Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dougher, M. J., Hamilton, D. A., Fink, B. C. & Harrington, J. (2007) Transformation of the discri-
minative and eliciting functions of generalized relational stimuli. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 88, 179-197.
“Abracadabra! ”
Palavra mágica prototípica usada por mágicos.
186
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
INTRODUÇÃO À ÁREA DE PES- che 2001; Perez, Nico, Kovac Fidalgo, & Le-
QUISA E CONTEXTUALIZAÇÃO onardi, 2013; Zettle, Hayes, Barnes-Holmes
DO EXPERIMENTO & Biglan, 2016). Essa perspectiva analítico-
-comportamental foi grandemente influen-
É amplamente disseminado na literatura de ciada pela explicação funcional da lingua-
fantasia medieval e em jogos que palavras, gem presente no Comportamento Verbal
frases curtas e textos faziam parte de rituais (Skinner,1957) e pelo estudo de relações
mágicos. Nesse contexto, poderosos magos derivadas entre estímulos, iniciado pelas
armazenavam seu poder por escrito em to- pesquisas sobre Equivalência de Estímulos
mos e pergaminhos. Uma vez que os sons (Sidman & Tailby, 1982; Sidman, 1994, 2000).
exatos fossem proferidos, coisas incríveis Nessa explicação da RFT, um tipo especí-
poderiam acontecer (Gygax & Arneson, fico de comportamento operante pode al-
1974). A palavra “Abracadabra” na epígrafe terar o modo como os estímulos adquirem
deste texto deriva de uma frase em Aramai- função a partir de relações arbitrárias deri-
co que significa “Eu crio quando eu falo” vadas entre estímulos. Elas são chamadas
(Lawrence, 1988). Obviamente, não iremos de arbitrárias, pois não dependem de carac-
explorar, neste capítulo, os efeitos das pa- terísticas físicas dos estímulos relacionados
lavras a partir da perspectiva da literatura (são baseadas em convenções); e são cha-
fantástica, sequer existem evidências cien- madas de derivadas pois, a partir de treinos
tíficas de que as essas podem alterar os diretos, inúmeras respostas não ensinadas
eventos do mundo físico. No entanto, par- diretamente podem ser observadas.
tindo de uma perspectiva analítico-com-
portamental, baseada em evidências em- Isso tudo é possível porque, desde mui-
píricas, falaremos do “poder” das palavras to pequenos, somos expostos a tarefas em
de funcionar como estímulos e, então, agir que relacionamos estímulos, e essas rela-
sobre as pessoas. Vamos explorar, neste ca- ções podem ser de diversos tipos, como:
pítulo, a “magia” que permite que palavras de similaridade (“esse tênis é parecido com
e frases (símbolos) afetem o comportamen- o meu”), de igualdade (“nossas camisetas
to, ou seja, afetem o que as pessoas fazem, são iguais”), de oposição (“doce é oposto a
pensam e sentem. salgado”), de comparação (“meu carrinho
é maior que o seu”), entre outras (Tornëke,
Para compreender esse efeito das palavras, 2010). Por questões práticas, vamos tomar
recorremos a uma explicação operante da o exemplo da comparação. Imagine uma
linguagem e cognição humana proposta criança aprendendo a comparar objetos.
pela Teoria das Molduras Relacionais (Re- Naturalmente, ao ser exposta às contingên-
lational Frame Theory ou RFT; de Rose & cias da comunidade verbal que modelam os
Rabelo, 2012; Hayes, Barnes-Holmes & Ro- repertórios linguísticos, a criança se depa-
187
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
ra com as palavras “maior” e “menor”. Ini- aplicadas para estabelecer relações de com-
cialmente, tais palavras são utilizadas para paração convencionadas pela comunidade
controlar respostas baseadas em proprieda- verbal. Esse tipo de aprendizagem descrita
des físicas dos estímulos. Diante de pergun- acima é uma parte do que chamamos de
tas e solicitações do tipo “Qual é o maior Treino de Múltiplos Exemplares, e aconte-
brinquedo de todos esses aqui?”, “Qual é a ce comumente de forma não planejada na
menor bola que você tem?”, “Pegue a bone- interação da criança e seus pais ou cuida-
ca menorzinha!”, “Pegue uma peça maior dores.
