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ISSN 1982-3541

Belo Horizonte-MG
2007, Vol. IX, nº 2, 289-305

Relações entre tatos e mandos durante a aquisição

Relations between tacts and mands


during the acquisition

Cristiane Alves
Universidade Católica de Goiás
Universidade de Brasília
Antonio de Freitas Ribeiro
Universidade de Brasília

Resumo

O presente estudo investigou as relações funcionais entre os operantes verbais, tato e mando, já
que os dados da literatura são inconclusivos. Foram verificadas relações entre os operantes verbais
“Let” e “Zut”, arbitrariamente relacionados às posições, esquerda e direita, cada um com função
ora de tato, ora de mando. Foi verificada a ocorrência de respostas de mando após o treino direto
das respostas de tato, a partir do procedimento de treinos múltiplos. Participaram da pesquisa
seis crianças entre dois anos e cinco meses e quatro anos e um mês, que freqüentavam uma
escola na qual o estudo foi realizado. Cinco de seis participantes emitiram respostas de mando
não-treinadas diretamente após o treino do tato, ou seja, apresentaram dependência funcional.
Este resultado foi relacionado a algumas variáveis facilitadoras, como o procedimento de treinos
múltiplos, a exigência da comunidade verbal a qual as crianças estavam expostas, a idade dos
participantes, dentre outras.

Palavras-chave: Comportamento verbal, Tatos, Mandos, Independência funcional.

Abstract

The present study investigated the functional relations between the verbal operants, tact and
mand, since the data in the literature is inconclusive. Relations were verified between the verbal
operants “Let” and “Zut,” arbitrarily related to the positions, left and right, each with a function
either of tact or mand. It was verified the occurrence of responses of mand after the direct training
of tact´s responses, from the procedure of multiple training. The subjects were six children between
two years and five months and four years and one month, who attended school, in which the
study was conducted. Five of six participants emitted not-trained mand responses after the tact
training, that is, they presented functional dependence. This result was related to some variables
facilitators, such as the procedure of multiple training, the requirement of the verbal community
which children were exposed to, the age of the subjects, among others.

Key-words: Verbal behavior, Tacts, Mands, Functional independence.

 Os autores agradecem à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo financiamento em forma de
bolsa de mestrado da primeira autora durante 12 meses.
 Mestre pela Universidade de Brasília. E-mail: cristianealvesf@yahoo.com.br
 Ph. D. pela Universidade de Vermont. E-mail: aribeiro@unb.br

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Cristiane Alves - Antonio de Freitas Ribeiro

Skinner (1957/1978) é inovador ao sas idéias, muitos autores aplicaram a te-


propor uma análise do comportamento verbal oria proposta em escolas, em clínicas, etc.,
diante de seu referencial de ciência, já que tendo como participantes pessoas com ou
até então esse comportamento era aborda- sem atraso de desenvolvimento. Assim, o
do como especial e de natureza diferente autor afirma que a abordagem skinneriana
dos demais comportamentos. Abordado era uma alternativa crescente diante das de-
enquanto linguagem, era interpretado como mais abordagens.
uma prática humana e desenvolvida a par- O comportamento verbal foi cate-
tir de características mentais e inatas. Ao gorizado por Skinner (1957/1978) em sete
contrário, para a análise do comportamento operantes verbais básicos: tato, mando,
verbal proposta por Skinner, a linguagem ecóico, textual, cópia, ditado e intraverbal.
deve ser tratada como um comportamento Para o objetivo do presente estudo, faz-se
que obedece aos mesmos princípios que go- necessária a descrição apenas do ecóico,
vernam quaisquer outros comportamentos. tato e mando.
Comportamento verbal, portan- O ecóico é o operante verbal contro-
to, nada mais é do que um comportamento lado formalmente por estímulos verbais
operante, pois é sensível ao reforçamento e sonoros, ou seja, existe correspondência
adquirido a partir de treinos específicos da ponto-a-ponto com o estímulo verbal vocal
comunidade verbal e não apenas uma ma- que antecede a resposta, também vocal. Por
nifestação das capacidades tipicamente hu- exemplo, o falante pode emitir a resposta
manas. Sua particularidade é que o evento “casa” após ter ouvido alguém dizer “casa”.
reforçador é mediado, ou seja, a ação do A fase de aquisição desse operante, segun-
comportamento verbal é indireta no am- do Skinner, coincide com a fase educacio-
biente, necessitando, assim, de outro orga- nal. É comum que pais e professores exijam
nismo para reforçá-lo. A noção de mediação a emissão de tal operante e, dependendo do
implica, então, na impotência do compor- grau de exigência, ele será mais ou menos
tamento verbal ao mundo físico (Skinner, desenvolvido.
1957/1978). O tato é o operante verbal que faz
O termo comportamento verbal foi contato com o mundo, ou seja, pode descre-
escolhido por destacar o comportamento do vê-lo. É possível emitir tatos de estímulos
falante individual, apesar de este necessitar físicos, de acontecimentos sociais, de even-
também do ouvinte para então completar o tos privados, e até mesmo de outros tatos.
episódio verbal. Skinner (1957/1978) afirma Seu controle ocorre por estímulos antece-
que o episódio verbal total é composto pelo dentes não-verbais e seu reforço se caracte-
comportamento do ouvinte e do falante jun- riza por ser generalizado. Assim, utilizando
tos, uma vez que o ouvinte é quem reforça a contingência de três termos para analisá-
o comportamento do falante, e o segundo é lo, podemos afirmar que a relação entre o
o indivíduo que emite a resposta verbal. Fa- estímulo antecedente e a resposta é especí-
lante e ouvinte são funções que podem ser fica, mas a relação entre a resposta e o even-
exercidas pela mesma pessoa ou por dife- to reforçador é generalizada. Por exemplo,
rentes pessoas. O episódio verbal é dinâmi- na presença de um cachorro, o falante pode
co, permitindo a mudança de funções entre emitir a resposta verbal “Isto é um cachor-
seus componentes. ro” e receber reforçadores generalizados
Dessa forma, o comportamento ver- como a atenção e/ou verbais, “isto mesmo,
bal implica a existência de pelo menos duas você está certo”.
funções, falante e ouvinte, que nos remetem
 O intraverbal foi definido por Skinner (1957/1978) como
à noção fundamental de mediação. Michael um operante verbal controlado por estímulos verbais, mas
(1984) aponta que, após a publicação des- que não mantém correspondência ponto-a-ponto entre o es-
tímulo e a resposta, e o seu reforçador é generalizado.

