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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JUDAS TADEU – CSJT

BEATRIZ RODRIGUEZ LIMA – 520114950


JEFFERSON DA S. ALMEIDA – 52013061
LUCAS DANCEV – 52018530
MAURÍCIO DOS SANTOS SILVA – 520115630
REBECA SANTOS – 520114488
RUTE LÉIA PEREIRA BONFIM – 520111589
VINÍCIUS HERDY MOURA – 520214221

PSICANÁLISE
A3 – PSICANÁLISE E QUESTÕES RACIAIS

Trabalho Interdisciplinar apresentado ao Centro


Universitário São Judas Tadeu – CSJT, como exigência
parcial para a aprovação na disciplina Psicanálise do
Curso de Psicologia.

Orientador(a): Prof(a). Danilo Briscese Martinez


Ana Maria Melo e Souza

SANTOS, 31 DE MAIO DE 2021


1 INTRODUÇÃO

Há mais de 130 anos a escravidão era abolida no Brasil, o último país a libertar
negros de uma serventia que manchou a história do território nacional e do mundo.
No entanto, não há o que comemorar, já que a população afro ainda sofre com
resquícios desse passado cruel. Segundo o Jornal da USP cerca de 54% da
população brasileira é de afrodescendente (PRUDENTE, 2020), e como compreender
tanta discriminação com os mesmos? Mesmo com todos os avanços do qual o preto
conquistou lutando, como abolição da escravidão, ser presidente de um país, ser líder
de movimentos sociais e lutar por direitos, ser ator, atleta, musico e ser reconhecido
por isso, o preconceito ainda é latente na sociedade, tão vivo como em 1500. No
entanto, hoje existe uma estruturação e manutenção desse problema social, a
estrutura é toda a história que aumenta ano após ano e a manutenção é a omissão,
no mais, já está enraizado na nossa cultura, ensinado de pai para filho e assim
sucessivamente brancos irão continuar discriminando pretos... e pretos discriminando
pretos em busca de um ideal branco, como canta o Rapper Djonga em uma de suas
músicas: “[...] nem o próprio preto, tá pronto pra ver o preto livre”. Mas afinal, muitas
pessoas, artistas, atletas, influenciadores de forma de geral se posicionam contra o
preconceito racial, mas o que uma das três maiores vertentes da psicologia, a
psicanálise, tem a dizer sobre o tema? Existe um posicionamento? O que a teoria
freudiana tem para contribuir contra o racismo?
2 DESENVOLVIMENTO

Ao longo dos anos a abordagem das relações raciais no meio psicanalítico


começou a despertar o interesse de outras classes sociais e em outros contextos de
vida. A aproximação se dá na emergência de assuntos distantes da realidade
burguesa. Desse modo as aproximações de pessoas sem os marcadores sociais eram
e até hoje são “excluídas” (RODRIGUES, 2020).

Tendo em vista que a psicanálise, inicialmente, tinha um público específico,


tanto o analisado quanto o analisando, de pessoas brancas, da burguesia e
pertencentes a países europeus, Virginia Leone bicuda, negra, paulistana foi à
primeira mulher não médica a se tornar psicanalista no Brasil.

Pioneira no debate de estudos sociais encontrou na psicanálise um reflexo


sobre o preconceito que enfrentou ao longo da vida. Tornando-se uma das principais
referências no estudo de relações raciais na ciência. Sua luta era basicamente para
entender e desvendar o sofrimento e a dor que ela própria viveu por conta do
preconceito. Do aspecto social e cultural até o sentido mais profundo da psique
individual e coletiva, Virgínia enfrentou o preconceito por todas as frentes. Em uma
entrevista ela disse:

“Eu me interessei muito cedo por esse lado social. Não foi
por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Veja bem o que
fiz: eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico,
para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na
sociologia a explicação para questões de status social. E, na
psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a
história” (BRAGA, 2018 apud. Virgínia Bicudo, entrevista a Anna
Verônica Mautner, 1998)

