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REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO / BRAZILIAN JOURNAL OF BEHAVIOR ANALYSIS, 2007, VOL. 3, N .

1, 47-63 O

EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS EM PARTICIPANTES COM SÍNDROME DE DOWN:


EFEITOS DA UTILIZAÇÃO DE PALAVRAS COM DIFERENÇAS MÚLTIPLAS OU
CRÍTICAS E ANÁLISE DE CONTROLE RESTRITO DE ESTÍMULOS1
EQUIVALENCE RELATIONS IN CHILDREN WITH INTELLECTUAL DISABILITIES:
SEARCH ABOUT PROCEDURES USING STIMULI WITH MULTIPLE OR CRITICAL
DIFFERENCES AND RESTRICTED STIMULUS CONTROL

CAMILA DOMENICONI E JÚLIO C. DE ROSE


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, BRASIL

EDSON M. HUZIWARA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, BRASIL

RESUMO
O presente trabalho teve o propósito de investigar a formação de equivalência de estímulos com indivíduos
portadores de Síndrome de Down. Foram ensinadas discriminações condicionais auditivo-visuais para tais
participantes, utilizando pseudo-palavras e manipulando distintamente o número de elementos idênticos (letras)
presentes nas palavras em duas condições experimentais. Os estímulos utilizados foram palavras dissílabas do tipo
consoante mais vogal. Na primeira das condições experimentais, as palavras apresentavam diferenças múltiplas
(uma ou duas letras em comum) e na segunda, diferenças críticas entre si (palavras com três ou quatro letras em
comum). Os participantes foram quatro indivíduos com Síndrome de Down. Foram treinadas, por meio de
procedimentos de emparelhamento com o modelo, as relações entre palavras ditadas e figuras, e entre palavras
ditadas e impressas. Com dois participantes, treinou-se também as respostas de construção por meio da seleção
ordenada de cada elemento do estímulo impresso. Foram testadas as nomeações de palavras impressas e figuras e os
emparelhamentos entre palavra impressa-figura e figura-palavra impressa. Os resultados sugerem que três dos
quatro participantes apresentaram a formação de classes de equivalência nas duas condições experimentais. O outro
participante mostrou indícios de formação de classes apenas na primeira condição experimental. Dois participantes
apresentaram maiores dificuldades nos treinos e testes da segunda condição. As dificuldades encontradas por eles
podem ser atribuídas a controle restrito de estímulos.
Palavras-chave: equivalência de estímulos, leitura, similaridade entre os estímulos, controle de estímulos,
Síndrome de Down

ABSTRACT
The present study attempted to investigate stimulus equivalence formation by participants with Down’s
syndrome. Participants learned auditory-visual conditional discriminations with pseudo-words and was manipulated
the stimulus similarity in two experimental conditions. The stimuli had multiple differences between them in the
first condition, and had critical differences between them in the second condition. Four individuals with Down’s
syndrome participated. Relations between dictated words and pictures and between dictated and printed words
were trained through matching to sample procedures. Two participants also learned responses of constructing the
words by the ordinal selection of their elements. Performances tested were naming of printed words and pictures,
and matching printed words to pictures and pictures to printed words. Results suggested that three of the four
participants formed equivalence classes in both experimental conditions, whereas the other participant showed
signs of class formation only in the first experimental condition. Two participants had more difficulties with
training and testing in the second condition. The difficulties were attributed to restricted stimulus control.
Key words: stimulus equivalence, reading, stimulus similarity, stimulus control, Down’s syndrome

1 Esta pesquisa contou com apoio financeiro do PRONEX/FAPESP (Processo número 03/09928-4), com bolsa de mestrado FAPESP para C.D. e bolsa de
Produtividade em Pesquisa do CNPq para J.C.R. Os autores agradecem a revisão cuidadosa e as sugestões de dois revisores anônimos que contribuíram para
o aprimoramento do texto. Endereço para correspondência: Camila Domeniconi, Laboratório de Estudos do Comportamento Humano, UFSCar, Rodovia
Washington Luís, 235. CEP 13565-905, São Carlos, SP. Email: camilad_ psicologia@yahoo.com.br

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C. DOMENICONI ET AL.

