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A história sagrada de Dhurva Maharaj

Prefácio

Esta história encontra-se no "Bhagavat Purana" de Srila Vyasadeva (3500aC) e é contada


originalmente pelo grande santo e sábio Maitreya Rishi, a quem presto meus respeitos e por
cuja graça reconto a história sagrada de Dhurva Maharaj.

As histórias que os sábios da Índia antiga nos deixaram nos textos sagrados dos Puranas fazem
parte da história da humanidade que permaneceu guardada na memória dos mestres e tem
sido transmitida de geração a geração de mestre a discípulo.

Não são criações da mente. Os eventos narrados encontram-se gravados no registro etéreo ao
qual só as almas puras tem acesso e de onde obtêm inspiração.

Tive a extraordinária fortuna de entrar em contato e servir a três dessas almas puras, os
magníficos devotos de Krishna e meus mestres da alma: Srila Prabhupada, Srila Sridhar
Maharaj e Srila Govinda Maharaj.

Por pura bondade, concederam-me a fé necessária para que pudesse encarar essas narrativas
do ponto de vista correto. Ou seja, que aquilo que está sendo descrito é a mais pura realidade,
imbuída dos mais elevados ensinamentos morais e espirituais, os quais, aplicados à própria
vida, levam ao destino mais elevado da alma.

Ouvir essas histórias de uma fonte autorizada constitui-se num processo de sintonia de nossa
consciência com essas realidades espirituais. Através de tal sintonia com os planos mais
elevados da realidade, nossa alma pode ascender para poder vir a viver junto aos habitantes
daquele plano descrito nas histórias védicas. Nesse sentido, estas histórias são portais
dimensionais. Ouvir com a moldura de consciência apropriada, permitirá que a alma do leitor
seja transportada a essas dimensões elevadas.

A consciência mencionada é humilde, tolerante e respeitosa diante dos mestres que nos
deram acesso ao plano da alma e à compreensão dos ensinamentos que transmitiram.
Por ouvir as histórias sobre as glórias, os nomes, as características e os passatempos das
personalidades de Deus e de Seus devotos, a alma poderá despertar para a realidade
transcendental.

Esperamos que o leitor possa abordar esta história com as qualidades santas da humildade,
tolerância e respeito, o que permitirá que sua alma viva para sempre nas moradas sábias e
cheias de bem-aventurança de Krishna.

Dhruva viveu neste mundo há muitos e tantos milhares de anos, numa época em que ninguém
se interessava em dar números ao tempo. Para nós, é suficiente sabermos que sua era teve
lugar há milhares de anos e ficou conhecida como a era de ouro do mundo, quando a
civilização era sábia e os seres humanos esforçavam-se por atingir a perfeição da vida.

Naqueles tempos, o mundo formava uma grande nação com estados governados por reis
magos e sábios que se submetiam ao governo imperial daquele entre eles que era aceito como
o melhor de todos os reis.

Svayambhuva Manu era o progenitor da humanidade e teve dois filhos de sua esposa
Satarupa, que receberam o nome de Uttanapada e Priyavrata. Por serem ambos descendentes
diretos de uma expansão plenária do Senhor Supremo, eram muito competentes para reinar
sobre o universo inteiro e manter e proteger os cidadãos.

O rei Uttanapada acabou por se tornar o imperador do mundo, e todos os reinos sobre a Terra
viviam felizes de ter o sábio e iluminado Utanapada como seu governante e exemplo de
dignidade e nobreza, pois ser governado por uma pessoa altamente qualificada
espiritualmente eleva o estado de vida de todos os cidadãos. Ele tinha duas rainhas, Suniti e
Suruchi. Suruchi, a mãe do príncipe Uttama, era mais amada pelo Rei. Suniti apesar de ser a
mãe de Dhurva, o príncipe primogênito, não era a favorita do Rei.

Certa vez, o Rei Uttanapada acariciava o filho de Suruchi, Uttama, pondo-o em seu colo.
Dhruva Maharaj também tentava subir ao colo do rei, mas o rei, distraido, não lhe prestava
muita atenção.
Quando o menino Dhruva tentava subir ao colo de seu pai, Suruchi, sua madrasta, entrou na
sala e viu-o tentando ganhar o colo do pai. Aquela que devia ser como uma segunda mãe ficou
possuída por sentimentos de ciúme e inveja não muito apropriados a alguém da nobreza, mas
que sempre se manifestam no caráter para testar as pessoas que, em geral, mostram-se
incapazes de segurar as rédeas que controlam o eu inferior.

Os nobres não são apenas os herdeiros sanguíneos de algum título formal de nobreza, mas as
pessoas capazes de dominar suas paixões inferiores e seus instintos mundanos e que decidem
exibir seu melhor carater, mantendo sob controle seu lado inferior.

Mas Suruchi, apesar de rainha e verdadeiramente nobre, e com certeza num momento de
fraqueza, deixou-se dominar pela inveja e pelo ciúme e, mostrando todo seu orgulho,
começou a falar para ser ouvida pelo menino príncipe e pelo próprio rei:

"Minha querida criança, você não merece sentar no trono ou no colo do rei. Certamente, você
também é filho dele, mas já que não nasceu de meu ventre, você não está qualificado a sentar-
se no colo de seu pai. É claro que, por ser uma criança de cinco anos, você não tem consciência
de que não nasceu de meu ventre mas do de outra mulher. Portanto, deveria saber que seu
esforço está fadado ao fracasso. Você está tentando satisfazer um desejo impossível. Se
realmente quiser se elevar ao trono do rei, você terá de realizar austeridades severas.
Primeiro, precisará satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, conhecido também pelo
nome de Vishnu, ou Narayana, por ser o refúgio de todas as criaturas, e, só então, você poderá
ser favorecido por Ele. Graças a tal adoração, você obterá oportunidade de nascer de meu
ventre em sua próxima vida."

Igual a uma serpente que respira pesadamente ao receber uma paulada, Dhruva Maharaj,
agredido pelas impiedosas palavras de sua madrasta, começou a respirar pesado, sendo
consumido por uma ira devastadora. Ao ver que seu pai permanecia em silêncio e não
protestava, imediatamente saiu do palácio e foi ter com sua mãe.

Quando o príncipe se aproximou de sua mãe, seus lábios tremiam devido à ira que sentia e
chorava dominado por uma tristeza profunda. Enquanto os residentes do palácio que tinham
ouvido as palavras rudes de Suruchi relatavam tudo em detalhes, a Rainha Suniti
imediatamente levantou o filho ao colo. Suniti também sentia uma extrema mágoa com o que
ocorrera com o filho. Ela não conseguiu tolerar este incidente e começou a arder por dentro
igual a um incêndio na floresta e, em sua tristeza, parecia uma folha queimada e lamentava-se.
Ao lembrar as palavras de sua co-esposa, seu rosto brilhante como uma flor encheu-se de
lágrimas. Respirava com dificuldade. Desconhecia o remédio para esta situação tão dolorosa.
Sem encontrar qualquer solução, voltou-se para o filho em seu colo e disse:

"Meu filho amado, não deseje nada inauspicioso aos demais. A pessoa que causa dor aos
outros terá de sofrer dessa mesma dor. Meu menino querido, tudo que Suruchi disse é a pura
verdade, pois o rei, seu pai, não me considera como sua esposa, nem como sua serva. Ele não
sente qualquer atração por mim. Portanto, é um fato que você nasceu do ventre de uma
mulher desafortunada e cresceu alimentado por seu peito.

"Ah meu filho, tudo que sua madrasta Suruchi disse, por mais duro que seja de se ouvir, é a
verdade. Se desejar sentar-se no mesmo trono que seu meio-irmão Uttama, abandone sua
atitude invejosa e imediatamente execute as instruções que sua madrasta lhe deu. Sem perder
mais um minuto, ocupe-se na adoração dos pés de lótus do Senhor Supremo. Seu bisavô, o
senhor Brahma, adorou o Senhor Supremo e obteve as qualificações necessárias para criar
tudo o que existe neste universo. Ele se situa em sua posição exaltada de criador do universo
material devido à misericórdia de Deus, quem é adorado até mesmo pelos mestres da ioga que
são capazes de controlar os pensamentos e regular o fluxo do ar vital, ou prana. Seu avô,
Svayambhuva Manu, executou sacrifícios, distribuiu caridade, e, portanto, com fé firme e
devoção, adorou e satisfez a Personalidade Suprema de Deus. Agindo assim, ele obteve toda
felicidade material. Depois disso, conseguiu a liberação dociclo de repetidos nascimentos e
mortes, o que é impossível de ser atingido por meio da adoração a semideuses.

"Meu menino, você também deveria buscar refúgio na Personalidade Suprema de Deus, pois
Ele é muito bondoso com Seus devotos. Aqueles que buscam pela liberação do nascimento e
da morte refugiam-se no Senhor, praticando o serviço devocional. Purifique-se, executando a
ocupação que o destino lhe reservou. Situe a Personalidade de Deus em seu coração e, sem
desviar-se por um momento sequer, ocupe-se sempre em Seu serviço amoroso. Dhruva, meu
amor, tanto quanto eu sei, não conheço ninguém mais que possa aliviar seu sofrimento além
do próprio Deus em pessoa, cujos olhos têm a forma das pétalas da flor de lótus. Semideuses
como o Senhor Brahma, buscam pelo prazer que oferece a deusa da fortuna, mas ela mesma,
segura uma flor de lótus em sua mão, e está sempre pronta a realizar serviço para o prazer do
Senhor Supremo."

Suniti instruiu seu filho Dhruva desse modo para que ele pudesse satisfazer o objetivo de sua
vida.
Depois de considerar com cuidado e inteligência tudo que acontecera e tudo que ouvira e com
uma determinação profunda e sólida, o príncipe Dhruva abandonou a casa de seu pai.

O Sábio Narada Muni

O sábio Narada é o mestre dos mestres e dos semideuses de todo o universo e costuma viajar
de planeta em planeta, de mundo em mundo e de uma dimensão a outra, ora tocando
refinados acordes em sua harpa Vina para acompanhar sua meditação nas glórias e nos nomes
de Deus, ora contando histórias sobre as glórias infinitas do Senhor Supremo, trazendo, desse
modo, luz ao coração de todos que o ouvem.

Os semideuses e sábios situados no mundo sutil e subjetivo são capazes de observar tudo que
acontece neste mundo físico, apenas sintonizando sua mente. Desde o mundo subjetivo,
Narada pôde observar o que acontecera a Dhruva. Ficou muito admirado de perceber a
natureza nobre e determinada do menino e pensou que seria melhor convencê-lo a desistir da
idéia. Com essa idéia em mente, o mestre sintonizou sua consciência na floresta em que
Dhruva se encontrava.