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Duas possibilidades aumentam a vem ser analisadas em suas relações, que


probabilidade de ocorrência de um tato. podem ser diferentes em cada circunstân-
Uma delas é a emissão de pedidos verbais cia. Ou seja, cada operante verbal deve ser
pelo ouvinte que especifique o tato deseja- entendido separadamente, já que envolve
do, e a outra se refere às novas situações ou relações funcionais distintas.
contextos, já que os tatos se tornariam des- A hipótese teórica de Skinner quan-
necessários em contextos comuns. to à independência funcional é de que, se
O mando está sob controle antece- uma resposta com uma topografia é adqui-
dente de estados motivacionais e seu refor- rida sob controle de algumas variáveis, isso
ço é específico em relação à resposta. Para não implica necessariamente o seu apare-
Skinner (1953/2000), um estado motivacio- cimento automático sob outras condições
nal se refere simplesmente às operações de de controle. Para ele, o que é aprendido é
privação, saciação e estimulação aversiva. a função da resposta verbal sob determina-
Esse operante verbal permite ao falante a das condições e não a palavra em si e seu
emissão de uma resposta que especifique o uso indeterminado. Se há mudanças nas va-
estímulo reforçador para a solução do esta- riáveis de controle, então, a resposta verbal
do motivacional. Por exemplo, um falante terá outra função, mesmo tendo a mesma
sedento pode pedir água a um ouvinte e topografia.
seu comportamento ser reforçado ao rece- Portanto, para Skinner, se uma crian-
ber a água. ça adquire um mando, não se pode inferir
Outro conceito que também se re- que ela possua espontaneamente a mesma
fere à motivação é “operação estabelecedo- forma topográfica com funções de tato. De
ra” ou “OE”. Este foi definido por Michael Rose (1994) também afirma que todos os
(1988) como sendo “um evento ambiental, operantes verbais são estabelecidos separa-
operação ou condição do estímulo que afe- da e independentemente um do outro.
ta o organismo pela alteração momentânea Para Skinner (1957/1978), os ope-
do efeito reforçador de outros estímulos e a rantes verbais que não são treinados di-
freqüência de ocorrência de uma parte do retamente não surgem espontaneamente,
repertório do organismo para aqueles even- mas algumas variáveis podem facilitar essa
tos como conseqüência” (p. 3). Este concei- ocorrência. Uma delas é a chamada por ele
to amplia o conceito básico skinneriano, já de “comportamento de translação” (p. 228).
que, assim, a motivação controladora do Esse comportamento envolve um proces-
mando não fica associada apenas a eventos so que pode começar pela emissão de um
como privação e/ou estimulação aversiva, mando que será reforçado especificamente
mas a quaisquer outros eventos que possam pela audiência, e assim, tornará disponível
aumentar a probabilidade de uma resposta uma palavra. Por exemplo, “como é o nome
específica ou a efetividade de um evento re- disto?” e o ouvinte reforça o comportamen-
forçador. to do falante dizendo “isto é um sonho re-
Ainda para Michael (1982), no con- cheado com doce de leite”. Assim, o falante
texto de uma operação estabelecedora, os poderá emitir um próximo mando, que terá
estímulos antecedentes podem ou não estar como evento reforçador o próprio objeto
presentes. que foi tateado por seu ouvinte, “então, me
Para Skinner (1957/1978), o que é dá um sonho, por favor!”. Ou seja, um novo
fundamental no estudo do comportamento tato é aprendido, sendo que o falante em
verbal é que a análise inclua não só a res- questão poderá, em outros momentos, emi-
posta verbal, mas também as variáveis que tir novos tatos ou mandos para este objeto.
a controlam. Respostas verbais, mesmo que Para Skinner, outra possibilidade é
possuam a mesma forma topográfica, de- que uma resposta de mando, que será refor-

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çada especificamente por um objeto, pode relativos às relações entre tatos e mandos.
também constituir um tato do referido ob- Utilizando treinos simples, Siga-
jeto. Uma possível conexão pode ocorrer, foos, Doss e Reichle (1989) e Sigafoos, Rei-
pois o estímulo que reforça o mando pode chle, Doss, Hall e Pettitt (1990) treinaram
também funcionar como estímulo discri- tatos para artigos referentes à alimentação
minativo para o tato. Essa possibilidade se e testaram mandos para eles. No primeiro
constitui em outra variável que pode favo- estudo, não foram emitidos mandos; já no
recer o uso de uma resposta verbal em am- segundo estudo, houve ocorrência destas
bos os contextos, mando e tato. respostas.
E mais uma conexão citada por Já Simonassi (2004) estudou as rela-
Skinner (1957/1978) é que “a presença de ções entre mandos, tatos e também intraver-
um objeto reforçador é uma condição ótima bais¹, utilizando pares de brinquedos com
para o reforço” (p. 229). Deste modo, tan- crianças, e seus resultados apontaram tan-
to o tato quanto o mando podem ocorrer, to a independência quanto a dependência
sendo que o mando tenderá a ocorrer mais funcional. Utilizando, também, treinos sim-
provavelmente na presença do objeto. ples, Wallace, Iwata e Hanley (2006) ensina-
Alguns estudos experimentais fo- ram tatos e testaram mandos com a mesma
ram realizados com o intuito de demonstrar topografia para itens de alimentação/lazer.
a relação entre falante e ouvinte e de verificar, Os dados apontaram para a ocorrência de
ainda, se há uma relação de independência respostas de mando.
ou dependência funcional entre essas fun- Utilizando a linguagem de sinais,
ções. Hall e Sundberg (1987) manipularam opera-
Guess (1969), Guess e Baer (1973), ções estabelecedoras (OE). Foram treinados
Cuvo e Riva (1980) e Lee (1981) buscaram tatos e testados mandos. Os procedimentos
compreender as relações de independên- usados eram prompts de tato, como “O que
cia/dependência funcional entre as funções é isto?”, e prompts imitativos, como “O que
de falante e ouvinte, e obtiveram dados co- você precisa?”. Nenhum procedimento se
muns em seus resultados. Em todos eles, sobressaiu. Houve independência funcio-
dados de independência funcional entre nal.
as funções de falante e ouvinte foram en- Ainda com linguagem de sinais, Sta-
contrados. Esses resultados são recorrentes fford, Sundberg e Braam (1988) buscaram
entre os estudos, mesmo que os autores investigar a eficácia do reforço específico e
tenham utilizado metodologias diferencia- do reforço generalizado no comportamento
das. Em destaque, os treinos da função de verbal. Para isso, mantiveram constantes as
ouvinte não geraram a função de falante, variáveis: operações estabelecedoras, estí-
apesar da possibilidade da generalização mulos não-verbais e exigência das respos-
entre tais repertórios por meio do procedi- tas. Dois grupos de objetos foram utiliza-
mento do reforçamento. dos, sendo treinados tatos para um grupo
Outros autores buscaram verificar e mandos para o outro. Foram medidas a
as relações de independência/dependên- latência e a escolha dos dois operantes. O
cia funcional entre os operantes verbais. Para mando teve menor latência e maior esco-
isso, alguns optaram por treinos simples, ou lha, ou seja, ocorria em intervalos de tempo
seja, treino de um operante seguido imedia- menores e houve mais emissões de mandos
tamente pelo teste do outro. Já outros auto- do que de tatos. Este resultado foi apontado
res optaram por procedimentos múltiplos, como sendo produto do reforçamento espe-
como treinos alternados entre os operantes. cífico, que é mais eficaz em ambas as medi-
Além disso, outras variáveis foram verifi- das do que o reforçamento generalizado.
cadas. Aqui estão mencionados os estudos Utilizando treinos múltiplos, Car-

