação. Isso se deve à
intensa e dolorosa saudade de Radha, radha-viraha-vidhura”.

Agora, Narada e Uddhava estão ansiosos. Como podem trazer Krishna de


volta à consciência? Nesse instante, Balarama chegou ali, e os três pensaram no
que fazer. Concluíram que, se Narada Muni cantasse as glórias de Vrajabhumi com
seu vina-yantra – narada muni bhajaya vina radhika-ramana name – Krishna
recobraria Sua consciência e Se colocaria de pé.

Narada disse: “Tudo bem. Concordo. Porém, tenho uma apreensão. Assim
que Krishna acorde, o que acontecerá? Não sabeis? Ele imediatamente correrá para
Vrajabhumi. Ele está louco agora. Ele não esperará por ninguém. Uma quadriga,
então, deve estar preparada”. Eles, então, chamaram por Daruka, o quadrigário de
Krishna, e solicitaram-lhe que preparasse a quadriga de Krishna.

Nesse momento, Uddhava revelou-se muito grave. Depois de deliberar


cuidadosamente, disse: “Tens razão. Contudo, até onde vai meu entendimento, a
condição de Vrajabhumi é tão calamitosa que, se Krishna for lá agora e ouvir o choro
comovente dos vrajavasis, não será capaz de tolerar tal coisa. As consequências,
então, serão ainda mais incertas. Não conseguiremos trazer Krishna de volta. Não
haverá esperança alguma”.

Então, Narada disse a Uddhava: “Ó Uddhava, és o excelente mensageiro de


Krishna. És queridíssimo a Ele. Julgo, então, que deves ir a Vrajabhumi primeiro e
simplesmente informar a todos osvrajavasis que Krishna está voltando de Dvaraka.
Eles, destarte, preparar-se-ão para dar-Lhe as boas-vindas”.
140

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Missão Fracassada

Ouvindo isso, Uddhava ficou melancólico. Ele disse: “Eu aceito plenamente
tudo o que me disseste; não tenho quaisquer objeções. Quando devotos vaishnavas
elevados me solicitam algo, não sou capaz de recusar. Todavia, tenho algo a dizer.
Isso talvez já seja do vosso conhecimento. Meu amigo, o Senhor Krishna, quando
estávamos em Mathura, enviou-me certa vez a Vrajabhumi. Fui até lá como
mensageiro e permaneci por três meses. Eu fora de modo a consolar Nanda
Maharaja, Yashoda-mata, as gopis e Radharani. Estão sentindo as dores intensas
da saudade de Krishna. Todavia, que consolo eu poderia oferecer-lhes? Minhas
palavras falharam, minha missão falhou”.

Uddhava continuou: “Estão chorando por Krishna dia e noite, vinte e quatro
horas por dia. Se alguém aqui no mundo material perde aqueles que são próximos e
queridos, ou seu dinheiro duramente conquistado, ele chora dia e noite. Ninguém
chora por Krishna. Nesse caso, alguém talvez diga: ‘Por que estás chorando? No
mundo material, tudo é temporário, anityam. Jatasya hi dhruvo mrtyuh: quem nasce
tem um dia de morrer. Assim, a morte é certa; ninguém a pode deter’. Todas essas
palavras são palavras de consolação. No entanto, que palavras de consolo eu
poderia dar aosvrajavasis? Estão chorando por Krishna. E se alguém quer chorar
por Krishna, que é o objeto do amor, como podes dizer ‘não chores’? Isso seria uma
ofensa. Meu coração, ao contrário disso, dizia: ‘Dize-lhes que chorem mais, chorem
mais, chorem mais!’. Assim, minha missão fracassou. Eu não pude lhes consolar de
modo algum”.

Uddhava disse ainda: “Por fim, falei-lhes: ‘Voltarei para Mathura e farei tudo
dentro de meus poderes para enviar Krishna de volta a Vrajabhumi imediatamente’.
Dei-lhes a minha palavra, mas, até o momento presente, isso não aconteceu. Agora,
após tantos meses e tantos anos, se eu for a Vrajabhumi e falar assim, jamais
depositarão fé em minhas palavras. ‘Não, és um mentiroso, Uddhava. Tu nos
prometeras isso anteriormente, mas Krisha não voltou’. Jamais terão fé em minhas
palavras, senão que me repreenderão como um enganador. Como, então, posso
ir?”.
141

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Considerando todas essas questões de diferentes pontos de vista, Narada e


Uddhava solicitaram a Bararama: “É melhor Tu ires”.

Procrastinação

Então, Balarama, sentindo uma dor penetrante em Seu coração, falou em


uma voz cheia de indizível tristeza: “Narada, Eu poderia ir a Vrajabhumi. Eu o faria
sem aguardar por ninguém. Não obstante, por favor, considera este ponto. Teu
Senhor, Krishna, sempre diz: ‘Irei, irei, irei’. Porém, Ele não vai de fato. Ele está
sempre procrastinando. Eu estive em Vrajabhumi e vi a condição lastimável
dosvrajavasis. Permaneci lá por dois meses e também não consegui consolá-los.
Tentei falar com eles nestas palavras: ‘Por favor, tende paciência. Não vos aflijais
excessivamente. Krishna virá em breve’. Malgrado isso, a situação deles é como a
de um peixe fora d’água. Entendi claramente que, sem a presença de Krishna, nada
os consolaria. Eles não conseguem nem mesmo sobreviver. É como se estivessem
morrendo, sentindo as dores da saudade de Krishna. Apesar disso, Krishna não foi
lá”.

“A presença de Krishna atuaria sobre eles como um bálsamo suavizante,


trazendo-lhes de volta à vida”, Balarama prosseguiu. “Yashoda-mata está em uma
condição especialmente terrível. Ela está sempre chorando. Eu toquei os pés de
lótus dela e disse: ‘Mãe, tão logo eu chegue a Dvaraka, farei tudo o que Me seja
possível para enviar Krishna para cá. Por favor, aguarda alguns dias, mãe’. Dei
minha palavra a mãe Yashoda. Todavia, o que aconteceu? Solicitei: ‘Meu querido
irmão, Krishna, por favor, vai a Vrajabhumi de imediato. Se não o fizeres, todos
morrerão. Abandona todos os Teus afazeres aqui. Suspende tudo e vai para
Vrajabhumi’. Pedi a Krishna muitas vezes. ‘Por favor, ajuda-os a viver. Tua presença
será como um bálsamo calmante; o remédio para salvar-lhes a vida. De outro modo,
a vida deles partirá’. Insisti muitas e muitas vezes”.

Balarama continuou: “Anteriormente, todo pedido que Eu fazia, Krishna


atendia de pronto. No entanto, não atende essa solicitação Minha. Ele apenas diz:
‘Sim, irei. Irei’. Até agora, entretanto, não o fez. Ó Narada, tudo sabes. Portanto, por
142

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

favor, dize-me: se Eu fosse a Vrajabhumi, o que Eu poderia dizer a mãe Yashoda?


Eu já prometi a mãe Yashoda que Krishna iria para Vrajabhumi. O que direi? Mãe
Yashoda confiará em Meu verbo? Jamais. Ao contrário, ela dirá: ‘Balarama, és
desleal’”.

Pensando na condição dos vrajavasis, Balarama sentiu grande pesar em Seu


coração. Ele disse: “Ai! Ai! Meus amados vrajavasis, ainda estais vivos?”. Disse
também: “Ó Meu querido Krishna, Meu irmão, Teu coração é tão macio quanto
manteiga, navanita-hridaya. Como é estranho que esse coração tão macio tenha se
tornado tão duro quanto rocha”.

Boas Novas

Tendo dito isso, Baladeva não Se viu mais capaz de suprimir Seus
sentimentos e começou a chorar. Nesse momento, Subhadra chegou ali. Ela é muito
inteligente. “Tudo bem, irei a Vrajabhumi. Irei primeiro”, ela disse. “Todos vós, por
favor, sede pacientes e abandonai vossa ansiedade. Irei a Vrajabhumi e me sentarei
no colo de mãe Yashoda. Enxugarei as lágrimas em seus olhos e direi: ‘Ó minha
mãe, Krishna já está vindo. Meus dois irmãos e eu partimos de Dvaraka juntos, mas,
no meio da estrada, muitas pessoas se ajuntaram para saudar Krishna. Eles
construíram grandes portões. Muitíssimos reis, maharajas, estão às margens das
estradas. Inumeráveis pessoas estão carregando pratos de arati simplesmente para
oferecer puja a Krishna. Em razão de tudo isso, Ele vai chegar um pouco mais tarde.
Vim na frente apenas para te dar essa boa notícia: Ele está vindo! Krishna está
vindo!”.

Subhadra continuou: “Similarmente, irei a cada uma das gopis, enxugarei as


lágrimas em seus olhos e as consolarei. Dir-lhes-ei: ‘Homens são um pouco
desonestos. Nós mulheres, por outro lado, somos muito simples’. Eu sou mulher.
Então, quando ouçam de mim que Krishna está vindo, depositarão sua fé em minhas
palavras. Nesse momento, todos os vrajavasis ficarão deveras jubilosos e farão
arranjos para o acontecimento de um grande festival de boas-vindas para Krishna”.
143

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Uddhava, Narada e Balarama concordaram unanimemente. “Sim, essa é uma


proposta estupenda!”. Subhadra disse: “Por favor, preparai minha quadriga”.

Uma quadriga já fora preparada para Krishna, e, agora, outra quadriga foi
preparada para Subhadra. Baladeva tem grande afeição por Vrajabhumi, motivo pelo
qual, quando viu que Subhadra estava pronta para subir em sua quadriga, Ele disse:
“Como posso deixar que meu irmão, Krishna, vá sozinho? Não. Terei de ir também.
Como Subhadra está indo, acompanhá-la-ei”.

Uddhava concordou: “Tudo bem. Vós dois ireis. Quando comeceis vossa
jornada, não faremos nenhuma parada. Tão logo partais, Narada Muni cantará vraja-
lila kahani com seu vina-yantra. Krishna, então, recobrará Sua consciência, e nós O
enviaremos junto imediatamente”.

Balarama e Subhadra subiram em suas quadrigas e partiram para


Vrajabhumi. Primeiramente, Balarama; em seguida, Subhadra. Na ocasião do Ratha-
yatra, o ratha de Baladeva vai primeiro, seguido pelo ratha de Subhadra. Esse é o
procedimento. Três rathas são decorados, e Krishna vai por último.

Alcoolizado

Tão logo os dois rathas partiram, Narada começou a tocar seu vina-yantra e a
cantar preme-lila kahani. Quando essa vibração sonora transcendental alcançou os
ouvidos de Krishna, Ele ficou consciente mais uma vez e de pronto Se levantou em
uma postura curvada em três pontos,tribhangima thani. Essa forma não aparece em
Dvaraka, mas só em Vrajabhumi. Em Dvaraka, Krishna é um rei, e traja vestes reais.
Ele não assume a postura curvada em três pontos, nem toca flauta ou usa pena de
pavão. Isso acontece apenas em Vrajabhumi. Porque agora tudo em que Ele está
pensando é Vrajabhumi, Ele imediatamente assumiu a postura tribhanga. Isso é tudo
com o que Ele sonha e tudo no que Ele pensa; não há pensamentos em Dvaraka.

Então, Krishna imediatamente disse: “Onde está a Minha flauta? Onde está a
Minha flauta?”. Não há flauta em Dvaraka. “Onde está Minha flauta? Quem roubou
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Minha flauta? Ah! Isso só pode ser coisa daquelas gopis! Elas roubaram Minha
flauta!”.

Depois de ter dito isso, começou a correr para encontrar Sua flauta. Nesse
momento, viu Uddhava e disse: “Ei, Uddhava! Por que estás em Vrajabhumi?”. No
instante seguinte, viu Narada: “Ó Narada! Estás aqui em Vraja?”. Nesse momento,
caiu em si: “Aqui não é Vrajabhumi?”.

Tanto Uddhava quanto Narada disseram: “Ó meu Senhor, sabíamos que


correrias para Vrajabhumi, em razão do que já Te prepararmos uma quadriga. Por
favor, sobe na mesma”. Então, Krishna, Ele que está sempre pensando em
Radharani, tornou-Se como um louco. Krishna estava intoxicado como um bêbado.
Ele está pensando somente em Radha, radha-rasa madira. A doçura de Radharani é
como uma bebida alcoólica, madira. Ele está balançando como um louco intoxicado.
Com muita dificuldade, Narada e Uddhava seguravam-no dentro da quadriga.

Assim, quando Jagannatha chega à quadriga durante o festival de Ratha-


yatra, Ele está em uma condição intoxicada, balançando. Em Jagannatha Puri, é
possível ver como Ele é levado para a quadriga nessa condição.

Então, Narada ordernou a Daruka que conduzisse a quadriga até Vraja, e


Daruka o fez tão velozmente quanto o vento. Nesse meio tempo, a quadriga de
Baladeva e a quadriga de Subhadra haviam chegado a Vrajabhumi. Ao chegar a
Vraja, Baladeva viu que todos os habitantes de Vrajabhumi estavam como se
estivessem mortos, sentindo as dores intensas da saudade de Krishna. Baladeva
pensou muito profundamente: “Ó vrajavasis, estais sobrevivendo?”.

Um humor extático avassalador manifestou-se no corpo de Baladeva, asta-


sattvika-bhava; pulaka-asru, kampa, sveda, vaivarnya, isto é, lágrimas, transpiração,
arrepio dos pelos corpóreos. Porque não há diferença entre deha e dehi – o corpo
de Balarama e aquele que reside no corpo –, a disposição dentro do coração dEle
manifestou fora. Essa é a forma de Baladeva em mahabhava- prakasha. Essa forma
vocês verão em Nilachala Dhama. Então, a mesma transformação se deu em
Subhadra tão logo ela viu a condição dos residentes de Vrajabhumi. Em
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

consequência de estar em completo êxtase, mahabhava-prakasha, Subhadra não


pôde ir ter com Yashoda-mata. Agora, ela está completamente esquecida. É como
se essas duas formas estivessem se afogando no oceano devraja-rasa madhurima.
A doçura dos relacionamentos em Vraja é como um oceano, e essas duas formas
estão se afogando nesse oceano.

Enquanto tudo isso acontece, a condição de Radharani está piorando cada


vez mais. O que aconteceu com Radharani? Ela está completamente sob a vertigem
incontrolável conhecida comoudghurna. Esse adhirudha mahabhava, esse estado
altamente avançado de amor extático, é como uma condição de morte. Todas as
Suas sakhis estão em dúvida se há vida ou não no corpo de Radharani. Toda a
Vrajabhumi está em completa ansiedade: “Radharani está abandonando Seu corpo.
Ela não conseguirá sobreviver”.

O kunja de Radharani fica em Nidhuvana. Ela está deitada lá com Sua cabeça
repousada sobre as palmas das mãos de Lalita. Suas asta-sakhis estão todas
sentadas em torno dEla. Elas não sabem o que fazer. Lalita e Vishakha estão muito
inquietas. Algumas vezes, cantam o nome de Krishna nos ouvidos de Radha; outras
vezes, pegam um pouco de algodão e colocam na frente de Suas narinas para
verem se Ela ainda está respirando.

Ayana Gosh

Nesse ínterim, toda a Vrajabhumi chegara ali, pois a notícia de que Radharani
estava prestes a morrer havia se espalhado. Primeiro, chegou Ayana Gosh,
Abhimanyu, que é conhecido como “o esposo de Radha”. Isso é apenas externo;
não é verdade. O verdadeiro esposo de Radharani é Krishna. Chorando
copiosamente, com lágrimas nos olhos, Abhimanyu chegou correndo. Colocando
sua cabeça nos pés de lótus de Radharani, banhou os pés de lótus dEla com suas
lágrimas e disse: “Ó Sarvaradhya Radhe, todo-adorável Radha. Jamais toquei Teu
corpo”. Como ele poderia tocar o corpo de Radha? Apenas Krishna pode tocar o
corpo dEla.
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Ele, então disse: “Jamais toquei o Teu corpo, mas hoje experimento grande
fortuna. Estou pegando um pouco da poeira de Teus pés de lótus e colocando-a
sobre minha cabeça. Minha vida tornou-se bem-sucedida neste dia. De qualquer
forma, é de Teu conhecimento que sou pujari de Katyayani Devi e que minha deusa
adorável também é Paurnamasi Devi. Ó Radhe, o desejo de Krishna é desfrutar
de parakiya-rasa, o amor de amante. Por conseguinte, para realizar o desejo dEle,
Paurnamasi Devi manifestou esta lila. Teu verdadeiro esposo é Krishna, e Tu és
esposa dEle. Sois eternamente marido e mulher. Entretanto, para realizar o desejo
de Krishna de desfrutar deparakiya-rasa, Paurnamasi ordenou a Vrindadevi que
realizasse a nossa cerimônia de casamento. Isso é apenas externo; não real.
Krishna é Teu verdadeiro esposo, e Tu és Sua esposa. E és a deusa de meu
coração. Casei-me com a chaya, a sombra, de Radharani, e não com a Radharani
real. Agora que estás em uma condição moribunda, o que acontecerá conosco?”.
Depois de falar dessa maneira, exclamou: “Que todos saibam hoje que me casei
com a chaya-radha!”.

Esse é o siddhanta do vaishnavismo gaudiya. Quem é capaz de compreender


isto? Por exemplo, Ravana raptou Sita. Todavia, raptou a Sita real? Não. Levou a
sombra de Sita, chaya-sita, maya-sita. Como Ravana, um demônio, poderia tocar
Sita? Isso não é possível, pois Ela é a energia interna do Senhor. Então, quem ele
raptou? Raptou chaya-sita. Similarmente, esse Ayana Ghosh casou-se com a
sombra de Radha, para que Krishna possa desfrutar de parakiya-rasa. Assim é a
Vraja-lila.

