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Contextualismo – Filosofia e Prática

Michaele Terena Saban 1 e Rodrigo Boavista2

A filosofia é uma área de estudos que define pressupostos sobre um

determinado objeto ou fenômeno. Pode parecer por vezes abstrata e distante,

porém em nossas ações como analistas do comportamento ou qualquer outra

área estão marcadas pela filosofia. A filosofia é a visão que temos do mundo e

nossa prática está intimamente ligada a como vemos os fenômenos. Este texto

tem como objetivo explicitar a filosofia Contextualista, juntamente com as

implicações práticas da adoção desta visão.

Primeiramente é importante definir o que é uma visão de mundo. É

“como” vemos, são hipóteses de como o mundo funciona. Sendo esta uma

resposta, ou melhor, um conjunto de respostas, são determinadas por variáveis

filogenéticas, ontogenéticas e culturais; em outras palavras, foram

selecionadas dentro de uma espécie, numa determinada cultura na história de

vida de cada um de nós. Assim como a prática, as filosofias são escolhas

pessoais e não existe algo como uma filosofia certa. O máximo que podemos

apurar é se a filosofia é mais ou menos coerente e se é eficiente em nos

proporcionar bases para a ciência e intervenções.

As hipóteses de mundo

1 Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas


2 PUC-SP
Stephen Pepper, filósofo estadunidense que viveu entre 1891 e 1972,

publicou no ano de 1942 uma das obras mais influentes do século passado:

World hypotheses: A study in evidence. Na obra, o autor interessado em

examinar os modelos pelos quais se explicavam os fenômenos da natureza,

identificou seis hipóteses de mundo 3, são elas o animismo, o misticismo, o

formismo, o mecanicismo, o organicismo e o contextualismo (Carrara, 2004).

Segundo Biglan e Hayes (1996), as hipóteses de mundo são frameworks

para que se compreenda e analise fenômenos de interesse. São modelos

filosófico-científicos que denotam uma compreensão do funcionamento da

natureza. Dois elementos compõem as hipóteses de mundo, a metáfora raiz e

o critério de verdade. A metáfora raiz pode ser entendida como a imagem na

qual os cientistas se inspiram para analisar os eventos, enquanto que o critério

de verdade descreve o crivo para que se credite validade à uma asserção ou

conjunto de asserções (teoria).

Há em psicologia uma marcada tradição de modelos mecanicistas,

inclusive em vertentes do Behaviorismo, como o Behaviorismo Metodológico

(Carrara, 2004; Biglan, & Hayes, 1996). Nesta, que é apenas uma das formas

de se interpretar a natureza, a metáfora raiz por excelência é a máquina.

No mecanicismo é assumido que as partes de um fenômeno, por si

mesmas, possuem não apenas significado, mas também status causal. Desse

modo, caso se observe – e agregue – os elementos constitutivos de um

episódio comportamental seria possível identificar as razões pelas quais

determinado organismo atua no mundo. Ademais, como numa inspeção técnica

3
Kuhn (1991) descreveu as hipóteses de mundo como paradigmas, modelos ou representações do mundo dos quais
os cientistas extraem problemas e soluções para os mesmos.
problemas no modo como os organismos se comportam são atribuídos a falhas

em engrenagens específicas, como, o cérebro, a personalidade, a cognição, ou

ainda, a dinâmica psíquica.

No que tange ao critério de verdade, teorias são tidas como válidas na

medida em que os dados de realidade correspondem ao preconizado pelas

descrições dos cientistas (Bach, & Moran, 2008). Dentro desta tradição

encontram-se diversas escolas da psicologia, por exemplo, o cognitivismo que

admite a possibilidade de que comportamentos públicos sejam causados por

características dos esquemas mentais ou crenças irracionais; a Psicologia S-R

que diante da impossibilidade de mensuração de eventos privados abdicou de

introduzi-los em suas análises, entretanto, ainda assim avalizava a assunção

dos mesmos enquanto variáveis independentes; e as psicologias da

personalidade que há séculos creditam à dinâmica mental e às estruturas de

personalidade a ocorrência de padrões de comportamento.