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roll e Hesse (1987) compararam a aquisição Pode-se observar, portanto, que os


de tatos sob duas condições: tato apenas e estudos entre operantes verbais, em geral,
mando-tato. Na condição mando-tato, as não apresentam consistência em seus resul-
tentativas eram alternadas. Foram dividi- tados. Ao contrário, alguns mostram inde-
dos dois grupos para as diferentes condi- pendência funcional, concordando com a
ções. Durante os treinos, foi observado um proposta de Skinner (1957/1978), e outros
menor número de tentativas na condição mostram a dependência. Por isso, é possível
mando-tato e maior na condição tato ape- discutir os resultados com base apenas nos
nas. Assim, os autores apontaram que a diferentes procedimentos. Dessa forma, os
condição mando-tato facilitou a aquisição treinos simples, principalmente, não pro-
de tatos, já que o participante pôde apren- duziram ocorrências de respostas não-trei-
der sob duas importantes contingências e nadas, consistentemente. Já os estudos que
não apenas uma. utilizaram os treinos múltiplos, em geral,
Arntzen e Almas (2002) replicaram apresentaram dados de ocorrência de res-
o estudo de Carroll e Hesse (1987). Um gru- postas não-treinadas, isto é, a dependência
po passava pelo treino do tato apenas e logo funcional.
pelo treino do mando-tato e, em seguida, os Esses dados podem gerar hipóteses
treinos se repetiam na mesma ordem, mas como a de Carroll e Hesse (1987): a aprendi-
com novos objetos. Já o outro grupo foi sub- zagem sob duas importantes contingências,
metido aos treinos em ordem inversa. Os mando e tato, favorece a ocorrência de res-
autores encontraram os mesmos resultados postas não-treinadas mais do que a apren-
que Carroll e Hesse (1987), ou seja, maior dizagem sob uma contingência apenas.
aquisição de tatos nos treinos mando-tato. Além disso, tendo como base os dados de
Ainda quanto ao uso de treinos múl- Stafford et al. (1988), pode-se também levan-
tiplos, Nuzzolo-Gomez e Greer (2004) exi- tar a hipótese de que há maior eficácia em
giam a relação objeto-adjetivo e também a gerar respostas verbais quando há reforços
emissão dos autoclíticos “eu quero” e “isto específicos atuando durante os treinos, que
é”. Inicialmente, era feito o treino simples é o caso dos treinos de mandos inclusos nos
com um grupo de estímulos. Logo, eram treinos múltiplos.
feitos treinos múltiplos entre tatos e man- Ainda utilizando treinos múltiplos,
dos com outro grupo de estímulos. Após o o principal experimento que ensejou o pre-
treino simples, não houve a ocorrência de sente estudo foi o de Lamarre e Holland
respostas não-treinadas; já após o treino (1985), com nove crianças entre três e cinco
múltiplo, todos os participantes emitiram anos. Os participantes foram divididos em
respostas não-treinadas diretamente. dois grupos. Um grupo seria exposto à or-
Twyan (1996) buscou investigar, dem: treino do mando, logo, teste do tato,
com treinos múltiplos, a independência depois, treino do tato e teste de manutenção
funcional entre tatos de propriedades abs- do mando e, ao final, treino do mando in-
tratas, como “peça de madeira” e mandos vertido e teste do tato invertido. Para o se-
impuros, ou seja, na presença do objeto. De gundo grupo, o primeiro treino foi do tato,
forma geral, os resultados mostraram inde- seguido pelo teste do mando, logo, treino
pendência funcional entre estas respostas. do mando e teste de manutenção do tato e,
ao final, treino do tato invertido e teste do
Skinner (1957/1978) define autoclíticos como sendo como

um comportamento verbal que altera a reação do ouvinte a
mando invertido.
outros comportamentos verbais, ou torna a resposta do fa- As respostas de tato e mando eram
lante mais efetiva. Assim, um autoclítico sempre será acom- topograficamente iguais: “na esquerda”
panhado por um operante verbal básico. Um exemplo de
mando “Me dá um doce!” pode se tornar mais eficaz se um ou “na direita”. Na fase de treino/teste do
autoclítico ocorrer junto a ele, como “Me dá um doce, por mando, o participante deveria mandar a
favor!”

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posição a ser colocado o objeto. E, na fase de do-tato, com sete crianças de dois a quatro
treino/teste do tato, o participante deveria anos. Ele encontrou dados tanto de depen-
responder onde estava o objeto. Já no man- dência quanto de independência funcional.
do e tato invertidos, as relações de posição Assim, o autor afirma que os dados corro-
eram invertidas, ou seja, a direita passava a boram com dados da literatura. Defende
ser esquerda e vice-versa. que o tempo de exposição aos treinos e o
Três dos nove participantes apre- nível de exigência do ouvinte ao liberar re-
sentaram a ocorrência de um operante após forçadores para o falante são variáveis mais
o treino de inversão do outro, sendo um na importantes.
ordem mando-tato e dois na ordem tato- Já para Lage (2005), a ordem foi tato-
mando. Para Lamarre e Holland (1985), isto mando com seis crianças de dois a quatro
ocorreu porque a mesma posição que con- anos. Ela também encontrou dados de inde-
trolava a resposta de tato também reforçava pendência/dependência funcional. A auto-
a resposta de mando. ra aponta para as variáveis como a idade e
Baseados em Lamarre e Holland a exigência do ouvinte.
(1985), outros estudos foram realizados. Petursdottir, Carr e Michael (2005)
Um deles foi Silva (1996). Com o objetivo replicaram os resultados de Lamarre e
de evitar problemas futuros com os con- Holland (1985). Para isso, utilizaram um
ceitos de esquerda/direita, o autor adotou procedimento diferenciado, com tarefas de
termos sem sentido, “Let/Zut”, que se re- montar: cubo e quebra-cabeça. As crianças
feriam às posições. O delineamento deste receberam treino de tato para uma das tare-
estudo incluiu apenas a ordem dos treinos fas e de mando para a outra, e eram testados
tato-mando. Seus resultados mostraram in- ambos os operantes. Respostas de tato após
dependência funcional para o participante o treino do mando surgiram com maior fre-
mais novo (quatro anos) e a dependência qüência. Esse resultado difere dos dados de
funcional para os dois participantes mais Lamarre e Holland (1985). Assim, os autores
velhos (cinco anos). O autor discutiu seus citaram que Lamarre e Holland (1985) estu-
dados com base na história da criança em daram relações de localização, que é mais
sua comunidade verbal, sendo que as mais abstrata do que a tarefa de montar. Para
velhas tiveram mais oportunidades de emi- eles, crianças muito novas não fazem rela-
tir respostas verbais aprendidas em diver- ções de localização. Além disso, discutiram
sos contextos. que foram criadas OEs para as respostas
Mousinho (2004) também replicou de mando, já em Lamarre e Holland (1985)
estes estudos com participantes mais jovens, não. E, ainda, que a história experimental
dois e três anos, com o objetivo de controlar foi importante para gerar transferência de
a variável relacionada à história na comuni- controle entre os operantes.
dade verbal. Sua ordem de treinos também Os autores citados, que dão base
foi apenas tato-mando. Houve a ocorrência ao presente estudo, não apresentaram da-
de respostas não-treinadas para os partici- dos conclusivos sobre a independência
pantes mais velhos. A autora afirmou que funcional entre os operantes verbais, tato e
as instruções experimentais consistiam em mando. Variáveis como a história de refor-
prompts, que induziam a resposta de man- çamento na comunidade verbal, a exigên-
dar. Além disso, crianças mais velhas já cia do ouvinte, o tempo de exposição aos
apresentam reversibilidade de funções em treinos, a história experimental e o uso de
seus repertórios verbais. regras muito específicas foram apontados
Córdova (2005) e Lage (2005) tam- como possíveis responsáveis pelas varia-
bém replicaram esses estudos. Para Cór- ções entre os resultados. Além disso, pro-
dova (2005), a ordem dos treinos era man- cedimentos foram remodelados a fim de di-