A equivalência de estímulos tem sido comparação: um estímulo de comparação pode


concebida como um modelo comportamental de controlar uma resposta específica, a depender
função simbólica (de Rose, 1993; Sidman, 1994; de um contexto específico que é determinado
Wilkinson & McIlvane, 2001;) e sua ocorrência pela apresentação do estímulo modelo (Debert,
extensivamente documentada e replicada com Matos & Andery, 2006). Originalmente
populações de crianças e adultos com abordado nos experimentos de Lashley (1938),
desenvolvimento típico e também com déficits o estabelecimento de tais relações vem
de desenvolvimento (e.g., Carr, Wilkinson, recebendo destaque nos estudos sobre
Blackman & McIlvane, 2000; Lazar, Davis-Lang comportamento simbólico.
& Sanchez, 1984; Saunders, Wachter & O treino pode ser realizado, por exemplo,
Spradlin, 1988; Sidman & Tailby, 1982). com elementos de três conjuntos hipotéticos A
A habilidade de formar classes de (A1, A2 e A3), B (B1, B2 e B3) e C (C1, C2 e C3).
estímulos equivalentes baseadas em relações No ensino das relações AB, em cada tentativa
arbitrárias entre os estímulos é fundamental um estímulo do conjunto A é apresentado como
para o uso da linguagem funcional, para a leitura modelo, e os estímulos do conjunto B são
com compreensão, dentre muitos outros apresentados simultaneamente, como estímulos
comportamentos descritos como simbólicos de comparação. Nesse caso, os participantes
(Mackay & Sidman, 1984; Sidman, 1971, devem selecionar o estímulo de comparação B1
1994; Spradlin & Saunders, 1984). diante do modelo A1, não selecionando os
O procedimento de escolha de acordo com estímulos B2 e B3. A escolha de B1 produz
o modelo tem sido utilizado para ensinar reforço, enquanto que as escolhas de B2 ou B3
discriminações condicionais já que ele permite não possuem conseqüências programadas ou são
o estabelecimento de relações arbitrárias, seguidas por conseqüências não reforçadoras
potencialmente simbólicas entre estímulos convencionadas para erros. De maneira similar,
fisicamente diferentes. Neste procedimento, o o reforço é contingente à escolha de B2 (e rejeição
estímulo modelo controla qual o estímulo de de B1 e B3) diante de A2, e à escolha de B3 (e
comparação funciona como correto (S+) e qual rejeição de B1 e B2), diante de A3. No ensino
(is) funcionam como estímulo incorreto (S-). das discriminações condicionais entre os
Respostas ao estímulo de comparação elementos dos conjuntos A e C, diante de um
determinado experimentalmente para ser estímulo modelo A 1 , a resposta a ser
correto, na presença do estímulo modelo diferencialmente consequenciada será a escolha
específico, em geral são seguidas de do estímulo C1 ao invés de C2 e C3; do mesmo
reforçamento. Respostas aos estímulos definidos modo, as escolhas de C2 e C3 diante de A2 e A3,
como incorretos, na presença daquele respectivamente, também serão reforçadas.
determinado modelo, não são seguidas de Estes treinos estabelecem relações funcionais
reforçamento (e.g., Barros, 1998; Green & entre os elementos estímulos dos conjuntos A,
Saunders, 1998; Mackay, 1985). B e C (A1B1, A2B2, A3B3; A1C1, A2C2, A3C3).
Desta maneira, os treinos permitem o Contudo, nem todas as discriminações
estabelecimento de discriminações condicionais condicionais constituem relações de
entre os estímulos modelo e os estímulos de equivalência. Relações de equivalência são

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EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E SÍNDROME DE DOWN

definidas por apresentarem as propriedades discriminações condicionais treinadas e


relacionais de reflexividade, simetria e formaram classes de equivalência. As crianças
transitividade (Sidman, 1994; Sidman & Tailby, com atraso no desenvolvimento e com repertório
1982). A reflexividade implica em que a relação de linguagem necessitaram de mais treino para
de um elemento consigo próprio seja aprender as discriminações condicionais
verdadeira, ou seja, a r a (onde a pode ser treinadas, mas também mostraram formação de
qualquer elemento de um conjunto sob classes de equivalência. As crianças que não
consideração e r a relação entre ambos). A possuíam repertório de linguagem, contudo,
simetria é constatada quando, tomados quaisquer também necessitaram de mais treino para
dois elementos de um conjunto, a validade de a aprender as discriminações condicionais
r b deve implicar, necessariamente, na validade treinadas e não mostraram formação de
da relação b r a. Finalmente, se a validade das equivalência, pelo menos na única sessão de teste
relações a r b e b r c implicar na validade da que foi realizada neste experimento. Esses
relação a r c, então estará comprovada a resultados levaram os autores a sugerir que a
transitividade (de Rose, 1993; Saunders & presença do repertório de linguagem poderia
Green, 1992; Sidman & Tailby, 1982). ser condição necessária para a formação de classes
Diversos estudos da área têm replicado de equivalência.
resultados positivos de formação de classes de É possível sugerir que fatores não
equivalência após treinos de discriminação relacionados à presença ou ausência de
condicional com indivíduos com repertório explícito de linguagem possam
desenvolvimento típico. Contudo, indivíduos explicar os resultados obtidos por Devany et
com atraso no desenvolvimento podem al. (1986). O controle exercido por aspectos
necessitar de maior quantidade de treino ou irrelevantes como a posição em que os estímulos
mesmo de procedimentos adicionais, tanto para eram apresentados, a preferência por estímulos
a aquisição das discriminações condicionais específicos em função de história anterior ou o
treinadas quanto para a demonstração de grau de similaridade física entre os estímulos
relações emergentes nos testes (e.g., Devany, são todos fatores que poderiam ser influenciado
Hayes & Nelson, 1986; Eikeseth & Smith, no desempenho dos participantes. Ainda,
1992). Essa maior dificuldade na aquisição de respostas podem ser dadas sob controle de
resultados positivos por indivíduos com atraso menos aspectos do estímulo do que seriam
no desenvolvimento ficou clara nos resultados necessários para obtenção de respostas
de Devany et al. (1986), que compararam a acuradas, gerando um padrão de controle sob
formação de equivalência em um grupo de aspectos restritos dos estímulos. Este tipo de
crianças com desenvolvimento típico, um grupo controle tem sido documentado em crianças
de crianças com atraso no desenvolvimento e com autismo ou atrasos no desenvolvimento
com repertório de linguagem e um outro grupo (Allen & Fuqua, 1985; Domeniconi, Costa
de crianças com atraso mas que não possuíam & de Rose, 2001; Lovaas, Koegel &
repertório de linguagem. Os resultados de Schreibman, 1979; Lovaas, Schreibman,
Devany et al. (1986) mostraram que as crianças Koegel & Rehm, 1971; Stromer, McIlvane,
com desenvolvimento típico aprenderam as Dube, & Mackay, 1993).

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C. DOMENICONI ET AL.

