Você está na página 1de 4

ambiente, gerando consequências.

As consequências definem as propriedades base para definição da


CONCEITOS BÁSICOS DA ANÁLISE DO
CAPÍTULO 5 -
semelhança entre respostas (SKINNER, 1953, p. 71). A emissão de uma resposta de balbuciar do bebê diante
COMPORTAMENTO da mãe produz consequências (atenção) que controlam (isto é, tornam a ocorrência de uma resposta mais
Dr.ª Lidia Maria Marson Postalli ou menos provável) a ocorrência da reposta em uma ocasião futura. Deve ficar claro ao leitor que, no caso
Universidade Federal de São Carlos e INCT-ECCE do comportamento operante, a resposta não foi eliciada pelo ambiente. A resposta foi emitida pelo
organismo, sob certas condições, e produziu um efeito no ambiente que pode retroagir no organismo,
Na Análise do Comportamento, compreende-se o comportamento como uma relação ou interação entre
alterando a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente (SKINNER, 1953).
eventos ambientais (estímulos) e atividades de um organismo (respostas). O termo ambiente envolve
Como destacado por Todorov (2007, p. 59), “os conceitos de comportamento e ambiente e de resposta e
estímulos públicos, isto é, estímulos acessíveis de forma independente a mais de um observador; e estímulos
estímulo são interdependentes. Um não pode ser definido sem referência ao outro”. Quando falamos da
privados, isto é, estímulos acessíveis diretamente apenas ao organismo afetado por eles; estímulos físicos,
relação de dependência entre eventos do ambiente ou entre eventos comportamentais e do ambiente,
propriedades e dimensões físicas do ambiente; e estímulos sociais, propriedades e dimensões básicas
estamos nos referindo à contingência (CATANIA, 1999; DE SOUZA, 2001a; SKINNER, 1953, 1969). Para a
derivadas do fato de serem produzidas por outro organismo - no caso de seres humanos (TODOROV, 2012).
Análise do Comportamento, uma contingência é descrita na forma de afirmação “se…, então….”. “Se” refere-
Utiliza-se o termo ambiente – estímulos – na situação em que o responder ocorre e na situação que passa a
se a algum aspecto do comportamento ou do ambiente e “então” especifica o evento ambiental consequente
existir após o responder. No primeiro caso, falamos em estímulos que antecedem a resposta e, no segundo,
(TODOROV, 2007, p. 60). Por exemplo, se você realizar a tarefa de matemática, então poderá jogar
em estímulos que seguem a resposta. A relação organismo-ambiente pode envolver uma situação em que os
videogame no tablet; se não, ficará sem acessar o tablet. Todorov (2012, p. 34) enfatiza que “a contingência
comportamentos podem ser constituídos por relações que envolvem apenas os estímulos antecedentes e a
não é o comportamento”. Skinner (1953) destaca que, para descrever a contingência, precisamos especificar
resposta (comportamento respondente/reflexo) ou por relações que envolvem os estímulos antecedentes,
os três termos: 1) a ocasião em que a resposta ocorre (estímulo discriminativo); (2) a própria resposta
a resposta e os estímulos que seguem a resposta (comportamento operante). Para descrever e explicar
(comportamento); e (3) as consequências.
qualquer comportamento, devemos descrever as interações que o constituem e a história que produziu essas
interações. Considerando os três termos da contingência, se o estímulo discriminativo estiver presente e se a reposta
ocorrer, (então), ela produzirá a consequência; se a resposta não ocorrer, ou se ocorrer na ausência do
Nos comportamentos respondentes, uma resposta é eliciada, provocada por um estímulo antecedente.
estímulo discriminativo, a consequência não ocorrerá (DE SOUZA, 2001a, p. 84). No exemplo anterior, se na
Por exemplo, a comida na boca (estímulo antecedente) elicia salivação (resposta): trata-se de uma relação
presença da tarefa de matemática, da mãe e do tablet, a resposta de realizar a tarefa de matemática ocorrer,
entre estímulo antecedente e resposta. Respostas podem ser condicionadas e passam a ocorrer em presença
a criança poderá jogar no tablet. Caso não realize a tarefa de matemática ou realize a tarefa de matemática
de estímulos associados com estímulos incondicionados. Por exemplo, o cheiro da comida pode ser associado
quando há indicação na agenda de tarefa de português, acessar o tablet não ocorrerá.