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minuir as interferências, e também foi pro- se um software, em linguagem JAVA, com


posto um procedimento mais concreto. De o nome “Independência Funcional”, que
todas as formas, foram encontrados dados implementa as condições experimentais de
ainda não-conclusivos, tanto entre os estu- estudos anteriores da área em ambientes
dos quanto intra-estudo. reais. Ele foi instalado em um computador
Assim, como foi visto, os dados dos portátil, levado diariamente à instituição
experimentos na área de independência para a coleta dos dados. O software possui
funcional entre operantes verbais, baseados 12 personagens de desenhos e/ou quadri-
na teoria skinneriana, não são conclusivos. nhos, selecionados previamente pelo expe-
Portanto, essa grande variabilidade justifica rimentador no contato com as crianças. Em
por si uma replicação de estudos como os cada fase experimental, utilizaram-se dois
de Lamarre e Holland (1985), Silva (1996), personagens, como mostra a Tabela 1. O
Mousinho (2004), Córdova (2005) e Lage software permitiu a contagem das respos-
(2005). tas, certas e erradas, além de finalizar as fa-
Dessa forma, o presente trabalho ses conforme programado pelo experimen-
buscou verificar as relações existentes entre tador.
os operantes verbais, tato e mando, em fase Nas fases de treino, o software tinha,
de aquisição, por meio de treinos múltiplos, como conseqüência programada, a apre-
na ordem tato-mando. Para isso, admitiu sentação de uma janela após cada resposta
a possibilidade de uma replicação desses correta, com uma “carinha sorrindo” e seu
experimentos, dada uma principal modifi- fundo verde, e para respostas erradas, uma
cação: ser realizado em um ambiente infor- “carinha pensando” e o fundo vermelho.
matizado, preparado exclusivamente para Isso com o objetivo de oferecer conseqüên-
tal. cias diferenciadas entre as respostas. Com
este software, foram coletados os dados de
Método todas as fases pré-experimentais e experi-
mentais, exceto o treino ecóico, que foi ma-
Participantes nualmente registrado.
Este estudo foi avaliado e aprovado Delineamento
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Hu- O estudo foi dividido entre fases
manos. Participaram do estudo seis crianças pré-experimental e experimental.
entre dois anos e cinco meses e quatro anos A fase pré-experimental tinha como
e um mês, estudantes de uma escola infan- objetivo treinar os repertórios básicos de
til particular, sendo cinco meninas e um falante e ouvinte, necessários para que os
menino, conforme descrito na Tabela 2. As participantes pudessem prosseguir no es-
crianças foram selecionadas a partir do con- tudo, e era composta pelo treino ecóico das
tato do experimentador com elas, de uma palavras sem sentido “Let/Zut”, do apon-
entrevista com os pais e/ou responsáveis e tar e do nomear os personagens a serem
do consentimento informado, assinado por utilizados. Já a fase experimental tinha por
eles. O critério para incluir as crianças no objetivo treinar operantes verbais e verifi-
estudo foi a freqüência na instituição e a au- car a ocorrência do outro operante. Ela foi
torização dos pais e/ou responsáveis. dividida em Fase 1: Treino do Tato e Teste
do Mando; Fase 2: Treino do Mando e Teste
Ambiente e Equipamento do Tato; e Fase 3: Treino do Tato Invertido e
Este estudo foi realizado na própria Teste de Inversão do Mando. A ordem das
escola das crianças. Para a efetiva coleta de fases experimentais e os estímulos utiliza-
dados, escolheu-se uma sala silenciosa e dos em cada uma delas estão dispostos na
arejada. Para coletar os dados, programou- Tabela 1.

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Tabela 1. Ordem dos treinos e testes das fases experimentais e os personagens selecionados para cada treino/teste.

Fases Experimentais Personagens selecionados


Treino do Tato Mônica e Cebolinha
Teste do Mando Magali e Cascão
Treino do Mando Chico Bento e Rosinha
Teste do Tato Bob Esponja e Luluzinha
Treino do Tato Invertido Lisa e Bart
Teste de Inversão do mando Charlie Brown e Moranguinho

Durante os treinos, as respostas cor- Treino do Apontar


retas eram reforçadas com a conseqüência Nesta fase, eram treinadas respostas
programada no software, além de elogios de apontar diante dos personagens, orde-
verbais emitidos pelo experimentador, como nados em pares. Eram apresentados dois
“Muito bem!”, “Isso mesmo!”, “Parabéns!” pares, que seriam utilizados na próxima
e fichas eram colocadas num recipiente que fase experimental. Um par de personagens
ficava do lado direito do computador. Es- aparecia na tela do computador, sendo um
sas fichas poderiam ser trocadas, ao final de personagem ao lado do outro. O experi-
cada sessão, por doces, brinquedos em mi- mentador apontava para eles e dizia “Este é
niatura ou figurinhas, conforme autorizado o Cascão” e “Esta é a Magali”. Em seguida,
pelos pais/responsáveis para cada criança. dizia ao participante “Aponte para o Cas-
As fichas foram produzidas com papel-car- cão/Magali” conforme indicado aleatoria-
tão amarelo e também tinham a figura de mente pelo computador. No caso de o par-
uma “carinha sorrindo” em uma das fa- ticipante acertar, o experimentador clicava
ces. Elas possuíam valores simbólicos, por na tecla “Certo”, e era dada a conseqüência
exemplo, cada três fichas equivaliam a um programada do software e do experimenta-
brinquedo. Já as respostas erradas recebiam dor à resposta. Caso o participante emitisse
a conseqüência programada pelo software resposta errada, o experimentador clicava
e eram corrigidas pelo experimentador, por na tecla “Errado” e a conseqüência progra-
meio de dicas. mada aparecia na tela. O experimentador
Para os testes, as respostas não ti- corrigia a resposta e promovia uma nova
nham conseqüências, nem do software nem tentativa.
do experimentador. O critério para mudar de fase era
de quatro respostas corretas consecutivas
Fases Pré-experimentais para cada par de personagens. Se o partici-
pante não atingisse esse critério, ao final de
Treino Ecóico quarenta tentativas, a sessão era encerrada
No treino ecóico, o experimentador e refeita em outro dia. Essa fase acontecia
dizia ao participante, por exemplo, “Diga sempre antes das fases experimentais.
Let” e ele deveria ecoar, ou seja, reprodu-
zir a palavra com correspondência ponto- Treino do Nomear
a-ponto, dizendo “Let”. Respostas corretas O treino do nomear ocorria sempre
eram reforçadas com elogios, e uma ficha em seguida ao treino do apontar e eram
era colocada no recipiente. Respostas erra- utilizados os mesmos dois pares de perso-
das eram modeladas pelo experimentador nagens do treino anterior. Assim, um par
com uso de dicas. O mesmo procedimento de personagens aparecia na tela do com-
ocorreu para a palavra “Zut”. O encerra- putador, sendo um ao lado do outro. O ex-
mento desse treino se deu quando o par- perimentador dizia “Agora, eu vou apon-
ticipante repetiu corretamente duas vezes tar para um dos personagens e você vai
consecutivas cada palavra. me dizer o nome dele. Vamos lá?”. Então,