Febre de Sannyasa

Então, veio Kutila, a irmã de Ayana Ghosh. Ela é a cunhada de Radharani.


Gritando e derramando lágrimas, Kutila colocou sua cabeça sob os pés de lótus de
Radharani. Ela pegou um pouco da poeira dos pés de lótus de Radha e colocou em
sua testa. Mulheres casadas, que não são viúvas, colocam cinabre na parte em que
o cabelo é partido, sinthi. Nesse dia, então, Kutila colocou um pouco da poeira dos
pés de lótus de Radha como o cinabre em seu sinthi.
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Com uma voz embargada, ela disse: “Ó Radha, minha fortuna hoje é imensa.
Obtive a oportunidade de colocar um pouco da poeira de Teus pés de lótus em
meu sinthi. Hoje, de fato tornei-me sati, uma mulher casta. Eu tinha um grande
orgulho. Sim, um orgulho grande como um arranha-céu,akasa-chumbi. Eu estava
sempre proclamando: ‘Eu sou a única mulher casta! Não existe outra mulher casta
em Vrajabhumi! Todas são prostitutas!’. Eu costumava dizer isso, e tentei no melhor
de minha capacidade provar que és uma grande prostituta e que não tens
absolutamente nenhuma castidade. Embora tenhas Te casado com meu irmão,
estás sempre atrás de Krishna. Perante isso, tentei ao máximo provar que és a mais
incasta e que eu sou a mais casta. Uma vez, contudo, algo muito misterioso
aconteceu. Um dia, Krishna manifestou uma lila, jvara-lila, como se Ele estivesse
sofrendo de uma febre alta.

Krishna fora tomado por uma doença, sannyasa-roga. Ele disse:


“Abandonarei tudo e aceitarei sannyasa”. Essa febre veio. Todos ficaram ansiosos.
Perguntaram-lhe: “Como se cura essa doença? Qual é o remédio que devemos
trazer a ti?”. Krishna disse: “Se houver uma sati-sadhvi, uma moça que seja muito
casta e pura, ela – e somente ela – poderá fornecer o medicamento. Ela deve ir até
o Yamuna levando consigo um cântaro com centenas de furos. Se ela puder trazer
água do Yamuna nesse cântaro, sem que nem mesmo uma só gota de água vaze,
esse será o remédio. Se passardes isso em Meu corpo, serei curado desta febre”.

Discutindo, todos concordaram que Kutila é a dama mais casta. Ela está
sempre tocando tambores e proclamando: “Eu sou a mulher mais casta! Todas as
outras são incastas!”. Então, disseram: “Tudo bem. Chamai-a e dai-lhe esse cântaro
com centenas de furos. Que ela traga a água do Yamuna sem derramar uma só
gota”. No entanto, quando Kutila tentou fazê-lo, toda a água foi derramada. Isso
provou que ela não era em nada casta. Kutila admitiu: “Provou-se isso, e meu
orgulho foi completamente destruído. Eis o porquê de Krishna ter manifestado
essa jvara-lila: esmagar meu orgulho”.

No momento seguinte, Radharani foi chamada: “Demos esse cântaro a


Radharani. Que Ela traga a água”. Quando Radharani foi para o Yamuna buscar
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

água, ela voltou com ele cheio, apesar de o mesmo ter centenas de furos, sem
derramar uma só gota.

Kutila continuou: “Nesse momento, então, provou-se ao mundo inteiro que és


a verdadeira mulher casta, e não eu. Yogamaya criou essa lila simplesmente para
arruinar o meu orgulho. Ó Radha, meu orgulho foi arrasado, mas hoje tenho muito
orgulho de ter oportunidade de pegar um pouco da poeira de Teus pés de lótus.
Minha vida, neste dia de hoje, tornou-se exitosa”.

Acusações

Então, de outra direção, Chandravali chegou correndo. Ela estava


acompanhada de suas sakhis, encabeçadas por Saibya. Chandravali chegou e se
estirou no chão, colocando sua cabeça sob os pés de lótus de Radharani. Lavando
os pés de lótus de Radharani com as lágrimas de seus olhos, ela disse:
“Radhe, kalankini. Eu sou a mais condenável de Vrajabhumi. Não és tu quem é a
mais condenável, mas, sim, a minha pessoa”. Em Vraja, todos estão condenando
Radharani.

Radharani diz, ko va na yati yamuna pulina bane radha name kalankapavada:


“Quem não está indo ao Yamuna para buscar água? Contudo, se Eu vou, torno-Me
uma prostituta”.

Todos dizem: “Ah! Ela é uma prostituta! Sob o pretexto de ir buscar água, foi
ao Yamuna simplesmente para Se misturar com Krishna”. Todos estão indo. Porém,
quando Radha vai, Ela subitamente Se torna uma prostituta.

Estão acusando Radharani dessa maneira, mas Chandravali disse: “Não! Eu


sou condenável! Tu não és! Ó Radharani, Sri Krishna é Teu verdadeiro esposo. Tu
és esquerdista, em razão do que Krishna vai ao meu kunja algumas vezes
simplesmente para intensificar Tua disposição de esquerda. Essa é minha grande
fortuna. Deste modo, tenho alguma ligação conTigo”.

Chandravali continuou: “Hoje, experiencio a imensa fortuna de ter colocado


minha cabeça a Teus pés de lótus, ó Radharani. Embora eu esteja sempre muito
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

ávida por realizar os desejos de Krishna, sou a mulher mais aflita e condenável.
Tornei-me uma das causas de afastar Krishna de Ti. Krishna é Teu esposo. Certas
vezes, Krishna vai a meu kunja, mas Ele não fica feliz comigo. Ele fica feliz apenas
com Tua pessoa. Mesmo em sonhos, Ele pensa unicamente em Ti. Ele jamais pensa
em mim”. É dito que, enquanto Krishna está com Chandravali, Ele pensa em Se
associar com Radha. Ele jamais pensa em Chandravali. Ele jamais sente grande
prazer ou grande felicidade quando está com ela.

Chandravali disse: “Tudo isso é a lila criada por Yogamaya. Yogamaya faz
todos aqui em Vrajabhumi dançarem. E, para o prazer de Krishna, de toda maneira
que Yogamaya nos faça dançar, nós todos dançaremos. Sei disso muito bem. Todos
aqui estão dedicados a fomentar a lila de Krishna; nada mais. Hoje, no entanto,
chegou ao meu conhecimento de que estás em uma condição moribunda. Se
deixares Teu corpo, ninguém em Vrajabhumi sobreviverá. Ó Radhe! Nem mesmo
um só animal haverá de sobreviver. Todos morrerão. Krishna, então, jamais virá a
Vrajabhumi. Jamais veremos Krishna novamente. Por favor, não morras”.

Uma Tora de Madeira

Nesse momento, a quadriga de Krishna chegou a Vrajabhumi. Tão logo


Krishna chegou a Vraja, Ele saltou de Sua quadriga. Agora, Yogamaya está
manifestando outra lila. Como se por arranjo providencial, Krishna apareceu ali em
Nidhuvana, onde Radharani está deitada como se morta. Krishna correu até lá, e, de
Sua boca, estão saindo as palavras radhe radhe dehi pada pallava mudaram: “Ó
Radhe! Ó Radhe! Por favor, dá-Me Teus pés de lótus! Desejo colocá-los sobre a
Minha cabeça!”. Krishna está gritando dessa maneira. Essa lila maravilhosa
manifestou-se.

Krishna, sentindo as dores intensas da separação de Radha, ficou


completamente extático. Suas mãos e suas pernas entraram em Seu corpo. Ele
ficou como uma tartaruga. Essa é a forma de Jagannatha. E com grandes olhos
dilatados, está simplesmente olhando para Radharani, que está deitada ali
no kunja como se estivesse morta. Vendo a condição dEla, Ele perdeu Sua
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

consciência e caiu ao chão. Nessa forma, está sentindo a aflição descomunal da


saudade de Radha. Eis a forma de Jagannatha, radha-bhava sindhure bhasamana:
é como se Ele fosse uma tora de madeira flutuando no oceano de radha-bhava.

Nesse momento, o vento soprou contra o corpo transcendental de Krishna.


Quando esse vento foi, então, até o corpo de Radharani, que estava prestes a
morrer, atuou como um bálsamo aliviador. A vida de Radharani retornou de imediato.
Então, com uma voz muito doce, Srimati Lalita sussurrou no ouvido de Radharani:
“Krishna chegou”. Quando ouviu isso, Radharani abriu gradualmente Seus olhos
para ver Krishna, Seu Pranavallabha, o amor de Sua vida. Esse foi o medicamento
através do qual Ela recobrou Sua vida e colocou-Se de pé. Agora, Ela Se esqueceu
de tudo. Todas as dores da separação se foram por completo.

Krishna, no entanto, ainda está inconsciente nessa forma similar a uma


tartaruga. Vendo Krishna nessa condição, Srimati Radhika orientou Sua priya-sakhi,
Vishakha: “Por favor, ajuda Krishna”, e Vishakha sabe qual remédio ofertar-Lhe. Em
uma voz muito doce, começou a cantar o nome “Radhe! Radhe! Radhe!” nos
ouvidos de Krishna. Ouvindo isso, Krishna recobrou Sua consciência e abriu Seus
olhos.

Agora, Krishna está olhando para Radharani, e Radharani está olhando para
Shyamasundara, Krishna. Um encontro olhos nos olhos.

Disponível em: https://voltaaosupremo.com/artigos/historias/jagannatha-


o-extase-do-reencontro/
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 4/5: Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha

A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

Em junho de 1970, em San Francisco, Srila Prabhupada palestra sobre a profundidade do


festival Ratha-yatra e também sobre o festival que o antecede, o Gundicha Marjana.

Apenas um dia antes do Ratha-yatra, há um festival em Jagannatha Puri que


se chama Gundicha Marjana. Do templo de Jagannatha, a cerca de duas milhas, há
outra casa/templo, para onde a Deidade de Jagannatha e de Seus irmãos vão
durante o festival de Ratha-yatra e lá permanecem por uma semana antes de
voltarem. Durante essa semana, há muitos festivais. Jagannatha está procedendo
em direção a Vrindavana pelo convite de Radharani. Krishna, após Sua infância,
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

chamada de pauganda-lila, foi chamado por Seu pai verdadeiro. Na prática, Ele foi
chamado para matar Kamsa, Seu tio materno que estava transtornando toda a
dinastia Yadu, e todos estavam aguardando por Krishna. Assim, Krishna apareceu e
imediatamente foi transferido por Seu pai para a casa de um amigo.

Vasudeva é kshatriya, e Nanda Maharaja é vaishya. A ocupação do kshatriya


é a família real, ao passo que o meio de vida dos vaishyas são os três seguintes
fazeres: agricultura, comércio e proteção às vacas, krishi-go-rakshya-
vanijyam (Bhagavad-gita 18.44). Krishi significa agricultura, e go-rakshya, proteção
às vacas.

Então, Krishna nasceu de um pai kshatriya. Ele não nasce, mas Ele apareceu
como o filho. Deus jamais nasce, daí O chamarmos de “não-nascido”. Os
filósofos mayavadis entendem Krishna erroneamente, pensando que Krishna nasce.
Se Ele nasce, como pode ser Deus? Na verdade, Krishna não nasceu do ventre de
Sua mãe; em vez disso, apareceu com quatro braços diante de Sua mãe, momento
no qual Sua mãe temeu: “Meu irmão Kamsa estava aguardando para matar Deus, e
agora Deus está aqui, com quatro braços. Kamsa imediatamente O matará”. A mãe
se esqueceu de que, se seu filho é Deus, Ele não pode ser morto, mas a afeição
materna é sempre dessa natureza. Quando o garotinho Krishna, por exemplo,
estava para atacar um demônio, Yashoda-ma pedia ao seu esposo, Nanda
Maharaja: “Por que permites que esse menino saia? Por que não O trancas?”. Assim
é a afeição materna. Mãe Yashoda não sabe que Krishna é a Suprema
Personalidade de Deus, pois, se o soubesse, sua afeição maternal seria obstruída.
Ela, portanto, estava sempre encoberta por yoga-maya. Embora Krishna estivesse
brincando infantilmente, tal qual uma criança comum; Ele, ao mesmo tempo, estava
mostrando que Ele é a Suprema Personalidade de Deus.

Certa feita, Krishna estava comendo barro, e alguns amigos se queixaram


com mãe Yashoda: “Deste-Lhe bom alimento e Ele está comendo barro”. Sua mãe,
então, chamou por Ele: “Krishna, estás comendo barro?”, e Krishna disse: “Não,
mãe. Eles são todos mentirosos”. “Teu irmão mais velho, Balarama, também está
dizendo que estavas comendo barro”. “Ele está com raiva de Mim, por isso Ele
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

também está falando mentiras”. Os garotos, então, enfatizaram: “Não, mãe. Nós
vimos que Ele comeu barro sim”, momento no qual a mãe disse a Krishna: “Tudo
bem. Abre Tua boca e verei”. Quando Krishna abriu Sua boca, Yashoda viu toda a
manifestação cósmica material. Ela viu na boca não apenas uma Yashoda, mas sim
milhares de Yashodas e milhares de planetas, sóis, luas e assim por diante. Mãe
Yashoda, então, pensou: “Isso deve ser algum ilusionismo. Tudo bem. Esquece. Não
faças isso novamente”.

Krishna está fazendo o papel de um filho perfeito. Mãe Yashoda ordena:


“Abre a Tua boca, pois quero ver”. “Sim, mãe”. E, quando ela viu a boca dEle, ela
não pôde compreender aquilo. Isto é Deus: Ele, compelido pelo devoto, está fazendo
o papel de uma criança e, ao mesmo tempo, está mantendo Sua supremacia como a
Suprema Personalidade de Deus. Assim é Krishna, e ninguém pode se tornar Deus
por poder místico. Deus é Deus sempre. Quando no colo de Sua mãe, Ele é Deus.
Quando, no colo de Sua mãe, Putana foi matá-lO, Krishna sugou-lhe o seio e
também a vida, mas deu a ela a posição de mãe, porque Krishna é tão bom que não
considerou questões ruins. Como Krishna pode ser invejoso, sendo Ele a Suprema
Personalidade de Deus? Uma vez que todos são partes integrantes de Krishna, Ele
não é capaz de invejar alguém, senão que é sempre gentil para com todos. Então,
nesse incidente, Putana passou veneno em seu seio e foi matá-lO: “A criança sugará
meu seio e morrerá prontamente”. A criança Krishna sugou o seio bem como a vida
dela, mas julgou: “Embora essa demônia tenha vindo a Mim com o propósito de
matar-Me, fui tratado como filho dela, e ela se tornou Minha mãe, em consequência
do que ela tem de obter a posição de Minha mãe”. Assim é a amabilidade de
Krishna.

Então, tentem compreender a filosofia de Krishna muito bem. Tentem


compreender o que é Deus. Há muitíssimos farsantes e sujeitos infames que estão
se apresentando como Deus, em razão do que tentem entender o que é Deus para
não serem desencaminhados. Krishnas tu bhagavan svayam (Srimad-
Bhagavatam 1.3.28): “O Senhor Sri Krishna é a original Personalidade de Deus”.
Porque inexiste outro Deus tirante Krishna, Ele diz no Bhagavad-gita (18.66), mam
154

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

ekam: “Rende-te apenas a Mim”. E Krishna provou pessoalmente que é Deus.


Conquanto existam muitos assim chamados Deuses, eles não provaram ser Deus.
Deus é único, e o mesmo é Krishna.

As pessoas geralmente não sabem que Krishna é o filho de Vasudeva, mas,


posteriormente, isso foi revelado por conversas entre um e outro. Então, quando o
fato foi revelado, Kamsa providenciou uma competição de luta livre, e Krishna foi
chamado para lutar, o que pode ser lido em nosso livro Krishna, a Suprema
Personalidade de Deus. Similarmente, Krishna foi à casa de Seu pai, e Ele foi a
Kurukshetra em uma quadriga, o que retrata o Ratha-yatra. O único afazer de
Radharani e dos demais habitantes de Vrindavana depois que Krishna partiu de
Vrindavana para Mathura era prantearem. Krishna partiu e nunca mais retornou,
salvo uma única vez. Em Sua ausência, mãe Yashoda, os vaqueirinhos e
as gopis perderam sua vida e força vital, e tudo o que faziam era chorar
continuamente. Krishna algumas vezes enviou Uddhava para apaziguá-los com a
mensagem: “Hei de voltar muito em breve, após terminar Meus afazeres aqui”.

O Ratha-yatra, enfim, retrata a oportunidade que os habitantes de Vrindavana


aproveitaram: “Krishna veio a Kurukshetra com Seu irmão, Sua irmã e Seu pai.
Aproveitemos para ir vê-lO”. Quando quer que obtivessem alguma oportunidade,
eles queriam ver Krishna, motivo pelo qual foram a Kurukshetra. Esses vaqueirinhos,
da mesma maneira, foram ver Krishna na veste de quadrigário combatente quando
houve a Batalha de Kurukshetra, próximo a Delhi, que não é mais distante de
Vrindavana do que cerca de 140 quilômetros. Os vaqueirinhos, vendo Krishna como
quadrigário combatente, ficaram embasbacados pensando: “Krishna é o nosso
amigo vaqueirinho. Como se explica Ele estar batalhando em uma quadriga?”.
Assim, eles ficaram embasbacados. Esses são os passatempos de Vrindavana.

