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COMPORTAMENTO VERBAL

Terem Maria de Azevedo Pires Sério


Maria Ama lia Andery

Os homens agem sobre o inundo,


modificam-no e são, por sua vez,
modificados pelas consequências de
sua ação. (Skinner, 1992, p.l)

Essa afirmação talvez seja uma das frases mais


citadas de Skinner. É com ela que o autor inicia seu
livro Verbal behavior, publicado pela primeira vez em
1957. Esse talvez seja um dos livros de Skinner que
tenha sido objeto de mais análise: muitas criticas e
muitas respostas às críticas.
A frase destacada é importante porque expressa
de forma contundente a noção de comportamento
operante, noção essa que sustenta todo o sistema
conceituai da análise do comportamento. Colocada
logo no início de um livro sobre comportamento
verbal, ela passa a ter uma dupla importância: além

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de expressar muito bem a noção de comportamento O^ comportamento altera o ambiente por meio de
operante, a afirmação já indica o âmbito no qual o ação mecânica e suas propriedades ou dimensões
comportamento verbal será tratado; Skinner inicia frequentemente estão relacionadas de uma maneira
jjitnples aos efeitos produzidos. Quando um homem
seu livro afirmando que comportamento verbal é
anda na direção de um objeto, cie usualmente fica
comportamento operante. mais perto desse objeto; se ele procura alcançá-lo, é
Tal proposta quer dizer que os conceitos já provável que contato físico seja a consequência (...).
elaborados no estudo do comportamento operante Tudo isso deriva de princípios mecânicos e
podem ser utilizados na análise do comportamento geométricos simples.
verbal. Todos os processos que podem ocorrer com Entretanto, a maior parte do tempo um homem age
indirctamentc sobre o ambiente a partir do qual
relações operantes (por exemplo, reforçamento, ex-
emergem as consequências últimas de seu compor-
tinção, discriminação) podem ocorrer quando esse
tamento. Seu primeiro efeito é sobre outro homem. Ao
comportamento operante for verbal. Nenhum concei- invés de ir até um bebedouro, um homem sedento pode
to básico novo - no âmbito do comportamento ope- simplesmente "pedir um copo de água" - isto é, ele
rante - será necessário para descrição e explicação pode engajar-se em comportamento que produz um
do comportamento verbal. determinado tipo de padrão sonoro que, por sua vez,
induz alguém a trazer-lhe um copo de água. (p. 1)
Diante de tal proposta, é bem possível que surja
de imediato a pergunta: por que, então, destacar o
comportamento verbal como objeto de estudo? Skinner, nesse trecho, está propondo uma dis-
A resposta para essa pergunta é encontrada tinção entre as relações operantes: a) há comporta-
também nos primeiros parágrafos do livro Verbal mentos operantes que se caracterizam por manter
behavior. Logo após a frase destacada, Skinner com o ambiente uma relação direta e mecânica; esses
(l992) afirma: comportamentos envolvem processos que são co-
muns à espécie humana e às demais espécies animais;
Determinados processos que o organismo humano b) há comportamentos operantes que se caracterizam
partilha com outras espécies alteram o compor- por manter com o ambiente uma relação indireta e
tamento de forma que ele realize intercâmbios mais não-mecânica, comportamentos que alteram, em pri-
seguros e mais úteis com um ambiente particular. (...) meiro lugar, um outro homem; esses comportamen-

