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MELQUISEDEQUE
Nelson Marins
Melquisedeque é descrito na Bíblia como
rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo
mencionado em Genesis 14:18 e Hebreus
7:1-3. Este livro descreve a criação dos
Edição Revisada e anjos, a rebelião nos céus a criação da Ter-
Corrigida ra entre outros fatos, mas o mais impor-
tante
22/11/2015
O LIVRO DO 1
MELQUISEDEQUE
A criação do Universo 8 Ao sul do paraíso, em ambas as mar-
gens do rio da vida, foram edificadas numero-
8 Contemplando-o, ele começou a indagar 3 Ele queria que a obediência fosse fruto
o porquê de não poder compreender o seu de reconhecimento e amor, por isso decidiu
enigma. correr o grande risco.
9 Retornando a seu lugar de honra, junto 4 Ainda que prosseguisse na busca do
ao trono, prostrou-se ante o divino Rei, supli- sentido das trevas, Lúcifer não pretendia
cando-Lhe: abandonar a luz.
10 Pai, dá-me a conhecer os segredos das 5 Esforçava-se para chegar a uma combi-
trevas, assim como me revelas a luz. nação entre essas partes que, no reino do
11 Ante o pedido do formoso anjo, o Eterno, coexistiam separadas.
Eterno, com voz expressiva de tristeza, disse- 6 Finalmente, com um sentimento de
lhe: exaltação, concebeu uma teoria enganosa, que
12 Meu filho, você foi criado para a luz, pretendia apresentar ao Universo como um
que é vida. novo sistema de governo, superior ao gover-
13 Convencendo-se de que o Criador não nar do Eterno.
lhe revelaria os tesouros das trevas, Lúcifer 7 Denominou sua Lei "a ciência do bem e
decidiu compreender por si mesmo o enigma. do mal".
14 Julgava-se capacitado para tanto. 8 Estruturada na lógica, a ciência do bem
15 Com esta triste decisão, o príncipe dos e do mal revelou-se atraente aos olhos de
anjos permitiu que surgisse em seu coração Lúcifer, parecendo descerrar um sentido de
uma mancha de pecado que poderia trazer vida superior àquele oferecido pelo Criador,
uma catástrofe para o Universo. cujo reino possibilitava unicamente o conhe-
16 Só Deus sabia o que se passava no co- cimento experimental do bem.
ração de Lúcifer. 9 No novo sistema haveria equilíbrio en-
17 O anjo, que fora criado para ser o por- tre o bem e o mal, entre o amor e o egoísmo,
tador da luz, estava divorciando-se em pen- entre a luz e as trevas.
samentos do bondoso Criador que, num esfor- 10 Ao longo do tempo em que amadure-
ço de impedir o desastre, rogava-lhe perma- cera em sua mente a ciência do bem e do mal,
necer a Seu lado. Lúcifer soube guardar segredo diante do
18 Uma tremenda luta passou a travar-se Universo.
em seu íntimo. 11 Continuava em seu posto de honra,
19 O desejo de conhecer o sentido das cumprindo a função de Portador da Luz.
trevas era imenso, contudo, os rogos daquele 12 Contudo, por mais que procurasse fin-
amoroso Pai, a quem não queria também gir, seu semblante já não revelava alegria em
perder, o torturavam. servir ao Eterno.
20 Vendo o sofrimento que sua atitude 13 O divino Rei, que sofria em silêncio,
causava ao Criador, às vezes demonstrava procurava, por meio de Suas revelações de
arrependimento, mas voltava a cair. amor, preparar as criaturas racionais para a
grande prova que se aproximava.
Lúcifer prega nova lei nos céus 14 Sabia que muitos dariam ouvido à ten-
tação, voltando-Lhe as costas.
sorte de vegetação: lindos prados a florir, 6 “Haja luminares na expansão dos céus,
campos verdejantes entrecortados por rios para haver separação entre o dia e a noite;
cristalinos, florestas sem fim onde árvores sejam eles para sinais e para tempos determi-
frondosas deixavam pender frutos saborosos nados, para dias e anos”.
de infindáveis espécies. 7 “E sejam para luminares na expansão
9 A Terra era como uma tela onde o Cria- dos céus para alumiarem a Terra”.
dor, pelo poder de Sua palavra, coloria qua- 8 Imediatamente, o espaço tornou-se radi-
dros de beleza sem par. ante pelo brilho do sol e pelo reflexo de pla-
netas e estrelas.
dia.
