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GESTÃO ESCOLAR: ANÁLISE COMPARATIVA DA QUALIDADE

EDUCACIONAL E DOS CUSTOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA,


CONSIDERANDO O ENSINO PÚBLICO E AS ESCOLAS SOCIAIS
MARISTAS

ESPANHOL, Evandro
ORIENTADOR....

Resumo
Diante das complexidades do ambiente da educação básica brasileira, a gestão
escolar torna-se um tema cada vez mais relevante e estratégico, atento a tendências
e suportado por indicadores de desempenho. Este artigo propõe, através de uma
pesquisa qualitativa e quantitativa, a reflexão baseada na análise dos indicadores
educacionais e de custos, das escolas sociais maristas e do sistema público, bem
como a dar ciência sobre tendências e possibilidades para a educação básica
internacionais e que começam a ser ventiladas no ambiente nacional. No entanto, o
artigo não se propõe a estabelecer juízo de valor tanto sobre o comparativo de
indicadores entre as escolas sociais maristas e o sistema público, quanto sobre as
tendências na área educação. A intencionalidade deste estudo é estabelecer
fundamentações teóricas e análises referentes ao tema, e apontar a possibilidade de
que experimentos no sistema educacional, põem ser considerados no curto e médio
prazo, dada a alteração do grupo político dominante no país.

Palavra-chave: Gestão Escolar. Qualidade Educacional. Gestão Escolar. Charter


School. Educação Básica. Educação.

1. INTRODUÇÃO

A gestão escolar pode ser definida como o processo de mobilização de


recursos humanos e competências para a realização, de forma coletiva e
participativa, dos objetivos educacionais propostos. A orientação da escola como um
todo para a concretização de seu objetivo educacional, essencialmente coletivo, é
ponto fundamental diante da complexidade e a relevância dos processos escolares.
Este esforço compartilhado, pressupõe a participação coletiva e integrada de
docentes, técnicos docentes, gestores e administradores da escola, estabelecendo a
gestão participativa como premissa quase que indissociável do processo de gestão
escolar.
O processo de gestão escolar abarca todos os elementos da instituição de
ensino, como a excelência no ensino, a prevenção a evasão escolar, a disciplina, a
saúde financeira da instituição considerando receitas, despesas e inadimplência, o
engajamento e motivação da equipe, e a vinculação de pais e alunos a prática
escolar. A partir disto, a gestão escolar visa garantir um desenvolvimento socio-
educacional eficaz, através da elaboração e cumprimento de um plano específico
para aquela escola, baseado nas diretrizes de educação vigentes, e orientados para
a efetiva aprendizagem dos alunos.
Conforme o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares
(2004),

‘(...)a gestão de sistema implica ordenamento normativo e jurídico e a


vinculação de instituições sociais por meio de diretrizes comuns. “A
democratização dos sistemas de ensino e da escola implica aprendizado e
vivência do exercício de participação e de tomadas de decisão. Trata-se de
um processo a ser construído coletivamente, que considera a especificidade
e a possibilidade histórica e cultural de cada sistema de ensino: municipal,
distrital, estadual ou federal de cada escola.”