Birnie-Selwyn e Guerin (1997) exigiria um olhar para a palavra toda, o que


manipularam a similaridade entre as palavras ensinaria este tipo de controle, facilitando a
utilizadas em treinos de discriminação posterior resposta de construção dessas palavras.
condicional auditivo-visual e testes de construção Portanto, a variável manipulada no presente
de palavras, a fim de verificar diferenças nos estudo, ou seja, a similaridade entre os estímulos
desempenhos de crianças com desenvolvimento estaria relacionada com controle por partes ou
típico em função desta manipulação. Foram elementos de estímulos compostos, o que tem
utilizadas 24 palavras como estímulos modelo, sido denominado de controle restrito de
todas elas eram iniciadas por encontros estímulos.
consonantais (palavras como snow, frog, grow, O presente estudo teve o objetivo de
etc). Já os estímulos de comparação foram ensinar discriminações condicionais auditivo-
arranjados em dois grupos diferentes de palavras, visuais para participantes com Síndrome de
em função dos mesmos modelos: em um dos Down, utilizando pseudo-palavras e verificar a
grupos (grupo de estímulos com diferenças emergência de classes equivalentes. Além disso,
críticas), as palavras utilizadas como comparações foram utilizados dois grupos de palavras a fim
continham uma ou, no máximo, duas letras de verificar os possíveis efeitos do uso de palavras
diferentes do modelo (no exemplo do modelo com diferenças múltiplas ou críticas sobre os
snow, as comparações foram slow e snap); no desempenhos individuais nos treinos e testes.
segundo grupo (estímulos com diferenças Tal objetivo pauta-se na importância de se
múltiplas), as palavras utilizadas como investigar como o treino e a emergência de
comparações continham, três ou quatro letras discriminações condicionais podem envolver
diferentes do modelo (por exemplo, com o uma multiplicidade de relações e controles entre
mesmo modelo, snow, as comparações utilizadas os estímulos. O conhecimento de algumas
foram nice e rest). Os dados obtidos por eles destas variáveis pode permitir adaptações
apontaram que as crianças tiveram mais facilidade necessárias para o treino de habilidades
em emparelhar palavras diferentes (inseridas no relevantes aos indivíduos com atraso no
treino com diferenças múltiplas) que palavras desenvolvimento cognitivo, como é o caso dos
parecidas (treino com diferenças críticas). Em participantes do presente estudo.
compensação, elas selecionaram com mais
acurácia as letras constituintes daquelas palavras MÉTODO
que foram treinadas em uma condição de
diferenças críticas. Os autores discutiram os Participantes
resultados destacando uma possível ocorrência Participaram do estudo dois adultos e
de respostas dadas sob controle apenas da duas crianças portadores de Síndrome de Down.
primeira letra de cada palavra, o que tornaria A aplicação do teste Peabody Picture Vocabulary
executável a tarefa de emparelhamento com o Test – revised (Dunn & Dunn, 1981) permitiu
modelo, mas não a de seleção das letras a mensuração da idade mental do participante
constituintes da palavra, no caso da condição com através da avaliação do seu nível de vocabulário
diferenças múltiplas. Já o emparelhamento com receptivo. Informações detalhadas sobre os
o modelo na condição com diferenças críticas participantes estão apresentadas na Tabela 1.

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EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E SÍNDROME DE DOWN

A participação no presente estudo Foram utilizados como estímulos palavras


ocorreu mediante consentimento prévio dos ditadas, figuras e palavras impressas (todas com
pais, atestado pela assinatura do Termo de quatro letras, sendo duas sílabas simples, do
Consentimento Livre e Esclarecido, submetido tipo consoante mais vogal). O procedimento
e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa de ensino foi dividido em duas condições
da instituição. experimentais. Entre as condições foi
manipulada a similaridade entre as palavras
Local, equipamentos e materiais impressas. Durante a Condição de Diferenças
As sessões foram realizadas em uma sala Múltiplas (DM) foram utilizadas palavras que
do Laboratório de Estudos do Comportamento apresentavam diferenças múltiplas entre si, ou
Humano da Universidade Federal de São Carlos, seja, palavras com uma ou duas letras em
especialmente designada para esta finalidade, comum (neste caso, pelo menos uma das letras
não sujeita a interrupção ou barulhos externos. em comum ocupava posições diferentes em cada
Foram utilizados um computador IBM® palavra). Na Condição de Diferenças Críticas
com plataforma Windows® e monitor sensível (DC) foram utilizadas palavras que
ao toque, fones de ouvido, uma câmera apresentavam diferenças críticas, ou seja, duas
filmadora, e o software “Lendo e Escrevendo ou três letras em comum (com, pelo menos
em Pequenos Passos” (Rosa Filho, de Souza, duas delas ocupando a mesma posição em cada
de Rose & Hanna, 1999). Além disso, foram palavra). As palavras utilizadas estão
utilizados materiais escolares e pequenos apresentadas na Tabela 2.
brinquedos, dispostos em prateleiras de um Todos os participantes realizaram primeiro
armário de madeira, simulando uma pequena as atividades da Condição Experimental com
“lojinha”. Diferenças Múltiplas (DM) e depois as da
Condição de Diferenças Críticas (DC).
Procedimento As duas condições experimentais foram
As sessões ocorreram uma vez por dia, planejadas para serem idênticas em relação aos
quatro ou cinco vezes por semana, com duração procedimentos, atividades e conseqüências
média de vinte minutos. utilizadas, com diferenças apenas nos estímulos
Tabela 1
Caracterização dos participantes do estudo quanto à idade cronológica, idade equivalente ao
vocabulário, sexo e alfabetização.

Participantes Idade Idade equivalente Sexo Alfabetização


(nome fictício) cronológica ao vocabulário*

Selma 20a 6m 5a 2m F Sim


Paula 24a 3m 5a 7m F Sim
Leandra 7a 6m 2a 1m F Não
Luciano 8a 10m 4a 10m M Não
* avaliada através da aplicação do Peabody Picture Vocabulary Test

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Tabela 2 quantidade de vezes que os estímulos apareciam