com a comida e passa a eliciar a resposta de salivação (DE ROSE, 2001; MOREIRA; MEDEIROS, 2007;
TODOROV, 2012). Em um condicionamento respondente, antes do condicionamento, o estímulo neutro Realizar uma análise de contingências possibilita, ao analista do comportamento, identificar os elementos
(cheiro da comida) não elicia respostas reflexas/respondentes (salivação). Durante o condicionamento, o envolvidos em uma situação e verificar se há ou não relação de dependência entre eles (DE SOUZA, 2001a).
estímulo neutro é pareado ao estímulo incondicionado o qual elicia respostas reflexas incondicionadas Conforme destacado por Catania (1999, p. 81), as consequências para o comportamento estão presentes no
(reflexo inato). Nessa ocasião, o cheiro da comida é pareado à comida que, em contato com as papilas ambiente natural; os organismos podem mudar seus ambientes fazendo coisas; e quando intervém, os
gustativas na boca, produz a resposta incondicionada (salivação). Após o condicionamento, o estímulo neutro analistas do comportamento podem estudar melhor como as consequências afetam o comportamento. De
passa a eliciar respostas reflexas, portanto agora o denominamos de estímulo condicionado, e as respostas Souza (2001a, p. 85) define a tarefa de um analista do comportamento:
eliciadas são chamadas de respostas condicionadas (reflexo aprendido). Nesse momento, o cheiro da comida Um analista do comportamento tem como tarefa identificar contingências que estão operando (ou
(estímulo condicionado) produz a resposta de salivação (resposta condicionada). inferir quais as que podem ou devem ter operado), quando se deparar com determinados
Quando nos referimos aos comportamentos operantes, consideramos comportamentos que modificam o comportamentos ou processos comportamentais em andamento, bem como propor, criar e
ambiente; e essas modificações no ambiente, por sua vez, modificam o comportamento subsequente (DE estabelecer relações de contingência para o desenvolvimento de certos processos
ROSE, 2001; MOREIRA; MEDEIROS, 2007; SKINNER, 1957; TODOROV, 2012). Por exemplo, o comportamento comportamentais.
operante de balbuciar de um bebê. Em uma certa fase do desenvolvimento humano, o bebê balbucia, e os A manipulação de contingência permite estabelecer ou instalar comportamentos, alterar padrões (como
balbucios não são idênticos. Pode-se dizer que o operante “balbuciar” é uma classe que engloba muitas taxa, ritmo, sequência), reduzir, enfraquecer ou eliminar comportamentos dos repertórios dos organismos
respostas diferentes: o bebê balbucia diferentes sons e balbucia um mesmo som de maneiras diferentes. (DE SOUZA, 2001a, p. 85). Matos (1989) destaca que o reforçamento seria uma das formas de selecionar
Uma resposta que já ocorreu não pode ser prevista ou controlada (afinal, ela já ocorreu), mas podemos comportamentos, isto é, de fortalecê-los, de eliminá-los e de aumentar ou diminuir a variedade e
prever a ocorrência futura de respostas semelhantes que constituem uma classe de respostas (SKINNER, variabilidade comportamentais. Conforme indica Matos (1989), de acordo com Skinner (1981), as mudanças
1953). Essas respostas pertencem a uma mesma classe, pois elas têm uma consequência em comum: a na frequência do comportamento e na variedade e variabilidade seriam, elas próprias, produtos de uma
consequência é produzir a atenção da mãe (ou de uma dada audiência, como o pai, outros familiares e seleção, conforme o modelo de seleção por consequências, descrito no Capítulo 4.