Com o processo de democratização e abertura política do país o termo gestão


escolar passa a substituir o conceito da administração escolar, que tinha um caráter
mais limitado, dissociado dos valores de autonomia e participação da comunidade
no ambiente escolar. O surgimento de escolas comunitárias, cooperativas
educacionais e associações de pais passa a estabelecer um caráter identitário ao
ambiente escolar, altamente relacionados aos ambientes onde a escola se insere.
No entanto é importante considerar que o cenário da educação básica
brasileira atravessa uma profunda transformação, com a chegada de grande
consolidadores e investidores de outros mercados o processo de gestão educacional
vem sendo influenciado por técnicas de gestão do mercado financeiro e/ou
industrial, onde a gestão por indicadores e resultados e os processos de
meritocracia e bonificação são bastante populares. Surgem reflexões de outras
possibilidades do processo de gestão escolar e do “modelo de negócio” referente a
escola, advindos de outros países, contextos e culturas, tornando o ambiente
escolar cada vez mais desafiador e instável.
O processo de gestão da rede de escolas sociais do Grupo Marista busca
acompanhar sistematicamente seu desempenho através da gestão de indicadores
educacionais e referentes ao custo por aluno em suas unidades, e amplia sua coleta
para o ambiente externo, onde realiza comparativos com a performance da
educação básica pública nos territórios onde atua. Esta coleta e análise sistemática
de dados foca na busca constante pela obtenção de resultados superiores ao
sistema público, através de uma gestão bastante rigorosa e efetiva dos custos.
A coleta anual de indicadores de desempenho internos da rede de escolas
sociais e externas do sistema público possibilitam uma análise e reflexão sobre os
resultados comparativos, bem como a elaboração de estratégias para correção de
rotas na gestão da rede de escolas sociais. Neste artigo utilizamos os dados da
última coleta, realizada no final de 2018 e é importante ressaltar que os relatórios
servem para utilização interna, para melhoria continua dos processos e indicadores
educacionais das escolas sociais e não pretendem se estabelecer, e tão somente,
serem divulgados como críticas ao sistema público de educação.
É importante ressaltar que este artigo propõe uma reflexão bastante
delimitada e baseada somente nos resultados alcançados nos indicadores
educacionais e de custos, nas escolas sociais maristas e no sistema público,
considerando que tais análises comparativas não são exaustivas. Também propõe
dar ciência sobre tendências e possibilidades para a educação básica que existem
em outros países e começam a ser lentamente ventiladas no ambiente nacional,
porém este artigo não se propõe a estabelecer juízo de valor sobre estas
tendências, somente trazer fundamentações teóricas e experimentos referentes ao
tema.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Um outro modelo de escola: a charter school

As escolas charter se encaixam em um nicho entre as escolas privadas e


públicas, pois são financiadas com dinheiro público - exceto por suas instalações -, e
são geridas pela iniciativa privada. São uma alternativa aos sistemas regulares de
escolas públicas, pautadas na promessa por melhores resultados acadêmicos.
O conceito de escolas “charter” originou-se na década de 1970, e geralmente
é creditado ao educador da Nova Inglaterra, Ray Budde, sugerindo que grupos de
professores receberam contratos ou "cartas" de seus conselhos escolares locais
para explorar novas abordagens. O ex-presidente da Federação Americana de
Professores, Albert Shanker, também recebe crédito por ajudar a mudar o conceito
de escola charter no final dos anos 80.
Após um experimento bem-sucedido na Filadélfia, as escolas charter
efetivamente surgiram nos Estados Unidos na década de 1980, e logo tornaram-se
um modelo comum nos demais estados e distritos, sendo que atualmente
representam 6% das escolas. Inicialmente o modelo foi pensado para ser liderado
por professores, e acolher alunos com dificuldades no modelo tradicional.
Nos EUA, um grupo de pessoas pode enviar uma solicitação aos órgãos do
governo e obter aprovação para administrar sua própria escola. Normalmente, elas
terão de três a cinco anos para demonstrar o desempenho acadêmico, durante os
quais as autoridades monitoram constantemente a performance dos alunos. Se o
desempenho acadêmico for inferior às escolas públicas comparáveis, então a carta
de autorização é retirada e a escola é fechada.
Em comparação com as escolas públicas tradicionais norte-americanas, as
escolas charter servem uma população estudantil menos favorecida, incluindo
estudantes de baixa renda e minorias. 
Estudos do National Bureau of Economic Research de 2004 sugeriam que as
escolas charter aumentam a concorrência, melhorando assim a qualidade das
escolas públicas tradicionais na área.  Diante disto, o Governo norte-americano
publica anualmente um ranking com as recomendações por distrito com o objetivo
de elevar o nível das escolas charter, e potencializar a qualidade do ensino local
através da maior concorrência.
Fora dos Estados Unidos também existem iniciativas de escolas charters ou
modelos assemelhados em 10 países espalhados por todos os continentes, sendo 2
experiências na América do Sul, no Chile e na Colômbia.

