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PROJETO DE IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO

PARA ENFRENTAMENTO DA COVID-19 NAS FAVELAS

DO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro, maio de 2020.


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Apresentação 2

Introdução 4

Objetivo Geral 5

Objetivos Específicos 5

Justificativa 6

Dispositivos de ação para o enfrentamento da Covid-19 9


CENTRO DE ATENDIMENTO PARA COVID 9
Funcionamento do Centro de Atendimento a Covid 10
CENTRO DE ISOLAMENTO ASSISTIDO 12
Funcionamento do Centro de Isolamento Assistido 13
CENTRO DE APOIO SOCIAL 17
Funcionamento do Centro de Apoio Social 18

REFERÊNCIAS 24
2

Apresentação
Este projeto foi elaborado por um um conjunto de atores, reunindo pesquisadores
universitários e associações científicas, profissionais que atuam nas áreas de saúde e
de assistência social nas favelas, articuladores sociais e organizações atuantes nesses
territórios, além de ter contado com a generosa colaboração da FIOCRUZ1.
Dentre esses diferentes atores, houve um consenso de que o impacto da chegada da
pandemia às áreas populares do Rio de Janeiro pode assumir proporções ainda mais
trágicas, exigindo um redobrado esforço de imaginação institucional.
Considerando o contexto epidemiológico e as projeções até então projetadas, a
implementação imediata deste projeto poderá impactar significativamente na redução de
mortes e de insegurança social entre os moradores das áreas mais vulneráveis.
Estruturado a partir de três dispositivos, prevendo ações preventivas, de atendimento
médico e de apoio social, seu principal objetivo é o de desenvolver ações temporárias e
emergenciais para apoio social e de saúde considerando as especificidades das favelas
e dos territórios populares. O projeto pretende ser uma contribuição complementar ao
que já vem sendo feito pelos poderes públicos, com o objetivo de atingir a integralidade
e equidade em saúde e assistência social, em sintonia com os princípios estruturantes
do SUS e SUAS.
Seus três princípios fundamentais são:
→ Proximidade: para permitir o uso de uma escala de ação capaz de atingir de forma
tempestiva os segmentos mais vulneráveis;
→ Articulação entre as dimensões sanitária e social: a articulação intersetorial é
indispensável pois nos territórios populares a pandemia é também uma complexa
questão social, envolvendo insegurança alimentar, precariedade das moradias,
dificuldade de acesso a informações e equipamentos, entre muitos outros fatores, que
influenciam diretamente na qualidade das condições de prevenção e de isolamento
social de casos e de contactantes;
→ Valorização das estruturas do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS): As unidades básicas de saúde e os centros de referência de

1- De modo mais específico, o documento contou com a participação de pesquisadores da UFRJ, UERJ
e PUC-Rio, articuladores sociais e organizações comunitárias das favelas do Alemão, Cidade de Deus,
Maré, Rocinha e Santa Marta. E com a contribuição de membros da SBPC e da ABRASCO, além de
consulta a profissionais de Unidades Básicas de Saúde e Centros de Referência em Assistência Social.
A versão original também com a leitura atenta de representantes das diretorias do Sindicato Estadual dos
Médicos do Rio de Janeiro, Sindicato Estadual das Enfermeiras do Rio de Janeiro, e do Sindicato Municipal
dos Agentes Comunitários de Saúde do Rio de Janeiro.
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assistência Social (CRAS/CREAS) devem ser assumidos como as fontes fundamentais


de informação e de capacitação das equipes que, em caráter de emergência, atuarão de
forma complementar a essas agências.
Para a implementação do projeto, estão sendo previstos três dispositivos:
- Centro de Atendimento para Enfrentamento à Covid-19;
- Centro de Isolamento Assistido;
- Centro de Apoio Social.

Tais dispositivos poderão ser instalados em diferentes áreas considerando as diferentes


estratégias a serem adotadas em função da evolução da pandemia nas áreas populares.
Para tanto, há necessidade de constante integração das ações do projeto com as ações
de vigilância em saúde visto que o contexto epidemiológico influenciará as decisões
sobre as necessidades de novos dispositivos em cada território. A depender da avaliação
do contexto, dos estudos da evolução da pandemia feito pelo Observatório Covid-19 da
Fiocruz, das características dos territórios e do grau de vulnerabilidade social de suas
populações, serão definidas as Áreas de Atenção Preferencial que deverão ser foco
deste projeto.
Inicialmente, considerando-se a escala demográfica das chamadas grandes favelas,
bem como o interesse demonstrado por suas organizações locais, recomenda-se a
implantação dos equipamentos aqui propostos no conjunto de favelas do Alemão e da
Maré, e na favela da Rocinha. Além disso, também recomenda-se a instalação dos
equipamentos em pelo menos mais duas áreas da cidade localizadas na AP.5. E caso
se amplie o alcance da proposta para a região metropolitana, recomenda-se fortemente
sua implantação em áreas de Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Gonçalo.
Por outro lado, considerando que as projeções epidemiológicas apontam a necessidade
de medidas de fortalecimento do isolamento social (Ver “A evolução da Covid-19 no
estado do Rio de Janeiro: desafios no enfrentamento da crise sanitária e humanitária
relacionada à pandemia” - relatório com o posicionamento da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) – 06/05/2020, encaminhado ao MPRJ2) no Rio de Janeiro pelo período de
aproximadamente 1 anos e meio a 2 anos, sugere-se que as ações a serem
implementadas por meio dos dispositivos propostos sejam planejadas para um período
mínimo de 6 meses, com posterior análise para eventual prorrogação.
Por fim, considerando o caráter emergencial das ações propostas, recomenda-se que
seja constituída uma estrutura de governança composta pelos poderes públicos
estadual, municipal e por instituições de pesquisas do Rio de Janeiro que atuam na

2
Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/sites/agencia.fiocruz.br/files/u91/relatorio_distanciamentosocial.pdf
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saúde pública e na área social, como Fiocruz, UERJ, UFRJ, UNIRIO, UFF e PUC-Rio,
com foco na implantação e gerenciamento dos Centros de Atendimento para
enfrentamento da Covid-19.