2 O que criaria Deus nesse novo dia?
3 Esta indagação pairava na mente de to-
20 JUNTO à fonte do rio da vida, o
Eterno curvou-Se solenemente e,
com os elementos naturais da Terra, começou
dos os seres racionais. a moldar, com muito carinho, uma criatura
4 Estavam certos de que algo muito espe- especial.
cial estava para acontecer. 2 Depois de alguns instantes estava esten-
5 Então Deus ergueu os potentes braços, e dido diante do Criador o corpo, ainda sem
ordenou: “Produza a Terra alma vivente vida, do primeiro homem.
conforme a sua espécie: gado, répteis e bes- 3 O Eterno contemplou-o e, após acarici-
tas-feras da terra, conforme a sua espécie”. ar-lhe a face fria e descorada, soprou-lhe nas
6 Sua voz poderosa foi prontamente ouvi- narinas o fôlego da vida e o homem começou
da e, nas florestas e campos, pôde-se ver o a viver.
resultado de Seu poder criador. 4 Como que despertando de um sono, o
7 Animais de todas as espécies desperta- homem abriu os olhos e contemplou a face
ram numa existência feliz, em meio a um meiga de Seu Criador que, sorrindo, beijou-
paraíso de perfeita paz. lhe a face agora corada e cheia de vida.
8 A Terra tomara-se extremamente bela, 5 Emocionou-se ao ouvir o Eterno dizer-
como uma princesa adornada para receber o lhe com voz suave e cheia de afeição: "Meu
seu rei e senhor. Quem seria esse ser especial? filho, meu querido filho!”.
6 Por ter nascido do solo, o primeiro ho-
mem recebeu o nome de Adão.
MELQUISEDEQUE, 21, 22 11
7 As hostes fiéis que admiradas testemu- 5 Como era agradável acariciar sua alva
nhavam a grandiosa realização divina, emoci- lã!
onadas ante o gesto humano, prostraram-se 6 Seus olhinhos meigos refletiam um bri-
também em reverente adoração. lho de amor e humildade.
8 Uniram então as vozes num cântico de 7 Havia algo de especial naquele animal-
júbilo em saudação àquela criatura especial, zinho.
que despertava para a vida num momento tão 8 Afetuosamente, Adão chamou-o de
decisivo para o Universo. "cordeiro".
9 Com o coração cheio de felicidade, 9 Com o animalzinho em seus braços,
Adão uniu-se aos anjos em seu cântico de Adão olhou agradecido para Deus e O adorou.
louvor. 10 Contemplando Suas alvas vestes, Seus
10 Sua voz, ao ecoar pelos arredores flo- olhos expressivos de um amor sem par, Adão
ridos, misturou-se ao canto das aves e ao descobriu que tinha nos braços um símbolo de
mugir de animais que se aproximavam em seu Autor.
festa. 11 Feliz exclamou: "Oh, Senhor, este cor-
11 Num passeio de surpresas inesquecí- deirinho revestido de tão branca lã, com olhar
veis, Adão foi conscientizado das belezas de expressivo de tanto amor, se parece Contigo.
seu lar. Eu quero tê-lo sempre junto a mim."
12 Com admiração contemplou o monte
Sião, donde jorrava o rio da vida, numa casca- Adão entristece por não ter uma companheira
ta de luz.
13 O glorioso monte jazia coroado por um
lindo arco-íris.
14 Em seus passos seguiu o curso do cris-
22 OBSERVANDO os animais, Adão
percebeu que eles desfrutavam de um
companheirismo especial.
talino rio, que deslizava sereno em meio às 2 Via por toda parte casais felizes que vi-
maravilhas do Éden. viam um para o outro.
15 Admirava-se das altaneiras árvores 3 Seus pensamentos voltaram-se para o
que, embaladas pela brisa, deixavam pender Seu Companheiro.
dos ramos abundantes flores e frutos. 4 Olhou ao derredor e ficou surpreso por
16 Inclinava-se aqui e acolá, atraído pelo não vê-Lo.
fulgor de pedras preciosas que por todas as 5 O Eterno havia Se ocultado proposital-
partes enfeitavam o gramado. mente, tornando-Se invisível.