amigos). Quando a resposta de balbuciar tem como consequência atenção, essa consequência torna mais As consequências que aumentam a probabilidade de um comportamento ocorrer novamente são
provável, no futuro, a ocorrência de respostas da mesma classe (DE ROSE, 2001). Para descrever a classe de denominadas de reforço. Um comportamento com a probabilidade de ocorrer no futuro pode ser mantido
respostas, utiliza-se o termo “operante”. Esse termo enfatiza o fato de que o comportamento opera sobre o por reforço positivo ou reforço negativo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Por exemplo, observações repetidas,

75 76
ao longo do tempo, da interação da mãe e o bebê demonstram que a frequência do comportamento de menos provável, denominadas de punição. Nesse caso, também existem dois tipos de punição: punição
balbuciar do bebê aumentou com a atenção da mãe. Nessa situação, pode-se dizer que o comportamento positiva e punição negativa (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Por exemplo, o comportamento de um condutor
de balbuciar do bebê na presença da mãe é mantido por reforço positivo: o reforço aumenta a probabilidade de veículo. No primeiro caso, o condutor ultrapassa o sinal vermelho e é multado. Verificou-se, nos registros
de o comportamento reforçado ocorrer novamente; positivo porque a modificação produzida no ambiente do departamento de trânsito, que, após o recebimento desta multa, esse condutor não foi mais multado por
resulta na apresentação de um estímulo reforçador (atenção). Agora vamos considerar o comportamento de ultrapassar o sinal vermelho. Pode-se dizer que o comportamento de ultrapassar o sinal vermelho foi
arrumar a cama de um adolescente. A observação da interação de uma mãe e seu filho adolescente positivamente punido: a adição de um estímulo aversivo ao ambiente (multa) reduziu a probabilidade da
demonstrou que a mãe reclama incessantemente com o filho até ele arrumar a cama; verificou-se que a ocorrência do comportamento no futuro (ultrapassar o sinal vermelho). Agora vamos considerar uma outra
ocorrência do comportamento de arrumar a cama aumentou de frequência na presença das reclamações da situação com um outro condutor de veículo, que foi flagrado por policiais dirigindo embriagado e teve a
mãe. Pode-se dizer que o comportamento de arrumar a cama é mantido por reforço negativo: nessa situação, carteira de motorista suspensa. Verificou-se, nos registros do departamento de trânsito, que, durante o
o comportamento tem probabilidade de voltar a ocorrer; negativo porque a modificação produzida no período de suspensão da carteira de motorista, não houve registro de infração de trânsito pelo motorista.
ambiente resulta na retirada de um estímulo aversivo (reclamações da mãe). Nos dois exemplos, os Nessa situação, pode-se dizer que o comportamento de dirigir embriagado foi negativamente punido: a
comportamentos (balbuciar e arrumar a cama) tiveram a frequência aumentada ou mantida, entretanto a retirada de um estímulo reforçador do ambiente (habilitação para a condução de veículos) reduziu a
probabilidade de o comportamento ser mantido ou voltar a ocorrer diferencia-se por um estímulo adicionado probabilidade da ocorrência do comportamento ocorrer novamente (dirigir embriagado). Sumarizando, a
ao ambiente (atenção da mãe) no reforço positivo e a retirada de um estímulo do ambiente (reclamações da punição positiva diminui a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer pela adição de um estímulo
mãe) no reforço negativo. Deve ficar claro para o leitor que a definição de um evento como reforçador está aversivo ao ambiente; e a punição negativa diminui a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente
na mudança da frequência de uma resposta sob as determinadas condições. pela retirada de um estímulo reforçador do ambiente.
Dois comportamentos são mantidos por contingências de reforço negativo: comportamentos de fuga e Também observamos a diminuição da frequência de comportamentos pela ausência, quebra ou suspensão
comportamentos de esquiva. Vamos retomar o comportamento de arrumar a cama do adolescente mantido da relação entre comportamento e reforço: quando suspenso o reforço de um comportamento, verifica-se
por reforço negativo. Consideramos que o comportamento de arrumar a cama pelo adolescente é emitido que a frequência do comportamento diminui. Com isso, a frequência do comportamento retorna ao nível em
na presença das reclamações da mãe. Nessa situação, arrumar a cama é um comportamento de fuga: o que ocorria antes de o comportamento ter sido reforçado - denominado nível operante (MOREIRA;
estímulo aversivo está presente no ambiente e a emissão do comportamento retira-o do ambiente. Em uma MEDEIROS, 2007). Por exemplo, uma criança pequena, na presença da avó, comporta-se com birras; ao
outra ocasião, o adolescente arruma a cama logo que acorda e evita as reclamações da mãe, nessa situação comportar-se com birras, a avó aproxima-se da criança. O comportamento de birra ocorre frequentemente
arrumar a cama é um comportamento de esquiva: o comportamento é emitido na ausência do estímulo na presença da avó. A avó decide que não mais se aproximará da neta quando ela se comportar com birra.