Palavras utilizadas em cada condição como comparações e o tipo de relação testada
experimental. em cada tentativa, eram balanceados e dispostos
semi-randomicamente.
Condição Experimental Palavras
Keni Sota Condição Experimental com Diferenças
Diferenças múltiplas Xule Bizu Múltiplas (DM)
Ragi Pafo Pré-testes. Foram realizados pré-testes das
Mado Damo seguintes relações: 24 tentativas de
Diferenças críticas Mida Dima emparelhamento figura-figura (relação BB), 12
Modi Domi tentativas de nomeação de palavras (CD), 24
de emparelhamento palavra ditada-palavra
utilizados, mas algumas alterações foram impressa (AC) e 24 tentativas de
necessárias em função das dificuldades emparelhamentos figura-palavra impressa e
encontradas por dois participantes, em especial palavra impressa-figura (BC/CB). Os pré-testes
na Condição de Diferenças Críticas (DC), e não tinham nenhum critério de acerto e tinham
serão detalhadas abaixo no item: “Procedimento o objetivo de verificar o repertório inicial dos
de correção utilizado com Luciano e Leandra”. participantes nas relações citadas utilizando as
Em cada uma das condições pseudo-palavras e figuras do procedimento.
experimentais foram planejadas as seguintes Treinos de emparelhamento palavra ditada-
atividades: pré-testes, treinos de figura (relação AB) e testes de nomeação das figuras
emparelhamento palavra ditada-figura, testes (BD). A sessão era iniciada com a apresentação
de nomeação das figuras, treinos de de seis tentativas envolvendo a nomeação das
emparelhamento palavra ditada-palavra figuras utilizadas no passo de ensino.
impressa, testes de nomeação das palavras e O treino da relação entre palavras ditadas
testes de equivalência entre palavras impressas e figuras foi realizado gradualmente, inserindo-
e figuras e vice-versa. se as figuras do procedimento uma a uma. As
Respostas corretas, tanto em treinos atividades de treino foram iniciadas com
quanto em testes, foram seguidas por tentativas de emparelhamento utilizando
conseqüências programadas no computador estímulos definidos, ou seja, palavras já
(palmas, animações sonoras ou mensagens de previamente relacionadas às respectivas figuras
parabenização) e pelo recebimento de fichas, (por exemplo: bolo, uva, relógio, rato). Em
que eram trocadas por materiais escolares ou seguida, foram inseridos os nomes e figuras
brinquedos disponíveis na “lojinha”. Respostas indefinidos, ou seja, aqueles não previamente
erradas ocorridas durante as tentativas de treino relacionados entre si, sendo treinada uma
eram seguidas por mensagens de correção relação nome-figura de cada vez, de modo que
(“Tente outra vez” ou “Não, não é”) e nas o participante sempre poderia excluir as
tentativas de teste produziam apenas a mudança comparações que já conhecia e selecionar a
para uma nova tentativa. As seqüências de comparação nova, ao ouvir o nome novo. Para
modelos, as posições dos estímulos corretos, a que uma nova relação palavra ditada-figura fosse

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EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E SÍNDROME DE DOWN

introduzida, o participante deveria exibir um treinadas três palavras no primeiro bloco e mais
desempenho estável nas relações palavra ditada- três palavras no bloco seguinte. No primeiro
figura ensinadas até aquele momento. O critério bloco de sessões foram ensinadas as palavras
para determinar a estabilidade no desempenho “xule”, “ragi” e “sota”, e as palavras “bizu”, “keni”
do participante era um índice de acertos superior e “pafo” foram treinadas em seguida.
a 90% em um bloco contendo 24 tentativas. No início de cada sessão eram
Os blocos poderiam ser repetidos até que este apresentadas três tentativas de emparelhamento
critério fosse alcançado, com o limite máximo entre palavra ditada e palavra impressa e três
de três repetições por dia de um mesmo bloco. tentativas de nomeação das palavras impressas
Esse procedimento foi construído com que seriam apresentadas naquela sessão. Estas
base nos estudos sobre o responder por exclusão tentativas ratificavam o desconhecimento prévio
que demonstraram o potencial tecnológico deste das relações por parte dos participantes, além de
procedimento (Costa, McIlvane, Wilkinson, & fornecer uma medida de comparação com os
de Souza, 2001; Dixon, 1977; Ferrari, de Rose escores obtidos ao final da mesma sessão de treino.
& McIlvane, 1993). O treino propriamente dito era iniciado
A sessão era finalizada com a reapresentação com seis tentativas em que somente o modelo
das seis tentativas envolvendo a nomeação das A1 era apresentado e ocorria a inserção gradual
figuras utilizadas no passo de ensino. dos estímulos de comparação. Dessa maneira,
O critério de aprendizagem final (uma vez a primeira tentativa continha apenas uma
inseridas todas as seis relações entre os nomes e comparação, a segunda apresentava duas
figuras do procedimento) era de 100% de comparações e a terceira, três comparações. Em
acertos somente nas tentativas envolvendo o seguida eram apresentadas oito tentativas nas
emparelhamento de palavras ditadas e figuras. quais estavam presentes os estímulos A1 ou A2
Esse bloco final (assim como os blocos anteriores, como modelos. Depois havia 12 tentativas
que ainda não continham todas as seis relações envolvendo os estímulos A1, A2 e A3 e,
entre figuras e palavras ditadas) era repetido até finalmente, 15 tentativas envolvendo todos os
que o participante alcançasse o critério, com o estímulos dispostos em ordem quase randômica.
limite máximo de três repetições por dia. As Cada um dos blocos de treino possuía como
tentativas de nomeação não possuíam critério critério de aprendizagem 100% de acertos. A
de aprendizagem, mas eram repetidas a não obtenção do critério implicava na aplicação
depender do desempenho do participante na do mesmo bloco de treino até o limite máximo
tarefa de emparelhamento, uma vez que estavam de três repetições cada dia.
inseridas ao final das tentativas de Cada sessão era encerrada com a
emparelhamento. reapresentação das tentativas de
Treinos e testes de emparelhamento palavra emparelhamento entre palavra ditada e palavra
ditada-palavra impressa (AC) e testes de nomeação impressa e nomeação de palavras impressas. As
das palavras impressas (CD). Para o treino das tentativas de nomeação das palavras não
seis relações entre palavra ditada-palavra possuíam critério de aprendizagem, era apenas
impressa foram programados dois blocos registrado o número de palavras lidas pelo
consecutivos de treino. Sendo assim, foram participante após a sessão. Como dito no caso

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C. DOMENICONI ET AL.

