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Psicoterapia Analítico-

Funcional (FAP)
Ana Clara Rodrigues Ribeiro, Bianca Martins Amato, Caroline Santos
Pereira, Giovana Rodrigues da Silva, Giselle Rodrigues de Souza Lima,
Karina Beatriz de Sousa, Maria Isabel Chaves, Tayná Brandão, Tiago
Souza e Wenderson Almeida.
Sobre a autora:
Giovana Del Prette é psicóloga e atua como terapeuta, professora,
supervisora clínica e pesquisadora. Graduou-se em Psicologia (USP-
2003), fez Mestrado (2006) e Doutorado (2011) em Psicologia Clínica
pela Universidade pela São Paulo (IP-USP). Atualmente faz pós-
doutoramento no Instituto de Psiquiatria da USP-SP. É professora e
supervisora clínica no Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência
(SEPIA), no curso de Terapia Comportamental e Cognitiva da
Residência em Psiquiatria Geral do HC/FMUSP e no Núcleo Paradigma
de Análise do Comportamento (NPAC). Foi vice-presidente da
Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental
(ABPMC-2012), da qual é membro desde 2002.
(Fonte: Currículo Lattes)
QUE É
PSICOTERAPIA
ANALÍTICO-
FUNCIONAL E
COMO ELA É
APLICADA?

Psicoterapia da Terceira Geração Psicoterapia Analítico Funcional:
Se destaca por focar no estudo e na intervenção sobre as variáveis da
própria relação terapeuta cliente.

Terapeuta age na relação e sobre a relação


com o cliente.
Fatores como:
i) envolvimento emocional
ii) a intimidade
iii) o aqui e agora

São fundamentais para a relação que é


estabelecida entre terapeuta-cliente.
Desafio: estabelecer relações novas e únicas
com cada cliente.

“Relação intensa e curativa”


FAP (Functional Analytic Psychotherapy) não prioriza a razão –
conhecimento técnico – em detrimento da emoção “a FAP →
funciona quando é não apenas entendida, mas sentida.” (p. 310)

Desafio de compreender profundamente a FAP na teoria:


→ análise de casos clínicos – hipotéticos – sob o prisma da FAP;
→ sistematização inédita de habilidades envolvidas em cada uma das
cinco regras da FAP:
l) consciência
ll) coragem
lll) amor
lV) e V) behaviorismo
→ supervisão e da terapia pessoal;
ORIGENS,
CARACTERÍSTICAS
DISTINTIVAS E
FUNDAMENTOS
TEÓRICOS DA FAP
Psicoterapia Analítico
Funcional
A FAP é uma proposta baseada nos princípios da ciência da Análise do
Comportamento.
A FAP nasceu em um momento histórico essencial no qual se alinhavam questões
teóricas, práticas e pesquisas sobre a clínica comportamental.
Até aquele momento era a Terapia Cognitivo-Comportamental vinha sendo utilizada
como abordagem para problemas envolvendo cognição e sentimentos, porém ao
unir duas abordagens fundadas em base filosóficas distintas ela abria mão da
coerência epistemológica.
Evocar, notar, reforçar e interpretar o comportamento do cliente- o terapeuta terá
que fazer durante as sessões.
Desenvolvida por
Robert Kohlenberg e
Mavis Tsai
Responsáveis pelo livro "Psicoterapia
Analítico Funcional: Criando relações intensas
e curativas"
01 Primeira Onda: A Terapia Comportamental
(a partir da década de 1950).

Hayes (2004)
incluiu a FAP como 02 Segunda Onda: Terapia Cognitiva de Aron
Black (a partir de 1970) e pela Terapia
Cognitivo Comportamental (a partir do fim

uma das propostas de 1980).

da terceira onda. 03
Terceira Onda: Constitui a partir da década
de 1990 surgiram propostas como a FAP, a
Terapia de Aceitação e Compromisso, a
Ativação Comportamental e a Terapia
Comportamental Integrativa de Casais.

A Terceira onda tinha como enfoque em uma abordagem


empírica sensível ao contexto e as funções de fenômenos
psicológicos.
Skinner (1953) fez uma analise do papel social da
psicoterapia, em sua obra Ciência e Comportamento Humano
ele apresenta a psicoterapia comparando-as com agencias de
controle da sociedade, essas agencias seriam instituições ou
sistemas socias que manipulavam variáveis por meio de
reforçamento e punição isso se casa com estudos sobre
punição e seus efeitos colaterais (Sidman, 2001).