Bicudo manteve o trabalho clínico e o envolvimento com a área até três anos
antes de morrer. No entanto, sua contribuição para a psicanálise no Brasil é pouco
lembrada: sua tese de mestrado, por exemplo, só foi publicada 65 anos depois, e tanto
a Sociedade Brasileira de Psicanálise quanto a Fundação Escola de Sociologia
Política só a homenagearam em 2010, no centenário de seu nascimento. A data
precisa de sua morte, aliás, nem sequer foi registrada (BRAGA, 2018).
Pouca, ou quase nada foram às contribuições psicanalíticas para relações
raciais até o momento. Na instituição psicanalítica até os dias atuais não há
reconhecimento de que racismo produz sofrimento psíquico. Quando uma pessoa
negra traz no consultório de um psicanalista branco esse tema em relação ao seu
sofrimento diário, o assunto não é reconhecido, nem mesmo tratado da maneira e com
a importância necessária. Na grande maioria é tratado de maneira superficial. E para
os psicanalistas brancos, na grande maioria, esse problema social é observado como
mania de perseguição e vitimismo.

Esse indicativo faz com que pacientes negros, prefiram psicanalistas da mesma
cor de pele. Isso é suficiente para mostrar como a psicanálise trata a questão sem a
devida importância, e caminha a passos lentos para o reconhecimento necessário da
causa.

Não compreender as dores, e não às encarar com a devida atenção as raízes


desse problema se dá na naturalização do racismo estrutural e na negação do tempo
por meio dos profissionais psicanalíticos (CONSOLE, 2017).

Para o senso comum, o racismo é a discriminação racial, onde em sua teoria é


o estabelecimento de uma hierarquia entre raças e entre etnias, sendo considerado
uma superior ou dominadora a outra. No entanto, para a psicanálise o estudo sobre
o tema é um pouco mais complexo de abordar, porque ele sempre está relacionado a
outras narrativas de sofrimento.

Contudo podemos considerar que o psicanalista não deve analisar o cliente de


forma fragmentada, e assim podemos até fazer um paralelo, com a teoria da
interseccionalidade, que não é uma teoria psicanalítica, porém pode ser utilizada para
exemplificar o tema. Em suma, essa tese diz que não podemos pautar um indivíduo
por fragmentos dele, mas devemos ver com um conjunto de um todo, que o torna
subjetivo. Por exemplo, uma mulher, negra, bissexual e que vive na periferia não pode
ser analisada por partes, por mais que ela seja uma mulher negra, ela é diferente de
outra mulher, negra, heterossexual que vive em um condômino de luxo. E esses
conjuntos que diferencia você de outras pessoas (DUNKER, 2018). E para
aprofundarmos mais ainda nesse tema, devemos levar em conta o contexto histórico
e social do Brasil, de colonização, escravidão e “embranquecimento”, e assim essa
atitude discriminatória com pessoas diferentes de você é construída socialmente
durante os anos e presente até hoje na sociedade.

E a relação da psicanálise, interseccionismo, contexto histórico e racismo é


simples, quando uma pessoa negra procura ajuda de um profissional da área e é
analisado, esse conflito social está sempre filtrado por fantasias, atribuições de
valores e pela posição que colocamos os outros, logo a nossa temática é invisibilizada,
ou seja o problema central, que no caso é o racismo, é deslocado para outras áreas
como pobreza, questões gênero e afins, o questionamento vai girar em torno de: “eu
estou sofrendo por ser pobre ou por ser gay”, que também contribuem para o
sofrimento, porém aqui a questão é outra. E se o profissional não tiver a competência
de explorar aquele sujeito como um todo, apenas haverá um alívio no sofrimento.
Claro que nesse caso utilizamos de um exemplo onde o indivíduo não sofre de racismo
agudo, mas do racismo velado, que também está inserido na sociedade, onde é
naturalizado muitos termos, e nesses casos a pessoa nem cogita que o principal
motivo do seu sofrimento é essa discriminação, que de certa forma está abalando o
seu narcisismo, a forma como o indivíduo se vê, principalmente se essa pessoa já
cresceu inserida em um ambiente assim (DUNKER, 2018). Logo, o primeiro passo
para acharmos o foco desse problema dentro desse indivíduo é conseguirmos nomeá-
lo, conseguir que a pessoa esteja ciente dele. Portanto, o que é racismo para
psicanálise?