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tos parecem envolver processos típicos da espécie Por que comportamento verbal?
humana. Esse segundo tipo de comportamento ope-
rante é que Skinner chama de comportamento verbal. A compreensão da proposta skinneriana para o
E, apesar de poder ser descrito com os mesmos estudo do comportamento verbal começa com a com-
conceitos básicos que descrevem qualquer outro preensão da escolha do nome dado para esse tipo de
comportamento operante, o comportamento verbal comportamento operante. Por que recorrer a uma
apresenta peculiaridades derivadas da relação não- expressão nova? Por que, por exemplo, não chamar
mecânica que mantém com o ambiente: tal comportamento "linguagem" ou "linguístico"?
Como reconhece Skinner(1945, 1992), quando
O comportamento que é cfetivo apenas por meio da ele apresentou sua proposta para o estudo do compor-
mediação de outras pessoas tem tantas propriedades tamento verbal, os fenómenos que pretendia abran-
topográficas e dinâmicas peculiares que um
ger com o rótulo de comportamento verbal já estavam
tratamento especial é justificado e, realmente,
exigido. Os problemas originados por esse modo sendo estudados há muito tempo. Assim, já existia
especial de ação são usualmente atribuídos ao campo uma variada terminologia referente a tais fenómenos
da fala ou linguagem. (1992, p. 2) e, mais do que isso, estavam já difundidos diferentes
modos de estudá-los e estavam disponíveis diferen-
Podemos, então, concluir que o comportamento tes explicações para tais fenómenos. Entretanto, ao
verbal é um tipo espprial dp r.nmpnrtaTnp.nfn npp.ran- estender o conceito de comportamento operante a tais
te. O estudo desse tipo de comportamento operante^ fenómenos, Skinner apresentou uma proposta peculiar
deverá envolver tanto a identificação e a descrição, que diferia muito das propostas mais em voga e que
dos processos básicos comuns a todo comportamento exigiria uma reformulação total dos conceitos que fun-
_pperante, como a identificação e a descrição dos damentavam tais propostas.
^processos que lhe são próprios, e as características Para evitar quaisquer vínculos com conceitos
desse estudo começam a ser explicitadas_na escolha comprometidos com outras propostas e para indicar
de uma nova terminologia. a diferença de perspectiva que estava propondo,
Skinner deu um "nome" novo para o conjunto de
fenómenos que pretendia abranger. Como ele próprio

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indica, esse tipo diferente de relação operante, que só e mantido por consequências mediadas; (b) isso deve
ocorre "por meio da mediação de outros", tem cons- ser feito tendo em vista o comportamento de indiví-
tituído o "campo da fala e da linguagem", mas "fala" duos, isto é, como o repertório comportamcntal com
e "linguagem" tinham já conotações que não combi- as características indicadas foi/está sendo modelado
navam com a perspectiva nova que estava sendo e mantido em indivíduos particulares; e, (c) as des-
proposta. Segundo Skinner (1992), o termo "fala" crições e explicações assim produzidas não deverão
estava muito comprometido com linguagem vocal estar comprometidas com as explicações tradicional-
apenas e a relação não mecânica, característica do mente propostas para tal tipo de comportamento.
comportamento verbal, não ocorre apenas quando as A que explicações Skinner está se referindo,
respostas são vocais. O termo "linguagem", por sua aqui? Como acontece com outros conceitos que cons^
vez, não tem a limitação do termo "fala", mas, tem tituem o sistema explicativo da análise do comporta-
sido usado para descrever "as práticas da comunidade mento, com o conceito de compnaamcnto verbal
linguística e não o comportamento de qualquer um pretende-se romper com qualquer explicação do
de seus membros" (1992, p. 2). Além de evitar esses comportamento que o atribua a fatos que ocorrem no
problemas, interior do indivíduo. No caso do comportamento
verbal, tais fatos têm recebido diferentes nomes:
O termo "comportamento verbal" tem muitas re- ideias, imagens, significados, informaçãq.
comendações. (...) cie enfatiza o falante individual e Em todos esses casos, o modelo da explicação
(...) especifica o comportamento que é modelado e é o mesmo. A caracterização que Skinner (1992) faz
mantido por consequências mediadas. Ele tem tam- desse modelo é bem ilustrada no exemplo do recurso
bém a vantagem de ser relativamente não familiar
a "ideias" como "causa"/explicação do compor-
nos modos de explicação tradicionais. (1992, p. 2)
tamento verbal:

A escolha do termo comportamento verbal


Dizia-se que uma asserção estaria explicada explici-
indica, assim, algumas marcas da proposta de tando as ideias que ela expressava. Se o falante tivesse
Skinner: (a) pretende-se compreender (descrever e tido uma ideia diferente, ele teria dito palavras diferen-
explicar) o comportamento operante que é criado tes ou um arranjo de palavras diferente. Se sua as-

