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Análise do Comportamento Aplicada

A ciência da Análise do Comportamento é dividida em três faces. Uma delas é o


Behaviorismo Radical, a filosofia que a fundamenta. A outra é a Análise
Experimental do Comportamento, na qual se formulam os conhecimentos sobre os
processos básicos do comportamento e a terceira, que é a que nos interessa neste
texto, é a Análise do Comportamento Aplicada.

ABA - Trata-se da mobilização dos conceitos da Análise Experimental do


Comportamento com o objetivo de melhorar a qualidade da vida humana.

Mas, para aplicar intervenções, é preciso conhecer muito bem os processos


comportamentais subjacentes a estas estratégias, que são justamente aqueles que
foram e são exaustivamente estudados pela Análise Experimental.

ABA não é um método, não é uma metodologia, não é uma coleção de técnicas.
Trata-se de uma ciência e, como tal, possui uma complexidade de fundo, um
conjunto de conceitos que devem ser utilizados de maneira consistente, com
exatidão, e cuja articulação depende de um conhecimento teórico mais amplo.

A rigor, ABA é exatamente o oposto de um método. Um método é um conjunto de


práticas a se aplicar, já em uma intervenção baseada em ABA a primeira tarefa é a
avaliação do indivíduo, esta avaliação, que pode usar protocolos próprios, mas
também realiza análise funcional dos comportamentos e testes de preferências, nos
permite saber como aquela criança, em particular, aprende.

A Análise Experimental do Comportamento

A ciência da Análise do Comportamento possui diversos conhecimentos


fundamentais que são utilizados em uma intervenção em ABA. Mas de onde eles
vêm? Da Análise Experimental do Comportamento – AEC.

As 7 Dimensões da ABA

1º - DIMENSÃO APLICADA – é preciso que a intervenção tenha como objetivo uma


mudança de comportamento realmente significativa para o sujeito.

2º DIMENSÃO COMPORTAMENTAL – aqui a coisa se complica um pouco. É


preciso lidar com o comportamento de forma objetiva, medindo, avaliando, e há uma
base conceitual para isso. É preciso avaliar este ensino como uma contingência. Ou
seja, não basta que a consequência do comportamento pareça reforçadora, como o
elogio parece, mas que se tenha certeza se o é, assim, é necessário avaliar se esta
consequência, o elogio, está reforçando o comportamento. E esta avaliação não é
subjetiva, é medindo a frequência do comportamento.

Não existe intervenção que se possa chamar de “baseada em ABA” sem registro.

3ª DIMENSÃO CONCEITUALMENTE SISTEMÁTICA – isso indica que o sujeito irá


mobilizar os conceitos a Análise Experimental do Comportamento, como
antecedente, reforçamento, contingência, para avaliar este ensino e planejar seu
trabalho.

Se ele se baseia na literatura científica, vai descobrir que para ensinar imitação
motora fina (colocar a mão no nariz está nesta categoria), a criança precisa, antes,
ter aprendido uma série de coisas, como controle instrucional e imitação motora
grossa, então esta pessoa vai avaliar, antes do começo do ensino, se estas outras
habilidades estão presentes. O ideal é uma aprendizagem sem erros, o erro
desmotiva. Então, ao ensinar imitação, existe uma hierarquia de ajudas a serem
dadas à criança até ela atingir a autonomia, para que ela erre o mínimo possível.

4ª DIMENSÃO TECNOLÓGICA – para atender a esta dimensão, é preciso que o


procedimento seja escrito e que esteja muito claro o que se faz para que ensinar à
criança o comportamento de imitar. Assim, o terapeuta, o professor, os pais, podem
realizar este procedimento em diversas circunstâncias.

5ª DIMENSÃO DA GENERALIZAÇÃO – o objetivo desta intervenção não é que a


criança aprenda a imitar na terapia, mas em sua vida. Assim, se planejará a
aplicação de diversas estratégias para que esta criança, sempre que necessário, em
sua vida, imite.

6ª DIMENSÃO ANALÍTICA – o Analista do Comportamento terá também que ter


certeza de que é a sua intervenção que está realmente ensinando esta criança a
imitar. Isso não é nada fácil, mas uma linha de base múltipla é uma das
possibilidades para isso.