6 Adão sentia-se solitário em meio àquele
Adão admira a beleza do jardim paraíso.
7 Com quem partilharia sua felicidade e
Eterno apresentou-Se ao seu lado e disse-lhe: 11 Admirou-se por não ver o efeito da
11 "Não é bom que o homem esteja só; brisa nos ramos floridos.
far-lhe-ei uma companheira". 12 Mas como, se a sentia suavemente no
12 Adão ficou feliz ao ouvir do Criador rosto?
essa promessa, justamente no momento em 13 Começou então a despertar de seu so-
que tanto ansiava ter alguém para estar sem- nho.
pre visível a seu lado. 14 Ainda com os olhos fechados lembrou-
se do momento em que, sonolento, recostara-
Deus cria a mulher se no peito do Eterno.
15 Seria a brisa o afago de Suas mãos?
da luz em aclarar-lhes as trevas morais, dando 2 Ofuscaria para sempre as belezas da cri-
alento aos pecadores. ação? Oh, jamais!
12 Mas seriam iluminados apenas àqueles 3 O sol não recuaria ante a imponência
que, desviando os olhos da Terra, contem- das trevas; surgiria em breve como um liber-
plassem os altos céus. tador, arrebatando com seus cálidos raios a
13 Após contemplar por algum tempo o natureza das frias garras, dando-lhe vida e
céu em sua luminosidade, o casal, lembrando- cor.
se das belezas do paraíso, volveu os olhos, 4 Num último desafio, as trevas tornaram-
buscando divisá-las. se densas nas horas que antecederam o alvo-
14 Estavam, porém, ocultas em meio às recer.
sombras. 5 A noite arregimentava suas forças para
lutar pelo domínio usurpado.
14 MELQUISEDEQUE, 26
divino, compreenderam que o Senhor da Luz seus frutos tão infinita responsabilidade, Adão
não governaria mais o Universo, a não ser prostrou-se ante o Criador, dizendo:
com o consentimento humano. 10 "Digno és Senhor de reinar sobre o
14 O homem, pela vontade do Eterno, fo- Universo, pois pela Tua sabedoria, amor e
ra feito o árbitro da criação; em seu glorioso poder todas as coisas foram criadas e subsis-
ser, feito à imagem do Criador, resplandecia o tem".
selo do eterno domínio. 11 O sábado, emblema do triunfo divino,
encheu-se de louvor.
Deus adverte Adão e Eva 12 Todos os filhos da luz uniram-se ao ser
humano no mais harmonioso cântico de exal-
ficaram temerosos, pois conheciam a tremen- 19 Satanás haveria de armar-lhes uma ci-
da facilidade de Satanás em enlaçar criaturas lada, a fim de levá-los a comer do fruto da
inocentes e atirá-las em suas malhas de morte. árvore da ciência do bem e do mal.
5 No solene concílio, sem a autorização 20 Se dessem ouvidos à tentação, fariam
de Deus, decidiram enviar, com urgência, sucumbir toda a criação no abismo de um
mensageiros para advertirem o homem do eterno caos.
grande perigo. 21 Os anjos lembraram-lhes que o reino
6 Dois poderosos anjos foram encarrega- lhes fora confiado como um sagrado depósito,
dos dessa decisiva missão. devendo, em uma vida de fidelidade, honrar
7 Imediatamente, os mensageiros comis- Aquele que por amor esvaziou-Se, colocando-
sionados irromperam pelos portais de Jerusa- Se numa posição de hóspede do ser humano.
lém, alcançando o seio do espaço infinito. 22 Adão e Eva deveriam ser firmes ante
8 Em instantes, transpuseram imensidões, as insinuações do inimigo, pois assim selari-
cruzando todo o universo. am a eterna vitória do reino da luz.