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Relações entre tatos e mandos durante a aquisição

apontava para um personagem, indicado o total de quarenta tentativas. Nesse caso,


aleatoriamente pelo computador, e fazia a uma nova sessão de treino do tato ocorria
pergunta “Quem é este/esta?”. em outro momento.
As conseqüências para acertos e
erros eram as mesmas descritas acima, e o Teste do Mando
critério para mudar de fase também era o Realizou-se o teste do mando com
mesmo do treino do apontar. o objetivo de verificar a ocorrência de res-
postas de mando até aqui não-treinadas.
Fases Experimentais Nele, o experimentador dizia “Agora va-
mos fazer algo diferente! Você vai poder di-
Fase 1 zer para onde você quer que o (a) Cascão/
Magali vá. Vamos lá? Para onde você quer
Treino do Tato que o (a) Cascão/Magali vá?”. Quando o
No treino do tato, os personagens participante respondia “Para o Let/Zut”, o
Cebolinha e Mônica apareciam na tela do experimentador clicava na tecla “Let/Zut”
computador, posicionados nela, sendo um conforme mandado e, em três de quatro
acima e o outro abaixo, aleatoriamente al- tentativas, o personagem ia para o lado cor-
ternados. O experimentador apontava para reto. Já em uma das quatro, ia para o lado
o Let/Zut e dizia “Aqui é o Let/Zut”. “Va- oposto ao mandado, programado aleatoria-
mos ver para que lado o (a) Cebolinha/Mô- mente. Isto para garantir que o participante
nica vai?”. O experimentador clicava no estivesse respondendo adequadamente às
personagem abaixo e este se movimenta- posições “Let/Zut”, ou seja, discriminan-
va para o lado direito “Zut” ou esquerdo, do-as. Em todas as situações, o experimen-
“Let”, aleatoriamente. Assim, o experimen- tador fazia a pergunta de confirmação “O
tador perguntava “Onde está o (a) Cebo- (a) Cascão/Magali foi para o lado certo?”
linha/Mônica?”. Logo que o participante e o participante deveria responder “Sim/
emitia a resposta “Let/Zut”, o experimen- Não”. Dessa forma, o experimentador cli-
tador clicava na tecla “Let/Zut”, confor- cava em “Sim/Não” conforme a resposta
me a resposta dada. Se a resposta estivesse dada pelo participante, e passava para a
correta, era reforçada conforme programa- próxima tentativa.
do. Caso o participante emitisse respostas Aqui, as respostas não eram refor-
erradas, também era dada a conseqüência çadas nem corrigidas. Nesse teste, eram
programada para respostas erradas e o ex- realizadas oito tentativas. Para considerar-
perimentador corrigia a resposta, dispondo se que houve ocorrência da resposta de
uma nova tentativa. mando não-treinada, o participante deveria
Configura-se resposta correta “No emitir seis repostas corretas, ou seja, 75% de
Let/Zut” ou apenas “Let/Zut”, definidas acertos.
neste estudo como uma resposta específica
à condição. Outros tipos de respostas eram Fase 2
considerados incorretos, como apontar,
ou dizer “ali/aqui”, definido então, como Treino do Mando
resposta genérica. O critério para o encer- No treino do mando, os personagens
ramento dessa fase era de oito respostas Chico Bento e Rosinha apareciam na tela do
corretas consecutivas sem modelagem ou computador, posicionados um acima e ou-
dica do experimentador. Depois disso, o tro abaixo, também alternadamente. O ex-
participante passava para a próxima fase. perimentador dizia “Agora, nós vamos en-
Se o participante não atingisse esse critério, sinar ao (à) Chico Bento/Rosinha a ir para
a sessão era encerrada quando alcançasse o lado que a gente quer. Diga ao (à) Chico

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Cristiane Alves - Antonio de Freitas Ribeiro

Bento/Rosinha para onde você quer que Aqui, tanto as respostas específicas
ele (a) vá, para o Let ou para o Zut? Vamos “No Let/Zut” ou “Let/Zut”, quanto outras
ver se eles vão nos obedecer? Vamos come- respostas genéricas como “aqui”, “ali” ou
çar?”. Assim, o experimentador perguntava mesmo o apontar, não tinham conseqüên-
“Para onde você quer que o (a) Chico Ben- cias, sendo apenas registradas pelo experi-
to/Rosinha vá?”. Quando o participante mentador. Consideraram-se corretas ape-
emitia a resposta “Para o Let/Zut”, ou ape- nas as repostas específicas, como já citado.
nas “Let/Zut”, o experimentador clicava na Testaram-se oito respostas, e, para conside-
tecla “Let/Zut” que fazia o personagem se rar-se que o repertório de tato foi mantido,
movimentar para um dos lados. Depois, o foram necessárias seis respostas corretas,
experimentador fazia a pergunta de confir- ou seja, 75% de acertos.
mação “O (a) Chico Bento/Rosinha foi para
o lado certo?” e clicava na tecla “Sim/Não” Fase 3
conforme a resposta do participante. As
conseqüências para respostas corretas e er- Treino do Tato Invertido
radas foram as mesmas das fases de treino O treino do tato invertido se dife-
do tato citadas anteriormente, assim como renciou do treino do tato apenas no que diz
os critérios para definir uma resposta como respeito às posições. Assim, o “Let” passou
específica ou genérica. a se referir ao lado direito e o “Zut”, ao lado
Uma tentativa era considerada esquerdo. As respostas dos participantes
correta quando o participante emitia um foram treinadas, então, nessas relações. As
mando, por exemplo, “para o Let”, e caso mesmas conseqüências às respostas corre-
o personagem fosse para o Let, o partici- tas/erradas e os mesmos critérios do trei-
pante deveria responder “Sim” à pergunta no do tato anterior foram utilizados nesse
de confirmação. Ou, se o personagem fosse treino.
para o Zut, deveria responder “Não” à per-
gunta de confirmação. Teste de Inversão do Mando
Aqui, também, em uma a cada qua- O teste de inversão do mando ocor-
tro tentativas, o personagem ia para o lado reu como o teste do mando, com a diferen-
oposto ao mandado pelo participante com o ça apenas da relação invertida das posições
mesmo objetivo citado no teste do mando. “Let/Zut”. Esse teste teve por objetivo ve-
Se o participante atingisse oito tentativas rificar a ocorrência das respostas de mando
corretas consecutivas, passava para a pró- nas relações invertidas, que não foram dire-
xima fase. Caso não alcançasse esse critério, tamente treinadas. Também foram testadas
a sessão era encerrada no total de quarenta oito respostas, e o critério para considerar a
tentativas, e essa fase ocorria novamente ocorrência da resposta de mando não-trei-
em outra ocasião. nada, nessa fase, foi o mesmo, ou seja, 75%
de acertos.
Teste do Tato
No teste do tato, os personagens Bob Resultados
Esponja e Luluzinha apareciam na tela do
computador, posicionados nela, sendo um Fases Pré-experimentais
acima e o outro abaixo. O experimentador No Treino Ecóico, todos os partici-
clicava no personagem abaixo e este se mo- pantes atingiram o critério de ecoar correta-
vimentava para o “Zut/Let”, aleatoriamen- mente duas vezes consecutivas, tanto “Let”
te. Assim, o experimentador perguntava quanto “Zut”, não havendo erros. No treino
“Onde está o (a) Bob Esponja/Luluzinha?”. do apontar e no treino do nomear, todos os
Nenhuma resposta tinha conseqüência. participantes atingiram o critério de quatro