do quebra-cabeça”, as crianças aprendem a
comparar objetos sob controle do seu tama- Além de aprender relações especificamente
nho, volume ou peso. ensinadas, depois de inúmeras exposições,
a criança logo aprenderá a responder tam-
Uma questão curiosa, no entanto, é que as bém de acordo com novas relações que, em-
dicas contextuais “maior” e “menor” tam- bora não diretamente explicitadas, derivam
bém são frequentemente utilizadas para das inicialmente ensinadas. Tomando o
ensinar comparações que não se baseiam exemplo da comparação, ela aprenderá que
nas dimensões físicas dos estímulos, mas as respostas relacionais também são bidi-
em convenções da comunidade verbal. Por recionais, ou seja, que existe uma implica-
exemplo, quando for um pouco mais ve- ção mútua entre os estímulos relacionados:
lha, a criança aprenderá que a moeda de 50 logo, se um estímulo A é maior que B, B será
centavos tem valor maior, ainda que seja necessariamente menor que A. Ela apren-
menor do que a moeda de 25 centavos. Na derá, também, a combinar relações (impli-
escola, nas aulas de matemática, aprenderá cação combinatória) de tal modo que, após
que 0,000000001 é menor do que 1, embo- aprender que A é maior que B e B maior que
ra o primeiro número contenha muito mais C, poderá responder a novas relações, tais
algarismos. Assim, a criança aprende a res- como: A é maior que C e C é menor que A.
ponder adequadamente também a relações Por fim, aprenderá que estímulos relaciona-
arbitrárias de comparação, ou seja, rela- dos arbitrariamente podem ter suas funções
ções que não têm por base a comparação transformadas com base no tipo de relação
de dimensões físicas, mas dependem das implicada. Assim, se A é “bom”, logo B e C
contingências arranjadas para que dados podem ser ainda melhores!
eventos do mundo sejam tratados compa-
rativamente. Em contextos como esse, di- O fenômeno da Transformação de Fun-
zemos que as respostas relacionais podem ção1 pode ser definido como a propagação
ser arbitrariamente aplicadas a quaisquer de função de um estímulo para demais os
eventos do mundo. Em outras palavras, as estímulos relacionados. As funções trans-
dicas contextuais “maior” e “menor” são formadas podem ser de natureza muito
188
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
189
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
sar a eliciar uma resposta eletrodermal (ca- não deveria ser doloroso. O procedimento
racterística da reação de medo), será que A foi o seguinte: o gerador de choque possuía
irá eliciar uma resposta eletrodermal menor 10 níveis e, inicialmente, era colocado no
do que B? E, mais importante, será que C nível 7 para a administração de um choque
irá eliciar uma resposta eletrodermal ain- breve (50ms). Foi pedido aos participantes
da maior do que o estímulo pareado dire- que classificassem esse choque, dando uma
tamente com o choque (B)? O objetivo do nota de 1-10 (sendo 8 o nível desconfortá-
primeiro experimento foi responder exata- vel, mas não doloroso). Se os participantes
mente a essas questões. considerassem o choque de qualquer nível
diferente de oito, a intensidade era aumen-
Vinte um participantes universitários (12 tada ou diminuída e outro choque apre-
para o grupo experimental e 9 para o con- sentado. Quando a intensidade fosse con-
trole) foram recrutados e receberiam cré- siderada como oito, um segundo choque
ditos em disciplinas por sua cooperação. idêntico era apresentado para ver se essa
Para garantir que os participantes apresen- avaliação permaneceria estável. Quando
tariam índices eletrodermais mensuráveis o participante considerasse dois choques
pelo galvanômetro, foi realizado um teste idênticos consecutivos avaliados como oito
de “explosão do balão”.2 Considerando os 12 a ‘calibragem da intensidade’ esta etapa era
sujeitos do grupo experimental, três deles finalizada. Dos nove participantes do grupo
não obtiveram o critério exigido no teste e experimental, um deles foi eliminado, por
foram eliminados do estudo. avaliar todos os choques do gerador com
notas menores que oito. Assim, oito par-
Consequentemente, nove participantes se- ticipantes seguiram para a próxima fase.
guiram para a próxima etapa, de seleção da Sete outros participantes constituíram um
intensidade do choque. Essa tarefa serviu Grupo Controle. Esses realizaram todas as
para calibrar a intensidade individual do etapas do experimento, exceto o treino de
choque elétrico. Esse estímulo precisava ser múltiplos exemplares.