do emparelhamento entre palavra ditada e repetidos e para quais participantes


figura, também aqui essas tentativas de encontram-se na sessão de resultados.
nomeação de palavras eram repetidas a depender As palavras utilizadas nesta condição estão
do desempenho do participante na tarefa de apresentadas na porção superior da Tabela 2.
emparelhamento, uma vez que estavam
inseridas ao final das tentativas de Condição Experimental com Diferenças
emparelhamento. Críticas (DC)
Pós-testes - Testes de nomeação das palavras O treino envolvendo palavras com
impressas (CD) e de emparelhamento palavra diferenças críticas seguiu a mesma seqüência
ditada-palavra impressa (AC). Todas as palavras apresentada para a Condição Experimental com
utilizadas no procedimento foram apresentadas Diferenças Múltiplas (DM), mudando apenas
em um bloco de teste composto por seis os estímulos. As palavras utilizadas nesta
tentativas de nomeação das palavras impressas condição estão apresentadas na porção inferior
e seis tentativas de emparelhamento palavra da Tabela 2.
ditada-palavra impressa. As palavras “mado”, “mida” e “modi”
Testes de emparelhamento palavra impressa- foram treinadas no primeiro bloco de sessões e
figura e figura-palavra impressa (BC/CB). Os as palavras “damo”, “dima” e “domi” foram
testes eram constituídos por blocos de doze treinadas no segundo bloco de sessões da
tentativas. Seis delas continham a figura como mesma condição experimental.
modelo e três palavras impressas como Procedimento de correção utilizado com
estímulos de comparação. Além disso, a Luciano e Leandra
mensagem de voz “aponte a palavra” Construção dos estímulos impressos a partir
(emparelhamento figura-palavra impressa) era da seleção ordenada de cada sílaba componente
apresentada. Nas outras seis tentativas aparecia da palavra modelo. Após a terceira repetição
a palavra impressa como modelo, três figuras do primeiro bloco de treino de
como comparações e a mensagem: “Aponte a emparelhamento entre palavra ditada e palavra
figura” (emparelhamento palavra impressa- impressa foram introduzidas 24 tentativas de
figura). Os estímulos utilizados foram palavras construção de acordo com o modelo. Diante
impressas e figuras utilizadas nos treinos da palavra impressa, os participantes deveriam
descritos acima. compor uma palavra idêntica utilizando sílabas
Os pós-testes das relações AC, BD, CD e impressas disponibilizadas na tela do
BC/CB foram realizados mais de uma vez para computador. A requisição de “cópia” objetivava
alguns participantes após a repetição do treino colocar o comportamento dos participantes
de relações pertinentes a estes desempenhos sob controle das unidades menores
(por exemplo, no caso de um desempenho componentes de cada palavra e melhorar os
muito baixo em um teste de nomeação de desempenhos nos treinos de emparelhamento
palavras, CD, o participante foi exposto palavra ditada palavra impressa e nos testes de
novamente ao treino de emparelhamento nomeação de palavras. O critério de
palavra ditada-palavra impressa, AC, e ao teste aprendizagem requerido era de 90% de
CD). Detalhes sobre quais testes foram acertos. Caso o critério não fosse satisfeito o

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EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E SÍNDROME DE DOWN

treino deveria ser repetido até o limite máximo gráficos da Figura 1, as participantes Selma e
de três repetições por dia. Após a realização Paula obtiveram 100% de acertos em todas as
do treino de resposta construída os tentativas do pré-teste com as pseudo-palavras,
participantes foram novamente expostos aos com exceção para as tentativas de nomeação de
treinos e testes de emparelhamento palavra figuras (BD), em que ambas não obtiveram
ditada-palavra impressa, testes de nomeação acertos, e para as tentativas de teste de
de palavras e testes de emparelhamento figura- emparelhamento palavra impressa-figura,
palavra impressa, palavra impressa-figura. figura-palavra impressa (BC/CB), nas quais a
participante Selma acertou 65% das tentativas
RESULTADOS e Paula acertou 30% das tentativas.
Os participantes Luciano e Leandra
A análise dos dados foi realizada de acordo iniciaram o procedimento com porcentagens
com as porcentagens de acertos obtidas por cada abaixo do nível do acaso em, praticamente,
participante em cada um dos testes e está todas as atividades de pré-testes. Pode-se
representada na Figura 1. observar que nenhum dos dois obteve acertos
A Figura 1 apresenta os resultados na nomeação de figuras (BD), de palavras
individuais de desempenho de cada participante impressas (CD) e de emparelhamento palavra
nas seguintes relações testadas antes (pré-testes) ditada-palavra impressa (AC). Porcentagens de
e depois dos treinos (pós-testes): nomeação de acertos próximas do nível do acaso também
figuras (BD), nomeação de palavras impressas foram observadas nas atividades de
(CD), emparelhamento palavra ditada-palavra emparelhamento figura-palavra impressa,
impressa (AC) e emparelhamento figura-palavra palavra impressa-figura (BC/CB). Leandra
impressa, palavra impressa-figura (BC/CB). Os obteve 30% de acerto e Luciano 25%.
resultados apresentados na Figura 1 referem-se Os resultados apresentados à direita de cada
sempre ao desempenho demonstrado pelo gráfico de Figura 1 são relativos aos dados obtidos
participante na última aplicação dos testes. No após a realização dos treinos (pós-testes).
texto abaixo está especificado se o participante Testes de nomeação das figuras (BD). Os
foi exposto ao pós-teste mais de uma vez. participantes Selma, Leandra e Luciano
As barras de cor cinza representam os obtiveram 100% de acertos nos testes de
resultados obtidos na Condição Experimental nomeação das figuras na primeira exposição às
com Diferenças Múltiplas (DM) e as pretas, os atividades. Paula não nomeou corretamente
resultados da Condição Experimental com nenhuma figura e passou novamente pelo treino
Diferenças Críticas (DC). de emparelhamento palavra ditada-figura e
pelos testes de nomeação das figuras. Mesmo
Condição Experimental com Diferenças Múltiplas após a segunda exposição da participante aos
Todos os resultados obtidos nos testes treinos e testes ela nomeou apenas 20% das
desta condição experimental estão descritos nas figuras (o resultado representado na Figura 1
barras de cor cinza dos gráficos na Figura 1. refere-se à segunda exposição).
Pré-testes. Como pode ser observado nas Testes de nomeação das palavras impressas
barras de cor cinza à esquerda dos dois primeiros (CD). Selma e Paula nomearam todas as palavras