Diferentemente da tradição mecanicista, as análises amparadas no

contextualismo, como descrito por Pepper (1942), enfatizam as relações entre

o evento em investigação e as variáveis do contexto no qual o mesmo se

insere. Carrara (2004, p.47) aponta que a preocupação dos contextualistas é o

“todo interativo e não as [suas] partes”. O evento só possui significado na

medida em que é considerado dentro do contexto no qual está embutido

(Wilson, Whiteman, & Bordieri, 2013).

As análises contextualistas direcionam-se aos eventos em-contexto. Nas

palavras de Pepper (1942, p.232) a metáfora raiz do contextualismo é “o

evento histórico”. Ao realizar tal descrição, o autor defende que não apenas o
contexto presente está em voga, mas também toda a história que tornou

possível a ocorrência do evento. Pepper (1942) circunscreve seu critério de

verdade aos postulados que levem a ações efetivas ou a intervenções bem

sucedidas4. O sucesso na consecução dos objetivos especificados pelo

cientista é o que determina a validade das suas asserções, desse modo, uma

teoria é “boa” na medida em que favorece a tomada de ações efetivas.

Colocado desta maneira, justifica-se a caracterização do critério de verdade do

contextualismo de Hayes, Strosahl, & Wilson (1999, 2012) como pragmático.

A questão da análise dos fenômenos, stricto sensu5, tem dividido

opiniões. Por um lado Hayes (2004) assegura que numa investigação

amparada no contextualismo os reducionismos de quaisquer tipos

(biologicismo, psicologismos, etc.) são rechaçados. Segundo o autor, a

decomposição das interações de um fenômeno leva a perda da compreensão

holística do mesmo.

Por outro lado, para Fox (2008), partições são possíveis, todavia, com a

condição de que tal medida esteja a serviço de uma meta específica. O autor

cita, por exemplo, a decomposição de um fenômeno para fins pedagógicos. A

análise de episódios comportamentais a partir do desenho de contingências

tríplices poderia figurar nesta categoria.

Hayes (2004) argumenta ainda que quando se reparte as relações de

um evento corre-se o risco de pôr por terra a condição de manipulá-lo, e desse

modo, coloca-se em cheque o critério pragmático de verdade.

4
Livre tradução para successful working.
5
Da raíz grega análysis, dissolução, decomposição .
Modelos terapêuticos contemporâneos – aqueles ditos de terceira

geração da terapia comportamental – como a Terapia de Aceitação e

Compromisso (ACT) se inserem na tradição contextualista, todavia, antes que

se discutam os anteparos filosóficos destas recentes práticas clínicas, uma

parte se faz necessária no tocante ao critério de verdade adotado por esta

hipótese de mundo. Ao condicionar a validade das asserções sobre o

funcionamento do mundo ao êxito em metas específicas abre-se um leque de

infinitas possibilidades com relação ao que é verdadeiro, ou “bom”. Reforçam o

enunciado Hayes e Long (2013) ao considerar que diversas variedades do

contextualismo são possíveis a depender da meta adotada. Fox (2008), bem

como Biglan, & Hayes (1996), sinalizam ao menos duas variantes do

contextualismo: o contextualismo descritivo, cujo objetivo principal é a

compreensão da complexidade dos fenômenos a partir da apreciação dos seus

integrantes e características; e o contextualismo funcional cujo objetivo é a

previsão-e-influência dos fenômenos, que será abordado com mais vagar a

seguir.

Contextualismo Funcional

Nos anos 1980 um grupo de analistas do comportamento – oriundos da

tradição behaviorista radical de Skinner – deparou-se com desafios cujas

origens acreditavam estar na filosofia que amparava sua atuação. Biglan, &

Hayes (1996) comentam que diversos problemas sociais – os altos índices de

moradores de rua, os alarmantes marcadores de violência, AIDS, suicídio e


pobreza – vêm passando ao largo da possibilidade de intervenção daqueles

cuja tarefa é prevenir ou solucionar tais desafios.