Similarmente, os habitantes de Vrindavana foram ver o Senhor Krishna,


conhecido também como Jagannatha. Jagat significa este mundo, e natha significa
mestre, ou proprietário. Krishna diz no Bhagavad-gita (5.29), sarva-loka-
mahesvaram: “Sou o proprietário de todos os planetas”, logo Ele é Jagannatha, que
significa “o proprietário de tudo, de todos os planetas”. Então, os habitantes de
155

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Vrindavana foram ver Krishna porque a vida deles era Krishna – eles não conheciam
nada exceto Krishna. Então, aquela era a oportunidade, e, ali em Kurukshetra,
Radharani solicitou a Krishna: “Meu querido Krishna”, Ela disse, “Você é o mesmo
Krishna, e Eu sou a mesma Radharani, mas, embora estejamos juntos, não estamos
juntos no mesmo lugar. Aqui, Você é tal qual um rei majestoso – com quadrigas,
soldados, ministros e secretários –, e, lá em Vrindavana, Você era um vaqueirinho, e
Nós costumávamos nos encontrar nas florestas, entre os arbustos. Eu quero levá-lO
para Vrindavana, com o que ficarei feliz”.

Então, esse sentimento foi expresso pelo Senhor Chaitanya, porque a


adoração do Senhor Chaitanya era na disposição de Radharani. Radha krishna-
pranaya-vikritir hladini shaktir asmad ekatmanav api bhuvi pura deha-bhedam gatau
tau (Chaitanya-charitamrita, Adi 1.5). Tentem compreender a sublime filosofia e a
sublime cultura de Krishna. Aqueles que são afortunados vieram para este
movimento da consciência de Krishna. Não há nenhuma dúvida de que a vida deles
é exitosa. Então, o que são os casos amorosos de Radha e Krishna? Trata-se de
uma atividade como da mocinha comum e do rapaz comum? É claro que é tal qual
isso – parece esse relacionamento entre mocinha e rapaz e de fato é, mas não é a
atividade de um rapaz e de uma mocinha deste mundo material. Trata-se, por outro
lado, do passatempo do Senhor Supremo com Sua potência hladini. Assim como,
neste mundo material, existem três qualidades, a saber, sattva-guna, rajo-guna e
tamo-guna; no mundo espiritual, há três potências, a saber, samvit, sandini e hladini.
Assim, a potência hladini é Krishna, o que foi discutido com muita erudição por Srila
Jiva Gosvami.

Jiva Gosvami apresenta esses casos amorosos de Krishna e Radha muito


filosoficamente. Seu primeiro ponto é que Krishna é o Param Brahman, a Suprema
Verdade Absoluta, o que é aceito por Arjuna no Bhagavad-gita (10.12), quando ele
diz param brahma param dhama pavitram paramam bhavan. Neste mundo material,
há diferentes características de gratificação sensorial, em sattva-guna, rajo-
guna e tamo-guna. A pergunta de Jiva Gosvami é se o relacionamento das gopis e
Krishna são casos amorosos ou passatempos deste mundo. Assim como, aqui,
156

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

rapazes jovens e moças jovens se encontram e tentam desfrutar a vida, a lila ou os


passatempos de Krishna com as gopis é a mesma coisa? Não. Em sua
apresentação filosófica, Ele discorre o raciocínio de que Krishna é o Param
Brahman, e que, neste mundo material, vemos que, para alguém se apegar ao
Param Brahman ou para conhecer verdadeiramente o Param Brahman, o indivíduo
inteligente abandona tudo dentro deste mundo. Essa é a filosofia de
Shankaracharya, que diz que este mundo é falso, ao contrário do Param Brahman,
que é real, brahma satyam jagan mithya. Então, busque a autorrealização para
conhecer o Param Brahman. E o processo dele é sannyasa, isto é, renunciar este
mundo.

Então, Jiva Gosvami apresenta esta filosofia: Se, para conhecer o Param
Brahman, o indivíduo tem que abandonar tudo o que é material, como o Param
Brahman poderia desfrutar de algo material? Essa é a questão. Vemos na prática
que o indivíduo tem que abandonar tudo o que é material, como acontece com os
seguidores de Shankaracharya, cuja renúncia é muitíssimo severa. Shankaracharya
não aceitará alguém como apto a avançar na cultura espiritual sem ter aceitado a
ordem renunciada de vida, sannyasa, senão que exige que primeiramente o sujeito
aceite sannyasa, após o que se permite falar da Verdade Absoluta. Assim é
o sampradaya de Shankara.

Nós do sampradaya vaishnava, do sampradaya de Chaitanya Mahaprabhu,


temos um processo um pouco diferente. Embora nada tenhamos a ver com este
mundo material, o sampradaya de Chaitanya Mahaprabhu fornece a facilidade de
que podemos fazer o melhor uso deste mundo material, e essa é a diferença entre a
filosofia de Shankara e a filosofia vaishnava. A filosofia de Shankara diz que este
mundo é falso, ao passo que nós filósofos vaishnavas dizemos que este mundo não
é falso, pois é uma emanação do real absoluto. Como ele pode ser falso? Ele tem
seu uso apropriado. Para aqueles que não conhecem seu uso apropriado, ele é
falso, pois eles estão buscando algo falso, mas ele é real para aqueles que sabem o
seu valor.
157

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Hari-sambandhi-vastunah (Bhakti-rasamrita-sindhu 1.2.256): Tudo tem


alguma conexão com o Senhor Supremo. Ishavasyam idam sarvam (Ishopanishad
1): A nossa filosofia é que tudo está em conexão ou tem conexão com o Senhor
Supremo. Nós não dizemos que este alto-falante e este microfone são falsos. Por
que o microfone seria falso se é produzido a partir da energia de Krishna? Esta
matéria – quer o ferro, quer a madeira – é uma produção da energia de Krishna. Se
Krishna é a Verdade Absoluta, Sua energia também é verdade, e qualquer coisa
produzida a partir de Sua energia também é verdade. Contudo, assim como a
energia é utilizada para o energético, a nossa filosofia é que qualquer coisa
produzida pela energia de Krishna deve ser utilizada para Krishna.

Assim, não dizemos que algo é falso, senão que tudo é real, em virtude do
que, no movimento da consciência de Krishna, aceitamos tudo, mas aceitamos tudo
para o serviço a Krishna – nada para a minha gratificação sensorial. Isso é
consciência de Krishna. Não dizemos: “Este mundo é falso. Abandonem-no”. Por
que não o dizemos? Os nossos acharyas, como Rupa Gosvami, afirmam:

anasaktasya vishayan
yatharham upayunjatah
nirbandhah krishna-sambandhe
yuktam vairagyam uchyate
(Bhakti-rasamrita-sindhu 1.2.255)

Vocês não devem se apegar à propriedade de Krishna. Os karmis estão


apegados à propriedade de Krishna – estão tentando roubar, desfrutar ilegalmente,
a propriedade de Krishna. E os jnanis, ou assim chamados jnanis, tentam, por
ignorância, renunciar a propriedade de Krishna. Os jnanis têm muitíssimo orgulho de
serem avançados em conhecimento e renúncia, mas, se alguém pergunta: “Prezado
cavalheiro, o que o senhor está renunciando?”. “Este mundo”. “Tudo bem, mas
quando este mundo tornou-se sua propriedade para você o renunciar?”. Você
renuncia algo que você possui, mas, se você não possui algo, qual é o significado de
sua renúncia? Você veio aqui de mãos vazias, você vive aqui por algum tempo e vai
embora. Se, no começo, você não é proprietário e, quando você vai embora, você
158

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

não é proprietário, qual é o significado de sua renúncia? Esse é o defeito. Então, nós
não renunciamos, pois vemos que tudo é dado por Krishna a nós. Tena tyaktena
bhunjitha (Ishopanishad 1): Nada pertence a mim, senão que tudo é de Krishna.
Mesmo o meu corpo e minha mente também são de Krishna. Com efeito, meus
pensamentos, minha fala e o que quer que eu crie pertence a Krishna – eis a
filosofia de Krishna, e, na verdade, é a realidade.

Assim, este Ratha-yatra de Jagannatha é parte deste movimento da


consciência de Krishna porque o Senhor Chaitanya pregou este movimento da
consciência de Krishna há quinhentos anos. É claro que este movimento da
consciência de Krishna não é algo novo, haja vista que, pela existência do
Bhagavad-gita, compreendemos que possui cinco mil anos e, a partir do texto
do Bhagavad-gita(4.1), também compreendemos que ele possui cinco milhões de
anos. Na era moderna, contudo, este movimento da consciência de Krishna, o
movimento Hare Krishna, foi iniciado pelo Senhor Chaitanya, e este Ratha-yatra é
parte desse movimento. Portanto, introduzimos o festival de Ratha-yatra em nossa
sociedade, e os rapazes e as moças o estão levando muito a sério, e ele irá em
frente.

Então, o Senhor Chaitanya estava fazendo o papel de Radharani quando


Radharani solicitou Krishna a ir a Vrindavana. Então, quando o Senhor Chaitanya
esteve diante do Ratha-yatra, Ele estava pensando: “Estou levando Krishna para
Vrindavana”. Este é o Seu êxtase: “Estou levando Krishna para Vrindavana”.

Este evento é observado anualmente, e Krishna, Jagannatha, vai para


Gundicha. Como eu disse, hoje estamos comemorando o dia de Gundicha-marjana.
O Senhor Chaitanya costumava pessoalmente lavar todo o templo juntamente com
Seus assistentes nessa ocasião. Naquele tempo, não existia mangueira, senão que
as pessoas costumavam pegar água em imensos cântaros. Quando o Senhor
Chaitanya desejou lavar o Gundicha Mandir, o rei de Jagannatha Puri, chamado
Maharaja Prataparudra, o qual era um grande devoto do Senhor Chaitanya, fez uma
declaração aberta a seus oficiais de que tudo o que Chaitanya Mahaprabhu pedisse
deveria ser imediatamente fornecido.
159

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Quinhentos anos atrás, não havia a facilidade das estradas de ferro, de modo
que as pessoas costumavam ir para Gundicha a pé, especialmente da Bengala. E,
porque Chaitanya Mahaprabhu ficava na Orissa, há muitos gaudiyas oriás. Os
seguidores do Senhor Chaitanya são praticamente os bengalis e os oriás – eles
são gaudiyas, em geral.

Maharaja Prataparudra era um rei muito poderoso, e não permitiu que os


maometanos entrassem na Orissa. Naquela época, toda a Índia estava ocupada
pelos pathans, mas eles não puderam invadir a Orissa e o sul da Índia. Assim,
Maharaja Prataparudra era um rei muito poderoso e, ao mesmo tempo, era devoto
do Senhor Chaitanya, devido ao que sua ordem aberta era de que sempre que
Chaitanya Mahaprabhu pedisse algo, Ele tinha de ser atendido.

No dia de Gundicha-marjana, Chaitanya Mahaprabhu costumava lavar o


Gundicha Mandir com centenas de Seus seguidores, e eles foram ordenados a
trazer água do reservatório mais próximo. Se vocês forem a Jagannatha Puri, vocês
poderão ver esse reservatório no qual centenas de potes de água foram cheios.
Antes de lavarem com água, o espaço foi varrido, e Chaitanya Mahaprabhu gostava
de ir pessoalmente até cada devoto e perguntar: “Quanta poeira você reuniu? Deixe-
Me ver quanta poeira você reuniu varrendo. Eu, então, entenderei que você
trabalhou muito duro”. Então, a ordem dEle era que, depois que tudo havia sido
muito bem varrido por duas vezes – sem restar sequer uma pequena partícula –
fazia-se a limpeza com água.

Disponível em: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/gundicha-


marjana-a-limpeza-do-templo-de-gundicha/

.
160

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 5/5: Archana: Adoração à Deidade

Por Dvarakadisha Devi Dasi

Deus é uma pessoa e, devido à Sua infinita bondade, Ele nos permite até mesmo
em nossa condição presente prestar-Lhe serviço pessoal.

No Srimad-Bhagavatam (7.5.23-24), o devoto Prahlada Maharaja, uma


grande autoridade espiritual, diz: “Ouvir e cantar sobre os transcendentais santos
nomes, forma, qualidades, parafernália e passatempos do Senhor Vishnu,
lembrarmo-nos deles, prestar serviço aos pés de lótus do Senhor, oferecer ao
Senhor respeitosa adoração, oferecer-Lhe orações, tornar-se Seu servo, considerar
o Senhor como o melhor amigo e render-se totalmente a Ele (em outras palavras,
servi-lO com o corpo, a mente e as palavras) – estes nove processos são
considerados o serviço devocional puro. Quem quer que dedique sua vida a servir
Krishna através destes nove métodos deve ser visto como a pessoa mais culta, pois
obteve conhecimento completo”. Aqui, continuamos nossa série sobre os nove
processos de bhakti-yoga, ou serviço devocional ao Senhor.
161

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Poucas experiências são mais bonitas e sagradas do que a


cerimônia mangala-arati, que acontece de manhã cedo. Os adoradores se reúnem
na tranquilidade que precede o amanhecer para cantar canções devocionais e
louvar o Senhor Supremo. O foco da cerimônia é forma de Deidade do Senhor, uma
manifestação física do próprio Deus. Durante o mangala-arati, o brilho suave das
Deidades dissipa a escuridão da noite, enquanto o pujari (sacerdote) oferece-Lhes
uma sucessão de objetos auspiciosos, tais como incenso e flores. Vozes entoam
melodias ancestrais, acompanhadas por pequenos címbalos e pela batida do
tambor.

Archana, a adoração ao Senhor em Sua forma de Deidade, pode ser um


conceito estranho para pessoas que cresceram no Ocidente. Embora algumas
correntes de adoração a Deidades possam ser encontradas no catolicismo e nas
igrejas ortodoxas, a maioria dos ocidentais desconfia quando um tratamento
reverencial é oferecido a “objetos”, porque Deus é espírito e não pode estar contido
dentro de mármore ou metal. Frequentemente, quando visitantes vêm ao templo ver
as Deidades, buscam palavras, chamando-as de “bonecos” ou “estátuas”, relutando
em reconhecer qualquer divindade em forma física. A prática de adoração à
Deidade, bastante conhecida até mesmo pelo mais simples chefe de família indiano,
contribui para que o ocidental tenha a percepção da consciência de Krishna como
um culto.

Então, por que adoramos Deus desse modo? As escrituras védicas


prescrevem a adoração à Deidade como um meio de desenvolvermos um
relacionamento com Deus como uma pessoa. Embora seja verdade que Deus é
espírito, também é verdade que, como espírito, Deus permeia toda a matéria,
incluindo mármore e metal. Deus não pode ser separado de Sua criação, em virtude
do que adorar Sua forma, mesmo que constituída de materiais físicos, é, certamente,
adorá-lO. As escrituras mencionam uma variedade de matérias que podem ser
usados para criar a Deidade, incluindo barro, areia e a mente.

O observador ocidental pode também ficar confuso com a variedade de


Deidades no templo. Geralmente, um altar tem muitas Deidades, todas lindamente
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

vestidas e ornadas com guirlandas de flores. Qual delas é Deus? Para muitas
pessoas, a pluralidade de Deidades implica numa religião primitiva, sem nenhum Ser
Supremo. Como diferenciar a adoração à Deidade da obediência aos deuses e
deusas da mitologia grega? Dentro da própria Índia, diferentes personalidades, tais
como o Vishnu e Shiva, são adorados elaboradamente em forma de Deidade.
Alguns hindus até mesmo dizem: “Todas elas são Deus”. Contudo, a consciência de
Krishna é a adoração a um Deus único, o Senhor Krishna. Por que, então, há tantas
Deidades mesmo nos templos Hare Krishna?

Há apenas um Deus; Ele, porém, manifesta-Se em muitas formas. Como o


Senhor Supremo, Ele gosta de relacionar-Se com todos os seres vivos – cada
relacionamento é íntimo e único. Em Sua forma como o Senhor Ramachandra, o
Senhor gosta do papel de rei e marido fiel. Em Sua forma de Senhor Nrisimha, Ele é
o protetor feroz. Em Sua forma de Krishna criança, Ele é brincalhão e arteiro. Todos
esses papéis são manifestações de Sua suprema personalidade, e, portanto, todas
essas Pessoas Divinas podem ser adoradas em forma de Deidade.

Embora todas essas formas sejam realmente Deus, os devotos podem sentir
uma forte atração por uma determinada Deidade. No movimento para a consciência
de Krishna, nossa Deidade mais amada é o Senhor Krishna. Nosso acharya-
fundador, Srila Prabhupada, explicou com inúmeras referências às escrituras
védicas que a forma de Krishna é a forma original de Deus, com pleno poder. Assim
como muitas velas podem ser acesas a partir de uma lamparina e todas as velas
podem queimar com igual luminosidade, há apenas uma chama original – essa
chama é Sri Krishna.

A Deidade do Senhor Krishna nunca é vista sozinha. E uma das perguntas


que os visitantes em um templo Hare Krishna mais fazem é: “Quem é a mocinha
com Krishna?”. A resposta rápida é que Ela é Srimati Radharani, a queridíssima
namorada de Krishna. Tal resposta, obviamente, apenas dá margem a mais
perguntas: “Como pode Deus ter uma namorada? O que A torna tão especial?”.
163

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Assim como o próprio Krishna é tanto o charmoso vaqueirinho quanto o


incompreensível Senhor do universo, Radharani é tanto a jovem garota tímida
quanto a personificação de bhakti, ou amor pelo Senhor Supremo. Ninguém pode
aproximar-se de Deus sem a misericórdia de Radharani, porque Seu amor envolve
Krishna protegendo-O dos insinceros. Não podemos ver Krishna sem a ajuda de
Radharani, assim como não podemos experimentar a presença de Deus se o
coração não estiver cheio de devoção.

