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Plano de Acoes para As Favelas Versao Consolidada
Plano de Acoes para As Favelas Versao Consolidada
DO RIO DE JANEIRO
Apresentação 2
Introdução 4
Objetivo Geral 5
Objetivos Específicos 5
Justificativa 6
REFERÊNCIAS 24
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Apresentação
Este projeto foi elaborado por um um conjunto de atores, reunindo pesquisadores
universitários e associações científicas, profissionais que atuam nas áreas de saúde e
de assistência social nas favelas, articuladores sociais e organizações atuantes nesses
territórios, além de ter contado com a generosa colaboração da FIOCRUZ1.
Dentre esses diferentes atores, houve um consenso de que o impacto da chegada da
pandemia às áreas populares do Rio de Janeiro pode assumir proporções ainda mais
trágicas, exigindo um redobrado esforço de imaginação institucional.
Considerando o contexto epidemiológico e as projeções até então projetadas, a
implementação imediata deste projeto poderá impactar significativamente na redução de
mortes e de insegurança social entre os moradores das áreas mais vulneráveis.
Estruturado a partir de três dispositivos, prevendo ações preventivas, de atendimento
médico e de apoio social, seu principal objetivo é o de desenvolver ações temporárias e
emergenciais para apoio social e de saúde considerando as especificidades das favelas
e dos territórios populares. O projeto pretende ser uma contribuição complementar ao
que já vem sendo feito pelos poderes públicos, com o objetivo de atingir a integralidade
e equidade em saúde e assistência social, em sintonia com os princípios estruturantes
do SUS e SUAS.
Seus três princípios fundamentais são:
→ Proximidade: para permitir o uso de uma escala de ação capaz de atingir de forma
tempestiva os segmentos mais vulneráveis;
→ Articulação entre as dimensões sanitária e social: a articulação intersetorial é
indispensável pois nos territórios populares a pandemia é também uma complexa
questão social, envolvendo insegurança alimentar, precariedade das moradias,
dificuldade de acesso a informações e equipamentos, entre muitos outros fatores, que
influenciam diretamente na qualidade das condições de prevenção e de isolamento
social de casos e de contactantes;
→ Valorização das estruturas do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS): As unidades básicas de saúde e os centros de referência de
1- De modo mais específico, o documento contou com a participação de pesquisadores da UFRJ, UERJ
e PUC-Rio, articuladores sociais e organizações comunitárias das favelas do Alemão, Cidade de Deus,
Maré, Rocinha e Santa Marta. E com a contribuição de membros da SBPC e da ABRASCO, além de
consulta a profissionais de Unidades Básicas de Saúde e Centros de Referência em Assistência Social.
A versão original também com a leitura atenta de representantes das diretorias do Sindicato Estadual dos
Médicos do Rio de Janeiro, Sindicato Estadual das Enfermeiras do Rio de Janeiro, e do Sindicato Municipal
dos Agentes Comunitários de Saúde do Rio de Janeiro.
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Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/sites/agencia.fiocruz.br/files/u91/relatorio_distanciamentosocial.pdf
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saúde pública e na área social, como Fiocruz, UERJ, UFRJ, UNIRIO, UFF e PUC-Rio,
com foco na implantação e gerenciamento dos Centros de Atendimento para
enfrentamento da Covid-19.
Introdução
A proposição de instalação de dispositivos assistenciais adequados para territórios
vulnerabilizados, de baixa renda e favelas no Rio de Janeiro, é certamente um desafio
de grande complexidade para gestores públicos, em articulação com instituições de
pesquisa e representações dos diversos segmentos da sociedade. Tais atores devem
encontrar soluções com a agilidade e a segurança que a situação da pandemia do
coronavírus requer. O PLANO DE AÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19
NAS FAVELAS estimula o diálogo entre esses atores sociais, de forma que as propostas
e alternativas sejam estruturadas de forma compatível com as especificidades e
singularidades das diferentes realidades locais, mas também possam estar adequadas
às normas e limitações legais e orçamentárias dos entes federativos responsáveis pela
execução de programas voltados para atenção à saúde, garantindo os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde, bem como de assistência social.
O principal objetivo deste projeto é construir dispositivos para ampliar o acesso da
população que reside em territórios de vulnerabilidade para os equipamentos sociais,
potencializando a relação da população com os serviços já existentes, como é o caso da
atenção primária à saúde.
