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ISSN 1982-3541

Campinas-SP
2009, Vol. XI, nº 2, 172-188

Contingências envolvidas na condução do


desenvolvimento verbal de uma criança de 5 anos

Contingencies involved in driving the verbal


development of a 5 year-
year-old child
Denise de Lima Oliveira Vilas Boas1,2
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Universidade de Fortaleza

Roberto Alves Banaco3


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Resumo
Comportamento verbal é comportamento operante, sujeito a leis de reforçamento. Contingências
de reforçamento podem produzir supressão ou baixa frequência de emissão de respostas verbais. O
objetivo deste trabalho foi: levantar hipóteses de possíveis contingências de reforçamento que
pudessem provocar supressão e/ou baixa frequência na emissão respostas verbais; observar
interações familiares e identificar contingências que pudessem diminuir ou aumentar a frequência
de emissão de respostas verbais e comportamentos inadequados; e, desenvolver procedimentos de
intervenção através de orientações aos pais e verificar possíveis mudanças na frequência de
emissão de respostas verbais de uma criança de cinco anos. Para isso, foram feitas: entrevista para
levantamento da história de vida da criança e da queixa; observações semanais de uma hora na
residência da criança por um período de sete meses; e, orientações aos pais ao final de cada sessão
de observação para que usassem procedimentos tais como reforçamento diferencial de respostas
alternativas, ensino de nomeação, reforçamento de mandos vocais, consequenciação de emissão de
resposta verbal, alteração na frequência de assistir TV e jogar vídeo-game e extinção para
comportamentos inadequados. As interações entre os membros da família durante as sessões de
intervenção foram transcritas e categorizadas. Os resultados mostram que a criança em sua
história de reforçamento e no início do estudo, foi exposta a contingências desfavoráveis ao
desenvolvimento de respostas verbais, o que produziu supressão e/ou baixa frequência de emissão
de respostas verbais. As orientações emitidas pela pesquisadora parecem ter produzido mudanças
nos comportamentos dos pais e consequentemente, nos comportamentos da criança, provocando
aumento na frequência de emissão de verbalizações e diminuição dos comportamentos
inadequados. Além disso, os dados mostram que ocorreram mudanças na interação de todos os
membros da família.

Palavras-chave: Comportamento verbal, Orientação familiar, Estratégias de intervenção.

1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Psicologia Experimental Análise do Comportamento, São Paulo, SP, Brasil.
2 UNIFOR – Universidade de Fortaleza, Paradigma – Núcleo de Análise do Comportamento. Rua Desembargador Avelar, 1403, Cidade
dos Funcionários, 60822-120, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: oliveiradenise@globo.com
3 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Paradigma – Núcleo de Análise do Comportamento, Doutor em Ciências: área de
concentração Análise Experimental do Comportamento. Rua Dr. Homem de Melo, 211, apto. 131, CEP 05007-000, São Paulo, SP,
Brasil. E-mail: robertobanaco@nucleoparadigma.com.br

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Contingências envolvidas na condução do desenvolvimento verbal de uma criança de 5 anos

Abstract
Verbal behavior is operant behavior and, therefore, is ruled by the laws of reinforcement.
Reinforcement contingencies may result in suppression or low frequency of verbal responses. The
purpose of this study was threefold: To formulate hypotheses of possible reinforcement
contingencies that might suppress or lower the frequency of verbal responses; to observe family
interactions and identify the contingencies that could lower the frequency of verbal responses and
raise the frequency of inappropriate behavior; to develop intervention procedures through parent
counseling and to verify possible changes in the frequency of verbal responses emitted by a 5 year-
old child. In order to accomplish this aim, an interview was conducted to assess the history of the
child’s and the parents’ complaints; one hour observation sessions in the child’s home were held
over 7 months and, at the end of each observation session, parent counseling took place. The
purpose of counseling the parents was to instruct them to differentially reinforce alternative
responses, teach naming, reinforce vocal mands, prompt the emission of verbal responses, alter the
frequency of watching TV and playing video games, and perform the extinction of inappropriate
behavior. The interactions of family members during the intervention sessions were noted and
categorized. The results show that the child was exposed to unfavorable contingencies at the
beginning of the experiment and in his earlier life, which had given rise to the suppression and/or
low frequency of verbal responses. The instructions given by the researcher seem to have produced
changes in the parents’ behavior and, consequently, in the child’s behavior, leading to an increased
frequency of verbal responses and a decreased frequency of inappropriate behavior. In addition,
the data show that changes occurred in the interactions of all members of the family, confirming
that verbal behavior is shaped and maintained by reinforcement contingencies.
Keywords: Verbal behavior, Family counseling, Intervention strategies.