de intensidade forte e desconfortável, mas
2
O galvanômetro é um instrumento que serve para medir a diferença Treino de Múltiplos Exemplares
de potencial elétrico entre dois pontos. Não são todos os participantes
expostos à avaliação do índice eletrodermal que mostram um respon- Nesse treino, um de três estímulos sem
der suficiente para realização de experimentos. Isso se dá devido a di-
versas características individuais da pele dos participantes. Dessa for- sentido (A, B ou C) eram apresentados no
ma, é comum nesse tipo de experimento, inicialmente, expor o sujeito
a uma avaliação para certificar que será possível coletar os dados com
topo da tela juntamente de três estímulos
aquele participante. Um dos testes realizados, o de explosão do balão
(Levis & Smith,1987) é um dos mais comumente realizados, e consiste
de comparação idênticos, que só variavam
em apenas verificar o efeito no índice eletrodermal diante da explosão em seu tamanho (e.g., uma bola pequena,
de um balão, que estava sendo enchido pelo participante de olhos ven-
dados. Se a alteração possuir uma magnitude mínima, no caso do expe- uma média e uma grande), apresentados na
rimento aqui descrito de 2 micromhos, ele estaria apto a participar. Do
contrário, o participante seria descartado do experimento. parte inferior. Diante do estímulo A, a esco-
190
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
191
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
mente. Será que a taxa de pressão à barra estímulo B, de forma idêntica, foi apresen-
em A e em C foi, respectivamente, menor e tado no centro da tela o estímulo A; após a
maior se comparada a taxa apresentada na sua apresentação, um choque elétrico com
presença do estímulo B? Vamos descrever a metade da voltagem de B foi apresentado.
última etapa do procedimento e descobrire- Após novo intervalo de 90s, o estímulo C
mos os resultados a seguir. foi apresentado, mas sem nenhum choque.
A ordem foi sempre a mesma descrita aqui,
B por seis vezes, seguido de A, B e C. As-
Pareamento e teste transformação sim como na pressão à barra, será que os
de função eliciadora da resposta índices eletrodermais foram modulados de
galvânica da pele forma coerente com o treino relacional? Ou
Na última etapa, ocorreu o pareamento do seja, será que a ativação da condutância
choque elétrico com o estímulo B e o tes- elétrica da pele foi maior para C do que para
te de transformação de função eliciadora. B, mesmo na ausência de qualquer parea-
Nessa etapa, os participantes foram instru- mento direto de C com o choque?
ídos que estímulos seriam apresentados na
tela do computador e eles receberiam cho-
ques. Eles não precisariam fazer nada, ex- Resultados e Discussão
ceto prestar a atenção nos estímulos apre- Todos os oito participantes do grupo expe-
sentados. Após as instruções, o participante rimental aprenderam a tarefa relacional, ou
permanecia sentado por cinco minutos e seja, responderam consistentemente aos
seu índice eletrodermal era registrado por estímulos apresentados inicialmente no
esse período como linha de base. O estímu- topo da tela (A = escolha o menor; B = esco-
lo B deveria adquirir a função de um estí- lha o médio; C = escolha o maior). A primei-
mulo aversivo condicionado, graças ao seu ra medida de interesse foi a frequência de
pareamento consistente com um choque pressão à barra no teste que apresentava os
elétrico. Nesse pareamento, o estímulo B foi estímulos A, B e C. Para todos os oito par-
exibido por 30 segundos na tela do compu- ticipantes do grupo experimental, a taxa de
tador e quando removido, foi apresentado o resposta diante de A e C refletiu os efeitos
choque elétrico. Esse condicionamento foi do treino relacional, ou seja, a taxa apresen-
realizado por seis vezes. tada em A e em C foi menor e maior do que
em B. Para dois participantes, a diferença
Essas tentativas de condicionamento ti- foi pequena, mas ocorreu de forma coe-
nham intervalo entre tentativas de 90s, para rente com o treino realizado. Porém, para
que os índices de condutância da pele pu- os seis outros participantes, a diferença foi
dessem ser estabilizados. Após o intervalo bem grande, em alguns casos até dobrando
da última tentativa de condicionamento do a frequência de respostas ao se comparar A
192
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
193
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
194
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
195
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
sociações com as características não arbi- Encerrada essa etapa, sem qualquer instru-
trárias dos estímulos de comparação. Para ção, novas tentativas foram adicionadas.
investigar a ocorrência dessa possibilidade, Tais tentativas já correspondiam ao teste
novos estímulos foram adicionados inves- dessa segunda fase. Essas tentativas novas,
tigando relações de comparações entre os tinham o mesmo formato da primeira fase
modelos. com os números, mas esses números foram
substituídos pelas dicas contextuais do trei-
no de múltiplos exemplares (A, B e C), o que
Experimento 3 - Objetivo e Método pode ser observado no segundo painel da
Treino de Múltiplos Exemplares Figura 4. Esse procedimento foi executado
O Experimento 3 foi conduzido com sete por 18 tentativas.
participantes e consistiu apenas de duas
fases. A fase inicial foi exatamente igual ao
treino de múltiplos exemplares dos Experi-
mentos 1 e 2. Figura 3. Figura baseada na Figura 7 de Dougher et al. (2007), exempli-
ficando as tentativas de testes do Experimento 3.
