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O que é a PCP?

A Psicoterapia Comportamental Pragmática trata-se de uma possibilidade de


análise do comportamento aplicada à clínica como diversos outros modelos
existentes na atualidade. Ela comunga muitas de suas propriedades com os
demais modelos, principalmente em decorrência de ser uma aplicação da
Análise do Comportamento à clínica fundamentada filosoficamente no
Behaviorismo Radical. Entretanto, a PCP possui aspectos que justificam a sua
apresentação como uma alternativa distinta dos modelos correntes. Em resumo,
trata-se da aplicação dos princípios da análise do comportamento em uma
condução do tratamento menos diretiva e menos pedagógica. Suas principais
características, em resumo, são:
1. Ênfase na análise e intervenção sobre o comportamento verbal;
2. Uso da relação terapêutica como foco de análise e de intervenção com o
uso de estratégias menos diretivas;
3. Mudanças de regras e emissão de novas regras por parte do cliente, sem
a emissão de regras por parte do terapeuta;
4. O papel protagonista das consequências sociais do comportamento nas
análises funcionais dos comportamentos alvo.

✱ Ênfase no Comportamento Verbal:


Conforme sustenta Medeiros (2002), a grande maioria das interações que
ocorrem no contexto clínico é verbal. Para o autor, boa parte dos
comportamentos alvo do cliente que precisam ser modificados é verbal e tenderá
a ser emitida na presença do terapeuta. Logo, é fundamental para o processo
terapêutico que se faça a análise do comportamento verbal do cliente ao longo
da sessão.
Conforme proposto por Skinner (1957/1978), o comportamento verbal ou a
linguagem não são meras ferramentas de expressão de pensamentos e desejos
de um falante. O que o cliente diz em terapia não possui necessariamente uma
relação precisa com os eventos ocorridos no seu dia-a-dia e na sua história. Uma
análise baseada exclusivamente no conteúdo das falas do cliente seria ingênua
e levaria a interpretações incorretas acerca das relações funcionais entre o seu
comportamento e as supostas variáveis de controle. O comportamento verbal,
como os demais comportamentos, é uma forma de operar no mundo, de modo
que exige a realização de análises funcionais. Não basta o comportamento de
ouvinte do terapeuta ficar sob o controle discriminativo do que é dito pelo cliente,
mas também, sob o controle das variáveis que levaram o cliente a se comportar
verbalmente daquela forma, naquele momento específico.
Medeiros (2002) faz uma discussão bem ampla dos comportamentos verbais do
cliente que precisam ser trabalhados em terapia, como tatos distorcidos, mandos
disfarçados de tatos, respostas de racionalização entre outros. Em todos esses
comportamentos, a forma como o terapeuta se comporta sob o controle dos
comportamentos verbais do cliente é fundamental para o seu estabelecimento,
manutenção e enfraquecimento.

✱ Ênfase na relação terapêutica


Para a PCP, é possível se trabalhar com duas classes amplas de
comportamentos do cliente. Uma delas diz respeito aos comportamentos alvo
relatados, ou seja, aqueles que ocorrem prioritariamente fora do setting
terapêutico, de modo que, o acesso a eles se dá por intermédio dos relatos
verbais. A outra classe de comportamentos alvo diz respeito aos emitidos na
sessão nas interações com o terapeuta, sendo passíveis de observação e
intervenção direta.
Os comportamentos alvo que ocorrem na sessão precisam ser
identificados e analisados de modo a embasar as intervenções do terapeuta
sobre eles. O psicoterapeuta pragmático utilizará, principalmente, do
reforçamento diferencial. Desse, modo, conforme defendido por Ferster (1972),
o terapeuta reforçará os comportamentos alvo desejáveis e colocará em extinção
ou reforçará com menos frequência e magnitude os indesejáveis.
Os reforçadores utilizados no reforçamento diferencial, por sua vez,
precisam se aproximar em topografia daqueles comuns no contexto natural.
Informar ao cliente que ele está emitindo um comportamento indesejável na
relação com o terapeuta da mesma forma que o faz lá fora representa a emissão
de regras pelo terapeuta com função aversiva arbitrária. Trata-se de uma crítica.
Informá-lo, por outro lado, que agora ele tem interagido com o terapeuta de forma
desejável, também representa uma regra, porém, com função reforçadora
arbitrária. São, no fim das contas, elogios. Ninguém, no dia a dia, provê
consequências a comportamentos no contexto social dessa forma.
Consequenciar naturalmente é agir de forma similar às demais pessoas com as
quais o cliente interage, porém, modificando as relações de contingência que
estabeleceu o repertório comportamental que o trouxe à terapia.
Para fazer com que o cliente identifique o seu comportamento alvo e o
analise, o terapeuta não devolverá a sua análise em forma de interpretação, e
sim, fará um questionamento reflexivo para que o cliente chegue à análise por si
só. Esta é uma forma de lidar com a relação terapêutica menos diretiva, na
medida em que o terapeuta não leciona sobre o comportamento do cliente. Ele
simplesmente cria condições para que o cliente analise o próprio comportamento
e decida o que fazer com ele.