O príncipe meditava em ioga, sentado de pernas cruzadas sobre a relva com a coluna ereta.
Tinha os olhos semicerrados, mantinha a atenção concentrada no ponto entre as sobrancelhas
e controlava sua respiração.

Ainda que seu corpo seja espiritual e imperceptível aos olhos físicos, Narada usou seus
poderes místicos e tornou-se visível neste mundo material.
Narada ficou distante por um momento, observando os traços fortes do menino e sua feição
pacífica e determinada. Logo, tornou sua presença mais forte, o que fez com que Dhruva
abrisse os olhos, forçado a voltar de sua meditação para o mundo externo.

O príncipe reconheceu o mestre espiritual de toda sua família e, depois de reverenciá-lo


apropriadamente, ofereceu-lhe um assento.

O grande sábio Narada, compreendendo as atividades de Dhruva Maharaj, estava atônito.


Aproximou-se do príncipe, e tocando a cabeça do menino com sua mão virtuosa, pensou
consigo mesmo: "Quão maravilhosos são os poderosos guerreiros xátrias. Não podem tolerar a
menor infração a seu prestígio. Imaginem só! Mesmo sendo apenas uma criança, Dhruva não
conseguiu tolerar as palavras rudes de sua madrasta." O grande sábio Narada voltou-se para o
príncipe menino e disse:

"Príncipe, você é apenas uma criancinha apegada a brincadeiras e a outras frivolidades. Por
que se sente tão afetado por palavras que insultam sua honra? Meu querido Dhruva, se você
sente que seu sentido de honra foi insultado, mesmo assim não tem razão para sentir-se
insatisfeito. Esse tipo de insatisfação é outra característica da energia ilusória, pois toda
entidade viva é controlada por suas ações anteriores, e é por isso que existem vários tipos de
vida, seja para desfrutar ou para sofrer.

"O processo de devoção pessoal ao Deus Supremo é muito maravilhoso. A pessoa que é
inteligente deveria aceitar esse processo e ficar satisfeito com o que receber por Sua vontade
suprema, seja isso favorável ou desfavorável. Agora, apenas para obter a misericórdia do
Senhor, você decidiu adotar o processo da meditação mística, seguindo a instrução que sua
mãe lhe deu. Mas, penso que tais austeridades são impossíveis de serem praticadas por um ser
humano comum. É muito difícil satisfazer a pessoa de Deus.

"Depois de praticar este processo por muitos e muitos nascimentos e permanecendo


desapegados da contaminação material, situando-se em transe e executando muitos tipos de
austeridades, vários iogues místicos foram incapazes de encontrar um fim para o caminho da
realização de Deus. É por isso, meu querido pequeno príncipe, que você deveria interromper
seus esforços nessa direção, pois dificilmente terá êxito. É melhor que volte para casa. Quando
crescer, e se receber a misericórdia do Senhor, terá oportunidade de realizar estas atividades
místicas. Nesse momento, poderá envolver-se nessa tarefa.
"A pessoa deveria procurar ficar satisfeita com qualquer condição que a vida lhe ofereça —seja
de felicidade ou de sofrimento— e que resulta da vontade suprema. A pessoa que se esforça
desta forma é capaz de atravessar a escuridão da ignorância com muita facilidade e jamais será
afetada pelas misérias triplas deste mundo material."

O príncipe Dhruva ouviu a tudo com atenção. Não estava satisfeito com a tentativa do mestre
de demovê-lo de seu intento de encontrar-se com Deus para pedir-lhe pessoalmente que
satisfizesse seu desejo. Com as mãos juntas em respeito pelo mestre, disse:

"Meu querido mestre Narada, o senhor é aclamado como o mais sábio de todos os sábios do
universo, o mestre dos mestres, o abrigo único para as pessoas em busca da iluminação
espiritual. Para que alguém como eu, perturbado pelas condições materiais da felicidade e do
sofrimento, possa alcançar a paz mental, tudo que o senhor explicou por sua bondade é
certamente uma instrução excelente. Mas, no que me diz respeito, encontro-me atualmente
coberto pela ignorância, e seus ensinamentos não comovem meu coração.

"Ó mestre, sou muito imprudente ao não ser capaz de aceitar suas instruções. Mas veja que
nasci numa família de santos guerreiros da casta dos xátrias e que são muito determinados em
seus objetivos. Minha madrasta, Suruchi, trespassou meu coração com suas palavras
impiedosas. Portanto, sua instrução valiosa não é capaz de comover meu coração endurecido.

"Ó brâmane erudito, desejo ocupar uma posição que seja tão exaltada como jamais foi
alcançada por qualquer outra pessoa nos três mundos, nem mesmo por meu pai e avôs. Seja
generoso comigo. Mostre-me um caminho honesto que me permita atingir meu objetivo de
vida. Meu querido mestre de minha alma, o senhor é o valioso filho de meu bisavô, o Senhor
Brahma, e o senhor viaja, tocando seu instrumento de cordas, a Vina, para benefíciar todos os
seres vivos do universo. O senhor é como um sol brilhante que gira pelo universo iluminando
os seres vivos para seu máximo benefício."

O mestre Narada Muni, ao ouvir as palavras do príncipe, ficou tomado de compaixão, e


mostrou sua misericórdia sem causa, aconselhando-o da seguinte maneira:

"A instrução de sua mãe de seguir o caminho do serviço devocional à Pessoa de Deus é muito
apropriada para o que você pretende. Portanto, envolva-se completamente na prática do
serviço devocional ao Senhor. A pessoa que deseja obter os frutos dos quatro objetivos
principais —religiosidade, desenvolvimento econômico, prazer dos sentidos e liberação— deve
ocupar-se no serviço devocional à Personalidade Suprema de Deus.
"Meu querido menino, você deve dirigir-se para as margens do Rio Yamuna, onde encontrará a
floresta de Madhuvana e onde deverá purificar-se. Somente por visitar esta floresta, a pessoa
aproxima-se mais da Pessoa de Deus, que anda sempre por lá em pessoa. Banhe-se três vezes
ao dia no Rio Yamuna, pois suas águas são muito auspiciosas, sagradas e puras. Depois do
banho, pratique os exercícios de Ashtanga-ioga e, em seguida, sente-se em seu assana numa
posição que lhe permita ficar calmo e imóvel. Pratique os três tipos de exercícios respiratórios
e controle gradulamente o ar vital, a mente e os sentidos. Liberte-se completamente de toda
contaminação material e, com paciência, comece a meditar na Suprema Personalidade de
Deus."

Depois de instruir o príncipe dessa forma e ensinar-lhe o processo iogue de pranayama para
controle da respiração, Narada começou a descrever, com detalhes, o conhecimento mais
oculto e o maior de todos os segredos: a forma pessoal do Senhor e o objeto mais elevado de
toda meditação.

"O rosto de Deus é sempre muito belo de se ver e exibe uma expressão agradável. Para os
devotos que O vêem, Ele parece jamais estar insatisfeito e sempre pronto a dar-lhes Suas
bênçãos. Seus olhos, Suas lindas e decoradas sobrancelhas, Seu nariz arrebitado e Sua ampla
testa formam um conjunto estético onde culmina toda a beleza. Se fosse possível somar a
beleza de todos os semideuses e dos anjos dos céus, ainda assim, Ele permaneceria
comparativamente o mais belo de todos. A forma de Deus permanece sempre jovem. Cada
membro e ângulo de Seu corpo mantêm proporções harmoniosas e estão livre dos defeitos
materiais. Seus olhos e lábios são rosados como o sol nascente. Ele está sempre pronto a dar
abrigo às almas entregues, e a pessoa que for afortunada ao ponto de poder vê-lO ficará
plenamente satisfeita.

"O Senhor Supremo é um oceano de misericórdia, o que O qualifica a ser o mestre da alma que
a Ele se rende. O Senhor Supremo traz em seu peito a marca de Srivatsa, que é o local onde
repousa a deusa da fortuna. Seu corpo tem um matiz azul profundo. O Senhor é eternamente
uma pessoa. Ele usa uma guirlanda de flores em volta ao pescoço que balança sobre Seu peito
nu. Em Sua forma de Vishnu, Vasudeva, ou Narayana, Ele manifesta quatro braços que
seguram (de Sua esquerda para a direita) um búzio, um disco, uma maça e uma flor de lótus.
Ele usa um elmo de ouro decorado com pedras preciosas, colares e braceletes, e Seu peito é
enfeitado pelo colar Kaustubha. Veste-Se com roupas de seda amarela. A cintura do Senhor e
Seus pés de lótus são decorados por correntes com pequenos sinos de ouro. Seus traços são
muito atraentes e oferecem a perfeição aos olhos que O vêem. Ele é sempre pacífico, calmo e
muito agradável para os olhos e a mente.
"Os iogues autênticos meditam nessa forma transcendental de Deus situado de pé sobre a flor
de lótus de seu coração. Deus está sempre sorrindo com seus dentes alvos parecidos a brotos
de jasmim, e Suas unhas de lótus são como jóias reluzentes. O devoto deve constantemente
ver que nesta Sua forma transcendental Deus está olhando para ele com muita misericórdia.
Ao fazer isso, o meditador profundo deve focar sua mente na Personalidade de Deus que
concede todas as bênçãos. A pessoa que medita dessa maneira, concentrando sua mente na
forma sempre auspiciosa do Senhor, em muito pouco tempo fica livre de toda contaminação
material e nunca decai de sua meditação na Personalidade de Deus.

"Príncipe Dhruva, ouça atentamente o mântra sagrado que deverá cantar enquanto pratica o
processo de meditação que lhe ensinei. A pessoa que cantar este mântra cuidadosamente
durante sete noites chegará a ver os seres humanos aperfeiçoados voando pelo céu. Om namô
bhagavatê vasudevayá: este mântra de doze sílabas é utilizado para adorar ao Senhor Krishna,
o filho de Vasudeva e a forma suprema do Infinito e Absoluto Deus. Para praticar este processo
devocional, a pessoa deve instalar a forma da Deidade do Senhor sobre um altar. Enquanto
canta o mântra, deve oferecer a essa Deidade flores e frutas e outras variedades de alimentos
vegetarianos, seguindo com precisão todas as regras prescritas pelas autoridades espirituais.
Mas isso deve ser feito levando em consideração o lugar, o tempo e as circunstâncias
favoráveis e desfavoráveis.

"A pessoa deve adorar o Senhor oferecendo água pura, guirlandas de flores, frutas, flores e
vegetais, que se encontram disponíveis na floresta, ou coletando gramas novas, pequenos
brotos de flores ou até mesmo cascas de árvores e, se possível, oferecendo folhas de Tulasi,
que são muito amadas por Krishna. A forma pessoal do Senhor pode ser modelada em
elementos físicos tais como terra e água, polpa, madeira ou metal. Na floresta, essa forma
transcendental pode ser modelada com nada mais do que terra e água e adorá-la conforme os
princípios acima descritos.

