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Princípios Básicos de Análise do Comportamento I

P R O F. P S I C . L U C A S AV E L A R D E O L I V E I R A
Tópicos da Aula

• As análises do comportamento: experimental, aplicada e behaviorismo


radical.

• História da Análise do comportamento

• Princípios filosóficos do behaviorismo

• O condicionamento respondente

• O condicionamento operante – seleção pelas consequências

• Atividade
Destrinchando – O que é Behaviorismo?

• Behaviorismo – ideia central: “é possível uma ciência do


comportamento” (Baum, 2006)

• O behaviorismo propõe que o objeto de estudos da


psicologia deve ser o comportamento e que a psicologia é
parte das ciências naturais, sendo um ramo da biologia
(Matos & Tomanari, 2002)
• O pensamento científico é relativo e provisório,
depende da observação
• A ciência se ocupa do universo natural e não de
entidades não-físicas (sobrenatural)
• Surgimento da psicologia objetiva: testes
psicométricos para avaliar estados mentais
• Psicologia comparativa: observação de animais e
inferências de seus estados de consciência

• Influência da teoria da evolução sobre a


psicologia

• As espécies se assemelham umas às outras por


compartilharem uma história evolutiva
A Análise do Comportamento

• Ela se divide em três áreas importantes que se correlacionam e interagem


entre si

• Uma filosofia da ciência que se ocupa em dizer como a psicologia deve


ser e quais seus métodos – o behaviorismo radical

• Uma ciência experimental que se ocupa de usar esses métodos em estudos


com sujeitos humanos e infra-humanos na pesquisa básica por meio da
manipulação de contingências – a análise experimental do
comportamento
• Uma ciência aplicada que usa os resultados da pesquisa básica em
intervenções socialmente úteis em vários contextos (educação, clínica,
saúde, etc) – a análise aplicada do comportamento (nós estamos aqui)

• O trabalho do analista do comportamento depende desse intercâmbio entre


pesquisa-aplicação

• A reflexão ao longo desse processo é essencial e entra em ação o papel da


pesquisa conceitual (behaviorismo radical)

• A interrelação entre estas três áreas constitui a ciência da análise do


comportamento
O Behaviorismo
Metodológico
John B. Watson

1878 - 1958
• Escreveu o manifesto “Psychologiy as the behaviorist views it” que
funda o behaviorismo metodológico

• Esta corrente ataca tanto a psicologia objetiva como a psicologia


comparativa

• A psicologia deveria ser uma ciência do comportamento

• Portanto, deveria evitar termos tradicionais como consciência, mente e


evitar a subjetividade, isto é, tudo que não pudesse ser observado

• Preocupação maior com métodos naturais


O behaviorismo
radical

B. F. Skinner
1904-1990
• O behaviorismo radical se conforma a tradição filosófica do pragmatismo

• O critério da verdade é a utilidade daquilo que o conhecimento permite fazer

• Ou seja, o foco está nas consequências das respostas aos problemas, tal que, se a
resposta não leva a mudança prática logo a pergunta não merece atenção

• O behaviorismo é antimentalista

• O mentalismo é um conceito que não explica nada ao atribuir as causas do


comportamento a entidades fictícias ou ficções explanatórias, em especial o conceito
de mente
• A mente não é um evento natural, não é observável, ela é um
artifício da linguagem cotidiana para explicar o
comportamento

• O comportamento privado é aquele em que apenas o


indivíduo que se comporta tem acesso. Por exemplo nossos
pensamentos (falar privadamente). As mesmas regras dos
comportamentos públicos se aplicam a ele: as causas estão no
ambiente
• O behaviorismo é determinista, isto é, concebe que os nossos
comportamentos são determinados pela hereditariedade (herança genética)
e nossa história de interações com o nosso ambiente

• É selecionista, pois segue o princípio da teoria da evolução de variação e


seleção pelo meio das respostas por meio das consequências da ação

• É histórico, porque os processos de variação e seleção ocorrem ao longo


do tempo no presente e no passado
Os três níveis de seleção
• Nível filogenético – história da espécie, padrões comportamentais da nossa
espécie que favorecem nossa sobrevivência, musculatura vocal sob controle
operante, capacidade de aprender novas respostas

• Nível ontogenético – história individual de interações do organismo com seu


ambiente, forte atuação do condicionamento operante/contingências de reforço

• Nível cultural – contingências que afetam mais de uma pessoa e a transmissão


de comportamentos (práticas culturais) entre gerações
O reflexo inato
• É um tipo de interação entre um organismo e seu ambiente

• Nós somos dotados de padrões de comportamento que não necessitam de aprendizagem,