aversivo no ambiente (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Moreira e Medeiros (2007, p. 67-68) destacam que, Ao observar a interação da avó e da criança, verifica-se que a avó não se aproxima mais da criança quando
inicialmente, somos modelados a emitir respostas que retirem estímulos já presentes, como arrumar a cama essa emite comportamentos de birra. No início, verifica-se que os comportamentos de birra da neta
na presença das reclamações da mãe. Com a exposição repetida ao longo dos dias, certos estímulos, por aumentam de frequência; a criança apresenta variabilidade nas respostas apresentadas (diferentes
terem precedido a apresentação de estímulos aversivos no passado, tornam a resposta de esquiva mais comportamentos de birra) e também apresenta respostas emocionais (por exemplo, irritação). Com o passar
provável. Por exemplo, as reclamações da mãe repetidas em vários dias tornaram-se estímulos que dos dias, diante da consistência e coerência da avó, observa-se a diminuição da frequência dos
aumentam a probabilidade de emissão de um comportamento que as previne (no caso, arrumar a cama). Ou comportamentos de birra. Com isso, a suspensão do reforço (aproximação da avó) tem como resultado
seja, o adolescente teve que fugir das reclamações da mãe no passado para aprender a função aversiva e gradual a diminuição da frequência de ocorrência do comportamento (de birra da criança). Esse
emitir a uma resposta (arrumar a cama) que evite tais reclamações. Sumarizando, o reforço positivo aumenta procedimento de suspensão ou quebra da relação entre o comportamento e o reforço e seu decorrente
a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente pela adição de um estímulo reforçador no processo de extinção do comportamento operante (diminuição da frequência dos comportamentos) são
ambiente; e o reforço negativo aumenta a probabilidade de o comportamento ocorrer no futuro pela retirada denominados de extinção operante (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). É importante salientar que, quando
de um estímulo aversivo do ambiente (comportamentos de fuga e esquiva) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). utilizamos a extinção operante para diminuir comportamentos inapropriados, ao mesmo tempo, é necessário
É importante esclarecer a distinção entre os termos reforçador, reforçamento e reforço. O termo que as consequências reforçadoras sejam apresentadas para comportamentos considerados adequados
reforçador está relacionado a um estímulo produzido pela resposta da pessoa (por exemplo, a atenção da (vide Capítulo 17, sobre comunicação funcional). Por exemplo, a avó passou a se aproximar da neta quando
mãe). O termo reforçamento refere-se ao procedimento, ou seja, à apresentação de um reforçador quando ela apresentava comportamentos mais adequados, como brincar de forma independente; assistir televisão
a resposta ocorre (por exemplo, a mãe prover atenção à resposta do bebê de balbuciar). O reforço refere-se e chamar a avó de forma educada.
ao procedimento de apresentar consequências quando uma resposta é emitida e, também, ao processo de Diariamente estamos expostos a diferentes situações nas quais respostas emitidas são consequenciadas
aumento na probabilidade de a resposta ocorrer novamente. O processo acontece em relação às respostas diferencialmente. O reforço diferencial é uma condição fundamental para o estabelecimento do controle
emitidas por uma pessoa e não em relação às pessoas; ou seja, as respostas são reforçadas e não as pessoas discriminativo (DE SOUZA, 2001b). No processo de estabelecimento de uma discriminação, o responder é
(por exemplo, as respostas de balbuciar do bebê são reforçadas pela atenção da mãe; não é o bebê que é reforçado apenas na presença de alguns estímulos; os estímulos discriminativos estabelecem a ocasião na
reforçado pela mãe) (CATANIA, 1999). qual as respostas têm consequências. A notação para o estímulo correlacionado ao reforço é Sd (estímulo
Se, por um lado, temos contingências de reforço que aumentam a probabilidade do comportamento discriminativo) e para o estímulo correlacionado com o não reforço ou extinção é Sdelta (CATANIA, 1999). O
ocorrer novamente; por outro lado, temos consequências do comportamento que tornam sua ocorrência

77 78
estabelecimento de controle dos estímulos antecedentes sobre a emissão de resposta é produto de uma seleção filogenética do comportamento e a importância das práticas culturais (CATANIA, 1999; TOURINHO,
história específica de reforçamento (SÉRIO et al., 2004, p. 12) 2003).
