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Artigo: O que dizem os estudantes

sobre as aulas não presenciais

Secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão

Ouvir o estudante, saber quais são seus anseios,


dificuldades, medos e perspectivas, nesse momento, é
essencial para políticas públicas educacionais assertivas,
uma vez que não podemos nos abster de ações
comprometidas com valores e solidariedade para construção
de um mundo pós-pandêmico, sobretudo, porque os
estudantes são estimulados à vivência de um currículo amplo
que contribui para o desenvolvimento pessoal em uma
relação com outras pessoas, visando ao impacto de ações
nas comunidades em que estão inseridos.

No último mês, aplicamos um questionário para estudantes


da Rede de Educação Integral do Estado, no sentido de ouvi-
los para traçar estratégias de retomada das atividades
escolares e, também, avaliar as que estão em curso sob
forma de aprendizagens com aulas remotas. O questionário
atingiu, aproximadamente, 45% dos estudantes, com adesão
significativa, principalmente do ponto de vista da qualidade
dos registros do nosso corpo discente sobre seu
desempenho educacional.

Como parte dessa ampla “escuta”, foram aplicadas pesquisas


de satisfação, dando oportunidade aos estudantes para
manifestação sobre o que pensam das aulas remotas e sobre
o que acham do momento educacional ímpar que estão
vivendo. Vale ressaltar que, entre as estratégias para aulas
remotas, orientadas em resolução do Conselho Estadual de
Educação, a SEDUC realiza transmissão de aulas,
semanalmente, pela TV Assembleia (canal aberto e público)
e pela Rádio Timbira (emissora aberta e pública) e, também,
disponíveis em plataformas, em formato podcasts e canais
virtuais. Além disso, inúmeras ferramentas tecnológicas,
como Classrom e outras disponibilizadas por parceiros,
como a Simplifica (Ensino Fundamental), Resolve Sim (Enem
e pré-vestibulares), Aprender: dentro e fora da escola
(Educação Infantil e famílias), Chatclass (professores de
Língua Inglesa) e outros que constam nos planos de estudo,
elaborados pelas escolas e por nossos professores.

Um dos pontos que me deixou feliz foi que, quando


perguntado sobre a participação nas aulas/atividades não
presenciais promovidas, 88% dos estudantes responderam
que, de alguma forma, têm participado e aprendido com as
oportunidades de educação remota. Contudo há um desafio
quanto aos outros 12%, que não acompanham as aulas, pois
as principais causas da não participação são: falta e/ou
instabilidade do acesso à internet (51,7%), a dificuldade no
uso das plataformas online (35,7%), desmotivação (34,1%) e
falta de espaço dentro de casa para estudo (13,9%), só para
citar alguns desses motivos.

A pesquisa demonstra o forte interesse discente com a


participação das aulas remotas, por outro lado, também,
aponta para um importante elemento de disparidade
pedagógica que envolve dados de contexto social e
econômico – tão evidentes durante a pandemia e que serão
alvo de enfrentamento no retorno às aulas presenciais. Será
necessário um processo de adaptação pedagógica, no que se
refere a um diagnóstico cuidadoso das aprendizagens que
foram consolidadas, nesse período de confinamento, daí a
relevância de duas medidas que já constam no planejamento
de pós-pandemia da Secretaria: avaliação diagnóstica da
rede e busca ativa de estudantes.

A respeito da avaliação dos estudantes sobre as aulas e


atividades remotas promovidas pela escola, o nível de
satisfação é de aproximadamente 68%. Segundo
levantamento, as principais plataformas utilizadas pelas
escolas são os grupos de WhatsApp (87%), interação via
Classroom (71%), Youtube (38%) e chamadas de vídeo (31%),
alinhados ao acompanhamento semanal de indicadores que
seguem um plano de estudos, baseado no currículo escolar.
No entanto, em meio aos que demonstram dificuldades com
as aulas remotas, há indicativos claros de dificuldades no
acesso à internet e utilização de algumas plataformas. Parece
óbvio que o mundo da tecnologia deve fazer parte do futuro
da educação, de forma mais efetiva, inclusive nas escolas, a
partir do reinício das atividades presenciais. Na verdade,
todos os educadores e estudantes precisam de ações efetivas
de inserção no mundo virtual, tendo em vista que essas
ferramentas são fontes imprescindíveis na construção de
aprendizagens significativas.

Na pesquisa, também, havia espaços para que registrassem,


de forma livre, suas dificuldades. Palavras-chave, como
ansiedade, medo e depressão tornaram-se relevantes, o que
representa um alerta de que a educação deve lançar mão de
aparatos psicológicos e de acolhimento emocional dos
estudantes no retorno à nova “normalidade” escolar e que os
conteúdos devem estar voltados, também, para as
capacidades socioafetivas ou socioemocionais, como um
amparo aos conteúdos mais tradicionais em cada área de
conhecimento e componente curricular. É por isso que o
acolhimento será ação primordial na reabertura das escolas
estaduais.

Os estudantes deixam claro, ainda, a necessidade de apoio


de Intérprete de Libras e/ou AEE (Atendimento Educacional
Especializado), nas aulas remotas, indicando que a inserção
de libras nas escolas deve ser mais efetiva, como segunda
língua oficial do Estado Brasileiro, como é por lei. Um
caminho que o governo Flávio Dino vem trilhando, desde que
assumiu a gestão, mas compreende que é preciso avançar
ainda mais.

Por fim, algo que todos demonstram é a falta que os colegas


fazem no processo de aprender, de construir conhecimento
e estar preparado para vida. A importância da interação
social, dos níveis de mediação, das relações interpessoais de
cada sujeito responsável pela educação escolarizada, é algo
indiscutível e agora muito mais valorizado por todos da
escola e fora dela. A interação entre membros mais
experientes com menos experientes produz
desenvolvimento, não apenas por meio da soma de
experiências e saberes, mas na vivência das diferenças e essa
é, especialmente, nossa riqueza na área da educação
maranhense.

Por isso, minha mensagem a todos que fazem essa educação


é que reflitam, neste momento, sobre o papel preponderante
de cada um de nós, a responsabilidade compartilhada que
temos, ao olhar para esses dados e saber que gerações de
maranhenses dependem de nós.

Sublinho, portanto, que somos humanos e, como tais,


interdependentes no processo de construção de um mundo
melhor, mas isso só é possível se estivermos juntos, unidos
no mesmo objetivo. Venceremos!

Felipe Camarão
Professor
Secretário de Estado da Educação
Membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
06/06/2020

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