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Comportamento Social no Behaviorismo Radical

O presente post trata de um resumo do Capítulo XIX (Comportamento social) do Livro


Ciência e Comportamento Humano de B. F. Skinner.

Comportamento social

De acordo com B. F. Skinner o comportamento social constitui-se do comportamento de


duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em relação ao ambiente comum. Os
métodos das ciências naturais seriam capazes de explicar o comportamento social do
indivíduo, uma vez que o comportamento por si só é sempre de um único organismo e
ocorre por meio dos mesmos processos utilizados em uma situação não-social. Sendo
assim, explicar o comportamento de pessoas em grupos não requer novas terminologias
ou a pressuposição de novos processos ou princípios. Buscar uma teoria simples e
objetiva é o caminho mais adequado no desenvolvimento científico e no caso da teoria
comportamental, é possível, com poucos pressupostos, explicar a vasta gama de
comportamentos humanos.

O ambiente social

Um organismo é relevante para outro, fazendo parte de seu ambiente. O comportamento


social é mais extenso e flexível do que o comportamento individual reforçado por outros
estímulos ambientais, pois o reforço social costuma abranger inúmeras variáveis,
dependendo também da condição do agente reforçador. Um ser humano reforça outro de
sua espécie, entretanto, os reforçadores que o sujeito A pode aplicar em uma dada
ocasião em um sujeito B para fortalecer uma determinada resposta, podem variar em
outra situação, na medida que o organismo que reforça também muda seu repertório
comportamental de acordo com o estado de seu próprio organismo (o mundo sob a pele)
e por estímulos punitivos e reforçadores que tenha recebido em suas outras interações
sociais e com o ambiente em geral. Isso torna o repertório comportamental muito
abrangente e extremamente passível de mudanças.
Pode-se dizer que os esquemas de reforço são particularmente relevantes no processo de
interação social, pois a maioria dos comportamentos é estabelecido por reforços
intermitentes. No comportamento de “chateação”, por exemplo, a pessoa é reforçada
algumas vezes e não é punida por seu comportamento, até que ele se estabeleça de
maneira variável. Quando esse comportamento ocorre em dada situação e não recebe
mais o reforço apropriado, o que se pode observar é a emissão continua da resposta.
Portanto, duas solicitações de respostas podem se transformar em seis ou mais, de
maneira insistente. Diante da obtenção de sucesso em obter o reforço, o sujeito
reforçado alcança um número cada vez maior de tentativas para obter o reforçador na
medida que este funcionou anteriormente.
Quando um sujeito reforçador se torna difícil de contentar, o reforço fica contingente a
um comportamento mais amplo ou altamente diferenciado. Um exemplo seria o do
gerente de uma fábrica de peças automotivas que reforça o funcionário com um leve
aumento de salário quando este aumenta a produção. O gerente é também reforçado
pelo aumento na produção, exigindo assim, uma maior produtividade do funcionário
que, consequentemente será levemente reforçado por bonificação, e assim
sucessivamente. Este processo de reforço mútuo ocorre na maior parte das interações
sociais.

O estímulo social

As outras pessoas fazem parte de um ambiente material constituindo-se do mesmo


modo em estímulos. Na medida em que algumas propriedades desses estímulos são
difíceis de serem descritos em termos físicos, é fácil supor que sejam um processo de
intuição.
O sorriso, por exemplo, ultrapassa a capacidade de investigação do cientista, uma vez
que há diversas formas de sorriso que ocorrem em diferentes situações. O sorriso,
portanto, não é como uma forma geométrica, a qual pode-se estabelecer um critério
preciso de descrição e avaliação. Essa forma de expressão facial pode ser, tanto
“amigável” como “agressiva”, determinado pela cultura e história particular do
indivíduo, e por suas consequências sociais.

