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FCS
Análises Funcionais
Nampula
2023
Melita António Jacinto
Nazia Admo
Tânia Alaiere
Joaquim Rodrigues
Análises Funcionais
Conclusão ....................................................................................................................... 24
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Análise Funcional
Segundo Skinner et al a análise funcional tem sido mencionada como o tipo de recurso
explicativo de que se serve a análise do comportamento) e também como estratégia, ou
método de intervenção em terapias comportamentais. Enquanto recurso explicativo, seu
alcance pode não ser tão consensual, uma vez considerados aspectos diversos da
interpretação analítica-comportamental para as relações organismo-ambiente. A
ausência de consenso sobre o que significa a análise funcional aparece de modo mais
evidente na literatura de aplicação clínica, onde uma diversidade de definições para o
termo tem sido referida e a necessidade de estudos conceituais a respeito sugerida.
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Com o advento do modelo de selecção por consequências, a análise funcional estará
associada a uma noção selecionista, não mecanicista, de causalidade. No lugar da busca
por um agente originador do comportamento, a análise estará voltada para o
reconhecimento da múltipla e complexa rede de determinações de instâncias de
comportamento, representada pela acção em diferentes níveis (filogênese, ontogênese e
cultura) das consequências do comportamento sobre a probabilidade de respostas
futuras da mesma classe. O princípio selecionista apresenta-se como um princípio
explicativo derivado da investigação do comportamento operante. Segundo Chiesa4 a
“selecção como modelo causal não é uma suposição; ela é empiricamente validada em
experimentos de condicionamento operante, que demonstram a modelagem e
manutenção de comportamentos complexos por contingências complexas”.
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Sugere-se que com o conceito de operante e com o modelo de selecção por
consequências torna-se discutível se uma análise funcional pode/deve ater-se à
identificação das variáveis atuais às quais o comportamento está funcionalmente
relacionado. Na medida em que o fenómeno comportamental passa a ser abordado não
apenas do ponto de vista da relação presente entre variáveis, mas, também, do modo
como tais relações são produzidas e/ou mantidas, uma outra perspectiva de análise se
instaura. Deriva das afirmações de Skinner sobre o assunto duas possibilidades: a
primeira, de supor “que as consequências passadas não participam das relações
funcionais. Sendo assim, o que eu posso falar do comportamento não incorpora suas
características significativas”. A segunda possibilidade é colocada nos seguintes termos:
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Análise Funcional e Terapia Comportamental
Embora ocupe lugar de destaque nas abordagens comportamentais, pouca atenção tem
sido dada à discussão de aspectos teóricos e ao estudo conceitual do termo “análise
funcional”. Assim, diferentes termos têm sido empregados como equivalentes em sua
definição: a) “análise do comportamento”, b) “análise comportamental funcional”, c)
“avaliação comportamental” e d) “elaboração comportamental de caso”. Ao lado disso,
observa-se o uso de um mesmo termo genérico com diferentes conotações.
Isso tem expressado um desacordo sobre a definição de análise funcional, seus supostos
subjacentes, seus métodos de derivação, seus componentes relevantes e seu domínio de
utilidade. Estas inconsistências impedem a comunicação entre analistas do
comportamento sobre as características da análise funcional e seu papel na terapia
comportamental.
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da relação entre as variáveis especificadas”, o que conduz a uma indicação de
causalidade. A psicologia conjugaria as duas perspectivas, na medida em que se ocupa
“tanto dos determinantes do comportamento, quanto da forma das relações entre tais
determinantes e o comportamento”.