Mapa da charter school ou modelos assemelhados no mundo


O cenário atual de matrículas na educação básica brasileira

No Brasil, a distribuição das matrículas se divide essencialmente entre o setor


público e privado, prevalecendo o ensino público em todos os segmentos. Alguns
rumores sobre novos modelos de parceirização, como a charter school ou a oferta
de vocuhers para que as famílias possam matricular seus filhos em vagas ociosas
do sistema de educação básica privada começaram a surgir e vem tomando força
com a alteração no cenário político nacional e em alguns casos, também a nível
estadual.

*Gráficos elaborados pela consultoria Educa Insights.


Atualmente existem mais de 10 milhões de crianças e adolescentes fora da
escola no país, sendo os maiores números no início e no final do ciclo da educação
básica (educação infantil e ensino médio). Por outro lado, é possível observar que o
setor privado apresenta certo nível de ociosidade em todas as etapas da educação
básica, podendo contribuir com o atendimento de parte da demanda pública
existente.

Fonte: Censo Escolar 2017

Indicadores nacionais de desempenho educacional

O ingresso de outros perfis de investidores na educação básica, e de outros


estilos de gestores no ambiente educacional, torna a gestão por indicadores cada
vez mais popular e presente no processo de gestão escolar, abarcando índices
referentes a proficiência e performance dos alunos, bem como a gestão de
resultados financeiros e operacionais. Neste artigo, nos deteremos as definições e
delimitações dos indicadores de desempenho educacional e seus custos,
considerando sua relevância para o aprimoramento das instituições de ensino.
Tais indicadores podem ser mensurados na dimensão do aluno, da turma e
da escola e seus resultados são essenciais para o processo de planejamento
estratégico da escola. A partir destes índices os diretores, técnicos e docentes
tomam ciência dos resultados obtidos nos processos de aprendizagem, e quais
matérias e habilidades precisam de maior atenção, bem como aquelas que estão
atendendo satisfatoriamente os objetivos propostos.
Pode-se dividir os principais indicadores escolares brasileiros entre aqueles
que avaliam a qualidade dos serviços prestados pelas escolas, os que avaliam o
desempenho em sala de aula e os que comparam os indicadores nacionais da
educação
Indicadores gerais escolares: avaliam a qualidade e produtividade do serviço
prestado pela escola:
 o nível de evasão escolar;
 a média de notas da escola;
 os índices de aprovação;
 o número de horas do docente e sua dedicação;
 o grau satisfatório do aluno, bem como dos docentes e funcionários;
 o acesso e a utilização das tecnologias de informação e comunicação;
 Indicadores gerais escolares
Indicadores de desempenho da sala de aula: alinhamento entre o professor e
a aprendizagem de cada aluno, otimizando os resultados obtidos em sala de aula.
 a média da sala de aula;
 a percepção dos alunos em relação aos professores e às disciplinas;
 a participação dos alunos em aula;
 o nível de aprendizagem por disciplinas, conteúdos, competências e
habilidades;
 a percepção dos docentes em relação às turmas;
Indicadores nacionais de educação: comparação entre instituições de ensino
 Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB);
 Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB);
 Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Um indicador amplamente explorado, correlacionando o desenvolvimento


educacional e os gastos por aluno, é o IDEB - Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado para medir a qualidade do
aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino.

Estudos sobre a relação entre IDEB e gastos por aluno (fonte: Banco Mundial)

A comparação entre o IDEB e os gastos por aluno nos municípios e estado


mostram que há uma grande variação entre os valores gastos, porém sem grande
efetividade nos resultados obtidos, conforme quadro abaixo:
Gastos acumulados por aluno 2009 a 2013 no IDEB do ensino fundamental
(redes municipais e estaduais)

A análise feita pelo banco mundial aponta que a variação dos gastos de
municípios e estados somente explica 11% do desempenho no IDEB, indicando
possibilidades de aumentar a eficiência, potencializando o desempenho nas regiões
Norte e Nordeste, e gerando economias nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
O mesmo estudo ao comparar o desempenho de vários municípios brasileiros
indica a possibilidade de uma economia equivalente a até 1% do PIB, caso
houvesse a aplicação das boas práticas dos municípios com melhor desempenho
naqueles com pior performance. Nesta equiparação de eficiência por todas as
escolas, o desempenho melhoraria em 40% no ensino fundamental e 18% no ensino
médio. Em vez disso, o Brasil gasta 62% a mais do que o necessário para o
desempenho observado, ou seja, R$ 56 bilhões, dos quais R$ 41 bilhões poderiam
ser economizados no ensino fundamental e R$ 15 bilhões no ensino médio.
Um exemplo interessante de boas práticas são alguns municípios do Ceará,
que conseguem ter IDEB acima de 4 com um gasto em torno de R$15mil, conforme
quadro a seguir:

