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APOSTILA

THS:
AVALIAÇÃO
ACADEMIA DO AUTISMO

THS: AVALIAÇÃO
por Mariana Cervi
HABILIDADES SOCIAIS

As habilidades sociais, de acordo com Caballo (2003), podem ser definidas como
um conjunto de comportamentos que permitem que o indivíduo tenha sucesso em suas
interações sociais, e ressalta que isso pode variar entre as diferentes culturas. Aquilo
que é considerado esperado, ou mesmo adequado, em um determinado país, religião,
classe social ou entre homens e mulheres, adolescentes e adultos, pode ser considerado
inadequado em um outro contexto.

Além das divergências culturais, deve-se considerar também as diferentes perso-


nalidades, as regras individuais e as diferenças de contexto dentro de uma mesma cultu-
ra, como a diferença entre se conversar com um amigo e com o chefe. Não há nada de
errado em ser tímido ou reservado, desde que o indivíduo consiga atingir os seus obje-
tivos pessoais com autonomia, ainda que com dificuldade, o que não é incomum entre
nós, seres humanos. Ou seja, ser socialmente hábil nada mais é do que analisar de ma-
neira eficiente o contexto em que se está inserido e comportar-se de maneira apropri-
ada (generalizando1 e discriminando2) em cada contexto.

Segundo Rimm e Masters (1983), o comportamento socialmente hábil é também


predominantemente assertivo, preocupando-se ao mesmo tempo consigo próprio e
também com o seu interlocutor, além de permitir a expressão clara de desejos, opiniões
e insatisfações. Todos esses pontos tendem a aumentar a probabilidade de reforça-
mento natural3, o que contribui para a manutenção de tais comportamentos. Os pontos
principais do comportamento assertivo, que se relacionam diretamente entre si, são:

1. Sinceridade. Expressão de qualquer sentimento/opinião.


2. Objetividade. O objetivo é descontar a raiva ou resolver o problema? Evitar ge-
neralizações: "sempre", "nunca", etc.
3. Resposta eficaz mínima. Ser o mais eficiente possível, assim, causando o mínimo
de dano.
4. Consideração pelos sentimentos do outro.
5. Uso apropriado de não verbais (expressão facial, tom de voz, postura).
6. Prática no uso do "eu". Assumir a autoria das opiniões.
7. Aceitar elogios e críticas.

1
Diz-se que uma pessoa generalizou um determinado comportamento quando ele se mantém ao longo
do tempo e se repete em diversos ambientes, englobando comportamentos relacionados. Para escrever,
por exemplo, não precisamos conhecer todas as canetas do mundo, pois generalizamos o comportamento
de escrever, independente da ferramenta (Cooper, Heron e Heward, 2020).
2
Discriminar, por sua vez, é quando entre uma caneta e um canudo, eu não tento tomar suco com o
primeiro, nem escrever com o segundo, apesar das semelhanças físicas, pois somos capazes de discriminar
tais objetos (Cooper, Heron e Heward, 2020).
3
Aquilo que faz com que o comportamento aumente de frequência, normalmente ligado a atingir um
determinado objetivo. Por exemplo: uma criança diz "mamãe" por querer que ela se aproxime, e isso faz
com que a mãe a pegue no colo; a probabilidade desse comportamento se repetir novamente no futuro
em condições semelhantes aumenta e dizemos que ele foi reforçado (Cooper, Heron e Heward, 2020).
Os pontos que compõem o comportamento assertivo precisam ser compreen-
didos em conjunto. Se uma pessoa se expressa de maneira clara e objetiva, mas sem
se preocupar com o outro, ela provavelmente será rude ou agressiva. Tais habilidades
servem como base para o desenvolvimento de habilidades mais complexas. Rimm e
Masters (1983) apresentam uma lista de habilidades sociais essenciais para o estabe-
lecimento e a manutenção das relações interpessoais, e que devem ser consideradas em
seus diferentes contextos: amigos, família, trabalho, entre outros. Cada contexto exige
diferentes detalhes (vocabulário formal e informal, por exemplo) para cada uma das
habilidades citadas abaixo.