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serção fosse incomum seria por causa da novidade o papel de agentes causadores do comportamento
ou originalidade de suas ideias. Se a asserção pare- verbal, passa-se a considerá-los como eventos ou
cesse vazia, era porque deveriam faltar ideias ao falante
entidades com existência independente;
ou ele teria sido incapaz de colocá-las em palavras. Se
ele não pudesse ficar em silêncio, era por causa da força
c) com esse tipo de explicação considera-se a
de suas ideias. Se ele falasse de maneira hesitante era fala como tendo existência separada do comporta-
porque suas ideias vinham lentamente ou estavam mal mento do falante.
organizadas. E assim por diante. Todas as pro-
priedades do comportamento verbal parecem, assim, Palavras são consideradas como ferramentas ou instru-
ser explicadas, (pp. 5-6) mentos, análogas a sinais, marcas e bandeiras de
sinalização algumas vezes empregadas com propósi-
tos verbais. (1992, p. 7)
Há, para Skinner, um conjunto de problemas
nesse modelo de explicação, quer o evento que explica Esses dois últimos aspectos acabam por levar à
o comportamento verbal seja uma "ideia", quer seja decomposição do comportamento verbal em três ins-
uma "imagem", um "significado" ou "informação": tâncias separadas e independentes: as palavras, os
a) nesse tipo de explicação, as características supostos agentes causais (ideias, significados, ima-
atribuídas ao evento causador são identificadas a gens oujnformação) e_as respostas emitidas (o ato da
partir do comportamento verbal observado, de modo fala). Essa separação é especialmente problemática
que as características de ambos serão sempre coinci- para a perspectiva da análise do comportamento, pois
dentes. com ela as relações que constróem o comportamento
operante são ignoradas ou, até mesmo, destruídas.
Obviamente não há uma verdadeira explicação.
Tendo apresentado as razões para a escolha de
Quando dizemos que um comentário é confuso por-
um novo nome - comportamento verbal - para um
que a ideia não é clara, parecemos estar falando sobre
dois níveis de observação, embora, de fato, haja conjunto de fenómenos que vinha já sendo estudado
apenas um. (1992, p. 6) pela psicologia e por outras áreas do conhecimento,
devemos voltar para a definição de comportamento
b) Nesse modelo explicativo atribuindo às verbal, de forma a torná-la clara e a identificar algu-
ideias, aos significados, às imagens ou à informação mas implicações que ela acarreta no estudo desses
fenómenos.

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A definição de comportamento verbal precisa ser completada. A expressão "mediado pelo
comportamento de outro" deve ser esclarecida: nem
Iniciamos o texto distinguindo dois tipos de todo comportamento mediado é considerado, na
comportamento operante e apresentando as bases análise do comportamento, como comportamento
dessa distinção; na distinção desses dois tipos está já verbal. São excluídas da definição de comportamento
a apresentação de um dos elementos da definição de verbal as seguintes situações que envolvem me-
comportamento verbal. Çomportamemo verbal foi diação: (a) quando a participação da pessoa que coa-
definido como "o comportamento reforçado por meio seqiiencia o comportamento equivale à de um objeto
da mediação de outras pessoas" (1992, p. 2). físico ou quando se recorre à força física, por exem-
Como já foi enfatizado, essa é a característica plo, quando alguém serve de apoio para outro ou
básica desse tipo de comportamento operante; é essa quando empurra outro; (b) quando a resposta do outro
característica que o torna um tipo especial. Skinner produz um estímulo eliciador incondicionado, como,
(1974), ao comparar a proposta por ele apresentada quando se assopra o olho de alguém; .(c) quando as
com outras, já difundidas, afirma: propriedades do comportamento do outro, que con-
trolam o comportamento de alguém são produto de
Uma visão muito mais produtiva é que compor- relações acidentais. Com a exclusão desses casos de
tamento verbal é comportamento. Ele tem um caráter
mediação, resta como característica da mediação que
especial apenas porque é reforçado por seus efeitos
sobre as pessoas - no início outras pessoas, mas
é típica do comportamento verbal aquela que foi
finalmente o próprio falante. Como resultado, ele c especialmente produzida para afetar o compor-
livre de relações espaciais, temporais e mecânicas tamento de outro. A esse respeito Skinner (1992)
que prevalecem entre o comportamento operante e afirma:
consequências não sociais, (pp. 88-89)