De uma forma geral, a psicanálise enxerga o racismo como um sintoma social.


Sabemos que os sintomas estão ligados a traumas psíquicos e que foi recalcado.
Porém, entendemos que tudo que é recalcado pode voltar como sintoma. O sintoma
social, não foge muito desse conceito, além de não ser algo descritivo ou uma
psicopatologia de um indivíduo. É um problema “crônico” da sociedade, um sinal que
o grupo populacional está expondo, por mais que haja uma subjetividade em cada
pessoa é algo manifestado por todos, porém de formas diferentes, a pessoa pode
cometer atos racistas, se omitir a movimentos raciais, ou ver o racismo acontecer e
não interferir. É de conceito básico de Freud que quando não elaboramos as coisas
do passado elas voltam como sintoma. No caso da sociedade brasileira, ainda não
elaboramos a escravidão, ou seja, se a sociedade estivesse sendo analisada, existiria
uma falha na resolução desse conflito que carregamos por séculos. No entanto, com
o aumento populacional, as funções sociais da sociedade irão ficar mais complexas e
diversificadas. (GREISER, 2007) (PRADO, 2020)

Com isso reforçamos a ideia de sintoma social por causa do passado histórico.
É relativo à formação do indivíduo e encontra-se em uma forma de valorizar uma vida
em detrimento a outra. Contudo, assim como a psicanálise analisa fragmentos do
passado de um sujeito para identificar traumas, aqui reforçamos a importância da
história do Brasil, onde a escravidão é uma cicatriz incurável, e que o país insiste em
simplesmente “esquecer”, ora com queima de arquivos sobre a escravidão autorizado
pelo ministro Ruy Barbosa em 1890 e ora com a omissão do tema por parte da
população. E como foi dito anteriormente, não se supera um trauma simplesmente
esquecendo ou ignorando, devemos falar sobre, utilizando as “lembranças” que
temos. Porém, conforme o Brasil avançou como sociedade, o racismo avançou
progressivamente de forma omissa, com o intuito de manutenção de privilégios
simbólicos e materiais, no qual é conhecido como branqueamento, onde ser branco é
um ideal e inconsciente (GUERRA, 2020, p.3). No artigo “O papel da psicanálise na
desconstrução do racismo à brasileira”, é exemplificado como a psicanálise explica
essa negação por meio de três defesas do inconsciente:

“O recalque se assemelha ao esquecimento, levando a


representação de uma situação que gera incômodo psíquico
para o inconsciente num laborioso trabalho pulsional que ganha,
no sintoma, sua forma consciente. O desmentido, ou a recusa,
implica numa forma de negação que reconhece e, ao mesmo
tempo, nega a existência de uma representação, que reaparece
numa forma substituta fetichizada. E, finalmente, a foraclusão,
ou a rejeição, exclui a representação como se a situação
traumática vivida jamais tivesse existido. Como ela não se
escreve, retorna de forma alucinatória.” (GUERRA, 2020, p. 09)

Outros teóricos apontam a construção de um EU ideal, onde um sujeito afro


procura o ideal de um sujeito branco, por atravessar preconceitos e violências por
conta da sua cor de pele e perceber que pessoas brancas não sofrem do mesmo
problema e inconscientemente há um processo de embranquecimento, logo há uma
negação de sua realidade concreta, causando uma dor narcísica resultando em culpa,
censura e autor restrição. Assim é gerado um conflito interno com o externo. E toda
vez que um EU ideal negro é visto como errado e um EU ideal branco é configurado
como o certo, ele é observado como uma idealização narcísica de uma população,
mantendo o racismo estrutural (TESHAINER e KULLER, 2005).