7ª DIMENSÃO DA EFICÁCIA – para atender a esta dimensão, é preciso garantir


que a criança aprenda. Se ela não aprender, ao invés de colocar a culpa nela, é
preciso reconhecer que a intervenção é que não foi adequada (já que sabemos que
todos os seres humanos aprendem) e mudar nossa estratégia

Behaviorismo Radical

A ciência da Análise do Comportamento é dividida em três faces. Uma delas é o


Behaviorismo Radical, a filosofia que a fundamenta. A outra é a Análise
Experimental do Comportamento, na qual se formulam os conhecimentos sobre os
processos básicos do comportamento e a terceira, é a Análise do Comportamento
Aplicada.
O Behaviorismo Radical é uma filosofia, mas por que uma ciência necessita de uma
filosofia? Simples, todas as ciências se fundamentam em uma filosofia (embora nem
sempre de maneira clara) porque a epistemologia, o modo de se produzir
conhecimento, é um ramo da filosofia.

Como exemplo, enuncio alguns elementos fundamentais do Behaviorismo Radical


(e observando com atenção cada um desses pontos, você pode perceber que eles
possuem enorme impacto sobre a prática):

• Todo o fazer humano é comportamento, não faz sentido afastar comportamentos


que ocorrem dentro da pele, como pensar, amar, sentir dor, da esfera de atuação
desta ciência simplesmente porque não são observáveis diretamente. Este é um
problema metodológico resolvido com sofisticação metodológica à medida em que
esta ciência avança. Assim, tudo o que o homem morto não faz é comportamento,
sendo mensurável, como o comportamento motor, e também mesmo não sendo
mensurável, como o pensamento.

• O ser humano é um todo único, uno, sendo assim, o Behaviorismo Radical é


monista e não admite a separação entre corpo e mente ou alma e corpo (embora
isso não vede em nenhum momento uma compreensão religiosa do Analista do
Comportamento de que exista uma alma – desde que isso não se misture com sua
avaliação científica). Isto quer dizer, o ser humano é um ser orgânico, físico e todo o
seu ser o é, não há uma coisa de um estofo diferente, de diferente natureza, a que
chamam “mente”, que seja algo diferente.

• O pensamento, ou mente, não são, em nenhuma hipótese, causadores do


comportamento. É o conjunto de relações complexas entre organismo e ambiente
que determinam o comportamento, mas isto se dá por meio de um processo a que
chamamos de “seleção pelas consequências”, assim, um comportamento se torna
mais provável à medida em que suas consequências atendem às funções
necessárias ao organismo e menos prováveis se não alcançam as funções
necessárias ao organismo, seja uma pessoa, seja qualquer outro organismo.

• Quando um comportamento é muito reforçado, em certa circunstância, ele se torna


muito provável, em se repetindo circunstância semelhante. Mas não é possível
garantir com 100% de chance de que ele será emitido, o que se pode dizer é que
ele muito provavelmente será emitido, isto é, que se aquela circunstância se repetir
uma série de vezes, na maior parte destas oportunidades, o comportamento será
emitido. A isso chamamos de “Determinismo Probabilístico”.

• O comportamento é sempre individual e a avaliação do comportamento, bem como


a intervenção deve considerar este critério de modo radical. Assim, sempre que se
realiza uma intervenção de caráter analítico-comportamental, a medida de avaliação
nunca é outra pessoa e sim sempre o próprio sujeito, em sua linha de base, isto é,
em sua avaliação antes da intervenção. A isso chamamos de delineamento de
sujeito único (este é um dos motivos pelos quais uma intervenção baseada em ABA
para uma criança nunca será igual a de outra, mesmo que ambas tenham autismo e
que tenham o comportamento bem semelhante).

BEHAVIORISMO METODOLÓGICO E BEHAVIORISMO


RADICAL1
MARIA AMÉLIA MATOS
(Dept. Psicologia - USP)

O Behaviorismo surgiu no começo do século XX como uma proposta para a


Psicologia, para tomar como seu objeto de estudo o comportamento.

Na Idade Média, a igreja explicava a ação, o comportar-se pelo homem pela posse
de uma alma. No início deste século, os cientistas o faziam pela existência de uma
mente. As faculdades ou capacidades da alma causavam e explicavam o
comportamento deste homem. Os objetos e eventos criavam idéias em suas mentes
e estas impressões mentais ou idéias geravam seu comportamento. Vejam que
ambas são posições essencialmente dualistas: o homem é concebido como tendo
duas naturezas, uma divina e uma material, ou uma mental e uma física, como
quiserem.

