Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caso a relação entre os estímulos A1-B1 e A2-B2 não seja baseada nas propriedades
formais (i.e., físicas) destes, mas sim nos critérios previamente estabelecidos pelo
experimentador, caracteriza-se uma relação arbitrária ou simbólica (Cumming &
Berryman, 1965). (ASSAZ, 2019, p11)
Assim, diante do ensino direto das relações A-B e B-C e sendo A um estímulo
apetitivo, os estímulos B e C (previamente neutros) adquirirão função apetitiva. Em
outras palavras, eles serão funcionalmente equivalentes nesse contexto: respondemos
a B e C “como se fossem” A. (ASSAZ, 2019, p13)
Desse modo, a definição do comportamento verbal de Skinner pode ser refinada para
incluir que o ouvinte responde de forma efetiva ao falante em função de um treino
explícito para fazê-lo que envolve o estabelecimento de relações simbólicas entre
estímulos (Chase & Danforth, 1991). (ASSAZ, 2019, p13)
[...] de que forma os pensamentos de Marina podem exercer controle sobre
outros comportamentos dela: por meio da alteração da função de estímulos em
decorrência da participação destes em relações simbólicas. (ASSAZ, 2019,
p13)
de que modo e por que aprendemos a estabelecer tais relações simbólicas entre estímulos?
Nesse momento, essas respostas não são funcionalmente diferentes da pronúncia de uma
palavra em uma língua estrangeira que o indivíduo não conhece; dos “pedidos” de
cachorros a seus donos ao mexer na coleira ou no pote de ração; ou de pombos
“conversando” em caixas experimentais (cf. Epstein, Lanza & Skinner, 1980): são somente
respostas topograficamente distintas modeladas pelas consequências contingentes à sua
emissão e não falas “com compreensão” como as de indivíduos adultos verbalmente aptos
(Hayes & Hayes, 1989). (ASSAZ, 2019, p15)
De acordo com a RFT, a passagem da fala “sem compreensão” (i.e. decorrente de uma
história de condicionamento direto) para a fala “com compreensão” (i.e. na qual as palavras
estão inseridas em relações simbólicas) decorre de uma história de treino de múltiplos
exemplares (TME) de responder relacional provida pela comunidade verbal do indivíduo
(Hayes, Barnes-Holmes & Roche, 2001; Hughes & Barnes-Holmes, 2016; Luciano,
Rodríguez, Mañas, Ruiz, Berens & Valdívia-Salas, 2009). (ASSAZ, 2019, p15)
Para compreender o que isso significa, primeiramente é necessário conceituar o termo
“responder relacional”. Ele se refere a uma resposta do indivíduo não ao estímulo em si,
mas sim a um estímulo em relação a outro(s). Um indivíduo pode aprender por
reforçamento diferencial a, por exemplo, sempre selecionar o maior estímulo, o estímulo
mais acima dentre os apresentados ou o estímulo semelhante ao modelo. (ASSAZ, 2019,
p15)
Animais não-humanos, como pombos e macacos, demonstraram ser capazes de aprender tal
comportamento em contextos experimentais dadas as contingências adequadas (e.g., Frank
& Wasserman, 2005; Harmon, Strong & Pasnak, 1982; Yamazaki, Saiki, Inada, Iriki &
Watanabe, 2014). (ASSAZ, 2019, p15)
Uma vez que o comportamento do indivíduo fica sob controle da dica contextual, ela pode
ser utilizada para ensinar relações de igualdade entre estímulos simbólicos, que não
compartilham propriedades físicas, por meio do treino relacional arbitrário.´ (ASSAZ,
2019, p16)
Na Figura 3, temos três estímulos que não compartilham propriedades físicas: eles têm
caráter pictográfico, auditivo e textual. Porém, apesar das diferenças físicas entre eles, uma
pessoa que abstraiu a dica contextual “igual” é capaz de responder à palavra queijo de
forma similar a imagem do alimento (e vice-versa) ao ser informada que “um é igual ao
outro”. (ASSAZ, 2019, p16)
Isso simplesmente significa que, dados dois estímulos arbitrários (ao menos um com
função previamente adquirida) e as dicas contextuais apropriadas, o indivíduo passa a ser
capaz de responder a um em função do outro e derivar novas relações simbólicas de
acordo. (ASSAZ, 2019, p17)
Já o caráter indireto das relações significa que as pessoas podem responder a um estímulo
em função de sua relação com outro, prescindindo do contato direto com o primeiro para
responder de forma efetiva ao ambiente. Desta forma, pode-se aprender sobre eventos
remotos e probabilísticos sem a necessidade de esperar que eles ocorram; sobre eventos
potencialmente perigosos sem correr risco de danos ao organismo; e sobre eventos
passados, impossíveis de terem sido vivenciados diretamente pelo indivíduo. (ASSAZ,
2019, p19)
Em conjunto, essas três propriedades colocam esse repertório na base de muitas das
características comumente associadas à espécie humana, como linguagem (Hayes et al.,
2001; Stewart, McElwee & Ming, 2013), inteligência (Cassidy, Roche & O’Hora, 2010) e
tomada de perspectiva do outro, incluindo empatia e mentira (Barnes-Holmes, McHugh &
Barnes-Holmes, 2004; Vilardaga, 2009). (ASSAZ, 2019, p19)
Levando em consideração as vantagens mencionadas acima, não é nenhuma surpresa que a
comunidade verbal busque desenvolver esse repertório em todos os seus membros. De
forma que é comum observar os cuidadores oferecendo modelo e modelando o operante
RRAA das crianças de forma similar ao feito anteriormente diante da emissão das respostas
verbais não-simbólicas, seja por meio de consequências sociais generalizadas (e.g.,
aprovação, sorriso, atenção) ou socialmente mediadas (e.g., dar o que a criança pede, ajudá-
la diante de um desafio).