Dentre todas as Deidades comumente encontradas nos templos Hare


Krishna, as mais frequentes são o Senhor Chaitanya e o Senhor Nityananda. Srila
Prabhupada iniciou a adoração a Eles porque foi o Senhor Chaitanya quem divulgou
amplamente os processos de serviço devocional tão preciosos para nós atualmente,
a saber: shravana e kirtana, o ouvir e o cantar dos nomes de Deus. O Senhor
Chaitanya é particularmente compassivo para com os que se aproximam de Krishna
na era turbulenta na qual vivemos, quando as aspirações religiosas puras são
impiedosamente afogadas na cacofonia do materialismo. Shravana e kirtana são os
componentes principais da adoração à Deidade.

Nos templos da ISKCON, podem-se ver também as formas sorridentes do


Senhor Jagannatha, Senhor Balarama e Subhadradevi. Essas Deidades são talvez
as mais compassivas de todas as formas do Senhor, já que se permitem serem
removidas do confinamento do templo uma vez por ano para o Ratha-yatra, ou o
festival do carro alegórico, uma alegre procissão pelas ruas. Na Índia, milhares de
pessoas enchem as ruas numa multidão para ver o Senhor elegantemente colocado
sobre um grande e colorido carro alegórico puxado por longas cordas. Sob a
inspiração de Srila Prabhupada, o Ratha-yatra agora é celebrado no mundo todo,
desde cidades grandes como Nova Iorque e Londres, até pequenas comunidades.
Embora a adoração à Deidade seja geralmente restrita aos templos, na ocasião
especial de Ratha-yatra, qualquer um pode ver a face reluzente do Senhor Supremo.
Seja ou não um crente, o coração da pessoa é purificado pela visão do Senhor,
assim como o efeito de um medicamento no corpo de alguém que creia nele ou não.
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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Como todos os processos de serviço devocional, a adoração à Deidade


combina um ritual externo com meditação interna. A adoração à Deidade no templo
é altamente ritualizada. O Senhor tem que ser despertado, banhado, vestido e
alimentado exatamente à mesma hora todos os dias. Orações específicas são
usadas para cada aspecto da adoração. Os adoradores têm que estar limpos e
serem pontuais. Toda essa atenção aos detalhes ajuda a treinar a mente para que
entenda que Deus é uma pessoa. Se você souber que está desapontando alguém
com seu atraso ou descuido, então desenvolverá um aumento de atenção plena
quanto às necessidades daquela pessoa. Da mesma forma, quando você agrada
alguém com sua atenção ardente, acalenta o prazer de seu deleite. Os detalhes da
adoração à Deidade tornam-se parte de um doce intercâmbio com o Senhor.

Alguém pode, no entanto, enamorar-se dos rituais e perder a devoção interna.


Em toda igreja, mesquita e templo, a piedade é facilmente parodiada. Contudo, a
adoração vazia é uma ofensa ao Senhor. Todos nós temos impurezas, dúvidas e
medos, e a adoração à Deidade pode certamente aliviar-nos desses fardos se a
mesma for a nossa oração. Porém, estar diante do Senhor pedindo Sua
cumplicidade em nossos planos materiais dificilmente pode ser adoração real.
Similarmente, mesmo uma bela cerimônia como o mangala-arati não pode ser
realmente apreciada caso se torne um encontro rotineiro ou uma oportunidade de
contatos para negócios, encontros sociais ou euforia. O coração tem que
acompanhar as ações, porque Deus nunca está interessado em obrigações fúteis. O
mais profundo elemento da adoração é a rendição amorosa, fazendo-nos abandonar
a postura de que somos a Deidade. Há apenas um Deus, e archana ajuda-nos a
perceber o quanto isso é verdade.

Talvez o aspecto mais maravilhoso de archana seja que emprega os quatro


processos de serviço devocional discutidos até agora: ouvir sobre Krishna, cantar
Seus nomes, lembrar-se dEle e servir aos Seus pés de lótus. A adoração à Deidade
sempre inclui cantar, seja exuberante ou subjugado, e o cantar permite a audição.
Quando estamos de pé na presença do Senhor, naturalmente lembramo-nos dEle. E
165

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

servir ao Seus pés de lótus realmente assume seu significado quando os vemos
decorados com polpa de sândalo e flores.

Tradução de Adi Purusha Prema.

Disponível em: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/archana-


adoracao-a-deidade/.
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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Autor: Purushatraya Swami

Disponível em: http://www.pswami.com.br/vaishnava/raizes.html

Acessado em: 02/06/2015


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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Movimento Hare Krishna - Histórico, Filosofia e informações.

(Escrito por Purushatraya Swami. Baseado numa enquete feita pelo órgão ASSINTEC -
Associação Interconfessional de Educação de Curitiba (PR) - que assessora a Secretaria de
Educação de Curitiba nos assuntos referentes à Educação Religiosa e Diálogo Inter-
Religiosos.

1. Tradição religiosa

O popularmente conhecido “movimento Hare Krishna” tem suas origens na índia e é


parte de um contexto muito amplo e diversificado chamado “Hinduísmo”. O
Hinduísmo, por sua vez é constituído de múltiplas tradições religiosas. No caso
particular, o “movimento Hare Krishna” está inserido na Tradição Vaishnava
(Vaishnavismo). O termo “Vaishnava” deriva-se de “Vishnu”, que é o aspecto
imanente de Deus, presente na criação material.

O Vaishnavismo é a linha estritamente monoteísta do Hinduísmo. Embora lide com


múltiplos aspectos de Deus e hierarquias subordinadas a Ele, que atuam nos
diferentes aspectos de Sua criação, a idéia central da religião é estabelecer a
relação com o Deus Uno. Dessa forma, a consciência do devoto transmuta-se de
‘consciência de ego’ para ‘consciência de Deus’, e ele torna-se um recipiente da
graça divina. Só pela graça do Senhor que a pessoa pode obter a salvação.
Salvação significa liberação da existência condicionada nesse mundo material e
ingresso definitivo no reino de Deus.

Opostamente à esse mundo relativo e sujeito às dualidades— bom/mal, prazer/dor,


luz/escuridão, frio/calor, etc.— o reino de Deus é um estado de existência absoluta,
perfeita, pura, eterna e plena de bem aventurança. Enquanto persiste a consciência
material condicionada, centrada no ego, a pessoa fica presa ao contínuo ciclo de
nascimentos e mortes neste mundo, e aqui experimenta as suas delícias e
inconvenientes de acordo com seus méritos e culpa. Cada vida lhe dá uma nova
oportunidade para purificar-se e desenvolver a consciência de Deus. A mudança de
168

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

paradigma, do ego para Deus, se dá quando, pelo contato com o conhecimento


revelado, pela misericórdia divina que chega ao indivíduo por diversos meios, é
acendida no coração a chama da fé.

2. Origem histórica

O sub-continente indiano é o cenário para um leque de tradições religiosas, a


maioria tendo suas origens em épocas muito remotas. O Vaishnavismo, em
particular, não tem um registro de início. Os textos sagrados, muitos deles
compilados em datas que remontam à era védica de cinco mil anos atrás, já
oferecem o delineamento da doutrina, que antes era praticada e transmitida em via
oral. Já na era cristã, o Vaishnavismo institucionalizou-se e associou-se ao sistema
Vedanta de filosofia. Surgiram grandes filósofos teístas, como Ramanuja, Madhva,
Nimbarka e Vishnuswami e foi, assim, formatado em quatro linhas principais,
chamadas sampradayas. O sistema de filosofia Vedanta tem duas linhas: uma
estritamente filosófica e outra teísta. O Vaishanavismo, obviamente, é a linha teísta.
O “movimento Hare Krishna” é filiado à linha Vaishnava chamada Brahma-Madhva-
sampradaya.

O “movimento Hare Krishna” teve seu início há quinhentos anos, exatamente na


virada do século, na época dos descobrimentos. O responsável por sua difusão foi o
santo Sri Caitanya (lê-se Cheitânya) Mahaprabhu. Sua vida foi amplamente
registrada em biografias, algumas delas contemporâneas a ele. Caitanya, que foi um
acadêmico e intelectual sem rival em sua juventude, teve uma reviravolta radical em
sua vida, passando a manifestar uma natureza mística sem precedentes,
certamente, na história da humanidade. Mais da metade dos quarenta e oito anos de
sua existência foram passados, na maior parte do tempo, num êxtase místico de
amor a Deus. A mensagem de Caitanya resume-se basicamente na realização de
que o método mais eficaz para restabelecermos nossa conexão com Deus é através
do canto e meditação de Seus santos nomes. Os santos nomes do Senhor, diz
Caitanya, possuem energias espirituais que vão atuar na consciência, tornando-a
cada vez mais espiritualizada. Com a prática, obtém-se purificação, auto-
conhecimento, desapego, renúncia, santidade, paz interior e amor puro por Deus.
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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Embora todos os nomes referentes a Deus têm esse poder, Caitanya recomendava
o canto e a meditação no maha-mantra Hare Krishna (explicaremos mais a frente).
Seu movimento teve um grande impacto social pois desestruturava um rígido
sistema de castas que prevalecia no país naquela época. Ele atingiu tanto as
camadas populares quanto a classe intelectual, e até, membros da realeza.
Começou na região da Bengala (leste da índia, cuja capital é Calcutá) e, a seguir,
espalhou-se pelo estado vizinho, Orissa. Na seqüência, permeou o país. Caitanya,
inclusive, profetizou que esse canto espalhar-se-ia pelo planeta, o que , mais ou
menos, podemos, hoje em dia, presenciar.

Em 1965, um sannyasi (renunciado) da linha de Caitanya, A. C. Bhaktivedanta


Swami Prabhupada, trouxe esse conhecimento para o Ocidente. Aos setenta anos
de idade, sem recursos e qualquer apoio institucional, Swami Prabhupada
desembarcou em Boston, nos Estados Unidos. Logo a seguir, radicou-se em Nova
York e, por arranjo do destino, seu público foi, quase que exclusivamente, o mundo
hippie, que naquela época, estava em seu auge. Sua mensagem era estritamente
ortodoxa e apresentava valores praticamente diametrais aos cultivados pelos
hippies. Mas, mesmo assim, surpreendentemente, sua mensagem teve um
tremendo eco, certamente devido à genuína postura espiritual de Prabhupada. Em
1966, ele fundou a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna
(ISKCON). De Nova York estabeleceu-se uma ramificação no oeste, em São
Francisco; depois Montreal e Londres. De lá, à medida em que seus discípulos
espalhavam centros nos diversos continentes, Prabhupada voltou à sua terra natal e
estabeleceu alguns importantes centros de adoração a Deus.

3. Ideia e representação do Transcendente (Deus)

Como já afirmamos, a Tradição Vaishnava é monoteísta por excelência. Outra


característica marcante do Vaishnavismo é que, baseado na revelação, nos é dada
a noção de Deus como Pessoa, a Suprema Personalidade de Deus. Logicamente,
não uma pessoa como nós— corporificada, condicionada, falível, efêmera, limitada,
ignorante e sofrida—, mas uma Personalidade infinitamente superior a qualquer
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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

referencial humano— possuidor de qualidades ilimitadas e perfeitas, e destituído de


qualquer indício de imperfeição ou limitação.

A conhecimento Vaishnava aceita que “ tudo provém de Deus.” Não existe uma
dicotomia original de Bem e Mal, ou Deus e Satanás. Essas dualidade estão
presentes no estado de existência em que ora vivemos. Em geral, o aspecto
negativo da realidade é a ausência da contraparte positiva, assim como por
exemplo, o fenômeno “escuridão” se dá quando a luz é bloqueada ou está inativa. O
sofrimento, tido muitas vezes como uma imperfeição na criação de Deus, tem, com
certeza, seu papel no teatro da vida e, muitas vezes, é aquilo que purifica, que nos
faz ver a realidade e nos traz conhecimento e realizações mais profundas.

A morada do Senhor é o reino absoluto. O termo sânscrito que traduz isso é sat cit
ananda, que significa, existência plena e eternidade (sat), consciência infinita (cit) e
bem aventurança plena (ananda). A forma do Senhor é igualmente sat cit ananda.

Assim como na revelação cristã, a Tradição Vaishnava aceita que “Deus tem muitas
moradas.” Além de muitas moradas, Ele possui muitas formas. Apesar de possuir
inúmeras manifestações, Ele não perde Seu caráter de Ser único e Uno.

De acordo com a revelação Vaishnava, Deus tem, basicamente, três aspectos: a)


Seu aspecto impessoal (Brahman)— a energia cósmica, o somatório de todas
energias, a Consciência Suprema, o Espírito Supremo; b) o aspecto imanente
(Paramatma), que participa intimamente na manifestação cósmica material; e c) o
Deus Transcendente (Bhagavan), a Suprema Personalidade de Deus, que atua num
meio ambiente puramente espiritual.

Brahman é o suporte de tudo. Muitas religiões dão primazia a este aspecto


impessoal de Deus. A doutrina Vaishnava, apesar de considerar esse aspecto do
Divino, enfatiza o aspecto pessoal de Deus, pois só assim pode-se desenvolver um
relação estritamente pessoal com Deus. Paramatma ou Superalma é o Deus Todo-
Penetrante ou Onipresente, ciente, se isso for Seu desejo, da caída de uma mera
folha seca ao chão em qualquer parte de Sua criação. Ele está presente no coração
de todos. Ele é o Testemunha e o Sancionador. Para aqueles que são indiferentes à
171

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Sua presença, fazendo mal uso de seu livre-arbítrio, Ele simplesmente garante que
haja justiça na hora da colheita daquilo que foi semeado. Mas àqueles que refugiam-
se nEle, o Senhor no coração conduz a pessoa com segurança através do oceano
da existência.

O Deus Trancendente, conforme se descreve nas Escrituras, manifesta-se, por sua


vez, em diferentes formas— Rama, Krishna, Narayana, etc. Algumas dessas
manifestações de Deus vêm a este mundo e aqui exibem certas atividades (lilas)
cuja única finalidade é atrair as almas condicionadas para a realidade transcendental
eterna. Esses são chamados de avataras. Embora convivendo por um período de
tempo no seio da sociedade humana, esses avataras, como Rama e Krishna, não
estão sujeitos às leis da natureza material e suas formas são imateriais e divinas.

Embora possuindo múltiplas formas, todas são manifestações do Deus Uno, como já
dissemos. O devoto Vaishnava escolhe a forma de Deus que mais lhe inspire e,
então, desenvolve sua devoção baseado nos preceitos das Escrituras. Cada
manifestação de Deus tem características e humores diferentes e,
conseqüentemente, a forma de devoção também varia em termos de sentimento e
em seu aspecto formal e ritualístico.

Podemos classificar a devoção a Deus de duas formas: asvarya e madhurya. O


Deus no aspecto asvarya é o Deus Todo-Poderoso, o Criador, o Senhor com
opulências inconcebíveis. Ele é o Senhor Supremo Absoluto e diante dele o devoto é
uma ser insignificante. Essa magnitude de Deus inspira respeito profundo e até
temor. A devoção é solene, formal e ritualística. Já o aspecto madhurya permite
intimidade entre o devoto e Deus. No caso da devoção a Krishna, o devoto pode
desenvolver ambos os tipos de devoção. Caitanya Mahaprabhu foi um dos seres
iluminados desse mundo que revelaram a devoção em intimidade, e esse tipo de
devoção é dirigida a específicos aspectos de Krishna.

Dentre diferentes tipos de relações, essas três são as mais íntimas: amizade, amor
da mãe para o bebê e amor conjugal. O Senhor Krishna aceita esses três tipos de
relacionamentos amorosos, que devem ser, definitivamente, destituídos de qualquer
172

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

conotação material e só é atingido num estado de consciência pura. O


relacionamento amoroso conjugal é o mais rico e íntimo. Com base no princípio de
que “tudo vem de Deus,” isso também deve estar necessariamente em Deus.

Essas manifestações de Deus na categoria de Deus Transcendente Pessoal


possuem a contraparte feminina. A consorte de Krishna chama-se Radha, que é a
personificação de Sua energia interna de prazer. Conhecer e apreciar os
intercâmbios amorosos do Casal Supremo e desenvolver um sentimento e atitude
devocional puramente espiritual, constitui um dos aspectos mais confidenciais da
devoção religiosa chamada “Consciência de Krishna,” que nos foi revelada por Sri
Caitanya Mahaprabhu.

4. Textos sagrados

A cultura religiosa indiana é, sem dúvida, a mais fecunda em textos sagrados, e é


composta de centenas de textos. é dito que há cinco mil anos o conhecimento que
era transmitido por via oral começou a tomar forma escrita. Os textos são escritos
em sânscrito, considerada a língua original da humanidade. A escritura original
chama-se Veda, que significa “conhecimento.” Ao ser posto em linguagem escrita, o
Veda foi desmembrado em quatro: Rig, Yajur, Sama e Atharva. São escrituras
ritualísticas por excelência.

Outra classe de escrituras são os Upanishads, de número impreciso , mas


considera-se que existem 108 principais. São escrituras essencialmente filosóficas.

Existem, também, os Sutras, que são as referências dos principais sistemas


filosóficos. Entre eles, está o Vedanta-sutras, composto pelo sábio Vyasadeva, que
é o compilador da maioria desses textos sagrados.