Skinner ao descrever funcional- em que a primeira faz referência ao


mente o comportamento verbal (1957/ segundo. Na proposta desse autor, a
1978), não apresenta um trata-mento diversas exposições a esse tipo de evento
claro sobre o processo de aquisição dos promoveriam o desenvolvimento de
operantes verbais, especialmente tato e classes de generalização entre estímulos,
mando, enquanto produto de suas de forma que a criança responderia
consequencias (Brino e Souza, 2005). No apropriadamente a novos estímulos
entanto, alguns autores propuseram ambientais, idênticos ou similares àqueles
interpretações sobre a aquisição dos aos quais já foi exposta. Considerado
repertórios verbais durante o desen- desta forma, a criança primeiramente
volvimento da criança. deve aprender comportamento de ouvinte
para depois aprender o comportamento
Stemmer, (1992), por exemplo,
de falante.
discute a aquisição do repertório verbal,
por meio do conceito de eventos Consonante com essa interpre-
ostensivos, que se configuram como a tação, Moerk (1990) descreve que num
exposição ao pareamento palavra-objeto, processo de treino e aprendizagem do

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comportamento verbal, a criança que não requerem a ação deliberada de


primeiramente responde às declarações outra pessoa. Na primeira forma,
de um falante (em geral, da mãe) e tem chamada de prática, as respostas verbais
suas respostas verbais modeladas por este das crianças são reforçadas automa-
falante. Segundo ele, modelagem, ticamente quando reproduzem vários
imitação, princípios de aprendizagem tipos de som (gato, cachorro, carro, etc.).
social e do reforçamento explicam a Neste caso ouvir a própria resposta vocal
aquisição do repertório verbal. Sendo é o estímulo reforçador. Na segunda
assim, habilidades verbais requerem forma autista/ artística (autistic/artistic),
motivação (Operação Estabelecedora) um tipo de estímulo neutro adquire valor
para sua aquisição e consequências reforçador através do pareamento com
reforçadoras para sua manutenção. um estímulo reforçador já estabelecido.
Estudos feitos por Smith, Michael e
Outra proposta interpretativa
Sundberg (1996), mostraram que o
sobre a aquisição do repertório verbal é
emparelhamento de respostas vocais de
apresentada por Schlinger (1995), que
crianças com um estímulo neutro afetou
descreveu um processo em que se observa
muito pouco a taxa de vocalização da
o desenvolvimento da pré-fala (balbucio)
resposta alvo; já o emparelhamento com
por meio de relações reflexas que se
o estímulo reforçador aumentou a taxa da
tornam operantes, quando a vocalização
resposta alvo, enquanto que o
modifica o meio e é modificada por ele. A
emparelhamento com o estímulo aversivo
partir da modelagem do balbucio a
resultou num decréscimo imediato da
criança começa a emitir o que Schlinger
resposta alvo.
(op cit) chama de palavras únicas, ou seja,
Procurando ainda explicações para
palavras que são emitidas isoladamente,
a aquisição do comportamento verbal,
sem fazerem parte, nesse estágio, de uma
Schlinger (1995) e Drash e Tuddor (1993),
frase. Essas palavras vão aumentar de
propõem que as primeiras emissões
frequência no repertório verbal da criança
vocais da criança são evocadas por uma
a partir dos processos de imitação vocal e
operação estabelecedora aversiva. Tais
de modelagem e de reforçamento
emissões produzem uma alteração
automático.
ambiental específica que modela e
Para Skinner (1957/1978), no mantém essas respostas que podem, por
reforçamento automático a resposta pode essa razão, ser classificadas como mando.
ser fortalecida por duas formas adicionais De acordo com Schlinger (op cit), em

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seguida as crianças aprendem a nomear tição vocal e nomeação, o empare-


