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\ \ UM GUIA BÁSICO E PRÁTICO

P A R A I N I C I A N T E S N A T E R A P I A D E

A C E I T A Ç Ã O E C O M P R O M I S S O ( A C T )

ACT
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I N S T I T U T O C O N T I N U U M
ACT
Terapia da Aceitação e Aompromisso. Uma
terapia para criar flexibilidade comportamental

A ACT (Acceptance and Commitment Therapy ou Terapia da Aceitação e


Compromisso) surge no contexto das terapias da terceira geração (CLIQUE AQUI
PARA VER UM TEXTO SOBRE AS DIFERENÇAS DA PRIMEIRA, SEGUNDA E
TERCEIRA GERAÇÃO). Ela apareceu em um cenário que possibilitou revisitar a raiz
dos transtornos psicológicos tanto em sua formação quanto em sua alteração de
diferentes formas.

O cenário era mais ou menos assim:


o Havia dúvidas sobre a efetividade das terapias em curso, como a terapia cognitivo-
comportamental, por exemplo:
o Ao mesmo tempo, existia uma forte influência de um conceito radicalmente
funcional sobre o comportamento humano (que por muito tempo forneceu as leis
científicas sobre o papel das contingências no desenvolvimento, manutenção e
modificação de muitos comportamentos);
o Notava-se um aumento das investigações básicas em linguagem e cognição desde
uma perspectiva funcional (leia-se RFT – Teoria das Molduras Relacionais).

Explicando um pouco melhor, tratava-se de um contexto que combinava


questionamentos sobre os modelos terapêuticos vigentes e o aparecimento de
novos conhecimentos sobre o papel do comportamento verbal na vida das pessoas.
Duas áreas de influência que passaram a ser analisadas utilizando-se uma
perspectiva funcional e contextual do comportamento humano. O resultado disso foi
o surgimento de “um sistema terapêutico que (...): (1) parte de um quadro global
sobre as vantagens e desvantagens da condição humana, (2) mantém uma filosofia
contextual funcional e, portanto, assume pressupostos sobre o impacto das
contingências, (3) é coerente com um modelo funcional de cognição e linguagem
(RFT – Teoria das Molduras Relacionais), (4) sustenta uma nova visão de
psicopatologia, na qual o conceito funcional da esquiva de experiência destrutiva é
central, e (5) ressalta a conexão entre a pesquisa básica, psicopatologia e métodos
clínicos para avançar na prevenção e modificação de distúrbios psicológicos”
(LUCIANO et al., 2006, p. 177).

Ok. Entendemos então que a ACT parte da filosofia do contextualismo funcional, o


que está muito próximo de dizer que ela segue os preceitos do behaviorismo radical
(2). Ela também se baseia na perspectiva de que cognição e linguagem devem ser
entendidas a partir de uma lente funcional e que são dependentes do contexto em
que ocorrem (3). A ACT acredita que as funções que o comportamento verbal pode
adquirir às vezes levam a uma esquiva de experiências, o que é destrutivo (4). E por
fim, ela se baseia nos achados científicos e empíricos que sustentam toda análise do
comportamento como um todo (5).

É por isso que a ACT é considerada uma terapia contextual. E, como toda terapia
contextual, ela surgiu como uma tentativa da psicologia comportamental de
entender os impactos do comportamento verbal (linguagem e cognição) os nossos
comportamentos. Foi Willard Day, em 1973, o responsável para apontar a
importância desse conceito . Segundo Day, a sobrevivência do pensamento
comportamental dependia do entendimento de como funcionam e como acontecem
os comportamentos verbais dos humanos. E porque a linguagem e a cognição são
tão importantes? Porque é através da linguagem e da cognição que estabelecemos
relações entre comportamentos e ações. Portanto, dependemos da linguagem e da
cognição para atingir uma vida plena e com significado – um dos objetivos da ACT.
Talvez você esteja pensando, nesse momento: “O que é ACT, então? Eu ainda não
sei”. Sem problemas! Aqui vão alguns princípios básicos.
Princípios básicos da Acceptance and
Commitment Therapy (ACT)
A ACT parte de uma perspectiva de que pensamentos e sentimentos não causam
outras ações, exceto quando regulados pelo contexto . O objetivo da terapia passa,
então, da tentativa de dominar os pensamentos e sentimentos, para a busca de
estratégias que interfiram no contexto que leva a alguns tipos de relações. Ao final
de tudo isso, através da mudança dessas relações, o paciente consegue se
comportar de acordo com a vida que deseja ter.