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Figura 2. Porcentagens de acertos em cada uma das relações testadas: nomeação de figuras (BD), nomeação de palavras
(CD), emparelhamento palavra ditada-palavra impressa (AC), emparelhamento figura-palavra impressa, palavra impressa-
figura (BC/CB). As barras em cor cinza representam os resultados da Condição Experimental com Diferenças Múltiplas
e as barras pretas representam os resultados da Condição Experimental com Diferenças Críticas.

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EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E SÍNDROME DE DOWN

impressas, já Leandra não nomeou nenhuma pareceu ser favorecedora, especialmente para os
palavra e Luciano apenas uma (16,7% de participantes Leandra e Luciano, para a
acerto). Também com Luciano e Leandra aquisição de repertórios receptivos, como o
tentou-se repetir uma vez todo o treino de emparelhamento entre palavras ditadas e
emparelhamento palavra ditada-palavra palavras impressas (AC). Esta condição também
impressa (AC) e refazer o teste de nomeação foi favorável à formação de classes entre palavras
das palavras (CD), a fim de verificar se esta nova impressas e figuras e vice versa (BC/CB) para o
exposição às contingências de treino e teste participante Luciano.
melhoraria o desempenho do participante. Esta Já em relação ao repertório expressivo, a
melhora não ocorreu, como pode ser observado condição de treino não pareceu ser tão
no resultado que se refere à segunda exposição, favorável, especialmente para Leandra e
neste caso, idêntico ao obtido na primeira. Luciano, que obtiveram resultados inferiores
Testes de emparelhamento palavra ditada- na nomeação de palavras (CD), quando
palavra impressa (AC). As participantes Selma, comparados à próxima Condição
Paula e Leandra realizaram corretamente 100% Experimental, embora estas diferenças não
das atividades de emparelhamento palavra tenham sido significativas.
ditada-palavra impressa. Luciano acertou 83,3%
das atividades. Os dados de Leandra e Luciano Condição Experimental com Diferenças Críticas
referem-se à segunda exposição aos testes. Os Todos os resultados obtidos nos testes
treinos e testes de emparelhamento AC foram desta condição experimental estão descritos nas
repetidos com estes dois participantes na tentativa barras de cor preta dos gráficos na Figura 1.
de melhorar os percentuais obtidos na nomeação Pré-testes. As participantes Selma e Paula
das palavras impressas (descritos acima). apresentaram 100% de acertos nas atividades de
Testes de emparelhamento figura-palavra nomeação das palavras (CD) e de
impressa e palavra impressa-figura (BC/CB). A emparelhamento palavra ditada palavra impressa
participante Selma obteve 95% de acerto na (AC). Novamente as porcentagens mais baixas
segunda exposição aos testes de de acerto puderam ser observadas na nomeação
emparelhamento BC/CB. Os testes foram das figuras (nenhuma das participantes nomeou
repetidos para verificar se ocorreria a emergência corretamente nenhuma figura) e nos
desta relação, uma vez que ela havia obtido emparelhamentos figura-palavra impressa palavra
escores excelentes nas outras medidas. Os impressa-figura (BC/CB). Neste teste, Selma
resultados da participante Paula também se acertou 50% das tentativas e Paula, 25%.
referem à segunda exposição ao teste, na qual ela Leandra e Luciano, a exemplo do que
obteve 83,3% de acertos. Na primeira vez em ocorrera na condição DM, não apresentaram
que realizaram os testes BC/CB, Selma e Paula acertos na nomeação de figuras (BD), de
obtiveram, respectivamente, 75 e 30% de acerto. palavras impressas (CD) e de emparelhamento
Leandra e Luciano obtiveram 100% de palavra ditada-palavra impressa (AC). Nas
acertos na primeira exposição aos testes BC/CB. atividades de emparelhamento figura-palavra
Em geral, observa-se através dos dados impressa, palavra impressa-figura (BC/CB),
apresentados na Figura 1 que a Condição DM Leandra obteve 25% de acerto e Luciano, 30%.

57
C. DOMENICONI ET AL.

Novamente, as barras na cor cinza auditivos, na primeira exposição aos testes.


representam os dados obtidos após a realização Leandra e Luciano obtiveram 33,3% de acerto
dos treinos (pós-testes). após a terceira repetição dos treinos e testes
Testes de nomeação das figuras (BD). Selma de emparelhamento AC e da inserção do
obteve 100% acertos, Paula nomeou procedimento de ensino baseado na construção
corretamente 85% das figuras, Leandra 67% e do modelo impresso a partir de seleção
Luciano 100%. Os dados se referem à primeira ordenada das sílabas correspondentes. Na
exposição aos testes. primeira vez em que realizaram os testes AC,
Testes de nomeação das palavras impressas Leandra e Luciano obtiveram,
(CD). Selma e Paula nomearam corretamente respectivamente, zero e 33,3% de acerto.
todas as palavras do procedimento (100% de Testes de emparelhamento figura-palavra
acerto) na primeira exposição aos testes, Leandra impressa palavra impressa-figura (BC/CB). Selma
nomeou apenas uma palavra (16,7% de acerto) e Paula obtiveram respectivamente 100 e 85%
e Luciano duas palavras (33,3% de acerto). Os de acerto nos testes BC/CB. Os dados de Selma
dados de Leandra e Luciano referem-se à segunda referem-se à primeira exposição ao teste e os de
exposição aos testes, após três repetições de todo Paula a segunda exposição (Paula obteve 30%
o treino de emparelhamento palavra ditada- de acerto na primeira exposição). Leandra
palavra impressa (AC) e a inserção do obteve 90% de acerto e Luciano 25% de acerto,
procedimento de ensino baseado na construção na primeira exposição ao teste.
do modelo impresso a partir de seleção ordenada Pode-se obser var em termos de
das sílabas correspondentes. Na primeira tendência geral, a partir da observação dos
exposição aos testes, os dois participantes dados apresentados na Figura 1, que a
obtiveram porcentagens nulas de acerto. Condição Experimental com Diferenças
Testes de emparelhamento palavra ditada- Críticas (DC) constituiu uma situação de
palavra impressa (AC). Selma e Paula aprendizagem mais difícil, especialmente
emparelharam corretamente 100% das para os participantes Leandra e Luciano, que
palavras impressas aos respectivos modelos obtiveram consideravelmente menos acertos