eventos do mundo por substantivos lhamento palavra-objeto é suficiente para
simples e depois mais complexos por um emergência da nomeação. Além disso, o
estabelecimento convencional da estudo feito por Hall e Sundberg (1987)
comunidade verbal em que está inserida. mostrou que apenas saber tatear um
De acordo com Hart e Risley (1995), a objeto não é suficiente para emissão de
criança precisa aprender primeiramente o mandos: é necessário o treino direto de
nome de todas as coisas e as ações mando, sob o efeito de uma operação
requeridas para depois emitir ordens e estabelecedora (privação).
pedidos; depois disso deve ser preparada
Drash e Tudor (1991) apresen-
para a escola, sendo exposta a
taram um experimento no qual se
contingências que possibilitem o
utilizaram de uma dica facial para
aprendizado de nomeação de cores,
aumentar a taxa de respostas vocais da
contar e nomear letras.
criança para dicas (prompt). Nesse artigo,
Na mesma linha explicativa, Souza os autores sugerem que a taxa de
(2003) propõe que a aquisição e o respostas vocais é uma variável
desenvolvimento do repertório verbal dependente relevante, altamente sensível
ocorrem em função do ensino de uma a diferentes contingências de refor-
determinada comunidade verbal, çamento. Eles apontam também que a
estabelecendo diferentes competências combinação de procedimentos que
linguísticas, Para o autor, as respostas incluam reforçamento positivo e
que se aprendem primeiro são imitação, contingências aversivas suaves (brandas)
compreensão e produção, tornando-se é mais efetiva do que apenas
base para o desenvolvimento de outras reforçamento positivo para aquisição de
respostas linguísticas. respostas verbais. A visão de que o
O estudo realizado por Souza comportamento verbal é um compor-
(2003) mostra que a partir do tamento operante torna possível uma
emparelhamento palavra-objeto, as análise funcional das interações entre
crianças não aprendem a competência de ouvinte e falante, revelando as variáveis
nomear (tatear), tornando-se necessário, que controlam a supressão ou baixa
para isso, o treino direto. No entanto, frequência de emissão de respostas
após uma história de reforçamento entre verbais, possibilitando, por meio da
emparelhamento palavra-objeto, repe- manipulação destas variáveis, o aumento

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na frequência de emissão de respostas “pais da classe trabalhadora” e “pais


verbais. profissionais liberais”4. O estudo teve
como objetivo, analisar os efeitos das
Segundo Drash e Tudor (1993),
evidentes diferenças nas interações
poucas pesquisas foram feitas para
verbais dessas famílias sobre o repertório
analisar a baixa frequência de emissão de
verbal de seus filhos e, com isso, baixo
respostas verbais de crianças que
desempenho cognitivo no futuro. Os
possuem uma estrutura genética,
autores descrevem que todas as crianças
orgânica e neurológica preservada
do estudo tiveram experiências de
(crianças com desenvolvimento típico).
interações verbais, mas a diferença entre
De acordo com os autores, a supressão ou
as famílias ocorreu na frequência com que
baixa frequência de emissão de respostas
as interações ocorriam: a frequência de
verbais vocais é decorrência de
interação nas famílias da seguridade
contingências ausentes ou defeituosas e
social foi menor do que dos pais
pode ser revertida por meio de
trabalhadores, que foi menor do que dos
manipulação de variáveis ambientais.
pais profissionais liberais.
Sendo assim a identificação dessas
Hart e Risley (1995)
variáveis, na maioria das vezes, indica um
propuseram, então, que quanto mais a
prognóstico mais positivo para
criança ouve aspectos da linguagem mais
desenvolvimento de um tratamento
ela tem oportunidades de desenvolver seu
comportamental e a possibilidade de
repertório verbal. Segundo os autores,
ampliação do repertório verbal da
algumas crianças aprenderam mais
criança.
palavras simplesmente porque se

Um estudo longitudinal feito por engajaram em muito mais atividades de

Hart e Risley (1995) mostra que crianças interação verbal. Hart e Risley (op cit)

americanas em situação de pobreza têm demonstraram que mesmo com

um repertório verbal mais restrito do que procedimentos para recuperação no

crianças de classes sociais mais elevadas. atraso do repertório verbal de crianças

Nesse estudo Hart e Risley (op cit) com mais de três anos, estas não

selecionaram quarenta e duas famílias atingiram o mesmo nível de

americanas, distribuídas em três grupos 4 Os autores classificam os pais como pais na seguridade social, pais da
classe trabalhadora e pais profissionais, sem o adjetivo “liberais”,
de acordo com a classificação sócio- embora na descrição dos participantes esta característica fosse
invocada. Optou-se neste trabalho por fazer este comentário já que
econômica, sendo elas: “pais da os pais poderiam ser profissionais - em alguma profissão - e estarem
desempregados, e certamente os pais da classe trabalhadora também
são considerados profissionais. Da mesma maneira, profissionais
seguridade social” (desempregados), liberais também são trabalhadores.