Introdução
A proposição de instalação de dispositivos assistenciais adequados para territórios
vulnerabilizados, de baixa renda e favelas no Rio de Janeiro, é certamente um desafio
de grande complexidade para gestores públicos, em articulação com instituições de
pesquisa e representações dos diversos segmentos da sociedade. Tais atores devem
encontrar soluções com a agilidade e a segurança que a situação da pandemia do
coronavírus requer. O PLANO DE AÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19
NAS FAVELAS estimula o diálogo entre esses atores sociais, de forma que as propostas
e alternativas sejam estruturadas de forma compatível com as especificidades e
singularidades das diferentes realidades locais, mas também possam estar adequadas
às normas e limitações legais e orçamentárias dos entes federativos responsáveis pela
execução de programas voltados para atenção à saúde, garantindo os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde, bem como de assistência social.
O principal objetivo deste projeto é construir dispositivos para ampliar o acesso da
população que reside em territórios de vulnerabilidade para os equipamentos sociais,
potencializando a relação da população com os serviços já existentes, como é o caso da
atenção primária à saúde.
A atenção primária à saúde, durante a pandemia, tem sido afetada em alguns territórios
pela fragilidade na preparação da rede de atenção para tais situações, possibilitando a
desorganização dos fluxos de atendimento, de afastamento de pacientes impactados
pela insuficiente informação acerca das medidas de distanciamento social, de
afastamento de profissionais de saúde por motivo de doença, dentre tantos outros
elementos que surgiram de forma aguda e assimétrica nas diferentes regiões da cidade
e da metrópole.
Para fazer frente a uma situação de dificuldade de manter a atenção com um mínimo de
qualidade e possibilitando o acesso dos usuários aos serviços com segurança e
seguindo os protocolos preconizados pela OMS e pelo MS, este projeto pretende
contribuir para garantir este acesso, principalmente nos territórios mais vulnerabilizados,
onde a transmissão do coronavírus é potencializada pelas condições de vida adversa e
precária.
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O presente projeto deverá ser avaliado em cada território, relacionando fatores de


dificuldade e viabilidade, assim como as referências técnicas e normativas vigentes. A
avaliação deve considerar a possibilidade de utilização de adaptação de equipamentos
já existentes, bem como a necessidade de definição de fluxos adequados de entrada e
encaminhamento de doentes, regulação assistencial e critérios de classificação de risco,
em resumo, a definição de um desenho de linhas de cuidado que possa responder às
necessidades existentes, sempre considerando como componente fundamental de
acompanhamento e avaliação do projeto indicadores epidemiológicos que auxiliem na
avaliação de risco e na definição das ações possíveis de acordo com cada contexto.
A organização dos dispositivos, em geral, deverá considerar:
● Contexto epidemiológico, medidas não-farmacológicas e projeção de casos;
● Organização da rede assistencial da região considerando a capacidade de
regulação e atendimento extra-hospitalar/capacidade da rede de atenção primária
local para casos leves;
● Disponibilidade de capacidade instalada de recursos físicos e operacional para o
funcionamento do serviço (recursos físicos e tecnológicos resolutivos, força de
trabalho, insumos, medicamentos, agilidade e tempo para montagem da estrutura
necessária);
● Organização dos fluxos assistenciais entre os serviços das redes de atenção para
identificar as necessidades locais de cada território e quais dispositivos deverão
ser implantados;
● O grau de vulnerabilidade dos territórios, considerando indicadores demográficos
e socioeconômicos;
● A disponibilidade de equipamentos como escolas, prédios públicos, clubes e
outros que possam abrigar os dispositivos propostos.

Objetivo Geral
Ampliar o acesso da população que reside em territórios de vulnerabilidade às
estratégias e serviços de saúde e assistência social, considerando as dificuldades
existentes no contexto da pandemia do coronavírus.

Objetivos Específicos
➔ Mobilizar os diferentes atores sociais, os gestores públicos e as lideranças
comunitárias para conhecerem e avaliarem este projeto na dimensão possível das
diferentes realidades locais onde possa ser implementado;
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➔ Mobilizar e organizar atores fundamentais para a implementação de um comitê


gestor do projeto e a definição das demais estratégias e estruturas de governança
local e regional;
➔ Definir estratégias de monitoramento e acompanhamento (incluindo a definição
de indicadores e dados a serem acompanhados, bem como fontes e forma de
coleta e análise) do contexto social, epidemiológico e de vulnerabilidade da
população para cada território e comunidade para apoiar o processo de
governança do projeto;
➔ Implementar Centros de Atendimento para Covid para atuação de forma
complementar às ações de atenção primária à saúde buscando ampliar acesso
ao primeiro atendimento às pessoas suspeitas e seus contactantes,
potencializando ações de cuidado e de vigilância em saúde, auxiliando na
diminuição dos casos de agravamento e dos óbitos, assim como na ampliação
das ações de vigilância de campo para controle e prevenção de clusters de
propagação da transmissão do vírus;
➔ Implementar Centros de Isolamento Assistido para possibilitar condições de
isolamento domiciliar para casos suspeitos e confirmados de Covid-19,
assintomáticos ou com sintomas leves e que residam com outras pessoas sem
condições de viabilizar o isolamento necessário;
➔ Implementar Centros de Apoio Social para potencializar o acesso a orientações e
ações assistenciais de forma complementar aos serviços já existentes, ampliando
a integração intersetorial nos territórios.

