REPUBLICANO
RESUMO
A cerâmica representa a categoria mais abundante da cultura material portátil que chegou
até nós a partir do mundo romano, e por conseguinte, não é surpreendente que os estudos da
cerâmica tenha vindo a adquirir uma posição proeminente dentro da arqueologia romana.
Considerando que os inquéritos realizados nos primeiros anos da pesquisa de cerâmica
romana se centravam principalmente nas questões da tipologia e cronologia, na década de 70
começou-se a abraçar a percepção de que a cerâmica constituía, também uma importante fonte
de informações sobre vários aspectos da vida económica do mundo romano, e grande parte da
investigação que tem sido realizada desde então tem-se centrado em temas como a geografia,
organização e tecnologia de produção, os mecanismos e intensidade de distribuição, consumo,
uso e desempenho das variadas características das cerâmica romanas então produzidas.
Este trabalho aborda algumas características de produção, distribuição e uso da “Cerâmica
de Verniz Vermelho Pompeiano no Período Republicano” e não pretende ser um estudo
aprofundado do assunto, visto que a informação disponível é por vezes antagónica.
ABSTRACT
The pottery is the most abundant of portable material culture that has survived from the
Roman world, and therefore it is not surprising that studies of pottery has been acquiring a
prominent position within the Roman archeology.
Whereas the surveys in the early years of Roman pottery research were focused mainly on
issues of typology and chronology, in the '70s began to embrace the perception that the pottery
was also an important source of information on various aspects of economic life of the Roman
world, and much of the research that has been done since then has focused on topics such as
geography, organization and production technology, the mechanisms and intensity distribution,
consumption, performance and use of various characteristics of ceramic Roman then produced.
This work addresses some aspects of production, distribution and use of the "Pompeian
Red Ware during the Republican Period" and is not intended to be a depth study of the subject,
since the available information is sometimes antagonistic.
1. INTRODUÇÃO
Foram levadas a cabo rigorosas análises químicas que estabeleceram os locais de produção
dos vários tipos de cerâmica através do império romano, em particular “terra sigillata”, ânforas e
outras em geral.
cerâmicas de verniz vermelho pompeiano, tem misturada nas pastas que a compõe, barro
vermelho bem distinto desta zona o qual foi identificado petrologicamente como sendo composto
Este tipo de cerâmica tem vindo a ser encontrado em vários locais que na altura fariam
parte do império romano (entre eles a Península Ibérica, mais propriamente em Portugal sobre a
qual falaremos mais à frente) o que indica não só a disseminação a partir de Pompeia como
também a existência de fabricas de olaria ao longo do império que se dedicava a produção deste
tipo de cerâmica, têm sido encontradas fábricas de “Pompeian Red Ware” na Grécia, França,
Norte de Africa, Itália, Alemanha e Inglaterra que produziriam o mesmo tipo de cerâmica mas
cujas pastas como é lógico teriam uma composição diferente. (Peacock, 1977)
império romano entre o sec. I a .C. e o sec. I d.C.. O nome deriva da sua
cor “pompeian red” e não do local cujo nome refere (Pompeia)”. In The
Esta afirmação, quanto a mim, torna-se excessivamente individualista, não expressa uma
realidade visto que este tipo de cerâmica teria tido o seu início de produção em Itália (Etrúria e
mais tarde Campânia), sendo imitada mais tarde por outras fábricas de cerâmica, ao longo do
confecção de alimentos, pode no entanto também ter sido utilizada para o serviço de mesa para
conter e servir alimentos, tendo sido consequentemente tratada como se de uma cerâmica fina se
tratasse, mais devido a facilidade em ser reconhecida mas também devido à sua cobertura de
verniz normalmente só a nível do interior das peças. Trata-se portanto de uma categoria de
Como classe de cerâmica, a Pompeian Red Ware tem vindo a ser estudada desde o século
Nagev 1974, Pucci 1974, Wynia 1979, Aguarod Otal 1980, Grunevald 1980 e Papi 1994.