É uma posição difícil, conflitante, porque devo demonstrar como essas naturezas
contatuam, já que estão em planos diferentes. Notem além disso, a circularidade do
argumento: ao mesmo tempo em que essa alma ou mente causavam e explicavam
o comportamento, esse comportamento era a única evidência desta alma ou desta
mente.

É preciso destacar que os processos cognitivos, tão falados hoje em dia, são uma
forma de animismo ou mentalismo, em suas origens. A cognição é algo a que não
tenho acesso direto mas que fica evidente no comportamento lingüístico das
pessoas, no seu resolver problemas, no seu lembrar, etc., esquecendo que
linguagem é produto de comportamento verbal; que solução de problemas é produto
de contingências alternativas, e que lembrar é produto de manipulação de estímulos
discriminativos.

Não estou negando que existam crenças, sugestões, representações etc., mas
estas são formas de se comportar, são classes de respostas, não eventos
mediacionais, não causas diretas do comportamento. Aceito consciência como uma
metáfora, um resumo de minhas experiências passadas (assim também aceito
personalidade, como um conceito equivalente a repertório comportamental). Mas
rejeito consciência como self, como agente decisor, causador, ou mediador do
comportamento.

Behaviorismo: ela define a categoria "comportamento", seu objeto de estudo.


Comportamento é o observável e, por definição, observável pelo outro, isto é,
externamente observável. Comportamento, para ser objeto de estudo do
behaviorista, deve ocorrer afetando os sentidos do outro, deve poder ser contado e
medido pelo outro. Dai dizer-se que em observação o que importa é a concordância
de observadores, e portanto, a necessidade de um treino rigoroso nos
procedimentos de registro e análise. Esta ênfase no procedimento de medida, na
operação de acessamento levou mais tarde a que se comunicasse a aderência a
estas características de BEHAVIORISMO METODOLÓGICO.

Mas o que é comportamento? E é aqui que as coisas começam a rachar.


Comportamento não era visto como mais uma função biológica, isto é, própria do
organismo vivo, e que se realiza em seu contato com o ambiente em que vive, como
o respirar, o digerir. Dentro de uma Física newtoniana mecanicista da época, todo
fenômeno devia ter uma causa (uma concepção funcionalista falaria em condições),
e dentro da rejeição mentalista a causa do comportamento não poderia ser a mente,
seria então algo externo ao organismo e observável, o ambiente, o estímulo.

Vejam que afinal a concepção behaviorista é tão dualista quanto a posição


mentalista: o corpo precisa ser animado pela alma tanto quanto o comportamento é
expressão da mente ou produto da instigação do estímulo. A palavra "estímulo" veio
de Pavlov (outra influência sofrida por Watson e os behavioristas da época e da qual
também Skinner não conseguiu se livrar), e referia-se à troca de energia entre o
ambiente e o organismo, quanto à operação realizada pelo experimentador em seu
laboratório, uma parte ou mudança em parte do mundo físico que causava uma
mudança no organismo ou parte do organismo, a resposta. Essa mudança
observável no organismo biológico seria o comportamento. A manipulação
experimental por excelência seria a reprodução desse modelo, a operação S-R. E é
por isso que esta forma de behaviorismo ficou sendo conhecida por muitos como "a
Psicologia da contração muscular e da secreção glandular".

Assim, um comportamento que em si não é observável e não poderia ser objeto de


estudo do behaviorista metodológico, torna-se não obstante, fonte de dados para a
construção da ciência deste behaviorista!

Mas a verdade é que eu sinto dor-de-dente! Assim como vocês não podem observar
o "meu ver", não podem observar "meu sentir sede", e não podem observar "meu
sentir dor-de-dente". Isto contudo não torna estas sensações menos reais para mim.
E é aqui que começa a ficar evidente uma primeira e fundamental diferença entre o
behaviorismo proposto por Skinner e aquele praticado pelos behavioristas
metodológicos: o homem é a medida de todas as coisas, não o social.

Influenciado pelo Positivismo Lógico, Skinner aceita que o que existe para o
indivíduo, existe! (daí aceitar e defender uma metodologia do N=1). Mas, para não
cair no subjetivismo e idealismo, é importante analisar as evidências desta
existência. E aqui estamos diante de um ponto importante (e difícil) que aproxima
Skinner e os fenomenólogos: a evidência da existência do mundo, de um evento,
etc. É a experiência do observador. A tarefa pois da ciência é analisar esta
experiência, e ele inclui aqui, como essencial, a análise da experiência do cientista
como parte do processo de construção do conhecimento científico (daí a
importância do estudo do comportamento verbal para Skinner. A análise do
comportamento verbal me permitiria estudar as circunstâncias em que essa
experiência se deu, e assim entendê-la).