Justificativa
As Universidades do Rio de Janeiro como UERJ, UFRJ, UFF, UNIRIO, PUC-Rio e a
Fiocruz, coerentes com a sua visão na formulação, aperfeiçoamento e implementação
de políticas públicas, como também no papel central na produção, disseminação,
compartilhamento de conhecimento e tecnologias que fortaleçam o Sistema Único de
Saúde, não têm medido esforços no sentido de garantir o direito à saúde e à vida digna
para a população. Para viabilização deste projeto, não seria diferente. Essas intituições
estão se colocando como parceiras dos demais atores na formulação e implementação
destas diferentes estratégias aqui propostas. A temática de epidemias e emergências
em saúde pública desponta como uma das áreas emergentes e carentes de produção
de conhecimento, bem como de intervenções organizadas e coordenadas no âmbito das
políticas públicas voltadas para o enfrentamento de situações como esta da Pandemia
da COVID 19. Afinal, desastres e pandemias representam desafios únicos para a
prestação de cuidados de saúde.
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Uma estratégia central para o controle de surtos é a “triagem direta”, com a classificação
dos pacientes antes que eles cheguem aos serviços de emergência (HOLLANDER;
CARR, 2020). Na fase de transmissão comunitária da Covid-19 em que nos
encontramos, é essencial criar alternativas de atendimento à população, não só para
casos graves, como o aumento de leitos de UTI, mas também para os casos de
gravidade leve/moderada, além da necessidade de trabalharmos ações de vigilância em
saúde voltadas para minimizar o risco de transmissão da doença em nossas
comunidades, e sociais voltadas para minimizar outros danos trazidos pela pandemia.
O SARS-CoV-2 faz parte de uma ampla família de vírus que pode causar enfermidade
em humanos e animais. Desde a detecção do primeiro caso na China, no final de 2019,
o vírus tem se espalhado rapidamente no mundo. No dia 30 de janeiro, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) classificou a doença produzida pelo vírus, COVID-19, como
uma emergência de saúde internacional. No dia 11 de março de 2020, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) declarou que o mundo enfrentava uma pandemia de COVID-
19 (OPAS, 2020).
À época, havia registrados mais de 118 mil casos em 114 países. Um mês após a
classificação da OMS, o cenário mundial nos remete à grande preocupação. Até 11 de
abril de 2020, foi observado um crescimento de 1.400% e já haviam sido confirmados
1.793.728 casos de COVID-19, com 110.196 mortes em 212 países. O Brasil, no dia 11
de abril de 2020, já computava mais de 20 mil pessoas contaminadas (CNA, 2020).
Quando analisamos a evolução da pandemia nos EUA, na Itália, na Espanha, na França
e na Alemanha, observamos que esse grupo de países demorou em média 12,8 dias
para saírem da ordem de 20 mil e ultrapassarem os 100 mil infectados. Junto com o
número de casos, aumenta a taxa de mortalidade que aumentou de 3,6% para 6,6%
neste período (CNA, 2020). Assim, estimou-se que o Brasil, até a primeira semana de
maio, já computaria mais de 100 mil pacientes com diagnóstico de COVID - 19
confirmado, e se a taxa de mortalidade se comportar como nos demais países, haverá
mais de 10 mil óbitos no país pela COVID - 19. Agora, na última semana de maio, já
registra-se mais de 22 mil mortes confirmadas por Covid-19 e quase 350 mil casos
confirmados. As projeções realizadas por diferentes centros de estudo apontam que
ainda haverá um crescimento significativo de casos e óbitos, ainda mais considerando
que o Brasil é um país com inúmeras singularidades e profundas desigualdades sociais.
O crescimento dos números de casos e da mortalidade também pode ser observado no
município do Rio de Janeiro. No entanto, é necessário considerar que as estatísticas
oficiais disponíveis sobre a evolução do vírus são suscetíveis a uma série de limitações,
sendo a maior delas a ausência de informação sobre a prevalência de infecção pelo vírus
em amostras de base populacional.
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Considerando que as estatísticas oficiais disponíveis sobre a evolução do vírus são


suscetíveis a uma série de limitações, há o reconhecimento de que os estudos de
projeção da evolução da pandemia são limitados e podem estar subestimados. Por
exemplo, no relatório situacional da OMS de 23 de março de 2020, havia a confirmação
de 59.138 pessoas com testes positivos para COVID-19 na Itália, um país com 60,5
milhões de habitantes. Dividindo-se o número de infectados oficiais pelo tamanho da
população, a prevalência de infecção pelo COVID-19 seria de 0,10%. Contudo, a
testagem para o COVID-19 não é feita aleatoriamente na população italiana, sendo que
as pessoas com sintomas têm muito maior probabilidade de realizarem o teste do que
pessoas sem sintomas. Na pequena cidade de Vo, no norte da Itália, todos os 3.300
habitantes foram testados, sendo que 3% tiveram resultado positivo para a infecção, e a
maioria deles não apresentou sintomas de COVID-19.
Também em outros países se observa esse contexto epidemiológico de transmissão da
doença. Na Islândia, que estimulou a testagem da população em geral,
independentemente da ocorrência de sintomas, até o dia 18 de março 3.787 pessoas
haviam sido testadas, sendo que 218 (5,8%) tiveram resultado positivo. Mesmo essa
estimativa deve ser interpretada com cautela, tendo em vista o conhecido fenômeno do
viés de diagnóstico, que faz com que pessoas com sintomas possam ter optado por fazer
o teste com maior frequência do que pessoas sem sintomas. Ao analisar-se
especificamente os 1.800 testes realizados com voluntários, sem sintomas, apenas 19
(1,1%) apresentaram resultado positivo. Em Epidemiologia, identificar a magnitude do
problema de saúde na população inteira, e não em subgrupos específicos de pessoas
com suspeita da doença, é o primeiro passo para o desenvolvimento de estratégias
efetivas de saúde pública, baseadas em evidências. Estimar o percentual de infectados
na população em geral é especialmente relevante no caso do COVID-19 pelo fato de que
se estima que mais de 60% das pessoas infectadas pela doença apresentem sintomas
leves ou até nenhum sintoma, mas podem transmitir a doença. Esta, portanto, será uma
das estratégias a ser implementada por meio deste projeto a partir da implementação
dos Centros de Atendimento para COVID. O Ministério da Saúde deverá se
responsabilizar pelo fornecimento dos testes rápidos para COVID-19 e o sistema local
de saúde deverá viabilizar os testes confirmatórios para os casos identificados nos
territórios que necessitem de cuidados hospitalares.
Uma das estratégias utilizada em Singapura para o combate à pandemia de Covid-19 foi
a melhoria dos atendimentos aos quadros de infecção respiratória na atenção primária
(LEE; CHIEW; KHONG, 2020).
O Ministério da Saúde, em seu texto “Coronavírus CoViD-19: Fast-track para a atenção
primária em locais com transmissão comunitária”, versão 7, aponta diretrizes para o
atendimento aos casos suspeitos ou confirmados de CoViD-19 no âmbito da atenção
primária em saúde.
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Ainda há poucas referências internacionais sobre como a pandemia afetará cidades


