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ÍNDICE

1 BREVE HISTÓRIA DA CERÂMICA ................................................................ 2


1.1 A PRÉ-HISTÓRIA ....................................................................................................................... 2
1.2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES .................................................................................................... 5
1.2.1 O Próximo Oriente .............................................................................................................. 5
1.2.2 Egipto ................................................................................................................................. 6
1.2.3 Creta ................................................................................................................................... 8
1.3 GRÉCIA E ROMA ...................................................................................................................... 9
1.3.1 Grécia ................................................................................................................................. 9
1.3.2 Etruscos ............................................................................................................................ 12
1.3.3 Romanos ........................................................................................................................... 13
1.4 CERÂMICA PRÉ-COLOMBIANA ................................................................................................ 14
1.5 CERÂMICA ISLÂMICA ............................................................................................................. 14
1.6 EXTREMO ORIENTE ................................................................................................................ 19
1.6.1 China ................................................................................................................................ 19
1.7 EUROPA ................................................................................................................................. 21
1.7.1 Estilo Renascimento (aproximadamente 1500 a 1600 d.C.) ................................................ 21
1.7.2 Alemanha .......................................................................................................................... 23
1.7.3 Revolução industrial .......................................................................................................... 24
1 BREVE HISTÓRIA DA CERÂMICA

A cerâmica é a combinação perfeita daquilo que os gregos da Antiguidade


consideravam como os quatros elementos que constituíam o Mundo. Era feita com
terra, moldada com água, secada ao ar e consolidada mediante a utilização do fogo.
A cerâmica pode ser considerada como o primeiro material “sintético” descoberto
pelo homem: uma pedra artificial produzida pela cozedura da argila a temperatura
suficientemente alta para alterar as propriedades físicas e químicas do material original
numa nova substância que apresenta muitas características de uma pedra, com a
vantagem de facilmente tomar a forma desejada.

1.1 A pré-história
A descoberta do processo da cerâmica ou seja, da conformação, secagem e
cozedura, pelas quais um simples objecto de argila se transforma em cerâmica, perde-se
nos tempos. Através dos vestígios arqueológicos consegue-se seguir o uso e
desenvolvimento das diferentes técnicas de execução e decoração; todas elas revelam
muito sobre a natureza da sociedade que as criaram.

Figura 1 – Vénus em cerâmica de Dolni Vestonice


Quando o Homem pré-histórico descobre o fogo e a sua capacidade para
endurecer o barro, todo um mundo de possibilidades se abre perante ele. Mas será
apenas no Neolítico, quando o Homem se sedentariza e se dedica pela primeira vez à
agricultura e ao pastoreio, que a cerâmica se vai desenvolver e difundir. Antes disso, a
argila já fora usada para a modelação de figurinhas antropomórficas ou zoomórficas,
provavelmente de carácter mágico ou religioso. É possível que estas peças
representassem divindades ligadas ao culto da fertilidade.
O homem e a mulher pré-históricos modelavam o barro à mão, mediante a técnica
de bola ou a de rolos de argila. Utilizavam também cestos, pedras e cabaças para
conformar recipientes, usando-os como moldes primitivos.

Figura 2 Recipiente conformado num cesto, Vale do Nilo.

Esta cerâmica, cozida a temperaturas muito baixas, era porosa e muito frágil. Mas
os antigos ceramistas encontrariam soluções para resolver estes problemas. Para tornar
os seus vasos impermeáveis, por exemplo, recorriam ao brunido. Esta técnica consiste
em polir, esfregando uma pedra lisa ou um pedaço de madeira dura para alisar a
superfície da peça.
A decoração era feita com punções ou com a simples pressão dos dedos,
impressões essas que ficavam marcadas na argila mole. Também se recorria com muita
frequência a desenhos com motivos geométricos e a pintura, produzida a partir das
argilas locais, que podia apresentar coloração vermelha, ocre, castanho, preto ou bege.
No que toca às formas, as mais comuns eram a caliciforme e a campaniforme.
Uma vez decoradas e secas, estas peças deviam adquirir dureza que só era
possível mediante a cozedura. Supõe-se que estas primeiras peças cerâmicas fossem
cozidas na mesma fogueira onde se cozinhavam os alimentos, mas é também possível
que existissem fogueiras especialmente preparadas para elas. O sistema não permitia
alcançar temperaturas altas ( 600º C) mas, ainda assim, era o suficiente para converter
a argila numa cerâmica de cor negra.

