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Universidade Anhanguera UNIABC

Teorias e Técnicas Comportamntal-Cognitiva

Profº. Drº. Ana Lucia Nogueira Braz

A Terapia Comportamental

A psicologia se caracteriza por ser um campo de conhecimento sem um


paradigma aceito por toda a comunidade. Neste sentido não se fala em uma
psicologia mas em várias psicologias. Entretanto, no escopo desta aula nesta
disciplina, o campo teórico adotado será o da análise do comportamento
aplicada, adotando como instrumento básico de estudo a análise funcional
(Meyer, 1997). Para a terapia comportamental tanto os comportamentos
considerados adequados quanto os considerados inadequados são resultados
de processos complexos de aprendizagem (Machado, A. M., 1997)

“Terapia Comportamental implica, basicamente, a análise funcional


do(s) comportamento(s) problema em questão (queixa do cliente),
uma vez que ela se dirige para metas de aprendizagem de outras
maneiras de agir. Nesse sentido, o objetivo geral da TC é criar
novas condições para essa aprendizagem; e faz isso, através da
análise das contingências nas quais a queixa ou o problema está
sendo mantido. Assim, uma análise funcional das contingências em
operação que produzem um comportamento desadaptativo ou mal
aprendido é realizada visando a aquisição de novos repertórios
comportamentais, em substituição aos deficitários ou mal
aprendidos, de modo a fortalecer e manter o comportamento
desejado, que 'funciona', permitindo, desse modo, que os
indesejáveis, mal aprendidos ou desadaptativos sejam
enfraquecidos. E o terapeuta comportamental é, nesse processo
todo, a pessoa que vai atuar, voluntariamente, no sentido de
produzir alterações no comportamento do cliente: o comportamento
do terapeuta é diretivo, 'centrado' no cliente.”
Machado. A. M. (1997)

Elementos Básicos de Análise

Os elementos básicos da análise funcional são os estímulos


antecedentes, as respostas (ações dos organismos) e conseqüências
(mudanças que seguem a emissão da resposta e que alteram a probabilidade
de ocorrência da mesma) (Rangé, 1995a). Também é levado em conta na
análise os eventos que podem abranger características genéticas, estados de
privação, fatores orgânicos e fisiológicos.

No trabalho clínico a análise funcional envolve pelo menos três


momentos da vida do cliente, a serem analisados por todo processo
terapêutico: história de vida, comportamento atual e a relação terapêutica
(Delitti, 1997).

A Psicoterapia

Skinner (1974) coloca a psicoterapia como mais uma agência


controladora (além do governo, religião e outras) porém não organizada como
as outras, mas constituindo-se uma profissão que lida com os comportamentos
do campo da emoção (respondentes) e comportamentos operantes. O campo
de atuação desta psicoterapia são nas situações onde existem
comportamentos inconvenientes ou perigosos para o sujeito ou para o grupo.

O terapeuta comportamental utiliza em seu trabalho algumas técnicas e


procedimentos mais ou menos padronizados em seu trabalho:

· Audiência não punitiva: esta tem um papel importante no curso da


terapia por possibilitar que os comportamentos que até então estavam
reprimidos comecem a aparecer no repertório do cliente, podendo então
ser trabalhados e discutidos na terapia. Posteriormente alguns efeitos
relativos à punição destes comportamentos podem começar a ter
extinção, sendo este um dos principais resultados da terapia. (Skinner
1974) Este tipo de procedimento é colocado por Skinner como sendo
comum a psicoterapia em geral.