"O devoto capaz de controlar totalmente seu ser deve ser muito sóbrio e pacífico e deve
sentir-se satisfeito simplesmente comendo quaisquer frutos ou vegetais que encontre na
floresta. Meu querido Dhruva, além de adorar a Deidade e de cantar o mântra três vezes ao
dia, você deve ainda meditar nas atividades transcendentais da Personalidade Suprema de
Deus em Suas diferentes encarnações, que se manifestam por Sua vontade suprema e
potências pessoais. A pessoa deve seguir o exemplo dos devotos anteriores no que se refere
ao modo de adorar o Senhor Supremo com a parafernália prescrita. Ou pode oferecer
adoração em seu coração recitando o mântra para a Personalidade de Deus, pois Ele é idêntico
ao som do mântra.

"Qualquer pessoa que ocupar sua mente, suas palavras e seu corpo no serviço devocional ao
Senhor com seriedade, sinceridade e permanecer fixo nas atividades dos métodos devocionais
prescritos pelo mestre espiritual e pelas escrituras sagradas, tem seu desejo abençoado pelo
Senhor. O devoto será recompensado com o que desejar, seja desenvolvimento econômico,
prazer dos sentidos ou liberação do mundo material. Se a pessoa for sincera a respeito de seus
objetivos, deverá apegar-se ao processo do serviço amoroso transcendental, ocupando-se
vinte e quatro horas ao dia experimentando o mais alto nível de êxtase devocional."

Depois de ouvir atentamente os conselhos detalhados do mestre espiritual e aprender na


prática o processo da devoção ao Senhor Surpemo, Dhruva circundou Narada e ofereceu-lhe
suas reverências respeitosas. Após despedir-se do mestre, o menino príncipe iniciou sua
jornada rumo a Madhuvana, a floresta sagrada que é sempre decorada pelas pegadas de lótus
do Senhor Krishna e que, por conseguinte, é especialmente auspiciosa.

Narada Muni e o Rei Uttanapada

Depois que Dhruva foi para a floresta de Madhuvana, o mestre espiritual dos reis e semideuses
pensou que seria sábio visitar o rei em seu palácio. Do mesmo modo que fizera com Dhruva, o
sábio tornou-se visível na sala do trono. Quando Narada Muni se aproximou, o rei recebeu-o
apropriadamente, oferecendo-lhe os devidos respeitos. Depois de sentar-se confortavelmente,
Narada perguntou:

"Meu caro rei, seu rosto parece estar definhando, e o senhor exibe aquele olhar de quem tem
estado pensando em algo por muito tempo.Qual a razão disso? Será que o senhor encontrou
obstáculos na execução de seus ritos religiosos, na expansão do desenvolvimento econômico e
na obtenção do prazer dos sentidos?"

O rei triste respondeu:

"Ó melhor entre os brâmanes, por ter me apegado à minha esposa, converti-me numa pessoa
tão decaída que abandonei a misericórdia e o afeto em relação a meu filho de cinco anos. Eu o
bani e à sua mãe, mesmo sabendo que ele é uma grande alma e um grande devoto do Senhor
Supremo. O rosto de meu filho era belo como uma flor de lótus. Não consigo parar de pensar
em sua condição precária, desprotegida. Fico imaginando que possa estar sentindo muita
fome. É possível que tenha se deitado em algum lugar da floresta e que os lobos o tenham
atacado e devorado seu corpo. Oh, veja só como acabei dominado por minha esposa! Imagine
minha crueldade! Devido a seu amor e afeto, o menino queria subir em meu colo, mas eu não
o recebi, e nem lhe dei carinho sequer por um momento. Tenho um coração de pedra."
Narada Muni ouviu com atenção tudo que o rei disse e respondeu:

"Meu caro rei, não fique aflito com respeito a seu filho. Ele está sendo pessoalmente cuidado
pelo Senhor Supremo. Ainda que o senhor não saiba a respeito de sua influência, a reputação
do príncipe já se espalha por todo o mundo, pois ele é muito competente e realiza atividades
vistas como impossíveis até mesmo pelos grandes reis e sábios. Muito em breve, ele
completará sua tarefa e retornará ao lar. Saiba que o príncipe difundirá sua fama por todo o
mundo."

Uttanapada, depois de ter sido aconselhado desse modo por Narada Muni, praticamente
abandonou seus deveres em relação a seu reino, que era muito vasto e opulento como a
deusa da fortuna e, simplesmente, começou a pensar em seu filho Dhruva.

As Austeridades de Dhruva Maharaj

Logo que chegou a Madhuvana e como fora aconselhado por seu mestre, Dhruva banhou-se
no Rio Yamuna e ficou em jejum a noite inteira. Depois disso, iniciou a adoração da forma
transcendental Deus.

No primeiro mês, o menino príncipe comeu apenas frutos e amoras a cada três dias, apenas o
suficiente para manter corpo e alma juntos, e, ao fazer isso, ele progrediu em sua adoração ao
Senhor Supremo.

No segundo mês, Dhruva Maharaj já comia apenas grama e folhas secas a cada seis dias,
continuando com sua adoração.

No terceiro mês, ele apenas bebia água a cada nove dias e conseguiu ficar em transe total de
adoração à Suprema Personalidade de Deus.

No quarto mês, o príncipe tornou-se mestre no exercício de controle da respiração, sendo que
inalava ar somente a cada doze dias. Ao fazer isso, ele ficou fixo em sua posição e continuou
adorando a forma transcendental, eterna e bem-aventurada de Deus.
No quinto mês, o príncipe controlou sua respiração com perfeição e foi capaz de ficar de pé
sobre uma perna só, firme como uma coluna, sem fazer o mínimo movimento, e era capaz de
concentrar sua mente no Brahman Supremo, que é a forma infinita de Deus que abriga todas
as energias materiais e espirituais.

Ele controlou seus sentidos de percepção e fixou sua mente, sem qualquer desvio, na forma
espiritual de Deus.

Quando Dhruva conseguiu capturar em seu coração a Personalidade Suprema de Deus, o


refúgio de toda a Criação e o mestre de todos os seres vivos, os três mundos começaram a
trepidar.

Na medida em que o príncipe-iogue se mantinha estável sobre uma única perna, a pressão do
dedão do pé empurrou o planeta Terra em sua órbita. O príncipe ficou praticamente com o
mesmo peso que o Senhor Vishnu, quem é a consciência total da criação.

Devido ao poder de sua concentração e por ter fechado todos os poros de seu corpo, a
respiração universal com seus semideuses e criaturas sentiu-se sufocar. Por isso, os
semideuses buscaram o refúgio do Senhor Supremo.

Os semideuses têm acesso direto ao Senhor Vishnu em Sua residência na Estrela Polar, que é
um planeta espiritual localizado neste universo. Eles subiram em suas naves e dirigiram-se ao
oceano de leite daquele planeta também conhecido como Sisumara. Aproximaram-se do
Senhor Supremo e disseram:

"Amada Personalidade Suprema de Deus, somente o Senhor é o refúgio de todas as entidades


vivas móveis e imóveis. Sentimos que todas as criaturas do universo estão sufocando, tendo
seu processo respiratório sufocado. Jamais experimentamos algo semelhante. Viemos até o
Senhor, pois não existe qualquer outro abrigo para as almas rendidas. Seja bondoso, e salve-
nos deste perigo."

Narayana, o Deus Supremo e a origem de todas as criaturas, é oniciente e onipotente e


respondeu aos temerosos semideuses:
"Meus queridos semideuses, não fiquem perturbados com o que está acontecendo. O
problema que estão sentindo se deve às severas austeridades e à total determinação do filho
do rei Uttanapada. Neste momento, o príncipe Dhurva está absorto em meditar em Minha
forma transcendental. Ele obstruiu o processo respiratório universal. Vocês podem retornar
com segurança a seus respectivos lares. Eu farei o príncipe interromper suas austeridades
severas, e todos serão salvos desta situação calamitosa."

Quando os semideuses se sentiram assegurados pela Personalidade Suprema de Deus, ficaram


livres de todo temor e despediram-se, oferecendo suas reverências a Narayana e retornando a
seus planetas celestiais.

Então, o Senhor Supremo montou sobre Sua águia dourada Garuda e voou veloz até a floresta
de Madhuvana para encontrar-Se com Seu servo e devoto Dhruva.

A forma do Senhor na qual o príncipe Dhruva meditava em total absorção em seu


amadurecido processo de ioga era brilhante como um raio e, repentinamente, desapareceu de
sua visão interna.

Dhruva ficou perturbado, e sua meditação quebrou-se. Mas, tão logo abriu seus olhos, o
príncipe viu que a Personalidade Suprema de Deus estava presente diante de seus olhos
arregalados, exatamente com a mesma forma que O vira durante sua meditação em seu
coração.

Quando Dhruva Maharaj viu o Senhor diante dele, sentiu-se muito agitado e ofereceu suas
reverências e respeito. Caiu ao chão prostrado diante dEle e ficou absorto na inundação de
sentimentos de amor pelo Supremo em que sua alma se afogava. O pequeno príncipe, em
êxtase, olhou para o Senhor como se O estivesse bebendo com seus olhos, beijando Seus pés
de lótus e abraçando-O com seus pequenos braços de menino.

Apesar de ser apenas uma criança, desejou poder oferecer orações a Deus usando palavras
apropriadas. Mas, por ser inexperiente, não conseguia ajustar-se àquela situação.
Deus está situado no coração de cada criatura, e compreendeu a posição difícil do príncipe
Dhruva. Por Sua misericórdia sem causa, tocou com seu búzio a testa do príncipe, que
permanecia diante dEle com as mãos juntas em prece.

Nesse instante, o príncipe menino tornou-se perfeitamente consciente dos ensinamentos de


todas as escrituras sagradas e foi capaz de compreender o Infinito Supremo e Seu
relacionamento com todas as entidades vivas infinitesimais. Seguindo a linha do serviço
devocional ao famoso Senhor Supremo, Dhruva ofereceu suas preces conclusivas e cheias de
ponderações.

"Meu querido Senhor, o Senhor é onipotente. Ao entrar em meu coração, o Senhor vivificou
todos meus sentidos adormecidos —minhas mãos, pernas, ouvidos, sensação do tato, força
vital e especialmente meu poder da fala. Deixe-me oferecer-Lhe minhas respeitosas
reverências. Meu Senhor, o Senhor é a pessoa Suprema, mas, por meio de Suas diversas
energias, é visto diferentemente nos mundos material e espiritual. O Senhor cria a energia
total do mundo material por meio de Sua potência externa, e, depois da criação, adentra o
mundo material como a Superalma. O Senhor é a Pessoa Suprema, e aquele que, através dos
modos temporários da natureza material, cria as manifestações mais variadas, tal como o fogo,
que, ao entrar nas diversas variedades de madeira, queima igualmente brilhante.