✱ Mudança de regras e emissão de novas regras pelo cliente: Uso do


questionamento reflexivo e do pensamento pragmático
Conforme extensamente debatido por Medeiros (2010), a emissão de
regras pelo terapeuta, seja em forma de interpretação ou de orientação, é uma
forma de intervenção extremamente diretiva que traz uma série de efeitos
colaterais indesejados. O questionamento reflexivo é utilizado para levar o
cliente a formular regras acerca dos comportamentos alvo relatados e emitidos
na sessão. O questionamento reflexivo consiste em um encadeamento de
perguntas abertas que culminam na emissão de autorregras por parte do cliente.
Perguntas abertas são aquelas que permitem a emissão de uma grande
variedade de respostas, ao invés de meramente sim ou não, como é o caso das
perguntas fechadas. As perguntas abertas devem ser feitas em sequências
encadeadas nas respostas dos clientes que culminem na formulação de
autorregras.
O questionamento reflexivo pode apresentar as seguintes funções: 1)
Testagem de hipóteses de análises funcionais; 2) Treino do cliente em fazer
análises funcionais; 3) Levar o cliente a analisar o próprio comportamento; 3)
Levar o cliente a analisar o comportamento das pessoas com as quais se
relaciona; 4) Treinar no cliente o repertório de resolução de problemas; 5) Levar
o cliente a formular autorregras de mudanças no próprio comportamento.
O pensamento pragmático é uma variação do questionamento reflexivo
que tem como meta levar o cliente a interpretar as situações ambíguas do seu
dia-a-dia ou da sua história de forma mais útil para se atingir os objetivos
terapêuticos.

✱ Consequências sociais: reforçadores e estímulos aversivos condicionados


generalizados
A PCP reconhece e enfatiza a importância dos reforçadores
condicionados generalizados no controle dos comportamentos alvo. Conforme
Skinner (1953/1994), nas culturas ocidentais em que as consequências são
dadas ao indivíduo e não ao seu comportamento, é estabelecida uma valoração
do indivíduo. Adjetivos como belo, capaz, inteligente, covarde, limitado,
preguiçoso, negligente entre outros são atribuídos aos indivíduos, ao invés de
se consequenciar o seu comportamento. Com base nesses adjetivos, é criada
uma noção fictícia e valor pessoal. Aqueles que emitem comportamentos de
acordo com padrões da sociedade possuem valor pessoal, os que não emitem,
ou que emitem padrões não socialmente aceitos, são desvalorizados. A PCP
parte do pressuposto, portanto, de que a autoestima é um produto cultural e
decorre do reforçamento ao indivíduo e não ao seu comportamento. De acordo
com Skinner, o reforçamento deve ser administrado para fortalecer
comportamentos desejáveis e não para se recompensar méritos. Extinção e
estímulos aversivos, se é que estes últimos devem ser apresentados, são para
enfraquecer comportamentos e não para castigar culpados.
Para o Behaviorismo Radical, a ênfase é no comportamento e não no
indivíduo, já que não existe livre-arbítrio. Skinner (1953/1994) defende que não
existem pessoas boas e más, capazes e incapazes, competentes e
incompetentes. Seus comportamentos devem ser analisados funcionalmente. Ao
mesmo tempo, pessoas se comportam tendo como consequência determinante
serem boas, vencedoras, belas, aceitas entre outros. Paralelamente evitam
serem perdedoras, fracassadas, feias, rejeitadas e etc. Os critérios para serem
de um jeito ou de outro é o reconhecimento ou a repreensão/exclusão social.
As consequências clínicas são óbvias, pessoas acumulam capital que não
gastam, compram carros caros que não usam os recursos que oferecem, casam
com pessoas que não amam, passam em um concurso público que paga bem e
não fazem o que gostam. Esses casos são mais simples, o piores são aqueles
em que as pessoas tentam atingir esse reconhecimento e não conseguem.
Essas se comportam como se não tivessem valor. Seu comportamento é
predominantemente determinado por aprovação e reconhecimento, ao ponto de
não saberem o que gostam ou quem amam.
⇒ Uma meta em boa parte dos casos que surgem na clínica, de acordo com a
PCP, é tornar o comportamento do cliente mais sensível aos reforçadores não
generalizados, questionando a importância dada ao sucesso, desempenho,
respeito, poder, reconhecimento e outros reforçadores condicionados
generalizados.

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