O condicionamento especial do ouvinte é o X do


Essa é, efetivamente, a característica básica do problema. Comportamento verbal é modelado e
comportamento verbal; entretanto, como o próprio sustentado por um ambiente verbal - por pessoas que
Skinner afirma, a definição de comportamento verbal respondem ao comportamento de determinadas
maneiras por causa das práticas do grupo de que são

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membros. Essas práticas c a interação de falante e (quando ela se tornou parte de uma linguagem)"
ouvinte resultante produzem os fenómenos que são
(p. 89), Apesar dessas três alternativas, possivel-
considerados aqui sob a rubrica de comportamento
mente, descreverem momentos do processo que
verbal, (p. 226)
originou e desenvolveu o repertório verbal na espécie
humana, para Skinner (1987), é O terceiro momento
Nesse trecho Skinner apresenta a segunda ca- que é definidor do comportamento verbal:
racterística do comportamento verbal: a preparação
sistemática do mediador. Podemos, então, apresentar Comportamento verbal é comportamento que c re-
uma definição mais completa de comportamento ver- forçado por meio da mediação de outra pessoa, mas
bal: comportamento verbal é comportamento operan- apenas quando a outra pessoa está se comportando de
te que é reforçado pela mediação de outras pessoas maneiras que foram modeladas e imintidas por um
ambiente verbal que evoluiu, ou linguagem, (p. 90)
que foram especialmente preparadas para reagir
como mediadores.
Skinner, a partir dessa data, em vários outros Definir comportamento verbal dessa forma traz
momentos, enfatizou essa segunda característica do de imediato duas consequências: a primeira delas é a
comportamento verbal. Por exemplo, em 1987, em de tornar comportamento verbal um objeto da psi-
artigo sobre a evolução do comportamento verbal, cologia. É interessante notar que Skinner (1992) é
Skinner destaca a importância desse aspecto, ao se bastante claro e enfático a esse respeito:
perguntar quando uma resposta operante tornar-se-ia
verbal. Para responder a pergunta Skinner apresenta A responsabilidade final [do estudo do compor-
tamento verbal] deve ficar com as ciências com-
três alternativas: (a) quando a resposta operante tiver
portamentais e particularmente com a psicologia. O
sido fortalecida pela reação de outra pessoa; (b) que acontece quando um homem fala ou responde à
quando a mesma resposta puder ser emitida em outras fala é claramente uma questão a respeito do compor-
situações com outras consequências, independentemente tamento humano e, assim, uma questão a ser respon-
do estado momentâneo do sujeito; (c) quando a dida com os conceitos e técnicas da psicologia como
uma ciência experimental do comportamento, (p. 5)
resposta tiver sido produzida e mantida por "um
ambiente verbal, transmitido de uma geração a outra

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A segunda consequência diz respeito à unidade uma resposta verbal por sua dimensão, mas, sim, pela
de análise do comportamento verbal. relação resposta-conseqiiência; considerando como
exemplo O comportamento vocal, um som, uma pa-
Ao definir comportamento verbal como compor- lavra, uma frase ou mesmo um texto inteiro podem
tamento reforçado por meio da mediação de outras ser, em diferentes situações, tomados como uma
pessoas nós não especificamos, e não podemos espe-
resposta verbal.
cificar, qualquer forma, modo, ou meio. Qualquer
movimento capaz de afctar um outro organismo
Finalmente, a caracterização do comportamen-
pode ser verbal. Nós provavelmente destacamos o to verbal como comportamento operante leva a uma
comportamento vocal, não apenas porque ele é mais concepção especial com relação à noção de signifi-
comum mas porque ele tem pouco efeito sobre o cado. Como para qualquer outro comportamento, o
ambiente físico c, assim, é quase necessariamente significado de uma resposta verbal deve ser buscado
verbal. (1992, p. 14) nas variáveis de controle dessa resposta.