Gastos acumulados por aluno 2009 a 2013 no IDEB do ensino fundamental


(redes municipais e estaduais): Municípios do Ceará
Concepção das escolas sociais Maristas

As escolas sociais Maristas são uma atuação da Rede Marista de


Solidariedade do Grupo Marista através da oferta de educação formal e não-formal
de qualidade, ofertadas em 23 unidades situadas em 19 cidades dos Estados do
Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
No segmento de educação formal, atualmente são 15 escolas sociais,
localizadas em regiões de alta vulnerabilidade social e pobreza, onde são ofertadas
bolsas integrais, ou seja, totalmente gratuitas, para as famílias que apresentam
rendas enquadradas (linha da pobreza e extrema pobreza) ao processo de oferta de
bolsa social.
A atuação em Solidariedade do grupo Marista atua na promoção, proteção e
defesa dos direitos das infâncias e juventudes, e suas escolas sociais atuam
especificamente na promoção dos direitos, utilizando a educação como direito base
que possibilita o acesso aos demais direitos através da emancipação dos sujeitos e
transformação de suas realidades.
Conforme as Diretrizes e Direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade
(2012),

‘(...)Esta educação deve ser capaz de contribuir para o desenvolvimento


integral da pessoa, contemplando a inteligência, a sensibilidade, o sentido
estético, a responsabilidade pessoal e coletiva e a espiritualidade.”

Com um currículo focado na qualidade social da educação, considerando a


aquisição de conhecimento poderoso, conforme definições de Michael Young, as
escolas sociais Maristas realizam uma gestão bastante efetiva de seus custos por
aluno e sua relação direta com a qualidade aferida pelos indicadores internos e
externos de desempenho.
Para Young (2007, p.1302):

[...] as instituições educativas devem perguntar: “Este currículo é um meio


para que os educandos possam adquirir conhecimento poderoso?”. Para
crianças de lares desfavorecidos, a participação ativa na escola pode ser a
única oportunidade de adquirirem conhecimento poderoso e serem capazes
de caminhar, ao menos intelectualmente, para além de suas circunstâncias
locais e particulares.

A rede de escolas sociais maristas tem por objetivo ter indicadores


educacionais superiores as escolas públicas enfrentando as mesmas limitações dos
territórios vulneráveis onde as escolas estão localizadas, bem como do “efeito
escola” dado o restrito capital cultural das famílias e comunidades de origem. Diante
disto, é necessário que a robustez do currículo, aliada aos indicadores
socioemocionais e a formação integral, enfatizem a crença desta escola na potência
do aluno e na sua capacidade de executar um projeto de vida que o insira
efetivamente na complexidade do mundo.

Comparativo de indicadores das escolas sociais maristas e o desempenho


nacional

A gestão escolar das escolas sociais Maristas abarca um importante processo


de comparação com o desempenho das escolas públicas que ofertam os mesmos
serviços e segmentos. Este é um elemento bastante importante deste modelo onde
se oferta uma educação gratuita e de qualidade, porém gerida com recursos
privados.
Todos os indicadores educacionais e de custos são amplamente comparados
e as metas estabelecidas refletem o desejo que uma qualidade acima da rede
pública, aferida através de avaliações internas e externas, com um custo abaixo ou
melhor racionalizado.