“nascemos com”, isto é, são comportamentos importantes à nossa sobrevivência que
foram selecionados pela nossa espécie

• Estímulo mudança no ambiente ou parte dele

• Resposta mudança no organismo

• Uma mudança no estímulo elicia (produz) uma resposta

• S1 R1 (o estímulo 1 elicia a resposta 1)


Exemplos de
comportamentos
reflexos

• Retirado de Moreira e Medeiros (2007)


Condicionamento respondente
• Os reflexos também podem ser aprendidos em um processo chamado
condicionamento respondente

• Quando um estímulo neutro é apresentado logo após um estímulo incondicionado


(emparelhamento), o estímulo neutro passa a eliciar a resposta (resposta
incondicionada)

• Após a aprendizagem, o estímulo neutro passa a eliciar a resposta sem o estímulo


incondicionado, sendo tal resposta chamada de reflexo condicionado, enquanto o
estímulo neutro se torna um estímulo condicionado

• Emparelhamento é apresentar um estímulo seguido do outro


O Cão de Pavlov
Retirado de Moreira e
Medeiros (2007)
O condicionamento
respondente
• O condicionamento respondente explica o porquê (em
parte) temos emoções como medo, angústia, ansiedade,
raiva e outras

• As nossas emoções são respostam importantes que


auxiliam a nossa sobrevivência ao nos prepararem
rapidamente para inúmeras situações

• Podemos aprender a sentir emoções diante de situações


que não eliciavam esse sentimento
• Quando o estímulo condicionado é apresentado
repetidas vezes sem o estímulo incondicionado
acompanhá-lo ocorre um processo chamado
extinção respondente

• Nele, a resposta perde a força e o estímulo não


mais elicia aquele comportamento respondente
Vídeo – o pequeno albert
O condicionamento operante – a seleção pelas
consequências
• O condicionamento operante nos ajuda a entender a maior parte das nossas ações,
desde as nossas escolhas, o modo como falamos e até o porquê somos da maneira
do que somos

• O comportamento operante recebe esse nome por produzir mudanças no ambiente,


isto é, ele opera no seu meio ao produzir consequências

• Essas consequências são mudanças no ambiente que, por sua vez, podem
influenciar as próximas ocorrências do comportamento

• Aqui dois processos são muito atuantes: variação e seleção


• Dizemos que as consequências influenciam o comportamento, isto é, o
controlam

• Controlar ou manipular significa tornar uma resposta mais ou menos


provável

• Algumas consequências fazem o comportamento voltar a ocorrer diante do


mesmo contexto ou situação, elas são chamadas de reforçadoras

• Outras, por outro lado, fazem com que o comportamento deixe de ocorrer
diante das mesmas situações, elas são chamadas de punidoras ou
aversivas
• Podemos descobrir qual o tipo de consequência em ação olhando para
o passado

• Ou seja, devemos olhar para a história de interações do indivíduo e


observar as mudanças na ocorrência do comportamento, em sua
probabilidade dele voltar a ocorrer

• Fazemos isso por meio de uma ferramenta chamada análise funcional

• As consequências não apenas afetam comportamentos adequados, mas


age sobre os inadequados também
• Por exemplo, o comportamento de birra de uma criança
ou a agressividade de uma criança com TEA

• Se as consequências podem afetar qualquer resposta,


então o analista do comportamento pode programar
consequências especiais para alterar o comportamento
em determinados contextos
O reforço

• O reforço é um tipo de consequência no qual a mudança do


ambiente aumenta a chance do comportamento voltar a
ocorrer

• As relações entre organismo e ambiente que resultam em uma


maior chance da resposta voltar a ocorrer recebem o nome de
contingência de reforço
A tríplice contingência

S (antecedente) R (resposta) S (consequência)

O antecedente ou situação X é ocasião para a ocorrência


da resposta Y cuja consequência é o estímulo Z
• Na literatura, a tríplice contingência pode ser
chamada de “modelo A-B-C” ou ser encontrada
da seguinte forma: A – C – C (antecedente –
comportamento – consequência)

• Todas as formas estão corretas, as letras mudam a


depender da tradução
Reforço natural vs reforço arbitrário
• Reforço natural é aquele que é uma consequência direta do próprio
comportamento. Por exemplo: uma criança que organiza os brinquedos e tem o
quarto arrumado

• Reforço arbitrário é aquele em que a consequência do comportamento é indireta


e, em geral, dada por outra pessoa. Por exemplo: um pai que diz ao filho para
guardar os brinquedos porque se assim ela o fizer ele dará um chocolate

• O reforçador natural sempre será a preferência, porém o reforço arbitrário é útil


como transição ou para aumentar a chance de uma resposta pouco provável
ocorrer. Deve, portanto, ser usado de maneira temporária
Outros efeitos do reforçamento

• Além do reforço aumentar a frequência do comportamento que ele sucede, existem


dois efeitos também importantes

• O reforço diminui a frequência de outros comportamentos diferentes do


comportamento reforçado. Por exemplo: ensinar a criança a fazer pedidos diretos
(falar educadamente) pode diminuir a frequência direta da birra

• O reforço diminui a variabilidade da topografia (forma) do comportamento reforçado.