Diferentes formas de resposta, tais como ges- (...) o significado não é uma propriedade do compor-
tos, manipulação de objetos físicos ou a própria pro- tamento como tal, mas das condições sob as quais o
dução de sons, poderão ou não ser definidas como comportamento ocorre. Tecnicamente signifi-
comportamento verbal, dependendo de sua relação cados devem ser encontrados entre as variáveis
independentes em uma descrição funcional, e não
com o ambiente: nada há na forma da resposta que a
nas propriedades da variável dependente. Quando
identifique como verbal. Entretanto, como salienta alguém diz que pode ver o significado de uma
Skinner, a forma vocal tem sido tomada como repre- resposta ele quer dizer que pode inferir algumas
sentativa do comportamento verbal em geral e, por das variáveis das quais a resposta é usualmente
isso, referimo-nos a quem emite a resposta verbal uma função. A questão é particularmente impor-
como falante e a quem consequência o responder do tante no campo do comportamento verbal no qual
o conceito de significado desfruta de um prestígio
falante como ouvinte (mesmo quando a forma da
incomum. (Skinner, 1992, pp. 13-14)
resposta não é vocal). Intimamente relacionada a essa
ausência da forma como característica distintiva do
comportamento verbal, também não se caracteriza

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Dessa forma, a única unidade de análise possí- ação do ouvinte no reforçamentO do compor-
tamento. Quando o ouvinte estimula o falante antes
vel no estudo do comportamento é a tríplice contin-
gência, isto é, as inter-relações entre a situação na l da emissão do comportamento verbal, podemos falar
dele como a audiência. Uma audiência, então, c um
qual a resposta é emitida, a resposta e as consequên-
esiímulo discriminativo na presença do qual o com-
cias produzidas pela resposta (Skinner, 1969). No portamento verbal c caracteristicamente reforçado e
caso do comportamento verbal, diferentes situações na presença do qual, portanto, ele é caracteristi-
e condições poderão se constituir em situação ante- camente forte, (p. 172)
cedente; como já foi dito, a resposta poderá ter dife-
rentes formas e dimensões, e uma característica que Um primeiro esforço para compreender o com-
se mantém constante é que o primeiro efeito dessa portamento verbal pode ser visto na tentativa de iden-
resposta é sobre o ouvinte. tificar semelhanças e diferenças nas contingências que
Uma outra característica comum a essas dife- descrevem o comportamento verbal. Isso produziu uma
rentes contingências se refere às condições antece- classificação dessas contingências, que foram
dentes controladoras da resposta verbal. Além das chamadas por Skinner (idem) de operantes verbais.
condições peculiares de uma dada contingência, há,
em geral, como parte dessas condições, a presença de Operantes verbais
uma audiência. Segundo Skinner (1992):
Skinner identificou seis operantes verbais pri-
Comportamento verbal usualmente ocorre apenas na
presença de um ouvinte. Quando o falante está mários: mandq, tato, ecóico, textual, transcrição e
falando para si mesmo, naturalmente, um ouvinte intraverbal.
está quase sempre presente. (...) O ouvinte, como
uma parte essencial da situação na qual o compor-
Mando
tamento verbal é observado c (...) um estímulo dis-
criminativo. Ele é parte da ocasião na qual o
comportamento verbal c reforçado e, portanto, ele se Um operante verbal é chamado de um mando
torna parte da ocasião que controla a força do com- quando a resposta verbal é emitida sob controle de
portamento. Esta função deve ser diferenciada da condições específicas de privação ou da presença