O behaviorista metodológico não nega a existência da mente, mas nega-lhe status


científico ao afirmar que não podemos estudá-la pela sua inacessibilidade. O
behaviorista radical nega a existência da mente e assemelhados, mas aceita
estudar eventos internos. Esta posição de Skinner se insere dentro da tradição do
Positivismo Lógico, mas ao mesmo tempo se constitui num desvio desta forma de
positivismo, talvez por ter sido mais influenciado por Mach que por Bridgman, e mais
por Wittgenstein que por Carnap. Já que só temos informação do mundo pelos
sentidos, porque excluir sensações do mundo interno e privilegiar as do mundo
externo? Porque o critério de objeto da ciência deveria ser dado pela natureza do
sistema sensorial envolvido? (proprioceptivo, interoceptivo e exteroceptivo). Nesse
sentido, Skinner (embora reconhecendo a dificuldade de se ter acesso ao primeiro)
não separa mundo interno de mundo externo. E é por isso que para ele não existem
estímulos e respostas, existe uma unidade interativa Comportamento-Ambiente (não
esquecendo que Ambiente é tudo aquilo que é externo ao Comportamento, não
importando se é um piscar de luz, um desequilíbrio hídrico, um derrame de
adrenalina, ou um objeto ausente associado a um evento presente; não
importando se sua relação com o comportamento é de contiguidade
espaço/temporal (o que é exigido pelo mecanismo metodológico para a troca de
energias) ou não. É por isso que a psicologia proposta por Skinner não é uma
psicologia S-R. Para ele não existe Comportamento (no sentido de não "podemos
entender") sem as circunstâncias em que ocorre; e não tem sentido falarmos em
circunstâncias sem a especificação do comportamento que circunstanciam.

Para o behaviorista metodológico, a evidência de que vejo vocês é que os outros


vêem vocês. A evidência que vocês existem é que outros vêem vocês. A existência
do mundo e do comportamento, a natureza do conhecimento que tenho deles é a
experiência partilhada. Para o behaviorista radical, a evidência de que vejo vocês é
meu comportamento, a evidência de que vocês existem também é meu
comportamento. Para o behaviorista metodológico, o louco e o mentiroso são
associados por não partilharem das experiências do outro. Para o behaviorista
radical, o louco se comporta na ausência da coisa vista (como eu o faço em
sonhos, nas minhas rememorações etc.) com mais freqüência do eu que faço, mas
de acordo com as mesmas leis. Está sob controle de outras contingências, não as
do aqui e agora, o mentiroso também.

Dizer que tenho dor-de-dente não é evidência da existência de uma dor-de-dente;


não é relato da dor-de-dente (ou seja, o equivalente verbal da dor); é uma
verbalização que precisa ser explicada, entendida, interpretada, é um
comportamento que eu digo que ocorre na presença de determinadas sensações
internas; que um dentista diz que ocorre na presença de determinada condição da
minha gengiva/dente, etc., mas que pode também ocorrer na presença de uma
tarefa aborrecida que não desejo executar. Dizer que tenho dor-de-dente pode ser
considerado um meio, assim como as descrições minhas e do meu dentista, das
condições existentes, para começar a entender minhas sensações. Mas como sua
natureza é verbal, esse entendimento não se dará enquanto não entendermos
melhor o que é comportamento verbal e como é adquirido.

O Behaviorismo Radical é uma forma de behaviorismo praticada por B.F.Skinner


e adotada por vários outros psicólogos: Ferster, Sidman, Schoenfeld, Catania,
Hineline, Jack Michael, etc. Constitue-se numa interpretação filosófica (isto é,
baseada numa ideologia) de dados obtidos através da investigação sistemática do
comportamento (o corpo desta investigação propriamente dita é a Análise
Experimental/Funcional do Comportamento). Esta interpretação descreve
basicamente relações funcionais entre Comportamento e Ambiente (isto é, relações
entre discriminações de mudanças na realidade observada e descrições das
condições em que essas mudanças se dão) (como produto temos, não explicações
realistas, não relações de causa-efeito, não leis baseadas no modelo da Física
Mecânica de troca de energia, e sim a construção de seqüências regulares de
eventos que eventualmente poderão ser descritas por funções matemáticas).

