Você está na página 1de 3

ANAIS DO III CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA e IX SEMANA DE PSICOLOGIA 1

18 a 21 Setembro de 2007
ISSN: 1678‐352X
ANÁLISE COMPORTAMENTAL DA SUPERSTIÇÃO

Aline Terumi Bomura Maciel – Universidade Estadual de Maringá1


Alex Eduardo Gallo – Universidade Estadual de Maringá2

Em nossa sociedade é muito comum atribuirmos causas místicas ou mágicas a certos


eventos que não conseguimos explicar, rigorosamente, por que e como ocorrem. Muitas vezes,
agimos de certa forma somente por acreditarmos que, se o fizermos, algo bom ocorrerá ou
poderemos evitar algo ruim. A esse tipo de evento Skinner atribuiu o nome de
‘comportamento supersticioso’.
Em análise do comportamento, temos a definição da tríplice contingência, ou seja,
estímulos ambientais (S) que eliciam certas respostas (R) que, por sua vez, produzem
conseqüências (C), as quais aumentam a probabilidade de que uma resposta da mesma classe
de comportamentos seja emitida. Entretanto, em algumas situações, emitimos uma resposta
que é reforçada por um evento sem que estes tenham relação direta entre si. Em outras
palavras, independente da resposta que estejamos emitindo, a situação iria ocorrer. Nas
palavras de Skinner (1981): “a única propriedade importante na contingência é a temporal. O
reforçador simplesmente sucede à resposta. Como isso acontece não importa. Devemos
presumir que a apresentação de um reforçador sempre reforça alguma coisa, pois coincide
necessariamente com algum comportamento”. Isso pois estamos sempre nos comportando e,
por uma coincidência, certas respostas acabam sendo reforçadas sem que tenha uma relação.
Afirma Skinner (1981): “Se só uma conexão acidental existe entre a resposta e a apresentação
de um reforçador, o comportamento é chamado de ‘supersticioso’”.
Podemos exemplificar a afirmação de Skinner (1981): ao caminhar por uma rua, com
fones de ouvido escutando uma música, encontro com um grande amigo que não via há muito
tempo, e este evento tem um efeito reforçador considerável. O comportamento naquele exato
momento será reforçado, o que aumentaria a probabilidade de o emitirmos novamente. Posso
passar a caminhar sempre por aquela mesma rua, ou caminhar ouvindo aquela música, como
fazia naquele momento. Apesar de não podermos afirmar que isso é uma superstição, o fato
de encontrar aquele amigo não tem relação alguma com a música que estava ouvindo, mas
este comportamento tem sua probabilidade aumentada pelo efeito reforçador do encontro.
Podemos afirmar que, neste caso em particular, o fato de estar escutando música não
iria interferir no encontro com o amigo, mas este comportamento é reforçado. Segundo
Andery e Sério (2003), para podermos distinguir uma relação contingente de uma mera
relação temporal e acidental, “devemos avaliar qual a probabilidade da mudança ambiental
acontecer quando a resposta é emitida e qual a probabilidade da mudança ambiental acontecer
quando a resposta não é emitida”. A relação será contingente quando estas probabilidades
diferirem entre si. Se ao ouvir música a probabilidade de encontrar com este amigo é a mesma
que ao caminhar sem ouvir música, podemos afirmar que é uma situação acidental.
Segundo Guilhardi (2005), muitas vezes os comportamentos supersticiosos são
mantidos através de um esquema de reforçamento positivo intermitente. Sabemos que
comportamentos que são mantidos por esquemas de reforço intermitente são os mais difíceis
de sofrerem extinção. Supondo que o indivíduo é reforçado intermitentemente em intervalos
de tempo variáveis, mesmo que não seja reforçado após um longo período de tempo, ele
1
Graduanda em Psicologia. Rua Santos Dumont, 2173. E-mail: terumi.maciel@gmail.com
2
Professor Doutor pela Universidade Federal de São Carlos. Avenida Colombo, 5790. E-mail:
aedgallo@yahoo.com.br
ANAIS DO III CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA e IX SEMANA DE PSICOLOGIA 2
18 a 21 Setembro de 2007
ISSN: 1678‐352X
continuará emitindo as respostas, pois como anteriormente ele foi reforçado em intervalos de
tempo variáveis (algumas vezes imediatamente após se comportar, outras após longos