Tabela 3
Número de sessões de treino para cada participante até a obtenção do critério de aprendizagem nas
discriminações condicionais.

Participante Condição Experimental com Condição Experimental com


Diferenças Múltiplas (DM) Diferenças Críticas (DC)

Treino AB Treino AC Treino AB Treino AC


Selma 14 3 8 4
Paula 18 5 6 4
Leandra 22 26 10 39
Luciano 8 20 8 32

58
nas tarefas de emparelhamento palavra ditada Todos os participantes realizaram primeiro as
palavra impressa (AC) e nos testes de atividades da condição DM e depois da
equivalência entre palavras impressas e figuras condição DC. Essa ordem foi definida com o
e vice-versa (BC/CB), no caso de Luciano. propósito de proporcionar uma dificuldade
Apesar destes dados nas tarefas receptivas, os crescente nas atividades realizadas pelos
dados de nomeação das palavras (CD) foram participantes, acreditando que pode ser mais
melhores nesta condição embora esta simples realizar discriminações condicionais
diferença não seja significativa. quando os estímulos são facilmente
A Tabela 3 apresenta o número de sessões discrimináveis (pouco similares) do que realizar
de treino necessário para que cada um dos discriminações condicionais com estímulos
participantes atingisse o critério de muito parecidos.
aprendizagem. A análise dos dados Alguns estudos trataram da similaridade
apresentados nela nos permite fazer mais física dos estímulos como uma variável
considerações sobre o desempenho dos importante na estimativa da dificuldade de
participantes em função das duas condições discriminação (p.ex. Birnie-Selwin & Guerin,
experimentais, especialmente sobre qual delas 1997; Guttman & Kalish, 1956).
constituiu uma situação de aprendizagem de Considerando o grau de dificuldade de uma
discriminações condicionais mais difícil. tarefa como uma característica que pode ser
avaliada a partir de uma análise do desempenho
DISCUSSÃO dos indivíduos ao executá-la (Oliveira-Castro,
Coelho & Oliveira-Castro, 1999), os resultados
Quatro participantes com Síndrome de obtidos por Luciano e Leandra indicaram que
Down realizaram treinos de discriminação a escolha pela ordem das condições
condicional entre palavras ditadas e figuras experimentais foi adequada. De fato, a ordem
(relação AB) e entre palavras ditadas e impressas das condições experimentais proporcionou um
(AC). Além destes treinos, dois dos grau crescente de dificuldade especialmente
participantes realizaram treinos de construção quando se observa os dados dos testes de
das palavras a partir da seleção ordenada das emparelhamento palavra ditada e palavra
sílabas componentes do modelo em uma das impressa. Além disso, o número de sessões
condições experimentais programadas. necessário para que cada participante atingisse
Finalmente, todos realizaram testes de o critério de aprendizagem para os treinos
nomeação das figuras e testes de equivalência também parece sugerir a adequação na ordem
entre figuras e palavras impressas e vice versa. de treino utilizada.
O procedimento incluiu a manipulação Os dados de Luciano e Leandra replicaram
da similaridade entre as palavras, proposta no os obtidos por Birnie-Selwin e Guerin (1997)
estudo de Birnie-Selwyn e Guerin (1997) e no que concerne às porcentagens de acerto nos
foram programadas duas condições emparelhamentos entre palavras ditadas e
experimentais: condição experimental com impressas (relação AC), comparando as duas
diferenças múltiplas (DM) e condição condições experimentais. Observa-se na Figura
experimental com diferenças críticas (DC). 1 que ambos obtiveram escores

59
C. DOMENICONI ET AL.

significativamente melhores na condição foram significativamente menores que os da