 Custo: nas escolas sociais Maristas, a garantia de todo o material didático e


alimentação - que varia entre 2 a 5 refeições diárias conforme o tempo de
permanência do aluno na escola -, objetivando o atendimento do aluno em sua
integralidade. Os custos podem variar de acordo com o tipo da oferta, se é
período integral ou parcial:

Custo Aluno Mensal Menor Maior Mediana


Ensino Fundamental: anos iniciais R$ 491 R$ 517 R$ 497
Ensino Fundamental: anos finais R$ 455 R$ 1.056 R$ 538
Ensino médio R$ 596 R$ 1.146 R$ 987
Fonte: da dos internos (2018)

Dados de 2014 do relatório 2017 da Organização para Cooperação


Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que os custos para manter um aluno
em instituições públicas no Brasil são superiores aos praticados pelo Grupo Marista
na maioria das etapas de ensino (Ensino Fundamental anos iniciais, Ensino
Fundamental anos finais e Ensino Médio):

Quanto custa um aluno Custo Custo


Instituições Públicas Anual Mensal
Ensino Fundamental: anos iniciais R$14.277 R$ 1.190
Ensino Fundamental: anos finais R$14.419 R$ 1.202
Ensino médio R$14.419 R$ 1.202

Fonte: OCDE, 2017.

Embora seja difícil chegar na relação específica do custo de cada escola no país,
a análise das principais fontes de financiamento da educação básica aponta
perspectivas dos valores aplicados. Considerado como uma das bases iniciais do
financiamento, a tabela abaixo apresenta a estimativa de repasse do FUNDEB de
2018 por aluno.

Mínimo Máximo
Estimativa Fundeb Custo Custo Custo
Custo Mensal
Quanto custa um aluno Anual Anual Mensal
Ensino Fundamental: anos iniciais R$ 3.641 R$ 303 R$ 3.820 R$ 318
Ensino Fundamental: anos finais R$ 4.006 R$ 334 R$ 4.202 R$ 350
Ensino médio R$ 4.551 R$ 379 R$ 4.774 R$ 398
¹ Fonte: Fundeb, 2018
² Considera apenas os estados de atuação das escolas sociais do Grupo Marista
Além do FUNDEB, que no país todo representa em média algo próximo a 50%
dos valores aplicados na educação básica – essa relação pode variar bastante entre
os estados e municípios (de 20% a 90%) dependendo da capacidade de
arrecadação tributária (ex: aproximadamente 33% no município de Florianópolis e
59% em Criciúma) – diversas outras fontes (federais, estaduais e municipais) são
utilizadas para complementar os gastos com a educação básica no país (ex.: Salário
Educação, PNAE, PDDE, PNLD, entre outras) considerando alimentação, material
didático, investimentos, formação dos professores e custeio das atividades
pedagógicas e administrativas.

 Estrutura Administrativa: a informação sobre a relação entre a estrutura


administrativa e docente complementa os dados de custo. A relação entre o
número de funcionários que compõem o quadro técnico administrativo e o
número de docentes nas escolas sociais maristas, varia entre 0,69 e 0,86. Como
referência, esta mesma relação no âmbito nacional da administração pública é de
1,48 (IOSCHPE, 2014).

 Variação Hora-Aula entre administração pública e privada: a variação de


hora-aula é bastante significativa entre as escolas sociais Maristas – mais baixo
e mais perene que o da administração pública, que é sempre impactado pelos
planos de carreira docente, gerando uma lacuna significativa de pagamento dos
professores entrantes e daqueles com muitos anos de casa.

Administração
Custo Hora-Aula (Com DSR E Hora Escola Social
Pública
Atividade)
Mín Máx Mín Máx
Paraná (Fundamental) 11,01 54,78 18,52 21,58

Fonte: NRE-PR; SINPROPAR (2018)

 Evasão e abandono escolar: a rede de escolas sociais Maristas apresenta uma


evasão inferior à média nacional, porém ainda significativa nos anos finais do
fundamental e no ensino médio.
Média Escolas sociais
Evasão / Abandono (INEP 2016)
nacional Maristas
Ensino Fundamental: anos iniciais 1,10 0,40
Ensino Fundamental: anos finais 3,50 3,10
Ensino médio 7,50 5,50

Fonte: INEP, 2016.

 Aprovação: nível de aprovação similar à média nacional nos anos iniciais do


ensino fundamental; nos anos finais do fundamental e no ensino médio, registra-
se uma aprovação significativamente superior à média nacional, o que é bastante
relevante considerando a maior complexidade destes segmentos.