períodos de tempo), continuará a emitir as respostas pois a probabilidade de ser reforçado a
qualquer momento é grande. Assim, levará muito tempo para que seu comportamento entre
em extinção. Entretanto, se após um período de tempo considerável, ele receber o reforço em
seguida ao seu comportamento, este terá sua probabilidade aumentada novamente, evitando
assim que ocorra a extinção. Conforme afirma Skinner (1981): “Geralmente é difícil extinguir
uma resposta depois de um esquema semelhante. Muitas espécies de reforços sociais e
pessoais são fornecidos numa base que é na essência um intervalo variável, e, às vezes, se
estabelece um comportamento extraordinariamente persistente”.Percebemos, desta forma, o
motivo que leva os comportamentos supersticiosos a serem tão difíceis de modificar e
extinguir.
A maioria das superstições em nossa cultura existe por conta de contingências
acidentais. Evitamos passar debaixo de uma escada para não termos azar. Sabemos que,
popularmente, quebrar um espelho dá sete anos de azar, ou que se batermos na madeira
quando falamos algo de ruim evita que tal coisa ocorra. Historicamente, em dado momento
alguém emitiu o comportamento de bater na madeira e ‘evitou’ que algo acontecesse de ruim
a alguém. Esse comportamento teve sua probabilidade aumentada e, posteriormente, esta
pessoa passou a emitir esta resposta todas as vezes que dizia algo de ruim. Através da
comunidade verbal, ela passou a transmitir esta informação, criando assim uma regra. Esta
regra foi diversas vezes testada pela comunidade sendo, em algumas ocasiões, temporalmente
reforçada em uma contingência acidental. Logo, tornou-se uma superstição. Mas, como já
afirmaram Andery e Sério (2003), a probabilidade de algo ruim acontecer com ou sem o
comportamento de bater na madeira é a mesma.
Muitos dos processos de medicina popular também são baseados em contingências
acidentais. Certas doenças ou condições corporais possuem uma duração que, independente
do que se faça, depois de passado certo período de tempo seria ‘curada’. Resfriados ou dores
musculares tendem a durar pouco tempo. Assim, qualquer medida tomada para diminuir os
sintomas seria reforçada pela conseqüente melhora do paciente. Certos ritos de medicina não-
científica, rezas ou chás são reforçados negativamente, pela retirada do estimulo aversivo (no
caso, a doença), sem que eles tenham uma relação direta.
Através do processo de condicionamento, adquirimos uma variedade comportamental
que nos permite agir de forma eficaz em diferentes ambientes. Entretanto, não é possível
evitar que certas contingências acidentais ocorram, levando o indivíduo a adquirir
comportamentos supersticiosos. Dessa forma, podemos concluir que, dependendo da história
de reforçamento particular de cada indivíduo, este terá adquirido mais ou menos
comportamentos supersticiosos. Em geral, comportamentos supersticiosos não alteram de
forma significativa a forma de interagir com o ambiente (o fato de ter aumentado a
probabilidade de emitir o comportamento de ouvir música não é prejudicial ao indivíduo).
Entretanto, em algumas ocasiões, tais comportamentos podem se tornar prejudiciais ao
indivíduo ou à sociedade, e nestes casos, é importante um trabalho para identificá-los e
modificar sua probabilidade de emissão.

Palavras-chave: Comportamento Supersticioso; Superstição; Contingência Acidental.


ANAIS DO III CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA e IX SEMANA DE PSICOLOGIA 3
18 a 21 Setembro de 2007
ISSN: 1678‐352X
REFERÊNCIAS

ANDERY, Maria Amália; SÉRIO, Tereza Maria. Respostas e eventos subseqüentes:


contingência e contigüidade. 2003. Disponível em:
<http://www.terapiaporcontingencias.com.br/pdf/outros/resposta_eventos_subsequentes.pdf>.
Acesso em: 10 ago. 2007.

GUILHARDI, Hélio José; QUEIROZ, Patrícia P. Um pouco sobre adivinhações e bruxas....


[2005?]. Disponível em:
<http://www.terapiaporcontingencias.com.br/pdf/helio/adivinhacoes_bruxas.pdf>. Acesso em:
10 ago. 2007.

SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. 5. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1981.

Você também pode gostar