"Ó mestre de minha alma, o senhor Brahma está totalmente rendido ao Senhor. No começo, o
Senhor concedeu a ele o conhecimento, e, por isso, ele foi capaz de perceber e compreender o
universo, igual a uma pessoa que desperta do sono visualiza seus deveres de imediato. O
Senhor é o único abrigo daqueles que almejam alcançar a liberação, e o amigo de todos que
sofrem. Como então pode alguém dotado de conhecimento perfeito jamais esquecê-lO? As
pessoas que O adoram simplesmente em busca do prazer dos sentidos deste saco de pele
estão sendo influenciados por Maya, Sua energia ilusória.

"Apesar de O ter alcançado, e sabendo que o Senhor é como uma árvore dos desejos e a causa
da liberação do nascimento e da morte, pessoas tolas como eu, pedem Sua bênção para obter
o prazer dos sentidos, o que está disponível até mesmo para aqueles que vivem em condições
infernais. Meu Senhor, a bem-aventurança transcendental que se obtém meditando em Seus
pés de lótus ou ao ouvir os devotos puros a respeito de Suas gloriosas atividades é tão
ilimitada que está muito além do estágio de realização espiritual em que a pessoa se pensa
submersa na totalidade de Sua energia impessoal total, e uno com o Supremo. Desde que
mesmo esse estado é também derrotado pela bem-aventurança transcendental que se
experimenta nas práticas do serviço em devoção ao Senhor, o que dizer da bem-aventurança
temporária de viver nos planetas dos semideuses, que acabam pela espada afiada do tempo?
"Mesmo que uma pessoa seja elevada aos planetas dos semideuses, terá de cair no devido
tempo.

"Ó senhor ilimitado, seja bondoso e abençoe-me para que possa associar-me com os grandes
devotos que se ocupam constantemente em Seu serviço amoroso e transcendental. Esses
devotos transcendentais estão sempre situados num estado de consciência livre de toda
contaminação. Através do processo do serviço devocional, certamente serei capaz de
atravessar o oceano de ignorância da perigosa existência material, repleto de ondas que
ardem como o fogo flamejante. Isso será muito fácil para mim, pois estou louco de vontade de
ouvir sobre Suas qualidades e passatempos transcendentais e eternos.

"Ó Senhor, ao se associar a um devoto cujo coração sempre anseia por Seus pés de lótus,
buscando sempre sua fragrância, a pessoa jamais fica apegada ao corpo material ou a filhos,
amigos, lar, riqueza ou esposa, todos muito queridos das pessoas materialistas. Ela não se
preocupa com tais coisas. O Senhor não tem princípio nem fim. Eu sei que as diversas
variedades de entidades vivas, tais como animais, árvores, pássaros, répteis, semideuses e
seres humanos estão espalhados por todo o universo gerado pela energia material, e sei que
ora estão manifestos, ora inmanifestos; mas eu nunca tinha experimentado Sua forma
suprema que contemplo agora diante de mim. Este é o ponto de culminância de todos os tipos
de processos teóricos.

" Ao final de cada milênio, como o Vishnu universal, o Senhor dissolve em Seu estômago tudo
que se manifesta no universo. Essa Sua forma repousa sobre o colo de Shesha Naga e de Seu
umbigo brota uma flor de lótus dourada dentro da qual é criado o senhor Brahma. Posso
entender que o Senhor é o Deus Supremo. Portanto ofereço-Lhe minhas respeitosas
reverências. Meu Senhor, devido a Seu olhar transcendental inquebrantável o Senhor é a
testemunha suprema de todos os estágios de atividades intelectuais. Sua existência
eternamente liberada situa-se na bondade pura e assume a forma da Superalma imutável.

"Como a Personalidade de Deus original, pleno das seis opulências —riqueza, fama, poder,
conhecimento, beleza e renúncia— o Senhor é o mestre eterno dos três modos da natureza
material e difere sempre das entidades vivas comuns. Em Sua forma de Vishnu, o Senhor
mantém todos os aspectos universais, enquanto permanece alheio a tudo e desfruta os
resultados de todos os sacrifícios. Meu amado Senhor, em Sua manifestação impessoal de
Brahman encontram-se sempre dois elementos opostos: conhecimento e ignorância. Suas
múltiplas energias estão sempre manifestas, mas o Brahman impessoal indivisível, original,
invariável, ilimitado e bem-aventurado é a causa da manifestação material. Por ser a origem
do Brahman impessoal, ofereço-Lhe minhas reverências respeitosas. Meu Deus, ó Deus
Supremo, o Senhor é a forma personificada de toda bênção.
"Então, para aquele que se mantém ocupado em Seu serviço devocional sem qualquer outro
desejo, adorar Seus pés de lótus é melhor do que tornar-se o rei de um vasto reino. Tal é a
bênção de se adorar Seus pés de lótus. Para devotos ignorantes como eu, o Senhor é o
mantenedor cuja misericórdia não tem causa."

Quando o príncipe Dhruva terminou sua oração, seu coração estava repleto de boas intenções.
A Personalidade de Deus é muito bondoso com Seus devotos e servos e cumprimentou o
príncipe, enquanto falava as seguintes palavras:

"Meu amadoDhruva, você cumpriu com seus votos piedosos, e Eu também percebo o desejo
do fundo de seu coração. Embora seu desejo seja extremamente ambicioso e muito difícil de
satisfazer, Eu o satisfarei. Aceite toda boa fortuna. Premiarei você com o planeta refulgente
conhecido como a Estrela Polar, ou Sisumara, o qual continua a existir mesmo depois da
dissolução universal, ao término do milênio. Ninguém jamais regeu esse planeta que é
circundado por todos os sistemas solares, planetas e estrelas.

"Todas as luminárias no céu giram habitadas pelos grandes sábios como Dharma, Agni,
Kasyapa e Sukra circundam este planeta eterno, mantendo a Estrela Polar à sua direita. Depois
que seu pai lhe transferir o comando de seu reino e se retirar para a floresta, você regerá a
Terra continuamente por trinta e seis mil anos, e seus sentidos permanecerão tão fortes e
jovens quanto agora, pois você nunca envelhecerá. Eu sou o âmago de todo sacrifício. Você
executará grandes sacrifícios e também dará caridade em abundância. Deste modo, será capaz
de desfrutar das bênçãos de uma felicidade material ainda nesta vida e, na hora de sua morte,
poderá lembrar-se de Mim. Meu amado Dhruva, depois de terminar sua existência material
neste corpo, você viverá em Meu planeta que é sempre reverenciado pelos residentes de
todos os demais sistemas planetários. Este Meu planeta situa-se acima dos planetas dos sete
rishis e, ao chegar nele, você nunca mais terá de retornar a este mundo material."

Depois de ser adorado e honrado por Dhruva, e depois de oferecer-lhe Sua morada, o Senhor
Vishnu montou em Garuda e retornou à Sua morada, enquanto o príncipe observava
emocionado Sua partida.

Apesar de ter alcançado o resultado desejado através da adoração do Senhor Supremo,


Dhruva Maharaj não ficou muito satisfeito e decidiu retornar ao lar.
A morada do Senhor é difícil de se atingir. Só se pode chegar lá por meio do serviço em
devoção pura que é a única coisa que agrada ao muito afetuoso e misericordioso Senhor. O
príncipe Dhruva era muito sábio e consciencioso e alcançou esta posição até mesmo numa
única vida. Por que, então, o príncipe não se sentiria extremamente satisfeito?

O coração do príncipe que fora perfurado pelas flechas das palavras severas da madrasta
estava muito entristecido, e, assim, quando se fixou no que seria sua meta de vida, não
conseguiu perdoar o comportamento dela. Foi por essa razão que, quando a Personalidade
Suprema de Deus apareceu diante dele, ele não desejou a liberação deste mundo material ao
término de seu serviço em devoção, e sentiu-se simplesmente envergonhado dos desejos
materiais que manteve em sua mente.

Dhruva Maharaj pensava que esforçar-se para situar-se à sombra dos pés de lótus do Senhor
não é uma tarefa ordinária, pois mesmo grandes ascetas liderados por Sanandana que
praticaram Ashtanga-ioga em transe só atingiram o abrigo do Senhor depois de inúmeros
nascimentos. Em apenas seis meses, Dhruva obteve o mesmo resultado. Contudo, ele sentia
que por cultivar pensamentos e desejos diferentes dos do Senhor, tinha decaido de sua
posição.

"Ai", lamentava-se o príncipe, "olhem para mim! Estou tão infeliz. Cheguei a ficar aos pés da
Personalidade Suprema de Deus quem é capaz de cortar de imediato o aprisonamento ao ciclo
dos repetidos nascimentos e mortes. Mas, mesmo assim, devido à minha tolice, implorei por
coisas perecíveis."

Dhruva pensava que uma vez que os semideuses que vivem nos sistemas planetários
superiores terão de descer para nascer novamente em formas humanas quando terminar o
acúmulo de suas atividades piedosas, eles ficaram invejosos dele ter sido elevado a Vaikuntha
através de seu serviço em devoção. Pensou que esses semideuses intolerantes dissiparam sua
inteligência, e por isso ele não foi capaz de aceitar a bênção genuína das instruções do sábio
Narada.

"Sinto-me sob a influência da energia ilusória", pensou Dhruva. "Sendo ignorante dos fatos,
fiquei dormindo no colo da ilusão. Dominado por uma visão dual, vi meu irmão como meu
inimigo e lamentei em meu coração, enquanto pensava que ele e sua mãe eram meus
inimigos. É muito difícil satisfazer à Pessoa de Deus, mas, em meu caso e embora eu tenha
satisfeito à Superalma de todo o universo, só Lhe pedi coisas inúteis. Minhas atividades se
parecem ao remédio dado a alguém que já morreu. Vejam só como sou infeliz, pois, apesar de
ter estado diante do Deus Supremo capaz de cortar qualquer ligação da alma com o ciclo dos
nascimentos e mortes neste mundo material, eu pedi novamente pelas mesmas condições.
Por ser eu um tolo completo e por minha falta de atividades piedosas, embora o Senhor me
tenha oferecido Seu serviço pessoal, desejei renome material, fama e prosperidade. Meu caso
é igual ao do mendigo que, tendo satisfeito um grande imperador que lhe ofereceu o que
quisesse, devido à ignorância, pediu apenas alguns grãos de arroz quebrado."

As pessoas que são devotos puros dos pés de lótus de Mukunda (a Personalidade Suprema de
Deus que oferece a liberação] e que estão sempre apegadas ao néctar de Seus pés,
permanecem satisfeitas servindo ao Senhor Supremo. Essas pessoas ficam felizes em qualquer
condição de vida e nunca pedem a Deus por prosperidade material.