Os livros de lei, como Manu-Samhita, formam outra categoria especial.

Há os épicos, Itihasas, cujos exemplos mais significativos são o famoso Ramayana,


que descreve a história do avatara Rama, e o não menos famoso Mahabharata, que
descreve a história da dinastia a qual pertencia o Senhor Krishna. Um dos capítulos
173

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

do Mahabharata é os ensinamentos de Krishna conhecido como Bhagavad-gita. O


famoso Bhagavad-gita é considerado como o mais conciso e sistemático livro de
religião, ética, filosofia e metafísica jamais escrito.

Outra importante classe literária são os Puranas, contando dezoito ao todo. Os


Puranas narram histórias dos avataras e de grandes santos aliadas a ensinamentos
filosóficos profundos. O mais famoso e importante Purana chama-se Srimad-
Bhagavatam, escrito pelo compilador dos Vedas, Vyasadeva. A maior parte das
histórias sobre a passagem do Senhor Krishna por esse mundo estão descritas
nesse livro. Essa obra está publicada em português em dezoito volumes.

Além dessas categorias de literatura sagrada existem algumas outras que não cabe
aqui serem descritas por questão de concisão.

No caso da Consciência de Krishna, apesar de todas serem fontes de referência, as


escrituras básicas que definem a doutrina são as seguintes: Bhagavad-gita, Srimad-
Bhagavatam, Sri Isha Upanishad, a biografia de Caitanya Mahaprabhu chamada Sri
Caitanya-charitamrta,” e outras obras de autores da linha.

5. Ritos

A Tradição Vaishnava é caracterizada pelo uso de imagens, também chamadas


murtis ou deidades, para a adoração, seja no templo ou privadamente. Essas formas
de diferentes aspectos da Divindade, como Krishna, Rama, Vishnu, Nrsimha, etc.,
são detalhadamente descritos nas Escrituras. Adorar a Deus através de imagens é,
muitas vezes tido como idolatria. Contudo a diferença entre a idolatria e a adoração
das deidades é que, no primeiro caso, concebe-se uma forma e ritual para se adorar
a um Deus imaginário, enquanto que no segundo caso, segue-se estritamente o
procedimento estabelecido nas Escrituras para esse fim, procedimentos esses
incrivelmente elaborados, exigindo muitos cuidados e um especial estado de
consciência para lidar com os objetos de adoração. A idéia subjacente dessa forma
de adoração é que Deus está presente naquela forma particular. Ele é Onipresente.
Estando presente em todo lugar, Ele, certamente, está presente na deidade,
principalmente, sendo considerado o fato de que essa imagem está sendo cuidada e
174

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

venerada com consciência espiritual. Deus é invisível a nossos olhos, mas, por Sua
misericórdia, torna-se accessível para aceitar nossa adoração dentro deste mundo.
Devido ao ritual regulado e constante e a atitude devocional, tanto dos sacerdotes
quanto dos devotos em geral, a deidade torna-se um foco de energia espiritual
poderosíssima, bálsamo capaz de aliviar nossos sofrimentos.

Num templo Hare Krishna, a primeira cerimônia começa bem cedo, às quatro e trinta
da madrugada. A idéia é que, ao acordar, toma-se logo um banho e, imediatamente,
como sendo a primeira coisa de cada dia do devoto, ele recepciona o Senhor no
templo. Essa cerimônia, que irá também acontecer em certas horas ao longo do dia,
chama-se arati. Oferece-se, no altar, preparações comestíveis especificamente
elaboradas para as diferentes horas do dia, e, também, outros artigos como incenso,
flores com perfume, lamparina e outros. Cada arati tem seu canto específico e
devem acontecer em horários estritamente estabelecidos.

O ritual é uma maneira formal e externa de oferecer nossa devoção a Deus. Ele não
é um fim em si, mas um instrumento a nosso dispor para elevarmos nossa
consciência material, normalmente aferrada nas atividades mundanas do dia-a-dia, à
consciência de Deus. A idéia da oferenda é que o devoto aproxima-se de Deus não
somente para pedir e pedir, mas para oferecer nosso amor. Deus não precisa de
nada, mas temos que demonstrar nosso amor a Ele, aproximando-se dEle com uma
atitude adequada. Quando o amor a Deus já é parte da natureza do devoto, o ritual
é, inclusive, dispensável. Sua vida, na totalidade, já é um oferecimento de amor a
Deus.

Existe, também, o ritual de iniciação que é a formalização da conexão do devoto


com a linha de conhecimento, que descende de mestre em mestre até tempos
imemoriais. O devoto faz votos (explicaremos adiante) e torna-se um representante
da Tradição. Nessa ocasião é feita uma cerimônia chamada agni-hotra, sacrifício de
fogo, que visa a purificação e espiritualização.
175

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

6. Principais celebrações

a) Sri Krishna Janmastami— aparecimento do Senhor Krishna nesse mundo.


(Astami significa oitavo, isso quer dizer o oitavo dia da lua do mês de Hrsikesha,
Agosto-Setembro. O calendário védico é lunar e não solar como o do Ocidente.
Devido a isso as datas mudam de ano para ano, mas são sempre comemoradas na
exata fase da lua do dia original.)

b) Radhastami— aparecimento da consorte do Senhor Krishna, Sri Radha. (Quinze


dias depois do Janmastami).

c) Goura-Purnima— Aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu. (Purnima significa


Lua cheia; em Fevereiro-Março)

d) Aparecimento e desaparecimento do fundador da Sociedade Internacional da


Consciência de Krishna, Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

Essas são as celebrações mais importantes. Além dessas, existem várias outras
celebrações referentes a diferentes aspectos das divindades e dos mestres
espirituais da linha. Nessas comemorações são, em diversos casos, prescritos jejum
numa determinada parte do dia— às vezes até ao meio-dia, e outras vezes até o por
do sol ou nascer da lua.

Os devotos, observam, duas vezes ao mês, no ekadasi, décimo-primeiro dia da lua,


jejum de grãos e cereais. Alguns fazem, inclusive, jejum completo. é dito que esse
específico dia é especialmente auspicioso para o cultivo de vida espiritual.

7. Organização hierárquica ou estrutura da instituição

Como já foi dito, a Sociedade Internacional da Consciência de Krishna (ISKCON) foi


fundada em 1966 por Srila Prabhupada. Ele é o acharya fundador. Acharya significa
“aquele que ensina pelo próprio exemplo.” Prabhupada faleceu em 1977. Ele não
instituiu um sucessor. Para dirigir a Sociedade, Prabhupada formou um Corpo
Governamental (GBC). Como a Sociedade está presente em muitos países, cada
176

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

área geográfica tem um, ou em certos casos, mais de um, representante do GBC.
Os membros do GBC certificam se as coisas seguem na linha, sem desvios, e, por
serem devotos experientes, dão assessoria e aconselhamento.

A administração em si é descentralizada. Não existe uma sede administrativa


nacional nem mundial. Cada projeto desenvolve-se com o potencial local.
Aparentemente isso pode dar a noção de uma certa fragilidade institucional, mas é a
forma de cada projeto adquirir sua própria identidade e crescer em proporção a sua
maturidade.

Os projetos da ISKCON são, basicamente, de dois tipos: a) os templos e centros


culturais urbanos, e b) as comunidades rurais. Existem dois tipos de devotos: os
monges dedicados exclusivamente à instituição, vivendo em comunidades, e a
congregação, que freqüenta o templo e oferece algum serviço voluntário.

Os devotos recebem uma primeira iniciação quando, já familiarizado com a doutrina,


estão aptos a seguir os votos sob a guia de um mestre espiritual. A segunda
iniciação se dá quando existe mais amadurecimento e o devoto está qualificado para
funções sacerdotais. Tanto internos quanto externos, homem ou mulher, casado ou
solteiro, qualquer um pode receber a iniciação.

Uma terceira iniciação, de grau mais elevado, é uma prerrogativa para aqueles que
estão livres do envolvimento familiar, seja por opção pessoal ou por idade. A
qualificação é ter atingido a maestria no processo e total absorção na causa. Esta é
a ordem renunciada ou sannyasi.

Um outro tipo de liderança é a liderança espiritual. Um devoto maduro e


comprovadamente experiente em conhecimento das escrituras e no processo
devocional é indicado para servir a sociedade como guru ou mestre espiritual. Sua
função é liderar espiritualmente a congregação dos devotos e dar abrigo espiritual,
orientação e iniciação aos mais neófitos. O mestre espiritual pode ser da ordem de
vida renunciada ou, mesmo, chefe de família.
177

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

8. Espiritualidades: Métodos e técnicas utilizados

Existem certos aspectos da Consciência de Krishna que fogem às características


normalmente vistas em certas religiões. Isto porque a Consciência de Krishna, além
do aspecto religioso, propõe-se em oferecer um processo de auto-aperfeiçoamento
ou, como é dito também, auto-realização. A palavra em sânscrito que denota isso é
yoga. Existem na tradição filosófica-religiosa da índia diferentes processos de yoga.
O yoga da Consciência de Krishna chama-se bhakti-yoga, o yoga da devoção, que
consiste no processo de tirar o foco de consciência do envolvimento material e
mundano e transferi-lo a uma dimensão espiritual.. Em outras palavras, consiste em
trabalhar a energia de amor, que todos possuem no coração mas, normalmente,
está enfocada nas coisas e relações materiais, e canaliza-la e enfoca-la em Deus.

Como já citamos, Caitanya Mahaprabhu sugere o método da meditação e canto do


maha-mantra Hare Krishna, que nas palavras dos textos sagrados, é a panacéia
para a situação espiritual doentia do homem de nossa época. O maha-mantra—
Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama,
Rama Rama, Hare Hare— é composto de três palavras que estão no caso vocativo:
Hare refere-se à energia divina, Krishna à Personalidade Suprema mais atrativa e
Rama à fonte original do prazer, Deus. Este mantra é encontrado num escritura
chamada Kalisantarana Upanishad.

Os devotos estão sempre sintonizados com o mantra, que é um som espiritual puro
destituído de qualquer conotação secular. Sua, vibração sonora ou mental, carrega
em si uma série de potências espirituais que agem a nível interno: purifica e acalma
a mente, abre os canais da consciência para a espiritualidade e conecta o ser mortal
com a Divindade. O maha-mantra Hare Krishna, especificamente, faz manifestar no
coração a energia espiritual bhakti, cuja essência é a devoção e o puro amor a
Deus.
As duas formas de se praticar o mantra são: meditação individual (japa) e/ou canto
congregacional (kirtana).
178

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

9. Espaços sagrados: Templos, lugares de peregrinação

O território indiano é repleto de templos antigos e lugares sagrados de peregrinação.


Todos possuem uma tradição milenar. Por séculos e séculos milhões de pessoas
visitam esses lugares e procuram sintonizar-se com a energia espiritual que deles
emana. Aliás, pode-se afirmar que os mais secretos mistérios do planeta estão
encerrados nas quatro paredes de muitos templos da índia. Lá aconteceram um sem
número de milagres e manifestações supra-naturais. Consideremos, por exemplo,
um templo existente há milhares de anos, e ao longo de todo esse tempo, um
minucioso ritual vem acontecendo sistematicamente dia após dia. Qualquer pessoa
pode sentir a sacralização do local. A energia espiritual fica presente de forma
tangível.

Com respeito ao “movimento Hare Krishna”, são os seguintes os locais mais


sagrados na índia:

a) Vrindávana— Local onde Krishna viveu Sua infância e adolescência. Situa-se a


cento e cinqüenta quilômetros ao sul da capital Nova Delhi.

b) Mayapur— Local de aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu. Situa-se a mais


ou menos duzentos quilômetros ao norte de Calcutá, Bengala Ocidental.

No Brasil, o templo mais importante situa-se na Comunidade Nova Gokula, no


município de Pindamonhangaba, São Paulo.

10. Limites éticos: Principais mandamentos, regras de conduta e valores


humanos que apregoa.

Na iniciação, o devoto faz votos de seguir certos princípios que irão nortear sua vida
espiritual daí para frente. Uma observação quanto a isso é que esses princípios não
devem ser considerados como meras “proibições.” Esses princípios estão
diretamente relacionados com a prática da bhakti-yoga, e visam possibilitar a
elevação da consciência individual até ao estado de “consciência de Krishna” ou
consciência de Deus. é, portanto, uma prática de auto-realização e o devoto que
179

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

aspira auto-aperfeiçoar-se assume esses votos consciente e voluntariamente. Os


quatros princípios regulativos básicos são:

a) Não comer carne, peixe e ovos— quer dizer, estrito vegetarianismo. Este princípio
baseia-se na misericórdia para com os demais seres vivos e no conceito de ahimsa,
não violência. Não devemos cometer violência desnecessária. Uma grande carga de
violência deste mundo pode ser evitada ao adotarmos uma dieta vegetariana, que,
além do mais é muito mais saudável e natural.

b) Não intoxicar-se— princípio de austeridade. A pessoa que busca a auto-


realização não deve usar substancias que provocam alteração no estado de
consciência. Não deve fugir à realidade e deve, com paciência e determinação,
trabalhar sua consciência no sentido de purificação e expansão.

c) Não praticar jogos de azar— princípio da veracidade. A expectativa de ganho fácil


nos jogos provocam agitação na mente e abre espaço para o caráter dúbio.

d) Sexo destinado à procriação— princípio de limpeza. A função natural do sexo é a


procriação. O fato do sexo produzir prazer sensual não deve ser o sinal verde para
explora-lo irrestritamente.

Um outro voto que o devoto faz na iniciação é determinar-se em praticar o processo


de meditação, japa, diariamente. Essa meditação prescreve a repetição em voz
baixa do maha-mantra Hare Krishna. Durante essa meditação, manuseia-se um
rosário de 108 contas, conta por conta, pelo menos 16 vezes, o que representa 1728
repetições do mantra. Essa prática deve ser feita bem cedo, antes do sol nascer, e
dura aproximadamente hora e meia.

11. Vida além da morte: Que resposta norteadora do sentido da vida além
morte representa?

Um dos conceitos fundamentais do conhecimento védico é que, primeiro, a vida é


eterna e, segundo, tudo nesse mundo é cíclico. O princípio da vida eterna está
relacionado com a alma, enquanto que o princípio cíclico refere-se ao corpo. Para a
180

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

alma não faz sentido as designações do corpo: masculino/feminino, preto/branco,


brasileiro ou chinês, etc. Essas são designações circunstanciais. Enquanto a alma
não atingir seu estado natural de pureza e consciência plena e, assim estabelecer-
se definitivamente no reino absoluto de Deus, onde a existência é eterna, a
consciência é total e é plena em bem aventurança, ela, a alma, tem que estar
associada a um corpo material para, gradualmente, evoluir e encontrar sua
verdadeira natureza. Isso requer muitas vidas. Os grandes obstáculos para o
aperfeiçoamento da alma neste mundo são: apegos materiais, a exploração do
prazer sensual e ignorância. Aceitamos, portanto, o conceito de “transmigração da
alma”. Evitamos o termo “reencarnação” para não incorrer nas muitas confusões e
mal entendidos que este termo geralmente tem acarretado.

Outro princípio que está diretamente relacionado a esse tema é o de “causa e efeito”
ou “ação e reação.” Consideramos que “colhemos o que semeamos.” é o que o
conhecimento védico chama de “lei do karma.” Essa vida atual já é, efetivamente,
uma colheita; e agora temos a oportunidade para semear para colher na próxima
safra. A morte marca o fim do ciclo em um corpo específico. As impressões e as
tendências de toda a vida ficam registradas na consciência. Essas impressões na
consciência irão determinar a próxima situação de vida, afim de que a alma tenha
oportunidade de retificar-se dos erros do passado e continuar sua trajetória rumo à
perfeição. Atingindo o estado de “consciência de Deus”, a alma livra-se do
enredamento material e passa a existir em seu habitat natural, face a face com
Deus.

Na doutrina Vaishnava, céu e inferno são situações temporárias. Boas ações e vida
piedosa (mas, em consciência material,) produzem, como reação, a transferência da
pessoa, após a morte, para regiões celestiais, onde irá desfrutar de seus méritos.
Quando tais méritos esgotam-se, ela volta, outra vez, a esse plano de existência
terrena, que é a região onde o karma é produzido.

Da mesma forma, atividades pecaminosas, contrárias às leis de Deus, geram


conseqüente punição. Uma vez expiada, chances para retificação são oferecidas
repetidamente. é uma fato que livrar-se da condição de pecado é realmente muito
181

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

difícil, pois a tendência é, normalmente, degradar-se cada vez mais. Somente


personalidades santas e divinas, por onde flui a misericórdia de Deus, tem o poder
de livrar a alma condicionada dessa condição.

A liberação permanente e o ingresso definitivo no reino de Deus se dá quando a


pessoa atinge a consciência de Deus e encerra-se o ciclo de ações e reações.
Rendição a Deus é condição sine qua non.

12. Cosmogênese: Como sua Tradição explica a origem da vida e do Universo.

Aqui, também, está presente o caráter cíclico da natureza material. Esse mundo é
criado, permanece por certo tempo e é aniquilado; depois de um certo período, é
criado novamente, e assim por diante, em ciclos cósmicos que se repetem
indefinidamente.

