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Uma Revisão do Comportamento Verbal de B. F.
Skinner
Noam Chomsk y
a velocidade e a energia da resposta não se nética, e assim por diante" (427). Não há
perderão para o dono". Não parece dúvida de que devemos interpretar os
totalmente óbvio que, neste caso, a forma de termos força e probabilidade neste contexto
impressionar o dono seja gritar Beautiful como paráfrases de
numa voz alta e aguda, repetidamente, e
sem demora (força de resposta elevada).
Pode s e r igualmente eficaz olhar para a
imagem silenciosamente (atraso longo) e
depois murmurar Bonito numa voz suave e
baixa (por definição, f o r ç a d e resposta
muito baixa).
Não é injusto, creio eu, concluir da
discussão de Skinner sobre a de Skinner
sobre a força da resposta, o dado básico da
análise funcional, que a sua extrapolação da
noção de probabilidade pode ser melhor
interpretada como, de facto, nada mais do
que uma decisão de usar a palavra
probabilidade, com as suas conotações
favoráveis de objetividade, como um termo
de cobertura para parafrasear palavras de
baixo estatuto como interesse, intenção,
crença e outras semelhantes. Esta
interpretação é plenamente justificada pela
forma como Skinner usa os termos
probabilidade e força. Para citar apenas um
exemplo, Skinner define o processo de
confirmação de uma asserção na ciência
como um processo de "gerar variáveis
adicionais para aumentar sua probabilidade"
(425), e mais genericamente, sua força (425-
29). Se tomarmos esta sugestão à letra, o
grau de confirmação de uma asserção
científica pode ser medido como uma
simples função da intensidade, d o tom e da
frequência com que é proclamada, e um
procedimento geral para aumentar o seu grau
de confirmação seria, por exemplo, disparar
metralhadoras sobre grandes multidões de
pessoas que foram instruídas a gritá-la. Uma
melhor indicação do que Skinner
provavelmente tem em mente aqui é dada
pela sua descrição de como a teoria da
evolução, como exemplo, é confirmada.
Esse "conjunto único de respostas verbais ...
é tornado mais plausível - é
reforçado por vários
tipos de construção baseados em respostas
verbais em geologia, paleontologia, ge-
4. Uma Revisão do Comportamento Verbal de B. 55
F. Skinner
locais mais familiares, como "crença conformidade"
justificada" ou "assertividade garantida", (62). Essa é uma perfeitamente apropriada
definição
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A outra noção fundamental que se
baseia na descrição das experiências de
compressão de barras é a de
reinfoYcement. A outra noção
fundamental, que se baseia na descrição
das experiências de compressão de
barras, é a de reforço, que levanta
problemas semelhantes e ainda mais
graves. Em Beha:uior of Organisms, "a
operação de reforço é definida como a
apresentação de um certo tipo de estímulo
numa relação temporal com um estímulo
ou uma resposta. Um estímulo reforçador
é definido como tal pelo seu poder de
produzir a mudança resultante (em força).
Não há qualquer circularidade nisto:
alguns estímulos produzem a mudança,
outros não, e são classificados como
reforçadores e não-reforçadores em
56 Noam Chomsky
O que é que se passa?) Para o demonstrar, consideramos
Consideremos, em primeiro alguns exemplos de reforço. Em primeiro
lugar, o estatuto do princípio lugar, encontramos um forte apelo ao
básico que Skinner designa por auto-reforço automático. Assim, "um
"lei do condicionamento" (lei do homem fala consigo mesmo... por causa
efeito). Diz o seguinte: "se a do reforço que recebe" (163); "a criança é
ocorrência de um operante é reforçada automaticamente quando
seguida pela presença de um duplica os sons de aviões, eléctricos..."
estímulo reforçador, a força é (164); "a criança sozinha no berçário
aumentada" (Behavior of pode reforçar automaticamente o seu
Organisms, 21). Para Skinner, a próprio comportamento verbal
aprendizagem é apenas uma exploratório quando produz sons que
mudança na força da resposta. ouviu na fala dos outros" (58); "o falante
Embora a afirmação de que a que também é um ouvinte realizado 'sabe
presença de reforço é uma quando
condição suficiente para a
aprendizagem e manutenção do
comportamento seja vazia, a
afirmação de que é uma
condição necessária pode ter
algum conteúdo, dependendo de
como a classe de reforçadores (e
situações apropriadas) é
caracterizada. Skinner deixa bem
claro que, na sua opinião, o
reforço é uma condição
necessária para a aprendizagem
da linguagem e para a
disponibilidade continuada de
respostas linguísticas no
organismo.
adu1t,kS No entanto, o carácter flexível da
O termo reforço, tal como
Skinner o utiliza no livro em
análise, torna totalmente inútil
investigar a verdade ou a
falsidade desta afirmação. Se
examinarmos as instâncias do
que Skinner chama de reforço,
descobrimos que nem mesmo a
exigência de que o reforçador
seja um estímulo identificável é
levada a sério. De facto, o termo
é usado de tal forma que a
afirmação de que o reforço é
necessário para a aprendizagem
e a disponibilidade continuada
do comportamento é igualmente
vazia.