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de estimulação aversiva. Frequentemente, são exemplos ou de estimulação aversiva sobre a resposta, de tal
de mando respostas verbais tradicionalmente chama- forma que se estabelece uma relação especial de
das de ordens, pedidos e avisos. Nesse tipo de ope- controle com a estimulação antecedente (por exem-
rante a resposta verbal especifica o reforçador (por plo, sob controle da presença de chuva, alguém diz
favor, um copo de água) ou o comportamento do "está chovendo"). A estimulação antecedente que
ouvinte (por favor, feche a janela). Diferentemente exerce caracteristicamente controle sobre as respos-
de outros operantes verbais, a resposta não tem uma tas verbais no tato
relação específica com um estímulo antecedente, (...) nada mais é que todo o ambiente físico - o
mas, sim, com uma condição de privação ou estimu- mundo das coisas e eventos de que se dia o falante
lação aversiva do falante. Skinner sintetiza essas "fala a respeito", O comportamento verbal sob con-
características, salientando que.o repertório verbal de_ trole desses estímulos é tão imponanie que, frequen-
mandos, em geral, opera em benefício do falante, temente, é com ele que se trabalha exclusivamente
no estudo da linguagem c nas teorias do significado.
uma vez que produz como consequência, um refor-
(1992, p. 81)
çador específico (positivo ou negativo).
Essa caracterização de Skinner ressalta a im-
Tato portância do estabelecimento de controle de estímu-
los e do desenvolvimento de um repertório de tatos.
Skinner sintetiza essas características, enfatizando
Um operante verbal é chamado de tato quando
que um repertório de tatos, em geral, opera em bene-
a resposta verbal é emitida sob controle de um estí-
fício do ouvinte, uma vez que permitiria ao ouvinte
mulo antecedente específico não verbal (um objeto,
"acesso" a informações sobre o mundo (os eventos
um evento ou propriedade de um objeto ou evento) e
que controlam o comportamento do falante) ou mes-
produz como consequência reforço condicionado ge- mo a informações sobre o próprio falante.
neralizado ou um conjunto de estímulos reforçadores
distintos (não específicos). O estabelecimento do
repertório de tatos supõe o enfraquecimento da rela-
ção de controle dos estados de privação específicos

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Operantes verbais sob controle pendência entre o estímulo e a resposta é uma
de estímulos antecedentes verbais correspondência formal, arbitrariamente estabele-
cida. Um exemplo bastante comum do operante ver-
Quatro dos operantes verbais - ecóico, textual, bal transcrição são as atividade de cópia e ditado
transcrição e intraverbql - descrevem relações espe- realizados pelas crianças na escola,
cíficas entre estímulos antecedentes verbal e respos- Finalmente, o operante verbal intraverbal é
tas verbais. Nesses casos, assim como no caso do tato, caracterizado por uma relação na qual uma resposta
em geral, o estímulo reforçador que mantém o res- verbal - vocal ou escrita - fica sob controle de estimulo
ponder é um estímulo condicionado generalizado. antecedente - vocal ou escrito, Nesse caso, a relação
No caso do operante verbal ecóico, o estímulo entre estímulo e resposta, no entanto, não obedece £i
antecedente é um estímulo verbal vocal (sonoro) e a uma correspondência formal. Skinner (l 992) exempli-
resposta verbal, também vocal, reproduz o estímulo, l fica os vários tipos de respostas verbais que podem
sem o que não há reforçamento (por exemplo, diante ser incluídas no operante verbal intraverbal:
do som "au-au", repetir "au-au").
No caso do operante verbal textual, o estímulo Quando um longo poema c recitado, frequentemente
antecedente é um estímulo verbal impresso ou escritc podemos explicar a maior parte do recitar apenas
e a resposta é uma resposta vocal. Há entre o estímulo supondo que uma parte controla uma outra de uma
e a resposta uma correspondência formal, arbitraria- maneira intraverbal. Caso interrompamos o
falante, o controle pode ser perdido; mas voltar ao
mente estabelecida (por exemplo, diante da palavra início o restabelece, recriando o estímulo verbal
impressa "operante", dizer "operante"). É importante adequado, O alfabeto é adquirido como uma série
ressaltar, aqui, que a relação de controle que caracte- de respostas intraverbais, assim como contar, adi-
riza o comportamento textual é diferente da relação cionar, multiplicar e reproduzir tabelas matemáti-
de controle que caracteriza leitura com compreensão. cas em geral. A maior parte dos "fatos" da história
são adquiridos e relidos como respostas intraver-
Transcrição é um operante verbal no qual o
bais. Assim como ocorre com muitos dos fatos da
estímulo antecedente é vocal ou escrito e a resposta ciência, embora haja respostas aqui também
verbal é sempre escrita. Em qualquer dos casos, assim frequentemente sob um outro tipo de controle [o
como no caso do comportamento textual, a corres- controle envolvido no tato]. (p. 72)