Tudo referente a Deus é eterno, conseqüentemente, Suas energias são, igualmente,


eternas. Não existe, portanto, a idéia de criação ex nihilo, isto é, “do nada”, pois a
natureza material, sendo eterna, não tem princípio nem fim. Ela é, não obstante,
temporária— aparece e desaparece, alternadamente. Isto significa que a criação
material tem dois estados: manifestado e não manifestado (imaterial). No estado não
manifestado, toda essa vasta criação material perde sua característica de “massa” e
reduz-se ao estado energético ou irradiação. Em suma, a matéria vem de Deus e, a
seguir, volta para Deus, para, novamente, manifestar-se, manter-se por algum
tempo, para, a seguir, ser aniquilada, num ciclo sem fim. Em linguagem dos textos
sagrados, esta é a eterna “respiração de Deus.” Ao “exalar”, os universos materiais
manifestam-se, e ao “inspirar”, a matéria volta ao estado imaterial não manifesto, e
até o próximo ciclo de manifestação, permanece “em Deus.”

Outra informação obtida nos textos sagrados é que existem dois estágios na criação:
criação primária e secundária. Na criação primária são produzidos os elementos
materiais e na criação secundária as formas são produzidas. Por exemplo, para a
criação de uma casa, precisamos de materiais— tijolo, cimento, areia, etc. Esta seria
a criação primária. A partir daí, o engenheiro usa esse material para criar a forma da
casa (criação secundária).
182

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Na manifestação do mundo, a criação primária acontece a partir da substância


material total, que encontra-se no estado energético ou não manifesto. Essa
substância vai se desdobrando, no sentido do mais sutil para o físico, sendo, assim,
gradualmente manifestados a multiplicidade dos elementos e fenômenos materiais.
Nesse desdobramento, o fator tempo manifesta-se, a seguir, os gunas (qualidades
da matéria, a saber, impulso criativo, destrutivo e equilíbrio), as energias sutis da
matéria (mente, intelecto, etc.), a capacidade da alma interagir no meio ambiente
material (sentidos) e os cinco elementos físicos: éter, ar, fogo, água e terra
(elementos sólidos), tudo o mais. Essa é, então, a criação primária, que ocorre
sistemática e automaticamente pela vontade divina.

O seguinte passo, é a criação secundária das formas deste mundo— desde os seres
vivos unicelulares, reino vegetal, reino animal, seres humanos e culminando nas
hierarquias celestiais. Essas são as entidades com vida. Paralelamente, existem as
formas insensíveis, desde o grão de areia às galáxias. O responsável por essa fase
da criação é a entidade semi-divina Brahma, que junto com Vishnu e Shiva, formam
a trindade responsável pela criação, manutenção e aniquilação da manifestação
cósmica.

13. Que ações de solidariedade e de construção da paz sua Tradição Religiosa


tem promovido em nossa comunidade e no mundo?

O “movimento Hare Krishna” está sempre presente, tanto aqui no Brasil quanto em
qualquer parte do mundo, em qualquer iniciativa para promover a paz nesse mundo.
Não existe nenhum fator que faça restringir o diálogo inter-religioso e a participação
lado a lado com outros grupos que comungam os mesmos ideais.

Um programa, no entanto, vem sendo desenvolvido pelo movimento com incrível


sucesso. Trata-se do “Food for Life” (Alimentos para vida). Este programa mundial
está provendo alimentação para milhões de pessoas. Tem estado presente nas
grande catástrofes, como as enchentes da Bengala e Bangladesh, terremoto no
Gujarat, e outros acontecimentos sinistros pelo mundo. Outra grande atuação do
“Food for Life” tem sido em diversos conflitos ocorridos recentemente. Durante a
183

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

guerra na Iugoslávia, em Sarajevo, Kosovo, etc., assim como em várias repúblicas


que antes eram partes da União Soviética, como Chechenia, Geórgia, etc., os
devotos locais arriscaram suas vidas, em plena área dos bombardeios, para levar
alimentos para uma população totalmente desamparada e dependente,
exclusivamente, desse alimento. Foi registrado que as milícias de ambos os lados
respeitavam sobremaneira esse serviço humanitário e poupavam as instalações dos
devotos de bombardeios ocasionais.

Srila Prabhupada, o querido fundador do movimento, expressou um desejo que, hoje


em dia, os devotos tentam por em prática. Ele disse que num diâmetro de pelo
menos dez milhas em volta de um templo de Krishna não deveria ter a possibilidade
de fome. Srila Prabhupada também escreveu um livro que vem sendo amplamente
distribuído, intitulado “A Fórmula da Paz.”

Disponível em: http://www.pswami.com.br/vaishnava/raizes.html

Acessado em: 02/06/2015


184

Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Transcrição de Palestra de Dhanvantari Swami

Proferida em: 18/12/2015, Campina Grande/PB


185

Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

por Dhanvantari Swami Maharaj


Palestra proferida em 18/12/2015 no Templo da ISKCON Paraíba, situado em Campina
Grande, na ocasião de iniciações espirituais. Transcrição por Gadadhara Pandita Das

Hare Krishna!

Então, nós vamos fazer hoje uma cerimônia de iniciação múltipla: primeira
iniciação e também segunda iniciação. Além disso, nós vamos fazer uma pré-
iniciação. É que o nosso Movimento tem crescido e se expandido de uma forma
congregacional. Há alguns anos atrás, a forma mais comum do nosso Movimento
era comunitária, então nós tínhamos muitas comunidades urbanas, que eram
representadas por um templo ou algum conjunto de residências em torno do templo,
ou comunidades Rurais, que eram, e ainda são, comunidades onde cuidamos da
terra protegemos as vacas e reunimos as famílias para viver nessa comunidade.

Hoje o Movimento tem uma característica mais expansiva, mais


congregacional, e interage com a sociedade de uma maneira mais profunda,
inserindo-se mesmo dentro do contexto da sociedade. Hoje nós podemos encontrar
devotos e devotas, e famílias, crianças, jovens, estudantes, adultos já, jovens
adultos, estudando, trabalhando e vivendo, inseridos perfeitamente no ambiente
social comum, usando roupas comuns e se comportando externamente como
qualquer outra pessoa. Não dá para se distinguir, assim, por aspectos externos, hoje
em dia, quem é um devoto Hare Krishna e quem não é um devoto Hare Krishna.
Então por causa disso o Movimento tem essa característica mais congregacional.

Este templo, por exemplo, é chamado de templo congregacional, o que indica


que é um templo que atende a uma congregação, que é organizado para uma
congregação. Não tem ashramas. Se vocês procurarem ver, o templo não tem nem
paredes nem portas, muito menos ashramas, que são aposentos residenciais. O
186

Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

templo tem os aposentos das Deidades, tem a Vyasa-asana de Prabhupada, a sala


do templo, onde se lê o Bhagavatam e onde se faz kirtan, e só. E este templo é
então mantido, sustentado e ativado pelos membros da congregação.

Então por isso o Movimento teve que desenvolver uma habilidade nova, que
não era tão comum na atividade anterior comunitária, que é olhar para o outro.
Interessante, né? Porque quando trabalhávamos, vivíamos juntos em comunidade,
todos éramos um só, praticamente, e todos pensávamos e agíamos como numa
estrutura muito simples. Tínhamos um único objetivo, que era a distribuição dos
livros de Prabhupada e cuidar da vida espiritual pessoal e pronto, não tínhamos
outras responsabilidades ou obrigações perante a sociedade. Apenas íamos até a
sociedade, dávamos a nossa mensagem e retornávamos para a nossa comunidade.
Inclusive, esse programa era chamado de sanduíche: de manhã todo mundo
acordava, ia para os programas espirituais, depois, durante o dia, saía às ruas para
distribuir os livros, e à noite retornava para onde? Para os programas espirituais.
Então os devotos vinham para o Sundara-Arati, eles liam o Bhagavad-gita, e depois
iam dormir. E no dia seguinte, de novo o sanduíche.

Então, com o crescimento do Movimento, que começou, a primeira iniciativa


de expansão foi, com as comunidades rurais, onde as famílias se estabeleceram,
onde tivemos escolas, e temos a atenção mais voltada para a nossa organização
social mais original, o sistema Varnashram. E das comunidades rurais fizemos o
retorno à vida urbana, e então nos inserimos na sociedade, que é o estágio no qual
nos encontramos hoje. No estágio em que nos encontramos hoje, ainda
encontramos, digamos assim, muitas falhas organizacionais sob um ponto de vista
social, e temos a esperança de que, com o passar do tempo, a gente se reorganize
e se acomode, principalmente fazendo valer o sistema Varnashram como ele é.

O sistema Varnashram é o sistema de organização recomendado pela


literatura védica, que diz que a sociedade deve ser organizada de acordo com dois
grupos de quatro divisões: quatro divisões são para o trabalho, ou seja, vocacionais,
e quatro divisões são para a vida espiritual. Também se analisa isso como uma
organização psicofísica. A física seria a organização vocacional, e a psíquica, a
187

Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

organização para o desenvolvimento espiritual. Nós não temos esse sistema


completamente instalado no nosso Movimento; temos rudimentos desse sistema
organizacional, mas não temos o sistema instalado completamente. Então a nossa
meta, ou o que imaginamos, é que, com o decorrer das próximas décadas, das
próximas gerações, nós possamos nos organizar assim. Claro que nós temos
brahmacaris, nós temos grhastas, temos vanaprasthas - no Brasil, temos apenas um
formalmente iniciado -, e temos sannyasis, que aqui no Brasil temos quatro iniciados.
Então somos uma sociedade que está tentando se organizar de acordo com os
ashrams.

E com os varnas, da mesma forma. Os varnas são: brahmanas, ksatryias,


vaisyas e sudras. Brahmanas são os sacerdotes, os intelectuais, os professores.
Ksatryias são os administradores, que cuidam dos diferentes níveis de organização.
Vaisyas são os mantenedores da sociedade, que produzem na agricultura, que
cuidam das vacas e que cuidam do comércio também, que mexem com o eixo da
economia social. Esses são os vaisyas. E os sudras, que são a classe que coopera,
a classe de operários, que trabalham com as diferentes outras classes. Não há uma
superioridade como no capitalismo, uma superioridade em termos de capacidade de
consumo, entre os brahmanas, ksatriyas, vaisyas e sudras. Nós vemos que os
sudras, as pessoas que cooperam com o sistema social, podem ser muito ricas, até
muito mais do que os brahmanas. Na verdade, os brahmanas são considerados
mais elevados porque são a classe sacerdotal, a classe religiosa e tal, mas em geral
eles são os menos abastados economicamente. Mas eles são considerados
superiores por causa do conhecimento e da renúncia, do conhecimento que têm e
da capacidade de renunciar aos privilégios do gozo dos sentidos. Os ksatrias, como
organizadores, estão em segundo lugar, os administradores. Os vaisyas estariam
um terceiro lugar e os sudras, em quarto lugar.

Naturalmente que esse sistema original foi deturpado na Índia, se tornou o


sistema de castas, muito massacrado pelos britânicos quando dominaram a Índia, e
realmente, com várias razões, porque, com o desvio do conceito original de
organização social, os britânicos acusavam o sistema de ser opressor para as
classes inferiores, de ser discriminativo, dentre muitas outras coisas. Abusador, até.
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Mas o sistema original, que não tem essas características deturpadas, é um sistema
natural. Imaginem que as quatro divisões, ou as quatro propostas vocacionais, se
referem: aos intelectuais, aqueles que têm as habilidades intelectuais, como
professores, sacerdotes, etc.; a outra seria de administradores, organizadores,
líderes de um modo geral, os líderes da sociedade; a outra seria de vaisyas,
produtores ou comerciantes; e a outra seria de operários colaboradores. Então
observem que essas quatro divisões são encontradas praticamente em todos os
grupos sociais, em todas as sociedades, ainda hoje em dia. Então não é um sistema
artificial de ser implantado, é, de certa forma, natural.

Porque o nosso Movimento está tendendo para a congregação, precisa


desenvolver certas habilidades. A principal habilidade que precisamos desenvolver,
que não está plenamente desenvolvido ainda, e que nós estamos muito atenciosos
para com isso, é o cuidado às pessoas. O cuidado às pessoas em geral, que nós
chamávamos, ou ainda chamamos, de pregação - que é identificar as almas
espirituais que estão corporificadas, condicionadas ao mundo material e que não
têm o conhecimento espiritual, e precisam ser cuidadas, precisam receber o devido
cuidado, - então nós procuramos essas pessoas, nós apresentamos o nosso
Movimento através dos livros de Prabhupada, através dos programas que fazemos
no templo, ou através de festivais, de nossa música, nossa arte, nossa comida, nós
fazemos a apresentação do Movimento para essas pessoas com o objetivo de atrair
essas pessoas, atrair a atenção dessas pessoas para algo superior, que tem a ver
com sua própria identidade, com sua própria natureza interna. Então essa, o que a
gente chamou de, pregação seria cuidado às pessoas em geral. E a outra linha de
cuidado é cuidado aos próprios devotos, a essas pessoas que se atraem, nos
visitam, aceitam compromissos, e então se tornam devotos, e agora precisam ser
cuidadas, também. Então é a outra linha de cuidado, que é diretamente cuidado aos
devotos. E aí, através de cuidar das pessoas, o Movimento apresenta a sua
mensagem, e as pessoas se identificam, e então participam de acordo com a sua
capacidade.

Olhando para a congregação, e contemplando a congregação, nós vemos


características muito interessantes. Ao deixar o sistema comunitário como o sistema
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

predominante, e passar para o sistema congregacional como o mais praticado, o


Movimento se deparou com uma situação bem interessante, que é a falta de
dedicação exclusiva. Porque aqueles que vivem nas comunidades, eles dão
dedicação exclusiva, não fazem absolutamente mais nada, a não ser se dedicar ao
Movimento. Agora, aqueles que são membros da congregação, que estão inseridos
na sociedade, ah!, esses têm uma agenda completamente lotada, uma lista de
atividades pra fazer, compromissos, responsabilidades, têm que bater ponto, têm
que pagar um monte de impostos, têm que fazer um monte de coisas dentro da
sociedade, não é? Então eles não dão dedicação exclusiva, ou seja, o tempo que
eles dispõem para viver a vida tem que ser dividido com as suas necessidades
particulares, como um cidadão inserido no contexto da sociedade, e as atividades
missionárias, que são a inclinação vocacional espiritual de cada um deles. Então, de
repente o Movimento abriu para a congregação e se deparou com essa realidade: os
nossos devotos não têm tempo. Não têm tempo. Então eles não têm tempo pra
muitas coisas; por isso, nessa cerimônia, nós temos quatro devotos que já
encontraram tempo, e temos duas devotas, que ainda não encontraram o devido
tempo (risos), por isso nós vamos fazer a cerimônia em duas partes: a parte já
formal, que é chamada de iniciação espiritual, e a parte de pré-iniciação.

Na iniciação nós recebemos o nome; recebemos a mala, japa-mala [i.e.


contas de oração], para cantar os mantras; fazemos votos, dizemos os votos aos
quais nós prometemos; aí recebemos o nome espiritual...; fazemos a cerimônia de
Fogo, oferecemos no fogo os grãos e cereais em sacrifício, e... estamos prontos na
primeira iniciação para seguir o nosso caminho, agora com compromisso;
responsabilidade e compromisso.

Na pré-iniciação, as candidatas aqui, muito conhecidas porque têm anos e


anos e anos servindo ao Movimento, vão receber o nome espiritual, mas elas não
vão fazer ainda os votos, não vão oferecer os grãos, não vão também participar da
cerimônia, naturalmente, como normalmente participariam; isso elas vão fazer em
outra etapa, mais adiante. No projeto de desenvolvimento congregacional Bhakti-
vriksha há várias etapas em que uma pessoa pode abordar o Movimento, em
diferentes fases. Uma delas é Sradhavan, ou seja, quando a pessoa começa a
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

cantar um número reduzido de voltas. Elas já passaram por todas essas fases. Só
para falar destas duas devotas, elas são de Salvador, e a comunidade de Salvador
está bem representada aqui hoje, porque o Munisvara está aqui com a família, mãe
Ananta-virya e Harini, e a sobrinha também, Mariana, e o Sri Vaishnava, que vai ser
iniciado. Então a comunidade de Salvador tem anos e anos e anos dependendo de
uma maneira muito direta do serviço dessas duas devotas. Áurea, que entrou muito
novinha ainda, adolescente ainda, fazendo vestibular, e desde então se dedicou com
muita entrega a tudo dentro do Movimento, e começou a ajudar no Ratha-yatra, e
Madalena também, com o Ratha-yatra, fazendo e realizando o Ratha-yatra
anualmente, construindo o carro do Ratha-yatra, organizando toda a festa, decidindo
que tipo de prasada seria distribuída, como acondicionar a prasada - me lembro da
primeira vez em que Madalena inventou de colocar a prasada dentro de umas
caixinhas, para distribuir no ponto mais importante da cidade de Salvador, onde o
Ratha-yatra acontecia - com toda a inteligência, e fazendo contatos com grupos de
músicas populares da Bahia, para poder tornar o festival interessante. Áurea, do
mesmo jeito, organizando tudo, recebendo todos os convidados ilustres, que vinham
de todas as partes, encontrando hospedagem para eles, alimentação, e tudo o mais.
Então estas duas devotas têm uma participação extremamente importante na
comunidade de Salvador.

Além disso, Áurea ‘tomou’ várias responsabilidades nacionais, foi secretária


do Colegiado Governamental da ISKCON, nossa Sociedade, no Brasil todo, e várias
incumbências, assim. Agora mora em Recife, de novo está ajudando, na legalização
da Sociedade, que ‘tava com algumas pendências, lutando pra isso, fazendo parte
dos conselhos de lá, da ISKCON de Recife, agora...