[…] uma história de reforçamento diferencial (reforçamento de algumas respostas e de outras não) Nesse momento, destacaremos a seleção ontogenética e as principais formas de aprendizagem que atuam
tendo como critério os estímulos na presença dos quais a resposta é emitida (a produção de neste nível de seleção devido a sua importância na aprendizagem individual. As variáveis ontogenéticas são
reforço para determinada resposta depende, não simplesmente da emissão da resposta, mas sim semelhantes às variáveis filogenéticas e à seleção natural, exceto pelo fato de que as mudanças ocorrem no
dos estímulos presentes quando a resposta é emitida). Como resultados dessa história: a) a período de vida de um indivíduo (e muitas vezes de um momento para outro) ao invés de ao longo de várias
resposta será emitida dependendo dos estímulos presentes e b) a apresentação de determinados gerações de indivíduos (FISHER; GROFF; ROANE, 2011). O contato com as consequências produzidas pelo
estímulos alterará a probabilidade de emissão da resposta. comportamento emitido pelo indivíduo, sob certas condições, ocasiona uma mudança na probabilidade de
Para o estabelecimento de um comportamento em um organismo, o treino discriminativo envolve a emissão futura do comportamento. Com a seleção operante, o ambiente seleciona respostas que são
experiência com, pelo menos, uma classe de respostas e dois conjuntos de estímulos: aqueles que deverão correlacionadas com consequências favoráveis e mudanças no padrão de resposta podem ocorrer de um
assumir a função de Sd para uma classe de respostas e aqueles que deverão assumir a função de Sdelta em momento para o próximo ou durante a vida de uma pessoa (FISHER et al., 2011, p. 7).
relação a essa classe (SÉRIO et al., 2004). A consequência tem um papel seletivo não apenas sobre a resposta, Podemos aprender por diferentes procedimentos, por exemplo, modelagem (seleção de comportamentos
mas também sobre a relação antecedente-resposta (DE SOUZA, 2001b). Por exemplo, se observarmos uma por suas consequências), aprendizagem por observação e por seguimento de instruções.
criança interagindo com a mãe e com o pai, identificaremos facilmente que a criança comporta-se diferente A modelagem é um procedimento para gerar respostas novas (CATANIA, 1999) e emprega reforço
diante de um e de outro. Com uma observação cuidadosa, você verificará que, na presença da mãe, a criança diferencial de aproximações sucessivas à resposta final (MOREIRA; MEDEIROS, 2007; TODOROV, 2002), ou
choraminga frequentemente e, na presença do pai, os choramingos são raros. A criança tem um histórico de seja, algumas respostas são propositalmente reforçadas e outras não em estágios sucessivos (CATANIA,
treino discriminativo no qual a resposta foi consequenciada diferencialmente; dessa forma, a resposta passa 1999). No procedimento de modelagem, “à medida que o responder se altera, os critérios para o reforço
a ocorrer cada vez mais na presença do estímulo antecedente que condiciona resposta-reforço e deixa de diferencial também mudam, em aproximações sucessivas da resposta a ser modelada” (CATANIA, 1999, p.