experimental com diferenças múltiplas que na primeira. Além do mais, o número de sessões
condição com diferenças críticas, mesmo com de treino necessário para que esses
uma maior exposição aos treinos e testes da participantes atingissem os critérios de acertos
condição com diferenças críticas (os escores da estipulados nas sessões de treino de
condição com diferenças múltiplas são relativos emparelhamento palavra ditada-palavra
à segunda exposição e os da condição com impressa foi significativamente maior na
diferenças críticas, à terceira exposição). segunda condição experimental, evidenciando
Investigações sobre os processos envolvidos a maior dificuldade encontrada por eles.
na aquisição das habilidades de ler, soletrar ou Tendo em vista as dificuldades
construir palavras têm chamado atenção para a encontradas por Luciano e Leandra na realização
necessidade de analisar detalhadamente o da discriminação entre palavras com diferenças
controle de estímulos envolvido em alguns erros críticas, além dos procedimentos descritos
típicos de leitura e soletração, tendo em vista a anteriormente, foi introduzido o procedimento
necessidade de controle por todos os elementos de construção das palavras impressas a partir
da palavra, para a obtenção de respostas da seleção ordenada de cada sílaba componente
acuradas (Dube, McDonald, McIlvane & da palavra modelo. Este procedimento foi
Mackay, 1991; Stevens, Blackhurst & Slaton, utilizado por Dube et. al. (1991) e constitui
1991) e, portanto, mais adaptadas. A um tipo de resposta diferencial descrito na
interpretação dos dados de Luciano e Leandra literatura como um possível procedimento de
permite explanações sobre o tipo de controle remediação nos casos em que o desempenho
que atuou durante as respostas, uma vez que o do participante leve a suspeita de que ele não
desempenho de emparelhamento palavra ditada está respondendo sob controle de todos os
palavra impressa na condição com diferenças elementos de um estímulo complexo. A tarefa
múltiplas foi muito superior ao desempenho de construção de uma palavra visa ensinar o
com diferenças críticas. Pode-se supor que eles participante a atentar para todos os elementos
responderam às atividades de ambas as da mesma, uma vez que é muito difícil
condições sob controle de algum aspecto restrito completar a tarefa sem tal discriminação.
da palavra, possivelmente a primeira letra, uma A introdução do procedimento de
vez que este tipo de controle era possível nesta construção das palavras não foi suficiente para
condição e compatível com a produção de que os dados dos dois participantes nas tarefas
respostas acuradas. Na segunda condição, de discriminação auditivo visual melhorassem
respostas sob controle de aspectos restritos da para além da porcentagem de acerto que pode
palavra eram incompatíveis com a produção de ser considerada ao acaso (35% de acerto Leandra
respostas acuradas, uma vez que as palavras e 33% de acerto Luciano). Em relação a este
diferiam em uma ou mais letras. Evidência do aspecto, pode-se apontar a interferência da
tipo de controle que atuou sobre a emissão das quantidade de erros cometidos pelos
respostas de escolha nos emparelhamentos participantes até este ponto do procedimento
palavra ditada palavra impressa é que os escores como uma variável que pode ter contribuído
verificados na segunda condição experimental para diminuir a eficácia do procedimento.

60
EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E SÍNDROME DE DOWN

Estudos mostram que, durante a aquisição de especial, observa-se que Leandra e Luciano
uma discriminação, um dos efeitos de um nomearam, respectivamente, nenhuma e
grande número de respostas ao estímulo apenas uma palavra na Condição DM e
incorreto (consideradas experimentalmente obtiveram resultados de 100% de acerto nos
como erradas) diz respeito ao controle do testes de equivalência. Ainda na Condição DC,
comportamento do participante por aspectos Leandra nomeou apenas uma palavra, mas
irrelevantes, conduzindo a um possível obteve 95% de acerto nos testes de
desempenho persistentemente falho na equivalência. Os resultados de Selma e Paula
discriminação presente e, talvez, até em outras não permitiram essa comparação uma vez que
relacionadas (Stoddard & Sidman, 1967; elas já possuíam a habilidade de nomear as
Terrace, 1963a; Terrace, 1963b). palavras antes dos treinos.
Apesar da grande quantidade de erros Pesquisas posteriores poderiam ser
apontada no desempenho de dois participantes realizadas com foco na investigação de controle
durante a condição com diferenças críticas, em restrito de estímulos em participantes com
relação aos dados de equivalência de estímulos, atrasos de desenvolvimento, uma vez que o
três dos quatro participantes mostraram indícios presente estudo soma-se aos estudos anteriores
de estabelecimento de relações de equivalência na sugestão de que este tipo de controle pode
entre palavras impressas e as respectivas figuras, estar ocorrendo e dificultando a aquisição de
nunca relacionadas durante os treinos, nas duas relações baseadas em estímulos compostos,
condições experimentais. O outro participante como é o caso das palavras (Allen & Fuqua,
(Luciano) apresentou tais indícios apenas nos 1985; Domeniconi et al., 2001; Litrownick,
testes da condição com diferenças múltiplas, McInnis, Wetzel-Prichard & Felipelli, 1978;
corroborando com os dados que atestam o Lovaas et. al., 1971; Lovaas et al., 1979;
potencial tecnológico do procedimento de Stromer, McIlvane & Dube, 1993).
emparelhamento com o modelo para a formação
de classes de equivalência, mesmo quando o REFERÊNCIAS
participante apresenta déficits de
desenvolvimento e necessite de uma maior Allen, K. D., & Fuqua, W. (1985). Eliminating selective
quantidade de treino, como no presente estudo. stimulus control: a comparison of two procedures
Os resultados de nomeação das palavras for teaching mentally retarded children to respond
replicaram os dados da literatura da área de to compound stimuli. Journal of Experimental Child
equivalência de estímulos, que mostraram que Psychology, 39, 55-71.
o repertório receptivo instalado através dos Barros, R. (1998). Controle do comportamento por relações
treinos de emparelhamento com o modelo pode entre estímulos. Tese de doutorado não publicada,
não garantir a nomeação dos estímulos Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo,
envolvidos nos testes de equivalência, indicando São Paulo, Brasil.
que talvez sejam repertórios independentes Birnie-Selwyn, B., & Guerin, B. (1997). Teaching
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development of equivalence relations: The role of Submetido em 17 de abril de 2007
naming. Analysis and Intervention in Developmental Aceito em 20 de janeiro de 2008

63
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO NO BRASIL
BRAZILIAN GRADUATE PROGRAMS IN BEHAVIOR ANALYSIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA


Centro de Educação e Ciências Humanas
Universidade Federal de São Carlos

Cursos: MESTRADO E DOUTORADO

Área de concentração
Comportamento e Cognição

Linhas de Pesquisa
1. Análise comportamental da cognição
2. Comportamento social e processos cognitivos

DOCENTES:
Almir Del Prette
Antonio Celso de Noronha Goyos
Azair Liane Mattos do Canto de Souza
Camila Domeniconi
Deisy das Graças de Souza
Elizabeth Joan Barham
Júlio César Coelho de Rose
Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams
Maria Stella Coutinho de Alcântara Gil
Rosemeire Aparecida Scopinho
Susi Lippi Marques Oliveira
Zilda Aparecida Pereira Del Prette

Informações adicionais na página da internet: www.ppgpsi.ufscar.br


E-mail: ppgpsi@power.ufscar.br

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