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Uma revisão mais sistemática dos usos da análise funcional na terapia comportamental é
apresentada por Haynes e O‟Brien12,13. Os autores identificam, na literatura da terapia
comportamental, 11 definições diversas para a análise funcional: a) “uma especificação
de comportamentos alvo”; b) “demonstrações de „controle‟ através da manipulação de
variáveis controladoras (causais) hipotetizadas; c) “especificação de factores
controladores para uma classe de problemas de comportamento, em vez de para um caso
individual”; d) “identificação de factores situacionais (setting factors)”; e) “relações
estímulo-resposta ou resposta-resposta”; f) “factores motivacionais e de
desenvolvimento”; g) “identificação de relações funcionais potenciais, alternativas
àquelas em operação para um cliente”; h) “previsões sobre o comportamento de um
cliente”; i) “especificação de componentes da resposta”; j) “integração global conceitual
de problemas de comportamento, variáveis causais e mediacionais, recursos, e assim por
diante”. Adicionalmente, afirmam que a análise funcional ora é definida como processo,
ora como produto.
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designada de “análise funcional clássica” e descrita como “altamente abstracta”, na
medida em que não explicita claramente os passos de uma intervenção nela baseada.
Mas a alegação (de Hayes e Follette, 1992) de fracasso da análise funcional como
geradora de metodologias para a clínica “talvez recomende um passo anterior, que
favoreça a discussão da real possibilidade de emergência de tais metodologias, uma vez
que a expressão 'contexto clínico' pode estar encobrindo uma diversidade de situações
de intervenção”. A padronização precisa dos procedimentos clínicos também é
contestada por Owens e Ashcroft (1982). Como mencionado acima, estes autores
enfatizam o carácter idiossincrático dos produtos da avaliação e intervenção e
discordam da possibilidade de generalizações amplas a esse respeito, a mesma tese
defendida por Hawkins (1986), que aponta a possibilidade de análises funcionais
múltiplas para um mesmo caso. Na mesma direcção, Samson e McDonnell (1990)
argumentam que a análise funcional psicológica será sempre particular em função da
diversidade de funções dos comportamentos humanos. Desse modo, pode ser incorrecto
pressupor que intervenções padronizadas podem vir a ser efectivas quando aplicadas a
problemas que apresentem alguma similaridade.
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Entretanto, torna-se necessário demarcar, precisamente, o critério de instrumentalidade
que estaria orientando a construção de sistemas alternativos de classificação
fundamentados nos princípios analítico-comportamentais.
Uma análise funcional pode ser altamente complexa e, como decorrência, específica ao
indivíduo. É improvável que sejam exactamente as mesmas as intervenções que as
análises funcionais podem recomendar para dois problemas que pareçam ser similares.
Quaisquer similaridades entre as intervenções estarão relacionadas à similaridade das
funções a que os problemas servem. Isso significa que não é possível, quando se usa
uma abordagem analítica funcional, fazer generalizações amplas sobre a intervenção a
ser realizada ou sobre o estilo com que deve se apresentar.
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a uma teoria que interdite tal referência, quanto na suposição de que disso depende um
maior alcance das hipóteses explicativas. Alguns fenómenos psicológicos (medo,
ansiedade, por exemplo) são vistos como multidimensionais, envolvendo componentes
comportamentais, cognitivos e fisiológicos. A referência a inobserváveis, sob a forma
de constructos hipotéticos, “é essencial para aumentar a força explanatória de uma
Análise Funcional”, como também para facilitar “a geração de um grande número de
hipóteses, algumas das quais merecedoras de exame empírico”.
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Alguns autores tratam a análise funcional como dissociada de constrangimentos teóricos
particulares e mesmo como de uso não limitado à intervenção com clientes individuais.
Se estas são possibilidades contidas numa noção ampla de análise funcional, é também
verdade que no interior de uma prática orientada por princípios analítico-
comportamentais a análise funcional assume características particulares, que podem ser
resumidas nos seguintes pontos tratados acima: a) selecionismo como modelo causal e
funcionalismo como princípio de análise; b) externalismo como recorte de análise; c)
complexidade, variabilidade, e carácter idiossincrático das relações comportamentais; d)
critério pragmático na definição do nível de intervenção; e) distinção entre alcance da
avaliação e alcance da intervenção. Estes pontos podem ser resumidamente definidos
como a seguir.