A atenção primária à saúde, durante a pandemia, tem sido afetada em alguns territórios
pela fragilidade na preparação da rede de atenção para tais situações, possibilitando a
desorganização dos fluxos de atendimento, de afastamento de pacientes impactados
pela insuficiente informação acerca das medidas de distanciamento social, de
afastamento de profissionais de saúde por motivo de doença, dentre tantos outros
elementos que surgiram de forma aguda e assimétrica nas diferentes regiões da cidade
e da metrópole.
Para fazer frente a uma situação de dificuldade de manter a atenção com um mínimo de
qualidade e possibilitando o acesso dos usuários aos serviços com segurança e
seguindo os protocolos preconizados pela OMS e pelo MS, este projeto pretende
contribuir para garantir este acesso, principalmente nos territórios mais vulnerabilizados,
onde a transmissão do coronavírus é potencializada pelas condições de vida adversa e
precária.
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Objetivo Geral
Ampliar o acesso da população que reside em territórios de vulnerabilidade às
estratégias e serviços de saúde e assistência social, considerando as dificuldades
existentes no contexto da pandemia do coronavírus.
Objetivos Específicos
➔ Mobilizar os diferentes atores sociais, os gestores públicos e as lideranças
comunitárias para conhecerem e avaliarem este projeto na dimensão possível das
diferentes realidades locais onde possa ser implementado;
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Justificativa
As Universidades do Rio de Janeiro como UERJ, UFRJ, UFF, UNIRIO, PUC-Rio e a
Fiocruz, coerentes com a sua visão na formulação, aperfeiçoamento e implementação
de políticas públicas, como também no papel central na produção, disseminação,
compartilhamento de conhecimento e tecnologias que fortaleçam o Sistema Único de
Saúde, não têm medido esforços no sentido de garantir o direito à saúde e à vida digna
para a população. Para viabilização deste projeto, não seria diferente. Essas intituições
estão se colocando como parceiras dos demais atores na formulação e implementação
destas diferentes estratégias aqui propostas. A temática de epidemias e emergências
em saúde pública desponta como uma das áreas emergentes e carentes de produção
de conhecimento, bem como de intervenções organizadas e coordenadas no âmbito das
políticas públicas voltadas para o enfrentamento de situações como esta da Pandemia
da COVID 19. Afinal, desastres e pandemias representam desafios únicos para a
prestação de cuidados de saúde.
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Uma estratégia central para o controle de surtos é a “triagem direta”, com a classificação
dos pacientes antes que eles cheguem aos serviços de emergência (HOLLANDER;
CARR, 2020). Na fase de transmissão comunitária da Covid-19 em que nos
encontramos, é essencial criar alternativas de atendimento à população, não só para
casos graves, como o aumento de leitos de UTI, mas também para os casos de
gravidade leve/moderada, além da necessidade de trabalharmos ações de vigilância em
saúde voltadas para minimizar o risco de transmissão da doença em nossas
comunidades, e sociais voltadas para minimizar outros danos trazidos pela pandemia.
O SARS-CoV-2 faz parte de uma ampla família de vírus que pode causar enfermidade
em humanos e animais. Desde a detecção do primeiro caso na China, no final de 2019,
o vírus tem se espalhado rapidamente no mundo. No dia 30 de janeiro, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) classificou a doença produzida pelo vírus, COVID-19, como
uma emergência de saúde internacional. No dia 11 de março de 2020, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) declarou que o mundo enfrentava uma pandemia de COVID-
19 (OPAS, 2020).
À época, havia registrados mais de 118 mil casos em 114 países. Um mês após a
classificação da OMS, o cenário mundial nos remete à grande preocupação. Até 11 de
abril de 2020, foi observado um crescimento de 1.400% e já haviam sido confirmados
1.793.728 casos de COVID-19, com 110.196 mortes em 212 países. O Brasil, no dia 11
de abril de 2020, já computava mais de 20 mil pessoas contaminadas (CNA, 2020).
Quando analisamos a evolução da pandemia nos EUA, na Itália, na Espanha, na França
e na Alemanha, observamos que esse grupo de países demorou em média 12,8 dias
para saírem da ordem de 20 mil e ultrapassarem os 100 mil infectados. Junto com o
número de casos, aumenta a taxa de mortalidade que aumentou de 3,6% para 6,6%
neste período (CNA, 2020). Assim, estimou-se que o Brasil, até a primeira semana de
maio, já computaria mais de 100 mil pacientes com diagnóstico de COVID - 19
confirmado, e se a taxa de mortalidade se comportar como nos demais países, haverá
mais de 10 mil óbitos no país pela COVID - 19. Agora, na última semana de maio, já
registra-se mais de 22 mil mortes confirmadas por Covid-19 e quase 350 mil casos
confirmados. As projeções realizadas por diferentes centros de estudo apontam que
ainda haverá um crescimento significativo de casos e óbitos, ainda mais considerando
que o Brasil é um país com inúmeras singularidades e profundas desigualdades sociais.