Sendo assim, era essencial que as agencias psicoterápicas se


distinguissem das demais por cuidar dos efeitos colaterais de
práticas coercitivas existentes em nossa cultura, o terapeuta
deveria adotar a prática da ‘’audiência não-punitiva", ouvindo
os clientes sem julgá-los, visando que a classe de
comportamentos que eram reprimidos anteriormente por
punição voltem a ocorrer na própria sessão dessa vez sem
serem punidos com críticas ou rejeição.

A audiência não punitiva vai além de uma recomendação ou uma


técnica, ela é uma postura constante do terapeuta na relação com
o cliente resultando em intimidade, causando apego e
proximidade na relação com o outro.
‘’Relação Terapêutica’’ X ‘’Interação Terapêutica’’

A fim de distinguir estes conceitos para evitar confusões,


Baum (2006) propõe que a relação entre terapeuta e cliente
corresponde a interações regulares entre sí. Já a relação
terapêutica muito falada como instrumento de mudança do
paciente, conforme Tsai et al. (2008) referindo ao terapeuta
como ‘’usar a sí próprio como um instrumento de mudança".

A relação de terapeuta e cliente já se faz terapêutica se há


intimidade entre eles, favorecendo que seus relacionamentos
possam ser modificados. Quanto ao terapeuta, usa a si
próprio como agente de mudança por envolver-se de forma
íntima e genuína com o paciente/cliente.
Comportamentos
Clinicamente
Relevantes do Cliente
Ir à terapia passa a ser uma parte da vida e da rotina do cliente, e a
maneira como ele se relaciona com esse evento ambiental, de algum
modo, assemelha-se à sua relação com outros eventos de sua vida.

Alguns comportamentos do cliente que ocorrem na Clinically Relevant Behavior 1 - Comportamento


relação com o terapeuta têm especial relevância clínica Clinicamente Relevante 1, ou CRB1. (Kohlenberg e
na FAP. Tsai, 1991)
EXEMPLO DO CLIENTE PONTUAL - CARLOS
A identificação de CRBs advém da análise funcional
(ou de contingências), construída pelo terapeuta ao
Em nosso exemplo, ainda não sabemos se o longo das sessões de atendimento.
comportamento “ser pontual”, que se generalizou à
situação de terapia, é ou não relevante para a
análise. A análise funcional, sendo única para cada indivíduo
(ver Neno, 2003), pode apontar para diferentes
Uma parte dos comportamentos do cliente na
direções.
terapia poderá ser mais significativa quanto mais
representar uma amostra do próprio problema
que a terapia se propõe a tratar.
EXEMPLOS DE FUNÇÕES DO
MESMO COMPORTAMENTO:
Esquivar-se de qualquer crítica, assim

01 seu problema tem a ver com a maneira


como ele lida com o julgamento dos
outros; Note que, nas três hipóteses funcionais
anteriores, os problemas do cliente não eram
somente relacionados a comportar-se ou não

02 Pouco flexível no cumprimento dos


compromissos, produzindo sofrimento ao
com pontualidade, mas sim a uma classe de
comportamentos na qual o “ser pontual” pode
priorizar suas obrigações acima de
se inserir. (CLASSES FUNCIONAIS)
qualquer coisa;

Ele espera dos outros a mesma seriedade


03 que ele próprio adota com compromissos
e acaba se decepcionando quando os
outros não correspondem a essa
expectativa.
Por outro lado, também é possível que o cliente se comporte na sessão de tal
modo que seus problemas melhorem se ele assim o fizer em seu dia a dia. Esses
são os Clinically Relevant Behavior 2, ou CRB2 (Kohlenberg & Tsai, 1991).

Então, se “ser pontual” é um CRB1, poderíamos concluir que “atrasar-se”


ou “esquecer-se” da sessão poderia ser um CRB2? Talvez sim.

Se, em nossa primeira hipótese, a pontualidade tem como função a esquiva


de críticas, não apenas o atraso poderá ser CRB2, mas muitos outros
comportamentos do cliente em sessão.