O Retorno do Príncipe

Quando o mensageiro trouxe a notícia de que o príncipe retornava ao palácio, foi como se o rei
Uttanapada ressucitasse. Ele teve dificuldades de acreditar na mensagem, pois duvidava que
isso pudesse acontecer. Ele se considerava o mais miserável dos homens, e pensava que não
era possível que alguém como ele tivesse tamanha boa fortuna.

Embora não pudesse acreditar nas palavras do mensageiro, teve fé nas palavras do sábio
Narada. Estava feliz com a notícia e deu ao mensageiro um colar muito valioso.

O rei Uttanapada estava ansioso de ver o rosto de seu filho perdido. Subiu numa carruagem
ornada com filigranas de ouro e puxada pelos mais velozes cavalos do reino. Convocou para
acompanhá-lo brâmanes eruditos, os membros mais velhos da família, seus auxiliares,
ministros e amigos próximos e partiu imediatamente da cidade ao encontro do filho. Enquanto
a alegre caravana prosseguia, produzia sons auspiciosos de búzios, tambores, flautas e o
cântico de mântras sagrados para indicar a boa fortuna.

Ambas as rainhas de Uttanapada, Suniti e Suruchi, acompanhadas do príncipe Uttama,


juntaram-se à procissão. As rainhas iam sentadas no mesmo palanquim.

Ao ver o príncipe Dhruva aproximando-se da pequena floresta vizinha à cidade, Uttanapada


desceu de sua carruagem apressado. Ele estivera ansioso por ver seu filho Dhruva e, então,
tomado por amor e afeto profundos, correu para abraçar seu menino que reencontrava depois
de tanto tempo e, arfante, abraçou-o.

Mas aquele Dhruva já não era o mesmo de antes; por ter sido tocado pela Personalidade
Suprema de Deus, estava completamente santificado em seu avanço espiritual.

O encontro com seu filho satisfez o desejo cultivado pelo rei que cheirava a cabeça do filho
repetidamente e banhava-o com as lágrimas que rolavam em seu rosto.

Então, Dhruva Maharaj, o principal entre os nobres, primeiro ofereceu seus respeitos ao pai e
sentiu-se honrado de responder às várias perguntas que ele lhe fazia. Em seguida, curvou sua
cabeça diante de suas duas mães.

Suruchi, a mãe mais jovem do príncipe Dhruva, vendo que o menino inocente se prostrara
diante dela, levantou-o, abraçou-o, e, com lágrimas sentidas, abençoou-o dizendo:

" Meu querido menino, desejo que você viva uma vida longa!"

É natural que as pessoas ofereçam suas honras à pessoa que se mostra dotada de qualidades
transcendentais devido a seu comportamento amigável em relação à Pessoa de Deus.

Os dois irmãos Uttama e Dhruva também trocaram lágrimas. Eles se estavam dominados pelo
êxtase de amor e afeto e, ao se abraçarem, sentiram arrepios pelo corpo.

Suniti, a verdadeira mãe de Dhruva, abraçou o corpo tenro e purificado de seu filho que lhe era
mais querido que a própria vida, esquecendo-se de toda aflição material, frente à imensa
felicidade e orgulho que sentia de seu filho amado.

Suniti era a mãe de um grande herói. O corpo do príncipe ficou encharcado com as lágrimas e
também com o leite que fluía dos seios da mãe. Este era um sinal grandioso e auspicioso ao
extremo.
Os residentes do palácio estavam comovidos com o desfecho dessa história e alguns elogiaram
a Rainha dizendo:

"Querida Rainha, seu filho amado ficou tanto tempo perdido, e sua maior fortuna é tê-lo de
volta agora."

"Parece que seu filho poderá protegê-la por muito tempo e acabará com seu sofrimento
material."

"A senhora deve ter adorado ao Senhor Supremo que sempre liberta Seus devotos dos piores
perigos."

"As pessoas que meditam nEle sem cessar vão além do ciclo de nascimentos e mortes. Esta é a
perfeição mais difícil de se alcançar."

Enquanto todos exaltavam as qualidades e as atividades extraordinárias do príncipe Dhruva, o


rei sentia-se feliz demais. Ele sentou Dhruva se junto a Uttama no palanquim de uma elefanta,
e a caravana retornou à capital onde as pessoas puderam glorificar o príncipe.

A cidade estava enfeitada de colunas feitas de bananeiras que continham arranjos de frutas,
flores e galhos da noz de betel. Viam-se também portais em forma de arcos que pareciam
tubarões.

Em cada portão haviam lamparinas ardentes que queimavam óleos aromáticos, potes de água
decorados com tecidos de diversas cores e estampas, colares de pérolas, guirlandas suspensas
feitas de flores variadas e folhas de manga brilhantes.

A cidade tinha muitos palácios, portões e muralhas que já eram bonitos de se ver e que, nesta
ocasião especial, haviam sido enfeitados com ornamentos de ouro. As cúpulas dos palácios da
cidade brilhavam igual às cúpulas das belas naves que pairavam sobre a cidade.

As praças, vielas, ruas e avenidas da cidade, e ainda as arquibancadas elevadas instaladas nos
cruzamentos, tinham sido lavadas e borrifadas com água de sândalo. Por toda parte, viam-se
pilhas de grãos auspiciosos como arroz e cevada, e mais flores, frutas e outros presentes
especiais espalhados de modo artístico.

Assim que Dhruva Maharaj passou pelas ruas, provenientes de todos os bairros reuniam-se as
damas ansiosas de vê-lo. Devido ao afeto materno que sentiam pelo menino príncipe,
ofereceram-lhe suas bênçãos e despejaram sobre a caravana sementes de mostarda branca,
cevada, coalho, água, grama verde, frutas e flores. Passando lentamente por este cenário de
celebração, o príncipe entrou no palácio de seu pai, tendo ao fundo o som das doces canções
cantadas pelas senhoras da cidade.

O príncipe passou a residir no palácio do pai, cujas paredes estavam decoradas com jóias
valiosas. Seu pai afetuoso passou a cuidar pessoalmente dele, fazendo com que vivesse com a
mesma opulência dos semideuses em seus palácios dos sistemas planetários superiores.

A roupa de cama do palácio era tão branca quanto a espuma do leite e era muito suave ao
tato. As estruturas das camas eram feitas de marfim com filigranas de ouro, e as cadeiras, os
bancos, outros assentos e toda a mobília eram feitos de ouro.

O palácio do Rei era cercado por muralhas de mármore com relevos esculpidos de lindas
mulheres que seguravam em suas mãos lamparinas de jóias valiosas como safiras.

A residência do rei ficava em meio a jardins com várias árvores trazidas dos planetas celestiais.
Nessas árvores, viam-se casais de pássaros canoros e abelhas quase enlouquecidas que
produziam um zumbido muito agradável .

As escadarias eram enfeitadas por esmeraldas e conduziam a lagos cobertos de lírios e flores
de lótus de várias cores, em cujas margens passeavam, banhavam-se e nadavam cisnes,
karandavas, chakravakas, garças azuis e outros pássaros muito raros.

As atividades do príncipe eram maravilhosas ao extremo, e Uttanapada estava muito satisfeito


de ver e ouvir falar a respeito das gloriosas atividades de seu filho e de ver o quão influente e
grandioso ele era.

Depois de considerar em profundidade todos os aspectos e percebendo que Dhruva estava a


madurecido para encarregar-se do reino Uttanapada decidiu empossar o príncipe como
imperador da Terra , tendo o apoio de seus ministros e de todos os cidadãos que também o
amavam muito.

O rei também levou em consideração sua idade avançada e deliberou sobre seu bem-estar
espiritual. Desapegou-se dos negócios mundanos e decidiu retirar-se para a floresta, para viver
junto aos sábios e santos.

Pouco tempo depois, o agora imperador Dhruva casou-se com a filha de Prajapati Sisumara
que era conhecida como Bhrami, com quem teve dois filhos.

O poderoso imperador teve ainda outra esposa chamada Ila, filha de Vayu, o semideus do
vento. Com ela teve um filho e uma filha.

A guerra contra os Yaksas

Uttama permanecera solteiro. Partiu certa vez numa excursão de caça e foi morto por um
yaksa poderoso nas montanhas da cordilheira do Himalaia. Sua mãe, Suruchi, foi atrás do filho
e também morreu.

Quando o imperador Dhruva ouviu falar da morte do irmão pelos yaksas nas montanhas do
Himalaia, sentiu-se tomado pela lamentação e pela ira, montou em sua carruagem e partiu
para conquistar Alakapuri, a cidade dos yaksas.

Dhruva Maharaj seguiu no rumo norte, adentrando a cordilheira Himalaia. Ao chegar a um


vale, viu uma cidade habitada por pessoas de características fantasmagóricas e que eram
seguidores do senhor Shiva.

Como veremos, os guerreiros xátrias eram mestres de uma tecnologia que lhes permitia
desenvolver armas investidas de poderes místicos. Uma vez disparadas, as flechas
transformavam-se naquilo em que o guerreiro meditasse utilizando seus poderes mentais.

Logo que Dhruva Maharaj chegou a Alakapuri, fez soar imediatamente seu búzio. O som
reverberou pelos céus em todas as direções. As esposas dos yaksas ficaram muito
amedrontadas. Isso ficava aparente nos olhares repletos de ansiedade que trocavam entre si.

Os poderosos heróis yaksas não foram capazes de tolerar a vibração ressonante e provocadora
do búzio do imperador da Terra. Saíram armados de sua cidade e atacaram Dhruva.

Naquela época, as guerras eram disputadas em campos de batalha, pois governantes e


guerreiros respeitavam e protegiam as cidades, as lavouras e a vida de civis — mulheres,
crianças e anciãos. Somente as pessoas que por sua natureza eram guerreiros é que
participavam nas guerras.

Dhruva Maharaj era um excelente cocheiro e certamente um exímio arqueiro e,


imediatamente, pôs-se a matar yaksas disparando três flechas de cada vez simultaneamente.

Quando os heróis yaksas viram que suas cabeças estavam sendo ameaçadas pelo imperador,
puderam facilmente entender sua posição delicada e concluíram que seriam certamente
derrotados. Mas, como heróis que eram, louvaram as atividades de Dhruva.

As serpentes não podem tolerar serem pisoteadas por qualquer um. Do mesmo modo, os
yaksas não puderam tolerar a maravilhosa coragem do imperador Dhruva. Lançaram duas
vezes mais flechas contra Dhruva exibindo com valentia seu valor.

Eram 130.000 guerreiros yaksas poderosos e irados. Todos eles desejavam derrotar as
atividades extraordinárias de Dhruva Maharaj. Com força total, lançaram vários tipos de
flechas emplumadas, clavas de ferro, espadas, tridentes, lanças, lanceias e armas bhusundi que
desciam como chuva torrencial sobre Dhruva e sobre sua carruagem e cocheiro.