Os autores argumentam que a despeito dos avanços da ciência do

comportamento na clínica, na saúde mental e nas organizações, o exame da

prática dos cientistas comprova que ainda não se conseguiu traduzir o corpo de

conhecimento gerado por anos de pesquisa em ações efetivas. Para Biglan e

Hayes (1996) tal fato deve-se, ao menos em parte, à adoção do paradigma

mecanicista para compreensão dos fenômenos sobre os quais se debruçam.

Segundo eles, a ciência, em especial a psicologia, tem se dedicado quase que

exclusivamente ao desenvolvimento de modelos que enfatizam a relação entre

variáveis intraorganísmicas6 ao passo em que depositam pouco ou nenhum

esforço no sentido de identificar variáveis contextuais que favoreçam a

previsão e a intervenção nos eventos de interesse.

Hayes (2004) ensina que a defesa de abordagens contextualistas não é

dogmática, mas sim, pragmática. Em que pese a constatação de que o

conhecimento de correlações entre variáveis intraorganísmicas não municia os

cientistas com alternativas de ação, a priorização de modelos que enfatizem

relações entre organismo-contexto/ambiente se faz necessária. A adoção da

hipótese contextualista de mundo incute no investigador uma tendência a olhar

para eventos do mundo enquanto variáveis dependentes, enquanto buscam

paralelamente no contexto as causas (variáveis independentes) que

influenciam tal fenômeno (Biglan, & Hayes, 1996).

6
Os autores citam as investigações em que são correlacionadas atitudes e comportamentos abertos; estratégias de
memorização e desempenho em testes; etnia e comportamentos; expectativas e comportamentos.
Ainda no que se refere à origem do que seria considerada a base de

uma possível solução para os desafios sociais supracitados, Steven Hayes e

colaboradores, diante de desconfortos com parcelas do sistema elaborado por

Skinner (1945) realizou uma série de ajustes (Törneke, 2010) e findou por

desenvolver um aporte filosófico inspirado na descrição pepperiana de

Contextualismo, o chamado Contextualismo Funcional (Wilson et al., 2013)7.

A escolha do termo contextualismo funcional deve-se a, ao menos, duas

razões. Conforme Hayes (2004) o rótulo “behaviorismo radical” é marcado por

causar uma diversidade de estranhamentos, desde a suposição de que há

algum tipo de relação com grupos extremistas até uma inquebrável vinculação

a concepção watsonina da Psicologia S-R. Por outro lado, a expressão

contextualismo funcional evidencia a priori a ênfase nos dois aspectos

principais das análises derivadas do modelo, a saber, o contexto e a função

dos eventos.

Quando imerso no campo da psicologia o contextualismo funcional pode

ser descrito como um paradigma que

busca o desenvolvimento de um sistema organizado de conceitos

empiricamente embasados e regras que permitam que os fenômenos

comportamentais sejam previstos e influenciados com precisão, escopo

e profundidade. (Biglan, & Hayes, 1996, pp.50-51)

Hayes e Long (2013) ensinam que uma análise contextualista funcional

tem como condição primordial encaminhar à habilidade de prever e alterar

7
O leitor cuidadoso tenderá a perceber que são evidentes as semelhanças entre a proposta de Biglan e Hayes (1996) e a de Skinner
(1945). Todavia, conforme explicitado anteriormente, cumpre aos autores apenas apresentar o contextualismo funcional e as
derivações práticas dos seus supostos. Acredita-se que leituras comparativas e/ou críticas de ambas as propostas filosóficas são
não apenas benéficas como necessárias para seu esclarecimento e desenvolvimento da ciência.
ações-em-contexto. Para tal tarefa recomenda-se o uso de um conjunto

limitado de princípios que sejam aplicáveis a um evento específico (precisão),

ao passo em que são também aplicáveis a uma diversidade de eventos

(escopo). Tais princípios devem ser coerentes entre os diferentes n íveis de

análise (profundidade), ou seja, tanto no nível biológico, antropológico,

sociológico, entre outros, não deve haver dessincronias entre os postulados

(Carrara, 2004).