Outros exemplos.
Há ainda uma última classificação na FAP sobre comportamentos de
relevância clínica: os Clinically Relevant Behavior 3, ou CRB3 (Tsai,
Kohlenberg, Kanter, Kohlenberg, Follette, & Callaghan, 2008).

Trata-se do comportamento do cliente de fazer análises, o que pode ser


considerado um estímulo especificador de contingências (Abreu, Hübner,
& Lucchese, 2012) por modificar verbalmente a função de um
estímulo.

Em nosso exemplo, algumas verbalizações do cliente poderiam ser


importantes CRB3:
“Se eu me atrasasse, pensaria imediatamente que você acha que não
estou dando valor para toda ajuda que você me dá” ou “Eu percebi
que não tenho conseguido falar sobre algumas coisas por medo de
ser julgado por você. As pessoas vivem julgando umas às outras”.
Por meio de pesquisas sobre a FAP, Callaghan (2006a) produziu um questionário
(Functional Idiographic Assessment Template Questionaire, ou FIAT-Q), a partir do qual
classificou os principais CRBs dos clientes em cinco classes funcionais, todas elas de
algum modo relacionadas à intimidade:

identificar e expressar assertivamente


necessidades;

impactar, dar e receber feedbacks em


comunicação bidirecional;

identificar e lidar com conflitos e


desconfortos interpessoais;

auto revelar-se e manter proximidade


interpessoal;

experienciar e expressar emoções.


Os efeitos colaterais da punição em
relacionamentos anteriores:

Quando somos aceitos ao nos


A história de reforçamento dos comportarmos de acordo com nosso
comportamentos abertos, sob controle mundo privado ⇨ESTABILIDADE
privado, constrói no indivíduo a emergência e FUNCIONAL DO EU.
a estabilidade da unidade funcional “eu”.
Um dos critérios diagnósticos para Transtorno

HISTÓRIA CRÔNICA DE INVALIDAÇÃO ⇨ Borderline (APA, 2013), por exemplo, está


relacionado ao “sentimento crônico de vazio”.
Leva ao desenvolvimento de um juiz instável
Um dos papéis centrais da terapia seria o de
(Grau patológico em Transtornos de
construir uma nova história de
Personalidade).
relacionamentos, que colabore para a
formação de um self estável.
As 5
Regras da
FAP
Ao proporem a FAP como uma terapia baseada na
Análise do Comportamento, Kohlenberg e Tsai
(1991) sistematizaram cinco regras norteadoras
da intervenção do terapeuta nessa abordagem.

⤷ Sumarizaram as regras em palavras-chaves contidas no próprio


nome do segundo livro por eles lançado: Um guia para psicoterapia
analítico-funcional: consciência, coragem, amor e behaviorismo
(Behaviorismo sendo as regras 4 e 5).
As regras serão abordadas e ilustradas
mediante um caso clinico hipotético.

Carlos apresenta:
- Dificuldade de expor suas opiniões
- Dificuldade de expressar o que pensa e sente em seus relacionamentos
- Falta de controle em relação as suas emoções e o que faz com elas
- Concordância em demasia com os outros
- Comportamento de esquiva de críticas e rupturas nas
relações
QUEIXA INICIAL QUE O LEVOU A TERAPIA: Ansiedade
Regra 1: Consciência
Consiste na premissa de que o terapeuta deve estar atento e consciente ao que
acontece na sessão, e implica várias habilidades do terapeuta, conforme
apresentado:

Habilidade 1 : Terapeuta observa e descreve


contingências da sessão.
Estar atento ao momento presente, começando por aquilo que o cliente
faz em sessão, além de descrever o que se observa evitando rótulos.
Priorizar “o como” o cliente fala e sobre “o que” é falado
Focar na coerência ou na discrepância entre forma e conteúdo.
Observar e descrever não apenas o que o cliente traz a sessão, mas
também a interação dele com o terapeuta.
Habilidade 2 : Terapeuta observa seus próprios
comportamentos (ações, sentimentos e pensamentos).

Como o terapeuta age, pensa e sente pode ser uma amostra representativa
de como outras pessoas também se relacionam com o cliente.

“Estar conectado” ao cliente: um dos mais importantes termômetros na


identificação de CRBs (produto dos esforços de ambos ao encontro da
intimidade).