Dhruva Maharaj ficou completamente coberto pela chuva incessante de armas, como se fosse
uma montanha coberta por uma tempestade.

Os seres perfeitos dos sistemas planetários superiores observavam a luta desde o céu, e, ao
verem que Dhruva tinha sido coberto pelas flechas incessantes do exército inimigo, rugiram
tumultuosamente: "O neto de Manu, Dhruva, está agora perdido!" E choraram ao ver que
Dhruva Maharaj parecia um sol que se punha no oceano dos yaksas.
Os yaksas, sentindo-se temporariamente vitoriosos, gritaram seu gritos de vitória sobre o
imperador. Mas, nisso, a carruagem de Dhruva apareceu repentinamente. Foi como se o sol
aparecesse de repente de dentro da bruma nebulosa.

O arco e as flechas de Dhruva Maharaj ressoaram e assobiaram, causando lamentação aos


corações de seus inimigos. Ele começou a atirar flechas sem parar, quebrando suas diferentes
armas, parecendo o vento que sopra e espalha as nuvens reunidas no céu.

As flechas afiadas que saiam do arco do imperador perfuraram as couraças e os corpos do


inimigo, como se fossem raios atirados pelo rei dos céus para destroçar os picos das
montanhas.

As cabeças daqueles que haviam sido despedaçados pelas flechas de Dhruva Maharaj
mostravam uma formosura tenebrosa enfeitadas com brincos e turbantes. As pernas de seus
corpos estavam tão belas como se fossem árvores de palma douradas, seus braços estavam
enfeitados com pulseiras douradas e braceletes, e suas cabeças estavam cobertas por valiosos
elmos ornados de ouro. Todos estes ornamentos caídos sobre o campo de batalha eram muito
atraentes e poderiam desnortear a mente de um herói.

Os yaksas restantes e que, de alguma maneira, não haviam sido mortos tinham seus membros
cortados pelas flechas do imperador e começaram a fugir, como os elefantes fogem quando
são derrotados por um leão.

Dhruva Maharaj, o melhor dos seres humanos, observou que, naquele grande campo de
batalha, nenhum dos soldados adversários ficara de pé com suas armas. Ele desejou ver a
cidade de Alakapuri, mas pensou consigo mesmo, "Ninguém conhece os planos dos místicos
guerreiros yaksas".

Enquanto Dhruva Maharaj e seu cocheiro conversavam sobre as dúvidas que tinham quanto a
seus inimigos místicos, ouviram um som tremendo. Era como se o oceano inteiro estivesse
presente no vale. Viram descer do céu sobre eles uma grande tempestade de poeira que vinha
de todas as direções.
Num instante, o céu inteiro estava nublado por nuvens densas, e ouvia-se um trovejar
estrondoso. Raios refulgiam e, repentinamente, caiu uma chuva pesada.

Mas aquela não era uma chuva comum, pois o que caia era sangue, muco, pus, tutano, urina e
medula que jorravam pesadamente sobre Dhruva Maharaj, sendo que pedaços de corpos
também caiam do céu.

Nisso, apareceu no céu uma enorme montanha, e de todas as direções caia granizo, junto com
lanças, maças, espadas, clavas de ferro e grandes pedregulhos.

Dhruva Maharaj viu muitas serpentes de enormes olhos irados vomitando fogo que vinham
devorá-lo, seguidas de grupos de elefantes furiosos, leões e tigres.

Então, como se tivesse chegado a hora da dissolução do mundo inteiro, o mar feroz com ondas
espumantes avançou, rugindo para ele.

Os demônios yaksas são por natureza muito odientos, e por seu poder ilusório demoníaco são
capazes de criar muitos fenômenos estranhos para amedrontar pessoas de pouca inteligência.

Quando os grandes sábios viram que Dhruva estava sendo dominado pelos truques místicos e
ilusórios dos demônios yaksas, uniram-se imediatamente para oferecer-lhe encorajamento e
disseram:

"Querido Dhruva, que a Personalidade Suprema de Deus que alivia as angústias de Seus
devotos destrua todos seus inimigos ameaçadores. O santo nome de Deus é tão poderoso
quanto o próprio Deus. Portanto, por apenas cantar e ouvir o santo nome de Deus, as pessoas
podem ser protegidas da morte feroz sem dificuldade. É assim que um devoto é salvo."

Quando Dhruva Maharaj ouviu as palavras encorajadoras dos grandes sábios, executou o ritual
de purificação, tocando na água e, em seguida, pegou sua flecha feita pelo próprio Senhor
Narayana e fixou-a em seu arco.
Logo que Dhruva encostou a flecha mística em seu arco, a ilusão criada pelos yaksas foi
derrotada imediatamente, do mesmo modo que ao ficar consciente de seu ego a pessoa
derrota todas as dores e prazeres materiais.

Quando Dhruva Maharaj encostou a arma feita por Narayana em seu arco, flechas de hastes
douradas e plumas como as asas de um cisne voaram dele e penetraram nos corpos dos
guerreiros inimigos fazendo um alto som sibilante, como se fossem pavões entrando numa
floresta com seus gritos de alegria tumultuosa.

Essas flechas afiadas espantaram os guerreiros inimigos que quase perderam a consciência. Os
yaksas que permaneciam de pé no campo de batalha pegaram em suas armas e contratacaram
raivosamente. Pareciam as serpentes agitadas por Garuda correndo rumo a ele com seus
capelos levantados.

Os guerreiros yaksas prepararam-se para dominar Dhruva Maharaj com suas armas apontadas.

Dhruva, por sua vez, viu os yaksas avançando. Pegou suas flechas e despedaçou os inimigos.
Ao separar seus braços, pernas, cabeças e barrigas dos corpos, ele liberou as almas dos yaksas
que se transferiram para o sistema planetário que se situa logo acima do globo solar e que só é
atingível por aqueles que praticam a bramacharia e nunca descarregam seu sêmen.

Quando Svayambhuva Manu viu seu neto Dhruva matando tantos yaksas que não eram de
fato os ofensores, e devido à compaixão que sentiu, aproximou-se do neto acompanhado dos
sábios.

Manu disse:

"Meu querido filho, por favor pare com tanta matança. Não é bom ficar desnecessariamente
zangado —esse é o caminho para uma vida infernal. Agora, você ultrapassou os limites,
matando Yaksas que não são de fato os ofensores. As autoridades não aprovariam sua
matança dos yaksas que não cometeram qualquer pecado, e isso não serve à nossa família que
conhece as leis da religião e da irreligião. Você já provou seu afeto profundo por seu irmão e
sua tristeza por ele ter sido morto por um yaksa. Mas considere que, devido à ofensa de um
único yaksa, você matou muitos outros que eram inocentes.
"A pessoa não deveria aceitar o corpo como sendo o eu e, como um animal, matar os corpos
de outras criaturas. As pessoas santas que seguem o caminho do serviço em devoção à
Personalidade Suprema de Deus condenam isso. É muito difícil alcançar a morada espiritual de
Hari, nos planetas Vaikuntha, mas você é tão afortunado que já está destinado a ir para aquele
mundo através da adoração a Ele que é a residência suprema para todas as entidades vivas.
Por você ser um devoto puro do Senhor, Ele está sempre pensando em você, e todos Seus
devotos confidenciais também conhecem sua fama. Sua vida destina-se a exibir um
comportamento exemplar.

"Eu estou portanto surpreso que você tenha empreendido uma tarefa tão abominável. O
Senhor está muito satisfeito com Seu devoto quando este lida com outras pessoas com
tolerância, misericórdia, amizade e igualdade. A pessoa que, de fato, satisfaz a Personalidade
Suprema de Deus durante sua vida é liberada das condições materiais grosseiras e sutis. Sendo
assim liberta da influência dos modos da natureza material, alcança a felicidade espiritual
ilimitada. A criação do mundo material começa pelos cinco elementos —terra, água, fogo, ar e
éter— e, por conseguinte, tudo, inclusive o corpo de um homem ou de uma mulher, compõe-
se destes elementos. Através da vida sexual entre um homem e uma mulher, o número de
seres humanos de ambos os sexos aumenta cada vez mais povoando este mundo material. A
criação, a manutenção e a aniquilação de tudo que existe ocorre simplesmente devido à
energia ilusória material do Senhor Supremo e pela interação dos três modos da natureza
material.

"Meu querido Dhruva, Deus é incontaminado pelos modos da natureza material. Ele é a causa
remota da criação desta manifestação cósmica material. Quando Ele dá o ímpeto, muitas
outras causas e efeitos são produzidos, e o universo inteiro se move, assim como o ferro se
move pela força de um imã. A Pessoa de Deus, por meio de Sua energia suprema inconcebível,
o tempo, causa a interação dos três modos da natureza material das quais se manifestam
várias energias. Parece que Ele está agindo, mas Ele não é o ator. Parece que é Ele quem está
matando as criaturas deste mundo, mas Ele não é o matador. Tudo acontece porque Seu
poder inconcebível está por trás.

"A Personalidade Suprema de Deus existe sempre, mas ao assumir Sua forma do tempo, Ele
mata tudo que existe. Embora seja o começo de tudo, Ele não tem começo, e embora tudo
seja exaurido em seu devido tempo, Ele não Se exaure. As entidades vivas são criadas por meio
do agenciamento de um pai e mortos pelo agenciamento da morte, mas Ele permanece
sempre livre do nascimento e da morte. A Personalidade Suprema de Deus, como o tempo
eterno, encontra-se presente no mundo material e Se mantém neutro em relação ao mundo.
Ninguém é Seu aliado e ninguém é Seu inimigo. Dentro da jurisdição do elemento tempo,
todos desfrutam ou sofrem o resultado de seu próprio carma, ou de suas atividades
reacionárias. Ao soprar, o vento faz pequenas partículas de pó voarem pelo ar; do mesmo
modo, a pessoa sofre ou desfruta da vida material segundo seu carma particular.

"A Personalidade de Deus, Vishnu, é Todo-poderosa, e Ele concede os resultados de todas as


atividades. Portanto, enquanto a duração de vida de um ser vivo é muito pequena e de outra é
muito grande, Ele permanece sempre em Sua posição transcendental, e não há questão de
diminuir ou aumentar a duração de Sua vida. A diferença entre as várias formas vida e seu
sofrimento e desfrute é explicada por alguns como resultando do carma. Outros dizem que se
deve à natureza; outros, devido ao tempo; outros, devido ao destino, e, ainda outros, afirmam
que se deve ao desejo.

