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Aula - ACT x TCC: diferenças e similaridades

Tanto a ACT quanto a TCC clássica pertencem ao grupo das terapias cognitivas e
comportamentais. Contudo, a ACT entende o conceito de comportamento de forma
mais ampla do que a TCC. Isso porque, para a ACT, tudo o que um ser humano faz
é comportamento, seja um pensamento ou emoção. A questão é que, na ACT, o
comportamento pode ser classificado em evento privado ou evento público.

Ambas as abordagens são baseadas em teorias do funcionamento humano que,


embora diferentes, fornecem um contexto para ver as cognições como produto
desse respectivo sistema, em vez de uma articulação de verdades inatas. Há
também uma visão compartilhada de que as respostas automáticas e rígidas à
experiência se tornam inúteis para o indivíduo e reforçam os problemas de uma
forma ou de outra, seja conceituada como um ciclo vicioso ou como um
estreitamento de repertórios comportamental e afastando-se da vida valorizada.
Além disso, uma diferença teórica fundamental é o grau de ênfase dado às
cognições em causar diretamente problemas emocionais (HERBERT; FORMAN,
2013; HAYES, 2008).

BASES FILOSÓFICAS DIFERENTES

A TCC padrão baseia-se na teoria do processamento de informações que propõe


que cognições (pensamentos, imagens, percepções de eventos, suposições e
crenças) têm uma relação diretamente causal com respostas emocionais e
comportamentais (BECK, 1976).

As cognições podem, portanto, ser entendidas como produto de um sistema de


processamento de informações defeituoso e não como verdades em si mesmas.
Enquanto outros aspectos da experiência estão incluídos em modelos teóricos, a
primazia é dada ao papel das cognições na explicação das dificuldades emocionais.
Isso unifica protocolos de tratamento para uma série de transtornos e explica o foco
na mudança de cognições características da TCC padrão.
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Ao contrário da maior parte das outras psicoterapias, a ACT parte de um


pressuposto filosófico diferente. Essa filosofia é chamada de Contextualismo
Funcional. Nessa visão, não se pode avaliar nada separando um elemento do seu
contexto. Sejam pessoas, pensamentos, comportamentos, tudo é visto
considerando a função exercida dentro de um contexto específico.

FORMAS DE INTERVENÇÃO

Verdade por correspondência x verdade pragmática (operacionalidade)

A intervenção na TCC se baseia numa verdade por correspondência. Ou seja,


verifica-se se o conteúdo dos pensamentos corresponde com a realidade. Dessa
forma, o objetivo da intervenção é modificar o conteúdo do pensamento disfuncional
(reestruturação cognitiva) e, na sequência, mudar o comportamento para um mais
funcional.

Na ACT, vamos analisar um comportamento a partir da sua operacionalidade. Ou


seja, tudo é visto através do contexto já que, para a ACT, não há uma verdade
lógica e sim o que funciona. Dessa forma, a verdade estará condicionada aos
nossos objetivos e valores. Portanto, o comportamento será analisado de acordo
com sua utilidade e capacidade de aproximar o paciente a uma vida significativa e
com valor. Dessa forma, o objetivo da intervenção não está na mudança do
conteúdo do pensamento e sim em alterar a relação do paciente com o pensamento
dele.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A TCC E A ACT

A ACT não enxerga as pessoas, pensamentos ou emoções como


disfuncionais

Para a ACT, nada pode ser visto fora do seu contexto. Então, não faz sentido rotular
pessoas, pensamentos ou comportamentos como disfuncionais, errados ou
“patológicos” por si só. Deve-se entender para que eles servem, ou qual a função
deles dentro do contexto do paciente.

A ACT não busca reduzir sintomas


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O objetivo da TCC padrão é reduzir, regular ou eliminar o sofrimento emocional, e


os sintomas cognitivos, emocionais, fisiológicos e comportamentais dessa angústia,
a fim de melhorar o bem-estar e ajudar os indivíduos a funcionar melhor em suas
vidas (HOFMANN; ASMUNDSEN, 2008; HOFMANN; AMUNDSEN; BECK, 2013;
ARCH; CRASKE, 2008).

