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Analise funcional do

comportamento

Professora Carmen Lucia D’Agostini


Analise funcional do comportamento

A análise de relações funcionais


representa um modelo de interpretação e
investigação dos fenômenos naturais
que estará presente no projeto
skinneriano de constituição da
psicologia como ciência do
comportamento.
Originalmente, o conceito foi empregado por
Skinner com o sentido atribuído pelo físico Ernst
Mach (1838-1916): identificação de relações
ordenadas entre eventos da natureza.

Na proposição do reflexo como unidade básica de


análise de uma ciência comportamental, descrição
e explicação científicas foram interpretadas como
coincidindo com a especificação de relações
ordenadas entre (classes de) estímulos e respostas,
portanto requerendo a análise funcional ( Skinner,
1931/1961a).
Análise funcional é o centro da terapia
comportamental.
Está em todos os passos da terapia: envolve
o “diagnóstico” do problema do cliente, o
planejamento das intervenções terapêuticas,
a sua execução e a avaliação dos resultados
obtidos.
Além disso, o conceito de análise funcional
está ligado à noção de psicopatologia para a
análise do comportamento.
O objetivo da análise funcional é identificar o
comportamento-alvo da intervenção (aquele que
está inadequado) e os elementos do ambiente
que estão ocasionando e mantendo esse
comportamento.

(1) o produto do comportamento,


(2) seu contexto de ocorrência e
(3) as operações motivadoras subjacentes ao comportamento.

Soma-se a esses dados a história de vida do cliente.


Em posse das informações, o
terapeuta descreve as relações
comportamentais objetivamente,
permitindo ao cliente interessado
acompanhar os passos do
diagnóstico e do tratamento.
O diagnóstico é dado em
termos de relações
comportamentais. Ou seja,
especifica-se quais elementos
do ambiente estão produzindo
o comportamento inadequado.
Esse tipo de diagnóstico relacional opõe-se a
avaliações tradicionais, que classificam e
descrevem o problema do cliente em termos de
mal funcionamento mental. No lugar de
classificar um problema como depressão,
por exemplo, o terapeuta comportamental
mostra como o modo de agir chamado de
depressivo está relacionado a más
condições de vida específicas, passíveis de
serem alteradas.
o diagnóstico relacional deixa
implícito a possibilidade de que as
queixas, e problemas, do cliente
podem variar no decorrer da
terapia; afinal, novas condições de
vida geram novos comportamentos.
A análise funcional, portanto,
considera o comportamento algo
fluído e variável; afirma que
classificações em termos de doenças
podem mascarar essa fluidez,
resultando em tratamentos focados
em sintomas e não nas relações
indivíduo-ambiente.
Forma vs Função
Uma das características importantes da análise
funcional é a compreensão do comportamento
em termos de suas funções, e não em termos
de sua forma (ou topografia). Ou seja, mais
importante do que avaliar a resposta em si, ela
é considerada no contexto em que está inserida
e o que produz para o cliente.

Essa estratégia de análise possibilita uma


organização mais eficaz do comportamento,
pois procura os elementos ambientais por trás
das aparências.
Exemplo 1. É possível dar adeus de
várias formas diferentes: acenar com a
mão, dizer “tchau”, dizer “até logo” ou
fazer um movimento com a cabeça.
Todos esses comportamentos têm
formas diferentes, alguns utilizam a
voz, outros partes do corpo, mas todos
possuem a mesma função: dar adeus.
Sendo assim, diz-se que todos esses
comportamentos são funcionalmente
equivalentes.
Exemplo 2. Imagine dois meninos. Um
deles estuda porque quer ir bem na
prova. O outro estuda porque se não o
fizer, fica de castigo. A forma, a
aparência, do comportamento de
estudar é igual para ambos, mas a
função é diferente. A função de estudar,
para o primeiro menino, é aprender.
Para o segundo, é evitar problemas.
Portanto, esses comportamentos não
são equivalentes.
Exemplo 3. Uma cliente, na sessão
terapêutica, diz que está cansada
demais para falar sobre sua semana. A
forma da resposta é dizer “estou
cansada”, mas uma análise funcional
pode revelar que o indivíduo não está
de fato cansado, e que seu
comportamento tem a função de evitar
falar sobre algum problema doloroso
ocorrido durante a semana.
Como analisar funcionalmente
1. Observação do Comportamento
|
2. Identificação do Comportamento-Problema
|
3. Identificação do Produto do Comportamento
|
4. Identificação do Contexto de Ocorrência do
Comportamento
|
5. Identificação das Operações que Motivam esse
Comportamento
|
6. Ampliar a Análise Funcional do Comportamento
Análise funcional do exemplo 3 a cliente que
chora na terapia. Vamos ver passo a passo

1. Observação do Comportamento

Nesse exemplo, o terapeuta já tem um


certo conhecimento da cliente. Conhece
suas dificuldades particulares. Sabe, por
exemplo, que a cliente frequentemente
evita falar sobre si mesmo.
2. Identificação do Comportamento-Problema

Normalmente, há vários comportamentos que


merecem intervenção. Nesse exemplo, um dos
comportamentos-problema identificados é “evitar
falar sobre si mesmo”. Essa é o comportamento
descrito funcionalmente, mas ele pode ocorrer de
diversas formas diferentes (com variada topografia):
dizer “estou cansada”, chorar, faltar à sessão,
desviar o assunto, etc. Todas essas formas têm para
a cliente a mesma função de evitar conversas sobre
si mesmo.
3. Identificação do Produto do
Comportamento

Os comportamentos de evitação, quando


efetivo, produz consequências que o
mantêm: o indivíduo escapa de falar
sobre si mesmo; evita falar sobre
assuntos dolorosos, deixando a cliente
longe do sofrimento. Apesar de cumprir
seu objetivo, esse comportamento
impede a cliente de lidar com seus
problemas.
4. Identificação do Contexto de Ocorrência
do Comportamento

Geralmente, o contexto em que esse


comportamento ocorre é a presença
de situações nas quais a cliente é
incentivada a falar sobre a sua vida.
Sabendo disso, é fácil fazer com que
o comportamento de evitação
aconteça ou não.
5. Identificação das Operações que Motivam
esse Comportamento

Provavelmente, a motivação da cliente que


evita falar sobre si mesmo é o medo de
revelar seu passado e seus pensamentos. É
possível supor que coisas desagradáveis
ocorreram em sua vida. Alternativamente, é
possível que a cliente, no passado, tenha
sido ridicularizada quando se expôs.
6. Ampliar a Análise Funcional do
Comportamento

Em posse das informações obtidas nos passos


anteriores, o terapeuta é capaz de ampliar a análise
funcional, acrescentando ou retirando comportamentos
e elementos ambientais importantes para compreender
a cliente. Por exemplo, se for descoberto que a evitação
ocorre por conta de fatos desagradáveis, o foco da
análise e da intervenção deve ser os pensamentos e
sentimentos da cliente sobre esses fatos. Caso a
evitação ocorra porque a cliente foi ridicularizada
quando se expôs no passado, o foco de análise e
intervenção deve ser o comportamento social.
Referencias

-Skinner, B. F. (1961a). The concept of the reflex in the


description of behavior. Em Skinner, B. F. Cumulative Record
- Enlarged Edition (pp.319-346). New York: Appleton-
Century-Crofts. Publicado originalmente em 1931.
-Análise funcional: definição e aplicação na terapia analítico-
comportamental. Rev. bras. ter. comport. cogn. [online]. 2003,
vol.5, n.2, pp. 151-165. ISSN 1517-5545.

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