Então, são devotas muito ativas, elas só não são iniciadas. A gente nem
lembra que elas não são iniciadas. Madalena, em particular, desenvolveu um projeto
de conquistar um terreno e então construir um templo; levar a Deidade para esse
templo, a Deidade de Salvador; sair de uma casa alugada há mais de 30 anos, com
um aluguel complexo; e ela conseguiu conquistar o terreno, conseguiu convencer
vários devotos a comprar terrenos vizinhos, fez um condomínio - na verdade, uma
vila, porque não tem uma organização de condomínio -, fez uma vila com o templo
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

centralizado, construiu o templo. As Deidades ficaram um ano fora de Salvador. Um


ano depois ela lutou arduamente para trazer as Deidades de volta, conseguiu trazer
as Deidades de volta para Salvador, lutou para conseguir pujari, para poder dar
alguma ajuda de custo pros pujaris. Foi uma luta, e ainda está sendo. Na semana
passada ela estava colocando o forro no templo, na parte de baixo, que é a parte
mais social do templo. É um trabalho de sannyasi. [i.e. ordem renunciada]

Na verdade, o que Madalena, e mesmo Áurea, o que elas duas têm feito para
o Movimento é trabalho de pessoas que fazem dedicação exclusiva, como os
sannyasis, que estão sempre dispostos a renunciar aos seus interesses pessoais em
benefício da missão de Prabhupada. O que elas fazem é nesse nível. Eu posso dizer
porque estou na ordem de sannyasi há mais de 30 anos, e sei como funcionam os
sannyasis, e sei como elas funcionaram até agora. Então posso dizer que elas têm o
mesmo espírito. E o que Prabhupada dizia? Prabhupada chamava de “grhasta-
sannyasi”, ele usava essa expressão; usava a expressão também “brahmacari-
sannyasi”, e “grhasta-sannyasi”... e também usava grhasta-brahmacari. Prabhupada
reconhecia a virtude humana acima das denominações sociais. Ele via o indivíduo, e
esse é o exercício que nós estamos tentando fazer hoje.

Nessa tentativa de ver o indivíduo, de compreender as limitações do


indivíduo, eu convidei as duas para virem receber essa pré-iniciação, com o nome
espiritual, e depois fazerem as outras etapas da iniciação, como um reconhecimento.
É muito emocionante ver devotas tão estáveis, devotas tão dedicadas, capazes de
renunciar a seus interesses pessoais e encontrar tempo na agenda para poder
servir. É muito difícil, e elas conseguem encontrar tempo na agenda para servir e ser
úteis no desenvolvimento da missão de Prabhupada. Isso seria a pré-iniciação – eu
tenho que explicar isso muito rápido, pois temos devotos muito experientes aqui, e
talvez nem todos tenham visto ainda uma pré-iniciação. Essa é uma pré-iniciação, já
há muito tempo feita por Jayapataka Maharaj, e outros devotos trabalhando no
sistema Bhakti-Vrikshna, e tem sido muito recomendado voltar os olhos para os
devotos. Então eu quis fazer isso como uma homenagem minha, de ordem pessoal,
e também o reconhecimento da nossa ISKCON para o trabalho que vocês fazem,
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

vêm fazendo, e que certamente continuarão a fazer, porque dá pra ver que já faz
parte da vida de vocês viverem essa experiência missionária.

A parte formal, tradicional, mais conhecida, nós temos também primeiras


iniciações e segundas iniciações. Também há uma situação especial: por exemplo, o
Gokula-rañjana, o Bhakta Paulo de Fortaleza, tão querido, ele já recebeu o mantra
Gayatri e já recebeu o cordão de “segundo nascimento”, e já foi treinado até para o
serviço de pujari, já começou a fazer o serviço de pujari. Mas agora ele está na
cerimônia para formalizar, completar também a etapa, como se tivesse sido pré-
iniciado e agora vem completar a iniciação; a segunda iniciação do Gokula-rañjana
se completa agora. Já o Sañjaya vai receber a segunda iniciação, e também vai vir
passar uma temporada aqui. Ele é professor em Natal, um devoto muito querido,
respeitado, fez o curso Bhakti Shastri com a gente, e ele vai vir passar uma
temporada aqui, também ajudando no serviço de pujari.

Rômulo, que é de Juiz de Fora, Minas Gerais, está aqui também, e ele está
bem dentro do padrão comum de uma iniciação; ele vai receber a primeira iniciação,
onde vai receber o nome espiritual, vai receber a japa, vai fazer os votos, e também
vai participar da cerimônia; então sai completo daqui hoje, ele recebe o pacote
completo.

O Sri Vaishnava, que é o filho de Munisvara e da Mãe Ananta Virya, é um


devoto de terceira geração. Terceira geração significa que ele é neto de devotos. A
avó dele, a Mãe Nathaji, é uma das primeiras devotas da segunda etapa do
Movimento no Brasil. O Movimento tem duas etapas, a primeira com Prabhupada e a
segunda imediatamente após Prabhupada. A avó dele é uma das primeiras
discípulas de Acaryadeva, Hridayananda Maharaj, e o pai dele, Munisvara, entrou
com cinco, seis anos de idade, eu me lembro muito bem dele entrando no
Movimento, eu já fazia parte então eu me lembro muito bem. Então, o Sri Vaishnava
é um devoto de terceira geração.

Para mim é uma experiência nova iniciar alguém de terceira geração. Nunca
iniciei. O primeiro devoto de terceira geração que eu inicio... é o Sri Vaishnava. Eu
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

tenho um prazer muito grande; eu vi a avó dele entrar, depois vi o pai crescer, foi
aluno do nosso Gurukula... Aproveito este momento tão formal que estamos aqui: o
Munisvara foi uma das primeiras crianças do Movimento Hare Krishna no Brasil,
então um movimento muito inexperiente naquela época, e o Movimento, como eu
falei, muito comunitário, não tinha experiência nem conhecimento a respeito de
educação de crianças. Ele foi um dos primeiros alunos da escola Gurukula, e em
diferentes etapas da escola, chegando até a minha época como diretor, e como ele
foi dos primeiros, acho que nós do Movimento, autoridades, líderes do Movimento,
devemos algumas desculpas: pelas improvisações, erros cometidos no trato, na
educação dele, e dos irmãos também. O irmão mais velho... Gopesvara, - tinha outro
nome, antes, mudou: era Gopal, e agora ele é Gopesvari, foi iniciado, também tinha
uma pré-iniciação, - e o Mukunda, que é o mais novo, inclusive Sathyabhama, a
irmã, também. Todos eles estudaram no Gurukula, e acho que nós devemos
desculpas formais a todos eles. Eu aproveito este momento, vendo que ele, apesar
de todas as dificuldades que enfrentou, sendo dos primeiros filhos de devotos no
Movimento, primeiro aluno de Gurukula, ainda assim conduz a vida familiar, a
educação dos filhos, ao ponto de ter um filho aqui, com 19 anos, sendo iniciado – e
mais, porque ele é assim com tantas virtudes, um queridão – não posso dizer que
uma pessoa de 2 metros seja o queridinho, então ele é o queridão do Instituto
Jaladuta – ele vai receber as duas iniciações hoje.

Podem ver que essa cerimônia aqui é bem interessante. Tem um padrão, que
é o Rômulo, tem o Sañjaya também recebendo a segunda iniciação. Depois tem o
Gokula-rañjana recebendo a segunda parte da segunda iniciação. Tem o Sri
Vaishnava recebendo as duas iniciações. E tem Madalena e Áurea recebendo uma
pré-iniciação. Então é uma cerimônia bem interessante, ótima para final de ano,
quando estamos encerrando nossas atividades; refletindo sobre nossa vida neste
ano, o que fizemos; e fazendo planos para o futuro que começa já... o ano seguinte,
que começa agora em janeiro de 2016, então é um momento muito adequado para a
gente concluir uma etapa, entrar em outra etapa, sem pular etapas, e fazer a coisa
de uma maneira muito natural, e rendida, obediente, a Prabhupada.
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Eu me sinto muito entusiasmado de ver o entusiasmo de todas essas


pessoas. Madalena é fonte de inspiração, mesmo. Ela tem encontrado, como todos
nós encontramos, grandes dificuldades no Movimento pra poder fazer o serviço que
ela faz. Não é que é fácil, e não é que porque ela tem toda essa energia, e é tão
forte, e ela tem conseguido unicamente por sua própria força, e que tudo mais é
maravilhoso, não é assim. Lutar contra a energia ilusória, a energia material, é muito
difícil, e nenhum de nós consegue sozinho. Precisa da graça divina. Então, elas
duas, abrigadas em Jagannatha, - que Áurea sempre quis tanto ‘tomar’ intimidade,
criar uma devoção tão bacana... Ainda assim, sem a misericórdia das Deidades, sem
a misericórdia de Krishna, nada seria possível.

Eu queria também ressaltar algo interessante. As Deidades de Salvador, as


Deidades de Gaura Nitai, foram instaladas no ano de 1981 - por mim, eu era
presidente –, como aqui é Maha Gaura Nitai, lá é Shota Gaura Nitai: é o Gaura Nitai
menor que tem. Então, instalamos o menor Gaura Nitai, que Munisvara e Mãe
Ananta Virya cuidam, e aqui nós estamos fazendo a iniciação no templo
congregacional de Maha Gaura Nitai, e o Sri Vaishnava vai poder adorar Maha
Gaura Nitai. Os pais adoram Shota Gaura Nitai, e ele adora Maha Gaura Nitai.

Vou tomar ele emprestado por alguns dias porque, embora nosso templo seja
congregacional, o atendimento às Deidades é um atendimento padrão. Bastante
reduzido, mas é um atendimento padrão. E, por que é um templo congregacional,
temos um número de devotos muito reduzido em relação aos serviços que
precisamos realizar. Quando chega esta época do ano, muitos devotos, porque são
membros congregacionais, inseridos na sociedade, vão cumprir com suas
obrigações e responsabilidades de vários níveis, responsabilidades profissionais,
responsabilidades familiares, responsabilidades de lazer, tudo o que está previsto
para uma sociedade complexa, que não é mais uma sociedade comunitária, mas
uma sociedade complexa como é hoje em dia. Então ficamos numa situação sempre
de preocupação. Como vamos poder atender às Deidades? A gente precisa
desenvolver essa sensibilidade para com o atendimento às Deidades. Todos nós,
devotos bhaktas, devotos iniciados, devotos brahmanas, sannyasis, devotos de todo
o tipo, precisamos desenvolver essa sensibilidade especial, e fazer um olhar para as
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Deidades, que são Deidades de Prabhupada. Maha Gaura Nitai são Deidades
instaladas na ISKCON de Prabhupada, portanto são Deidades de Prabhupada.
Shota Gaura Nitai também são Deidades de Prabhupada; como Jagannatha,
Baladeva e Subhadra também são Deidades de Prabhupada.

As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra... eu fiz a instalação,


embora eu já não morasse mais em Salvador, - eu já estava morando em São Paulo,
Nova Gokula, - mas eu fiz a instalação das Deidades, junto com Isvara e outros
devotos mais antigos. Fizemos a instalação das Deidades, então eu tenho uma
relação, de qualquer forma, com aquelas Deidades, com o templo... Conheço bem. E
por isso posso me sentir na autoridade de tomar uma iniciativa como esta; por
conhecer a origem... das pessoas que se aproximaram, familiares, e a vida pessoal,
até, delas duas e de todos os outros, como eu estou falando aqui. Então eu me sinto
muito entusiasmado de ver que os anos vão passando e novas pessoas vão
assumindo responsabilidades. Eu oro a Krishna para que nós, líderes, sejamos
sensíveis o suficiente para poder cuidar e proteger vocês todos como vocês
merecem, e que vocês também sejam sensíveis o suficiente para receberem a
proteção que precisam. Vocês devem identificar o que vocês realmente precisam, e
buscar por proteção; porque ninguém pode ser protegido se não quiser ser
protegido. É uma questão realmente voluntária, depende do desejo pessoal de cada
um, de ser devidamente protegido em sua identidade original espiritual.

Nós não podemos jamais intervir na liberdade particular e individual de vocês,


porque o nosso processo é para a vida, com o objetivo de desenvolver Krishna
Prema Bhakti, amor puro por Krishna. E como alguém poderia amar se não for livre
para amar? Se uma pessoa não é livre, ela não pode amar com plenitude. Prema
Bhakti pressupõe liberdade do indivíduo, para que ele se entregue, se renda,
completamente, e possa amar livremente Deus, a Pessoa Suprema. O processo de
orientação que o mestre espiritual dá é o processo de que você deve conhecer-se a
si mesmo; você deve superar suas limitações; nunca deve estar satisfeito com os
seus condicionamentos materiais; deve aspirar desenredar-se da ilusão material;
deve conquistar, dia após dia, o caminho de auto-realização espiritual; e deve ter a
meta suprema de desenvolver amor pleno por Krishna. Aqui é apenas o início, é
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

uma iniciação, é o início de um trabalho que deve se desenvolver gradualmente,


para sempre! Mesmo aqueles que já estão maduros em Consciência de Krishna, que
já alcançaram todos os níveis formais de iniciação, ainda assim devem se preocupar
com a sua própria superação, com seu próprio aperfeiçoamento.

Vocês devem agora ser estimulados a pensar no próprio aperfeiçoamento, a


livrarem-se dos apegos ao fruto da ação, ao fruto do trabalho de vocês. Vocês
devem desenvolver, trabalhar, mas com devoção a Krishna, sabendo o que Krishna
sugeriu no Bhagavad-gita, que tudo que fizermos devemos fazer para Ele, para a
satisfação d’Ele. Vocês devem ter isso em mente e trabalhar desta maneira para
satisfazer Krishna. Esta é a base filosófica de Karma, que é a base da ação na qual
todos nós devemos agir, que é oferecer tudo para Krishna e não estar apegado ao
fruto de seu trabalho, fazer tudo para o prazer de Krishna; ainda assim seremos
muito felizes, não precisamos lutar separadamente pela felicidade. Este é o trabalho
do Movimento, para que nós possamos aprender a lidar com essa realidade, que é a
vida espiritual.

Eu estou feliz por estar aqui, estamos com a comunidade presente; é muito
bom ver tudo isso. Esta cerimônia de iniciação assim complexa abrange as duas
iniciações, a primeira e a segunda. Na primeira iniciação os devotos devem estar
conscientes dos princípios éticos que regem a vida de um cidadão vaishnava. Os
princípios éticos são: não-violência, ahimsa mesmo, misericórdia, (é) o primeiro
princípio; o segundo princípio é o princípio de austeridade, a pessoa deve ter
controle sobre suas próprias atividades e deve aceitar a realidade como ela é, não
buscar subterfúgios – deve, pelo contrário, estar sempre rendido –, então
austeridade é o segundo princípio ético; o terceiro princípio ético é honestidade,
veracidade, a pessoa deve ser veraz, honesta, genuína, não deve usar de recursos
da desonestidade, da falta de verdade; e o quarto princípio é de pureza, a pessoa
deve cultivar a pureza. Esses são os quatro princípios éticos que regem a vida de
todos os vaishnavas, em todos os ashramas e em todos os varnas, e em todas as
circunstâncias: eles devem usar de misericórdia, austeridade, honestidade e também
de pureza.
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Esses princípios éticos se transformam em princípios comportamentais,


princípios reguladores da vida da gente, e aí, para satisfazer o princípio ético de não-
violência, nós evitamos comer carne, peixe e ovos. Para adotar e praticar o princípio
de austeridade nós evitamos o consumo de drogas; drogas legítimas, não-legítimas,
legais, não-legais, qualquer tipo de droga, qualquer substância que modifique o
nosso estado normal de consciência. Para desenvolver o princípio de honestidade a
pessoa é recomendada a evitar jogos de azar, não se deter em jogos de azar,
mesmo a Mega Sena – mesmo quando ‘tá acumulada (risos). E para desenvolver o
princípio de pureza a pessoa deve evitar a vida sexual ilícita, ou seja, fora do
casamento e sem responsabilidades. Esses são os princípios éticos de um
vaishnava, que norteiam a vida de um vaishnava, e que fazem o vaishnava
enriquecer a sua experiência humana. ‘Tá bom? Essa é a explicação mínima a
respeito do tema...

O mantra Gayatri, que os brahmanas recebem, é um mantra composto por


sete linhas. Ele é considerado confidencial, porque é dado do mestre espiritual para
o discípulo. Então o discípulo recebe este mantra Gayatri, que é disposto em sete
linhas. Essas sete linhas nos conduzem a uma meditação em nível cada vez mais
profundo, que vai da concepção impessoal de Deus à concepção de Deus presente
em tudo, e à sua forma pessoal além da sua forma impessoal como a origem de
tudo, até o contato com o mestre espiritual, a qualificação do mestre espiritual, o
reconhecimento do patrono do Movimento, que é Caitanya Mahaprabhu, a qualidade
específica de Caitanya como Visvambhara, como o patrono do Movimento que é
também o controlador do mundo inteiro, é muito importante reconhecer que o
mesmo controlador do mundo é o controlador do Movimento, então isso para o
devoto é um alívio muito grande, porque é o mesmo administrador, o mesmo que
administra o Movimento administra o mundo todo, por isso é chamado de
Visvambhara. E evolui em pensamento... o mantra Gayatri evolui até o
reconhecimento de Krishna como Govinda, Aquele que traz paz interior, que
apascenta os nossos sentidos, que diminui as nossas ansiedades, as nossas
angústias, os nossos desejos, - este é Govinda, o significado é esse, - então
chegamos a esse ponto na meditação, e por fim chegamos ao ponto de meditar na
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

posição de Krishna como Aquele que pode atingir o âmago do nosso coração, e
derreter a dureza do nosso coração... coração de ferro que temos. Mas Krishna tem
uma flecha, - Ele é conhecido como Kamadeva, - ele tem um arco e uma flecha de
flores. E ele simplesmente solta sua flecha, e ela atinge o nosso coração. E esta
flecha é capaz de atingir a parte mais dura, de ferro mesmo, de nosso coração e
derreter. O mantra Gayatri faz essa meditação, que vai da primeira até a sétima
linha, essa é a meditação da sétima linha, de ver o nosso coração derretido. Vocês
vão receber o mantra Gayatri e vão poder meditar assim, e também localizar quais
as fontes de entusiasmo neste mundo para vocês nunca serem dependentes de
estruturas materiais para ter entusiasmo espiritual.