Média Escolas sociais


Aprovação (INEP 2016)
nacional Maristas
Ensino Fundamental: anos iniciais 92,1% 92,10%
Ensino Fundamental: anos finais 83,8% 87,80%
Ensino médio 79,6% 86,70%

Fonte: OCDE, 2016.

 Alfabetização: a avaliação interna de alfabetização - considerando os critérios


estipulados pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura) para que os alunos
sejam considerados alfabéticos até o 3º ano do ensino fundamental - das escolas
da rede marista de solidariedade apresentam um desempenho significativamente
maior do que a média nacional da rede pública.

Média Escolas sociais


Alfabetização / alunos alfabéticos
nacional Maristas
3º do ensino fundamental 45,0% 88,2%

Fontes: INEP, 2016; e dados da avaliação interna do Grupo Marista, com base
nos critérios do MEC.

 ENEM: os resultados de ENEM apresentados pelas escolas sociais Maristas


estão em crescimento e acima da média dos territórios onde se localizam:
Média Média Escolas
ENEM Território Nacional sociais
Maristas
2016 503 491 506
2017 497 513 513
*Considera apenas as escolas Santa Mônica e São José

Fonte: INEP, 2016 e 2017.

Outros formatos de gestão escolar na busca da equalização entre qualidade


educacional e custos

Alguns países vêm investindo em outros formatos de gestão da educação básica


na busca por oportunizar uma melhor relação entre a qualidade educacional aferida
e os custos por aluno. Os Estados Unidos investem significativamente na charter
school, modelo de escola pública que adota a lógica da gestão privada, enquanto
outros países adotam o sistema de vouchers, ou seja, a destinação de um valor por
criança em idade escolar, para que seja matriculado nas ofertas de educação básica
particular.
Estes modelos se propõem a serem alternativa mais eficiente as escolas públicas
tradicionais dada a competitividade que o sistema privado utiliza, com significativa
redução de burocracia educacional, maior monitoramento na gestão, redução de
custos e maior agilidade na tomada de decisão. Também são modelos com maior
atratividade para gestores e professores com perfil técnico diferenciado, não
limitados a nomeações políticas ou concursos públicos, o que reduz faltas e garante
o cumprimento da carga horária e conteúdo.
Especificamente no sistema de vouchers as famílias mais pobres passam a ter a
possibilidade de comparar e escolher a escola com maior qualidade, aumentando o
controle sobre como as crianças são ensinadas, semelhante ao que se tem nas
classes A e B.
Assim como na educação privada as avaliações sistemáticas de aprendizado dos
alunos são usadas para responsabilizar o professor e os gestores pelo que acontece
dentro da sala de aula, estabelecer padrões de desempenho muito mais altos para
professores e gestores e dar foco à formação continuada dos professores, com
metas claras.
O aumento da concorrência e a qualidade se dão porque os colégios públicos
serão comparados com a relação custo x qualidade dos particulares; o tamanho de
um colégio público torna-se proporcional ao número de alunos que atrai e retém.
Estudos apontam que tais escolas podem se tornar centros de excelência, com
práticas pedagógicas inovadoras, padrões de ensino mais elevados e testadas em
pequenas escalas, podendo inspirar o sistema público de ensino.

Experiências internacionais de outros formatos de gestão escolar: charter


school e vouchers

 Reino Unido: nos exames nacionais de 2008 e 2009 o desempenho dos


estudantes das academias (escolas charter) foi duas vezes superior à média
nacional (DIAS, GUEDES, 2010).

 No Chile: No PISA, ranking internacional da OCDE (Organização para a


Cooperação Econômica e Desenvolvimento), o Chile está em 44º lugar entre 72
nações (como parâmetro, o Brasil, que mostrou pouca evolução nos últimos
anos, é o 63º - ranking de 2015). O financiamento estatal é direcionado para as
instituições que não possuam fins lucrativos e os recursos devem ser
direcionados para a melhoria da educação. É perceptível a preocupação com a
qualidade educacional e, principalmente, com a produção e acompanhamento de
indicadores em todas as esferas educativas, o que permite uma avaliação
contínua e possíveis ajustes de rota. A relevância do ensino conveniado no país
é grande, e representa mais de 50% em todos os segmentos da educação.