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Relações entre tatos e mandos durante a aquisição

respostas corretas consecutivas para cada teste do mando, das 8 tentativas testadas, 7
par de personagens. estavam corretas. Assim, a participante al-
cançou o critério, apresentando dependência
Fases Experimentais funcional.

Participante 1 – Maria – 4 anos e 1 mês Fase 2 – Treino do mando e teste do tato


Foram necessárias 20 tentativas no
Fase 1 – Treino do tato e teste do mando treino do mando, sendo que 15 tentativas
Todo o procedimento foi comple- estavam corretas, obtendo o critério de 8
tado em duas sessões com duração de 30 respostas corretas consecutivas. No teste do
minutos em média. No treino do tato, fo- tato, houve 7 respostas corretas das 8 tenta-
ram necessárias 8 tentativas para atingir o tivas testadas, ou seja, houve manutenção
critério de encerramento, ou seja, 8 acertos do repertório de tato treinado na Fase 1.
consecutivos. Já no teste do mando, das 8
tentativas testadas, 6 estavam corretas. Des- Fase 3 – Treino do tato invertido e teste de
sa forma, a participante atingiu o critério de inversão do mando
ocorrência da resposta de mando não-trei- No treino do tato invertido, foram
nada, ou a dependência funcional, conforme feitas 31 tentativas para que 25 fossem cor-
o critério adotado, já que acertou 75% das retas, sendo 8 consecutivas, e assim, atin-
respostas testadas. gindo o critério para, então, ser feito o teste.
Já no teste de inversão do mando, 7 respos-
Fase 2 – Treino do mando e teste do tato tas estavam corretas dentre as 8 testadas.
No treino do mando, foram feitas 12 Assim, a participante atingiu o critério pro-
tentativas para atingir ao critério de 8 acer- posto, apresentando, então, dependência fun-
tos consecutivos, sendo que 11 tentativas cional.
estavam corretas. Já no teste do tato, das
8 tentativas testadas, 7 estavam corretas, o Participante 3 – Pedro – 3 anos e 7 meses
que indicou manutenção do repertório de
tato treinado na Fase 1. Fase 1 – Treino do tato e teste do mando
O estudo deste participante foi com-
Fase 3 – Treino do tato invertido e teste de pletado em duas sessões de 30 minutos
inversão do mando cada. Para o treino do tato, 13 tentativas se
Para o treino do tato invertido, 9 fizeram necessárias para que 12 estivessem
tentativas foram realizadas a fim de obter corretas, sendo 8 consecutivas. No teste do
o critério de 8 acertos consecutivos. No tes- mando, das 8 tentativas testadas, 8 estavam
te de inversão do mando, entretanto, das 8 corretas. Deste modo, com 100% de acertos
tentativas testadas, houve 6 acertos. Des- no teste do mando, o participante apresen-
te modo, houve a dependência funcional, ou tou dependência funcional.
seja, 75% de acertos.
Fase 2 – Treino do mando e teste do tato
Participante 2 – Diva – 3 anos e 4 meses No treino do mando, foram necessá-
rias 8 tentativas, sendo que todas estavam
Fase 1 – Treino do tato e teste do mando corretas. Também no teste do tato, das 8
O procedimento completo desta respostas testadas, todas estavam corretas,
participante ocorreu em duas sessões de assim, o participante apresentou manuten-
aproximadamente 30 minutos cada. Para o ção do repertório de tato, treinado na Fase
treino do tato, houve 10 tentativas para atin- 1.
gir o critério de 8 acertos consecutivos. No

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Fase 3 – Treino do tato invertido e teste de inversão do mando