ocorrer na situação que o estímulo não está correlacionado com o reforço (cf. SKINNER, 1953; KELLER; 131). Por exemplo, uma bailarina iniciante que busca uma escola de dança irá aprender diferentes
SCHOENFELD, 1950). Tecnicamente falando, o estímulo discriminativo servirá de ocasião para o movimentos. O “plié” é um movimento realizado na barra e consiste na flexão dos joelhos na mesma linha
comportamento futuro dependendo das consequências que o segue (MOREIRA; MEDEIROS, 2007): a criança dos pés que estarão na rotação externa (calcanhares unidos). A execução correta do movimento será
pode choramingar na presença da mãe pelo fato de que o comportamento de choramingar foi reforçado por modelada pela professora de balé. A professora apresentará consequências para respostas cada vez mais
ela no passado; a criança pode choramingar com baixa ou nenhuma frequência na presença do pai, pois na próximas do movimento final esperado e deixará de consequenciar as respostas que não corresponderem
presença dele o comportamento não foi reforçado. O estímulo discriminativo aumentará a probabilidade de ao movimento “plié” esperado. Dentre as respostas emitidas pelo indivíduo, algumas estarão mais próximas
o comportamento ocorrer se, ao longo da história de aprendizagem, esse comportamento for reforçado na da resposta-alvo do que outras. Reforçar as respostas mais próximas da resposta a ser modelada será seguido
presença deste estímulo. De modo diferente, se o comportamento não é reforçado na presença de tal de respostas ainda mais próximas à resposta-alvo. Com isso, o reforço poderá ser utilizado para mudar o
estímulo, a probabilidade de o comportamento ocorrer é diminuída neste contexto. espectro de repostas até que a resposta-alvo (a ser modelada) ocorra (CATANIA, 1999, p. 132). Nesse caso,
Conforme destacado por Skinner (1953), quando um comportamento está sob o controle de um dado aprendemos pelo contato direto com as consequências de nosso comportamento.
estímulo (composto por diferentes propriedades), verifica-se que outros estímulos (compostos por Também podemos aprender com os outros, a aprendizagem por observação, também denominada
propriedades comuns entre os estímulos) também são eficazes como ocasião para o responder. A extensão aprendizagem vicariante. Esta aprendizagem é baseada na observação dos comportamentos de outro
do efeito a outros estímulos denomina-se generalização (SKINNER, 1953, p. 145). Para Skinner (1953, p. 147), indivíduo ou das consequências produzidas por seus comportamentos (CATANIA, 1999). Conforme Catania
a generalização (1999, p. 239) destaca, a aprendizagem por observação deve incluir discriminações sutis das ações de um
[…] não é uma atividade do organismo; é simplesmente um termo que descreve o fato de que o outro indivíduo e de seus resultados e alguma história com a relação aos efeitos de ações relacionadas por
controle adquirido por um estímulo é compartilhado por outros estímulos com propriedades parte do observador. Muitas vezes, se repertórios de aprendizagem por observação já estão estabelecidos e
comuns, ou, posto em outras palavras, que o controle é compartilhado por todas, ou por algumas quando se tem por objetivo ensinar repertórios mais complexos, pode-se iniciar o processo de aprendizagem
das propriedades do estímulo consideradas separadamente. por meio de observação, ou seja, pela apresentação de um modelo, passando posteriormente por um
No exemplo citado anteriormente, a criança que choraminga na presença da mãe pode também processo de modelagem quando se chega ao refinamento dos comportamentos em questão. No caso da
apresentar respostas de choramingos na presença da avó, da professora e de outras pessoas que aprendizagem do movimento “plié” pela aluna de balé, a professora realiza os movimentos e a aluna imita
compartilhem propriedades em comum com a mãe, por exemplo, outras mulheres. os movimentos. A execução de tal passo de balé pela bailarina iniciante pode inicialmente ser favorecido pela
aprendizagem por observação.
