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Comportamento Simbólico e Alfabetização I
Liana Rosa Elias

Olá, turma! Sejam bem-vindos ao Módulo de Comportamento Simbólico


e Alfabetização I. Neste módulo iremos entender a base teórica para o
comportamento simbólico e os principais conceitos de formação de classes de
estímulos equivalentes, quadros relacionais e o procedimento de Matching to
Sample (MTS). Esses processos são fundamentais para se compreender
comportamentos de leitura e escrita com compreensão e são a base que
compõem as intervenções e protocolos de ensino de leitura e escrita.
Importante ressaltar que o comportamento simbólico envolve a
habilidade de se comportar de forma parecida diante de estímulos diferentes.
Como entendo que as letras “PUXE” dispostas numa porta evoque o
comportamento de puxar a porta? A relação entre as palavras e as coisas são
estabelecidas de forma arbitrária, e decorrem da formação de classes de
estímulos que vão compartilhar funções e significados entre si, mesmo que
estes estímulos sejam completamente diferentes entre si. Por exemplo,
respondemos à classe “animal” diante de estímulos completamente diferentes,
como uma cobra, um cachorro, um peixe, uma formiga, por exemplo. A relação
estre os elementos dessa classe foi estabelecida de forma arbitrária, via
aprendizagem sócio verbal, sem a necessidade de uma correspondência física
(cor, forma, etc.) entre os elementos dessa classe.
É nesse sentido que entendemos que todo comportamento de leitura e
escrita passa pelo comportamento simbólico. As letras, palavras e os
significados vão sendo estabelecidos via treino de uma comunidade de
falantes, que estabelecem a relação entre esses elementos. Portanto, ler é
comportar-se diante de símbolos arbitrários. Arbitrário porque é a comunidade
verbal quem resolve compartilhar destes significados, ou seja, porque é
socialmente atribuído.
Pensamento e linguagem envolvem respostas como: abstrair, esquecer
as diferenças, inferir, sair do “concreto”, generalizar. Segundo DeRose (1993),

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“o pensamento e a linguagem requerem, portanto, a capacidade de agrupar os
estímulos em classes” (p. 284).
Mas então como compreendemos a formação de classes de estímulos?
Classes de estímulos podem ser baseadas em similaridade física ou atributos
em comuns, ou podem ser estabelecidas através de relações arbitrárias entre
estímulos. Algumas dessas relações arbitrárias podem dar origem a relações
de equivalência entre estímulos, e estas, implicam na ocorrência de
desempenhos emergentes (não ensinados diretamente), o que implica dizer
que o indivíduo aprende mais do que foi explicitamente ensinado. Mas não se
preocupem que vamos detalhar passo a passo todos esses processos.
Denominemos então que classes de estímulos ocorrem quando dois ou
mais estímulos (classe) passam a controlar uma mesma resposta. Tomando o
exemplo da formação da classe “cachorro”, podemos dizer que uma criança
aprende a emitir o operante verbal “cachorro” na presença de diferentes
espécimes, como labrador, pincher, border colie, por exemplo. Esse processo
ocorre via generalização no interior de uma classe, pois os animais são
diferentes entre si, mas estão ainda dentro de um gradiente de generalização
(quatro patas, focinho, rabo, peludos, etc.). Outra possibilidade é a de
discriminação entre classes, que ocorrem na diferenciação dos elementos de
uma classe (cachorro) com outra classe (peixe, passarinho, etc.). Ou seja, é
cachorro por não ser uma ave ou peixe.
Podemos ainda estabelecer uma classe de estímulos por outra via, que
é a mediação de uma resposta comum. Se tivermos um urso de pelúcia, um
carrinho de madeira e blocos de plástico, embora eles sejam fisicamente
diferentes (portanto sem um gradiente de generalização física), podemos
verificar que eles mediam a resposta de brincar; forma-se então a classe
funcional “brinquedo”. Como um estímulo novo pode entrar na mesma classe?
Se a resposta em comum for estabelecida em sua presença.
Mas antes de passarmos aos procedimentos de ensino de relações
arbitrárias e de equivalência de estímulos, é importante revisar dois processos
comportamentais importantes: a discriminação simples e a discriminação
condicional.