Figura 3 – Vaso campaniforme

A estas fogueiras sucederiam os fornos primitivos, que seriam aperfeiçoados a


pouco e pouco. O controlo do fogo iria evoluir, permitindo um gradual aumento da
temperatura de cozedura.

Figura 4 – Tigela feita à mão, Cultura Halaf, 5500-5000 a.C., Iraque.


1.2 As primeiras civilizações
1.2.1 O Próximo Oriente
A primeira civilização conhecida desenvolveu-se nas terras férteis entre os rios
Tigre e Eufrates, (a Mesopotâmia). Entre 5000 e 4000 a.C., já se produzia uma cerâmica
de forma globular, que se decorava com desenhos lineares, geométricos ou incisos.
Seguiram-se então os desenhos naturalistas, com representações humanas ou animais.
Posteriormente, entre 4500 e 4000 a.C., desenvolveu-se a técnica da cozedura, de
maneira a evitar o habitual enegrecimento das peças. Foi a descoberta do forno que
permitiu esta evolução, pela introdução de uma câmara onde as peças se encontram
afastadas da acção directa da chama. As formas tornaram-se mais complexas, e a
preparação mais elaborada da argila permitiu o adelgaçamento das paredes dos vasos.

Figura 5 – Vaso decorado com cabra montanhesa, 4000 a.C., Irão.

Entre 4000 e 3000 a.C., a Suméria constituía um importante centro de produção


cerâmica, tal como Ur e Uruk. Usavam-se tijolos de argila cozidos na construção de
edifícios e cidades e é também nessa época que se irá desenvolver a roda de oleiro.
Figura 6 – Vaso decorado procedente de Susa, 5000-4000 a.C., Irão.

A descoberta do vidrado, entre 2500 e 1500 a.C., constitui um grande passo em


frente para o revestimento das peças cerâmicas. O vidrado começou por ser utilizado
nos tijolos e, mais tarde, nas peças cerâmicas.

1.2.2 Egipto
A grande civilização do antigo Egipto deve a sua próspera evolução à fertilidade
do vale do Nilo. Durante vinte e seis dinastias de faraós, construíram-se grandes obras,
como as pirâmides e a esfinge do templo Luscoret, que se conservaram até aos nossos
dias e continuam a provocar grande admiração. Mas esta civilização distinguiu-se
também em vários outros domínios, tais como a medicina, a astronomia, a engenharia
hidráulica, etc.
A arte da cerâmica foi introduzida no Egipto através da Mesopotámia. Entre 5000
e 4000 a.C., na cultura Badariense, fabricava-se uma bela cerâmica de paredes finas, que
era decorada com incisões lineares e seguidamente brunida.
Nas primeiras dinastias (3250-2700 a.C.), as formas eram mais cilíndricas e a
decoração obtinha-se por meio de engobes brancos ou com óxido de ferro.
Figura 7 Cerâmica Badariense, 3500 a.C., Vale do Nilo.

Durante o Reino Antigo ( 2700-2100 a.C.), começa-se a usar o torno, permitindo


a obtenção de peças mais perfeitas e mais finas. É também desta época uma série de
pequeno objectos feito a partir de uma pasta que se obtinha pela mistura de areia,
matéria alcalina (cinzas de madeira ricas em óxidos de potássio e sódio) e um pouco de
argila. Estes objectos de pasta vítrea, depois de cozidos no forno, apresentavam uma
superfície brilhante e uma coloração turquesa (se a pasta contivesse cobre) ou púrpura
(se a mesma contivesse manganês). Esta pasta é simplesmente designada por pasta
egípcia.