Sua unidade de análise é o ato-em-contexto, ou como descrevem Bach,

& Moran (2008), a contingência de quatro termos: operações motivadoras,

estímulos discriminativos, respostas e consequências. Os autores constatam

ainda que o contextualismo funcional enquanto “jeito de pensar o mundo (e o

comportamento” (p.34) leva em conta as relações entre organismo-ambiente

histórica e situacionalmente, ou seja, observam-se tanto os impactos de

consequências passadas quanto do ambiente presente quando da análise do

fenômeno.

O critério de verdade assumido no contextualismo funcional, ao passo

em que segue a tradição pragmática no sentido de considerar verdadeiro ou

bom àquilo que contribua para ações efetivas, estabelece como meta única

para as análises a previsão-e-influência. Dois fatos chamam a atenção: a

hifenização de duas tarefas, que segundo Hayes e Strosahl (2004) se dá na

medida em que a predição por si só não oferece grande vantagem ao cientista;

e o termo influência que surge como alternativa à predileção de Skinner (2007)

pelo vocábulo “controle”. Biglan e Hayes (1996) asseguram que influência se

faz mais adequado uma vez que as análises são meramente probabilísticas e

não garantem conclusões indubitáveis, bem como, desassociam o


contextualismo funcional de ideias vinculadas ao fatalismo e à manipulação de

organismos.

Hayes, Masuda, & De May (2003) sintetizam os componentes

subjacentes ao contextualismo funcional afirmando que há 1) foco no evento

como um todo; 2) sensibilidade ao papel do contexto no entendimento da

natureza e função de um evento; 3) ênfase no critério pragmático de verdade.

Hayes e Long (2013) apontam que um dos benefícios da adoção do modelo

contextualista funcional reside no caráter expansivo das análises derivadas

dele. De acordo com o autor, uma vez que cada ação (inclusive a de analisar)

insere-se em contextos cada vez maiores as investigações podem expandir-se

ad infinitum até que as metas estabelecidas primordialmente tenham sido

atingidas.

Por mais que tal conclusão já fosse possível a partir da compreensão da

discussão de Skinner (1945) acerca do comportamento verbal do cientista,

Biglan e Hayes (1996) apresentam uma visão acerca das teorias que, se não

vai de encontro às concepções correntes em psicologia, no mínimo serve de

incentivo ao desenvolvimento do conhecimento científico. Segundo os autores

as teorias não devem ser entendidas como verdades incontestáveis, mas

apenas como meras descrições de como o mundo funciona. Ao passo em que

são elaboradas com o intuito de auxiliar os analistas em metas científicas,

devem passar por constantes avaliações em que pese o critério pragmático de

verdade. Na esteira do argumento destaca Skinner (2006, p. 199) que

O conhecimento científico é um corpo de

regras para ação eficaz, e há um sentido


especial em que poderia ser “verdadeiro” se

produzir a ação mais eficaz possível. [...] uma

proposição é “verdadeira” na medida em que

ajuda o ouvinte a responder efetivamente à

situação que ela descreve.

Não há que se supor que a hipótese contextualista funcional de mundo é

um modelo concluído e/ou blindado à críticas. Wilson et al. (2013), por

exemplo, direciona alguns questionamentos, como, (a) o problema do

subjetivismo: que concerne à postura do cientista diante dos fenômenos sobre

os quais se debruça e (b) o problema do relativismo: que diz sobre a fragilidade

dos objetivos que podem variar desde a rigidez à fugacidade a depender

apenas da enunciação das metas do cientista.