196
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
197
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
Wilson, 1999), tanto em investigações in- donia (Villatte, Monestès, McHugh, Frei-
terpretativas (e.g., Foody, Barnes-Holmes, xa i Baqué, & Loas, 2008) e esquizofrenia
Barnes-Holmes, Törneke, Luciano, Stewart, (Villatte, Monestès, McHugh, Freixa i Ba-
& McEnteggart, 2014) quanto experimentais qué, & Loas, 2010) Diversos outros trabalhos
(e.g., Foody, Barnes-Holmes, Barnes-Hol- foram desenvolvidos para avaliar e intervir
mes, Rai, & Luciano, 2015; Foody, Barnes- na Tomada de Perspectiva sob a ótica da
-Holmes, Barnes-Holmes, & Luciano, 2013; RFT (e.g., Lovett & Rehfeldt, 2014; McHugh,
Luciano et al., 2014; Gil-Luciano, Ruiz, Val- Barnes-Holmes, & Barnes-Holmes, 2004;
divia-Salas, & Suárez-Falcón, 2016). Rehfeldt, Dillen, Ziomek, & Kowalchuck,
2007).
A RFT também tem sido utilizada para
abordar problemas relacionados ao desen- Outra área muito relevante em que o estudo
volvimento. Uma dessas temáticas é a In- desses fenômenos tem contribuído grande-
teligência, em que métodos baseados em mente é a das questões sociais, amplamente
responder relacional têm sido repetida- conhecidas por psicólogos cognitivos como
mente comprovados como efetivos para atitudes implícitas, permitindo o estudo de
melhora do desempenho em testes de QI preconceitos, estigmatização social e prefe-
(Cassidy, Roche, Colbert, Stewart & Grey, rências. A transformação de funções permi-
2016; Cassidy, Roche & Hayes, 2011; O´To- te uma explicação comportamental precisa
ole, Barnes-Holmes, Murphy, O´Connor & desses fenômenos sociais e diversos estu-
Barnes Holmes, 2009). Outro tema que, até dos permitiram a investigação e o desen-
recentemente, era investigado apenas por volvimento de instrumentos para mensu-
psicólogos cognitivos e recebeu uma inter- ração de sua força (Hughes, Barnes-Holmes
pretação comportamental via RFT, é a To- & Vahey, 2012; Barnes-Holmes, Murphy &
mada de Perspectiva. Os comportamentos Barnes-Holmes, 2010; Barnes-Holmes, Bar-
relacionados à tomada de perspectiva po- nes-Holmes, Stewart & Boles, 2010; Mizael,
dem ser entendidos resumidamente como a de Almeida, Silveira & de Rose, 2016).
capacidade de assumir a perspectiva de ou-
tro, permitindo inferir suas crenças, emo- Esses e muitos outros temas relevantes
ções e desejos (Carpendale & Lewis, 2006). têm sido investigados recentemente (e.g.
Esse repertório é de suma importância para analogias, regras e instruções, gerativida-
nossa vida social, e déficits nesses compor- de e desenvolvimento linguagem) a partir
tamentos têm sido correlacionados com da perspectiva da RFT (ver, Stewart, 2015).
problemas de relacionamento interpesso- Portanto, podemos entender que essa nova
al e até mesmo com autismo (e.g., Ranick, interpretação do comportamento verbal
Persicke, Tarbox, Kornack, 2013; Rehfeldt, tem permitido uma explicação integrada de
Dillen, Ziomek, & Kowalchuk, 2007) , ane- vários comportamentos humanos comple-
198
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
xos, baseada na aprendizagem relacional (ainda mais) eventos com os quais nunca
derivada. Essa abordagem funcional da lin- tivemos uma experiência aversiva direta
guagem tem permitido a investigação ana- e também como eventos aversivos podem
lítico comportamental de vários temas que ser categorizados por comparação, tal como
por muito tempo foram acessíveis apenas observado nos procedimentos de exposição
aos leitores interessados em outras aborda- realizados em terapia.
gens psicológicas.