inversão do mando No treino do tato invertido, 9 tenta-
Para o treino do tato invertido, fo- tivas ocorreram para atingir 8 acertos con-
ram realizadas duas sessões para que o cri- secutivos. Já no teste do mando invertido,
tério de acertos fosse atingido. Na primei- houve 7 acertos de 8 respostas testadas. As-
ra sessão, foram necessárias 40 tentativas sim, a participante apresentou dependência
totais para que houvesse 29 acertos, sendo funcional.
apenas 7 consecutivos. Então, foi feita a se-
gunda sessão do treino do tato invertido, Participante 5 – Vera – 3 anos e 6 meses
sendo 8 acertos consecutivos atingidos já
nas primeiras 8 tentativas. Essa segunda Fase 1 – Treino do tato e teste do mando
sessão ocorreu no segundo dia do estudo. O procedimento desta participante
Dessa forma, ao todo aconteceram 48 tenta- foi completado em três sessões de aproxi-
tivas para que o critério de 8 respostas cor- madamente 30 minutos cada. No treino do
retas consecutivas fosse atingido. tato, foram necessárias 22 tentativas totais
Para o teste de inversão do mando, para obter 15 acertos, sendo 8 consecutivos.
houve 7 acertos das 8 tentativas testadas, ou No teste do mando, houve 2 acertos em 8
seja, o participante apresentou dependência tentativas testadas. Assim, diante do cri-
funcional. tério proposto, não houve ocorrência das
respostas de mando não-treinadas, ou seja,
Participante 4 – Laura – 3 anos e 5 meses a participante apresentou independência fun-
cional nesta fase.
Fase 1 – Treino do tato e teste do mando
Todo o procedimento desta partici- Fase 2 – Treino do mando e teste do tato
pante ocorreu em duas sessões de aproxi- Para o treino do mando, realizaram-
madamente 30 minutos cada. No treino do se três sessões. Na primeira sessão, das 40
tato, foram necessárias 32 tentativas totais tentativas, 24 foram corretas, sendo apenas
para obter 27 acertos, sendo 8 consecutivos. 7 consecutivas. Na segunda sessão, das 40
Já no teste do mando, das 8 tentativas testa- tentativas, 31 foram corretas, sendo 6 con-
das, 8 estavam corretas. Dessa forma, a par- secutivas. Dessa forma, a terceira sessão
ticipante apresentou dependência funcional. fez-se necessária, com 11 tentativas totais,
com 10 corretas, sendo 8 consecutivas. Des-
Fase 2 – Treino do mando e teste do tato te modo, ao todo, ocorreram 91 tentativas
Para o treino do mando, foram feitas para que o critério de 8 acertos consecutivos
duas sessões em dias diferentes. Na primei- fosse atingido.
ra sessão, 40 tentativas ocorreram, obtendo No teste do tato, das 8 tentativas
30 acertos, sendo apenas 4 consecutivos. testadas, todas estavam corretas, demons-
Então, foi necessária a segunda sessão, na trando manutenção do repertório de tato
qual aconteceram 11 tentativas para ob- treinado na Fase 1.
ter 10 acertos, sendo 8 consecutivos. Deste
modo, ao todo, foram necessárias 51 tenta- Fase 3 – Treino do tato invertido e teste de
tivas para que o critério fosse atingido. No inversão do mando
teste do tato, das 8 tentativas testadas, to- Para o treino do tato invertido, 14
das estavam corretas. Assim, a participante tentativas foram necessárias para atingir 11
apresentou manutenção do repertório de acertos, sendo 8 consecutivos. Já no teste de
tato. inversão do mando, das 8 tentativas testa-
das, 8 estavam corretas, ou seja, a partici-
Fase 3 – Treino do tato invertido e teste de pante apresentou dependência funcional.

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Relações entre tatos e mandos durante a aquisição

Participante 6 – Ana – 2 anos e 5 meses Discussão


O presente estudo teve por objetivo
Fase 1 – Treino do tato e teste do mando investigar a relação de independência / de-
O procedimento desta participante pendência funcional entre os operantes ver-
foi encerrado em duas sessões de aproxi- bais, tato e mando, com a mesma topografia,
madamente 30 minutos cada. Para o treino ou seja, depois de treinado um operante, foi
do tato, foram necessárias 19 tentativas para verificado se o outro ocorreria sem treino
obter 16 acertos, sendo 8 consecutivos. Já no direto. Em vista disso, foram feitos treinos
teste do mando, das 8 tentativas testadas, múltiplos na ordem tato-mando. Portanto,
3 estavam corretas. A participante apresen- foi treinado diretamente o tato e testada a
tou, portanto, independência funcional. ocorrência do mando.
segundo Skinner (1957/1978), o
Fase 2 – Treino do mando e teste do tato comportamento verbal possui causas múl-
Para o treino do mando, ocorreram tiplas, isto é, possui controle de múltiplas
8 tentativas para obter 8 acertos. No teste do variáveis. Dessa forma, serão discutidas
tato, foram verificados 8 acertos das 8 ten- algumas das variáveis que, possivelmente,
tativas testadas, então a participante apre- influenciaram o comportamento de mandar
sentou manutenção do repertório de tato e tatear, e a ocorrência deles sem treino di-
treinado na Fase 1. reto.
Este estudo utilizou o procedimen-
Fase 3 – Treino do tato invertido e teste de to de treinos múltiplos. Para isso, foi cria-
inversão do mando da uma história experimental envolvendo
No treino do tato invertido, aconte- treinos, tanto de tatos quanto de mandos,
ceram 13 tentativas totais para obter 8 acer- programados entre as fases.
tos consecutivos. No teste de inversão do Na Fase 1, foi treinado o tato e testa-
mando, das 8 tentativas testadas, 3 estavam do o mando. Nessa fase, portanto, pode-se
corretas. Assim, a participante demonstrou afirmar que houve treino simples, já que foi
a independência funcional. testado o mando em sua forma mais pura,
Os resultados acima apresentados dentro do contexto experimental. Diante do
mostraram a história de aprendizagem du- critério para a dependência funcional esta-
rante o estudo, de cada participante, um a belecido neste estudo, ou seja, 75% de acer-
um. Mas pode-se, também, visualizar os tos durante as fases de teste, foram obtidos
resultados de forma global. A Tabela 2 de- resultados de dependência funcional em sua
monstra, de forma resumida, os resultados maioria: quatro de seis participantes deste
de cada participante, em cada fase do estu- estudo emitiram respostas de mando ain-
do. Esta visão global dos resultados permi- da não treinadas, sendo as exceções Vera (3
te comparar os desempenhos entre os parti- anos e 6 meses) e Ana (2 anos e 5 meses).
cipantes e pode facilitar o entendimento de Os estudos que investigaram a in-
questões teóricas importantes. dependência/dependência funcional, uti-
lizando treinos simples (Hall & Sundberg,
Tabela 2. Resultados em cada fase do experimento para cada participante, seus nomes fictícios e idade.
Nomes Idade Fase 1 Fase 2 Fase 3
Maria 4 anos e 1 mês Dependência Manutenção Dependência
Diva 3 anos e 4 meses Dependência Manutenção Dependência
Pedro 3 anos e 7 meses Dependência Manutenção Dependência
Laura 3 anos e 5 meses Dependência Manutenção Dependência
Vera 3 anos e 6 meses Independência Manutenção Dependência
Ana 2 anos e 5 meses Independência Manutenção Independência

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 289-305 301
Cristiane Alves - Antonio de Freitas Ribeiro