9 Penetraram no túnel da constelação de 23 Falando-lhes da feliz recompensa que
Orion, aproximando-se do novo sistema. se seguiria ao seu triunfo, os anjos revelaram
10 Podiam agora divisar a pouca distância que era plano de Deus a transferência de
o Jardim do Éden, onde o destino do Universo Jerusalém Celeste para a Terra.
estava para ser decidido. 24 Ali, novamente acoplada ao paraíso,
11 No Éden havia descontração. permaneceria para sempre.
12 O jovem casal continuava em suas 25 E o homem, submisso ao Criador, rei-
inocentes atividades, desfrutando o prazer de naria pelos séculos sem fim sobre o monte
um viver feliz. Sião, em meio aos louvores das hostes univer-
13 Longe estavam de pensar que naquele sais.
momento todo, que todos os filhos da luz 26 Mas tudo isso dependia inteiramente
estavam tensos, pensando em seu futuro do posicionamento humano frente às tenta-
ameaçado. ções do inimigo, que faria de tudo para arre-
14 Adão e Eva viram então no límpido batar-lhe o reino.
céu o sinal da aproximação dos visitantes 27 Adão e Eva ficaram temerosos ao co-
celestes e a eles ergueram os braços numa nhecerem os planos de Satanás, mas foram
alegre saudação. consolados ao saber e que ele não poderia
15 Adão e Eva admiraram-se, porém, por fazer-lhes nenhum mal, forçando-os a comer
não verem no semblante deles a mesma ale- do fruto proibido.
gria. 28 Se, porventura, procurasse intimidá-los
16 Os visitantes traziam na face uma ex- com seu poder, todas as hostes do Eterno
pressão de anseio que eles não podiam enten- viriam em seu socorro.
der. 29 Os mensageiros da luz concluíram sua
17 Tentaram mudar-lhes a triste feição, missão recomendando ao casal permanecerem
contando-lhes as novas descobertas feitas no vigilantes, tendo sempre em mente a respon-
paraíso. sabilidade que sobre eles repousava.
18 Os mensageiros, todavia, não tendo 30 Não deveriam separar-se um do outro,
tempo disponível como outrora, interrompe- nem por um momento sequer, pois a sós
ram-nos com palavras de advertência. poderiam ser seduzidos.
31 Adão e Eva, agradecidos pelas adver-
tências dos anjos, uniram as vozes num
18 MELQUISEDEQUE, 31, 32
6 Ali está a fonte de todo meu saber. 2 Em cada planeta habitado, os filhos da
7 Ele conta então uma mentirosa história: luz contemplavam impotentes aquela angusti-
disse que era uma serpente como as demais, ante cena.
comendo dos frutos do paraíso. 3 O futuro deles estava em jogo.
8 Provando certo dia daquele fruto espe- 4 Em Jerusalém havia grande comoção.
cial recebeu, como que por encanto, todas as 5 Poderosos anjos apresentaram-se diante
virtudes. do Criador, solicitando permissão para esma-
9 Olhando para a árvore da ciência do garem o covarde inimigo, oculto naquela
bem e do mal, Eva ficou surpresa e confusa. serpente.
10 Privaria o Criador em seu amor algo 6 O Eterno, contudo, impediu-lhes tal
tão bom às suas criaturas?! ação.
11 Vendo-a surpresa, Satanás perguntou: 7 Se o uso da força fosse a solução, já o
12 É assim que Deus disse: Não comereis teria aplicado.
de todas as árvores do jardim? 8 Deviam respeitar o livre-arbítrio conce-
13 Eva, inquieta, respondeu: Dos frutos dido ao homem, podendo ele manifestar sua
das árvores do jardim comemos, mas do fruto escolha sob a tentação do inimigo.
dessa árvore que você diz ser fonte de sabedo- 9 Os filhos da luz sofriam imensamente
ria, disse Deus: "Não comereis dele, para que ao verem a mulher duvidando d’Aquele que
não morrais". tão bondosamente lhes dera a vida e a oportu-
14 A serpente em tom de desdém disse: nidade de reinarem naquele paraíso.
Isso é falso. 10 Como poderia duvidar de quem lhes
15 Se fosse assim, eu teria morrido. dedicava tanto amor?!
16 Certamente o Eterno os proibiu de co- 11 Adão, que numa forte esperança de as-
mer dessa árvore para impedir que o homem segurar a acalentada vitória apressava-se em
venha a se tomar como Ele, conhecendo todas sua corrida, contemplou ao longe sua amada,
as coisas. assentada junto à árvore da prova.
17 As palavras sedutoras da serpente cau- 12 O que fazia Eva naquele lugar tão pe-
saram confusão na mente de Eva. rigoso?!
18 Em quem confiaria? 13 Um pressentimento horrível lhe sobre-
19 Tinha em mente a lembrança da ordem veio, ao lembrar-se mais uma vez das adver-
do Criador e de sua sentença, mas ao mesmo tências recebidas, mas procurou bani-lo como
tempo tinha diante de si uma prova palpável pensamento de que alcançaria sua esposa
que O contradizia. antes que algum mal lhe ocorresse.