1. Recusar/fazer um pedido/convite.
2. Fazer/responder perguntas.
3. Elogiar/receber elogios.
4. Pedir/aceitar desculpas.
5. Expressar medo, insatisfação, incômodo, confusão, falta de conhecimento, falha.
6. Expressar interesse romântico.
7. Fornecer/solicitar/aceitar críticas construtivas.
8. Iniciar/continuar/encerrar conversa.
9. Insistir, resistir, cobrar, discordar, discutir, solicitar mudança de comportamento.
10. Narrar/ouvir eventos.

Além do comportamento assertivo, existem outros três possíveis padrões: agres-


sivo, passivo e passivo-agressivo. Compreender tais comportamentos é importante não
apenas para tomar consciência do seu uso e dos seus prejuízos para os relacionamentos,
mas também para aprender a identificá-los nos outros e saber como agir.

1. Padrão de comportamento agressivo: Não considera os direitos do outro e faz


uso de coerção para atingir os seus objetivos. Embora seja considerado como
socialmente repreensível, acaba sendo reforçado por seus interlocutores, que
podem optar por evitar o confronto direto.

2. Padrão de comportamento passivo: Deixa seus próprios direitos de lado, pode


não se defender, ter dificuldade em dizer "não" aos outros e não expressar suas
emoções, insatisfações e desejos.

3. Padrão de comportamento passivo-agressivo: Busca causar sentimento de cul-


pa no outro, ou seja, agredi-lo de certo modo, mas comportando-se de maneira
semelhante ao comportamento passivo.

No entanto, é importante destacar que as habilidades sociais superam o compor-


tamento assertivo, podendo incluir outras habilidades, como: resolução de problemas,
cooperação, etiqueta, modo de vestir, padrões de beleza, e assim por diante. Não é di-
fícil compreender como tais habilidades interferem no relacionamento interpessoal.
Seguir protocolos sociais costuma facilitar a convivência, isso quando não são aberta-
mente exigidos, sob pena de punição social caso desrespeitados, por exemplo, ao vestir-
-se de determinada maneira no trabalho, diferente da maneira como se vestiria em casa,
e correndo o risco de ser advertido caso não o faça.

Ter conhecimento sobre as regras sociais, sobre aquilo que é esperado, é essen-
cial até mesmo para confrontar essa norma, que é mutável, construída. No caso da em-
presa, por exemplo, temos atualmente empresas com dress code4 casual, permitindo
que cada funcionário se vista da maneira como se sente melhor. Não é necessário acei-
tar o status quo5, mas é importante ter conhecimento dele e das consequências de ques-
tioná-lo, e preparar-se para enfrentá-las, se preciso.

4
Vestimenta apropriada para cada ocasião (tradução livre).
5
Estado atual, socialmente aceito (tradução livre).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CABALLO, V. E. Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. 1ª


ed. Santos, 1996.

COOPER, J. O.; HERON, T. E.; HEWARD, W. L. Applied Behavior Analysis. 3ª ed. Hoboken:
Pearson, 2020.

RIMM, D. C.; MASTERS, J. C. Terapia comportamental: técnicas e resultados experimen-


tais. 2ª ed. Manole Ltda., 1983.
FICHA TÉCNICA

Colaborador: Mariana Cervi.


Equipe técnica: Fábio Coelho, Chaloê Comim e Guilherme Baptista.
Revisão e edição: Débora Araujo e Victor Cardoso.
Design e layout: Agência B42 e Academia do Autismo.

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Exemplo: COELHO, F. Introdução ao Transtorno do Espectro Autista. Academia do


Autismo, São Pedro da Aldeia, p. 3-4, 2022.

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