Figura 8 Copo lotiform conformada em pasta egípcia, 945-715 a.C., Egipto.


Durante o último período (750-325 a.C.), as formas cerâmicas tornaram-se muito
mais complexas, passando a usar-se o vidrado de chumbo, permitindo a obtenção de
cores vivas.

1.2.3 Creta
A cultura minóica da ilha de Creta, foi a primeira civilização da Europa. Surgiu
cerca de 3000 a.C. e sobreviveu durante 1800 anos. A diferença relativamente a outras
civilizações antigas, é que esta se desenvolveu não no vale de um rio, mas sim numa
ilha. O mar protegia os ilhéus dos ataques e permitiu o desenvolvimento de uma
economia baseada no comércio; exportava-se azeite e vinho em recipientes de cerâmica,
que eram trocados por trigo. Este comércio aberto e livre e a ausência de uma classe
sacerdotal opressiva (como no Egipto, por exemplo, em que o estilo era pesado e tinha
de obedecer a regras rígidas), originou um estilo rico, livre e cheio de influências
diversas. A cerâmica era de grande elegância, em que o nível técnico e estético era
excelente, e havia um grande número de pessoas dedicado à produção e venda de
produtos cerâmicos.

Figura 9 – Grande recipiente para armazenamento, construído com rolos,


decorado com cordas, 1450-1400 a.C., Creta.

Os temas decorativos eram naturalistas, essencialmente inspirados na vida


marinha polvos, algas, caracóis, etc., que davam ao trabalho uma “frescura” quase
moderna. As formas eram variadas, com acabamentos delicados e as peças eram
ricamente coloridas.

Figura 10 – Jarra pintada com desenho de polvo, 1500-1450 a.C., Creta.

1.3 Grécia e Roma


1.3.1 Grécia
Por volta do ano 1000 a.C., começa a emergir a cultura grega clássica. Na Grécia,
a cerâmica alcançou um enorme desenvolvimento artístico. Os ceramistas gregos
criaram peças formalmente perfeitas, pintando-as com temas decorativos de grande
beleza. Cada peça possui uma funcionalidade determinada, e o nome que recebe
relaciona-se também com essa função.
Os temas pictóricos destas peças faziam referência a episódios da história e
mitologia gregas, narrando feito dos deuses, de heróis, batalhas, etc.
Embora os gregos já conhecessem o vidrado, optaram por decorar as peças com
um engobe muito fino e rico em óxido de ferro, que adquiria um brilho acetinado, após
a cozedura. Utilizavam uma técnica, controlando a atmosfera do forno, em que a peça
aparecia vermelha e o engobe de cor negra, procedendo da seguinte forma:
a) a peça era cozida em atmosfera oxidante e apresentava, no final, a
cor vermelha;
b) a decoração era feita com o engobe sobre a peça chacotada;
c) a peça era novamente cozida em atmosfera oxidante até 900º C;
nessa fase toda a superfície, incluindo as zonas decoradas ficavam vermelhas;
d) nesse momento, fechavam-se as entradas de ar parcialmente e
queimava-se o combustível húmido no forno para criar uma chama sedenta de
oxigénio (atmosfera redutora); nesta fase toda a superfície da peça, incluindo a
decoração, tornava-se negra;
e) finalmente, por um breve e controlado período de tempo,
introduzia-se oxigénio até acabar a cozedura; o corpo da peça voltava a ficar
vermelho (óxido ferroso, FeO óxido férrico, Fe2O3), e a decoração
mantinha-se negra por ser muito densa e concentrada em óxido de ferro.

Conhecem-se quatro estilos bem definidos:


Estilo geométrico Surge por volta de 1000 anos a.C., começa por ser
decorada com bandas de engobe escuro, alternado com bandas da cor natural da
argila, onde se desenhavam motivos geométricos, ou figuras muito estilizadas.