Os estudos da transformação de função
ainda não são tão numerosos, e, assim, al-
CONSIDERAÇÕES FINAIS gumas relações receberam pouca atenção
dos pesquisadores, como é o caso de rela-
O experimento de Dougher e colaboradores ções espaciais ou relações hierárquicas de-
(2007) pode ser considerado um marco im- rivadas. Novos trabalhos têm surgido com
portante para o estudo da aprendizagem re- uma velocidade muito grande, e o entendi-
lacional derivada. Esse trabalho, junto com mento da cognição humana a partir desses
inúmeros outros da mesma época (para parâmetros comportamentais tem capaci-
uma revisão, ver Dymond, May, Munnelly, tado a Análise do Comportamento com um
& Hoon, 2010), permitiu que analistas do instrumental novo e abrangente.
comportamento se aventurassem a inves-
tigar e explicar fenômenos relacionados à O avanço do estudo da aprendizagem de-
linguagem e à cognição antes circunscritos rivada, isto é, de como esse tipo de respon-
somente a outras abordagens da psicologia. der relacional derivado amplia as possibi-
Isso ocorreu, especialmente, pela compre- lidades de aprendizagem humanas, tem se
ensão dos processos comportamentais que apresentado recentemente como uma linha
permitem a aquisição indireta de funções de pesquisa muito promissora. Para alguns
de estímulo via participação em redes de pesquisadores, o desenvolvimento dessa
relações arbitrárias. Tal noção possibilitou explicação da linguagem e cognição huma-
que um olhar analítico-comportamental na pode representar uma maior integração
fosse legítimo também em situações nas das vertentes básicas e aplicadas da Análise
quais uma história de aprendizado direta, do Comportamento, como também maior
via pareamento ou contingências de refor- inserção e impacto na Psicologia em geral
ço, parecia ausente, sendo as causas atri- (Hayes & Bernes, 2004).
buídas à mecanismos mentais (cognitivos).
Uma estrapolação dos dados obtidos no es- Conhecer o “poder” que a linguagem pode
tudo de Dougher et al. (2007) permite, por exercer – ampliando enormemente nossa
exemplo, compreender como são constru- interação com o ambiente - é essencial para
ídas as fobias, como aprendemos a temer o entendimento completo das contingên-
199
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
cias a que nós seres humanos somos ex- junto de cinco experimentos em que são
postos. Pode parecer “magia” algo extrema- avaliadas relações de comparação, similari-
mente não científico. Porém, a proposta da dade e oposição entre diferentes conjuntos
RFT, apesar de nova, possui evidências ro- de estímulos (pokémons, produtos fictícios
bustas e mostra como a ciência pode auxi- e prêmios potenciais) Os efeitos de trans-
liar no entendimento deste fenômeno, para formação de função foram evidentes para
alguns inacessível ou “fantástico”. Como um conjunto diferente de medidas compor-
toda perspectiva recente, sabemos que ain- tamentais, explícitas e implícitas.
da há muito a ser feito, então, mãos à obra!
Perez, Nico, Kovac, Fidalgo, & Leonardi,
(2013) e de Rose, & Rabelo (2012). Textos
PARA SABER MAIS introdutórios sobre a Teoria das Molduras
Relacionais em língua portuguesa.
Perez, de Almeida, & de Rose (2015). Nesse
estudo, os pesquisadores ensinaram redes
relacionais de similaridade e oposição e ob- REFERÊNCIAS
servaram resultados consistentes de trans-
formação de funções emocionais avaliadas Barnes-Holmes, Y., McHugh, L., & Barnes-
por instrumentos de avaliação implícita e -Holmes, D. (2004). Perspective-taking and
explícita. Theory of Mind: A relational frame accou-
nt. The Behavior Analyst Today, 5, 15–25.
Perez, Nico, Leonardi, & Kovac (2015).
Nesse estudo, os pesquisadores mostraram Barnes-Holmes, D., Barnes-Holmes, Y.,
a transferência de função de dica contex- Stewart, I. & Boles, S. (2010) A sketch of the
tual relacional em um procedimento com implicit relational assessment procedure
diversas variações, demonstrando a flexibi- (IRAP) and the elaboration and coherence
lidade do controle contextual. (REC) model. The Psychological Record, 60,
527-542
Gil, Luciano, Ruiz, & Valdivia-Salas (2012).