O behaviorista radical rejeita o mentalismo por ser materialista, e acaba com o


dualismo por acreditar que o comportamento é uma função biológica do organismo
vivo. Não preciso da mente para respirar, não explico a digestão por processos
cognitivos, porque explicaria o comportamento por um ou outro?

O behaviorista radical propõe que existam dois tipos de transações entre o


Comportamento e o Ambiente:

a) conseqüências seletivas (que ocorrem após o comportamento e modificam a


probabilidade futura de ocorrerem comportamentos equivalentes, i.e., da mesma
classe);
b) contextos que estabelecem a ocasião para o comportamento ser afetado por
suas conseqüências (e que portanto ocorreriam antes do comportamento e que
igualmente afetariam a probabilidade desse comportamento).

Estas duas classes possíveis de interações são denominadas "contingências" e


constituem as duas classes conceituais fundamentais para a análise do
comportamento. Relações funcionais são estabelecidas na medida em que
registramos mudanças na probabilidade de ocorrência dos comportamentos que
procuramos entender em relação a mudanças quer nas conseqüências, quer nos
contextos, quer em ambos.

Por lidarmos com explicações funcionais e não causais, o importante é coletar


informações ao longo do tempo, repetidas do mesmo evento, com os mesmos
personagens (o behaviorista metodológico prefere observações pontuais em
diferentes sujeitos, ou seja, o estudo em grupo, o que leva à estatística para
descrever e/ou anular a variabilidade. Para o radical isto é uma heresia, de vez que
estou tentando estudar a experiência daquele sujeito. Ao coletarmos registros ao
longo do tempo devemos comparar o sujeito consigo mesmo, sua história passada
é sua linha de base.

Para Skinner, o organismo não é nem gerente nem iniciador de ações, é o palco
onde as interações Comportamento-Ambiente se dão.

Fundamentos Metodológicos da Pesquisa em Análise


Experimental do Comportamento
Saulo Missiaggia VelascoI - Miriam Garcia-MijaresI - Gerson Yukio TomanariI

O comportamento deve ser tomado como um objeto de estudo por ele mesmo. suas
variáveis controladoras devem ser buscadas no ambiente em que o indivíduo se
comporta (Baron & Perone, 1998).

Quando Skinner fundou seu programa de pesquisa, na terceira década


do século passado, procedimentos operante-livres se diferenciaram dos
procedimentos de tentativas discretas que, então, vigoravam na Psicologia (Perone,
1991; Skinner, 1938). Procedimentos operante-livres são aqueles que permitem
que o sujeito se comporte a qualquer momento durante a sessão experimental, sem
sofrer restrições do equipamento ou do experimentador (Ferster, 1953). Ou seja, o
sujeito tem acesso contínuo ao manipulando.

para a Análise Experimental do Comportamento, a forma ou a topografia da


resposta pode ser pouco relevante no processo de análise de relações funcionais,
pois diferentes topografias de resposta podem compartilhar funções semelhantes.
principal concepção subjacente ao uso de procedimentos operante-livres e de taxa
de respostas como medida é a de que o comportamento é a relação dinâmica
e contínua do organismo com o ambiente — ambiente que, por sua vez, exerce uma
ação seletiva sobre o comportamento, que então passa a ser chamado de operante
ou instrumental (Skinner, 1938; 1953). Essa relação é tomada como objeto de
estudo em si mesma.

Com relação aos procedimentos de tentativas discretas, estes caracterizam-se por


restringir o responder a momentos isolados de observação, seja tirando o sujeito
do equipamento experimental durante os intervalos entre tentativas, seja removendo
ou desativando o manipulando de respostas. Com esse tipo de procedimento, a
continuidade natural do comportamento é interrompida e cada resposta é analisada
individualmente.

Até princípios do século passado, a pesquisa em Psicologia era dominada pelo


delineamento estatístico e pelo estudo de grupo (Matos, 1990). A principal
conseqüência desse tipo de abordagem é que o agrupamento dos dados na forma
de desempenhos médios pode obscurecer exceções no nível individual, de modo
que as médias do grupo podem não corresponder ao desempenho de nenhum
indivíduo. Além disso, pesquisadores que empregam análises estatísticas devem
estar preparados para aceitar a presença de diferenças incontroláveis entre sujeitos
como uma característica invariável de seus experimentos (Baron & Perone, 1998).