Em suma, a ACT ajuda o paciente a fazer três coisas:


• Aceitar-se e aceitar os outros com compaixão
• Escolher objetivos de vida aliados a valores
• Comprometer-se com as ações que o levarão em direção aos seus objetivos de
vida

A Terapia da Aceitação e Compromisso ensina os pacientes que é normal “ter


quaisquer tipos de pensamentos e sentimentos indesejados em suas mentes e
corpos” (EIFERT; FORSYTH, 2005, p. 7, tradução nossa). Assim, os objetivos
principais da Terapia de Aceitação e Compromisso circulam em torno de ajudar o
cliente a se tornar capaz de viver uma vida plena e com significado, ao invés de
tentar ajudá-lo a se tornar melhor em viver uma vida sem sofrimento.

A ACT ajuda o paciente a se tornar capaz de viver uma vida plena e com
significado, ao invés de tentar ajudá-lo a se tornar melhor em viver uma vida
sem sofrimento.

E o que são valores? A ACT entende que os valores estabelecidos pelo cliente são
“reforçadores” estabelecidos verbalmente. Eles são os seus objetivos de vida.
Quando um sentimento indesejado aparece (e eles sempre aparecem!), a ACT
aponta que os comportamentos encobertos como suar frio ou “sentir-se um fracasso”
não devem, necessariamente, interferir nas ações que queremos tomar em direção à
vida que desejamos. O que guia as ações dos clientes deve ser apenas os valores
por eles estabelecidos. Não podemos escolher o que sentimos, mas podemos
escolher como lidar com os nossos sentimentos, concorda?

Portanto, o objetivo da terapia passa sempre por:


• Enfraquecer controles verbais disfuncionais (que trazem sofrimento)
• Entender que a linguagem é um tipo de comportamento verbal (definição funcional)
Terapia da Aceitação e Compromisso na Clínica
Analítico-Comportamental
Existem três conceitos que dão suporte teórico à ACT: o comportamento governado
por regras (Skinner), a equivalência de estímulos (Sidman) e a RFT (Hayes, Barns-
Holmes e Roche). Estes conceitos não serão debatidos em profundidade nesse
texto, mas vale dar uma olhada caso você queira se aprofundar. Conhecer esses
três conceitos ajuda muito na terapia analítico comportamental.

Na prática clínica, o terapeuta só pode ajudar o cliente durante o momento em que


está com ele. São 50 minutos por semana para fazer a diferença na vida do paciente
e só existem duas maneiras de ajudá-lo, de acordo com a ACT:

• Modelar novos comportamentos na própria interação com o cliente (estar atento


aos comportamentos relevantes durante a interação)
• Através da habilidade de interferir nos comportamentos governados por regras,
ajudar o paciente a formular autoregras mais adequadas e então, a partir disso,
colocar outros comportamentos sob controle dessas novas regras e estímulos
Parece que é pouca coisa, mas é realmente impactante! O psicoterapeuta é um
ouvinte especial, pois é positivo, reforçador e não-punitivo. Isso é diferente da
maioria das relações que o paciente tem fora da clínica, certo? A consequência
desse contato mais positivo é fazer com que o cliente se sinta à vontade para falar
sobre o que é mais doloroso para ele. Conviver com os encobertos “difíceis” e expor-
se às contingências aumenta o reforço positivo e acaba por extinguir os encobertos
indesejáveis, com o tempo.

É aí que entra a confiança. A confiança irá fazer com que o cliente se sinta mais à
vontade para se expor, para se arriscar mais. A confiança é um presente que se
estabelece no processo da terapia e que permite que o terapeuta crie um contexto
que aumente a probabilidade de que ocorram as mudanças comportamentais
necessárias para que o cliente supere seus problemas de vida.
O modelo da flexibilidade psicológica e o Hexaflex
O modelo da flexibilidade psicológica é um modelo de flexibilidade e adaptabilidade
humana com relevância clínica. Tratam-se de processos que se aplicam a um
grande número de problemas clínicos e a questões do funcionamento humano e sua
adaptação.