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desenvolvimento de crianças que foram (choro e grito) e a emissão de respostas


expostas a contingências que de fuga ou esquiva dos pais diante da
proporcionaram maior desenvolvimento estimulação aversiva (choro e grito). Pode
do repertório verbal desde a primeira ocorrer também resposta de fuga e
infância. esquiva da criança diante de uma situação
aversiva e punição da resposta dos pais
Corroborando estas hipóteses, em
em relação à criança.
estudo posterior Souza (2003), propôs
que as situações nas quais as pessoas O segundo paradigma apontado
usam as palavras em relação com os pelos autores seria o reforçamento de
objetos/eventos do mundo formas não vocais de comportamento
(emparelhamento) podem ser um verbal. Neste processo, pai
importante fator na aquisição de consequenciam resposta não vocal da
comportamentos que são caracterizados criança, tais como apontar e/chorar, que
como pré-requisitos na aquisição de são suficientes para a obtenção de
repertório verbal. Desta forma, quanto reforçadores, não exigindo respostas
maior o número de emparelhamentos vocais, tais como pedir.
palavra-objeto propiciado à criança pelos O terceiro paradigma foi descrito
pais ou cuidadores, melhor o como a extinção de respostas vocais, que
desenvolvimento do seu repertório verbal. ocorre quando os pais ou cuidadores
Tal emparelhamento também deve ser estão desatentos aos primeiro balbucios
acompanhado pelo reforçamento de da criança, impossibilitando a ocorrência
respostas das crianças. do processo de modelagem.

Drash e Tudor (1993) descreveram O quarto paradigma definido por


seis paradigmas de reforçamento na Drash e Tudor (1993) é o processo de
relação pais e filhos que podem provocar supressão do comportamento verbal por
supressão ou baixa frequência na emissão punição. Para os autores isso pode
de comportamento verbal de algumas ocorrer pelo processo de punição das
crianças. O primeiro foi por eles primeiras verbalizações da criança
denominado como reforçamento de (chorar e gemer) e, dessa forma, a
submissão, fuga e reforçamento de outros exposição frequente à contingência de
comportamentos inadequados. Nesse punição pode provocar a supressão dessas
processo ocorre reforçamento positivo respostas, impossibilitando a modelagem
das respostas “inadequadas” da criança de respostas vocais da criança.

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O quinto paradigma descrito é a mental ocorre em função do atraso verbal


ausência ou ineficiência de reforçamento da criança. Assim, o uso da tecnologia
do comportamento verbal. Isso ocorre comportamental no treino de pais,
geralmente em decorrência tanto da falta professores, pediatras e outros cuidadores
de habilidade, quanto de um repertório para diminuir a incidência de atraso no
verbal deficiente dos pais e/ou comportamento verbal, poderiam
cuidadores. Os achados Hart e Risley diminuir a incidência de diagnóstico
(1995) demonstram que quanto menor o inadequado de retardo mental.
repertório verbal dos pais, menor o
repertório verbal dos filhos. Estudos demonstraram que o
treino dos pais como mediadores (Polster
E por último Drash e Tudor (1993)
& Dangel 1989; Souza, 2000; Wodarski &
ressaltam como paradigma a interação
Thyer, 1989) para aplicação de
entre fatores orgânicos ou presumi-
procedimentos comportamentais pode
velmente orgânicos e fatores compor-
ser eficaz para o desenvolvimento e/ou
tamentais. Segundo os autores, as
ampliação de repertório verbal de uma
respostas dos pais diante da inabilidade
criança. Drash e Tudor (1991), por
da criança podem aumentar ou diminuir
exemplo, demonstraram que a
a frequência de problemas futuros
manipulação de variáveis alterando os
Identificar paradigmas de esquemas de reforçamento era eficaz em
reforçamento que inibem o desenvol- obter esses resultados. Hall e Sundberg
vimento do comportamento verbal (1987) demonstraram que o uso de dica
durante os primeiros anos pode facial para emissão de comportamento
contribuir significativamente para o ecóico e treino de mando, sem
desenvolvimento de programas compor- manipulação de operações estabele-
tamentais. Esses estudos visam prevenir cedoras, mas aproveitando operações
a instalação de comportamentos inade- estabelecedoras vigentes na situação,
quados e proporcionar o desenvolvimento também melhoravam os desempenhos
de comportamento verbal da criança com verbais da população por eles estudada.
um repertório amplo. Esses trabalhos demonstram que queixas
Muitas vezes o atraso no de baixo repertório verbal de crianças
desenvolvimento do comportamento podem ser eliminadas e os repertórios
verbal é associado a retardo mental, verbais de crianças, melhorados por meio
quando na realidade, o suposto retardo de manipulação de dicas e consequências.

