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Delineamentos Experimentais
Lucelmo Lacerda

Existem grandes desafios em se implementar uma intervenção


comportamental. Precisamos estudar este tema complexo, conhecer a
bibliografia a respeito, a terminologia da área, os processos básicos do
comportamento e ainda estudar um sujeito particular e como estes processos
se aplicam àquele indivíduo específico. Mas talvez nada seja tão desafiador
quanto ter certeza de que é a intervenção planejada e implementada, e não
outra coisa, que esteja realmente funcionando e promovendo a mudança
esperada.
Uma pessoa que passa por uma intervenção de natureza
comportamental não faz somente isso da vida, ela também come, bebe, dorme,
se comunica com outras pessoas, se diverte, enfim, para além da intervenção
(seja ela de muitas ou poucas horas) o atendido passa por outros momentos de
sua vida. Como podemos saber se a redução da agressividade se deu em
função de uma intervenção de reforço diferencial ou a um filme muito forte
sobre o valor da bondade que passou na Sessão da Tarde? Talvez um sermão
mais consciencioso do padre na homilia de domingo? Ou ainda um menino da
escola que foi agredido e revidou com um bofetão poderoso?
Nos exemplos dados acima só estão colocadas questões relativas ao
período em que ela passa por uma tentativa específica de mudança do
comportamento, mas a verdade é que quando uma pessoa passa pelo
processo de intervenção ela já tem um histórico de vida muito extenso (ainda
que seja uma criança), que pode fazer com que muitas coisas no ambiente
possam ter um efeito sobre o indivíduo que nos é impossível prever e controlar,
uma história religiosa, de criação moral, um histórico escolar com certas
experiências, enfim, um emaranhado de coisas que se entrelaçam com os
estímulos do presente, com forte potencial de impedir que vejamos claramente
a relação entre o ambiente e os comportamentos de uma pessoa.
Mas se isso tudo é verdade, isto quer dizer que, portanto, a forma com
que os seres humanos se comportam é inacessível à ciência? Não! Quando a
ciência lida com um objeto complexo, ela não assume que este objeto então

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lhe é inacessível, o que ela faz é sofisticar os processos de estudo para que
eles deem conta do objeto selecionado, é o caso do comportamento humano.
Os delineamentos experimentais são bastante bem conhecidos na
ciência de modo geral e são usuais da física, química, biologia, entre outros,
tendo cada objeto particularidades específicas para seu estudo. Mas quando
falamos em seres humanos, o grande problema é que “humanos”, de modo
geral, é uma categoria impossível, pois cada um é idiossincrático. Na verdade,
nosso objeto de estudo é sempre um ou mais comportamentos de um sujeito
específico, daí que haja os delineamentos experimentais de sujeito-único como
principal ferramenta de sofisticação científica para este objeto de estudo.
Os delineamentos experimentais de sujeito-único permitem que nós
estudemos o comportamento de um indivíduo particular e tenhamos uma boa
confiança de que são as estratégias que implementamos que produzem a
mudança que estamos analisando, isto é, a relação funcional entre Variável
Independente ou Variáveis Independentes (isto é o procedimento ou o conjunto
de procedimentos interventivos que você implementa) e a Variável Dependente
(isto é, o comportamento-alvo da intervenção).
Vamos a um exemplo, imagine uma pessoa que tem uma estereotipia
vocal que o atrapalhe, digamos que seja a repetição diuturna de um palavrão, e
decidimos então intervir nesta estereotipia com a função de reduzi-la na escola
(ou seja, a variável dependente é a repetição de um certo palavrão durante o
período escolar), então nós formulamos um procedimento de Reforço
Diferencial de Resposta Zero – DRO (ou seja, esta é a Variável Independente)
e o implementamos de modo que o comportamento foi reduzido de 100 por dia
para 5 por dia. As explicações para esta redução podem ser variadas “Ele viu
as pessoas envolvidas e se conscientizou”, “Ele percebeu que estava fazendo
mal”, “Quando ele viu os pais preocupados, isso chamou a atenção dele” ou
ainda “Teve um dia que uma amiga deu uma olhada para ele que eu vi que ele
percebeu o que estava fazendo com a própria vida” e assim por diante.
Uma das alternativas para saber se é exatamente a intervenção que
funcionou e não outras variáveis é a linha de base de reversão, em que o DRO
é retirado e se observa o que ocorre com o comportamento, presumivelmente
ele retorna bem rapidamente ao nível anterior, 100, fazendo com que a

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“consciência”, “percebeu” e milhares de outras explicações sejam falseadas e
quando o DRO é reativado, então o comportamento torna a cair, demonstrando
a relação funcional entre a Variável Independente e a Variável Dependente.
Esta não é a única forma de garantir esta relação, existem também os
delineamentos de linha de base múltipla, por exemplo, que são interessantes e
imprescindíveis para casos de comportamentos que não são reversíveis, como
por exemplo o comportamento de leitura. Não dá para retirar a intervenção e
esperar que o sujeito vai deixar de ler, uma vez que este novo repertório já foi
aprendido, daí que mais uma vez a ciência age com sofisticação e não com
recusa de análise científica.
O importante é a existência de estratégias experimentais para garantir
a relação funcional entre variáveis em uma intervenção baseada em ABA, isto
garante uma validade científica à intervenção e o respeito a uma das 7
dimensões da ABA, que a dimensão analítica, que exige a utilização destas
estratégias.

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