Delineamento do Sujeito-Único (O Sujeito


como seu Próprio Controle)

Em Análise Experimental do Comportamento, a questão das diferenças entre


sujeitos não compromete a análise de dados. Ao contrário, cada sujeito é tratado
como um indivíduo particular, distinto de qualquer outro. A busca pelos
determinantes funcionais do comportamento usando procedimentos operante-livres
supõe a singularidade do fenômeno estudado e, por isso, o uso de delineamentos
de sujeito-único. Alterações nas regularidades do comportamento em termos de
suas propriedades dinâmicas só podem ser observadas submetendo- se um sujeito
de cada vez a diferentes condições experimentais (Matos, 1990).

Skinner (1966) afirmou que preferia estudar um sujeito por mil horas a estudar mil
sujeitos por uma hora.

Critérios de Estabilidade

A despeito da variabilidade intrínseca do comportamento, estabilidade é a essência


do delineamento de sujeito-único. Portanto, uma importante tarefa do analista
experimental do comportamento é o estabelecimento de critérios aceitáveis para se
reconhecer um estado como estável. Existem diversas formas de se definir critérios
de estabilidade, mas todas têm em comum a tarefa de impor limites sobre a
variação sistemática (tendência) e assistemática dos dados. Um estado-estável,
portanto, deve ser isento, tanto quanto possível, de tendências e variações
assistemáticas (Perone, 1991).

A tática tipicamente utilizada de replicação intra- -sujeito envolve comparações entre


conjuntos de dados coletados ao longo de pelo menos três condições sucessivas,
sendo a primeira diferente da segunda e a terceira semelhante à primeira
(delineamento A-B-A). Inicialmente, observa-se o comportamento do sujeito na
condição de linha de base A até se obter um estado- -estável. Em seguida, impõe-
se a condição experimental B (inserindo variáveis em A ou removendo variáveis de
A). Após um novo estado-estável ser alcançado, retorna- -se à condição A inicial
(removendo variáveis anteriormente introduzidas em A ou reinserindo variáveis
anteriormente removidas de A) até que o comportamento
novamente se estabilize.

Validade Externa
Apesar do que pode sugerir o nome “sujeito- -único”, pesquisas em Análise
Experimental do Comportamento raramente empregam apenas um sujeito. O termo
“único” se refere à unidade de análise considerada, o comportamento do indivíduo,
e não ao número de sujeitos pesquisados, o tamanho da amostra (Perone, 1991).
Vários sujeitos podem ser expostos às mesmas condições experimentais e até
mesmo a variações dessas condições, mas o importante é que seus dados sejam
tratados individualmente. Na verdade, é a replicação dos dados em diferentes
sujeitos e sob diferentes condições que fornece representatividade e generalidade
às conclusões de um estudo; em outras palavras, que atesta sua validade externa.

ALGUMAS DIMENSÕES CORRENTES DA


ANÁLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO1
DONALD M. BAER, MONTROSE M. WOLF E TODD R. RISLEY

A pesquisa aplicada está restrita ao exame de variáveis que possam ser eficazes na
melhoria do comportamento que está sendo estudado. Assim, é também assunto de
pesquisa a descoberta de que comportamentos típicos de retardados podem estar
relacionados a singularidades de sua estrutura de cromossomos e a singularidades
de sua história de reforçamento. Mas (no momento) a estrutura de cromossomos do
retardado não se presta à manipulação experimental visando à melhoria de um
comportamento, enquanto que o reforçamento que recebe está sempre aberto ao
replanejamento atual

De maneira semelhante, a pesquisa aplicada restringe-se a examinar


comportamentos que são socialmente importantes, em vez de convenientes para
estudo.Envolve também, com muita freqüência, o estudo desses comportamentos
em seus ambientes sociais usuais, em vez de em um ambiente “de laboratório”. Mas
um laboratório é apenas um local planejado para que o controle de variáveis
relevantes seja o mais fácil possível. Infelizmente, o ambiente social usual de
comportamentos importantes raramente é um lugar assim. Em conseqüência, a
análise de comportamentos socialmente importantes dificilmente se torna
experimental.

Assim, a avaliação de um estudo que pretende ser uma análise comportamental


aplicada é um tanto diferente da avaliação de uma análise semelhante em
laboratório. Obviamente, o estudo deve ser aplicado, comportamental e analítico;
além disso, deve ser tecnológico, conceitualmente sistemático e eficaz e deve
demonstrar certa generalidade. Esses termos são discutidos mais adiante e
comparados aos critérios freqüentemente estabelecidos para a avaliação da
pesquisa comportamental que, apesar de analítica, não seja aplicada.