No entanto, apertamos na mesma tecla novamente, para a psicanalista Andréa


Maris Campos Guerra, poucos psicanalistas falam, nos dias atuais, sobre o racismo e
a desconstrução dele. E para um início de modificação de cenário, sob um olhar
psicanalítico, o posicionamento dos profissionais dessa área seria o ideal. É
necessário que seja exposto de forma aberta sobre isso e sem negações, uma vez
que a psicanálise e a história já ensinaram que os traumas se superam com o
instrumento da palavra, com o registro e com a lembrança e não com o esquecimento.

A psicanálise como ferramenta, pode auxiliar na mudança de paradigma,


ajudando, assim, a esmiuçar os padrões comportamentais que estão relacionados
com o inconsciente, onde estão registrados alguns preconceitos (GUERRA, 2020).

Todo esse conflito causa efeitos negativos no meio psíquico e somático do


sujeito, logo chegamos ao tópico de Efeitos psicossociais, que são fenômenos que
possuem determinações comportamentais e psíquicas e ao mesmo tempo sociais. A
discriminação envolve com a forma de acesso e tratamento na sociedade, colocando
em risco (aquele que está sendo discriminado) direitos e liberdades. Criam também
empasse no combate ao racismo, onde a pessoa perde sua identidade por falta de
reconhecimento do negro como indivíduo, pois tende a carregar os estereótipos
negativos impostos pela sociedade sobre seu grupo, causando a não aceitação de si
mesma e baixa autoestima.

Os efeitos psicossociais do racismo dificultam até mesmo a forma de expressar


amor, comprometendo as relações individuais, familiares, afetivas e profissionais,
contribuindo para vulnerabilidade individual e social.

Existem inúmeras condições que criam uma atmosfera para a inferioridade da


população negra, a frustração dessas vítimas pode tomar proporção tamanha que os
levam a quadros de depressão, consumo de drogas, múltiplas doenças e suicídio.
Ainda sobre os efeitos, não é somente o rebaixamento social, mas também político.
Por isso a importância que eles tenham liberdade para falar sobre o assunto, incentivar
o estudo sobre a cultura e história da população negra, políticas de recursos que lutam
contra a desigualdade, representatividade e etc. (VASCONCELLOS e PRESTES,
2013) (SCHREEN, 2017).
Quando falamos de efeitos psicossociais não podemos deixar de citar Frantz
Fanon, apesar de ele não ser psicanalista, este é um nome importante quando falamos
sobre racismo. Ele buscou ajuda na teoria para conseguir entender a complexidade
da subjetividade a partir do colonialismo. Com influencias marxistas, ele busca uma
análise da escravidão neste contexto de sociedade capitalista. Para o autor, o racismo
foi uma ferramenta importante para manutenção do colonialismo, apostando em uma
alienação psíquica e econômica do negro e assim impedindo-o que constitua sua
própria história, mesmo consciente de tudo ao seu redor. No contexto atual, alguém
precisa ser alienado para ser explorado, uma manutenção do sistema. O silêncio
também é algo pactual, pois é cômodo permanecer nessa posição de privilégios
(GABRIEL; SANTOS e NKOSI, 2020). Em um dos seus principais livros, “homem
negro, mascaras brancas”, ele nos introduz ao um conceito de que para o
afrodescendente existe duas dimensões, uma pertencente ao negro e a outra é o
mundo branco. E quando exposto a esse mundo, o preto se conforma com essa
cultura que não lhe pertence e assim o sujeito exposto passa a utilizar “máscaras
brancas” para poder sobreviver. A pessoa que passou a utilizar essa máscara fará de
tudo para conseguir ser uma pessoa branca, irá se comportar, vestir e falar como
branco, e até se relacionar com homens ou mulheres brancos para se enquadrar
nesse padrão. Ele explica essa parte da teoria dizendo que o EGO entra em colapso
quando entra em contato com essa dimensão e o alvo de suas ações sempre será
esse Outro branco. Ele faz uma pontuação ao Complexo de Édipo, dizendo que não
se aplica a população negra, pois a partir do momento que a criança tem contato com
essa realidade, ela não vai querer possuir o pai ou a mãe, mas sim o mundo branco,
e o racismo seria equivalente a castração. Fanon, compara o racismo ao nascimento
de um irmão. Existe um medo que esse “irmão mais novo” tome seu lugar na
sociedade, seja no emprego, na faculdade e principalmente em relação a
relacionamentos amorosos, uma vez que o autor relaciona o medo dos brancos em
relação aos negros a algum aspecto biológico, como força, sexo, potência, atlético,
etc... (FANON, p.18; p. 100; p. 106 e p. 111, 2020).