Contextualismo Funcional na Prática

De acordo com a filosofia contextualista funcional, os eventos são vistos

como ações num contexto histórico. A ênfase no contexto serve a um propósito

prático de prever e influenciar eventos. Este propósito é de caráter

intervencionista, pois se supomos que as ações são determinadas pelo

contexto, temos maior margem de previsão e influência nos fenômen os

alterando o contexto, do que quando nos baseamos em explicações

organicistas (que indica manipulação do organismo) ou mentalistas

(manipulação em dinamismos psíquicos). Alterar o contexto significa alterar as

relações funcionais entre comportamento e eventos ambientais. Dentre os

outros propósitos do contextualismo funcional e da Análise do Comportamento


estão a rejeição das explicações do comportamento mentalistas e cognitivistas

e a preferência por método de pesquisa experimentais.

Diferente do mecanicismo, em que o fenômeno é visto como uma

máquina composta por partes, o contextualismo funcional entende o fenômeno

como um todo, em que a ação é determinada pelo contexto atual e histórico.

Este modelo parte do selecionismo de Darwin. O organismo emite uma

resposta, se esta for selecionada pelo ambiente/contexto, aumenta de

freqüência em ambientes/contextos semelhantes. O contexto histórico é a

história de aprendizagem, a alteração no repertório produzido pela interação

entre organismo e ambiente/contexto; e o contexto atual é a condição em que

determinada resposta ocorreu em um dado momento.

Assim temos a contingencia de quatro termos: operações motivadoras,

estímulo discriminativo, resposta e conseqüência. As operações motivadoras

trazem as condições históricas que estabelecem o impacto da conseqüência na

resposta; o estímulo discriminativo é uma alteração no ambiente/contexto

semelhante à condição em que a resposta teve uma história de reforçamento; a

resposta é a ação do organismo (aberta ou encoberta); e a conseqüência

novamente é uma alteração no ambiente/contexto em virtude da resposta, que

aumenta sua probabilidade de ocorrência ou suprime em condições

semelhantes.

Esta filosofia marca práticas que manipulem as variáveis do

ambiente/contexto e considerem o fenômeno como um todo, incluindo sua

história. A ênfase está no ambiente/contexto.


Nas práticas terapêuticas de terceira onda que são embasadas por esta

visão de mundo contextualista funcional, a relação terapêutica é bastante

enfatizada pois constitui o contexto em que o terapeuta faz parte e tem

possibilidade de intervenção.

Práticas da ACT, por exemplo, envolvem muitas vivencias na sessão. O

cliente não apenas fala sobre o problema, mas também é submetido a

condições especialmente arranjadas pelo terapeuta em que o cliente emite

respostas de interesse terapêutico e possam ser modeladas diferencialmente.

Este tipo de prática é bem utilizada na Psicoterapia Analítica Funcional (FAP)

também, entre outras terapias de terceira onda. Este tipo de atu ação revela

uma ênfase no contexto e na manipulação deste, característico do

contextualismo funcional.

Outra característica do contextualismo funcional é a consideração do

fenômeno como um todo. Diferente das práticas de modificação do

comportamento, em que a atuação terapêutica recaia sob uma determinada

classe de respostas, como por exemplo a resposta de alucinar. Tal classe de

resposta é vista pelo contextualismo funcional, não isoladamente, mas sim

dependente de seus contextos. Assim as intervenções baseadas na ACT são

alterações de contexto na clínica, como vivências de treino de observação

destas respostas (técnicas de mindfulness), consideração sobre a história de

aprendizagem desta classe de respostas (descrição dos contextos em que esta

resposta é emitida e sua função em exercícios denominados de desesperança

criativa) e observação, descrição e treino de respostas alternativas nos

ambientes em que o cliente identifica insatisfação com a resposta de alucinar

(exercícios de valores e ações com compromisso). No trabalho também


encontram técnicas de exposição respondente (aceitação) para diminuir a

possível função de esquiva das respostas de alucinar e estabelecer tais

respondentes (produto de condições aversivas) como estímulos discriminativos

para respostas alternativas.