Figura 11 – Krater em terracota decorada com motivos geométricos,


750-700 a.C., Grécia.

Estilo de figuras negras Por volta de 700 anos a.C., os temas decorativos
diversificam-se (animais, figuras mitológicas, temas bélicos, lendas heróicas, etc.).
Sobre a superfície vermelha da argila, as figuras surgiam a negro, em que os detalhes
eram conseguidos pelo riscar do engobe, que revelava a cor natural da argila.

Figura 12– Neck-amphora, em terracota decorada com figuras pretas, 540 a.C., Grécia.

Estilo de fundo branco Em Atenas, as peças de fundo branco formaram


um estilo característico durante o século VI a.C., em que a superfície era revestida
por um engobe branco e eram essencialmente utilizadas em rituais funerários. As
decorações eram, muitas vezes, verdadeiros frescos.

Figura 13 – Lekithos, em terracota com fundo branco, 440 a.C., Grécia.


Estilo de figuras vermelhas As figuras que caracterizam este estilo são
definidas a vermelho sobre fundo negro, sendo os detalhes conseguidos através de
linhas muito finas a negro. Os temas decorativos mais utilizados eram inspirados
na vida doméstica e mitológicos. Este estilo terá surgido no séc. V a.C. e
desaparecido por volta do séc. III a.C.

Figura 14 – Calix-krater em terracota decorada com figuras vermelhas, 515 a.C.,


Grécia.

1.3.2 Etruscos
O povo etruscos era originário da Ásia Menor e atingiu o auge da sua
prosperidade no séc. VII a.C. A sua cerâmica apresenta um aspecto semelhante ao
metal, sendo muito polida e de coloração ou negra acinzentada, conhecida como
cerâmica etrusca de Bucchero. A decoração era constituída por motivos geométricos
simples, incisos sobre a superfície das peças. Os Etruscos foram influenciados pela
cerâmica grega, passando a copiar os seus motivos decorativos.

Figura 15 – Kanthoros, taça etrusca de Bucchero para beber vinho, 700-800 a. C., Itália.
1.3.3 Romanos
Roma foi fundada em 753 a.C., mas esteve sob o poder dos Etruscos até ao séc. V
a.C. A expansão do Império Romano provoca grandes modificações na vida e costumes
do povo de Roma, estimulando o interesse pelos objectos cerâmicos, tanto de uso
doméstico como de carácter ornamental. Estabeleceram-se centros de produção um
pouco por toda a parte, e a decoração reflectia muitas vezes os estilos e as técnicas
locais.
Os ceramistas romanos sabiam preparar argilas de excelente qualidade e
conheciam a técnica dos moldes, com as quais produziam grandes quantidades de peças,
que reproduziam fielmente relevos de grande complexidade, aí marcados.
A cerâmica romana nativa era executada em argila vermelha de brilho muito
característico. Mas adoptaram também as formas gregas, com decorações de bandas em
relevo. Usavam também o vidrado de chumbo.
Durante o Império Romano, o desenvolvimento das técnicas de produção em série
tornou possível satisfazer a necessidades dos habitantes desse tão vasto império.

Figura 16 – Jarra romana com brilho vermelho, decorada com relevo, 1-25 a.C., Itália.
1.4 Cerâmica Pré-Colombiana
As culturas cerâmicas americanas apresentam duas características comuns: em
primeiro lugar, as peças são sempre modeladas à mão, por meio de rolos ou pedaços de
argila ou de moldes, desconhecendo-se a técnica do torno; o segundo traço distintivo diz
respeito à decoração, que é feita com engobes de argila colorida, com incisões e com
relevos.
As formas variavam naturalmente segundo as suas zonas de proveniência, mas em
geral globulares e de paredes finas. Algumas peças apresentavam formas
antropomórficas ou zoomórficas.

Figura 17 – Garrafa com cabeça de felino, 6 a 4º séc. a.C., Peru.