"A Verdade Absoluta, a Transcendência, jamais pode ser compreendida pelo esforço dos
sentidos imperfeitos, e nem pode ser percebida diretamente. Ele é o mestre das varias
energias, na forma da energia material total, e ninguém pode compreender Seus planos ou
ações; então, podemos concluir que embora Ele seja a causa original de todas as causas,
ninguém pode conhecê-lO através da especulação mental. Meu querido filho, esse yaksas que
são os descendentes de Kuvera não são de fato os assassinos de seu irmão; o nascimento e a
morte de toda entidade viva são causados pelo Supremo, que é certamente a causa de todas
as causas.

"A Personalidade Suprema de Deus cria este mundo material, mantém-no e aniquila-o a seu
devido tempo; mas, por ser transcendental a tais atividades, ao agir, Ele nunca é afetado pelo
ego nem pelos modos da natureza material. A Personalidade de Deus é a Superalma situada no
coração de todas as entidades vivas. Ele é o controlador e mantenedor do mundo inteiro;
através de Sua energia externa, Ele cria, mantém e aniquila o mundo.

"Dhruva, por favor, renda-se à Pessoa de Deus que é a meta última do progresso do mundo.
Todos no mundo, inclusive os semideuses liderados pelo senhor Brahma, estão trabalhando
sob Seu controle, da mesma maneira que um touro, incitado por uma corda em seu nariz, é
controlado por seu dono. Meu filho, você tinha apenas cinco anos de idade quando foi
gravemente ferido pelas palavras de sua madrasta, deixando a proteção de sua mãe com
muita valentia, tendo ido para a floresta para se ocupar no processo iogue para realização da
Personalidade Suprema de Deus. Como resultado disso, você já alcançou a posição mais
elevada nos três mundos. Por favor, dirija sua atenção à Pessoa Suprema que é o infalível e
onipenetrante Brahman. Perceba a Personalidade Suprema de Deus em Sua posição original, e
assim, através da auto-realização, você poderá perceber que esta diferenciação material é
ilusória e instável. Retomando assim sua posição natural e realizando serviço ao Senhor
Supremo que é o reservatório Todo-Poderoso de todo prazer e quem vive dentro de todas as
entidades vivas como a Superalma, muito em breve você se livrará da compreensão ilusória
baseada no falso conceito de " eu " e " meu". Meu querido rei do mundo, apenas considere o
que eu lhe disse e que agirá como um remédio sobre uma doença. Controle sua ira, pois ela é a
principal inimiga no caminho da realização espiritual.

" Desejo-lhe toda boa fortuna. Por favor, siga minhas instruções. A pessoa que tem vontade de
atingir a liberação deste mundo de repetidos nascimentos e mortes não deveria cair sob o
controle da ira porque, quando a pessoa é desnorteada pela ira, ela causa medo a todas as
pessoas. Meu querido Dhruva, você pensou que os yaksas mataram seu irmão, e por isso você
matou um grande número deles. Mas por ter feito isso você agitou a mente de Kuvera, o irmão
do Senhor Shiva, e o tesoureiro dos semideuses. Por favor, perceba que suas ações foram
muito desrespeitosas a Kuvera e ao Senhor Shiva. Por isso, meu filho, você deve pacificar
Kuvera imediatamente com palavras doces e orações, e a ira dele não afetará nossa família."

Depois de instruir seu neto Dhruva, Svayambhuva Manu aceitou as reverências respeitosas
dele e, junto com os sábios que o acompanhavam, retornou para sua morada.

A ira de Dhruva cedeu, e ele parou de matar os yaksas. Quando Kuvera, o mais abençoado
mestre da tesouraria universal, soube a respeito do ocorrido, apareceu diante dele. Enquanto
era adorado pelos yaksas, kinnaras e charanas, ele falou com o imperador Dhruva que se
levantou diante dele com as mãos em prece respeitosas.

O mestre tesoureiro, Kuvera, então disse:

"Dhruva, você é o impecável filho de um santo guerreiro xátria. Estou muito feliz de saber que
você seguiu a instrução de seu avô e abandonou seus sentimentos de inimizade, ainda que isso
é muito difícil de se evitar. Eu estou muito contente com você. A verdade é que não foi você
quem matou os yaksas, nem foram eles que mataram seu irmão. A causa última da geração e
aniquilação de tudo o que existe é o tempo eterno do Senhor Supremo. A pura ignorância de
sua identidade original faz com que as pessoas se identifiquem com o conceito corporal de ‘eu’
e ‘tu’. Essa identidade física é a causa dos repetidos nascimentos e mortes, e faz com que as
pessoas entrem continuamente na existência material.

"Assim, vá em frente e que o Senhor Supremo possa agraciá-lo sempre com boa fortuna. A
Personalidade Suprema de Deus situa-Se além da percepção dos sentidos. Ele é a Superalma
de todas as entidades vivas. Sendo assim, todas os seres são unos, sem distinção. Portanto,
execute serviço à forma transcendental do Senhor, pois Ele é o último refúgio de todas as
criaturas. Ocupe-se totalmente no serviço em devoção ao Senhor, pois só Ele pode nos libertar
desta teia da existência material. Embora o Senhor esteja conectado à Sua potência material,
Ele permanece indiferente às atividades dela.

"Tudo neste mundo material está acontecendo pela potência inconcebível da Personalidade
Suprema de Deus. Meu querido Dhruva Maharaj, você é o filho de meu filho Uttanapada.
Todos contam que você está sempre envolvido no serviço amoroso e transcendental à
Personalidade Suprema de Deus, Quem é famoso pois Brahma, o criador dos sistemas
planetários no universo nasceu da flor de lótus que brotou no lago que se formou em Seu
umbigo. Você merece receber todas nossas bênçãos. Não hesite em pedir-me qualquer bênção
que desejar."

Quando Kuvera, o rei dos yaksas convidou-o a aceitar uma bênção sua, Dhruva Maharaj, por
ser um devoto puro muito elevado e um rei inteligente e meditativo, implorou pela fé
inabalável e pela lembrança contínua da Personalidade Suprema de Deus, pois, sabia ele que,
desse modo, uma pessoa pode cruzar o oceano de ignorância com facilidade, embora isso seja
difícil de se fazer.

Kuvera, ficou muito contente ao ouvir o pedido de Dhruva, e sentiu-se feliz de poder dar-lhe a
bênção pedida. Depois disso, ele desapareceu da presença de Dhruva, e este retornou ao
palácio imperial.

Dhruva Maharaj Retorna a Deus

Enquanto permaneceu em casa, Dhruva Maharaj realizou inúmeras cerimônias de sacrifícios


devocionais para agradar ao desfrutador de todos os sacrifícios, a Personalidade Suprema de
Deus.

Os sacrifícios cerimoniais prescritos nas escrituras védicas destinam-se especialmente à


satisfação do Senhor Vishnu, o próprio objetivo de todos esses sacrifícios e Aquele que
concede as bênçãos resultantes de sua execução.

Dhruva realizou serviço em devoção ao Senhor Supremo, o reservatório de tudo, com sua
força inflexível que o caracterizou a vida inteira. Ao executar seu serviço em devoção ao
Senhor, ele foi capaz de perceber que tudo existe apenas dentro dEle e que Ele Se situa dentro
de todas as criaturas móveis e imóveis.
O Senhor é também chamado de Achyuta, nome esse que significa que Ele nunca falha em Seu
dever principal de oferecer proteção a Seus devotos.

Dhruva Maharaj era um homem dotado de todas as qualidades religiosas; tinha muito respeito
pelos devotos do Senhor Supremo e era muito bondoso com os pobres e inocentes, e, como
imperador da Terra, sempre protegeu os princípios religiosos. Com todas essa qualificações,
era natural que os cidadãos da Terra o considerassem como um pai.

O imperador Dhruva governou a Terra por trinta e seis mil anos, mantendo seu corpo e sua
disposição sempre jovens pela bênção de Deus. Ele sabia que, a cada momento de desfrute
que vivia, diminuía as reações que resultam das atividades piedosas, e, ao realizar
austeridades, diminuía as reações desfavoráveis.

A grande alma autocontrolada de Dhruva Maharaj passou milhares de anos praticando os três
tipos de atividades mundanas, ou seja: religiosidade, desenvolvimento econômico e satisfação
de todos os desejos materiais. Depois disso, ele lembrou de seu pai, o rei Uttanapada, e
entregou a responsabilidade do trono imperial a seu filho primogênito.

O maravilhoso Dhruva Maharaj iluminou-se com a percepção clara de que esta manifestação
cósmica, por ser uma criação da energia ilusória e externa do Senhor Supremo, desnorteia as
entidades vivas como um sonho ou fantasmagoria .

Dhruva Maharaj, por fim, abandonou seu reino que se estendia por toda a Terra e cujas
fronteiras encostavam nos grandes oceanos do planeta. Ele considerou o próprio corpo, as
esposas, os filhos, os amigos, o exército, seu rico tesouro, seus palácios confortáveis e os
tantos prazeres agradáveis que podia experimentar como sendo apenas criações da energia
ilusória, e retirou-se para a floresta no Himalaia conhecida como Badarikasrama.

Badarikasrama é uma região sagrada onde vivem personalidades santas e iluminadas que
alcançaram estados de consciência puros e estáticos. Localizada nas encostas dos picos
nevados do Himalaia ao norte da Índia, a região conta com vales e bosques por onde correm
rios cascateantes de águas cristalinas.
Ao chegar à região, Dhruva purificou completamente seus sentidos banhando-se regularmente
nas águas purificadas e límpidas. Sentou-se imóvel e, através da prática iogue, controlou a
respiração do ar vital. Por meio desse processo, seus sentidos foram completamente
removidos dos objetos de sua percepção. Logo, ele concentrou sua mente sem desvios na
forma da Deidade do Senhor. A Deidade é uma réplica exata da forma transcendental da
Personalidade de Deus. Ao meditar nEle, Dhruva entrou em transe completo.

Devido à felicidades transcendental que sentia, lágrimas incessantes fluíram de seus olhos,
sentiu o coração derreter e um arrepio tomar conta de seu corpo deixando seus cabelo de pé.

Transformado pelo transe do serviço em devoção, Dhruva Maharaj esqueceu-se


completamente de sua existência no corpo e sua alma foi imediatamente liberta da escravidão
à matéria.

Logo que os sintomas de sua liberação se manifestaram, ele viu uma nave refulgente e
extraordinária descendo dos céus. Era como se a lua cheia brilhante estivesse descendo diante
dele e iluminando todas as direções.

Dhruva viu dois associados do Senhor Vishnu desembarcarem. Eles tinham quatro braços e um
lustre corpóreo cinza-azulado. Eram muito jovens, e seus olhos pareciam pétalas da lótus
avermelhada. Traziam maças de ouro entalhadas em suas mãos. Vestiam roupas de seda
elegantes. Traziam elmos de pedras preciosas sobre a cabeça de longos cabelos pretos que
ondulavam ao vento e seus colares, pulseiras e brincos refulgiam refletindo raios de luzes
coloridas.