Esse estudo é uma das proposições iniciais Barnes-Holmes, D., Murph, A., & Barnes-
para o estabelecimento de relações hierár- -Holmes, Y. (2010) The implicit relational
quicas entre estímulos. Além disso, ele in- assessment procedure: exploring the im-
vestiga os efeitos da transformação de fun- pact of private versus public contexts and
ções em diferentes níveis hierárquicos. the response latency criterion on pro-whi-
te and anti-black stereotyping among Irish
Hughes, Barnes-Holmes, De Houwer, de individuals. The Psychological Record, 60,
Almeida, & Stewart (submetido). Esse con- 57-66.
200
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
201
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
Luciano, C. Valdivia-Salas, S., Ruiz, F. J., Mizael, T. M., de Almeida, J. H., Silveira, C.
Rodríguez-Valverde, M., Barnes-Holmes, C. & de Rose, J. C. (2016) Changing racial
D. Dougher, M. J., Cabello, F., Sánchez, V., bias by transfer of functions in equivalence
Barnes-Holmes, Y. & Guitierrez, O. (2013). classes. The Psichological Record, 66, 451-
Extinction of aversive eliciting functions 462.
as an analog exposure to conditioned fear:
Does it alter avoidance responding? Journal O´Toole, C., Barnes-Holmes, D., Murphy,
of Contextual Behavioral Science, 2, 120-134. C., O´Connor, J., & Barnes-Holmes, Y. (2009)
Relational flexibility and Human Intelligen-
Luciano, C. Valdivia-Salas, Ruiz, F. J. Rodrí- ce: extending the remit of Skinner´s verbal
guez-Valverde, M. Barnes-Holmes, D., Dou- behaviour. International Journal of Psycho-
gher, M. J., López-López, J., Barnes-Holmes, logy and Psychological Therapy, 9, 1-17.
202
Capítulo XII | Teoria das Molduras Relacionais
Perez, W. F., de Almeida, J. H., & de Rose, J. of the Experimental Analysis of Behavior,
C. (2015). Transformation of meaning throu- 37, 5-22.
gh relations of sameness and opposition.
The Psychological Record, 65, 679-689. Skinner, B. F. (1978). O comportamento ver-
bal. Traduzido por M.P. Villalobos. São Pau-
Perez, W. F., Fidalgo, A. P., Kovac, R. & Nico, lo: Cultrix. (trabalho original publicado em
Y. C. (2015) The transfer of Cfunc contextual 1957).
control through equivalence relations. Jour-
nal of the Experimental Analysis of Beha- Stewart, C., Hughes, S., & Stewart, I. (2017)
vior, 103, 511-523. A contextual behavioral approach to (per-
secutory) delusions. Journal of Contextual
Rehfeldt, R. A., Dillen, J. E., Ziomek, M. Behavioral Science, 5, 235-246.
M., & Kowalchuk, R. K. (2007). Assessing
relational learning deficits in perspective- Stewart, I. (2015) The fruits of a functional
-taking in children with high-functioning approach for psychological science. Inter-
Autism Spectrum Disorder. The Psychologi- natinal Journal of Psychology, 51, 15-27.
cal Record, 57, 23–47.
Törneke, N. (2010). Learning RFT: An intro-
Cassidy, S., Roche, B., Colbert, D., Stewart, duction to Relational Frame Theory and
I., & Grey, I. M. (2016) A relational frame Its Clinical Application. Oakland: Context
skills training intervention to increase ge- Press.
neral intelligence and scholastic aptitude.
Learning and Individual Differences, 47, Vervoort, E. Vervliet, B., Bennett, M., &
222-235. Baeyens. (2014). Generalization of Human
Fear acquisition and extinction within a
Sidman, M. (1994). Equivalence relations Novel Arbitrary Stimulus Category. Plos
and behavior. A research story. Boston: Au- One, 9, 1-10.
thors Cooperative.
Vilardaga, R., Estévez, A., Levin, M. E., &
Sidman, M. (2000). Equivalence relations Hayes, S. C. (2012) Deictic relational respon-
and the reinforcement contingency. Journal ding, empathy, and experiential avoidance
of the Experimental Analysis of Behavior, as predictors of social anhedonia: further
74, 127-146. contributions from relational frame theory.
The Psychological Record, 62, 409-432.
Sidman, M., & Tailby, W. (1982). Conditional
discrimination vs. matching to sample: an Villatte, M., Villate, J. L., & Hayes, S. C.
expansion of the testing paradigm. Journal (2016) Mastering the clinical conversation:
203
João Henrique de Almeida, William Ferreira Perez
204