1.5 Cerâmica Islâmica


Até ao século V, através do mundo Árabe, há uma diminuição do sedentarismo e
um incremento da vida nómada, o que era pouco estimulante para o desenvolvimento de
artefactos em cerâmica. As tribos Árabes não reconheciam qualquer autoridade, excepto
a dos seus próprios chefes tribais.
Nesta zona não existia uma força unificadora importante até que, em 622 d.C., os
habitantes de Medina, uma próspera cidade comercial, receberam Maomet e seus fiéis
seguidores, que formaram a fé islâmica ou muçulmana. A fé islâmica estendeu-se
rapidamente, unificando muitas raças, países e gentes. O resultado foi um espirito
completamente novo e coerente, resultando uma organização religiosa , política e social.
O Corão não era somente a palavra de Deus, mas também um guia da forma de
vida e era proibida a sua tradução. Assim foi introduzida uma nova língua, que podia
ler-se em todo o Islão, que teve também o efeito de unir os povos.
As “leis“ que mais influenciaram a cerâmica, nessa região, foram a proibição de
idolatria (sob forma de representação humana ou de animais), por isso, a decoração
baseava-se em motivos geométricos e abstractos. Da mesma forma, era proibido o uso
de metais preciosos no serviço de mesa. O lustre foi provavelmente desenvolvido
porque imitava o ouro e a prata. Deu-se grande importância à manufactura de peças
cerâmicas de grande requinte, que eram altamente valorizadas na ausência de
recipientes em metais preciosos. A proibição do consumo de vinho teve como
consequência a ausência de jarras para este líquido, mas fizeram-se muitos recipientes
para água, com largos canos aguçados.

Figura 18 Garrafa decorada com espirais, Turquia, séc. 1530.


A cerâmica islâmica, foi influenciada por diversas culturas. Os seus ceramistas
assimilaram todas estas influências, incorporando-as ao seu próprio estilo. A cerâmica
era produzida de quatro maneiras distintas: sem vidrado, vidrada com chumbo, com
vidrado branco de estanho e com lustre.

Figura 19 Jarra com vidrado com chumbo, Dinastia Seljuk, Persia, séc. XII e XIII.

Usavam-se os moldes de argila chacotados. Passaram a fazer uma cerâmica,


influenciados pela China, de argila vermelha onde era aplicado um engobe branco,
recoberto finalmente por um vidrado de chumbo. Ao pretender imitar a cerâmica
chinesa, os Árabes adicionavam ao vidrado óxido de estanho, para se obter peças de
branco opaco. Este processo tinha a vantagem de poder ser aplicado directamente na
peça, sem utilizar engobe. Depois de aplicado, este vidrado podia ser decorado por meio
de óxidos corantes (óxido de cobalto azul; óxido de cobre verde; dióxido de
manganês castanho).
Figura 20 – Tigela decorada com óxido de cobalto sobre vidrado de estanho, séc. IX, Iraque.

Na decoração usava-se uma técnica, inspirada no trabalho de cinzelado dos


metais, designada por esgrafitado, que consiste em riscar o engobe até pôr a descoberto
a superfície da argila.
Produzia-se também a cerâmica de lustre, decorada exclusivamente com motivos
florais, temas geométricos e inscrições em caracteres cúficos. Os corantes usados no
lustre eram constituídos por óxido de prata ou de cobre e enxofre, aplicados sobre um
vidrado já cozido, eram cozidos em atmosfera redutora, conferindo à decoração um
aspecto metálico e iridescente.

Figura 21 – Pote decorado com lustre, séc. XI.


Entre os séculos XII e XIV, a cerâmica árabe conhece o seu apogeu. Durante esta
época surge um importante centro de produção cerâmica: Kashan. Os ceramistas desta
cidade produziram grande quantidade de azulejos para a ornamentação de mesquitas e
túmulos, azulejos, esses, que eram realizados por meio de moldes e decorados com
motivos geométricos muito elaborados.

