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Pessoa, C. V. B. B., & Velasco, S. M. (2010). Comportamento operante. Em N.

B. Borges e F. A. Cassas, Clínica Analítico-Comportamental: Aspectos teóricos


e práticos (pp. 24-26). Porto Alegre, RS: ArtMed Editora S.A.

COMPORTAMENTO OPERANTE

“Viva a operante! (Uma noção tão fecunda como o operante precisa ser

feminina.)” (Skinner, 1977, p. 1007). É dessa forma que estudantes de B. F.

Skinner homenageiam esse conceito da análise do comportamento em uma

carta escrita ao seu professor. De fato, a formulação do conceito de operante

ajudou e continua a ajudar muito no entendimento do comportamento humano.

O objetivo deste capítulo é apresentar o conceito de comportamento operante

relacionando-o com aspectos da atuação do analista do comportamento na

prática clínica.

Comportamento

Ao definir o que é comportamento, Skinner (1938/1991) afirma que

“comportamento é a parte do funcionamento do organismo que está engajada

em agir sobre ou ter intercambio com o mundo externo” (p. 6). Essa forma de

tomar o comportamento como objeto de análise, apesar de aparentemente

simples, foi inovadora por uma série de aspectos e vale a pena ser mais bem

analisada antes de se prosseguir. Primeiramente, Skinner apresenta o

comportamento como apenas uma parte do funcionamento do organismo. Esse

fato já indica que para se ter um entendimento global do ser humano, outras

áreas de conhecimento devem ser utilizadas. Em textos posteriores (por

exemplo, Skinner, 1989/1995), o autor destaca a importância de outras ciências


como, por exemplo, as neurociências, para o entendimento completo do ser

humano. Segundo o autor, é na cooperação entre essas áreas de

conhecimento que o ser humano será totalmente entendido. Mas Skinner

também deixa claro que as descobertas nessas outras áreas não mudarão os

fatos comportamentais estudados pela análise do comportamento. Na visão de

Skinner, provavelmente a análise do comportamento será requisitada no

esclarecimento dos efeitos sobre o ser humano verificados por estas outras

ciências (Skinner, 1989/1995).

A segunda observação que pode ser feita da definição de Skinner de

comportamento é o fato de que o comportamento é ação, um intercâmbio com

o mundo. Essa forma de se analisar o comportamento foi inovadora por

mostrar o comportamento como uma relação. Antes de Skinner, era comum, se

estudar o comportamento não como uma relação, mas sim como uma

decorrência do ambiente. Ao enfatizar o intercâmbio, Skinner se preocupa em

mostrar como aquilo que o indivíduo faz — as respostas — se relaciona com

uma mudança no ambiente — os estímulos. Por essa forma de análise, o

comportamento engloba o ambiente em uma relação funcional e não mais é

mecanicamente causado por ele. (Cabe ainda dizer que, no caso do ser

humano, a noção de “mundo externo” engloba como estímulos aspectos do

mundo que se constituem da própria fisiologia humana, ou como Skinner

(1974/1998) coloca, o mundo dentro da pele).

A escolha dos termos resposta e estímulos como os elementos a serem

utilizados na descrição do comportamento também foi cuidadosamente feita:


“O ambiente entra na descrição de um comportamento quando

pode ser mostrado que uma dada parte do comportamento pode

ser induzida à vontade (ou de acordo com certas leis) por uma

modificação de parte das forças afetando o organismo. Tal parte,

ou a modificação desta parte, do ambiente é tradicionalmente

chamada de estímulo e a parte do comportamento correlata uma

resposta. Nenhum dos termos pode ser definido nas suas

propriedades essenciais sem o outro.” (Skinner, 1938/1991, p.9,

itálicos no original).

A análise desse trecho de Skinner (1938/1991) completa o entendimento

da tarefa de um analista do comportamento ao descrever um comportamento.

É importante atentar para o fato de que a descrição do comportamento não

envolve apenas a narração de uma relação. Skinner destaca que o ambiente a

ser levado em conta é aquele que, quando se modifica, induz uma resposta.

Esta modificação no ambiente apenas será um estímulo se for regularmente

relacionada a uma resposta. A necessidade de identificar regularidades mostra

a preocupação que o analista do comportamento deve ter com previsão e

controle. Não adianta descrever o ambiente ou as respostas. É necessário

descrever as relações regulares envolvendo os estímulos e as respostas. Só

assim, pode-se prever quando o acontecimento de um estímulo controlará a

ocorrência de uma resposta.

A necessidade da descrição de regularidades leva o analista do

comportamento a não trabalhar com acontecimentos únicos (instâncias) de

relações entre estímulos e respostas. Para o analista do comportamento é


importante considerar que a ocorrência de uma classe de respostas está

relacionada à ocorrência de uma classe de estímulos. A definição de uma

classe de estímulos se dá então pela relação dessa classe a uma classe de

respostas. Um exemplo pode ser dado, neste ponto, a partir de uma relação

colocada no capítulo anterior. Adiantaria muito pouco dizer que um cisco no

olho eliciou uma resposta de piscar. O importante para o analista do

comportamento é saber que alguns objetos, quando em contato com o olho,

eliciam respostas de piscar. Os objetos que cumprem essa função em relação

à resposta de piscar formam a classe de estímulos eliciadores (da classe) de

respostas de piscar. Assim, pode-se prever que, toda vez que um estímulo

dessa classe ocorrer, ocorrerá também uma resposta da classe de piscar. A

noção de classe, apesar de poder ser utilizada na análise do comportamento

respondente, é fundamental para o entendimento do próximo tópico, o

comportamento operante.
Referências (do subtítulo)

Skinner, B. F. (1977). Herrnstein and the evolution of behaviorism, American


Psychologist, 32, 1006-1012.

Skinner, B. F. (1991). The Behavior of Organisms. Acton, MA: Copley


Publishing Group. (Publicado originalmente em 1938)

Skinner, B. F. (1995). As Origens do Pensamento Cognitivo. Em B. F. Skinner


(Org.) Questões Recentes na Análise Comportamental. Tradução de
Anita Liberalesso Neci. (pp. 25-42). Campinas, SP: Papirus. (Publicado
originalmente em 1989)

Skinner, B. F. (1998). Sobre o Behaviorismo. Tradução de Maria da Penha


Villalobos. São Paulo: Cultrix. (Publicado originalmente em 1974)

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