Muitos desses negros, após uma busca incansável pela aceitação desse
mundo branco, vai perceber que não vai conseguir, e assim vai odiar tanto quanto
amou e buscou essa idealização, e existe dois pontos que Frantz Fanon pontua com
isso, existe a desestabilização a supremacia branca, mas por outro lado ele afirma
que nenhuma luta se faz pelo ódio. A partir desse ponto existe a possibilidade do
“homem de cor” (como o autor cita diversas vezes no livro) aceitar essa divisão, e
fazer uma inversão na estrutura aceitando seus traços e rebaixando essa cultura
branca. No entanto, esse ponto impede a percepção que o ser humano é um só.
Fanon não busca a igualdade racial, mas sim a desracialização da espécie. Para ele,
a luta é pela ressignificação do que é ser humano. Ele valoriza a psicanálise no sentido
de ajudar o ser a ter consciência de si, e para ele, esse primeiro passo só pode ser
alcançado com ajuda da terapia clínica. E após essa conscientização o homem preto
deve se engajar em lutas raciais. (NKOSI, 2016)

Existem outras hipóteses que podem explicar o surgimento do racismo. Adiante


iremos explorar algumas linhas teóricas, começando com o “pai da psicanálise”. E
apesar de Freud ter sido perseguido pelos nazistas durante a Segunda Guerra
Mundial, o preconceito não foi uma de suas temáticas principais, no entanto ele
escreveu alguns artigos que podem ser relacionados com o racismo em si. Em um
conceito comum, entendemos que o que causa conflitos são as grandes diferenças,
porém para Freud, o que causa as hostilidades, agressividades e repulsas são as
pequenas diferenças. O psicanalista diz que as relações humanas são marcadas por
sofrimento e sem chances de fuga. Em 1918, o Freud criou o conceito de narcisismo
das pequenas diferenças, resumidamente, nós nos enquadramos em grupo no qual
projetamos nos outros aquilo que nós somos e por traz desse grupo existe um líder
que vai representar um ideal que todos defendem. No entanto, pessoas que estão fora
dessa bolha são alvo dessa agressividade. Essa descarga de hostilidade é
fundamental para a sobrevivência do grupo, para que não seja descarregada no seu
interior (Pulsão de morte) e para o fortalecimento dos laços dos membros do grupo.
Portanto o grupo busca um “inimigo em comum”. Contudo, levando em consideração
que os seres humanos são iguais, um grupo de brancos racista se uniram e
consideraram o homem negro como esse rival, a primeiro momento unicamente pela
cor da pele, podemos concluir que o racismo surgiu por causa dessa recusa a
alteridade. Em Geral, podemos dizer a partir de Freud, que Racistas são narcisistas
pois a definição deles do que é ser humano é apenas uma parte do todo, com isso
eles criaram leis para essa manutenção de ideal, que fortalece ainda mais o grupo, e
a partir desse ponto, gera-se conflitos, entre uma espécie por uma pequena diferença
para que o ego idealizado seja mantido. Pontuando com a teoria de freudiana, Albert
Jacquard, disse que o racismo não está relacionado com algum aspecto biológico,
pois pessoas da mesma cor, podem ser racistas. O critério para hostilizar o outro pode
ser qualquer um. (FUKS, 2007) (NORMOSE, 2018)