Terapeuta não se sente conectado ao cliente; por vezes sente mais empatia
e envolvimento, mas em outras se sente frio. O que isso tem quer dizer?
Habilidade 3 : Terapeuta utiliza o que foi observado
na formulação da análise funcional

Base para analise funcional: Observação e descrição do comportamento


do cliente, junto à relação e a si próprio.

As discrepâncias e coerências entre o que acontece na sessão e como o


terapeuta e cliente reagem a isso são transformadas em hipóteses
funcionais, que podem ser fortalecidas, modificadas ou abandonadas ao
longo das sessões.

Tanto relação ao paciente, quanto relação aos pensamentos do


terapeuta são fontes de analise.
Carlos relata ansiedade, mas não parece ansioso na sessão.
HIPÓTESES:

01- “Será que a sessão não produz 02- “Será que a sessão não produz
ansiedade e é um contexto diferente ansiedade e é um contexto diferente
daquele em que ele vive? No que daquele em que ele vive? No que
consiste essa diferença? Ou será que consiste essa diferença? Ou será que
ele se sente ansioso, mas evita ele se sente ansioso, mas evita
demonstrar a ponto de não ser demonstrar a ponto de não ser
perceptível?”. perceptível?”.
Habilidade 4 : Terapeuta verifica se o comportamento do
cliente é um CRB

Explicitação das observações e impressões do terapeuta em relação ao


paciente
Conversas de modo acolhedor
Conversar abertamente para construírem juntos uma conclusão sobre o
significado do que foi observado na relação.
Identificação dos CRBs como um trabalho conjunto entre terapeuta e
cliente – o que em si pode ser terapêutico.
Regra 2: Coragem
Ao identificar os CRB’s por meio da regra 1, o terapeuta procura
evocá-los ao longo das sessões e essa intervenção é evidenciada
na Regra 2.

O termo “coragem” ressalta a habilidade de enfrentamento de


uma situação difícil, necessária ao terapeuta FAP.

O ato de evocar CRBs pode provocar ansiedade e desconforto no


próprio terapeuta, visto que há uma tentativa de produzir uma
relação de maior intimidade. Portanto, isso exige muito mais
autoexposição.
Habilidade 1 : Terapeuta usa gentileza e empatia como
crivos sobre como evocar CRBs:

Terapeutas ainda não familiarizados com a FAP, muitas vezes, imaginam


intervenções de resultados duvidosos ao especularem sobre a Regra 2.
Exemplo: bagunçar a sala antes de o cliente chegar para evocar CRBs em um
cliente com TOC de organização.

Nesse sentido, para decidir como aplicar a Regra 2 o terapeuta deve ser gentil
com a relação que está construindo e a empatia poderá ser um bom critério.

É preciso colocar-se no lugar do cliente e pensar como se


sentiria caso vivenciasse a mesma situação da terapia, como a
desorganização citada no exemplo anterior.

Enfim, evocar CRBs não significa “gratuitamente cutucar feridas”. O objetivo


do terapeuta com a Regra 2 é propiciar a ocorrência de comportamentos de
melhora do cliente (CRB2).
Habilidade 2 : Terapeuta formula o que será
considerado CRB2:
Além disso, se o terapeuta identifica sinais de que
Ter clareza sobre o que consideraremos um CRB2 é
o paciente está incomodado com um assunto, pode
essencial e isso pode ser mais difícil do que identificar
perguntar algo como: “O que lhe incomodou
um CRB1, até porque comportamentos de melhora
agora?” na tentativa de evocar CRB2.
são menos frequentes em início de terapia e teremos
que especular quais seriam.
No caso de Carlos, qualquer comportamento
assertivo traz consigo um risco de rejeição e
O critério do que será uma melhora precisa levar em
desagrado e poderá ser um CRB2. Assim, ao dizer
conta o processo de modelagem gradual que irá se
“Ainda não estou pronto para falar sobre meu
desenrolar na terapia.
casamento” é um exemplo de melhora (CRB2) para
quem se esquivava não apenas do assunto, mas do
Para quem se esquivava de um assunto
risco de rejeição, tentando desconversar sem
enrolando uma resposta, expressar seu
deixar claro seu incômodo.
desagrado com um mero franzir de
sobrancelhas já pode ser um CRB2
Habilidade 3 : Terapeuta evoca CRB2 e bloqueia CRB1