A SELEÇÃO POR CONSEQUÊNCIAS
Conforme discutido no Capítulo 4, a seleção por consequências definida por Skinner (1953) considera a A principal diferença entre a aprendizagem por observação e a imitação é que na imitação o
multideterminação do comportamento em diferentes níveis: a filogênese; a ontogênese e a cultura comportamento do observador corresponde ao comportamento que o indivíduo observou, a duplicação é
(CATANIA, 1999; TOURINHO, 2003). O principal interesse do analista do comportamento está no feita imediatamente após a imitação e está sob controle dos comportamentos do demonstrador (CATANIA,
comportamento que é aprendido ao longo da vida do indivíduo (seleção ontogenética) sem desconsiderar a 1999; COOPER; HERON; HEWARD, 2007). Com isso, a imitação não implica que o indivíduo que imita tenha
aprendido sobre as contingências que controlam o comportamento do demonstrador, o que faz com que

79 80
nem todas as imitações sejam vantajosas (CATANIA, 1999). Por exemplo, você observa uma pessoa colocando A aprendizagem por observação e o comportamento governado por regras possibilitam a aquisição de
a mão na tampa do forno ligado. Como você não sabe o motivo que levou essa pessoa colocar a mão na comportamentos mais rapidamente do que o contato direto com as contingências. A aprendizagem por
tampa do forno ligado, não faria bem você imitar esse comportamento, visto que você pode queimar a mão. observação possibilita que a pessoa aprenda com a experiência de outros. O ensino por imitação do tipo
Ainda em relação ao comportamento imitativo: este pode limitar-se à duplicação de respostas específicas imitação generalizada demonstra vantagem na modelação de uma nova resposta, principalmente no ensino
que tenham sido diretamente ensinadas. Entretanto “um outro tipo de imitação pode incluir as de habilidades para crianças com TEA ou com atrasos no desenvolvimento, consistindo em uma
correspondências entre o comportamento do modelo e do observador, mesmo em ocorrências novas, suplementação efetiva para a modelagem (CATANIA, 1999). O procedimento de modelagem é o mais eficaz
quando então o comportamento é chamado imitação generalizada” (CATANIA, 1999, p. 239). Na imitação para instalar novos repertórios ou refinar antigos, principalmente de indivíduos jovens ou com grande atraso
generalizada, observamos que uma criança aprende a imitar alguns comportamentos realizados por um no desenvolvimento (MATOS, 2001).
adulto, por exemplo, bater palmas, colocar o dedo na ponta do nariz, e levantar os braços. Consequenciamos CONSIDERAÇÕES FINAIS
dois desses comportamentos (colocar o dedo na ponta do nariz e levantar os braços), mas não Neste capítulo foram apresentados princípios da Análise do Comportamento, bem como a definição de
apresentaremos consequências para o comportamento de bater palmas. A criança provavelmente termos importantes para a compreensão da abordagem. Baer, Wolf e Risley (1968) descreveram as
continuará a imitar o comportamento de bater palmas, mesmo não sendo reforçado. Na medida em que o dimensões da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), enfatizando a extrema relevância de o analista do
comportamento de bater palmas continua ocorrendo, ou seja, não se extingue, podemos afirmar que esse comportamento conhecer os princípios quando analisa, planeja, aplica e descreve as pesquisas aplicadas e
comportamento é membro de uma classe generalizada. Com a imitação generalizada, a criança também situações de aplicação clínica. De acordo com Baer et al. (1968), as pesquisas aplicadas devem garantir que
imitará novos comportamentos, como dar tchau, colocar a mão na cabeça, pular, dançar entre outros as técnicas que compõem uma aplicação comportamental particular sejam completamente identificadas e
comportamentos sem que sejam reforçados (CATANIA, 1999). descritas, buscando garantir que um leitor treinado possa replicar esse procedimento (o mais
Retomemos o exemplo da aprendizagem de um movimento de balé. A professora poderá utilizar uma sistematicamente possível) para produzir os mesmos resultados, diante da leitura da descrição. Entretanto
outra forma de ensinar a aluna iniciante: regras ou instruções. Para Skinner (1969, 1974), as instruções as descrições dos procedimentos não devem ser apenas tecnológicas, elas também devem buscar relacionar-
consistem em um tipo de regra. Regras são estímulos antecedentes verbais que podem descrever se explicitamente aos princípios e conceitos da Análise do Comportamento. Por exemplo, Baer et al.