Já a ACT entende que o sofrimento faz parte da vida. Nessa visão, é totalmente
natural se sentir ansioso, triste ou desanimado, dependendo do contexto. A ACT só
verá esses pontos como problemáticos quando eles impedirem a pessoa de viver a
vida que ela considera significativa.

A ACT não busca mudar o conteúdo de pensamentos

O foco na ACT é alterar o contexto ou função de uma cognição (e não o seu


conteúdo), enquanto na TCC o foco está na alteração do conteúdo das cognições
(reestruturação cognitiva). Portanto, na ACT, não se questiona o conteúdo dos
pensamentos, propõe-se uma mudança na relação que se tem com os
pensamentos e com outros eventos internos.

A TCC é focada em metas e a ACT dá maior ênfase aos valores

A TCC costuma ser orientada para a resolução de problemas psicológicos. Dessa


maneira, pretende-se que a pessoa consiga funcionar melhor dentro daquilo que é
visto como normal ou adequado. Já na ACT, a busca não é por resolução de
problemas e sim por auxiliar a pessoa a viver mais próxima dos seus valores que
são o norte da terapia e são estabelecidos pela pessoa atendida, não pelo
terapeuta. Sendo assim, o papel da terapia é aproximar a pessoa de seus valores,
ao mesmo tempo que trabalha maneiras de conviver com o sofrimento natural da
vida.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ARCH, J. J.; CRASKE, M. G. Acceptance and commitment therapy and cognitive


behavioural therapy for anxiety disorders:different treatments, similar mechanisms?
Clinical Psychology, v. 4, p. 263-272, 2008.

BECK, A. T. Cognitive Therapy and the Emotional Disorders. New York:


International Universities Press, 1976.
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HARLEY, J. Bridging the Gap between Cognitive Therapy and Acceptance and
Commitment Therapy (ACT). Procedia - Social And Behavioral Sciences, [S.L.], v.
193, p. 131-140, jun. 2015. Disponível em: https://shre.ink/1qzT. Acesso em: 16 nov.
2022

HAYES, S. C. Climbing Our Hills: A Beginning Conversation on the Comparison of


Acceptance and Commitment Therapy and Traditional Cognitive Behaviour Therapy.
Clinical Psychology: Science and Practice, v. 15, n. 4, p. 286-295, 2008.

HERBERT, J. D.; FORMAN, E. M. The differences between CT and ACT may be


larger (and smaller) than they appear. Behaviour Therapy, v. 44, pp. 218-223,
2013.

HOFFMANN, S.; ASMUNDSEN, J. G. Acceptance and mindfulness-based therapy:


new wave or old hat? Clinical Psychology Review, v. 28, p. 1-6, 2008.

HOFFMANN, S.; ASMUNDSEN, J. G.,; BECK, A. T. The Science of Cognitive


Therapy. Behaviour Therapy, v. 44, p. 199-212, 2013.

HOFMANN, S. G; SAWYER, A. T; FANG, A. The empirical status of the "new wave"


of cognitive behavioral therapy. Psychiatr Clin North Am., v. 33, n. 3, p. 701-10,
set. 2010. 2010 Sep;33(3):701-10. Disponível em: https://shre.ink/1qzz. Acesso em:
16 nov. 2022.

MELO, W. V.; OLAZ, F.; PERGHER, G. K. Terapia de aceitação e compromisso. In:


NEUFELD, C. B.; FALCONE, E. M. O; RANGÉ, B. P. (Orgs.), Procognitiva:
Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: ciclo 5. v. 1, p.
109–50, Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2018. Disponível em:
https://shre.ink/1qzy. Acesso em: 16 nov. 2022.

NILES, A. N; et al. Cognitive Mediators of Treatment for Social Anxiety Disorder:


Comparing Acceptance and Commitment Therapy and Cognitive-Behavioral
Therapy, Behavior Therapy, [S.L.], v. 45, n. 5, p. 664-677, set. 2014. Disponível em:
https://shre.ink/1qzn. Acesso em: 16 nov. 2022.

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