20 Atordoada começou a duvidar do cará- 14 Eva vacilava em sua convicção ao con-
ter do Eterno. templar o fruto em suas mãos.
21 Num desafio, a serpente colheu frutos 15 Seu brilho, seu encanto, uma forte ma-
da árvore proibida e passou a saboreá-los. gia atraia aquele fruto a sua boca.
22 Colocando um fruto nas mãos da mu- 16 Por alguns momentos o futuro pare-
lher incentivou-a a comer, dizendo: ceu-lhe sombrio e aterrador, mas venceu esse
23 Não disse o Eterno que se alguém to- sentimento, pensando nas glórias que haveria
casse nesse fruto morreria? de conquistar ao comer aquele fruto.
17 Ainda um tanto indecisa ergueu vaga-
A queda de Eva rosamente as mãos até tocar o fruto com os
dos, inclinaram-se tomados por grande espan- fronte estampando um sorriso, mas surpreen-
to. deu-se ao vê-lo chorando.
19 Parecia quase impossível, àquela altu- 36 Com profunda amargura, Adão procu-
ra, a mulher voltar atrás. rou saber a razão que a levara a rebelar-se
20 Enquanto pálidos os fiéis indagavam contra o Eterno.
sobre uma possível esperança, presenciaram 37 Eva, prontamente, passou a contar-lhe
com horror a terrível decisão de Eva: resolve- a fantástica história da sábia serpente.
ra romper para sempre com o Criador, tor- 38 Satanás sabia que essa história de ser-
nando-se cativa da morte. pente jamais convenceria o homem a comer
21 O Eterno, que em silêncio e dor con- do fruto da árvore proibida.
templava aquela cena de rebelião, curvou a 39 Precisava encontrar uma maneira sutil
fronte a face banhada de lágrimas. de levá-lo a selar sua sorte seguindo os passos
22 Não podia suportar a dor daquela sepa- de sua esposa.
ração. 40 Tendo Eva sob seu poder resolveu fa-
23 Os fiéis, que em pânico julgavam-se zer dela o objeto tentador.
vencidos, foram conscientizados de que nem 41 Aguardaria o momento oportuno para
tudo estava perdido. enlaça-lo.
24 Se Adão resistisse à tentação, perma-
necendo fiel ao Eterno, ele selaria a grande A queda de Adão
vitória.
25 Eva, que fora vítima de um engano,
poderia ser conscientizada de seu erro, sendo
favorecida com o perdão divino.
36 NO dia em que dela comerdes, cer-
tamente morrereis.
2 A lembrança desta sentença deixava
26 Quando Adão em sua angustiosa corri- Adão muito aflito.
da alcançou o lugar da árvore, já era tarde 3 A expectativa de ver sua amada pere-
demais. cendo em seus braços, era demais para supor-
27 Assentada junto ao rio, Eva saboreava tar.
despreocupadamente o fruto proibido. 4 Esta aflição, contudo, foi diminuindo,
28 Adão estremeceu. ao ver que ela continuava feliz e carinhosa ao
29 Seria mesmo o fruto da prova? seu lado, como se nenhum mal lhe houvesse
30 Num gesto de esperança olhou para a acontecido.
árvore da ciência do bem e do mal, mas em 5 Aliviado, Adão voltou a sorrir, corres-
pranto reconheceu a triste condenação. pondendo aos afetos de sua companheira.
31 Cheio de tristeza contemplou sua espo- 6 Rendia-se às mais doces emoções, longe
sa, mas não encontrou palavras para despertá- de saber que era o inimigo quem o envolvia
la para tão amarga realidade. naqueles abraços.
32 Em completo desespero ergueu a voz 7 Nesse momento de enlevo, Eva come-
numa dolorosa exclamação: çou a falar-lhe de sua experiência com a
33 "Eva, Eva, o que você está fazendo!". ciência do bem e do mal.