2. ORIGEM
montanhas de Chianti, produziram uma certa quantidade de cerâmicas geralmente utilizada para
cozinhar (também conhecida como pompeian red ware ou cerâmicas de verniz/engobe vermelho
pompeiano) especialmente panelas e tampas, tampas essas que poderiam também ter servido de
prato, que proporcionaram um excelente enquadramento cronológico para este tipo de cerâmica.
Esta variedade de cerâmica, fabricada a partir dos finais do século III a.C. (220) até ao final do
século I d.C., foi a primeira das cerâmicas de cozinha exportadas e produzidas em massa, que
granítico na mistura da pasta e parece provável que tenha sido produzido no norte da Etrúria
entre o final do século III a.C. e o segundo quartel do século II a.C. . Este é um resultado com
algum interesse, uma vez que tem sido amplamente assumido que os centros de início da
produção de cerâmica de verniz vermelho pompeiano teriam sido na área da baía de Nápoles.
provável que tenham sido produzidos no sul da Etrúria, na área de Roma, ou na área da Baía de
dominando nos inventários a partir da época de Augusto (Aguarod, 1991, p. 58). A produção da
cerâmica de verniz vermelho pompeiano podem também ter explorado fontes de argila das quais
confecção de alimentos. Além disso, tais estudos podem permitir a reconstrução de padrões mais
Mas com a produção de cópias em considerável quantidade, este tipo de loiça circulou
em grande parte no Mediterrâneo oriental e ocidental nos primeiros séculos a.C. e d.C. (Peacock
1977). Este tipo de loiças de verniz vermelho pompeiano foi importado para a Inglaterra no
primeiro século d.C. de Itália e Gália, principalmente pelo exército de conquista. Por vezes
imitada, principalmente por oficinas de oleiros locais que as forneciam aos militares ai
Trajano, não há nenhuma evidência de sua presença ou mesmo de imitações, no norte do país
(Espanha, França,
itálica apresenta uma lata distribuição por todo o império romano, surgindo na Britânia,
Hispânia, Germânia, Gália e, naturalmente, na Península Itálica. Tal como no restante Império, a
produção na Península Ibérica de pratos com morfologia e funcionalidade idênticas aos originais
itálicos está também bem atestada, não só em Espanha, mas também em Portugal.
ESPÓLIO
Ana Maria Arruda e Catarina Viegas no seu trabalho “As cerâmicas de engobe vermelho
recolhidos, oitenta e nove fragmentos (setenta e duas peças), mas considerando a raridade do
aparecimento deste tipo de cerâmicas noutros contextos da época romana poder-se-á afirmar que
a quantidade é significativa e passível de ser fazer um estudo mais aprofundado das mesmas.
consistência, dureza, cor, assim como dos elementos que a constituem. A análise geral das
verniz cobre apenas a superfície interna e raramente excede a superfície externa do bordo. O
verniz é espesso, muito aderente e de brilho mate. Pelas marcas observadas nas várias peças,
constatou-se que a fabricação das mesmas assim como o polimento do verniz que as cobre é feito
maioria delas não apresentavam o característico enegrecimento exterior por acção do fogo.
Do ponto de vista morfológico o tipo de peças predominante são pratos grandes de amplo
com grande incidência na costa ocidental italiana e no vale do Ebro, assim como no baixo
CONTEXTO
provocada pelas varias ocupações anteriores, especialmente a islâmica que na sua época de
ocupação construiu uma grande quantidade de silos no local, dificultou grandemente as recolha
do espólio no seu contexto original, mas isso não impediu que muitas vezes não tenha sido
cronológicos precisos.
permitiram assim afirmar, com segurança, que a importação de cerâmicas de “engobe vermelho
pompeiano” ocorre, sobretudo, a partir do alto império, uma vez que a grande maioria dos
fragmentos recuperados surgiu em camadas arqueológicas que puderam ser datadas entre início
Seguro é o facto de que a importação destas cerâmicas não se ter prolongado para além
dos meados do século I d.C., uma vez que os níveis datados dos meados do século I a meados do
“Assim pode afirmar-se que a grande maioria das importações de cerâmica de engobe
vermelho pompeiano ocorreu durante o alto império. De facto, e apesar dos vestígios materiais
atribuíveis a época republicana estarem muito bem documentados no sítio, apenas escassos
fragmentos foram recolhidos em níveis anteriores ao reinado de Augusto” (Arruda e Viegas 2002
pag. 230).