grandes e desiguais... Diante desse quadro é importante garantir a capacidade da APS de
atuar em áreas pobres e densas onde mecanismos de prevenção, tais como isolamento
social, suspensão das atividades laborais e medidas higiênico/sanitárias, são mais difíceis
de implementar e onde há, também, alta prevalência de doenças crônicas, como
hipertensão arterial e diabetes (COELHO et al., 2020).

Os dispositivos aqui propostos deverão aproximar e potencializar as ações de atenção


primária à saúde nos territórios com a população, também deverão possibilitar a
integração de mais ações assistenciais com a vigilância em saúde, viabilizando um
cuidado integral e intersetorial para o enfrentamento da Covid-19 em territórios e
populações vulneráveis.

Dispositivos de ação para o enfrentamento da Covid-


19

1. CENTRO DE ATENDIMENTO PARA COVID


A fim de aliviar a demanda de indivíduos com sintomas de Covid e atuar de forma
complementar junto às unidades de atenção primária à saúde, propõe-se a instalação,
nas Áreas de Atenção Preferencial, de um equipamento capaz de fazer um primeiro
atendimento e de realizar uma triagem dos casos, podendo direcionar para um cuidado
mais efetivo, seja encaminhando-os para hospitais, para os Centros de Isolamento
Assistido ou para isolamento domiciliar caso haja condições para tal. Tais equipamentos
deverão ampliar o acesso ao primeiro atendimento às pessoas suspeitas e seus
contactantes, potencializando ações de cuidado e de vigilância em saúde, auxiliando na
diminuição dos casos de agravamento e dos óbitos, assim como na ampliação das ações
de vigilância de campo para controle e prevenção de clusters de propagação da
transmissão do vírus. Além de prestar assistência, esse dispositivo também tem
importante função preventiva, já que reduz significativamente os riscos de contaminação
cruzada em unidades de atenção primária.
O Centro de Atendimento para Covid deverá atuar para auxiliar na identificação precoce
de casos de Síndrome Gripal ou Covid-19, auxiliando no referenciamento e prestação de
cuidado continuado através da organização de fluxos específicos a serem pactuados no
âmbito da rede de atenção para regulação assistencial e apoio às famílias e comunidade.
Este equipamento deverá ter capacidade de inteligência epidemiológica de campo,
considerando que o cuidado é ferramenta de investigação epidemiológica e, junto com o
suporte laboratorial, deverá possibilitar a identificação dos suspeitos e seus contactantes
10

para desenvolver estratégias de controle da transmissão nos ambientes comunitários.


Em caso de confirmação, a depender do estado geral, as pessoas poderão ser melhor
encaminhadas para o acompanhamento durante o período de infecção.

Caracterização do serviço de atendimento para cuidados gerais para pessoas com


sintomas de síndrome gripal: ofertado para pessoas que apresentam sintomas
respiratórios suspeitos de Covid-19 (coriza, espirros, tosse, febre, cansaço, perda de
olfato), que moram nas Áreas de Atenção Preferencial, que não tenham tido acesso a
um serviço de saúde ou que ao procurarem a UBS ou o hospital foram indicados para
isolamento domiciliar mas que ao longo de até 7 dias os sintomas persistem sem
melhoras. Também será ofertado aos contactantes identificados de casos suspeitos ou
confirmados de Covid-19 e que precisem ser acompanhados devido ao risco de
transmissibilidade.

Um serviço para acolher pessoas com sintomas, com ou sem condições de


comorbidades, ou contactantes de casos suspeitos ou confirmados que vai possibilitar
um primeiro atendimento e triagem do caso, assim como o início da investigação
epidemiológica, para apoiar o processo de definição do projeto terapêutico que poderá
incluir diferentes abordagens de cuidado e acompanhamento a depender de cada caso.

Finalidade:

Ampliar o acesso aos primeiros cuidados de saúde, incluindo ações de atenção e


vigilância em saúde, para a população residente de Áreas de Atenção Preferencial, de
forma complementar e articulada com as equipes e unidades de atenção primária à
saúde.

Funcionamento do Centro de Atendimento a Covid

População alvo: todas as pessoas residentes de Áreas de Atenção Preferencial

Funcionamento: funcionamento 8 ou 10 horas por dia, 5 a 7 dias por semana.