34 Ao comer do fruto proibido, a mulher 8 Falou-lhe dos tesouros da sabedoria que
foi tomada por emoções que a fizeram imagi- lhe haviam sido abertos.
nar haver alcançado uma esfera superior de 9 Em seu novo reino, viveria muito feliz.
vida. 10 Entretanto, essa felicidade seria in-
35 Ao ouvir a voz de seu esposo, ainda completa sem a participação de seu esposo.
tomada pelas ilusórias emoções, ergueu a 11 Falou-lhe da impossibilidade de
22 MELQUISEDEQUE, 37
retroceder em seus passos, e insistiu para que 29 Satanás, com brados de triunfo, deixou
ele a seguisse. o paraíso, voando rapidamente para junto de
12 Depois de falar-lhe de sua decisão, suas inumeráveis hostes, que aguardavam
Eva, com um doce sorriso, estendeu-lhe as ansiosas o resultado de tão arriscada tentativa.
mãos contendo um fruto, pedindo-lhe que o 30 Ao saberem da desgraça humana, uni-
comesse numa demonstração de seu amor por ram-se numa estrondosa festa.
ela. 31 Sentiam-se seguros.
13 Com a voz tentadora em seus ouvidos, 32 Sião agora lhes pertencia por direito,
Adão assentou-se no gramado em profunda podendo lá estabelecer um reino eterno, ja-
reflexão. mais sendo molestados pelas leis do Eterno.
14 Sua face tornou-se novamente pálida e
suas mãos trêmulas. A angustia do anjos da luz
15 Temia rebelar-se contra o Criador, mas
ao mesmo tempo compreendia que não con-
seguiria viver separado de sua companheira, a
quem amava com infinito amor.
37 EM todo o Universo os filhos da luz
sofriam e pranteavam a derrota.
2 Nunca houvera tanta tristeza e horror
16 Eva era carne de sua carne, a extensão ante o futuro.
de seu ser. 3 As vozes que viviam a entoar louvores
17 Sentia-se angustiado ao ter de tomar ao Criador proferiam agora lamentações.
uma decisão tão séria. 4 O Eterno, que vencido por infinita dor
18 A palidez do rosto de Adão refletiu-se prostrara-Se em pranto ante a queda do ho-
no semblante de todos os fiéis ao Eterno. mem, não fora, contudo, surpreendido.
19 Ouviram a insinuação do inimigo e 5 Pois, antes mesmo de criar o Universo
perceberam com horror a vacilação do ho- já havia previsto esse triunfo da rebeldia e, em
mem. Sua sabedoria e amor, idealizara um plano de
20 A indecisão de Adão deixava-os de- resgate que O envolveria num imenso sacrifí-
sesperados. cio.
21 Se obedecesse ele àquela proposta de 6 Enxugando as lágrimas de Seu pranto,
Satanás, toda felicidade seria eternamente pôs-Se a agir poderosamente em favor de
banida. Seus fiéis aflitos, impedindo-os de caírem nas
22 Na decisão do ser humano estava o mãos dos inimigos.
destino de todo o Universo. 7 Nessa misteriosa intervenção que apa-
23 Atenderia ele ao apelo de Satanás? rentemente depunha contra a justiça, o Eterno
24 Depois de intensa luta íntima, Adão ordenou que Seus mais poderosos anjos cir-
olhou para sua companheira; a ela unira-se em cundassem imediatamente o jardim do Éden,
promessas de uma eterna entrega. impedindo que Satanás tomasse posse do
25 Não a deixaria só agora. monte Sião.
26 Partilharia com ela os resultados da re- 8 Consoladas ante a manifestação divina,
belião. as potentes criaturas, em pronta obediência,
27 Tomou então das mãos de Eva um fru- romperam o espaço infinito, circundando em
to e, num gesto apressado, levou-o à boca. instantes o paraíso, no seio do qual o ser
28 Procurando abafar a voz de sua cons- humano, já transtornado pelo pecado, vivia o
ciência, que lhe falava de uma eterna perdi- negror de uma noite que seria longa e cruel.
ção, Adão lançou-se nos braços de sua esposa, 9 Sendo a autoridade do Eterno funda-
desfrutando o alto preço de sua rebelião. mentada na justiça, de que maneira poderia
MELQUISEDEQUE, 37 23
justificar Suas ações diante dos inimigos? 22 Mas farei cair toda a condenação sobre
10 Não entregara por Sua vontade o reino um Redentor que surgirá na descendência
ao homem, e esse por livre escolha não o humana.
submetera a Satanás? 23 Esse Homem não trará em suas mãos
11 Enquanto surpresas as criaturas racio- as algemas da morte, sendo inocente e incon-
nais consideravam as ações decisivas de taminado em Sua natureza.