O crescimento dos números de casos e da mortalidade também pode ser observado no
município do Rio de Janeiro. No entanto, é necessário considerar que as estatísticas
oficiais disponíveis sobre a evolução do vírus são suscetíveis a uma série de limitações,
sendo a maior delas a ausência de informação sobre a prevalência de infecção pelo vírus
em amostras de base populacional.
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Finalidade:
Localização:
Quadro de Pessoal:
➔ Pessoal de apoio
OBS 2: toda equipe cumprirá 40h semanais, sendo que, a depender o regime de
funcionamento do centro, poderá ter apoio de mais de uma equipe para o mesmo centro
OBS 3: cada centro poderá ter mais de uma equipe padrão atuando a depender do
tamanho da população que será referenciada para o serviço, sugere-se que a cada 2
ESF existentes no SUS na região da Área de Atenção Preferencial, seja implantada 1
equipe para atuação no Centro de Atendimento para Covid
PSSOAL R$197.973,36
INVESTIMENTO R$63.323,80
TOTAL R$386.480,34
Um serviço para acolher pessoas com sintomas e com comorbidades que possibilita um
acompanhamento mais próximo dessa população, possibilitando ao mesmo tempo o
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Finalidade:
População alvo:
➔ Indivíduo cuja residência não possui cômodo que possa servir como quarto de
isolamento, evitando a contaminação de outros moradores;
➔ Morador de comunidade, devido ao adensamento populacional e/ou arquitetura
da moradia (sem janela e/ou com baixa ventilação, sem saneamento básico);
➔ População em situação de rua3;
➔ Pessoa que se declare em risco devido à violência.
Acesso ao serviço:
Critérios de Admissão:
3
No caso da população de rua que necessite de apoio do Centro de Isolamento Assistido, o referenciamento deverá
ser efetivado por meio das equipes de assistência social caso os abrigos não ofereçam condições para realização
deste isolamento in loco.
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Localização:
Quadro de Pessoal:
➔ 1 enfermeiro coordenador
➔ Equipe diurna: 1 enfermeiro assistencial e 2 técnicos de enfermagem para 20
hóspedes
◆ Equipe assistencial diurna: 07 as 19h – plantões 12h/36h = 44 horas
semanais – 1 folga.
➔ Equipe noturna: 1 enfermeiro assistencial e 2 técnicos de enfermagem para 20
hóspedes
◆ Equipe assistencial noturna: 19h as 07h – plantões 12h/36h = 44 horas
semanais – 1 folga.
➔ Profissional para limpeza - 1 para cada 100 m2 de área interna, ou fração, por
turno, diariamente
➔ Profissional para o serviço de alimentação - 1 profissional para cada 20 hóspedes,
garantindo a cobertura de dois turnos de 8 horas
➔ Assistente social: 1 assistente social para 20 hóspedes
◆ Jornada de trabalho dos assistentes sociais: 40 horas semanais
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Enfermeiro 40 11
Técnico de Enfermagem 44 20
Assistente social 40 5
Profissional de limpeza 40 6
Profissional de alimentação 40 4
Porteiro ou zelador 40 4
Instalações prediais:
PESSOAL R$260.450,00
TOTAL R$462.917,68
Para a instalação dessa Central serão necessários equipamentos específicos, bem como
uma equipe composta por pelo menos 4 profissionais, que trabalharão em sistema de
rodízio. Como já salientado, a Central estará subordinada à coordenação de
comunicação do CAS.
Gestão e monitoramento de dados de vulnerabilidade social, epidemiológicos e de
saúde:
Uma das missões do CAS será o trabalho de articulação de duas bases de dados
fundamentais: os dados a serem disponibilizados pelo CRAS, oriundos do Cadastro
Único, do PAIF e do programa “Territórios Sociais”; e os dados a serem disponibilizados
pelas unidades de saúde, especialmente os do sistema de vigilância, e pelo Centro de
Atendimento Covid-19. A reunião dessas duas bases de dados será muito importante
para a leitura territorializada de situações de maior vulnerabilidade, que informará
tomadas de decisões das diferentes equipes.