Acesso ao serviço: livre demanda ou referenciamento da UBS e do hospital para


acompanhamento em âmbito comunitário

Localização:

➔ Localizado dentro da Área de Atenção Preferencial, próximo da comunidade;


➔ Instalado em área de fácil acesso;
➔ Possibilidade de ser implantado em estruturas temporárias ou em estruturas já
existentes e com condições de funcionamento, a exemplo de área anexa a UBS,
escolas, creches, ginásios, associações comunitárias ou imóveis desocupados;
11

➔ Local de acesso rápido e fácil para ambulâncias, no caso de necessidade de


transferência;
➔ É indispensável que o local seja bem ventilado (ventilação natural);
➔ Necessita de estoque mínimo de medicamentos, insumos e itens de material de
escritório (necessita de estoque estratégico para reposição);
➔ Necessita de condições de segurança e garantia de água e luz para o pleno
funcionamento do serviço.

Quadro de Pessoal:

➔ Gerente e/ou epidemiologista de campo


➔ Médico
➔ Enfermeiro
➔ Técnicos de enfermagem

➔ Agentes comunitários de saúde

➔ Pessoal de apoio

OBS: a depender das condições de vulnerabilidade do território e das condições das


instalações físicas poderá ter acréscimo de farmacêutico, assistente social e psicólogo

OBS 2: toda equipe cumprirá 40h semanais, sendo que, a depender o regime de
funcionamento do centro, poderá ter apoio de mais de uma equipe para o mesmo centro

OBS 3: cada centro poderá ter mais de uma equipe padrão atuando a depender do
tamanho da população que será referenciada para o serviço, sugere-se que a cada 2
ESF existentes no SUS na região da Área de Atenção Preferencial, seja implantada 1
equipe para atuação no Centro de Atendimento para Covid

Instalações prediais: a ser adequada em cada território, podendo ser instalada em


edificação já existente ou em estrutura temporária no caso de não haver outra opção.
Deverá possuir estrutura para:
➔ Sala de Espera
➔ Sala de Acolhimento e Triagem
➔ Consultório ambulatorial
➔ Sala de apoio laboratorial para coleta e realização de teste rápido
➔ Apoio para preparação de medicamentos (incluindo armário para estoque de
medicamentos e insumos médicos)
➔ Leitos para isolamento ambulatorial (espera para pessoas que necessitam ser
transferidas para hospitais
➔ Sala para apoio administrativo e análise de dados epidemiológicos
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ESTIMATIVA DE VALORES PARA ORÇAMENTAÇÃO

CENTRO DE ATENDIMENTO COVID 19

VALOR MENSAL ESTIMADO

PSSOAL R$197.973,36

INSUMOS MÉDICOS R$42.467,68

LIMPEZA e HIGIENE R$82.715,50

INVESTIMENTO R$63.323,80

TOTAL R$386.480,34

2. CENTRO DE ISOLAMENTO ASSISTIDO


Este centro deverá propiciar a criação de espaços para hospedagem de indivíduos com
sintomas da Covid, que necessitam de acompanhamento de enfermagem mas não de
serem hospitalizados. É uma providência fundamental para a redução dos círculos de
contaminação entre parentes e vizinhos, como também para assegurar maior segurança
de pacientes e maior qualidade do monitoramento da progressão da doença em cada
paciente. A princípio, entende-se que esses centros podem ser instalados em escolas
públicas localizadas no interior ou no entorno de cada Área de Atenção Preferencial. Mas
isso precisa ser definido em cada caso, conforme as oportunidades existentes. O
importante é que se possa garantir que cada Centro de Isolamento Assistido possa
conciliar quantidade com qualidade.

Caracterização do serviço de hospedagem assistida: ofertado para pessoas adultas


que apresentam sintomas respiratórios leves (coriza, espirros, tosse, febre), sem
necessidade de internação hospitalar, porém que moram em localidades e habitações
onde não é possível fazer o auto isolamento ou garantir os cuidados necessários.

Um serviço para acolher pessoas com sintomas e com comorbidades que possibilita um
acompanhamento mais próximo dessa população, possibilitando ao mesmo tempo o
13

isolamento adequado e o monitoramento do quadro clínico e intervenção precoce nos


casos de agravamento.

Finalidade:

Oferecer aos usuários condições adequadas para o isolamento durante o período de


convalescença de COVID-19, assegurando o monitoramento da evolução dos sintomas
e proporcionando repouso, alimentação saudável e cuidados básicos.

Funcionamento do Centro de Isolamento Assistido

População alvo:

➔ Indivíduo cuja residência não possui cômodo que possa servir como quarto de
isolamento, evitando a contaminação de outros moradores;
➔ Morador de comunidade, devido ao adensamento populacional e/ou arquitetura
da moradia (sem janela e/ou com baixa ventilação, sem saneamento básico);
➔ População em situação de rua3;
➔ Pessoa que se declare em risco devido à violência.

Funcionamento: Funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Acesso ao serviço:

Encaminhamento para isolamento domiciliar pelos serviços de saúde do SUS (Unidades


Básicas de Saúde ou Centro de Atendimento Covid-19 – ou outros Centros de Triagem)
ou pelo call center da SES RJ (telefone de contato 160), de acordo com os instrumentos
de comunicação estabelecidos e disponibilidade de vaga.

Critérios de Admissão:

➔ Ter idade entre 18 e 59 anos;


➔ Ter sintoma respiratório leve, preenchendo critérios de caso suspeito para COVID-
19 que tenha tido orientação (médico ou enfermeiro) presencial ou via call center
(telefone de contato 160) para isolamento domiciliar;
➔ Ser encaminhado por indicação de profissional de serviço de saúde devidamente
qualificado e de acordo com os critérios definidos para seu isolamento.