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Parte importante de nosso conhecimento formal da revisão e rejeição ou emissão de respostas, a
- da história, das ciências, etc. - é composto de operan- geração de quantidades de comportamento verbal e as
tes verbais que são intraverbais: respondemos sob con- manipulações altamente complexas de pensamento
trole de estímulos verbais que servem como estímulos verbal podem todas (...) ser analisadas cm termos do
comportamento que é evocado por, ou age sobre, outro
discriminativos para a emissão de respostas.
comportamento do falante. (1992, p. 313)

Comportamento verbal secundário O que Skinner chama de sistema de respostas


de nível inferior são os operantes verbais primários e
Além dos operantes verbais primários já apre- o que chama de sistema de respostas de ordem supe-
sentados, Skinner (1992) identifica mais um tipo de rior são os comportamentos verbais secundários ou
comportamento verbal, o chamado autoclítico. autoclíticos.
Os autoclíticos são respostas verbais que não
As propriedades importantes do comportamento podem ser emitidas isoladamente, mas apenas em
verbal que ainda devem ser estudadas dizem respeito conjunção com algum outro operante verbal. São
aos arranjos especiais de respostas. Parte do compor- respostas controladas por algum aspecto do compor-
tamento de um organismo torna-se, por sua vez, uma
tamento verbal do falante e que alteram o efeito do
das variáveis controladoras de uma outra parte. Há
pelo menos dois sistemas de respostas, um baseado comportamento verbal do falante sobre o compor-
no outro. O nível superior pode ser entendido apenas tamento do ouvinte. Tipicamente, respostas como
em termos de suas relações com o inferior. (...) O "por favor", respostas que indicam a fonte dos tatos
sistema controlador 6 ele mesmo comportamento como "eu vejo que está chovendo", "acho que está
também. O falante pode "saber ('know') o que está
chovendo", ou respostas que descrevem condições do
dizendo" no sentido de que ele conhece ('knows')
qualquer parte ou aspecto do ambiente. Parte do seu
falante como "sinto-me feliz em dizer que", são auto-
comportamento (a "conhecida") serve como uma clíticos que especificam ou destacam características
variável no controle de outras partes ("conhecer"). do comportamento verbal primário que está sendo
"Atitudes preposicionais" tais como asserção, emitido pelo falante. Além disso, são respostas tipi-
negação e quantificação, o plano produzido por meio camente autoclíticas as respostas verbais que depen-

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,dem de outras respostas verbais e estabelecem re- Dois fatos emergem a partir de nossa investigação
das relações funcionais básicas no comportamento
lações entre elas. Essas respostas incluem desde ter-
verbal: (1) a lorça de uma úmea resposta pode ser, c
mos que relacionam eventos como "o livro de João", usualmente é, função de mais de uma variável, c (2)
até partículas como as que indicam tempo em que uma única variável usualmente afeta mais do que
ocorreu a ação como "chove»", ou que indicam uma resposta, (p. 227)
género, como "menino" ou "menina" ou que indi-
cam número como, por exemplo, "menino^-". Referências bibliográficas

A multideterminação do comportamento verbal SKINNER, B. F. (1945). The opcrational analysis ôf


psychological terms. The Psychological
Os tipos de contingências que descrevem com- Review, 52, pp. 270-277, 291-294.
portamento verbal são apenas instrumento de análise. (1969). ContingencesafRcinforcement. New
Seria um erro supor que qualquer um desses tipos de York, Appleton-Century-Crofts.
comportamento verbal pode ser encontrado em sua (1974). About behaviorism. New York,
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Como qualquer outro comportamento, o com- Cliffs, NJ, Prentice-Hall.
portamento verbal é multideterminado, em outras ([1957]1992). Verbal behavior. Acton,
palavras, uma resposta verbal pode estar sob controle Mass., Copley Publishing Group.
de muitas variáveis; assim, por exemplo, além da
audiência, do estímulo antecedente não verbal - va-
riável de controle típica de um tato -, podem exercer
controle sobre a resposta verbal "água", por exemplo,
o estado de privação do sujeito ou, até mesmo, algum
estímulo verbal, como o sinal de um bebedouro
próximo. Segundo Skinner (1992):

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