4. Uma Revisão do Comportamento Verbal de B. 57
F. Skinner
11
A discussão anterior
abrange todas as principais
noções que Skinner introduz no
seu sistema descritivo. O meu
objetivo ao discutir os
conceitos um a um foi mostrar
que em cada caso, se tomarmos
os seus termos no seu
significado literal, a descrição
não cobre quase nenhum aspeto
do comportamento verbal, e se
os tomarmos metaforicamente,
a descrição não oferece
qualquer melhoria em relação a
várias formulações tradicionais.
Os termos emprestados da
psicologia experimental
simplesmente perdem seu
significado objetivo com essa
extensão, e assumem toda a
vagueza da linguagem
ordinária. Uma vez que Skinner
se limita a um conjunto tão
pequeno de termos para a
paráfrase, muitas distinções
importantes são obscurecidas.
Penso que esta análise
corrobora o ponto de vista
58 Noam Chomsky
Notas
sobre um determinado assunto, histórias com uma falsa. Podemos acreditar piamente na
determinada c o n v i c ç ã o , etc.; cf. L. Krasner, afirmação de que Júpiter tem quatro luas,
"Studies of the Con- difioning of Verbal de que muitas das peças de 8opho- cles se
perderam irremediavelmente, de que a
Behavior", Psych. Bull. (1958), para um
Terra arderá em dez milhões de anos, etc. ,
levantamento de várias dezenas de experiências
sem experimentar a mais pequena
deste tipo, na sua maioria com resultados
positivos). É interessante o facto de o sujeito não
estar normalmente consciente do processo. Não é
óbvio qual a visão que isto dá do comportamento
verbal normal. No entanto, é um exemplo de
resultados positivos e não totalmente esperados
usando o paradigma Skinneriano.
8. "Are Theories of Learning Neces-
sary?", Psych. Res., 57 (I 950}, 193-21ó.
9. E noutros locais. No seu artigo "Are
Theories of Learning Necessary7" Skinner
considera o problema de como estender a sua
análise do comportamento a situações
experimentais em que é impossível observar
frequências, sendo a taxa de resposta o único
dado válido. A sua resposta é que "a noção de
probabilidade é normalmente extrapolada para
casos em que uma análise de frequência não
pode ser efectuada. No campo do
comportamento, arranjamos uma situação em
que as frequências estão disponíveis como
dados, mas usamos a noção de probabilidade
para analisar ou formular instâncias de até
mesmo tipos de comportamento que não são
susceptíveis a esta análise".
(199). Há, é claro, concepções de probabilidade
que não se baseiam diretamente na frequência,
mas não v e j o como qualquer uma delas se
aplica aos casos que Skinner tem em mente.
Não vejo outra forma de interpretar a passagem
citada que não seja como significando uma
intenção de usar a palavra proba- t'iÏify na
descrição do comportamento,
independentemente do facto de a noção de
probabilidade ser de todo relevante.
10. Felizmente, "em inglês, isto não
apresenta grandes dificuldades", uma vez que,
por exemplo, "os níveis de tom relativos ... não
são ... importantes"
(25). Não é feita qualquer referência aos
numerosos estudos sobre a função dos níveis
relativos de pitch e outras características
entoacionais em inglês.
11. A imprecisão da palavra tendência,
por oposição a frequência, salva esta última da
incorreção óbvia da primeira. No entanto, é
necessário um pouco de esforço. Se a tendência
tiver um significado semelhante ao seu
significado comum, a observação é claramente
4. Revisão do livro VeròaJ Behnrior de B. F. 61
Skinner
tendência para agir de acordo com estes estímulos (Não é interessante que nos d i g a m , p o r
verbais. Podemos, é claro, transformar a afirmação e x e m p l o , que
de Skinner numa verdade muito pouco
esclarecedora, definindo "tendência para agir"
como incluindo tendências para responder a
perguntas de determinadas formas, sob motivação
para dizer o que se acredita ser verdade.
12. Deve-se acrescentar, no entanto, que, em
geral, não é o estímulo em si que é reforçador, mas
o estímulo num contexto situacional particular.
Dependendo do arranjo experimental, um
determinado evento físico ou objeto pode ser
reforçador, punitivo ou despercebido. Como
Skinner se limita a um arranjo experimental
particular e muito simples, não é necessário que
ele acrescente esta qualificação, que não seria nada
fácil de formular com precisão. Mas é obviamente
necessário se ele espera alargar o seu sistema
descritivo ao comportamento em geral.
13. Este facto tem sido frequentemente
constatado.
14. Ver, por exemplo, "Are Theories of
Learning Necessary7", op. cit., p. 199. Noutro lugar,
sugere que o termo aprendizagem se restrinja a
situações complexas, mas estas não são
caracterizadas.