3
No caso da população de rua que necessite de apoio do Centro de Isolamento Assistido, o referenciamento deverá
ser efetivado por meio das equipes de assistência social caso os abrigos não ofereçam condições para realização
deste isolamento in loco.
14

Localização:

➔ Preferencialmente localizado nos arredores da área urbana, próximo ou de fácil


acesso para população das Áreas de Atenção Preferencial;
➔ Proporcionar ambiente protegido e monitorado;
➔ Preferencialmente próximo de unidade hospitalar terciária com unidade de
cuidados intensivos e isolamento;
➔ Local de acesso rápido e fácil para ambulâncias, no caso de necessidade de
transferência;
➔ É indispensável que o local seja bem ventilado (ventilação natural);
➔ Espaço de estacionamento, incluindo ambulâncias, caminhões, etc;
➔ Facilidade de acesso para entrega de alimentos e outros suprimentos;
➔ Instalações amigáveis e preferencialmente com diferentes recursos e
comodidades (televisão e rádio / materiais de leitura / internet / espaço para
atividade física).

Quadro de Pessoal:

➔ 1 enfermeiro coordenador
➔ Equipe diurna: 1 enfermeiro assistencial e 2 técnicos de enfermagem para 20
hóspedes
◆ Equipe assistencial diurna: 07 as 19h – plantões 12h/36h = 44 horas
semanais – 1 folga.
➔ Equipe noturna: 1 enfermeiro assistencial e 2 técnicos de enfermagem para 20
hóspedes
◆ Equipe assistencial noturna: 19h as 07h – plantões 12h/36h = 44 horas
semanais – 1 folga.
➔ Profissional para limpeza - 1 para cada 100 m2 de área interna, ou fração, por
turno, diariamente
➔ Profissional para o serviço de alimentação - 1 profissional para cada 20 hóspedes,
garantindo a cobertura de dois turnos de 8 horas
➔ Assistente social: 1 assistente social para 20 hóspedes
◆ Jornada de trabalho dos assistentes sociais: 40 horas semanais
15

Categoria Profissional Jornada de Quantitativo


trabalho Semanal
(Horas)

Enfermeiro 40 11

Técnico de Enfermagem 44 20

Assistente social 40 5

Profissional de limpeza 40 6

Profissional de alimentação 40 4

Porteiro ou zelador 40 4

Instalações prediais:

Instalações prediais Rede de abastecimento de água, esgoto, energia elétrica, proteção


e combate a incêndio, telefonia e outras existentes deverão atender às exigências dos
códigos de obras e posturas locais, assim como às normas técnicas brasileiras
pertinentes a cada uma das instalações. Para todas as áreas é importante ter iluminação
e ventilação adequadas. Necessita de:

➔ Entrada e Saída de Emergência de fácil identificação


➔ Equipamentos de prevenção de incêndio (como extintores, por exemplo)
➔ Equipamentos geradores de emergência
Estrutura Física:
➔ Sala de recepção e acolhimento aos hóspedes em isolamento
➔ Área administrativa para guarda de registros/prontuários de pacientes
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➔ Área para guarda de medicamentos


➔ Vestiários e Sanitários para funcionários separados por sexo
➔ Depósito de equipamentos, insumos e materiais
➔ Depósito de material de limpeza
➔ Sala para a coordenação e equipe do Centro de Isolamento Assistido
➔ Quartos / dormitórios (considerando uma planta baixa padrão de CIEP com 18
salas de aula com 6 camas por quarto) para acomodar 100 hóspedes
➔ Banheiro coletivo para hóspedes
➔ Área para a preparação/manuseio de alimentos (contratação de serviços de
alimentação)
➔ Área para refeições (refeitório) dos profissionais de saúde e funcionários,
organizado de maneira a respeitar o distanciamento de 1,5m entre os
trabalhadores
➔ Serviço de rouparia
Estoques
➔ Equipamentos, insumos e materiais
Rouparia
➔ Produtos de Higiene Pessoal
➔ Serviço de alimentação
➔ Serviço de lavanderia
➔ Serviço de coleta de resíduos de serviços de saúde
➔ Serviço de limpeza e desinfecção de superfícies
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ESTIMATIVA DE VALORES PARA ORÇAMENTAÇÃO

CENTRO DE ISOLAMENTO ASSISTIDO

VALOR MENSAL APROXIMADO

PESSOAL R$260.450,00

INSUMOS, LIMPEZA E HIGIENE R$42.467,68

INVESTIMENTO E EQUIPAMENTOS MÉDICOS R$160.000,00

TOTAL R$462.917,68

OBS: SERVIÇOS NÃO ESTIMADOS, POIS DEPENDEM DE FREQUÊNCIA DOS


USUÁRIOS (Serviço de alimentação, Serviço de lavanderia, Serviço de coleta de
resíduos de serviços de saúde, Serviço de limpeza e desinfecção de superfícies)

3. CENTRO DE APOIO SOCIAL


Um dos princípios fundamentais deste Plano é o da articulação entre a abordagem
médica e sanitária e a abordagem social. Para tanto, propõe-se a instalação de um
Centro de Apoio Social (CAS), que funcione em diálogo com a rede de CRAS, e como
um espaço de articulação intersetorial emergencial com a área da saúde, e de interação
entre poder público e sociedade. A seguir, são apresentadas as atividades, equipe,
estrutura e orçamento desse equipamento.
O CAS terá as seguintes funcionalidades:
➔ Conceber e executar estratégias de comunicação;
➔ Oferecer uma central de informações para a população com interface com
sistemas universitários de teleatendimento;
➔ Realizar a gestão e monitoramento de dados de vulnerabilidade social,
epidemiológicos e de saúde;
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➔ Realizar ações sociais presenciais por meio da equipe de Agentes Comunitários