Deus, ouviram Sua potente voz que, repercu- 24 Como representante da raça humana,
tindo por toda a criação, trazia a revelação do enfrentará Satanás e o vencerá.
grande mistério; revelação tão maravilhosa 25 Após triunfar nessa batalha, provando
que a partir daquele momento, por toda a que o amor é mais forte que o egoísmo, que a
eternidade, ocuparia a mente dos fiéis, sendo verdade é mais forte que a mentira, que a
tema para as mais doces meditações. humildade é mais poderosa que o orgulho, o
12 O Eterno falou primeiramente sobre a fiel Redentor erguerá as mãos vitoriosas não
terrível condenação que pendia sobre o ho- para saudar a grande conquista, mas para
mem e toda a criação. tomar das mãos da humanidade escravizada à
13 Disse que, ao se desligar da Fonte da taça de sua condenação.
Vida, o homem havia se precipitado em tão 26 Sorverá assim, submisso, o cálice da
profundo abismo que não poderia ser alcan- eterna morte.
çado pelo Seu braço de justiça e poder. 27 Esse imenso sacrifício abrirá aos seres
14 Humilhado e torturado pelas garras do humanos uma oportunidade de serem redimi-
inimigo, não restava ao homem outra sorte dos, voltando aos braços do Criador, junta-
além da morte; fruto doloroso de sua espontâ- mente com o domínio perdido.
nea rebelião. 28 As hostes, surpresas ante a revelação
15 Considerando a situação humana, as do Eterno, indagaram a identidade d'Esse
hostes da luz não viam possibilidades de Redentor.
triunfo. 29 O Criador, com um sorriso amoroso,
16 Sabiam que só o homem poderia reto- disse-lhes:
mar o domínio do inimigo, devolvendo-o ao 30 Parte de Mim será esse Homem.
Criador. 31 O Meu Espírito repousará sobre uma
17 Mas o ser humano, eternamente escra- virgem, e nela será gerado um Filho Santo.
vizado em sua natureza, seria incapaz de tal 32 Esse menino será divino e humano.
vitória. 33 Em sua humanidade, ele será submisso
à divindade que n’Ele habitará.
Deus fala sobre o plano de salvação do ho- 34 Os remidos verão n'Ele o Pai da Eter-
mem nidade, o Criador e Redentor, o Rei dos reis.
35 O Seu nome será Jesus (Yoshua nome
18 Com voz melodiosa e cheia de ternura, hebraico que traduzido significa o Eterno
Deus revelou o plano da redenção, dizendo: salva).
19 Na verdade, o homem colherá o fruto 36 Assumindo a natureza humana, Deus
de sua rebelião numa terrível morte. poderia pagar o resgate, morrendo em lugar
20 Não posso, com o Meu poder, mudar- dos pecadores.
lhe a sorte. 37 As hostes da luz ficaram emudecidas
21 Se assim agisse, seria injusto diante de ao conhecer o plano do Criador.
meu decreto. 38 O pensamento de verem-No submeter-
Se a tão penoso sacrifício, a fim de redimir o
24 MELQUISEDEQUE, 38, 39
domínio perdido, era demais para suportarem. 15 Sua natureza já não era pura e santa,
39 Não havia, contudo, outra esperança de mas corrompida e cheia de rebeldia.
vitória, a não ser através dessa amorosa entre- 16 Tudo estava mudado.
ga. 17 Mesmo a brisa mansa que até ali os
havia banhado em carícias refrescantes, enre-
Adão e Eva entram em grande tristeza gelava agora o culposo par.