Um brahmana vaishnava sabe que o entusiasmo vem de reconhecer Krishna


como o Senhor de tudo, reconhecer a qualidade da Consciência de Krishna no seu
mestre espiritual, reconhecer Caitanya Mahaprabhu como controlador do mundo, e
reconhecer Krishna como Aquele que pode nos ajudar a despertar amor por Ele. Por
isso nós nos enchemos de entusiasmo. Essa é a parte mais yóguica do mantra
Gayatri, que nos dá o direito de exercer a posição de brahmana, ou seja, livre,
independente, não depende de coisas materiais, para ser feliz; ele é feliz
internamente, e mesmo que ele se compadeça da infelicidade em torno dele próprio,
internamente ele é completamente feliz e auto-satisfeito. Então ele não se lamenta,
ele não deseja, ele é bondoso, ele não tem inveja, ele não cultiva a inveja dos
outros, ele não quer o mal para os outros – mesmo quando uma pessoa merece o
mal ele tem a habilidade de dar o bem para esta pessoa, pelo menos em orações,
pelo menos em vibrações espirituais, mentais –, um brahmana é essa pessoa
bondosa, e isso é o que se espera daqueles que estão recebendo iniciação de
brahmana.

(Final da palestra e início das iniciações)

Pronto? Então eu vou dar início a iniciação propriamente dita. Vou pedir aos
devotos que vão ser iniciados que venham aqui. Primeiro em respeito à senioridade,
pelo tempo de serviço, nós temos Áurea e Madalena, claro. Elas são mais velhas do
que quase todos que estão aqui, juntos (risos). ... No movimento, né? Elas têm uma
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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

carga de serviço, também, muito grande, por isso eu vou primeiro dar os nomes...
Mas eu quero completar a instalação da cerimônia, não cantamos ainda o mantra de
abordagem a Krishna. Eu vou fazer isso agora, antes de dar os nomes e continuar,
‘tá bom?

Por favor, vamos... (para os candidatos à iniciação) vocês já fizeram a


purificação, então agora vamos cantar, (para a audiência) vocês todos podem
repetir, por favor.

Om apavitrah pavitro vaa, sarvaavasthaam gato api vaa, yah smaret


pundariikaaksham, sa bahya abhyantaram shucih, shri vishnu shri vishnu shri vishnu

(Segue o processo de purificação, enquanto o público canta o maha


mantra Hare Krishna, e recitação do mantra de invocação, por mais duas
vezes.)

Então... Quem chegou primeiro: Áurea ou Madalena? Quem chegou primeiro


no Movimento? ... Áurea. Então, vou falar com a Áurea antes, ‘tá bem? Eu lembro
que ela (Áurea) implicou muito com você (Madalena), não foi? Quando você
começou a cuidar do Ratha Yatra... (risos)

(Madalena: “Não. A gente é assim até hoje!” Áurea: “Eu ficava pegando
no pé dela... ‘pra ela se ‘endireitar’”. (risos) Madalena: “Na verdade eu entrei
para ajudar ela porque eu ‘achava ela’ tão novinha, e tão esforçada, e
sozinha... que eu: “não, eu quero ajudar essa menina!”, como é que pode?..” )

Dhanvantari: Ela chorava, também, não é? (risos)

(Áurea: “Ainda choro!”)

Dhanvantari: Pois bem. Então, eu acho que, Áurea, você pode receber um
nome muito bonito, que identifica Srimati Radharani... e que é muito bonito. Fazendo
já a propaganda do nome dela. (risos) Então você pode receber o nome de “Adisvari
Dasi” (palmas)
200

Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

“Adi” é original, e “isvari”, controladora. (risos) Adisvari é a controladora


original. Imaginem: se antes já era, imaginem agora que ‘tá autorizada. (risos)

Então, Madalena, você... é forte, né? Madalena agora tem a ajuda de uma
filha. A filha dela morava em Portugal, e veio morar nessa vila que eles criaram –
chama “Floresta”, né? (Madalena: “’Floresta Encantada’. Em homenagem a sua
irmã, Tatiana.”) – “Floresta Encantada”, é o nome de onde tem o templo de
Jagannatha. Madalena é misteriosa, ela tem um poder tão grande que ela consegue
doações, com a responsabilidade das pessoas menos esperadas: a gente ficou 40
anos tentando e nunca conseguimos nada! Ela foi lá e rapidinho conseguiu.
Madalena é assim, essa pessoa... Então, Madalena, tem um nome muito bonito,
também, e que mostra essa força toda, e também mostra flexibilidade. Apesar de ser
super poderosa, (é) muito flexível; sensível, também, como você. E que não tem
ninguém no Brasil com esse nome – como Adisvari também não tem ninguém que
eu conheça, – Seu nome pode ser: “Mandaracala”. (palmas)

“Achala” é uma montanha, e “mandara” é montanha de mandara que foi


usada sobre a encarnação de Krishna como tartaruga para bater o oceano de leite e
produzir o néctar da imortalidade. É do Bhagavatam, um tema muito importante –
você vai poder pesquisar na hora certa. Mandaracala Dasi. (palmas)

(É dado prosseguimento às iniciações)


201

Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Dhanvantari Swami (Ivan Augusto


Ribeiro Lisboa) é um discípulo de A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada e um
guru iniciador da ISKCON. Possui o
título de Bhakti Sastri pelo ISKCON
Board of Examinations (Índia) . Fundou o
Seminário Hare Krishna de Filosofia e
Teologia (www.seminario.iskcon.com.br)
em 2.000, em Campina Grande
(Paraíba, Brasil), o qual em 2013 passou
a fazer parte do Instituto Jaladuta.
Maharaj Dhanvantari atualmente é
Coordenador e Professor do Instituto,
onde fez sua residência. Foi professor
de Pós-Graduação em Ciências da
Religião da Universidade Federal da Paraíba (UFPB ) e um dos pioneiros em
educação na ISKCON Brasil. Ele é formado em Odontologia pela Universidade
Federal da Bahia e pós-graduado em Cirurgia Maxilo Facial pela Fundação
Hospitalar do Distrito Federal. Dhanvantari Swami correspondia-se constantemente
com Srila Prabhupada através de cartas, e foi por um pedido dele que os primeiros
devotos vieram ao Brasil para abrirem templos. Sua primeira iniciação ocorreu no dia
da aparecimento do Senhor Balarama, em 28 de agosto de 1977, dois meses antes
de Srila Prabhupada deixar o planeta. Sua segunda iniciação ocorreu no dia do
aparecimento do Senhor Nityananda, em 20 de fevereiro de 1978, no Templo de
Salvador-BA, dada por Hridayananda Goswami, e foi iniciado na ordem de vida
renunciada (sannyasa), em 1985.
202

Anexo F – Reportagem sobre o XX Ratha Yatra – Edição 2016 em Salvador

Cidade

Movimento Hare Krishna volta à capital


baiana
O evento acontece na capital baiana desde 1995
Por Raylanna Lima
Publicada em 25/04/2016 09:31:55
Foto: Romildo de Jesus

O desfile cultural e religioso realizado pelo movimento


popularmente conhecido como Hare Krishna (Sociedade Internacional
para Consciência de Krishna – Iskcon) voltou à Salvador.

Na tarde de ontem (24), o Ratha Yatra reuniu adeptos da linha


monoteísta do hinduísmo – e simpatizantes da cultura – em um cortejo
que foi do Largo das Baianas, em Amaralina, à Praça Wilson Lins, na
Pituba.

O evento acontece na capital baiana desde 1995, e costuma


acontecer 15 dias antes do Carnaval. “Inclusive no sentido de levar a
203

Anexo F – Reportagem sobre o XX Ratha Yatra – Edição 2016 em Salvador

questão de paz, tranquilidade e harmonia para as pessoas que iriam


desfilar. Não conseguimos realizar no Carnaval, mas este ano finalmente
conseguimos”, informou uma das organizadoras do Ratha Yatra, Áurea
Mandarachala.

Para o desfile deste ano, o carro que levou as deidades pelo


cortejo foi produzido por Yamunacharya Goswami e trazido de
Campinas, São Paulo. Um grupo de estudantes também veio à capital
apenas para participar do evento. “Elas [as deidades] representam o
desejo de ter Deus em nossos corações. As pessoas puxam as cordas
do carro simbolizando o querer trazer Deus. Isso que simboliza o desfile
Ratha Yatra”, esclareceu Áurea.

Este ano o desfile foi em homenagem a Rogério Duarte, que


faleceu recentemente após lutar contra um câncer ósseo e no fígado. O
Ratha Yatra, em edições anteriores, chegou a reunir cerca de duas mil
pessoas no Farol da Barra. Devido à mudança de espaço e o tempo sem
realizar o evento na cidade, a organização estimou cerca de 300
pessoas. Devido a uma série de mudanças no movimento e das obras
que acontecem na Barra – onde o evento costuma acontecer –, não foi
possível realizar o desfile em 2015.

Disponível em:
http://www.tribunadabahia.com.br/2016/04/25/movimento-hare-krishna-volta-
capital-baiana

Acessado em: 25/04/2016


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ANEXOS

ÁUDIO VISUAIS
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Anexo G – XIII Festival de Verão Ratha Yatra de Salvador, 2008 (24’42”)

Vídeo. Edição: Amilton Cameron.

Anexo H – XIV Festival de Verão Ratha Yatra de Salvador, 2009 (23’53”)

Vídeo. Edição: Prabhu Daigo Lisboa.

Anexo I – Ratha Yatra de Jagannatha Puri, Índia, 1928 (1’46”)

Imagens em P&B do RY em Puri no ano de 1928 (Inglês).

Anexo J – Ratha Yatra de Jagannatha Puri, Índia, DOC (9’49”)

Reportagem sobre o RY em Puri. (Inglês).

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vutEn_ym7Jc

Anexo K – I Ratha Yatra de São Francisco, 1967 (6’26”)

Vídeo do 1º RY no Ocidente, sobre a carroceria de um caminhão.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tRV6lOie5Nk

Anexo L – II Ratha Yatra de São Francisco, 1968 (14’38”)

Vídeo do 1º RY no Ocidente utilizando um Carro de RY.

Anexo M – DOC: construção do primeiro Carro de RY do Ocidente (10’08”)

Documentário sobre a construção do primeiro Carro de RY do Ocidente


por Jayananda Prabhu (discípulo de Srila Prabhupada) para o II Ratha Yatra
da ISKCON de São Francisco, em 1968.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-QzGFzcPtZk

Anexo N – Prévia do XVIII Ratha Yatra do Rio de Janeiro, 2008 (3’19”)

Narração: Ivan Salles (Produção)

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cNnvRSD3WZI

Anexo O – XVIII Ratha Yatra do Rio de Janeiro, 2008

Parte 1 (9’26”): https://www.youtube.com/watch?v=CH_snW3fqFo

Parte 2 (9’59”): https://www.youtube.com/watch?v=JvTmHdRqe_M


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GLOSSÁRIO

A Acarya - Aquele que ensina pelo exemplo.

Alupatra - Rocambole salgado de batata.

B Baladeva (Balabhadra ou Balarama)- Irmão de Krishna (Jagannatha) e Sua


primeira expansão. Significa aquele que detém força espiritual.

Bhakta / Bhaktin - Praticante do sistema de Bhakti Yoga.

Bhakti - Devoção religiosa e prática de devoção com serviço

Bhakti Yoga - Sistema religioso devocional, onde todas as ações e pensamentos


realizados são consagrados à Suprema Personalidade de Deus. Seus pilares são: 1
- Seguir os quatro princípios de misericórdia, limpeza, austeridade e veracidade,
respectivamente não se alimentando de animais, sem práticas sexuais fora do
casamento, abstendo-se de qualquer forma de intoxicação ou outros subterfúgios
para a consciência, e sem praticar jogos de azar; e 2 - Utilizar a técnica de recitação
do Maha Mantra Hare Krishna (ou Krsna) para higiene mental e espiritual.

Bhoga - Alimento não consagrado a Deus. Literalmente, significa “desfrute”. É


usado pelo bhakta para designar tudo que seja feito para o desfrute em que não há
avanço espiritual.

Bolinha Doce - Doce feito de leite em pó, açúcar (pode ser adicionado alguma fruta
machucada ou seu sumo).

Brahmana - Que possui duas iniciações espirituais na Bhakti-yoga; homem


inteligente que compreende o propósito espiritual da vida e pode instruir os outros; a
primeira ordem social, ou varna, védica.

C Chhera Panhara - Cerimônia em que o rei varre com uma vassoura de cabo
de ouro o local por onde irá passar o Carro do Ratha Yatra.

D Daitapati - Sacerdote (pujari) das deidades de Jagannatha, Baladeva e


Subhadra.

G Gaura (Gauranga) – Manifestação Dourada de Deus. (Caitanya Mahaprabhu)

Gopis - Filhas dos pastores de vacas da vila onde vive o Senhor Krishna, e Suas
associadas íntimas.

Grhastha - aquele que está praticando vida espiritual enquanto vive com esposa e
filhos; o segundo asrama, ou ordem espiritual.

H Hari Bol - "Cantem os nomes do Senhor Hari, Deus!"


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J Jagannatha - Manifestação de Deus em uma forma negra, de madeira, com


olhos que nunca se fecham, braços sempre estendidos receptivamente, e um sorriso
eterno. Significa literalmente "Senhor do Universo"; uma Deidade especial do Senhor
Krsna, originária de Orissa na costa leste da Índia, em Puri.

Jaya (ou jay) - Literalmente glória, vitória. Expressão de saudação ou exaltação.

K Kali-yuga - a era atual de confusão e desavenças, que começou há cinco mil


anos.

Karatalas - címbalos de mão.

Karma - ação fruitiva, para a qual sempre há uma reação, boa ou má.

Kirtana - glorificação a Deus, especialmente pelo cantar de Seus santos nomes.

Krsna (ou Krishna) - Literalmente significa o todo atrativo, entre outros significados.
Um dos muitos nomes atribuídos à Suprema Personalidade de Deus.

Krsna-bhakti - devoção à Suprema Personalidade de Deus.

Ksatriya - a ocupação administrativa e protetora de acordo com o sistema de ordens


sociais e espirituais.

L “Língua de Jagannatha” - doce feito com farinha de trigo e calda doce.

M Maha Mantra “Hare Krsna” - O grande mantra: Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.

Mahaprabhu - Grande Senhor.

Maharaj - Grande rei.

Mantra - Vibração sonora que liberta a mente.

Mrdanga - Tambor sagrado, feito de barro, usado em kirtana.

Mudra - Posição e gestos feitos com as mãos de conotação espiritual.

N Nitai (Nityananda) – Manifestação de Balarama como companheiro de


Gauranga em Seus passatempos.

P Pahandi (ou Pahanti) - Cerimônia do caminhar da Deidade de Jagannatha do


Templo para o Seu Carro de Ratha Yatra.

Prasada (ou Prasada) - O alimento espiritualizado após ser oferecido primeiramente


ao Senhor Supremo, Deus.

Pujari - Sacerdote responsável em cuidar das Deidades no altar. No Brasil, também


se usa para designar o quarto, local, onde são guardadas as parafernálias das
Deidades.
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Puri - A morada do Senhor Jagannatha, em Orissa (na costa leste da Índia);


também, um pão de trigo, inflado e frito no ghi.

R Radha(rani) - A eterna consorte do Senhor Krsna e a manifestação de Sua


potência interna de prazer. É a principal das Gopis.

S Samossa - Pastel tradicional indiano, frito ou assado, recheado com


preparação de legumes condimentados.

Sankirtana - Canto congregacional dos santos nomes do Senhor, o processo


recomendado de yoga para esta era. Também usado para se referir à distribuição de
livros e conhecimento espiritual em Sociedade.

Sannyasi - Aquele que está na ordem de sannyasa (renúncia).

Sari - A indumentária padronizada das mulheres na sociedade indiana, uma peça


única de roupa que é usado como saia e cobertura para o torso e cabeça.

Seva – Serviço.

Sikha - Tufo de cabelo que fica atrás, em cima, da cabeça raspada de um


Vaisnava.

Sri - Pronome respeitoso, honorífico, de tratamento.

Srila Prabhupada - Fundador da ISKCON (Movimento Hare Krishna).

Srimate - Forma de tratamento: belo.

Srimati - Forma de tratamento: bela.

Subhadra - Manifestação Divina da Irmã mais nova de Deus, e a personificação de


Sua potência espiritual, de cor amarela, também em madeira, com olhos sem
pálpebras que nunca se fecham e largo sorriso, mas sem braços estendidos.

Sudarshana (ou Sudarshana Cakra) - Personificação da arma de Deus, ou


Krishna, esculpida/desenhada em madeira.

Svami (ou Swami) - Monge que assumiu a forma renunciada de vida, sannyasa,
que está sobre o controle dos sentidos, e desapegou internamente de posses e
laços familiares.

T Tilaka - barro sagrado que marca o corpo de um devoto como templo de


Deus.

Y Yatra - local, viagem, passeio.


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