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Discriminar é comportar-se diferente diante de situações (estímulos)
diferentes. É o processo que envolve colocar a ocorrência de uma resposta
(dizer “cachorro”) na dependência de um certo contexto (estímulo, no caso um
border colie por exemplo). Dizemos então que o border colie é Sd (estímulo
discriminativo) para nomear “cachorro” e outros estímulos não (estímulo delta).
Conforme figura abaixo:

Temos acima uma tríplice contingência, composta pelo Sd (contexto), R


(resposta) e S+ (consequência). Sob certas condições, uma tríplice
contingência pode ou não estar em vigor (ativa, funcionando), a depender da
presença de um quarto elemento, que é o estímulo condicional.
S(cond) – Sd: R – S+.
Portanto, a resposta só é reforçada se um outro estímulo (condicional)
estiver presente. Esse é um processo mais complexo, podendo ser identificado
também como discriminação de segunda ordem.

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Na figura acima temos uma situação hipotética de uma criança que tem
a resposta de “pedir para brincar” na dependência de um estímulo condicional.
Os pais da criança (Sd) só costumam brincar com esta em ambientes públicos.
Ocorre que os pais somente são Sd para brincar na dependência desse
estímulo contextual. Importante ressaltar que os processos de discriminação
são fenômenos comportamentais, mas também podem ser procedimentos, o
que ocorre quando programamos o ensino dessas relações.
Há também outras formas de relacionar estímulos entre si, tratadas pela
Teoria das Molduras Relacionais (RFT). Aprendemos a relacionar quaisquer
estímulos entre si se nos for ensinado determinadas formas de relação
(molduras). Por exemplo, quando aprendemos a dizer que um edifício é maior
que uma casa, que um cachorro é maior que uma formiga, nossa resposta fica
sob controle dessa forma de relação (moldura de comparação tamanho) e essa
forma de responder relacional pode ser arbitrariamente aplicável a quaisquer
estímulos: casa, edifício; cachorro, formiga, por exemplo. O operante base da
RFT é o responder relacional arbitrariamente aplicável (RRAA). Trata-se de um
operante generalizado, um comportamento de estabelecer relações arbitrárias
entre eventos, através de diferentes molduras relacionais. São exemplos de
molduras relacionais: equivalência, coordenação (igualdade), oposição,

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distinção, comparação, hierarquia, espacial, temporal,
condicionalidade/causalidade, dêitica (perspectiva).
Passemos então para um procedimento padrão bastante utilizado para
estabelecer relações arbitrárias entre eventos: o Matching to Sample (MTS) ou
pareamento pelo modelo. O MTS é um modelo experimental proposto por
Sidman e que se trata de uma situação experimental de um procedimento de
discriminação condicional. Ele consiste em quatro passos: 1) apresentação do
estímulo modelo (estímulo condicional); 2) resposta observada ao estímulo
modelo (R); 3) apresentação dos estímulos comparadores (dentre os quais um
deles é o Sd e os demais Sdelta) e; 4) escolha (e reforço) do estímulo
comparação.

Na figura acima, podemos exemplificar o ensino de nomeação a partir


de figuras. Têm-se o estímulo modelo A1 (vaca) e os estímulos comparadores
B1, B2 e B3. Na presença de A1 (condicional), apenas B1 é Sd para nomeação
“vaca”, e B2 e B3 serão Sdelta. Caso mudemos o estímulo comparador para
B1 (bola), apenas B2 será Sd para reforço de nomeação, no caso “bola”.
Percebe-se que sempre há um estímulo modelo (condicional), que estabelecer
a ocasião de quem é Sd entre os estímulos comparadores.

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O MTS possui algumas variações. No exemplo acima ocorreu o ID-MTS,
que é o Matching to Sample por Identidade, e significa que a escolha correta
(Sd) vai compartilhar propriedades físicas idênticas ao S modelo (condicional).
Há também o ARB-MTS, que é o Matching to Sample Arbitrário, que é o
procedimento no qual não há compartilhamento de propriedades físicas entre o
estímulo modelo e os estímulos comparadores. Neste caso, o reforçamento é o
único critério para definir o estímulo correto. Conforme abaixo:

Esse é um procedimento muito utilizado para ensinar cópia e ditado.

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