Ao tentarmos evocar CRB2, estamos certamente Para lidar com essa esquiva, o terapeuta pode
apresentando ao cliente uma situação difícil de lidar e reapresentar a situação, tentando deixar claro que
essa dificuldade faz parte de seus problemas. se trata de uma audiência não punitiva, por
exemplo, por meio da empatia: “Você pode falar
Quando o terapeuta observa sinais de desconforto e sobre o que está sentindo, mas não precisa se
pergunta a Carlos como ele se sente, este pode se pressionar. É importante entrarmos nos assuntos à
esquivar (CRB1) dizendo, por exemplo: “Ah, nada medida que você se sinta preparado para isso”.
não! Está tudo bem!”.
O terapeuta deve priorizar a relação mesmo que
A Regra 2 implica também bloquear esquivas para isso abra mão do bloqueio e permita esquivas,
classificadas como CRB1. deixando essa intervenção para outras
oportunidades futuras
Atenção: nem toda esquiva é um CRB1
Regra 3: Amor
Diz respeito às consequências dos comportamentos
clinicamente relevantes dos clientes

Habilidade 1: Terapeuta responde de modo genuíno

Reforçamento intrínseco na prática clínica


Respostas genuínas e expressões de afeto coerentes reforçam a melhora
do cliente
O comportamento do cliente produz resultados bem-sucedidos na sessão
O comportamento do cliente produz feedback positivo do terapeuta sobre
seu significado em termos de melhora
O comportamento do cliente produz o aprofundamento natural da relação
com o terapeuta.
Habilidade 2: Terapeuta se vulnerabiliza

Comportamentos vulneráveis incluem: compartilhar pensamentos e


sentimentos, incluindo sentimentos desagradáveis (tristeza,
vergonha), positivos (amor, proximidade, gratidão, esperança);
compartilhar memórias e segredos e aproximar-se fisicamente.

O terapeuta deve estar atento à função da vulnerabilização:


estreitar a relação, tornando-a terapêutica.
Regra 4 e 5: Behaviorismo
Evidencia a noção analítico-comportamental que está presente em
todas as regras da FAP.

Regra 4 O terapeuta deve se atentar e aferir os efeitos reforçadores das


consequências do comportamento de melhora (CRB2).

Regra 5 O terapeuta necessita generalizar os CRB2 para contextos fora da


terapia.

Preocupação com dois princípios comportamentais:


1. Ocorrência do reforçamento mediante ao aumento da frequência do comportamento.
2. A generalização necessita ser planejada.
Habilidade 1 : Analisa diferentes identificadores de
reforçamento
O responder só terá consequência reforçadora quando retroage no
aumento da frequência. Entretanto na clínica nem sempre podemos
esperar esse aumento para concluir algo.

O terapeuta não controla todas as variáveis que explicam a frequência do


comportamento do cliente.

Fatores que podem comprometer o critério da frequência:

Oportunidade para responder


Intervalo entre as sessões
Influência do comportamento verbal
No exemplo: O cliente Carlos solicitou uma mudança de horário das sessões, o terapeuta
aceitou o pedido com a intenção de reforçar esse comportamento. Pode demorar muito para
que o cliente faça novamente algum pedido e, por isso, esse não pode ser o único critério de
avaliação reforçador das intervenções.

Dois outros indicadores de reforçamento: Sentimentos e tendência


à ação do cliente.

Tendência à ação: capacidade de agir em determinada direção,


que pode ser investigada por perguntas diretas.

Os sentimentos costumam indicar contingências de reforçamento


positivo ou negativo.
Habilidade 2 : Terapeuta planeja a generalização

Uma das formas de promover a generalização na FAP são as tarefas de casa.

O terapeuta também pode orientar para ações ou reflexões ao longo da semana.

O planejamento é importante para evidenciar que a relação terapeuta-cliente visa


as mesmas mudanças fora da sessão, com as pessoas significativas.

No exemplo: A terapeuta de Carlos pode auxiliá-lo a identificar variáveis


envolvidas em: Como, quando e com quem, Carlos pode se comportar de
modo análogo ao CRB2 que adquiriu na sessão.