Distribuição das Matrículas


Infantil E. Fundamental E. Médio
(0-6) (7-13) (14-17)
0,3 0,3 1,9 1,9 1,1 0,8

51% 54% 63% 53% 51%


66%
13% 8% 9%
31% 18% 8%
33% 38% 27% 40%
19% 19%
2010 2017 2010 2017 2010 2017
Público Privado Conveniado
As escolas públicas, conveniadas e privadas representam a principal forma de
atuação na educação básica no Chile, sendo que tanto para as escolas públicas
quanto para as conveniadas o financiamento é realizado através de repasse de
recursos públicos (vouchers) diretamente para as instituições de acordo com o
número de atendimento, frequência dos alunos, etapa da educação e situação
de vulnerabilidade do território de atuação. Também são destinadas subvenções
adicionais para manutenção de infraestrutura, equipamentos, mobiliário, livros
didáticos, acervo bibliográfico, esporte e artes.
No que diz respeito aos gastos com educação no país, quando comparada a
média do custo das escolas públicas e das conveniadas em 2012, o valor anual
por aluno na pública é de aproximadamente US$ 2.266 e na privada US$ 1.926.

Gasto anual por estudante 2012 e número de estudantes por


tipo de dependência administrativa
Particular
Municipal
Conveniada
$ $ 2.266,32 $ 1.926,68
Nº Alunos 1.479.133 1.700.248
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DO CHILE (Centro de Es tudos , 2016)
Da dos em U$ Dol a r ref. 01/01/2013

Quando avaliados alguns resultados educacionais, as escolas conveniadas,


embora com resultados menores que as privadas pagas, estão sempre a frente
das escolas públicas.

Educação Básica* Educação Média**


Particular Particular Particular Particular
Resultados Educacionais Municipal Municipal
Conveniada Paga Conveniada Paga
Retenção 5,00 3,10 0,80 15,90 9,00 3,00
Abandono 4,18 2,16 0,94 4,18 2,16 0,94
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DO CHILE (Centro de Estudos , 2016)
* Equiva lente ao Ens ino Funda menta l
** Equiva lente ao Ens ino Médi o
Resultados da Prova de Seleção Universitária 2016
Distribuição em níveis escolares na Prova de Seleção Universitária do ano de
2016: Percentual de alunos entre 501 e 850 pontos

Particular Particular
Áreas do conhecimento Municipal
Conveniada Paga
Linguagens e Comunicação 32,8% 47,5% 83,5%
Matemática 33,4% 48,8% 85,5%
História e Ciências Sociais 31,0% 46,3% 82,7%
Ciências 31,9% 47,7% 85,0%
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DO CHILE (Centro de Es tudos , 2016)

 EUA: Em Nova Iorque, as escolas charter têm apresentado desempenho melhor


que a média das demais escolas da cidade. Nas avaliações oficiais realizadas
em 2009, em matemática 80,9% dos alunos de sextas a oitavas séries
conseguiram chegar ao nível adequado ou avançado e, em leitura, foram 63%.
Comparativamente, o percentual de alunos das escolas públicas regulares que
alcançaram esses resultados em matemática e leitura foram, respectivamente,
61,7% e 52%. Em Chicago, estudantes do ensino médio que frequentam escolas
charter têm 7% mais probabilidade de se graduar e 11% mais chances de entrar
na faculdade (DIAS, GUEDES, 2010).