Por exemplo: na medida em que uma criança aprende a andar de bicicleta, a forma
como ela anda (pedala, puxa o freio, vira o guidão, etc) se torna cada vez mais
parecida
A extinção operante
• Extinção operante é o nome do procedimento no qual o reforço é suspenso e a
frequência do comportamento reforçado cai ao mesmo nível de antes da introdução
do reforçador

• Os efeitos do reforço são temporários

• Quanto mais um comportamento dura, seja em tentativas ou intensidade após a


suspensão do reforço, maior é a resistência à extinção

• Em outras palavras, pessoas resistentes à extinção seriam tidas como perseverantes


Fatores que influenciam na resistência à
extinção
• O porquê alguns comportamentos são mais resistentes à extinção que outros está na
história de aprendizagem ou repertório comportamental

• Há três fatores que influenciam na resistência à extinção

• 1. o número de reforçadores: quanto mais, mais difícil é a extinção

• 2. custo da resposta: quanto mais difícil emitir uma resposta, menor é a resistência à
extinção

• 3. esquemas de reforçamento: se ora o comportamento é reforçado e ora não, mais


resistente à extinção ele fica
• Quando um comportamento já extinto no repertório
aumenta de frequência mesmo sem a apresentação do
reforço, temos um caso de recuperação espontânea

• Contanto que o comportamento não seja reforçado, sua


frequência naturalmente volta a cair e a chance de outras
recuperações espontâneas diminuem
Outros efeitos da extinção
• Durante o processo de extinção ocorre a curva de extinção: a frequência do
comportamento inicialmente aumenta, mas começa a cair até cessar com
a passagem do tempo
• A variabilidade comportamental aumenta: o
comportamento começa a modificar-se. Ex: tentar
apertar, bater no controle remoto sem pilha
• Eliciação de respostas emocionais: conforme o
processo de extinção ocorre, surgem sentimentos
como raiva, medo, ansiedade entre outros
A modelagem
• Os comportamentos que aprendemos surgem de outros comportamentos que já
existem no nosso repertório comportamental

• A modelagem é um procedimento que ensina novos comportamentos por meio do


reforço diferencial de aproximações sucessivas

• O reforço diferencial consiste em reforças algumas respostas e colocar outras em


extinção, sendo que o reforço é dado para as respostas que se aproximam
gradualmente do comportamento final desejado, o que é chamado de aproximações
sucessivas

• Quanto mais imediato um reforçador é liberado para um comportamento, mais eficaz


ele é
Vídeo – Skinner e a modelagem
O controle aversivo
• Outras consequências possíveis
para o comportamento: reforço
negativo, punição positiva e
punição negativa
• O controle do comportamento é aversivo quando o organismo se comporta para que
algo não aconteça

• Os organismos tendem fugir ou se esquivar do que é aversivo

• O controle aversivo atua na frequência do comportamento. As consequências


punidoras diminuem a frequência do comportamento e sua probabilidade, enquanto o
reforço negativo aumenta os comportamentos que retiram os estímulos aversivos

• Estímulos aversivos são, portanto, aqueles que reduzem o comportamento ou


aumentam a frequência do comportamento que os retiram (reforço negativo)
Contingências de reforço negativo
• Aquela em que a consequência é retirar um estímulo do
ambiente

• O estímulo retirado é chamado de reforçador negativo

• Exemplo de contingência de reforço negativo: diante de uma


dor de cabeça (ocasião), eu tomo um remédio (resposta) para
diminuir a dor de cabeça (retirada do estímulo, reforçador
negativo)
A fuga e a esquiva
• São dois comportamentos mantidos por contingências de reforço negativo

• A fuga ocorre quando o aversivo já está presente no ambiente e o comportamento


retira ou suprime o estímulo aversivo no ambiente. Por exemplo: tomar remédio,
se retirar de uma discussão, abandonar uma tarefa difícil

• A esquiva ocorre quando o comportamento adia ou evita o contato com o estímulo


aversivo. Por ex: fazer uma revisão do carro, não ir a uma festa onde possa
encontrar alguém desagradável, procrastinar, evitar sair de casa para evitar situações
de desconforto social
• Em resumo, podemos separar um do outro de uma forma simples