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O objetivo do presente trabalho foi, Método


a partir de queixas de uma família sobre o
Participantes
repertório verbal enfraquecido de uma
Uma família composta por quatro
criança de 5 anos, obter dados sobre
membros – pai, mãe e dois filhos -, com
possíveis contingências na história de
perfil de classe Baixa Superior,
reforçamento de respostas verbais
classificada em estudo sócio econômico
emitidas pela criança que pudessem
de uma universidade da Grande São
provocar a supressão e/ou baixa
Paulo.
frequência na emissão de comportamento
Foco: Criança de 5 anos com baixa
verbal pela criança. Para isso, optou-se
frequência na emissão de respostas
por observar as interações familiares e
verbais, interação pouco frequente com
identificar contingências que pudessem
seus pares e baixo desempenho escolar.
diminuir a frequência de emissão de
respostas verbais e aumentar a frequência
Local
de comportamentos inadequados. As
Todas as observações e
hipóteses norteadoras foram baseadas
intervenções foram feitas na residência da
nos paradigmas de Drash e Tudor (1993).
família: um apartamento de três quartos,
Diante dessas hipóteses, o
num bairro residencial de uma cidade da
desenvolvimento de procedimentos de
Grande São Paulo.
intervenção, através de orientação aos
pais, procurou verificar se mudanças nas
Contato inicial e Queixa
interações entre os familiares
provocariam mudanças na frequência de A mãe da criança chegou ao

emissão de respostas verbais e de consultório particular da pesquisadora

comportamentos inadequados da criança. (psicóloga) relatando que o filho não

As respostas e dimensões selecionadas falava (ou falava pouco) e apresentava

para observação e intervenção foram: alguns comportamentos inadequados,

frequência de emissão de comportamento tais como bater a cabeça, gritar e chorar

verbal pela criança, interação verbal com muito.

os membros da família, dificuldade de


aprendizagem, emissão de Equipamento

comportamentos inadequados (choros e Para realização da pesquisa


gritos) e frequência de interação do pai utilizou-se: gravador cassete para registro
com a criança. das verbalizações; computador; e,

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programa de computador (software) para observações, estava dividida em


contagem e classificação das palavras intervalos de cinco minutos; já nas
emitidas por todos os membros da demais estava dividida em intervalos de 1
família. minuto.
Foi realizado por duas vezes, num
Procedimento intervalo de quinze dias, um teste que

Realizou-se num primeiro consistia na apresentação de 92 figuras

momento entrevista com a mãe para o projetadas em tela de um

levantamento da história de vida da microcomputador e o pedido subsequente

criança e histórico da queixa. Os registros para que a criança nomeasse cada uma

da entrevista foram transcritos pela das figuras. As figuras selecionadas

pesquisadora. Após a transcrição os representavam objetos que supostamente

dados foram organizados para a pertencem ao cotidiano de uma criança

realização de uma análise qualitativa dos de 5 anos. A pesquisadora solicitou que a

relatos e para levantamento da queixa. criança nomeasse cada figura por meio da

Após a entrevista foram realizadas verbalização: “O que é isto?”. As

observações semanais na residência da respostas, certas ou erradas, foram

criança, com duração de uma hora, consequenciadas apenas com a

segundo as recomendações de Hart e apresentação de uma nova figura. O

Risley (1995). Após cada observação eram objetivo destes testes foi identificar quais

realizadas as intervenções, que serão figuras a criança era capaz de nomear e

descritas a seguir. O Estudo foi realizado tomar as medidas do repertório verbal

num período de sete meses. durante a intervenção.

Durante o período de observação Após a primeira realização do


todas as verbalizações da criança e de teste, os pais foram orientados a
quem estivesse na residência foram “brincarem” com a criança uma hora por
registradas por meio de um gravador dia, repetindo o procedimento utilizado
cassete. Além disso, foi desenvolvida uma pela pesquisadora. No entanto, os pais
folha de registro, que permitisse coletar foram orientados para elogiarem
dados sobre o que a criança estava diferencialmente as respostas da criança,
fazendo, o material com o qual estava em ou seja, quando a criança respondesse
contato, quem estava presente no corretamente os mesmos deveriam
ambiente e suas interações com a criança. consequenciar a resposta com elogios do
A folha de registro, nas três primeiras tipo “muito bem”, “parabéns”, “isso

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mesmo”. Quando a resposta fosse dados. Foi também registrada e


incorreta ou ausente, os pais deveriam comparada a quantidade de palavras
verbalizar o nome correto e solicitar que a emitidas por cada membro da família, por
criança repetisse. Essas intervenções hora de observação.
foram baseadas em Drash e Tudor (1993)
Foi feita, também a quantificação
e Hart e Risley(1995). das verbalizações emitidas por todos os
As respostas da criança no teste de
membros da família, dividindo-as em
nomeação foram classificadas em três
frases. Foram quantificadas apenas as
categorias, apresentadas na Tabela 1 frases dos membros da família em direção
abaixo: à criança e as falas em direção ao outro
membro da família, quando estas
Tabela 1. Categorização da respostas da criança emitidas na
primeira e na segunda aplicação do teste de interromperam um episódio verbal
nomeação.
Categoria Descrição (diálogo) entre este e a criança.
Respostas certas Nomeação mais comum utilizada pela
comunidade verbal no grau normal, no O falante foi identificado em cada
diminutivo ou no aumentativo ao
estímulo apresentado.
episódio verbal analisado da seguinte
Respostas erradas Nomeação que não corresponde ao
estímulo apresentado ou a qualquer forma: M= mãe; P= pai; C= criança; I=
propriedade do mesmo ou
verbalizações do tipo “não sei”. irmão.
Respostas próximas Nomeação sob controle de
à certa propriedades específicas do estímulo.
Por exemplo: figura apresentada:
Jaqueta azul. Resposta da criança: Intervenção
azul.