1987; Stafford et al., 1988; Sigafoos et al., estudo é a própria regularidade que o am-
1989; Sigafoos et al., 1990; Simonassi, 2004; biente informatizado pode ter proporciona-
Wallace et al., 2006), obtiveram dados não do. Esta foi uma diferença entre os estudos
conclusivos. Alguns encontraram a depen- anteriores da área, que aconteceram em am-
dência funcional, com a ocorrência de ope- bientes concretos, e este, que aconteceu em
rantes não-treinados, como no presente es- ambiente virtual. Isto pode ter gerado uma
tudo; já outros mostraram que não houve similaridade maior entre as contingências,
ocorrência de respostas não-treinadas, ou tanto para os treinos quanto para os testes
seja, apontaram para a independência fun- durante todo o experimento, e favorecido
cional; e outros estudos ainda mostraram resultados mais regulares.
ambos os resultados. A Fase 2 promoveu o treino do
Assim, essa regularidade dos dados mando, e assim foi testada a manutenção
encontrados na Fase 1 pode ser analisada, do tato, treinado na Fase 1. Aqui, a história
sugerindo variáveis como a exigência da experimental foi completada, ou seja, tanto
comunidade verbal, já que os participantes o tato quanto o mando foram diretamen-
do estudo freqüentam a escola particular te treinados no estudo. Isso compõe o que
infantil há pelo menos dois anos. Esse am- chamamos de treino múltiplo. Como resul-
biente pode ter proporcionado exigência de tado, pode-se observar que todos os partici-
respostas verbais específicas para cada con- pantes apresentaram dados de manutenção
texto, além de ter promovido reforçamentos do tato treinado, o que demonstra a eficácia
diferenciais para cada operante verbal. Essa do treino na Fase 1.
exigência da comunidade verbal, portanto, A Fase 3 deste estudo invertia as
pode ter gerado uma história de emissão de relações de posição treinadas nas fases an-
respostas cada vez mais complexas, além teriores. Assim, o que era “Let”, esquerda,
de oferecer oportunidades para o compor- passou a se referir à posição da direita, e o
tamento de translação. que era “Zut”, direita, passou a se referir à
Apontar para a possibilidade da fre- posição da esquerda. Essa fase teve por ob-
qüência há pelo menos dois anos dos parti- jetivo verificar a ocorrência das respostas
cipantes no ambiente escolar ter favorecido de mando, porém nas relações invertidas,
resultados mais regulares é apenas apontar ou seja, não-treinadas diretamente, após o
para uma das variáveis em comum entre treino do tato invertido. Aqui foram obtidos
eles, ou seja, a similaridade entre os níveis dados da ocorrência do mando para cinco
de exigência da comunidade verbal, em entre os seis participantes, ou seja, em sua
pelo menos um período do dia. Isto não ex- maioria, obtiveram-se dados de dependência
clui a possibilidade de se alcançar resulta- funcional entre os operantes verbais, tato e
dos também regulares em escolas públicas mando, após os treinos múltiplos. Apenas
ou mesmo, com participantes que nunca a participante Ana (2 anos e 5 meses) apre-
freqüentaram creches ou escolas. sentou independência funcional.
Dessa forma, tanto a exigência da Vários autores que utilizaram trei-
comunidade verbal quanto a experiência nos múltiplos, como Lamarre e Holland
verbal vêm do contato com as contingên- (1985), Carroll e Hesse (1987), Twyan
cias, sendo assim, crianças mais desenvol- (1996), Silva (1996), Arntzen e Almas (2002),
vidas verbalmente, possivelmente, emitirão Nuzzolo-Gomez e Greer (2004), Mousinho
com maior facilidade o comportamento de (2004), Córdova (2005), Lage (2005) e Pe-
translação e demonstrarão a dependência tursdottir et al. (2005), encontraram dados
funcional entre os operantes tato e mando. não conclusivos quanto à independência/
Outra variável que pode ter favore- dependência funcional, apesar de alguns
cido a regularidade dos dados no presente deles citarem que os treinos múltiplos – a

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Relações entre tatos e mandos durante a aquisição

aprendizagem sob contingências diferentes estavam dispostas durante todo o experi-


– facilitam a ocorrência de operantes não- mento. Ambas as condições podem ter fa-
treinados e/ou a ocorrência de outras topo- vorecido a ocorrência destas respostas.
grafias também não-treinadas. Em vista disso, o presente estudo
Alguns autores discutem a impor- vem contribuir com a literatura, apresen-
tância do desenvolvimento verbal, que tando dados mais regulares e apreciando
pode ser inferido a partir da idade do par- a hipótese da possibilidade da dependência
ticipante, como sendo uma das variáveis funcional, dada a disposição das variáveis
favoráveis à dependência funcional, como citadas acima, que foram apontadas pelo
Silva (1996), Mousinho (2004) e Lage (2005), próprio Skinner (1957/1978).
que encontraram indícios de dependência Para o futuro, faz-se importante que
funcional para seus participantes mais ve- um estudo nesta área adote o procedimento
lhos. longitudinal, ou seja, seria interessante que
Ana (2 anos e 5 meses), a participan- uma criança fosse acompanhada durante os
te mais nova do presente estudo, foi a única dois ou três primeiros anos de vida. Dessa
a apresentar dados de independência funcio- forma, as variáveis que controlam o com-
nal, após ter passado pelo treino múltiplo. portamento de translação poderiam ser me-
A idade, portanto, pode ser apontada aqui lhor explicadas, já que a idade dos partici-
como uma importante variável, pois implica pantes tem favorecido a variabilidade entre
o desenvolvimento verbal da participante. os resultados encontrados. Assim, um estu-
Essa participante também emitiu respostas do nessa dimensão poderia contribuir mais
chamadas genéricas, o que está diretamen- fortemente para as discussões relacionadas
te relacionado ao desenvolvimento verbal, à dependência/independência funcional
visto que, no início da aquisição de respos- entre os operantes verbais.
tas verbais, as respostas genéricas, como Como apontado por Oah e Dickin-
apontar, por exemplo, são mais comuns no son (1989), estudos nessa área têm impor-
repertório. Portanto, conforme o desenvol- tância prática, como nos campos de atraso
vimento vai evoluindo, as respostas especí- de desenvolvimento, de linguagem e tam-
ficas tendem a estar mais presentes. bém em patologias da fala. Para eles, por
Questões como a exigência da co- meio dessas pesquisas, podem-se promo-
munidade verbal e a experiência verbal, já ver programas de treinamento verbal com
discutidas para a Fase 1, também podem ser atenção ao controle das variáveis, tanto an-
apontadas aqui, uma vez que os resultados tecedentes quanto conseqüentes, para cada
da Fase 3 também indicam, em sua maioria, tipo de operante verbal.
a dependência funcional. O presente estudo, portanto, tam-
Além disso, outros dois argumentos bém pode vir a contribuir para a área apli-
apontados por Skinner (1957/1978) como cada da psicologia, principalmente, favore-
importantes na explicação da possibilidade cendo a produção de metodologias para o
da ocorrência de respostas não-treinadas treino da linguagem em suas diversas nu-
diretamente e que ocorreram no presente ances. Por exemplo, na educação especial, a
estudo foram: 1) um evento reforçador para dificuldade de comunicação entre as crian-
o mando pode também funcionar como es- ças e seus cuidadores pode ser percebida.
tímulo discriminativo para a ocorrência de Então, faz-se necessária a criação de méto-
um tato; 2) “a presença de um objeto refor- dos que a facilitem, como treinos específi-
çador é uma condição ótima para o refor- cos de alguns tatos e mandos fundamentais
ço” (p. 229). Neste estudo, as posições que para essa convivência, dentre outras e vá-
reforçavam o mando também funcionavam rias possíveis aplicações, dependendo das
como estímulo discriminativo para o tato e demandas na área de aplicação.

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 289-305 303
Cristiane Alves - Antonio de Freitas Ribeiro

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Recebido em: 09/10/2007


Primeira decisão editorial em: 29/10/2007
Versão final em: 29/04/2008
Aceito para publicação em: 31/03/2008

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