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Belo Horizonte-MG
2007, Vol. IX, nº 2, 289-305
Cristiane Alves
Universidade Católica de Goiás
Universidade de Brasília
Antonio de Freitas Ribeiro
Universidade de Brasília
Resumo
O presente estudo investigou as relações funcionais entre os operantes verbais, tato e mando, já
que os dados da literatura são inconclusivos. Foram verificadas relações entre os operantes verbais
“Let” e “Zut”, arbitrariamente relacionados às posições, esquerda e direita, cada um com função
ora de tato, ora de mando. Foi verificada a ocorrência de respostas de mando após o treino direto
das respostas de tato, a partir do procedimento de treinos múltiplos. Participaram da pesquisa
seis crianças entre dois anos e cinco meses e quatro anos e um mês, que freqüentavam uma
escola na qual o estudo foi realizado. Cinco de seis participantes emitiram respostas de mando
não-treinadas diretamente após o treino do tato, ou seja, apresentaram dependência funcional.
Este resultado foi relacionado a algumas variáveis facilitadoras, como o procedimento de treinos
múltiplos, a exigência da comunidade verbal a qual as crianças estavam expostas, a idade dos
participantes, dentre outras.
Abstract
The present study investigated the functional relations between the verbal operants, tact and
mand, since the data in the literature is inconclusive. Relations were verified between the verbal
operants “Let” and “Zut,” arbitrarily related to the positions, left and right, each with a function
either of tact or mand. It was verified the occurrence of responses of mand after the direct training
of tact´s responses, from the procedure of multiple training. The subjects were six children between
two years and five months and four years and one month, who attended school, in which the
study was conducted. Five of six participants emitted not-trained mand responses after the tact
training, that is, they presented functional dependence. This result was related to some variables
facilitators, such as the procedure of multiple training, the requirement of the verbal community
which children were exposed to, the age of the subjects, among others.
Os autores agradecem à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo financiamento em forma de
bolsa de mestrado da primeira autora durante 12 meses.
Mestre pela Universidade de Brasília. E-mail: cristianealvesf@yahoo.com.br
Ph. D. pela Universidade de Vermont. E-mail: aribeiro@unb.br
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çada especificamente por um objeto, pode relativos às relações entre tatos e mandos.
também constituir um tato do referido ob- Utilizando treinos simples, Siga-
jeto. Uma possível conexão pode ocorrer, foos, Doss e Reichle (1989) e Sigafoos, Rei-
pois o estímulo que reforça o mando pode chle, Doss, Hall e Pettitt (1990) treinaram
também funcionar como estímulo discri- tatos para artigos referentes à alimentação
minativo para o tato. Essa possibilidade se e testaram mandos para eles. No primeiro
constitui em outra variável que pode favo- estudo, não foram emitidos mandos; já no
recer o uso de uma resposta verbal em am- segundo estudo, houve ocorrência destas
bos os contextos, mando e tato. respostas.
E mais uma conexão citada por Já Simonassi (2004) estudou as rela-
Skinner (1957/1978) é que “a presença de ções entre mandos, tatos e também intraver-
um objeto reforçador é uma condição ótima bais¹, utilizando pares de brinquedos com
para o reforço” (p. 229). Deste modo, tan- crianças, e seus resultados apontaram tan-
to o tato quanto o mando podem ocorrer, to a independência quanto a dependência
sendo que o mando tenderá a ocorrer mais funcional. Utilizando, também, treinos sim-
provavelmente na presença do objeto. ples, Wallace, Iwata e Hanley (2006) ensina-
Alguns estudos experimentais fo- ram tatos e testaram mandos com a mesma
ram realizados com o intuito de demonstrar topografia para itens de alimentação/lazer.
a relação entre falante e ouvinte e de verificar, Os dados apontaram para a ocorrência de
ainda, se há uma relação de independência respostas de mando.
ou dependência funcional entre essas fun- Utilizando a linguagem de sinais,
ções. Hall e Sundberg (1987) manipularam opera-
Guess (1969), Guess e Baer (1973), ções estabelecedoras (OE). Foram treinados
Cuvo e Riva (1980) e Lee (1981) buscaram tatos e testados mandos. Os procedimentos
compreender as relações de independên- usados eram prompts de tato, como “O que
cia/dependência funcional entre as funções é isto?”, e prompts imitativos, como “O que
de falante e ouvinte, e obtiveram dados co- você precisa?”. Nenhum procedimento se
muns em seus resultados. Em todos eles, sobressaiu. Houve independência funcio-
dados de independência funcional entre nal.