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c) complexidade, variabilidade, e carácter idiossincrático das relações comportamentais.
Da complexidade dos processos de determinação do comportamento humano resultam
produtos variáveis e idiossincráticos. A variabilidade manifesta-se inter e intra-sujeitos
e são seus produtos idiossincráticos os comportamentos em geral, condições orgânicas e
processos comportamentais privados. Como decorrência, a análise funcional e/ou a
intervenção por ela orientada são idiográficas, não são possíveis generalizações amplas
da intervenção e a pluralidade de análises funcionais é reconhecida como uma
possibilidade mesmo no interior de um único caso (Hawkins, 1986), o que contraria o
apelo a uma formalização da análise funcional que a torne replicável.
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colecta de informações e elaboração de hipóteses. Isto é, a rejeição do apelo a
constructos hipotéticos não desqualifica a proposição de Samson e McDonnell de que a
análise funcional em algumas circunstâncias precisa levar em conta fenómenos
inobserváveis (porém interpretados sob a óptica analítico-comportamental), a exemplo
da inclusão de eventos privados (Sturmey, 1996)) no escopo da análise funcional. A
proposição de Haynes e O´Brien (1990) de que a análise funcional nem sempre
“explica” o comportamento, uma vez que se atém ao que é manipulável, pode bem ser
considerada pertinente a uma etapa de teste de hipóteses e definição da intervenção A
diferenciação estabelecida por Samson e McDonnell (1990) entre força explicativa e
capacidade preditiva das análises, salientando a necessidade de integração das duas,
sugere precisamente o movimento necessário entre uma avaliação que leve em conta os
diferentes processos de determinação do comportamento e a necessidade de delimitação
da intervenção para a solução concreta dos problemas. A dificuldade é também
detectada na concordância de Sturmey (1996) com a definição de Haynes e O´Brien
(1990), interpretada como correspondendo a excluir da análise relações entre variáveis
que não podem ser modificadas, mas que também têm um “alcance insignificante”.
Como as categorias de disponibilidade para manipulação e significância não são
coincidentes, a melhor solução parece ser a proposta por Cone (1997), de distinção do
alcance das análises nas diferentes etapas, levando em conta a problematização de
Micheletto (2000) sobre o que pode vir a se constituir em um modelo de análise
funcional pertinente, derivada de visão selecionista do comportamento.
Descrição do Caso
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amizades, vontade de fugir e de dormir e elevada sensibilidade diante de
acontecimentos ruins. Relatou desejo de mudar esse seu jeito de ser.
b) A cliente relatou que devido às dores no corpo, não conseguia fazer os serviços de
casa e, por isso, contava com a ajuda de sua mãe e de seu marido: ontem, eu cheguei em
casa e fui directo deitar. Tinha um monte de coisas para fazer. Meu marido é que foi
arrumar as coisas para mim. Quando levantei, tomei banho, jantei e deitei de novo.
Eu fico nas festas, no meio daquelas pessoas bebendo, me dá uma coisa tão ruim!
Parece que não era ali que eu queria estar; eu queria estar com meus amigos de lá (do
grupo religioso), que não bebem e nem fumam, não contam piada obscena. (...) Quando
eu estava lá (no grupo religioso), eu sentia muita falta de alguém. (...) E agora eu tenho
ele, meu marido, mas não tenho o ambiente que eu gostava, não tenho os amigos.
g) Ana sofreu o que foi diagnosticado por um psiquiatra como uma forte crise
depressiva no final do primeiro ano de casamento. Nesse período, ela tinha ideias de
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suicídio, não queria sair de casa e chorava frequentemente: eu me tranquei no banheiro
uma vez, sentei no chão e comecei a chorar, chorar, chorar e ele (marido) arrebentou a
porta.
Puxa vida! Eu tenho que pensar um pouco pra falar, eu fico com a consciência pesada!