contingências (CERUTTI, 1989; SKINNER, 1969, 1984). O comportamento determinado principalmente por exemplificam que descrever a sequência exata de mudanças de cor por meio da qual uma criança foi ensinada
antecedentes verbais é denominado de comportamento governado verbalmente (ou governado por regras) a discriminar cores é relevante para a replicação do procedimento, mas torna-se ainda melhor se se referir
(CATANIA, 1999). Por exemplo, a professora poderá descrever verbalmente o movimento “plié” a ser também a “esvanecimento” (fading) e “discriminação sem erro”. Ao descrever as técnicas e os conceitos
realizado pela aluna iniciante. Conforme destaca o autor, as propriedades do comportamento governado por comportamentais, aumenta-se a probabilidade de uma replicação bem-sucedida por um leitor ou terapeuta
regra diferem das do comportamento modelado por contingências (modelado pelas consequências). que precise replicar os procedimentos. Ao mesmo tempo, tal correlação entre procedimentos e princípios e
A descrição verbal da contingência pode ser completa, especificando seus três termos, ou parcial, conceitos demonstra como procedimentos semelhantes podem ser derivados de princípios básicos. Nas
especificando o estímulo discriminativo e a resposta ou apenas a resposta. Por exemplo, “O fogão está ligado. próprias palavras de Baer et al.20, “isso pode ter o efeito de tornar um corpo tecnológico em uma disciplina
Não toque no fogão, porque você vai se queimar” ou “O fogão está ligado, não toque no fogão” ou “Não ao invés de uma coleção de truques. Coleções de truques historicamente têm sido difíceis de serem
toque no fogão”. As instruções (regras) podem estabelecer novos comportamentos sem a necessidade de se expandidas sistematicamente, e quando elas eram extensas, eram difíceis de aprender e de ensinar”.
entrar em contato direto com as contingências. LINKS ÚTEIS
Uma desvantagem do comportamento governado por regras é que, uma vez estabelecido, o indivíduo - Comporte-se. Disponível em: <http://www.comportese.com/>. Acesso em: 21 ago. 2016.
pode se tornar insensível às contingências, ou seja, o comportamento especificado na instrução ou regra Um site com artigos sobre os mais variados assuntos abordados sob a perspectiva da Análise do
pode se manter mesmo que haja uma mudança nas consequências de emitir este comportamento (CATANIA, Comportamento.
1999; MATOS, 2001). Por exemplo, a mãe instrui a criança a não tirar o sapato na escola; em ocasiões - Boletim Behaviorista. Disponível em: <https://boletimbehaviorista.wordpress.com/>. Acesso em: 1 ago.
anteriores que a criança tirou o sapato, a mãe a repreendeu enfaticamente. A criança permanece com os 2016.
sapatos em diversos contextos da escola. Um dia, a professora propõe uma atividade no pátio que envolve Um site com artigos das pesquisas publicadas recentemente em revistas qualificadas.
colocar o pé na tinta guache e pisar na folha sulfite. A criança nega-se a participar da atividade, não retirando
REFERÊNCIAS
o sapato e não permitindo que a professora o retire, mesmo com esta explicando que seria para realizar a
BAER, D. M.; WOLF, M. M.; RISLEY, T. R. Some current dimensions of Applied Behavior Analysis. Journal of
tarefa. Matos (2001) ressalta que “se uma criança obedece sempre a instruções, as contingências naturais
Applied Behavior Analysis, 1, 1968. p. 91-97.
nunca terão oportunidade de atuar sobre seu comportamento” (p. 57).
Deve ficar claro ao leitor que comportamentos modelados por consequências (comportamento modelado CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul,
pelas consequências) e comportamentos estabelecidos por meio de uma descrição verbal antecedente das 1999. (DE SOUZA, D. G. et al., Trans., 4. ed.).
contingências de reforço (comportamento governado por regra) estão sob tipos distintos de controle de CERUTTI, D. Discrimination theory of rule-governed behavior. Journal of the Experimental Analysis of
estímulos e são, portanto, operantes distintos (CATANIA, 1999; SKINNER, 1969). Skinner (1969), conforme Behavior, 51, 1989. p. 259-276.
enfatizado por Matos (2001), alertava que a descrição de uma contingência em uma regra não COOPER, J. O.; HERON, T. E.; HEWARD, W. L. Applied behavior analysis. 2. ed. Upper Saddle River, NJ:
necessariamente teria o mesmo efeito que o contato direto com contingência. Pearson/Merrill-Prentice Hall, 2007.

81 82

Você também pode gostar