as funções de falante e ouvinte foram en- Ainda com linguagem de sinais, Sta-
contrados. Esses resultados são recorrentes fford, Sundberg e Braam (1988) buscaram
entre os estudos, mesmo que os autores investigar a eficácia do reforço específico e
tenham utilizado metodologias diferencia- do reforço generalizado no comportamento
das. Em destaque, os treinos da função de verbal. Para isso, mantiveram constantes as
ouvinte não geraram a função de falante, variáveis: operações estabelecedoras, estí-
apesar da possibilidade da generalização mulos não-verbais e exigência das respos-
entre tais repertórios por meio do procedi- tas. Dois grupos de objetos foram utiliza-
mento do reforçamento. dos, sendo treinados tatos para um grupo
Outros autores buscaram verificar e mandos para o outro. Foram medidas a
as relações de independência/dependên- latência e a escolha dos dois operantes. O
cia funcional entre os operantes verbais. Para mando teve menor latência e maior esco-
isso, alguns optaram por treinos simples, ou lha, ou seja, ocorria em intervalos de tempo
seja, treino de um operante seguido imedia- menores e houve mais emissões de mandos
tamente pelo teste do outro. Já outros auto- do que de tatos. Este resultado foi apontado
res optaram por procedimentos múltiplos, como sendo produto do reforçamento espe-
como treinos alternados entre os operantes. cífico, que é mais eficaz em ambas as medi-
Além disso, outras variáveis foram verifi- das do que o reforçamento generalizado.
cadas. Aqui estão mencionados os estudos Utilizando treinos múltiplos, Car-
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posição a ser colocado o objeto. E, na fase de do-tato, com sete crianças de dois a quatro
treino/teste do tato, o participante deveria anos. Ele encontrou dados tanto de depen-
responder onde estava o objeto. Já no man- dência quanto de independência funcional.
do e tato invertidos, as relações de posição Assim, o autor afirma que os dados corro-
eram invertidas, ou seja, a direita passava a boram com dados da literatura. Defende
ser esquerda e vice-versa. que o tempo de exposição aos treinos e o
Três dos nove participantes apre- nível de exigência do ouvinte ao liberar re-
sentaram a ocorrência de um operante após forçadores para o falante são variáveis mais
o treino de inversão do outro, sendo um na importantes.
ordem mando-tato e dois na ordem tato- Já para Lage (2005), a ordem foi tato-
mando. Para Lamarre e Holland (1985), isto mando com seis crianças de dois a quatro
ocorreu porque a mesma posição que con- anos. Ela também encontrou dados de inde-
trolava a resposta de tato também reforçava pendência/dependência funcional. A auto-
a resposta de mando. ra aponta para as variáveis como a idade e
Baseados em Lamarre e Holland a exigência do ouvinte.
(1985), outros estudos foram realizados. Petursdottir, Carr e Michael (2005)
Um deles foi Silva (1996). Com o objetivo replicaram os resultados de Lamarre e
de evitar problemas futuros com os con- Holland (1985). Para isso, utilizaram um
ceitos de esquerda/direita, o autor adotou procedimento diferenciado, com tarefas de
termos sem sentido, “Let/Zut”, que se re- montar: cubo e quebra-cabeça. As crianças
feriam às posições. O delineamento deste receberam treino de tato para uma das tare-
estudo incluiu apenas a ordem dos treinos fas e de mando para a outra, e eram testados
tato-mando. Seus resultados mostraram in- ambos os operantes. Respostas de tato após
dependência funcional para o participante o treino do mando surgiram com maior fre-
mais novo (quatro anos) e a dependência qüência. Esse resultado difere dos dados de
funcional para os dois participantes mais Lamarre e Holland (1985). Assim, os autores
velhos (cinco anos). O autor discutiu seus citaram que Lamarre e Holland (1985) estu-
dados com base na história da criança em daram relações de localização, que é mais
sua comunidade verbal, sendo que as mais abstrata do que a tarefa de montar. Para
velhas tiveram mais oportunidades de emi- eles, crianças muito novas não fazem rela-
tir respostas verbais aprendidas em diver- ções de localização. Além disso, discutiram
sos contextos. que foram criadas OEs para as respostas
Mousinho (2004) também replicou de mando, já em Lamarre e Holland (1985)
estes estudos com participantes mais jovens, não. E, ainda, que a história experimental
dois e três anos, com o objetivo de controlar foi importante para gerar transferência de
a variável relacionada à história na comuni- controle entre os operantes.
