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Ciência do Comportamento Humano: do que Estamos Falando?
Djalma Freitas

Na introdução de “Sobre o Behaviorismo” de 1974, Skinner propõem que


o Behaviorismo “não é a ciência do comportamento humano, mas, sim, a filosofia
dessa ciência”. A Ciência do comportamento humano pode ser compreendida
como uma “abordagem psicológica” (MOREIRA & MEDEIROS, pág. 211)
submersa por questões práticas e teóricas, embasadas pela filosofia
denominada, conforme Skinner apontou, como Behaviorismo Radical. Desta
forma, pode-se encontrar, nesta, as concepções de ser humano, as concepções
epistemológicas, uma proposta de objeto de estudo da psicologia, entre outras
discussões filosóficas.
A ciência do comportamento humano, portanto, busca compreender o
comportamento a partir de sua interação e relação com o ambiente que o cerca.
Pode-se entender que o conceito de ambiente foge das especificações
comumente atribuídas a este, quando o enfoque é na concepção da ciência do
comportamento humano. Na ciência do comportamento humano, o conceito de
ambiente é compreendido como qualquer estímulo ou variável, seja físico, social
ou interno ao indivíduo, que influencie ou, seja influenciado pelo próprio indivíduo
(MOREIRA & MEDEIROS, 2007). Em outras palavras, o ambiente é aquele que
“entra em contato” com o organismo, influenciando-o e sendo influenciado por
ele, nas mais variadas formas e maneiras possíveis.
Obviamente, o objeto de estudo da ciência do comportamento humano é
o comportamento em si. Pode tornar-se nebulosa esta conceituação de objeto
de estudo para quem entra em contato com tal definição pela primeira vez.
Tentando buscar uma compreensão mais sólida será definido a seguir, de
forma sucinta, o que é entendido como comportamento na área de estudo aqui
proposta.

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[...} comportamento (qualquer que seja ele) é visto como interação
entre o organismo e o ambiente; o comportamento atual é uma
interação e é ao mesmo tempo produto de interações anteriores. Dessa
forma, ao afirmar que “as causas do comportamento estão no
ambiente”, o termo ambiente está sendo entendido de uma forma
ampla, não reduzido àquele que está presente quando uma resposta
ocorre. (ANDERY & SÉRIO, 2005)

Ao compreender o comportamento como “interação entre o organismo e


ambiente”, deve-se considerar como objeto de estudo da Ciência do
comportamento humano, as interações entre organismo e ambiente. Neste
sentido, vê-se um outro aspecto importante a respeito da definição de
comportamento dada por Andery e Sério (2005). O comportamento enquanto
produto de interações atuais ou passadas remete a ser entendido, também,
como um processo determinado. Portanto, o comportamento é causado e
determinado por sua interação com o ambiente e, desta forma, pode-se dizer
que “as causas do comportamento estão no ambiente”.

Aqui começa a se esboçar a concepção de homem como relação. O


homem constrói o mundo a sua volta, agindo sobre ele e, ao fazê-lo,
está também se construindo. Não se absolutiza nem o homem, nem o
mundo; nenhum dos elementos da relação tem autonomia. Supera-se,
com isto, a concepção de que os fenômenos tenham uma existência
por si mesmo, e a noção de uma natureza, humana ou não, estática,
já dada. A própria relação não é estática, não supõe meras adições ou
subtrações, não supõe uma causalidade mecânica. A cada relação
obtém-se, como produto, um ambiente e um homem diferentes.
(MICHELETTO & SÉRIO, 1993)

Ao lidar com o próprio comportamento como sendo o objeto de estudo da


ciência do comportamento humano, e este definido como relação entre
organismo e ambiente, e, considerando que o comportamento é causado pelo
ambiente, defrontamo-nos com as possibilidades de interação do homem com o
seu mundo. Neste sentido, encara-se o homem como produto de suas relações
com o ambiente que “o cerca” ou com o ambiente que em um dado momento “o

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cercou”. Sendo a relação não estática, os horizontes para alteração e
modificação do comportamento e, por conseguinte a mutabilidade do próprio
homem, são maximizadas. Em outras palavras, tanto o homem, como o
ambiente, pertencentes a uma relação contínua e necessária, são
constantemente alterados e se constituem a cada nova relação.
Skinner (1974, pág. 33) revela sua preocupação em consolidar o compromisso
com o aspecto relacional do comportamento e com a seleção natural darwiniana.

