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Descritivismo

Descritivismo é a concepção que o conteúdo semântico de um nome próprio é uma condição


descritiva -- ou conjunto de condições descritivas. Uma outra maneira de formular essa concepção é
dizer que o significado de um nome próprio é dado por uma descrição definida ou conjunto
de descrições definidas. Segundo uma leitura bastante conhecida -- a crítica de Saul
Kripke em Naming and Necessity -- Gottlob Frege e Bertrand Russell teriam defendido o
descritivismo (que Kripke chama "a concepção de Frege-Russell"). Costuma-se contrastar essa
posição a respeito das relações entre nomes e descrições com o millianismo.

Pode-se destacar duas espécies de descritivismo. Para a primeira, nomes comportam-se,


semanticamente, como descrições definidas rigidificadas (ou atualizadas). Assim, o nome
"Aristóteles" poderia ter como conteúdo semântico uma descrição como "o atual discípulo de Platão"
-- que, a despeito de sua artificialidade, funcionaria como um designador rígido. (Essa espécie é
chamada pelo filósofo português João Branquinho -- em "Sobrevive o Descritivismo Actualizado aos
Argumentos Modais?" -- pelo sugestivo nome de "descritivismo actualizado".) Por sua vez, para a
segunda espécie, nomes comportam-se como descrições definidas consideradas com seus
escopos, ou alcances, amplos com respeito aos de outros operadores que interagem com eles
(cf. escopo). Por exemplo, se considerarmos o conteúdo de "Aristóteles" dado pela descrição "o
último grande filósofo da antiguidade" (para usarmos os exemplos de Kripke, em Naming and
Necessity ), a frase
(1) Aristóteles gostava de cães,
poderia ser considerada como equivalente à
(2) O último grande filósofo da antiguidade gostava de cães,
e interpretada, com respeito a uma situação contrafactual w , p.ex., em que Aristóteles não foi o
último grande filósofo da antiguidade, como (3):
(3) Em w, o último grande filósofo da antiguidade gostava de cães.
Todavia, (3) é ambigua entre as seguintes interpretações:
(4) [O x : x é o último grande filósofo da antiguidade] (Em w, x gostava de cães)
e
(5) Em w [o último grande filósofo da antiguidade gostava de cães].
Assim, essa espécie de descritivismo (conhecida entre os filósofos de língua inglesa
como widescopism), alegadamente poderia explicar a diferença no comportamento modal de (1) e
(2) e manter que seu conteúdo semântico é o mesmo. (Essa estratégia é apresentada, p.ex. , por
David Sosa (2001), em "Rigidity in the scope of Russell's theory", Noûs, 35, 1-38.)
Ao lado de David Sosa, defensores recentes do descritivismo, contra os argumentos modais,
semânticos e epistemológicos, de Kripke (e outros), são Michael Nelson (2002), em "Descriptivism
defended" (Noûs, 36, 408-36), e Jason Stanley (1997), em "Names and rigid designation" (Hale, R.
and Wright, C. (eds.), A Companion to the Philosophy of Language, Oxford: Blacwell ). Além desses,
Leonard Linsy (1977), em Names and Descriptions (Chicago: The University of Chicago Press ) e
Michael Dummett (1973 ), em Frege: Philosophy of Language ( London: Duckworth ), estão entre os
mais conhecidos e ilustres defensores do descritivismo.

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