de Apoio Social;
➔ Oferecer apoio à remoção de corpos e sepultamento

Funcionamento do Centro de Apoio Social


Estratégias de Comunicação:
O CAS irá organizar a comunicação a partir de dois tipos de estratégias: a comunicação
à distância, a ser realizada pela central de informação; por meio de rádios comunitárias;
e por meio de letreiros luminosos como os utilizados pela Prefeitura na gestão do trânsito,
com informações relevantes sobre a covid-19, bem como sobre sua evolução na
localidade.
A outra estratégia é a da comunicação presencial, a ser realizada pelos Agentes
Comunitários de Apoio Social, que juntamente com cestas básicas e outros insumos,
levarão informações em saúde relevantes sobre a pandemia e sobre os recursos e
equipamentos disponíveis para a população.
Para o desempenho dessa atividade, o CAS precisará contar com um responsável pela
coordenação da comunicação, que terá que atuar na produção de peças de comunicação
ajustadas às necessidades. Uma de suas tarefas será a de se reunir com a coordenação
de campo para ajustar processos de informação conduzidos pelos Agentes Comunitários
de Apoio Social. Igualmente relevante é a permanente interlocução com articuladores
sociais da comunidade. A Central de Informações estará diretamente subordinada a esta
coordenação.
Também caberá à coordenação de comunicação, de modo articulado com a
coordenação do trabalho de campo, pensar estratégias de divulgação voltadas para a
captação de doações junto à sociedade e à iniciativa privada.
Central de informações para a população com interface com sistemas
universitários de teleatendimento:
O papel da Central de Informações será múltiplo: oferecer orientações básicas sobre a
Covid-19; informar sobre auxílios sociais; receber denúncias sobre aglomerações ou
outras práticas que ameacem a saúde de vizinhos e de grupos de risco, e encaminhá-
las aos órgãos competentes; receber informações sobre situação de insegurança
alimentar, entre outras.
Além disso, a Central de Informações terá interface com serviços de teleatendimento no
campo da saúde, especialmente nas áreas médica e psicológica. Esses serviços serão
construídos em parceria com as universidades e centros de pesquisa, que mobilizarão
para tanto preferencialmente estudantes de saúde e psicologia, pós-graduandos e
graduandos em final do período.
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Para a instalação dessa Central serão necessários equipamentos específicos, bem como
uma equipe composta por pelo menos 4 profissionais, que trabalharão em sistema de
rodízio. Como já salientado, a Central estará subordinada à coordenação de
comunicação do CAS.
Gestão e monitoramento de dados de vulnerabilidade social, epidemiológicos e de
saúde:
Uma das missões do CAS será o trabalho de articulação de duas bases de dados
fundamentais: os dados a serem disponibilizados pelo CRAS, oriundos do Cadastro
Único, do PAIF e do programa “Territórios Sociais”; e os dados a serem disponibilizados
pelas unidades de saúde, especialmente os do sistema de vigilância, e pelo Centro de
Atendimento Covid-19. A reunião dessas duas bases de dados será muito importante
para a leitura territorializada de situações de maior vulnerabilidade, que informará
tomadas de decisões das diferentes equipes.
Essas bases de dados também deverão ser enriquecidas por dados qualitativos trazidos
do campo pelos Agentes Comunitários de Apoio Social. E também estará integrada com
o Centro de Isolamento Assistido.
Para a realização dessa tarefa está sendo prevista uma equipe, composta por uma
coordenação intersetorial, e por pelo menos dois profissionais habilitados a operar bases
de dados, além de dois estagiários da área de informática.
Ações sociais presenciais por meio da equipe de Agentes Comunitários de Apoio
Social:
Uma das missões fundamentais do CAS é organizar o trabalho social que, em parte, já
vem sendo feito por organizações comunitárias, mas quase sempre sem uma macro
coordenação. Para tanto, será composta uma equipe de Agentes Comunitários de Apoio
Social que, de modo articulado com o CRAS e as Clínicas da Família, realizarão um
trabalho de campo, de entrega de cestas básicas e de outros insumos, bem como de
orientação presencial. Inspirados no Agentes Comunitários de Saúde, os ACAS serão
uma extensão do CAS, trabalhando sob uma coordenação específica, denominada de
“Coordenação do Trabalho de Campo”. A esta coordenação também estará subordinada
a gestão de cestas básicas e outros tipos de recursos como máscaras, a serem
distribuídas para a população.
Apoio à remoção de corpos e sepultamento:
Para a população mais pobre, um dos temas mais sensíveis nesse momento de
pandemia é o que fazer com entes queridos que muitas vezes morrem em casa (de
acordo com pesquisa realizada pelo Viva Rio, cerca de 20% dos óbitos decorrentes de
Covid-19 entre moradores de favelas tem ocorrido em casa). O custo médio da
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contratação de uma funerária chega a ser superior a R$1.000, um valor inacessível para
uma parte significativa dos moradores das áreas populares. Sem essa alternativa
oferecida pelo mercado, tem-se que recorrer ao auxílio do poder público, e isso leva a
um dramático desgaste de peregrinação junto a órgãos públicos, fazendo com que
muitas vezes se passe dias para se conseguir a remoção.
Para lidar com esse problema, o CAS se colocará como uma instância de facilitação na
comunicação com os poderes públicos. Essa tarefa também ficará a cargo da
Coordenação de Campo.