Aplicada

O rótulo de aplicado não é determinado pelos procedimentos de pesquisa utilizados,


mas sim pelo interesse que a sociedade demonstra nos problemas que estão sendo
estudados.

Na aplicação comportamental, o comportamento, os estímulos e/ou o organismo


que estão sendo estudados são escolhidos devido a sua importância para o homem
e para a sociedade,em vez de sua importância para a teoria.

O pesquisador aplicado também pode estudar a pressão à barra, caso esta esteja
integrada a estímulos socialmente importantes.

Uma investigação da detecção de sinais visuais por retardados pode ter pouca
importância imediata, mas um estudo semelhante em operadores de radar tem
importância considerável. Um estudo do desenvolvimento da linguagem no
retardado pode estar dirigido a um problema social imediato, enquanto o mesmo
não ocorre num estudo semelhante com um universitário no MIT.

Assim, uma questão básica na avaliação da pesquisa aplicada é: quão


imediatamente importantes são, para este sujeito, este comportamento ou estes
estímulos?

Comportamental

O behaviorismo e o pragmatismo parecem, com freqüência, caminhar juntos. A


pesquisa aplicada é eminentemente pragmática; ela indaga como é possível fazer
com que um indivíduo faça alguma coisa com eficiência. Dessa maneira, ela
geralmente estuda o que os sujeitos podem ser levados a fazer, em vez do que eles
podem ser levados a dizer; a menos, é claro, que uma resposta verbal seja o
comportamento de interesse. Conseqüentemente, a descrição verbal de um sujeito,
a respeito do seu próprio comportamento não-verbal, geralmente não seria aceita
como medida de seu apto atual. A questão relevante não é o que ele pode dizer,
mas sim o que pode fazer.

Como resultado, surge imediatamente o problema da quantificação fidedigna. O


problema é o mesmo na pesquisa aplicada e na não-aplicada. A pesquisa não
aplicada, no entanto, escolherá tipicamente uma resposta facilmente quantificável
de maneira fidedigna, enquanto a pesquisa aplicada raramente terá essa opção.
Como conseqüência, o pesquisador aplicado deve tentar com mais afinco, em vez
de ignorar esse critério comum a qualquer pesquisa digna de confiança.

Uma tática útil na avaliação dos atributos comportamentais de um estudo é indagar


não apenas: o comportamento foi modificado?, mas também: comportamento de
quem? Normalmente, pressupor-se-ia que o comportamento do sujeito é que fora
alterado; no entanto, uma reflexão cuidadosa pode sugerir que isso não foi
necessariamente o que aconteceu. Se seres humanos estão observando e
registrando o comportamento que está sendo estudado, então qualquer mudança
pode estar apenas em suas respostas de observação e registro, em vez de
representar uma mudança no comportamento do sujeito. A mensuração explícita da
fidedignidade de observadores humanos torna-se, assim, não apenas uma boa
técnica, mas um critério importante para determinar se o estudo foi adequadamente
comportamental.

Analítica

A análise de um comportamento, da maneira como o termo é empregado aqui,


requer uma demonstração confiável dos eventos que podem ser responsáveis pela
ocorrência ou não desse comportamento. Um experimentador consegue uma
análise de um comportamento quando pode exercer controle sobre o mesmo. De
acordo com os padrões comuns de laboratório, isso significa uma capacidade do
experimentador para produzir ou não o comportamento, ou aumentá-lo ou reduzi-lo,
à sua vontade.

A pesquisa aplicada, como mencionado antes, muitas vezes não consegue se


aproximar dessa arrogantemente freqüente clareza de estar no controle de
comportamentos importantes. Conseqüentemente, a aplicação, para ser analítica,
demonstra controle quando possível, colocando assim um problema de julgamento
para a sua audiência. O problema, por certo, é se o experimentador demonstrou
suficiente controle, com suficiente freqüência, para ser confiável.
Existem pelo menos dois delineamentos utilizados para demonstrar controle
fidedigno de uma mudança comportamental importante. A primeira pode ser
chamada de técnica de “reversão”. Nesta, um comportamento é mensurado e a
mensuração é examinada repetidamente até que sua estabilidade esteja clara. É
aplicada, então, a variável experimental. O comportamento continua a ser
mensurado, a fim de avaliar se a variável produzirá uma mudança comportamental.
Em caso positivo, a variável experimental é interrompida ou alterada, para avaliar se
a mudança comportamental que acabou de ocorrer depende dela. Nesse caso, a
mudança comportamental deverá desaparecer ou diminuir (daí o termo “reversão”).
A variável experimental é então aplicada novamente, para verificar se a mudança
comportamental pode ser recuperada. Caso isso seja possível, mantém-se o
procedimento, uma vez que isso é pesquisa aplicada e a mudança comportamental
almejada é importante.