Ainda segundo Freud, é impossível amar alguém como a si mesmo, ele diz que
para amar o outro, esse alguém deve ser merecedor, no caso a pessoa tem que ser
semelhante e tem que permitir que o ame, além de amar alguém que o Supereu julgue
ser perfeito assim poderá amar um EU ideal. O pai da psicanálise também afirma que
é difícil amar alguém estranho, cujo valores não signifique nada. No conceito
psicanalítico, o estranho indica algo familiar que foi recalcado, porém retorna ao
consciente como algo assustador.

Já Pontalis, sugere que o preconceito não surge porque é estranho a mim, mas
por que somos semelhantes, e a ideia de dois EUs ideias é perturbadora. Ainda para
o mesmo autor, existe um desejo de expulsar aquilo que é difícil de admitir e uma
forma de aliviar esse desejo é depositando o que há de ruim em mim no outro. Logo
o ódio racista é um ódio de si mesmo.

Para Koltai, o racismo é causado pela falta de projetos de vida que faça ligação
entre o singular e o social, logo o discurso racista surge para camuflar esse vazio.

E para Lacan, o racismo surge durante a fase do espelho, no qual diz que a
criança começa a construir o seu EU a partir do outro, logo a criança se identifica com
outro, e afasta “estrangeiros” com medo que esses possam quebrar seu espelho.
Ainda para Lacan:

“[..] o racismo seria um ódio pelo gozo do Outro, pois


esse gozo coloca em questão a forma idealizada do sujeito
gozar. [...] “o Outro é Outro no interior de mim mesmo” (p. 121)
a raiz do racismo poderia ser entendida como o ódio por meu
próprio gozo.” (TESHAINER E KULLER, 2005 apud. IBID, 2005.
p. 275)

E a partir da explicação de cada autor é possível imaginar um paradoxo que se


fosse solucionado resolveria o racismo (TESHAINER e KULLER, 2005)
Mas como ninguém foi capaz de solucionar esse enigma e o preconceito ainda
está vivo. Porém, existem algumas formas para ajudar essa pessoa que está
sofrendo. É fato que não existem estudos aprofundados sobre uma forma de
tratamento específica para quem sofre racismo, mas o que é de consenso de vários
autores é que se deve considerar, de forma minuciosa, o relato do paciente. A infância,
família, local onde mora, escola, trabalho e vida social, faz-se necessário para um
tratamento adequado. Uma pesquisa realizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP
indica que, quando o analisado é negro, o psicanalista, também precisa considerar
todas as questões das desigualdades raciais e sociais encontradas no contexto
brasileiro. Já para a psicanalista Ana Paula Musatti Braga, não existe raça no sentido
biológico, porém para ela é indiscutível que a pessoa sofra por causa da cor da pele,
e isso deve ser levado em consideração tanto quanto os outros aspectos.

Tudo isso é colocado em questão. Estudar a história do cliente é chave inicial


para entender o desconforto e sofrimento do paciente, para daí ajudar a encontrar a
solução. Portanto, a partir do viés do psíquico, sintonizar a pessoa com a realidade.
Sozinha as pessoas têm dificuldade de sair da zona dolorida em que se encontram.
Daí o porquê é imprescindível problematizar.

O racismo se dá na forma de conflito interno, onde a estratégia psíquica é a


autopreservação do narcisismo. Para o tratamento dos atos preconceituosos vindo do
racista, é preciso antes de qualquer coisa o reconhecimento da causa por meio do
profissional. Da luta, da dor, de quem sofre o racismo na pele. Não dá para resolver o
problema sem mudança do comportamento profissional ao tema (MARTINS e
SANTOS, 2013).

E outro ponto que podemos citar é que como Sintoma Social, a psicanálise
entra exatamente na remediação desse problema, individualmente ou coletivamente,
fazendo com que elaboremos esse passado “esquecido” do Brasil.