Equipe
Para gestão de nível central dos CAS, estrutura responsável pela formulação das
diretrizes e ações articuladas a serem implementadas em cada um dos equipamentos,
considerando as especificidades territoriais, é necessária uma coordenação de gestão
central e dois técnicos de nível central. Esta estrutura deverá ser instalada no órgão
executor do projeto, também podendo ser sediada na Fiocruz ou em universidades
parceiras.
A fim de atender a suas atividades-fim, cada CAS deve ser estruturado a partir de uma
coordenação geral, e de três coordenações específicas, a de comunicação, a de campo,
e a de articulação intersetorial. De preferência, esses coordenadores deverão ter
formação em áreas convergentes com suas funções. No caso da coordenação de
comunicação, um profissional com formação nesse campo; no de campo, com formação
em serviço social; e na de articulação intersetorial, com formação em ciências sociais ou
políticas públicas.
À Coordenação de Comunicação estarão subordinados dois estagiários da área de
comunicação, e uma equipe com quatro atendentes para a Central de Informação.
À Coordenação de Campo estará subordinada a equipe de ACAS. A princípio, prevê-se
que essa equipe seja composta por 30 agentes, de preferência com elevado
conhecimento das áreas de atuação do CAS. O treinamento dessa equipe será realizado
com o apoio do CRAS local. Esses 30 ACAS trabalharão em regime de revezamento.
À Coordenação de Articulação Intersetorial estará subordinada a área de gestão da
informação do CAS, que deverá ser composta por dois profissionais, sendo um da área
da TI e outro da área de ciências sociais. Essa equipe também deverá contar com pelo
menos dois estagiários, com perfil homólogo ao dos profissionais.
Para as atividades-meio, deve-se prever dois porteiros, dois vigias noturnos; e dois
auxiliares de serviços gerais.
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Para assegurar seu funcionamento administrativo, incluindo a gestão dos EPIs, o CAS
contará com uma gerência administrativa, diretamente subordinada ao Coordenador
Geral do CAS.
O organograma abaixo deixa mais claro a estrutura organizacional do CAS.

Equipamentos de Proteção Individual


Um aspecto fundamental para o funcionamento do CAS e o êxito de seus objetivos, é o
da proteção de seus profissionais. Para aqueles que trabalharão no próprio CAS, esses
cuidados serão assegurados nos termos do que têm sido utilizados, por exemplo, em
agências bancárias, com o uso de proteção de acrílico e protocolos envolvendo uso de
máscaras e distanciamento social.
Mas a equipe de ACAS precisará de cuidados especiais. Ela deverá atuar uniformizada
com EPIs compatíveis com sua atividade, de visita domiciliar. Para isso, o CAS deverá
ter em sua estrutura um espaço para colocação e retirada de EPIs, bem como uma
gestão de uso desses equipamentos.

Espaço Físico e Mobiliário


Para assegurar seu funcionamento, e os requisitos básicos de segurança de seus
profissionais, a planta do CAS deverá prever os seguintes espaços:
1 – Sala da coordenação central, equipada com mesa e computador;
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2 – Sala das três coordenações, assegurando distância mínima de 2 metros, e equipada


com mesas e computadores;
3 – Sala da gerência administrativa, equipada com mesa e computador;
4 – Sala da Central de Informação, equipada por telefones e computadores. A sala
deverá garantir segregação por acrílico entre os funcionários.
5 – Sala para reunião, com uma mesa e cadeiras para seis pessoas;
6 – Espaço de troca de EPIs
7 – Espaço para estoque de cestas básicas e outros insumos
8 – Copa e vestuários
OBS: Dadas as exigências do CAS, ele pode ser implantado em um prédio escolar, ou
em outro espaço público disponível na área.
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ESTIMATIVA DE VALORES PARA ORÇAMENTAÇÃO

CENTRO DE APOIO SOCIAL

VALOR MENSAL APROXIMADO

Pessoal - Atividades Nível Central - Coordenador de Gestão R$19.500,00


e Técnico de Gestão

Pessoal - Atividades Fim - Coordenador Geral, De 121.477,00


Comunicação, De campo, de Articulação Social,
profissionais de informática, Agentes Comunitários e diárias
de campo

Pessoal - Atividades Meio - Gerente Administrativo, 16.662,00


porteiros, vigias, auxiliares e serviços gerais

Custo Fixo de Implantação: Mobiliário e equipamentos de R$7.950,00


limpeza

EPI´s R$ 31.107,00

Concessionarias ( Água, Luz, Internet e Telefonia) R$ 3.450,00

Gráfica R$ 3.000,00

TOTAL R$203.146,00
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REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Recomendações
para a Organização de Centros de Isolamento Assistido COVID-19 Proqualis Abril 2020

COELHO, V. S. P. et al. Vale apostar na Atenção Primária à Saúde contra a Covid-


19? Disponível em: http://novosestudos.uol.com.br/vale-apostar-na-atencao-primaria-a-
saude-contra-a-covid-19/, acessado em: 17 de abril de 2020.

CNA. NOVEL CORONAVIRUS MAP. Disponível em:


<https://infographics.channelnewsasia.com/covid-19/map.html>, acessado em: 11 de
abril de 2020.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Relatório Final do VI Congresso Interno,


2010.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Carta de Serviços da Fiocruz, 2014.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Linha de Tempo (Eventos que marcaram


a história da Fiocruz). Disponível em < https://portal.fiocruz.br/linha-do-tempo>,
acessado em: 11 de abril de 2020.

HOLLANDER, J. E.; CARR, B. G. Perspective - Virtually Perfect? Telemedicine for Covid-


19. The NEW ENGLAND JOURNAL of MEDICINE. DOI: 10.1056/NEJMp2003539

Organização Pan-americana de Saúde (OPAS). Folha informativa – COVID-19


(doença causada pelo novo coronavírus). Disponível em:
<https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid
19&Itemid=875>, acessado em: 11 de abril de 2020.

RIO DE JANEIRO. Painel Rio COVID-19. Disponível em:


<https://experience.arcgis.com/experience/38efc69787a346959c931568bd9e2cc4>,
acessado em: 11 de abril de 2020.

LEE, V. J.; CHIEW, M. P.; KHONG, W. X. Interrupting transmission of COVID-19: lessons


from containment efforts in Singapore. [published online ahead of print, 2020 Mar 13]. J
Travel Med. 2020; taaa039. doi:10.1093/jtm/taaa039

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