É necessário que o terapeuta auxilie o cliente para que, ele próprio, elabore
as metas graduais.
O AUTOCONHECIMENTO
DO TERAPEUTA:
SUPERVISÃO E TERAPIA
PESSOAL
“Terapeutas efetivos sempre estarão em contato com suas
próprias experiências emocionais e esta habilidade
representa tanto uma força quanto uma vulnerabilidade”
(Follette, 2000).

Fazer sua terapia é uma oportunidade para você se colocar no lugar


do cliente e perceber o impacto das intervenções de seu terapeuta,
de ampliar seu autoconhecimento e seu repertório e de ter um
momento em que as suas questões são prioridade, o que ajuda a não
misturá-las com os problemas de seus clientes.

0 terapeuta deve ter, em seu repertório de comportamentos, aquilo


que pretende ensinar. Isso é especialmente verdade no caso das
habilidades de (auto) observar, expressar e evocar emoções.
QUESTÕES DE PESQUISA
E DIRECIONAMENTOS
FUTUROS
Inicialmente, a FAP não foi desenvolvida a partir de
pesquisas que buscassem comprovar sua eficácia, mas
baseou-se em princípios comportamentais e pesquisa
aplicada, sendo fundamentada no Behaviorismo.

Alguns grupos de pesquisa ao redor do mundo se dedicaram a


investigar a validade da FAP, levantando questões como, por
exemplo, sobre sua efetividade na melhora do cliente, como ela
funciona no tratamento de transtornos, se a FAP seria mais eficaz
que as demais propostas e como ela pode ser associada às outras
propostas da terceira onda.
Öst (2007), através de uma revisão sistemática e Na pesquisa de Kohlenberg et al. (2002) observou-
metanálise, verificou que nenhuma das propostas da se melhores resultados na Terapia Cognitiva
terceira onda, dentre elas a FAP, preenchia todos os “aprimorada com a FAP” no tratamento de
critérios para que fossem consideradas como opção sintomas de depressão e melhora no
válida de tratamento. relacionamento interpessoal dos clientes, em
comparação com a Terapia Cognitiva tradicional.
Mangabeira, Del Prette e Kanter (2012), através de
Kohlenberg e Tsai (1994) afirmam que a FAP é uma
uma revisão sistemática sobre a FAP, encontraram
terapia integrativa, pois ao se alicerçar no
16 estudos de caso narrativos, 13 estudos com
Behaviorismo, se abre a diversos pontos de vista
melhores graus de validade interna, 5 estudos de
técnicos ou terapêuticos, ao se questionar sobre
sujeito único com delineamento experimental e
qual seria a melhor técnica a ser aplicada a
uma pesquisa de grupo, sendo a maioria dessas
determinado cliente em determinado momento da
publicações de origem brasileira.
terapia.
Por fim, a FAP tem sido utilizada de maneira integrada com
diversas propostas, como por exemplo, na Terapia de
Aceitação e Compromisso (que junto à FAP foi denominada
FACT), e a Ativação Comportamental (BA). Com a primeira, é
possível tratar de maneira integrada dificuldades inter e
intrapessoais. Sobre a Ativação Comportamental, autores
afirmam que sozinha, a mesma propõe técnicas instrutivas
para o cliente, ao invés de reforçar comportamentos de
melhora. Dessa forma, a integração com a FAP tem tornado a
BA “mais comportamental”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo uma proposta ainda muito nova na história da terapia comportamental (e
mais ainda, na história da psicoterapia), há muito que se investigar até que a
eficácia e a efetividade da FAP sejam validadas empiricamente. O integracionismo
da FAP é promissor e poderá ser uma solução criativa para que as pesquisas
continuem a desenvolvê-la sem abrir mão de sua coerência epistemológica. Dialogar
com outras psicoterapias poderá também ser fundamental para combater o
isolamento teórico em que muitas vezes se viu o Behaviorismo no âmbito das
psicologias. Poderá, ainda, ser uma maneira de aprendermos com outras
abordagens psicoterápicas e com algumas de suas temáticas, como sonhos e
questões existenciais, da morte ao sentido da vida.
Referência:

PRETTE, Giovana Del. Psicoterapia Analítico-Funcional. In: OLIVEIRA, Margareth


da Silva, et al. Terapias Comportamentais de Terceira Geração: guia para
profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015. p. 310-342.

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