ESTAR
PRESENTE

ACEITAÇÃO VALORES

DESFUSÃO AÇÃO
COGNITIVA COMPROMETIDA

SELF COMO
CONTEXTO

Os 6 processos básicos da Terapia da Aceitação e Compromisso são :

Aceitação
É uma alternativa à esquiva experiencial. Trata-se de aceitar vivenciar emoções
desagradáveis geradas pelas palavras e pela história de vida do cliente (fusão). Por
exemplo, pacientes com ansiedade são ensinados a sentir a ansiedade como uma
resposta normal, sem tentar suprimi-la ou dominá-la.

Desfusão Cognitiva
Implica no desligamento da literalidade de algumas relações. A ACT tenta mudar a
forma como o paciente interage com seus pensamentos e sentimentos através da
criação de contextos nos quais essas relações disfuncionais são suprimidas.

Estar presente
Antecipar o futuro ou estar preso a experiências passadas é fonte de muito
sofrimento. Estar presente significa trocar o comportamento verbal por controle de
estímulos do ambiente atual – o presente. O self (ou seja, a noção que o paciente
tem de si mesmo) é visto como um processo dinâmica, algo que está sempre em
formação. Isso pode ser trabalhado através de exercícios de mindfulness.
O self como contexto
A noção de “eu” emerge de uma série de relações deíticas (relações que dependem
do ponto de vista de quem está falando). E essas relações são apenas relações
(Claro!). O terapeuta pode ajudar o cliente a enxergar a si mesmo como ponto de
partida para algumas relações.

Valores
A ACT usa uma série de exercícios para ajudar os clientes a orientarem diversas
partes de suas vidas aos valores que lhes são importantes. Ao mesmo tempo, a
Terapia da Aceitação e Compromisso ataca os processos verbais que possam levar
a escolhas baseadas na esquiva ou na fusão.

Ação comprometida
A ideia aqui é desenvolver padrões cada vez maiores de ação efetiva em direção
aos valores escolhidos pelo cliente. Quando o paciente detecta uma divergência
entre o que deseja e a maneira como se comporta e decide agir em direção aos
valores está se engajando em uma ação comprometida.

Às vezes a ACT – Terapia da Aceitação e Compromisso parece um pouco distante


do behaviorismo radical, embora já tenhamos visto que esse não é o caso. Isso
acontece porque quando Hayes criou a ACT, talvez ela tenha buscado um impacto
fora da análise do comportamento e por isso, ele não se preocupou em manter a
terminologia que a análise do comportamento utilizava até então. Se você é dos que
questiona essa relação entre a ACT e a análise do comportamento, não se
preocupe. Veio tudo do mesmo lugar.

O compromisso com a ação


Já deu para entender porque essa abordagem se chama de Terapia da Aceitação e
Compromisso, né? Quando o paciente/cliente se compromete com a ação, ele faz
tudo o que está em seu alcance para transformar sua vida de acordo com os valores
que gostaria de seguir.

E justamente por fazer tudo o que está em seu alcance, ele entende que precisa
aceitar algumas coisas. Ele compreende que algumas coisas estarão sempre fora do
seu controle e, mesmo assim, age. Ao agir e se expor, a ansiedade vai baixando e o
sofrimento também. Por fim, ao passo em que o sofrimento diminui, ele passa a ter
mais acesso a uma vida mais feliz.

A questão da aceitação não é algo sádico ou masoquista. Não aceitar o sofrimento


pelo sofrimento, mas sim identificar que, às vezes, o sofrimento aparece, mesmo. E
tudo bem.
Para saber mais:
ALVARÉZ, M. P. ( 2008 ) La Psicoterapia desde el Punto de Vista Conductista . Madrid. Biblioteca Nueva.

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relação terapêutica no tratamento de transtornos de ansiedade e de personalidade. In: RANGE, B. (Org.). Psicoterapias
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S. andre. SP.

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CONTEXTUAL DE PSICOTERAPIA - FOCAD –PRIMEIRA
EDIÇAO do 2 – JANEIRO-ABRIL 2008 Oviedo . Espanha

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Psicoterapia Analitico Funcional (FAP) – Consciência , Coragem, Amor, e Behaviorismo – 2011 – Ed. Esetc / Springer - Brasil .

INSTITUTO CONTINUUM
www.institutocontinuum.com.br
(43) 3323-5500

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