O episódio social

Dois indivíduos em uma dada sociedade podem servir de estímulo um ao outro. O


mesmo também ocorre com outros organismos. No comportamento de caça de um
predador e de fuga de uma presa, uma redução na distância entre o predador e a presa é
positivamente reforçadora para o predador e negativamente reforçadora para a presa; já
um aumento na distância é negativamente reforçador para o predador e positivamente
reforçador para a presa. O mesmo ocorre com os reforçadores verbais entre dois sujeitos
que conversam, como quando um indivíduo se aproxima de um tópico delicado para o
outro sujeito da conversa. Os estímulos verbais podem ter propriedades reforçadoras ou
aversivas.
Dois indivíduos podem regular seu comportamento, um em relação ao outro na medida
em que um estabelece seu papel como líder. Um exemplo seria na brincadeira do cabo
de guerra, no qual um indivíduo estabelece um padrão rítmico para puxar a corda e o
segundo regula seu comportamento com base no comportamento do primeiro. O
primeiro consequentemente responderá apropriadamente a ação do segundo e assim
sucessivamente, gerando-se assim uma ação conjunta. O mesmo tipo de interação pode
ser observada em diversos comportamentos, como em uma dança. Uma vez que o líder
também depende dos liderados, pode-se dizer que o líder também é controlado por eles.
Episódios verbais
Diz-se frequentemente que uma pessoa tem um efeito sobre outra além do limite das
ciências físicas. Muitos desses exemplos são abrangidos pelo comportamento verbal.
Uma análise mais aprofundada, no entanto, demonstra que esse efeito é passível de
análise dos métodos científicos. Os sons representam vibrações de intensidade variada
no ar e as estruturas vocais responsáveis por sua emissão fazem parte de uma esturura
biológica do próprio organismo. Com as estruturas auditivas responsáveis pelo processo
inicial de recepção dos sons ocorre o mesmo, sendo estes traduzidos em uma linguagem
(informação) assimilada pelo sistema nervoso central. Para todos os efeitos esses
eventos físico-químicos fazem parte do organismo e não constituem fenômenos ditos
“mentais” no sentido de serem eventos imateriais e incapazes de serem compreendidos.
As palavras supostamente expressam ideias ou significados, porém é possível realizar
uma análise típica das ciências naturais. O comportamento verbal que um indivíduo
executa em relação a outro, como o pedir um cigarro ou pedir um copo d'água, não surte
efeito em um ambiente puramente mecânico, mas foi condicionado por uma
comunidade verbal, ainda que intermitentemente. O sujeito em algum ponto de sua
história gerou uma discriminiação, de modo que a resposta não é emitida na ausência de
um membro da comunidade. Discriminações mais sutis que tenham se constituído
aumentam a probabilidade de responder na presença de determinadas pessoas.
Pode ocorrer que um sujeito B reforce a resposta no sujeito A ou assemelhe-se a alguém
que o fez. Um exemplo, seria a criança que esta jogando futebol com os amigos e, com
sede, decide bater na casa de uma mulher idosa pedindo um copo dágua. Nesse caso, o
comportamento pode ocorrer devido ao sucesso na aquisição do copo d'água com outros
mulheres idosas. Do mesmo modo, uma condição de privação, aumenta a probabilidade
de emissão de um dado comportamento, tal como no exemplo supracitado (sede ou
privação de água).
Pode-se também parear um estímulo aversivo a um determinado evento ou sequência de
eventos. Por exemplo, o caso de um sujeito (A) que sempre caminha por um bairro
perigoso e é frequentemente abordado por um sujeito (B) que lhe pede um cigarro.
Suponha-se que, o sujeito B lhe peça um cigarro e o sujeito A não o dê. Seguido a isso,
o sujeito B torna-se agressivo. Nesse caso um estímulo aversivo condicionado, fará com
que o sujeito A só possa escapar concordando em um pedido futuro de cigarros por
parte do sujeito B. Nessa situação hipotética, um “obrigado” do sujeito B após a
obtenção do cigarro e seu respectivo afastamento sem apresentar qualquer estímulo
aversivo em relação ao sujeito A, indicará uma redução na ameaça.

Interação instável

Diversos sistema sociais mostram uma mudança progressiva. Estímulos verbais, por
exemplo, só costumam ser eficientes quando combinados com o comportamento de
outros membros do grupo. Isso é comum em avisos de “Silêncio” ao entrar em uma
biblioteca, se diversos sujeitos que já estão lá estiverem falando normalmente, o aviso
teria pouco efeito. Se os indivíduos estivessem falando em voz baixa, a probabilidade
daqueles que recém entraram de falar em voz baixa seria maior. Entretanto, bastaria
alguns poucos indivíduos que estão sob menor grau de controle do aviso começarem a
falar normalmente e a probabilidade de que o mesmo ocorra com os outros membros do
grupo se elevará.
A interações mudam de momento a momento, na medida que uma resposta altera
levemente a outra. Tal instabilidade pode ser percebida quando dois indivíduos se
empenham em uma conversa casual que culmina em uma discussão repleta de insultos,
podendo chegar ao nível da violência física.

Variáveis de suporte no episódio social

Geralmente as pessoas sempre tem algo a oferecer umas as outras, reforçando-se


mutuamente. É assim que as relações se mantém.
É possível que o grupo realize a manipulação de variáveis específicas a fim de gerar
tendências de comportamento que resultem no reforço de outros. O grupo pode reforçar
um indivíduo por ajudar aos demais, por ser sincero e por retribuir favores; em
determinadas situações e contextos, porém, ele pode reforçar comportamentos
criminosos e egoístas.
Pode-se exemplificar a competição entre dois amigos. Quando o comportamento de um
pode ser reforçado apenas à custa do comportamento do outro. Um comportamento de
cooperação, no qual o reforço de um ou mais indivíduos depende do comportamento de
ambos ou de todos, não se opõe a competição, requerindo um sistema intercruzado.
Os sistema interrelacional pode, porém, entrar em colapso. Isso é demonstrado quando
um indivíduo que não é adequadamente controlado pela cultura adquire vantagem
pessoal temporária por meio da exploração do sistema, gerando mentira, não retribuição
de favores, quebra de compromissos, etc. Os sujeitos lesados após algum tempo deixam
de ser responsivos a determinados estímulos que lhe são apresentados, gerando assim o
colapso no sistema.

O grupo como uma unidade que se comporta

É sempre um único indivíduo que se comporta, ainda que possa se comportar junto a
outros. Sendo assim, o entendimento do comportamento não exige qualquer método
científico de origem diferente dos métodos de uma ciência natural.
É possível avaliar o que leva um jovem a se juntar a uma turma, bem como o que leva
um homem a agredir alguém, bastando análisar as variáveis geradas pelos grupos que
reforçam determinados tipos de comportamento, tais como a reunião e conformação.
As consequências reforçadoras produzidas pelo grupo excedem com facilidade as
consequências que poderiam ser obtidas pelos membros que agissem separadamente.
Comportar-se como outras pessoas se comportam tende a ter grande probabilidade de
ser reforçado, do mesmo modo que olhar para uma vitrine em que todos estão olhando
teria maior probabilidade de ser reforçador do que olhar para uma que não atraiu
ninguém. Esse tipo de situação produz uma tendência a se comportar como os outros o
fazem.

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