dade verbal. Sua ordem de treinos também Os autores citados, que dão base
foi apenas tato-mando. Houve a ocorrência ao presente estudo, não apresentaram da-
de respostas não-treinadas para os partici- dos conclusivos sobre a independência
pantes mais velhos. A autora afirmou que funcional entre os operantes verbais, tato e
as instruções experimentais consistiam em mando. Variáveis como a história de refor-
prompts, que induziam a resposta de man- çamento na comunidade verbal, a exigên-
dar. Além disso, crianças mais velhas já cia do ouvinte, o tempo de exposição aos
apresentam reversibilidade de funções em treinos, a história experimental e o uso de
seus repertórios verbais. regras muito específicas foram apontados
Córdova (2005) e Lage (2005) tam- como possíveis responsáveis pelas varia-
bém replicaram esses estudos. Para Cór- ções entre os resultados. Além disso, pro-
dova (2005), a ordem dos treinos era man- cedimentos foram remodelados a fim de di-
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Tabela 1. Ordem dos treinos e testes das fases experimentais e os personagens selecionados para cada treino/teste.
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Bento/Rosinha para onde você quer que Aqui, tanto as respostas específicas
ele (a) vá, para o Let ou para o Zut? Vamos “No Let/Zut” ou “Let/Zut”, quanto outras
ver se eles vão nos obedecer? Vamos come- respostas genéricas como “aqui”, “ali” ou
çar?”. Assim, o experimentador perguntava mesmo o apontar, não tinham conseqüên-
“Para onde você quer que o (a) Chico Ben- cias, sendo apenas registradas pelo experi-
to/Rosinha vá?”. Quando o participante mentador. Consideraram-se corretas ape-
emitia a resposta “Para o Let/Zut”, ou ape- nas as repostas específicas, como já citado.
nas “Let/Zut”, o experimentador clicava na Testaram-se oito respostas, e, para conside-
tecla “Let/Zut” que fazia o personagem se rar-se que o repertório de tato foi mantido,
movimentar para um dos lados. Depois, o foram necessárias seis respostas corretas,
experimentador fazia a pergunta de confir- ou seja, 75% de acertos.
mação “O (a) Chico Bento/Rosinha foi para
o lado certo?” e clicava na tecla “Sim/Não” Fase 3
conforme a resposta do participante. As
conseqüências para respostas corretas e er- Treino do Tato Invertido
radas foram as mesmas das fases de treino O treino do tato invertido se dife-
do tato citadas anteriormente, assim como renciou do treino do tato apenas no que diz
os critérios para definir uma resposta como respeito às posições. Assim, o “Let” passou
específica ou genérica. a se referir ao lado direito e o “Zut”, ao lado
Uma tentativa era considerada esquerdo. As respostas dos participantes
correta quando o participante emitia um foram treinadas, então, nessas relações. As
mando, por exemplo, “para o Let”, e caso mesmas conseqüências às respostas corre-
o personagem fosse para o Let, o partici- tas/erradas e os mesmos critérios do trei-
pante deveria responder “Sim” à pergunta no do tato anterior foram utilizados nesse
de confirmação. Ou, se o personagem fosse treino.
para o Zut, deveria responder “Não” à per-
gunta de confirmação. Teste de Inversão do Mando
Aqui, também, em uma a cada qua- O teste de inversão do mando ocor-
tro tentativas, o personagem ia para o lado reu como o teste do mando, com a diferen-
oposto ao mandado pelo participante com o ça apenas da relação invertida das posições
mesmo objetivo citado no teste do mando. “Let/Zut”. Esse teste teve por objetivo ve-
Se o participante atingisse oito tentativas rificar a ocorrência das respostas de mando
corretas consecutivas, passava para a pró- nas relações invertidas, que não foram dire-
xima fase. Caso não alcançasse esse critério, tamente treinadas. Também foram testadas
a sessão era encerrada no total de quarenta oito respostas, e o critério para considerar a
tentativas, e essa fase ocorria novamente ocorrência da resposta de mando não-trei-
em outra ocasião. nada, nessa fase, foi o mesmo, ou seja, 75%
de acertos.