 Brasil (Pernambuco): No exame do Enem de 2008, os estudantes do Procentro –


experiência pioneira no modelo de charter no Brasil, iniciada em 2001 e
encerrada em 2007 após sofrer alterações que descaracterizaram a proposta –
obtiveram notas acima da média para escolas públicas e particulares de
Pernambuco, superando também a média nacional e as de outros estados.
Enquanto a média nacional na prova objetiva foi de 37,27, os alunos do
Procentro obtiveram 44,27, acima da média não apenas de Pernambuco, mas
também de redes como a do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul, que
apresentavam, à época, os melhores índices. A taxa de frequência dos alunos
dos Centros era de 97% e a evasão de apenas 2,2% (DIAS, GUEDES, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a descentralização da gestão educacional do Brasil e a variação do
repasse do FUNDEB é bastante difícil estabelecer o custo aluno real para a
educação básica pública no Brasil, porém as referências de que se dispõe apontam
que as escolas sociais maristas apresentam custos similares, e em casos
específicos, inferiores do que o sistema público.
O custo da hora-aula varia bastante no sistema público dada a permanência
dos profissionais e o plano de carreira docente, algo que o sistema particular de
educação básica não incorporou, e que ao longo do tempo tornou-se uma luta
bastante apequenada dos sindicatos. Nas escolas sociais maristas o valor de hora-
aula é inferior a média do sistema público, bem como a estrutura administrativa
também é menor.
Já os indicadores de desempenho acadêmico são superiores na rede de
escolas sociais maristas, tanto no que se refere a evasão escolar, e índices de
alfabetização, bem como nos indicadores de aprovação e ENEM. Tais dados são
altamente relevantes pois denotam que a racionalização dos custos e o foco na
qualidade da educação possibilitam uma gestão escolar bastante funcional,
priorizando o aluno e o seu processo de aprendizagem.
As reflexões sobre outros modelos de administração escolar como a charter
school e o sistema de vouchers tornam-se relevantes para a gestão da rede de
escolas sociais maristas, dado que as mesmas intencionam ocupar este espaço de
efetividade nos custos e oferta de qualidade educacional. Conhecer outros modelos
e experiencias pode contribuir ou apoiar as discussões sobre o processo de gestão,
bem como possibilitar o acesso a boas práticas e inovações na gestão escolar.
Recentemente os ruídos sobre novos modelos de gestão da educação pública
tomaram força na mídia e nos círculos que discutem sobre os desafios da educação
no Brasil, principalmente na educação pública, por isto, torna-se premente que
grupos que atuam no sistema educacional entendam os caminhos possíveis para o
segmento. Os modelos de escolas charter e de ofertas de voucher adotados em
outros países no mundo e na América do Sul, principalmente no Chile, apontam
algumas possíveis tendências, principalmente ao considerar a ociosidade existente
no setor privado nacional e a relação custo/qualidade por aluno.
A possível adoção ou experimentação destes modelos para atender a
demanda de crianças e jovens no país parece se tornar uma solução considerada
para o curto e médio prazo. Mesmo diante de várias controvérsias em relação ao
tema, a alteração do grupo político dominante pode resultar na proposição de alguns
experimentos neste sentido, através da alteração das regras do FUNDEB.
Para consumo interno da gestão da rede marista, este relatório comparativo
entre os indicadores de desempenho das escolas sociais maristas em relação as
escolas públicas em conjunto com a análise de tendências da educação básica, são
instrumentos poderosos para apontar sucessos, falhas e novas estratégias de
atuação, sempre priorizando o sucesso acadêmico dos alunos. Possíveis
indicadores de superioridade da atuação marista podem ser inválidos, dado que a
análise não é exaustiva tanto nas variáveis quanto nas correlações, Pode-se reduzir
tais instrumentos ao apoio a gestão na análise do atingimento das metas, as quais
se propõe a superar os indicadores do sistema público, porém com custos inferiores.
Estudiosos da área educacional afirmam que não há um caminho único para
a necessária transformação da educação brasileira, porém entendem que qualquer
estudo deve considerar a mensuração da qualidade e do custo por aluno como base
dos processos de gestão escolar.

REFERÊNCIAS
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<https://novaescola.org.br/conteudo/11890/quanto-custa-um-aluno-no-brasil>

BANCO MUNDIAL. Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto


público no Brasil. 2017. Disponível em:
<http://documents.worldbank.org/curated/en/884871511196609355/pdf/121480-REVISED-
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Charter school: uma escola pública que caminha e fala como escola privada.
Disponível em: <http://www.cartaeducacao.com.br/entrevistas/charter-school-uma-
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DIAS, Maria Carolina Nogueira; GUEDES, Patrícia Mota. O modelo de escola


charter: a experiência de Pernambuco. São Paulo: Instituto Fernand Braudel de
Economia Mundial: Fundação Itaú Social, 2010. Coleção excelência em gestão
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<https://www.itausocial.org.br/wp-content/uploads/2018/05/09-escola-charter-
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Gastos com


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