A espécie humana, como as demais espécies, é um produto da seleção


natural. Cada um de seus membros é um organismo extremamente
complexo, um sistema vivo, o objeto da anatomia e da fisiologia.
Campos como a respiração, a digestão, a circulação e a imunização
foram separadas para estudo e entre eles está a área a que chamamos
comportamento. Este envolve comumente o ambiente.

Neste ponto, observa-se que “o que chamamos de comportamento


evoluiu como um conjunto de funções que promovem o intercâmbio entre
organismo e ambiente” (SKINNER, 1987, p.51), e desta forma, cabe aqui, entrar
em contato sucintamente com os “tipos” de comportamento (ou relação entre
organismo e ambiente) mais comumente tratados na literatura Analítico
Comportamental, isto e, comportamento respondente e operante.
Segundo Skinner (1974) quando falamos de comportamento respondente,
referimo-nos ao reflexo inato ou aprendido que constitui à parte fisiológica do
organismo. A aplicação do termo reflexo para com o comportamento teve início
há séculos com René Descartes que com seus conhecimentos sobre a mecânica
hidráulica pôde fazer generalizações destes para organismo complexos e
animados como o ser humano. Descartes pôde verificar que, assim como ocorria
com seus dispositivos hidráulicos, ou seja, um estímulo dispara uma resposta,
ocorria também no comportamento de organismos animados.
Partindo da premissa de Descartes, Ivan Pavlov em seus experimentos e
depois no behaviorismo metodológico de J. B. Watson, foi descrito o reflexo
condicionado, ou seja, aquele quando um estímulo que elicia uma resposta é
pareado com um estímulo neutro, este último passa a adquirir a função de

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estímulo condicionado, ou seja, um reflexo aprendido, a este processo deu-se o
nome de aprendizagem respondente. Foi consolidada a ideia de que o
comportamento segue o princípio da causa e efeito, isto é, um estímulo produz
uma resposta ou, pode-se dizer, que um estímulo causa a resposta, vale lembrar
que até então se fala de comportamentos em níveis fisiologicamente orgânicos.

[...] salivação produzida por alimento na boca; ajustes posturais


produzidos por perda brusca de apoio. Tais exemplos têm em comum
a característica de que algum estímulo produz seguramente uma
resposta. Essa é a propriedade que define um reflexo. Nessas
circunstâncias, dizemos que o estímulo elicia a resposta ou que a
resposta é eliciada pelo estímulo. (CATANIA, 1999, pág.61)

Conforme Skinner citou em 1974, na maior parte das vezes o interesse de


estudo voltara-se a observar comportamentos que produziam alguma alteração
no ambiente, a isto os reflexos não satisfazia estes interesses, pois, a relação
entre o ambiente (estímulo) e o organismo (Resposta), na qual se diz que o
estímulo elicia uma resposta somente ajudaria a compreender uma parte do
comportamento e da aprendizagem humana, sobretudo no que diz respeito a
emoções.

Uma resposta que já ocorreu não pode, é claro, ser prevista ou


controlada. Apenas podemos prever a ocorrência futura de respostas
semelhantes. Desta forma, a unidade de uma ciência preditiva não é
uma resposta, mas sim uma classe de respostas. Para descrever-se
esta classe usar-se-á a palavra “operante”. O termo dá ênfase ao fato
de que o comportamento opera sobre o ambiente para gerar
consequências. As consequências definem as propriedades que
servem de base para a definição de semelhança de respostas. O termo
será usado tanto como adjetivo (comportamento operante) quanto
como substantivo para designar o comportamento definido para uma
determinada consequência. (SKINNER, 1953/1967, p. 71).

De acordo com a citação anterior entende-se que a proposta de Skinner


versa sobre o fato de que uma resposta que opera sobre o meio produz neste

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uma consequência, mas que não somente a produz, mas esta consequência
influência diretamente a emissão das próximas respostas. O comportamento
operante foge do nível fisiologicamente orgânico e passa a ser em um nível em
que o organismo influencia o meio da mesma forma que é influenciado por ele,
em outras palavras, há uma interação entre organismo e meio ambiente.
Com isso, observa-se que o objeto de estudo da ciência do
comportamento humano paira sobre o comportamento enquanto relação do
organismo com o ambiente. Desta forma, pôde-se, aqui neste texto, entrar em
contato com as definições de comportamento operante e comportamento
respondente.

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