Com base nos paradigmas


A organização e análise dos dados propostos por Drash e Tudor (1993),
foram feitas baseadas no estudo de Hart e foram elaborados nove procedimentos de
Risley (1995), com algumas alterações, intervenção específicos, que deveriam ser
considerando que o atual estudo trata-se realizados pelos pais, sob orientação da
de um estudo de caso único. Foram pesquisadora. Esses procedimentos foram
medidas a frequência de emissão do ensinados aos pais através de orientação
comportamento vocal da criança e a verbal.
frequência de emissão do comportamento As sessões de orientação aos pais
vocal dos pais (Drash e Tudor, 1991). ocorreram após o período de observação,
Os conteúdos das gravações foram em todos os dias de observação. As nove
transcritos, digitados e depois alimen- orientações foram feitas em todas as
taram um programa de computador sessões aos pais, ou apenas à mãe nos
criado especialmente para a análise dos dias em que o pai estava ausente.

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Os procedimentos utilizados dias de observação, como consequenciar


foram: comportamentos ou queixas ocasionais
1) DRA – reforçamento diferencial de ocorridos em algumas observações,
respostas alternativas: procedimento aumento na interação entre o pai e a
de extinção de mandos inadequados e criança e que os pais não interferissem na
reforço de respostas vocais; interação entre os irmãos.

2) Ensino de nomeação: nomeação de


objetos e solicitação para que a criança Resultados
repetisse e em seguida a solicitação de Através de entrevista com a mãe,
nomeação do objeto pela criança; foram levantadas contingências que
3) Reforçamento de mandos vocais: poderiam diminuir a probabilidade da
atender apenas a pedidos e criança emitir respostas vocais, tais como:
solicitações vocais da criança. reforçamento de submissão e fuga;

4) Alteração na frequência de assistir a reforçamento de mandos inadequados;

TV e jogar vídeo-game: diminuir a extinção do comportamento verbal;

frequência de permanência da criança ausência de reforçamento do

assistindo TV e jogando vídeo game; comportamento verbal; ausência de


reforçamento automático; e ausência de
5) Suspensão da punição da emissão de
reforçamento de comportamentos
respostas inadequadas;
adequados.
6) Suspensão da punição da emissão de
respostas verbais inadequadas; Para verificar essas hipóteses
levantadas com base na entrevista da mãe
7) Alternativas para colocação de regras
e os resultados das intervenções, foram
ou limites;
selecionadas para análise de resultados a
8) Consequenciação da emissão de
primeira e a última observação com todos
comportamento verbal, sempre
os membros da família presentes, em
prolongando a conversa quando
intervalo de aproximadamente 6 meses
possível; e,
entre elas, a primeira e a última
9) Aumento das verbalizações descritivas
observação em que estavam presentes a
e encorajadoras de forma geral dentro
mãe e a criança (intervalo similar) e a
da residência.
observação na semana posterior ao teste
Além dessas orientações descritas de nomeação, dois meses depois do início
acima, outras foram fornecidas em alguns do estudo .

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Contingências envolvidas na condução do desenvolvimento verbal de uma criança de 5 anos