Dhruva Maharaj percebeu que essas personalidades incomuns eram servos diretos da
Personalidade Suprema de Deus e levantou-se imediatamente. Mas estava confuso diane da
visão e, em sua precipitação, esqueceu-se de recepcioná-los de modo apropriado, e ofereceu-
lhes reverências simples com as mãos em prece, cantando e glorificando os santos nomes do
Senhor.

Dhruva estava sempre absorto pensando nos pés de lótus do Senhor Krishna com o coração
preenchido por Deus. Quando os dois servos confidenciais do Senhor Supremo, Nanda e
Sunanda, aproximaram-se sorrindo contentes, Dhruva mantinha ainda as mãos juntas,
enquanto se curvava humildemente.
Nanda e Sunanda disseram:

"Querido Rei, receba toda boa fortuna. Ouça atentamente o que diremos. Com cinco anos de
idade, você realizou austeridades severas, e assim satisfez a Personalidade Suprema de Deus.
Somos representantes desse Deus Supremo tão seu conhecido. Ele é o criador de todo o
universo. Ele nos pediu pessoalmente que viéssemos para conduzi-lo ao mundo espiritual. É
difícil uma pessoa alcançar a morada de Vishnu. Devido a suas austeridades, você conquistou
esse direito. Nem os grandes sábios santos, nem os semideuses são capazes de alcançar essa
posição. Apenas para poder ver a morada suprema, o planeta de Vishnu, o sol, a lua e todos os
demais planetas, estrelas, mansões lunares e sistemas planetários circundam esse planeta.
Agora, venha conosco… você é bem-vindo lá. Querido Rei Dhruva, saiba que nenhuma outra
pessoa antes de você alcançou esse planeta transcendental. O planeta que é conhecido pelo
nome de Vaikuntha, é a residência pessoal do Senhor Vishnu, sendo o mais elevado de todos. É
adorado pelos habitantes dos demais planetas dentro do universo. Por favor, venha conosco e
viva lá eternamente. Ó imortal, esta nave sem igual foi enviada pela Personalidade Suprema de
Deus, quem é adorado através de preces seletas e é o chefe de todas as entidades vivas. Você
merece subir a bordo desta nave."

Dhruva Maharaj era muito amado pela Personalidade Suprema de Deus. Depois ouvir as
palavras doces dos associados do Senhor de Vaikuntha, ele tomou imediatamente seu banho
nas águas sagradas de Badarikashram, vestiu-se apropriadamente e executou seus deveres
espirituais diários. Depois disso, ofereceu suas respeitosas reverências aos grandes sábios e
santos presentes para sua despedida e aceitou suas bênçãos.

Antes de ir a bordo da nave transcendental, Dhruva adorou a nave, circundando-a, e também


ofereceu reverências aos associados de Vishnu. Enquanto fazia isso, foi ficando tão brilhante e
refulgente quanto o ouro derretido. Depois disso, ele estava pronto para embarcar na nave de
Nanda e Sunanda.

Ao tentar embarcar, ele percebeu que a morte personificada se aproximava dele. Porém, nem
se preocupou com ela e aproveitou a oportunidade para pôr seus pés sobre sua cabeça e pular
para dentro da nave, que era tão grande quanto uma casa.
Nesse momento, tambores de várias sonoridades ressoaram pelo céu. Os principais anjos
Gandharvas começaram a cantar suas odes e semideuses montados em suas naves
despejaram flores como torrentes de chuva sobre Dhruva Maharaj.

Dhruva já estava sentado na nave transcendental que iniciava sua decolagem quando se
lembrou de sua querida mãe, a rainha Suniti. Ele pensou: "Como irei só para o planeta
Vaikuntha deixando minha pobre mãe para trás?"

Nanda e Sunanda puderam entender a mente de Dhruva Maharaj e mostraram-lhe que Suniti
entrava adiante em outra nave.

Enquanto atravessava o espaço cósmico, Dhruva viu os planetas do sistema solar passarem
progressivamente, e, pelo caminho, viu os semideuses em suas naves que continuavam
despejando uma chuva de flores sobre ele.

Ele se viu atravessando os sete sistemas planetários dos grandes sábios e, depois de deixar
essa região para trás, chegou à região transcendental de vida eterna no planeta do Senhor
Vishnu.

Como já disse, a nave era pilotada pelos dois principais associados do Senhor Vishnu, Sunanda
e Nanda. Somente tais astronautas espirituais são capazes de pilotar sua nave para além dos
sete planetas e chegar à região de vida eterna e bem-aventurada.

Krishna também confirma no Bhagavad-gita que, além destes sistemas planetários materiais
físicos e sutis, começa o céu espiritual onde a existência é eterna e feliz.. Os planetas daquele
céu espiritual são conhecidos como Vaikuntha. Somente nesses planetas Vaikuntha a pessoa
pode obter uma vida de felicidade eterna e conhecimento pleno.

Abaixo dos planetas Vaikuntha encontra-se o universo material onde Brahma e todos os
habitantes de seu planeta Brahmaloka podem viver até a aniquilação final deste universo. Mas
a vida nos planetas materiais não é permanente. Isso também é confirmado por Krishna no
Bhagavad-gita. Mesmo que viva no planeta mais elevado deste universo material, a pessoa não
poderá alcançar uma existência eterna. Somente ao chegar a Vaikuntha poderá obter uma
existência de felicidade eterna e iluminação.

Os planetas Vaikuntha são auto-refulgentes e sua refulgência se reflete nas estrelas deste
mundo material; não podem ser alcançados por aqueles que não mostrarem misericórdia a
todas as demais entidades vivas. Somente aqueles que se ocupam sempre do bem-estar de
outros seres vivos podem chegar aos planetas Vaikuntha.

Pessoas pacíficas, equilibradas, limpas, puras e que conhecem a arte de agradar às demais
entidades vivas, mantêm amizade com os devotos do Senhor. Só elas podem facilmente obter
a perfeição de retornar ao lar, de volta a Deus.

Foi assim que o filho exaltado de Uttanapada, Dhruva Maharaj, por ter se tornado
completamente consciente de Krishna, atingiu o mais elevado planeta de todas as galáxias do
universo.

Igual a um rebanho que circunda um poste central movendo-se no sentido horário, todas as
estrelas no céu universal incessantemente circundam a morada de Dhruva Maharaj com
grande força e velocidade.

Depois de testemunhar as glórias de Dhruva, o grande sábio Narada foi para a arena de
sacrifícios dos Prachetas e, enquanto tocava sua vina em êxtase, cantou a seguinte canção:

"Pela simples influência

de seu avanço espiritual

e dura austeridade sem igual,

Dhruva Maharaj, o filho de Suniti

entregue ao esposo imperador,

fez-se assim tão exaltado

que nem o mais sábio conhecedor

de todo livro sagrado

nem os estritos praticantes


de todos os princípios e rituais iluminantes,

sem falar dos meros mortais encarnados,

jamais poderão lá chegar.

"Vejam só como Dhruva,

triste com as palavras da madrasta,

foi para a floresta

com apenas cinco anos,

e sob minha orientação

ocupou-se na execução

de austeridades.

Embora Deus seja inconquistável,

Dhruva Maharaj derrotou-O

com seu coração amorável

visto nos devotos do Senhor.

"Seis meses de austeridade

e cinco ou seis anos de idade

deram a Dhruva tão exaltada posição.

Ai, mesmo um grande guerreiro

não pode tolerar tal situação

sequer depois de sofrer penitência

por muitos e tanto anos de existência."

Maitreya Rishi, o grande sábio e santo contou desse modo a famosa história a respeito da
grande reputação e do caráter de Dhruva Maharaj. Os exaltados santos devotos apreciam
ouvir a história da vida de Dhruva.
Por tê-la ouvido, uma pessoa é capaz de satisfazer seus desejos de riqueza, reputação e
aumentar a duração de sua vida.

É tão auspicioso ouvi-la que, somente por falar dele, a pessoa pode ser levada a um planeta
celestial ou pode atingir o planeta onde Dhruva mora eternamente com o próprio Senhor
Supremo.

Os semideuses também ficam satisfeitos de ouvi-la, pois esta narração é tão gloriosa e tão
poderosa que é capaz de funcionar como um antídoto para a reação das ações pecaminosas do
carma de cada um.

Qualquer pessoa que ouvir a história de Dhruva Maharaj e repetidamente tentar com fé e
devoção entender seu caráter puro, atingirá a pura plataforma devocional e executará serviço
em devoção pura ao Senhor Supremo em Pessoa. Por meio de tais atividades, a pessoa poderá
diminuir as condições miseráveis triplas da existência material.

Qualquer pessoa que ouvir esta história da vida de Dhruva Maharaj verá que as qualidades
exaltadas de Dhruva se manifestarão em seu próprio carater.

Qualquer pessoa que desejar grandeza, coragem ou influência, deve saber que este é o
processo para adquiri-las. E para as pessoas pensativas que desejam adorar a Deus, eis os
meios apropriados para obter suas metas.

A pessoa deveria cantar sobre o caráter e as atividades de Dhruva Maharaj tanto pela manhã
como pela noite, com grande atenção e cuidado, na associação de verdadeiros brâmanes, ou
seja de pessoas que nasceram duas vezes. A pessoa nasce pela primeira vez num corpo físico
por meio de um pai e de uma mãe. Pela graça do mestre espiritual, ela nasce pela segunda vez
em seu corpo espiritual.

Aqueles que se abrigaram completamente nos pés de lótus do Senhor deveriam recitar esta
história da vida de Dhruva Maharaj sem fins lucrativos.
Recomenda-se a leitura desta história durante a lua cheia ou na lua nova, um dia depois do
Ekadasi (o décimo primeiro dia depois da lua cheia e depois da lua nova, dias muito
auspiciosos para a prática do jejum, da meditação e da devoção), ao final do mês, ou num
domingo. Tal recitação deveria ser executada, é claro, diante de um público favorável. Quando
a recitação é executada dessa forma, sem qualquer motivo profissional, tanto o recitador
como a audiência tornam-se perfeitos.

A história de Dhruva Maharaj consiste do conhecimento mais sublime e que permite a


qualquer pessoa alcançar a imortalidade.

Aqueles que são inconscientes da Verdade Absoluta podem ser conduzidos ao caminho da
verdade.

Aqueles que, devido à sua bondade transcendental, aceitam a responsabilidade de tornar-se


mestres-protetores das pobres entidades vivas despertam automaticamente o interesse e as
bênçãos dos semideuses.

As atividades transcendentais de Dhruva Maharaj são famosas em todo o universo e são


certamente muito puras. Em sua infância, Dhruva Maharaj rejeitou todos os tipos de
brinquedos e brincadeiras, deixou a proteção da mãe e seriamente abrigou-se na
Personalidade Suprema de Deus, Krishna.

Concluo esta narração pois a descrevi em todos seus detalhes.

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