Figura 22 – Composição de azulejos monocromáticos, 1354-55 d.C., Irão.

Entre os séculos XV e XVIII, Kashan recuperou a sua importância como centro


cerâmico, produzindo um tipo excelente de porcelana. As peças realizadas com esta
pasta, decoradas com incisões e perfurações, e cobertas por um vidrado brilhante, são de
uma beleza extraordinária.
1.6 Extremo oriente
A arte do Extremo Oriente difere grandemente daquela que foi produzida no
Ocidente: uma filosofia totalmente distinta alimentou o crescimento de uma arte única
e, de muitas formas, fantástica. Os povos orientais são mais contemplativos e
espirituais, do que os ocidentais, e essa característica evidencia-se na cerâmica. As
habilidades técnicas desenvolveram-se muito rapidamente no Extremo Oriente.

1.6.1 China
Muito cedo, os chineses aperfeiçoaram os fornos, o que permitiu um maior
controlo e retenção do calor. Estes fornos permitiram cozer as peças a temperaturas
mais altas, proporcionando um corpo mais duro e fundido, que originaram as primeiras
vasilhas de louça conhecida, percursoras da porcelana.
A forma das peças inspirava-se frequentemente na dos objectos de bronze, tal
como a sua decoração que era talhada em relevo.

Figura 23 Caixa vidrada com decoração gravada, 1100-1200, China.


Surgem vidrados de dois tipos: os que contêm chumbo e potássio, que fundem
entre 800 e 900º C e os constituídos por feldspato e cinzas de madeira, fundindo entre
1200 e 1300º C.

Figura 24 Tigela para chá, 960-1279, China.

Embora aparentemente a decoração cerâmica chinesa possa parecer aleatória e


arbitrária, para os chineses cada objecto e a sua disposição têm um significado. Por
exemplo, a romã simboliza a fertilidade.
A cerâmica chinesa mais famosa foi sem dúvida a cerâmica azul e branca que
surgiu na Dinastia Ming (1368 a 1644 d.C.). Com o restabelecimento do comércio, o
óxido de cobalto foi trazido da Pérsia e utilizado para decorar peças de porcelana
translúcidas, que influenciaram todos os povos que tiveram contacto com elas em
especial a Europa.
Figura 25 – Taça com pé decorada com criaturas do mar, em porcelana
decorada com óxido de cobalto, Dinastia Ming, 1426-1435, China.

1.7 Europa
1.7.1 Estilo Renascimento (aproximadamente 1500 a 1600 d.C.)
Em 1500, a técnica da maiólica era a mais utilizada neste período em Itália.
Nesta época, os lugares favoritos para reuniões eram as farmácias, que estavam
prodigiosamente decoradas, com frascos para drogas de maiólica, pintados
ornamentalmente. Esta moda, assim como o costume de expor grandes pratos
decorativos sobre aparadores e mesas, animou os ceramistas a produzir cerâmica
ricamente decorada. Começam a surgir um grande número de oficinas de artesãos
ceramistas, em grande parte devido ao patrocínio da nobreza.
Figura 26 – Pote de farmácia em maiólica, 1460-1480, Itália.

Muitas vezes, o trabalho destes artesãos era tão valorizado como o das belas artes.
Os estilos locais de pintura influenciaram directamente a decoração cerâmica e
inclusive, muitos desenhos eram reproduções fiéis de desenhos de artistas famosos.

Figura 27 - Triunfo de Galatea. Cerâmica italiana. Urbino. Por volta de 1550.


As formas, que embora se tornassem complexas e muito ornamentadas, inspiradas
nas peças de metal, eram frequentemente eclipsadas pela decoração.

Figura 28 Saleiro em maiólica, Urbino, 1532, Itália.