Os dados sobre as categorias foram notar o aumento na quantidade de frases


organizados em figuras para facilitar a emitidas pela mãe em direção à criança.
visualização das mudanças ocorridas no Ao final da hora de observação do dia (2),
decorrer das observações. As descrições durante a orientação, a mãe voltou a
das mudanças foram correlacionadas com apresentar a queixa de que o pai interagia
as intervenções que possam ter pouco com seu filho. Baseada na queixa e
possibilitado determinada alteração no no registro da primeira observação
padrão familiar de emissão de respostas (poucas verbalizações do pai em direção à
verbais. criança), a pesquisadora orientou a mãe a
deixá-los mais tempo sozinhos e não
Nesse primeiro momento optou-se
interferir na interação entre eles. A
por descrever as mudanças quantitativas
diminuição na quantidade de frases
ocorridas nas verbalizações tanto da
emitidas pela mãe em direção à criança
criança quanto dos seus familiares. A
pode ter sido consequência dessa
Figura 1 mostra a quantidade de frases
orientação, pois ocorreu concomitante ao
emitidas pelos pais em direção à criança e
aumento na quantidade de frases
a quantidade de frases emitidas pela
emitidas pelo pai em direção à criança.
criança. Na primeira observação a
criança interagiu praticamente apenas Ao final de cada observação em
com a mãe, apesar de todos os familiares que o pai interagia com a criança, a
(mãe, pai e irmão) estarem presentes. Por pesquisadora ressaltava este fato e emitia
parte do pai, ocorriam breves declarações elogios ao pai, enfatizando o quanto ele
seguidas por silêncio. Este dado estava ajudando no desenvolvimento do
confirmou a descrição da mãe na repertório verbal de seu filho. Esses
entrevista, de que havia baixa frequência elogios e o aumento nas verbalizações da
de interação entre o pai e a criança. criança provavelmente mantiveram e

No decorrer das intervenções a aumentaram a quantidade de frases do

criança aumentou o tempo de interação pai em direção a criança, como verificado

com o pai, ocasionando aumento e maior no dia 10.06.2005 (5).

variação na interação com os familiares. Essas mudanças no desempenho


Ao final da primeira observação os dos pais foram seguidas por uma
pais foram orientados a aumentarem a mudança na quantidade de frases
quantidade de verbalizações em direção à emitidas pela criança, que aumentou a
criança. Na segunda observação pode-se cada sessão de observação selecionada.

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Pode-se, então, levantar a hipótese de que direção a ela ou não, pelos pais e irmão
o aumento das frases emitidas pela também mudou no decorrer das sessões
criança em direção aos pais ocorreu como de observação. Além disso, a quantidade
consequência do aumento de de palavras emitidas pela criança
verbalizações dos pais em direção à aumentou de uma observação para outra.
criança, conforme demonstra a curva da
Figura 1, com média de 160 palavras nas
três primeiras sessões e número final
próximo das 330 palavras.

Figura 2. Quantidade de palavras emitidas na presença da


criança por cada membro da família e quantidade
de palavras emitidas pela criança, nos dias
13.12.2004 (1), 14.12.2004 (2), 14.02.2005 (3),
03.06.2005 (4) e 10.06.2005 (5). Nos dias
14.12.2004 (2) e 03.06.2005 (4), apenas a mãe e a
criança estavam presentes.

Figura 1. Quantidade de frases emitidas em direção a criança,


quantidade de frases emitidas pela criança para A quantidade de palavras emitidas
cada membro da família, nos dias 13.12.2004 (1),
14.12.2004 (2), 14.02.2005 (3), 03.06.2005 (4) e pelo pai aumentou gradativamente no
10.06.2005 (5). Nos dias 14.12.2004 (2) e
03.06.2005 (4), apenas a mãe e a criança estavam
presentes.
decorrer das sessões de observação em que
esteve presente. Concomitante a isso, a
O aumento das verbalizações do quantidade de palavras emitidas pela mãe e
pai em direção à criança e da criança em também pelo irmão na presença da criança
direção ao pai pode ser, também, produto diminuiu.
de uma contingência de reforçamento, em Na sessão (3) parte da interação do
que as consequências liberadas por um, pai com a criança ocorreu jogando vídeo-
diante da verbalização do outro, game (pai, criança e irmão), no entanto as
mantiveram e aumentaram a frequência interações verbais entre eles não
de respostas verbais de ambos. ocorreram o tempo todo. Ao final dessa
A Figura 2 mostra a quantidade de observação, a pesquisadora destacou a
palavras emitidas pelos pais, irmão e pela importância de o pai ter brincado com a
criança nas sessões de observação criança e emitiu elogios dirigidos a essa
selecionadas. A quantidade de palavras ação. No entanto, ressaltou que além de
emitidas na presença da criança, em brincar o pai deveria conversar com a

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Contingências envolvidas na condução do desenvolvimento verbal de uma criança de 5 anos

criança sobre o jogo, descrevendo, criança foi submetida pela pesquisadora


nomeando e qualificando os objetos e na segunda aplicação do teste de
situações presentes. Essa orientação nomeação houve um aumento de 126% de
pode ter provocado o aumento na nomeações corretas e uma diminuição de
quantidade de palavras emitidas pelo pai 71% de nomeações erradas e de 37,5% de
na sessão 5. nomeações próximas à certa.