Essas bases de dados também deverão ser enriquecidas por dados qualitativos trazidos
do campo pelos Agentes Comunitários de Apoio Social. E também estará integrada com
o Centro de Isolamento Assistido.
Para a realização dessa tarefa está sendo prevista uma equipe, composta por uma
coordenação intersetorial, e por pelo menos dois profissionais habilitados a operar bases
de dados, além de dois estagiários da área de informática.
Ações sociais presenciais por meio da equipe de Agentes Comunitários de Apoio
Social:
Uma das missões fundamentais do CAS é organizar o trabalho social que, em parte, já
vem sendo feito por organizações comunitárias, mas quase sempre sem uma macro
coordenação. Para tanto, será composta uma equipe de Agentes Comunitários de Apoio
Social que, de modo articulado com o CRAS e as Clínicas da Família, realizarão um
trabalho de campo, de entrega de cestas básicas e de outros insumos, bem como de
orientação presencial. Inspirados no Agentes Comunitários de Saúde, os ACAS serão
uma extensão do CAS, trabalhando sob uma coordenação específica, denominada de
“Coordenação do Trabalho de Campo”. A esta coordenação também estará subordinada
a gestão de cestas básicas e outros tipos de recursos como máscaras, a serem
distribuídas para a população.
Apoio à remoção de corpos e sepultamento:
Para a população mais pobre, um dos temas mais sensíveis nesse momento de
pandemia é o que fazer com entes queridos que muitas vezes morrem em casa (de
acordo com pesquisa realizada pelo Viva Rio, cerca de 20% dos óbitos decorrentes de
Covid-19 entre moradores de favelas tem ocorrido em casa). O custo médio da
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contratação de uma funerária chega a ser superior a R$1.000, um valor inacessível para
uma parte significativa dos moradores das áreas populares. Sem essa alternativa
oferecida pelo mercado, tem-se que recorrer ao auxílio do poder público, e isso leva a
um dramático desgaste de peregrinação junto a órgãos públicos, fazendo com que
muitas vezes se passe dias para se conseguir a remoção.
Para lidar com esse problema, o CAS se colocará como uma instância de facilitação na
comunicação com os poderes públicos. Essa tarefa também ficará a cargo da
Coordenação de Campo.
Equipe
Para gestão de nível central dos CAS, estrutura responsável pela formulação das
diretrizes e ações articuladas a serem implementadas em cada um dos equipamentos,
considerando as especificidades territoriais, é necessária uma coordenação de gestão
central e dois técnicos de nível central. Esta estrutura deverá ser instalada no órgão
executor do projeto, também podendo ser sediada na Fiocruz ou em universidades
parceiras.
A fim de atender a suas atividades-fim, cada CAS deve ser estruturado a partir de uma
coordenação geral, e de três coordenações específicas, a de comunicação, a de campo,
e a de articulação intersetorial. De preferência, esses coordenadores deverão ter
formação em áreas convergentes com suas funções. No caso da coordenação de
comunicação, um profissional com formação nesse campo; no de campo, com formação
em serviço social; e na de articulação intersetorial, com formação em ciências sociais ou
políticas públicas.
À Coordenação de Comunicação estarão subordinados dois estagiários da área de
comunicação, e uma equipe com quatro atendentes para a Central de Informação.
À Coordenação de Campo estará subordinada a equipe de ACAS. A princípio, prevê-se
que essa equipe seja composta por 30 agentes, de preferência com elevado
conhecimento das áreas de atuação do CAS. O treinamento dessa equipe será realizado
com o apoio do CRAS local. Esses 30 ACAS trabalharão em regime de revezamento.
À Coordenação de Articulação Intersetorial estará subordinada a área de gestão da
informação do CAS, que deverá ser composta por dois profissionais, sendo um da área
da TI e outro da área de ciências sociais. Essa equipe também deverá contar com pelo
menos dois estagiários, com perfil homólogo ao dos profissionais.
Para as atividades-meio, deve-se prever dois porteiros, dois vigias noturnos; e dois
auxiliares de serviços gerais.
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Para assegurar seu funcionamento administrativo, incluindo a gestão dos EPIs, o CAS
contará com uma gerência administrativa, diretamente subordinada ao Coordenador
Geral do CAS.
O organograma abaixo deixa mais claro a estrutura organizacional do CAS.
EPI´s R$ 31.107,00
Gráfica R$ 3.000,00
TOTAL R$203.146,00
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REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Recomendações
para a Organização de Centros de Isolamento Assistido COVID-19 Proqualis Abril 2020