1.7.2 Alemanha
Depois do descobrimento da louça de grés, o vidrado a sal foi sem dúvida a
contribuição mais importante da Alemanha.
O vidrado de sal foi utilizado pela primeira vez, entre o final do séc. XIV e
princípio do séc. XV, na Alemanha. Existiam grandes jazigos de argilas com elevado
teor de areia, que coziam a temperatura relativamente elevada (1200ºC) e formavam um
corpo duro, denso, impermeável e que não se deformava durante a cozedura. No
entanto, a existência de um vidrado que pudesse ser cozido àquela temperatura era
desconhecido dos ceramistas alemães.
Descobriram que o sal (NaCl) vaporiza a 1200ºC e decompõe-se em sódio e cloro.
O sódio ao combinar-se com a superfície da argila, vai formar uma camada fina de
vidrado quimicamente simples, mas, extremamente tenaz e resistente.
Figura 29 – Jarro de vinho, grés vidrado a sal, 1591, Alemanha.

Apesar da porcelana translúcida ter sido descoberta na China antes da era cristã,
só por volta de 1295 chega à Europa, pela mão do italiano Marco Polo. No entanto, será
apenas no início do século XVIII, que esta será possível reproduzi-la no Ocidente, pelo
Alemão Fredrich Böttger, em Meissen.

1.7.3 Revolução industrial


Ao longo do século XIX tiveram lugar profundas mudanças sociais e económicas,
que afectaram a produção e o design da cerâmica; aperfeiçoaram-se as técnicas de
produção em massa e os métodos de decoração atingiram um elevado grau de perfeição.
As cerâmicas rurais tradicionais, que se baseavam na habilidade do ceramista no torno,
sofreram com a diminuição dos seus mercados e a preferência por alternativas
produzidas industrialmente. Os recipientes feitos de estanho, metal ou vidro eram
alternativas igualmente baratas e frequentemente mais práticas. Também não agradava,
à classe média, a rudeza da cerâmica “campesina”.
Com a revolução industrial, em Inglaterra, a expansão das cidades, o crescimento
da população e a disponibilidade de enormes mercados no ultramar, deu alento ao
crescimento de uma indústria cerâmica que foi líder no mundo, tanto em quantidade
como em qualidade. A um aperfeiçoamento técnico seguia-se imediatamente outro.
Havia poucas coisas que não se conseguiam fazer e o engenho, na maior parte dos
casos, era usado para produzir formas complexas e estranhas, e não simplicidade.
Na Grande Exposição de 1851 apresentaram-se peças sumptuosas, cheias de
adornos, em que o excesso primava e que deu a entender que algo de errado estava a
acontecer: Os artefactos eram habilmente adornados, mas esteticamente eram desastrosos e
desumanizados. Este foi o ponto de partida para a arte moderna aplicada. Até então a arte e
a produção não estavam separadas, os artesãos eram artistas e produtores. A Revolução
industrial separou o desenhador do produtor e era necessário forçá-los a unirem-se.
Desenvolveram-se escolas de “artes aplicadas” com o intuito de servir a indústria.

Figura 30 Vaso magnólia em prata, 1893, fabricado por Tiffany and Company, EUA.
Em muitas cidades surgiram museus e, pela primeira vez, os artistas podem
admirar objectos procedentes de terras longínquas.
O crescimento das grandes classes médias, que desejavam peças de arte a preços
razoáveis, estimulou a produção de objectos feitos à mão, dando origem ao movimento
Arts and Crafts. Pela primeira vez o trabalho do artesão foi reconhecido como “arte”.

Figura 31 – Jarra de duas pegas de William de Morgan, 1880, Inglaterra.


Em 1919, formou-se na Alemanha uma escola de arte conhecida como Bauhaus e
foi uma das mais influentes até aos nossos dias. Pode ser considerada como a primeira
escola de design. O seu objectivo era treinar artistas para o trabalho ligado a indústria,
utilizando materiais modernos industriais, reduzindo os objectos aos seus elementos
básicos e despojados de decoração. Um dos lemas base dessa escola era: “A forma
segue a função”.

Figura 32 – Vaso de céladon de Marguerite, Bauhaus, 1930.

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