CONCLUSÃO
A ausência de produções locais de cerâmica de engobe vermelho não pode deixar de ser
assinalada, uma vez que, nos restantes sítios estudados, a percentagem destes em relação aos
Esta situação pode traduzir a elevada capacidade económica dos habitantes de Santarém
(Scallabis) e mesmo o seu estatuto jurídico, mas a situação geográfica privilegiada não pode
muitas vezes presentes em acampamentos militares, fazendo parte dos equipamentos domésticos
das tropas, podendo ser esta outra das outras razões da presença significativa deste tipo de
cerâmica.
ESPÓLIO
São duas as formas que as peças apresentam, Aguarod 4 e Aguarod 6 e só uma das peças
apresenta vestígios de ter sido utilizada ao fogo, enquanto que as outras duas teriam
sobre a disseminação da mesma a nível regional, apenas podemos referir que estamos perante um
produto importado da Campânia e tendo por base o paralelismo tipológico poderemos apontar a
ESPÓLIO
CONCLUSÃO
Os quantitativos de cerâmica e toda ela originária da Península Itálica (não se tendo
encontrado imitações) encontrada em Santarém (alcáçova) e em Lisboa (teatro romano), faz
concluir e reforça a ideia em relação à capacidade aquisitiva e comercial destes dois grandes
centros populacionais, não havendo por isso a necessidade de recorrer a imitações.
Se atendermos ao facto de que ambas as cidades se situarem no mesmo âmbito
geográfico, à beira do Tejo, e integradas no mesmo circuito comercial, poderemos concluir que
as formas e produções que chegaram a um sitio terão muito provavelmente alcançado o outro.
3.4 PRAÇA DA FIGUEIRA (Necrópole romana)
Rodrigo Banha da Silva no seu trabalho “Marcas de oleiro em terra sigillata da Praça da
“O contexto 8060 corresponde a uma outra fossa detrítica, localizada numa área marginal
à necrópole que lhe é posterior … Do conjunto cerâmico, abundante, destaca-se alguma cerâmica
fabrico campano (fragmentos de dois pratos da forma Luni 5)” (Silva p. 232 e 278), (a forma
Este referencia mais uma vez feita ao aparecimento deste tipo de prato (tipo Aguarod
forma 6, ou Luni 5, ou Halten 75A, ou Vegas 15c, ou Oberaden 21) vem reforçar a teoria de que
este tipo de prato se encontrava grandemente disseminado por todo o império romano estando
pompeiano”.
4. PARTUCULARIDADES
Uma das razões para que o número de pratos e outras peças similares fossem encontrados
poderá dever ao facto de que estas provavelmente tenderiam a ter um tempo relativamente curto
material. Ao mesmo tempo, o uso repetido destes utensílios, tais como panelas e caçarolas para
cozinhar / aquecer alimentos ou bebidas pode ter resultado na absorção das parede do vaso de
carbonizados, o que faria com que fosse transmitido mau gosto a qualquer outro alimento ou
O tempo médio de duração para as panelas, teria variado em função dos cuidados de
destas panelas para cozinhar, (visto que poderiam ser recicladas para outro tipo de uso) seria
sensivelmente um ano.
5. BIBLIOGRAFIA
SEPÚLVEDA, E.; SOUSA, É. M.; FARIA, J. C.; FERREIRA, M. (2003) - Cerâmicas romanas
do lado ocidental do castelo de Alcácer do Sal, 3: paredes finas, pasta depurada, engobe
vermelho pompeiano e lucernas.
Reference Collections Foundation for Future Archaeology (2004) - Edited by A.G. Lange.