Eu falei para elas (amigas) que havia um monte de coisas em promoção. Daí, elas
foram e não gostaram de nada e na volta tomaram chuva ainda. Aí eu falei: ai, meu
Deus, eu devia ter ficado quieta!
A minha amiga falou assim: aquilo lá não é bom (sobre máquina de lavar louça),
aquilo lá demora, eu não tenho vontade de comprar. Eu falei assim: imagina, aquilo é
uma maravilha, é óptimo, eu tenho e lavo e a louça fica limpinha (...). Aí, depois, eu
fiquei pensando: nossa, eu acabei com o pensamento da outra!
A gente não pode se prejudicar por ter medo de falar e isso acontece muito comigo.
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A análise do comportamento de Ana ao frequentar um grupo religioso, antes do
casamento, quando voltou a viver com seus pais. A partir da análise funcional,
observa-se que esse comportamento era reforçado positiva e negativamente:
redução de conflitos com o pai, sair com vários outros jovens, participar de
festas e aprendizagem de um conjunto de regras de comportamento que, segundo
ela, a faziam ser uma pessoa melhor.
A análise funcional do comportamento que Ana apresentava no início do
casamento e que gerava várias dificuldades em sua interacção com o marido:
ficar em casa.
A análise de outro comportamento que a cliente passou a apresentar na mesma
situação, ou seja, acompanhar o marido às reuniões sociais.
O comportamento de Ana descrito parece revelar uma forma de esquivar-se de
estimulação aversiva, mas ele próprio gerava também consequências aversivas.
O comportamento alternativo apresentado por Ana também era mantido mais
por reforço negativo que positivo. Uma situação de conflito na qual nenhuma
alternativa livre de aversividade parece existir. Análises teóricas têm indicado
ser difícil uma pessoa sentir-se bem e feliz nesse tipo de contingência.
O comportamento de Ana, actualmente, acompanhar o marido às reuniões
sociais. Esse comportamento, apesar de ser punido pelo fato de a cliente sentir-
se deslocada nas reuniões, é reforçado por evitar os estímulos aversivos
decorrentes de ficar em casa. Acompanhando o marido, ela não fica sozinha, tem
a companhia dele, reduz preocupações e diminui os desentendimentos entre eles.
Apresenta um comportamento frequente na vida conjugal de Ana: brigar com o
marido. A análise funcional indica que a cliente possui algumas regras sobre
casamento que confrontam com as atitudes do marido, o que propicia o
desentendimento entre eles. Algumas vezes, as consequências desse
comportamento são aversivas; outras, o comportamento é reforçado pelo fato de
o marido deixar de sair à noite por alguns dias e realizar alguma actividade
doméstica. Essa intermitência contribui para que este comportamento se
mantenha.
Outro comportamento frequentemente apresentado por Ana é o de ficar deitada
durante horas. Comportando-se dessa forma, Ana obtinha certas consequências
reforçadoras, como preocupação por parte do marido e o auxílio deste e de sua
mãe na realização dos serviços domésticos. É importante ressaltar que esse
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comportamento, muitas vezes visto como decorrente de um estado de humor,
denominado depressão, aqui é analisado como decorrente de consequências
reforçadoras, apresentadas pelo ambiente.
O próximo comportamento analisado é o de Ana emitir opiniões, sugestões e
comentários, ou seja, actuar assertivamente. A análise deste comportamento
indica que possivelmente a história de punição social precoce, frequente e
intensa, gerada pelos comportamentos de desvalorização e ridicularização por
parte do pai e a falta de reforço positivo advindo de outras fontes, contribuiu
para que ela avaliasse seus comportamentos de emitir opiniões e fazer sugestões
como sendo inadequados, mesmo quando não ocorria desaprovação por parte
dos demais. Isto gerava estimulação aversiva sob a forma de ansiedade e de
sentimento de inadequação.
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Conclusão
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Referencias Bibliográficas
25
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functional analysis: A reply to Jones and Owens. Behavioural Psychotherapy,
20, 41-43.
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Graduação em Psicologia Social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
São Paulo.
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