Houve um aumento gradativo na Tabela 2. Resultado do teste de nomeação na primeira e na


segunda aplicação.
quantidade de palavras emitidas pela
Primeiro teste Segundo teste
Tipo de resposta Diferença
criança durante o período de observação de nomeação de nomeação

Respostas certas 30 68 38
(ver Figura 2, sessão 2, 4 e 5),
Respostas
24 15 - 9
próximas à certa
concomitantemente às mudanças
Respostas erradas 38 9 - 27
observadas na quantidade de palavras Total 92 92

emitidas pelos pais e pelo irmão. É


importante ressaltar que na sessão (4) a A mudança no resultado da
criança estava sozinha com a mãe e na segunda aplicação do teste de nomeação,
sessão (5) ela passou mais tempo em feito duas semanas depois da primeira,
interação com o pai. Observa-se também parece ser decorrência da maior
que nessa oportunidade a quantidade de exposição da criança às solicitações de
palavras emitidas pela criança na nomeação por parte dos pais.
presença do pai foi maior do que a
observada anteriormente na presença da Discussão
mãe.
Segundo Skinner (1957) o
Outra intervenção que pode ter ambiente cultural é o maior responsável
provocado mudanças na quantidade de pelo desenvolvimento do comportamento
verbalizações emitidas pelos pais e verbal em sua forma e função. A
consequentemente pela criança foi o teste comunidade verbal definirá como será a
de nomeação. Este, que tinha como topografia e qual será a função do
objetivo verificar quais objetos do comportamento verbal. Neste estudo
cotidiano a criança sabia nomear, tornou- observou-se que as alterações
se uma intervenção que mudou a rotina e comportamentais dos pais e do irmão,
as verbalizações dos membros da família. nesse período de observação, parecem ser
A Tabela 2, abaixo, mostra o resultado responsáveis pelas mudanças comporta-
dos dois testes de nomeação aos quais a mentais da criança.

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A mudança na quantidade de Dados informais de observação


tempo de interação com a criança e na apontam que, o trabalho de intervenção
variedade de interlocutores expôs a envolvendo todos os membros da família
criança a contingências mais variadas em parece ter produzido mudanças no
verbalizações, o que, provavelmente, comportamento da criança, ter
permitiu que ela ampliasse o seu aumentado a frequência de respostas
vocabulário e consequentemente suas verbais emitidas pela mesma e, também,
verbalizações. Parece que a possibilidade ter produzido mudanças no compor-
de manipular as variáveis que tamento de todos os membros da família,
controlavam a baixa frequência de que, além de aumentarem a quantidade
emissão de respostas vocais pela criança, de verbalizações emitidas em direção à
provocou um aumento do seu repertório criança, passaram a emitir consequências
(vocabulário) verbal. positivas para comportamentos adequa-
dos com mais frequência, a atenção para

Segundo Drash e Tudor (1993), a comportamentos inadequados diminuiu e


supressão de respostas vocais é aumentou o uso apropriado de conse-

decorrência de contingências ausentes ou quências negativas com descrição de


defeituosas. A partir dessa declaração, contingências (regras e limites).

levantou-se a hipótese de que manipular


As intervenções ocorreram de
as contingências envolvidas na relação
forma assistemática e todas ao mesmo
familiar observada poderia melhorar o
tempo, o que dificultou a possibilidade de
desenvolvimento do comportamento
definir qual intervenção produziu
verbal da criança.
determinada alteração no comporta-
mento dos membros da família. Além
A aplicação do teste de nomeação
disso, por se tratar de um estudo em
no meio do processo proporcionou um
ambiente natural, não foi possível o total
inicio de procedimento para solicitar
controle de variáveis estranhas (interve-
respostas verbais da criança, aumentando
nientes), que garantisse essa definição.
a frequência destes tipos de verbalizações
pelos pais, acompanhada pelo aumento
Conclusão
na frequência de verbalizações de
nomeação pela criança e aumento na Com este estudo foi possível
quantidade de nomeações corretas na observar que mudanças no comporta-
segunda aplicação do teste de nomeação. mento da criança acompanhou as

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Contingências envolvidas na condução do desenvolvimento verbal de uma criança de 5 anos

mudanças no comportamento dos demais em vigor, no caso, a expansão do


membros da família, e que as mudanças repertório verbal da criança.
no comportamento dos pais foram Num próximo estudo, seria
seguidas às orientações, mas prova- importante, aplicar um procedimento por
velmente mantidas pelas mudanças vez e assim observar as mudanças que
provocadas no comportamento da cada procedimento provocou, seguindo
criança. A orientação serviu para uma linha de base múltipla, pois isso
aumentar a frequência das verbalizações possibilitaria analisar melhor qual
no inicio, mas o que manteve esse procedimento provocou determinada
aumento no repertório dos pais, mudança (Johnston e Pennypacker,
provavelmente, foram as contingências 1993).

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Recebido em: 01/10/2007


Aceito para publicação em: 20/07/2009

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