Observem que vendo o mundo como contextualista funcional, não se

trata de reforçar ou extinguir uma dada resposta, mas sim de constantes

análises e manipulações ambientais que busquem abarcar a complexidade que

a interação entre organismo e ambiente possibilita. Desta forma o objetivo não

é que o individuo pare de alucinar, mas sim que esta resposta não interfira em

situações relevantes para ele, como acesso a fontes de reforçamento e

diminuição de estimulação aversiva. Dentro desta perspectiva o indivíduo pode

alucinar à vontade quando isto não lhe trouxer prejuízo, mas em contextos

sociais ou de trabalho, por exemplo, ele possa observar tais respostas

ocorrendo encobertamente e treinar ficar sob controle da interação social ou da

tarefa.

Outra ênfase interessante no contexto é a respeito do comportamento

verbal e respondentes. Por exemplo, suponhamos uma analogia ao sofrimento

humano com a história do garoto que foi mordido por um cachorro. Seu

comportamento de chegar perto de um cachorro foi punido, logo esta classe de

respostas será suprimida em condições semelhantes (presença de outros

cachorros). Porém a história de aprendizagem vai muito além. Este garoto foi à

escola e lhe fora apresentado diversas vezes o estímulo visual cachorro com o

estímulo palavra “CACHORRO”. Ele aprendeu então a emitir a resposta verbal

vocal “cachorro” na presença dos estímulos cachorro animal e palavra

“CACHORRO”. Esta aprendizagem é conhecida como equivalência de


estímulos e descreve como classes de estímulos se formam e controlam

classes de respostas (Sidman, 1974). Voltamos à história do garoto. Como o

estímulo animal cachorro virou um estímulo aversivo, os outros estímulos, da

mesma classe que o animal cachorro, também compartilham agora desta

mesma função. Logo o garoto evitará esta classe de estímulos e segundo a

Teoria dos Quadros Relacionais ou Molduras Relacionais (Relational Frame

Theory - Hayes, Barnes-Holmes e Roche, 2001), alterará a função de outras

classes de estímulos relacionadas à essa classe de estímulo “cachorro”

também. Porém seu comportamento poderá ser entendido mediante ao

contexto. Por exemplo se no contexto rua ele encontrar um cachorro animal,

sua resposta será correr para longe; se no contexto casa ele ler um livro com o

estímulo verbal escrito “CACHORRO” ele fechará o livro e lerá outra história; se

no contexto escola ele estiver fazendo um ditado e a professora disser o

estímulo verbal vocal “cachorro”, sua resposta será escrever o estímulo textual

“CACHORRO”, provavelmente escrito meio torto; e se no contexto carro ele

ouvir o mesmo estímulo verbal vocal “cachorro” de seu irmão, indicando o

animal fora da janela, ele irá se encolher no banco do carro. Veja que mesmo

com a mesma classe de estímulos e a mesma função, as respostas dependem

também do contexto em que aparecem. O que há de semelhante entre todas

essas situações é justamente o respondente eliciado pelos estímulos da classe

cachorro. Os respondentes de medo são sensação de frio no estômago,

contração muscular, aceleração cardíaca, entre outros. Está sensação estará

presente em todas as situações, variando apenas em intensidade e ela será

também aversiva para o garoto.


No propósito de prever e influenciar o comportamento, para o

contextualismo funcional, o contexto é de grande relevância e as intervenções

em eventos encobertos e respondentes são também uma marca pois

constituem estímulos e respostas que ocorrem em diversas contingências

topograficamente semelhantes mesmo que as respostas abertas não o sejam.

Estas são algumas considerações sobre a visão de mundo

contextualista funcional e sua influência em análises e práticas. Como estamos

num contexto científico, nossas respostas como analistas do comportamento

serão sempre de investigar as propostas, testá-las e desenvolver melhores

intervenções para promover mudanças em nossos campos de atuação.

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