15. "Uma criança adquire comportamento
verbal quando vocalizações relativamente não
padronizadas, reforçadas seletivamente, assumem
gradualmente formas que produzem consequências
apropriadas numa dada comunidade verbal" (31).
"O reforço diferencial dá forma a todas as formas
verbais e, quando um estímulo prévio entra na
contingência, o reforço é responsável pelo
controlo resultante.... A disponibilidade do
comportamento, a sua probabilidade ou força,
depende do facto de os reforços continuarem em
vigor e de acordo com que esquemas" (203-4);
caso contrário, frequentemente.
ló. Falar aqui de horários de reforço é
completamente inútil. Como é que podemos decidir,
por exemplo, de acordo com que horários é
organizado o reforço encoberto, como no
pensamento ou na fantasia verbal, ou qual é o
horário de factores como o silêncio, a fala e as
reacções futuras adequadas a informações
comunicadas?
46. Por exemplo, quais são, de facto, as
unidades reais do comportamento verbal7 Em que
condições é que um acontecimento físico capta a
atenção (é um estímulo) ou é um reforçador? Como
é que decidimos quais os estímulos que estão em
"controlo" num caso específico? Quando é que os
estímulos são "semelhantes "7 e assim por diante.
4. Uma Revisão do Comportamento Verbal de B. F. Skinner para r 63
62 Noam Chomsky
dizer Stop ïo um automóvel ou uma bola de 48. Não há nada de essencialmente
bilhar, porque são suficientemente semelhantes misterioso neste facto. Os padrões complexos
para reforçar as pessoas (4ó J.) de comportamento inato e as "tendências inatas
O uso de noções não analisadas como para aprender de formas específicas" têm sido
semelhante e generalização é particularmente cuidadosamente estudados em organismos
perturbador, uma vez que indica uma aparente inferiores. Muitos psicólogos têm sido levados a
falta de interesse em todos os aspectos acreditar que essa estrutura biológica não terá
significativos da aprendizagem ou do uso da um efeito importante na a q u i s i ç ã o de
língua em situações novas. Ninguém nunca comportamentos complexos em organismos
duvidou de que, em certo sentido, a linguagem é superiores, mas não consegui encontrar
aprendida por generalização, ou que enunciados qualquer justificação séria para esta atitude.
e situações novos são de alguma forma Alguns estudos recentes sublinharam a
semelhantes aos familiares. A única questão de necessidade de analisar cuidadosamente as
interesse sério é a "similaridade" específica. estratégias disponíveis para o organismo,
Skinner, aparentemente, não tem interesse considerado como um complexo "sistema de
nisso. Keller e Schoenfeld, o p. cit., procedem à processamento de informação" (cf. J. S. Bruner,
incorporação destas noções (que eles J. J. Good- now e G. A. Austin, A Stud y of
identificam) na sua "psicologia objetiva Thinking
moderna" skinneriana, definindo dois estímulos |New York, 1956]; A. Newell, J. C. Shaw, e
como sendo semelhantes quando "damos o H. A. Simon, "Elements of a Theory of Hu-
mesmo tipo de resposta a eles" (124; mas man Problem Solving", Psych. Rey. (Psych.
quando são respostas do "mesmo tipo"?). Eles Rey., 65 [1958], 151-ó6), se é que se pode dizer
não parecem notar que esta definição converte o algo de significativo sobre o carácter da
seu "princípio de generalização" (116), sob aprendizagem humana. A aprendizagem pode
qualquer interpretação razoável do mesmo, ser em grande parte inata, ou desenvolvida por
numa tautologia. É óbvio que tal definição não processos de aprendizagem precoce sobre os
será de grande ajuda no estudo da aprendizagem quais ainda se sabe muito pouco. (Mas ver
de línguas ou na construção de novas respostas Harlow, "The Forma- tion of Learning Sets",
em situações apropriadas. Psych. Rev., 56 (1949), 51-b5, e muitos
47. "The Problem of Serial Order in Be- trabalhos posteriores, onde se mostram
havior", em L. A. Jeffress, ed., Hixon Syrripo- mudanças notáveis no carácter da aprendizagem
sium on Cerebral Mechanisms in Behaoior como resultado de treino precoce; também D. O.
(Nova Iorque: John YViley & Sons Inc., 1951). Hebb, Orgartizoíion o/ Behavior, 109 e
Reimpresso em F. A. Beach, D. O. Hebb, C. T. seguintes). São, sem dúvida, bastante
Morgan, H. Yv. Nissen, eds., The Neuropsy- complexas. Cf. Lenneberg, op. cit., e R. B. Lees,
cho logy of Lashle y (Nova Iorque: McGraw- review of N. Chom- sky's S yntactic Structures
Hill Book Coinpany, 1960). As referências de in Language, 33 (1957), 406f, para discussão
página são para este último. dos tópicos mencionados n e s t a secção.