Ao utilizar a técnica de reversão, o experimentador está tentando demonstrar que


uma análise do comportamento está prestes a ocorrer: que toda vez que ele aplica
uma determinada variável, o comportamento é produzido; toda vez que ele remove
essa variável, o comportamento desaparece. No entanto, a análise comportamental
aplicada é exatamente o tipo de pesquisa que pode fazer com que esta técnica
venha a ser, com o tempo, a causa do seu próprio fracasso. Aplicação significa,
tipicamente, produzir comportamento de valor; o comportamento valioso geralmente
encontra reforçamento extra-experimental num ambiente social; assim, o
comportamento valioso, uma vez estabelecido, pode não depender mais da
técnica experimental que o criou. Conseqüentemente, a quantidade de reversões
possíveis em estudos aplicados pode ser limitada, de várias maneiras, pela
natureza do contexto social em que o comportamento ocorre.

Uma alternativa à técnica de reversão pode ser denominada de técnica de “linha de


base múltipla”. Essa alternativa pode ser especialmente valiosa quando um
comportamento parece ser irreversível ou quando a reversão do comportamento
não for desejável. Na técnica de linha de base múltipla, uma série de respostas são
identificadas e mensuradas, por um período de tempo, para servir de linhas de base
em relação às quais as mudanças possam ser avaliadas. Depois de estabelecidas
essas linhas de base, o experimentador aplica uma variável experimental a um dos
comportamentos, produzindo uma mudança no mesmo e notando, talvez, pouca ou
nenhuma mudança nas outras linhas de base. Neste caso, em vez de reverter a
mudança recém produzida, ele aplica a variável experimental a uma das outras
respostas,
ainda não modificadas. Caso esta mude, nesse ponto, aumenta a evidência de que
a variável
experimental é realmente eficaz e que a mudança anterior não foi simplesmente
uma questão
de coincidência. A variável deve, então, ser aplicada a mais uma resposta e assim
por diante.
O experimentador está tentando demonstrar que tem uma variável experimental
fidedigna, uma vez que cada comportamento muda ao máximo apenas quando a
variável experimental é aplicada a ele.

Quando o problema é, em especial, a aplicação, as descrições de procedimentos


exigem um considerável nível de detalhe a respeito de todas as contingências
possíveis do procedimento. Não é suficiente dizer o que deve ser feito quando o
sujeito apresenta a resposta R1; é essencial dizer também, sempre que possível, o
que deve ser feito se o sujeito apresentar as respostas alternativas R2, R3 etc. Por
exemplo: uma pessoa pode ler que os acessos de birra em crianças são extintos,
freqüentemente, fechando-se a criança em seu quarto pelo período de duração do
acesso mais dez minutos. A menos que a descrição desse procedimento
especifique o que deve ser feito caso a criança tente deixar o quarto antes do
prazo, ou fuja pela janela, ou esfregue fezes na parede, ou comece a fazer sons de
estrangulamento, ela não é uma descrição tecnológica precisa.

O campo da análise comportamental aplicada provavelmente terá mais avanço,


caso as
descrições de seus procedimentos, publicadas, sejam não apenas precisamente
tecnológicas,
mas também pertinentes aos princípios.

Conceitual

Consistência terminológica conceitual, mesmo termo para o mundo todo, coesão


teórica. Da possibilidade de fazer avaliação de casos concretos a partir da teoria, e
também previsão e controle. Utilizando os conceitos para pensar a realidade.

Eficaz

Se a criança não aprende não é culpa dela, nem do aplicador mas do planejamento
do entorno.

Generalidade

Objetivo não é mudar o comportamento só na clínica mas na vida. Um


comportamento adaptativo e a generalização não simplesmente acontece mas tem
de ser planejada, variando os contextos outros aplicadores fazerem a mesma coisa.
O delineador é se o comportamento está atrapalhando o aprendizado.

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