Teste do Tato
No teste do tato, os personagens Bob Resultados
Esponja e Luluzinha apareciam na tela do
computador, posicionados nela, sendo um Fases Pré-experimentais
acima e o outro abaixo. O experimentador No Treino Ecóico, todos os partici-
clicava no personagem abaixo e este se mo- pantes atingiram o critério de ecoar correta-
vimentava para o “Zut/Let”, aleatoriamen- mente duas vezes consecutivas, tanto “Let”
te. Assim, o experimentador perguntava quanto “Zut”, não havendo erros. No treino
“Onde está o (a) Bob Esponja/Luluzinha?”. do apontar e no treino do nomear, todos os
Nenhuma resposta tinha conseqüência. participantes atingiram o critério de quatro
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respostas corretas consecutivas para cada teste do mando, das 8 tentativas testadas, 7
par de personagens. estavam corretas. Assim, a participante al-
cançou o critério, apresentando dependência
Fases Experimentais funcional.
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1987; Stafford et al., 1988; Sigafoos et al., estudo é a própria regularidade que o am-
1989; Sigafoos et al., 1990; Simonassi, 2004; biente informatizado pode ter proporciona-
Wallace et al., 2006), obtiveram dados não do. Esta foi uma diferença entre os estudos
conclusivos. Alguns encontraram a depen- anteriores da área, que aconteceram em am-
dência funcional, com a ocorrência de ope- bientes concretos, e este, que aconteceu em
rantes não-treinados, como no presente es- ambiente virtual. Isto pode ter gerado uma
tudo; já outros mostraram que não houve similaridade maior entre as contingências,
ocorrência de respostas não-treinadas, ou tanto para os treinos quanto para os testes
seja, apontaram para a independência fun- durante todo o experimento, e favorecido
cional; e outros estudos ainda mostraram resultados mais regulares.
ambos os resultados. A Fase 2 promoveu o treino do
Assim, essa regularidade dos dados mando, e assim foi testada a manutenção
encontrados na Fase 1 pode ser analisada, do tato, treinado na Fase 1. Aqui, a história
sugerindo variáveis como a exigência da experimental foi completada, ou seja, tanto
comunidade verbal, já que os participantes o tato quanto o mando foram diretamen-
do estudo freqüentam a escola particular te treinados no estudo. Isso compõe o que
infantil há pelo menos dois anos. Esse am- chamamos de treino múltiplo. Como resul-
biente pode ter proporcionado exigência de tado, pode-se observar que todos os partici-
respostas verbais específicas para cada con- pantes apresentaram dados de manutenção
texto, além de ter promovido reforçamentos do tato treinado, o que demonstra a eficácia
diferenciais para cada operante verbal. Essa do treino na Fase 1.
exigência da comunidade verbal, portanto, A Fase 3 deste estudo invertia as
pode ter gerado uma história de emissão de relações de posição treinadas nas fases an-
respostas cada vez mais complexas, além teriores. Assim, o que era “Let”, esquerda,
de oferecer oportunidades para o compor- passou a se referir à posição da direita, e o
tamento de translação. que era “Zut”, direita, passou a se referir à
Apontar para a possibilidade da fre- posição da esquerda. Essa fase teve por ob-
qüência há pelo menos dois anos dos parti- jetivo verificar a ocorrência das respostas
cipantes no ambiente escolar ter favorecido de mando, porém nas relações invertidas,
resultados mais regulares é apenas apontar ou seja, não-treinadas diretamente, após o
para uma das variáveis em comum entre treino do tato invertido. Aqui foram obtidos
eles, ou seja, a similaridade entre os níveis dados da ocorrência do mando para cinco
de exigência da comunidade verbal, em entre os seis participantes, ou seja, em sua
pelo menos um período do dia. Isto não ex- maioria, obtiveram-se dados de dependência
clui a possibilidade de se alcançar resulta- funcional entre os operantes verbais, tato e
dos também regulares em escolas públicas mando, após os treinos múltiplos. Apenas
ou mesmo, com participantes que nunca a participante Ana (2 anos e 5 meses) apre-
freqüentaram creches ou escolas. sentou independência funcional.
Dessa forma, tanto a exigência da Vários autores que utilizaram trei-
comunidade verbal quanto a experiência nos múltiplos, como Lamarre e Holland
verbal vêm do contato com as contingên- (1985), Carroll e Hesse (1987), Twyan
cias, sendo assim, crianças mais desenvol- (1996), Silva (1996), Arntzen e Almas (2002),
vidas verbalmente, possivelmente, emitirão Nuzzolo-Gomez e Greer (2004), Mousinho
com maior facilidade o comportamento de (2004), Córdova (2005), Lage (2005) e Pe-
translação e demonstrarão a dependência tursdottir et al. (2005), encontraram dados
funcional entre os operantes tato e mando. não conclusivos quanto à independência/
Outra variável que pode ter favore- dependência funcional, apesar de alguns
cido a regularidade dos dados no presente deles citarem que os treinos múltiplos – a
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