• Os comportamentos de esquiva são aqueles que previnem


alguma situação aversiva

• Os comportamentos de fuga são aqueles que remediam uma


situação na qual já existe um estímulo aversivo presente
• “Prevenir é melhor que remediar” como diria o ditado popular
Punição
• A punição é um tipo de consequência que torna a ocorrência do
comportamento menos provável

• A punição positiva ocorre quando um comportamento produz uma


consequência (acrescenta um estímulo) que reduz a sua ocorrência futura.
Ex: levar uma multa de trânsito ao dirigir em alta velocidade

• A punição negativa ocorre quando o comportamento produz uma


consequência que retira um reforçador presente. Ex: dirigir embriagado e
perder a carteira de motorista
Quando há quebra da contingência de punição, o
comportamento volta a ocorrer, a chamada
recuperação da resposta

Um dos trabalhos da terapia é fazer o


cliente voltar a se expor às contingências
Efeitos do uso do controle aversivo
• Eliciação de respostas emocionais

• Quem pune acaba se tornando estímulo condicionado que elicia respostas


emocionais no organismo punido

• Supressão de outros comportamentos além do comportamento punido. Ex: um


terapeuta que pune certos relatos do cliente pune outros comportamentos como ir à
terapia

• Ocorrência de contracontrole, quando o organismo emite uma resposta que impede


que o agente controlador mantenha o controle sobre ele. Ex: mentir como forma de
evitar a punição, greve de trabalhadores contra péssimas condições de trabalho
Alternativas à punição
• Uso do reforço positivo

• Preferir à extinção a punição

• Uso de reforço diferencial

• Aumentar a densidade de reforços para comportamentos


alternativos (diferentes do comportamento indesejável)
Atividade
• Leia as sentenças a seguir e coloque ao lado o princípio da análise do
comportamento correspondente:

• 1. Exemplo: os nossos sentimentos são exemplos de comportamentos ( )

• 2. Quando o controle da TV não funciona e você aperta diversas vezes


mesmo que não haja efeito nenhum ( )

• 3. Uma criança que, ao levar um susto ao ver um filme de terror a


noite passa a ter medo do escuro ( )
• 4. O acompanhante terapêutico ignora completamente o comportamento de
birra da criança durante a aula e ela tenta chamar sua atenção de formas cada
vez mais intensas até ficar quieta ( )

• 5. Um aluno faz um pedido apropriado ao terapeuta e ele entrega o objeto de


interesse que esse aluno pediu prontamente ( )

• 6. Quanto ao tipo de reforçador, seja natural ou arbitrário, indique conforme as


situações abaixo:

• 6.1. Um aluno recebe do acompanhante terapêutico um “parabéns” após


concluir a atividade, o parabéns é um reforçador _____________
• 6.2 Este mesmo aluno, após fazer as tarefas em casa, percebeu que as concluiu. A
conclusão das tarefas é um reforçador _____________

• 7. Um clientinho que, para evitar fazer as atividades da escola, se jogava no chão


e, com a intervenção terapêutica, diminuiu a frequência, porém, o
comportamento voltou a surgir sem uma aparenta razão para isso ( )

• 8. Quando o terapeuta usa a extinção operante para lidar com um inadequado


porém o comportamento está demorando muito a cessar ( )

• 9. É um tipo de intervenção na qual o terapeuta atende pedidos adequados da


criança (com educação, pedidos diretos) e ignora aqueles inadequados (gritos,
birra, pegar a mão do terapeuta ( )
• 10. Quando o terapeuta faz caretas e a criança ri involuntariamente ( )

• 11. O terapeuta planejou uma intervenção cujo o objetivo é fazer a


criança pedir à criança ir ao banheiro. No começo, ele atendia os
pedidos com gestos da criança (apontar o banheiro), em seguida falar
banheiro até chegar à resposta final banheiro (quero banheiro) ( )

• 12. O modelo de três termos é chamado de ( )

• 13. A consequência que diminui a freqüência do comportamento é ( )


• 14. Tipo de controle que atua para diminuir a frequência do
comportamento ou aumentar a frequência de
comportamentos que retiram estímulos aversivos

• 15. Uma alternativa ao uso de punição é usar


Referências

• Baum, W. M. Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. 2 ed. Porto


Alegre: Artmed, 2006

• Matos, M. A., Tomanari, G. Y. A análise do comportamento no laboratório didático.


Manole: Barueri, 2002

• Moreira, M. B., Medeiros, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto


Alegre: Artmed, 2007

• Skinner, B. F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003

• Todorov, J. C. O behaviorismo radical e a análise experimental do comportamento.


Universidade de Brasília
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