· Sugestão de manejo de contingências: O terapeuta pode sugerir ao


cliente esquemas ou rotinas que afetem as contingências que podem
estar controlando determinado comportamento do cliente (Skinner
1974). Posteriormente o autor detalhou mais esta questão relacionando
estas sugestões com os operantes verbais onde elas podem adquirir
propriedades de: Conselhos em forma de ordem (faça isto), ou de
conselhos em forma de descrição (se você fizer isto, aquilo pode
acontecer) (Skinner, 1995)

· Administração de reforços: apesar de uma pequena parte da vida do


clientes se passar na terapia, reforçadores podem ser usados para
comportamentos sociais e principalmente verbais, através de
modelagem mútua nos encontros face a face (Skinner, 1995)

O Papel do Terapeuta

Nesta abordagem cabe ao terapeuta identificar as causas mantenedoras


dos problemas do cliente e fornecer meios para que os objetivos dos clientes
sejam alcançados. (Lettner, 1995). Neste sentido o papel do terapeuta é de
identificar, através de inferências (Skinner, 1995), as relações funcionais dos
comportamentos utilizando como dado a própria sessão terapêutica e a relação
terapêutica (Guilhardi, 1997)

A relação terapêutica pode ser um fator de influência positiva quando o


terapeuta tem uma participação efetiva no tratamento (Rangé, 1995b) no
sentido de que tendo se desenvolvido uma relação terapêutica positiva, o
cliente se sente confortável o suficiente para fornecer as informações
necessárias para a terapia. (Lettner, 1995).

Skinner (1995) relata que existe uma diferença entre o conhecer por
compreensão (quando o organismo obteve as conseqüências reforçadoras) ou
conhecer por descrição (quando as conseqüências foram ensinadas). Isto é
chamado de comportamento modelado por contingências e comportamento
governado por regras.

O papel do terapeuta tendo em vista esta questão não é de


simplesmente oferecer novas regras aos seus clientes, mas lançando mão de
doses “homeopáticas” de algumas pequenas regras, fáceis de serem seguidas
e com alta probabilidade de receberem reforços, terem um objetivo maior de
que os clientes possam formular suas próprias regras, para que não mais
necessitem do terapeuta no futuro, quando surgirem novos problemas.

Por fim, sendo que a análise funcional se dá durante todo o processo


terapêutico, não existe a necessidade da utilização de rótulos em termos de
uma classificação nosológica. Esta não se mostra útil para um prognóstico do
caso e serve apenas para a comunicação entre profissionais de diferentes
áreas. (Torós, 1997)

Dificuldades:

Meyer (1997) relata que a Análise do Comportamento aplicada na clínica


se depara com alguns problemas de controle de variáveis, o que difere do que
acontece nos laboratórios experimentais. As dificuldades são de identificação
das unidades de análise, de definição de eventos antecedentes e
conseqüentes e de falta de informações para a definição destas classes. Nos
trabalhos com grupos, onde a análise funcional também á aplicada, também
são apontados problemas relativos a julgamentos influenciados por fatores
culturais e pessoais (Falcone, 1995).

A pesquisa em terapia comportamental:

Lipp (1995), tendo em vista as dificuldades relatadas acima, então,


ressalta a importância da documentação e avaliação sistemática dos casos
clínicos. Kerbauy, (1997) também aponta a necessidade de se gravar e
transcrever as sessões para posterior análise onde se irá descobrir as variáveis
atuantes do processo terapêutico. Se tratando de uma pesquisa em clínica
estes procedimentos se tornam ainda mais necessários, pois o controle total
nunca é possível. Além disto, na utilização da análise funcional em uma
pesquisa clinica, a investigação basicamente se apresenta como um estudo de
caso, onde de acordo com Kerbauy (1997) as formas de pesquisa ainda estão
em aberto, necessitando de criatividade por parte do pesquisador e respaldo na
literatura.

Silvares e Banaco (in press) também argumentam a favor da pesquisa


de estudo de caso, onde relatam que esta é a forma ideal para se aumentar o
corpo de conhecimento em terapia comportamental podendo ser feita com
delineamento experimental (tratamento testados num único sujeito, onde o
comportamento do sujeito serve como seu próprio controle) ou naturalístico
(utilizado quando não se tem controle das variáveis, sendo feito de modo
narrativo, sistemático e temporal)

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