As transformações no contexto social, interferem na subjetividade do indivíduo.


Também podemos atribuir que essa singularidade é de acordo com a época.
Atualmente, enfrentamos um crise sanitária e política, e com isso veio à tona a face
do capitalismo, que deixa de lado investimentos a saúde pública, da prevenção e
cuidado com o cidadão mais necessitado, que de forma vem sendo visto como
descartável, como mostra uma pesquisa da CNN Brasil, “morrem 40% mais negros
que brancos no Brasil”. (VIÑAS; DURAN e CARVALHO, 2020). Diante de
isolamentos sociais, que não tiveram apoio governamentais, regiões periféricas
sentiram um impacto ainda maior, em relação a desigualdade, durante a pandemia do
Covid-19.

Achille Mbembe, em uma de suas pesquisas recentes desenvolveu o conceito


de necropolítica, onde um poder soberano considera quem pode viver e os que devem
morrer. Neste contexto atual, podemos sugerir que a maioria de mortes negras por
causa do novo coronavírus não é coincidência. Contudo ele toma partido contra esse
modelo de gestão que decide quais vidas são mais importantes, implantando uma
batalha contra o racismo do Estado, além de ir ao contrário de questionamento,
aparentemente, natural da vida humana, como “alguns vão morrer, lamento, essa é a
vida” citado pelo atual presidente da república do Brasil. (FERRARI; JANUZZI e
GUERRA, 2020) (MOTA, 2020)
3 CONCLUSÃO
Contudo, conclui-se que apesar da psicanálise ser uma importante vertente da
psicologia ela ainda é muito tímida em questões raciais, mesmo com um tema ainda
muito recorrente, no qual é perceptível, que existe uma negligência por uma parte de
psicanalistas (não só por eles) para desenvolver trabalhos científicos profundos e que
de fato possa revolucionar e contribuir ainda mais com a sociedade afro, logo, isso
demostra que nem mesmo os profissionais da área estão livres de ter preconceitos e
julgamentos morais do outro ou simplesmente não tem interesse por não ser de sua
experiência de vida, as hipóteses são muitas pelas quais não existe prioridade por
esse tema, mas fica claro que as iniciativas da questão ficam para os negros
resolverem entre si. Todavia, é admirável que muitos estudos acerca do racismo
tiveram início no Brasil, mostrando a competência dos profissionais nacionais e a
preocupação em mudar. Outro ponto que podemos levantar é que muitos autores são
“deixados de lado” quando colocam em pauta essa questão. Autores como Frantz
Fanon, Virgínia Bicudo, entre outros, sequer são citados em um plano curricular de
Psicanálise. Aliás, temáticas raciais são pouco exploradas dentro de sala de aula,
independente da linha teórica.

No mais, a perspectiva não é que a psicanálise vire uma um ativismo social


lutando por causa X ou Y, mas que tenha como objetivo entender o porquê as pessoas
são assim a partir do inconsciente, que apesar de ser complexo, ainda deixa lacunas,
que poderiam auxiliar no olhar que temos de um ser humano como um todo e não
reduzindo-o a uma característica, portanto, apenas com esse breve estudo foi-se
capaz de analisar, novamente, a relação entre a psicanálise e o passado, no caso a
história, e que a desconstrução tem que começar agora, mas que foram sementes
plantadas lá traz que causaram toda essa perversão social velada, que causam
sintomas físicos em muitos negros e eles nem sabem o real motivo. Vejo que a
psicanálise deixa a desejar, uma vez que a falta de abordagem que seja de consenso,
neste tema, que poderia diminuir a propagação do racismo, como uma construção de
consciência, no qual apenas alívio de sintomas não se faz suficiente para que aquele
sujeito, tanto quem sofre quanto quem pratica tenha a plenitude de poder se aceitar
como é ou não reduzir o outro por conta daquilo que ele julga não ser o padrão.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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