18 As árvores e os canteiros floridos, que
do amoroso Pai, atraídos por Sua luz, fugiam 26 Não podendo mais se ocultar de Deus,
agora desesperados em busca de lugares Adão ergueu-se juntamente com sua compa-
escuros, de densa floresta. nheira e, cabisbaixos, apresentaram-se ao
9 O Eterno, movido por infinito amor, Criador, prostrando-se trêmulos a Seus pés.
passou a seguir os passos do casal fugitivo. 27 Não conseguiram encará-Lo mais, de-
10 Enquanto caminhava, chorava ao lem- vido ao senso de culpa.
brar os momentos felizes que havia passado 28 O Criador, carinhosamente, tomou-os
junto a eles naquele paraíso. pelas mãos, erguendo-os do chão, e, com
11 Como tudo se transformara! expressão de tristeza no semblante, pergun-
12 Seus filhos não conseguiam mais ver tou-lhes:
n'Ele um Pai de amor, mas alguém que, irado, 29 “Por que vocês fugiram de Mim? Aca-
buscava castigá-los. so comeram do fruto da árvore da ciência do
13 Movido por forte anseio de abraçar bem e do mal?”.
Seus filhos humanos, Deus fez ecoar a voz 30 Adão, todo trêmulo, com voz entrecor-
numa indagação: tada de temor, respondeu:
14 “Adão, onde vocês se encontram?”. 31 “A mulher que me deste por compa-
15 Sua voz, ao soar em meio às trevas, nheira, ela deu-me o fruto e eu comi”.
trazia consigo somente um eco vazio que 32 Com esta resposta, Adão procurava
falava de ingratidão e rebeldia. desculpar-se, lançando a culpa sobre sua
16 Como desejava envolver o casal num companheira.
ardoroso abraço, e com palavras de carinho 33 Voltando-Se para Eva, o Eterno inda-
confessar-lhe que Seu amor era o mesmo! gou-lhe:
17 Ao ver Seus filhos fugindo de Sua pre- 34 “Por que você fez isso”?
sença, o Eterno foi tomado de grande dor. 35 Eva prontamente respondeu-Lhe:
18 Ante Seu olhar mareado de lágrimas 36 “Aquela serpente me enganou e eu
estendia-se o futuro da raça humana. comi”.
19 Quantos, enganados por Satanás, fugi- 37 Ambos não queriam reconhecer a cul-
riam de Sua presença no decorrer da longa pa, lançando-a sobre outrem.
noite de pecado, julgando-No um Senhor 38 Em suma, atribuíam ao Criador a res-
tirano, que vive buscando falhas e fraquezas ponsabilidade por todo o mal praticado e
nos pecadores, a fim de castigá-los! indagavam:
20 O Criador, todavia, não desistiria de 39 Por que concedera-lhes o livre-
procurá-los pelos vales sombrios do reino da arbítrio? Por que criara a mulher? Por que
morte, até conquistar um povo arrependido. criara a serpente?
21 Adão e Eva, exaustos pela pressurosa 40 Em silêncio, Deus observava Seus fi-
fuga, esconderam-se por entre a folhagem de lhos que, tímidos e desconcertados, permane-
um pé de figueira. ciam diante de Si.
22 Reconhecendo sua nudez procuraram 41 Com profunda tristeza, Ele previu que
fazer aventais cosendo aquelas folhas. essa seria a experiência de incontáveis seres
23 Vestidos assim julgaram poder livrar- humanos no decorrer da história.
se do sentimento de vergonha ante o Criador. 42 Quantos haveriam de se perder por não
24 O Eterno, aproximando-Se do local reconhecerem a própria culpa!
onde o casal se escondia, perguntou: 43 Quantos procurariam justificar-se, lan-
25 “Adão, onde estão vocês?”. çando seus erros sobre os outros e até mesmo
sobre o Criador!
26 MELQUISEDEQUE, 40
14 Adão e Eva, que num misto de grati- 30 Viveremos assim para sempre, num
dão e dor ouviram a revelação de tão grande reino de perfeita harmonia e paz.
salvação, indagaram reverentes a respeito
desse homem especial que em sua descendên- A saída de Adão e Eva do jardim do Éden
cia haveria de surgir, a fim de cumprir tão
imenso sacrifício.
15 O Criador, olhando-os ternamente,
movido por um amor que supera mesmo a
42 O CRIADOR, que acompanhado
pelo casal permanecia ainda sobre o
monte Sião, concluiu Suas revelações dizen-
morte, os envolveu num carinhoso abraço e do:
revelou: 2 O jardim do Éden ficará agora vazio.
16 “De Meu sofrimento surgirá este Ho- 3 O homem, durante a longa noite de pe-
mem!”. cado, vagueará em seu exílio.
17 Surpresos ante a declaração do Eterno, 4 Não andará, contudo, sozinho, pois
Adão e Eva ficaram imóveis, enquanto con- Eterno, também peregrinará e trilhará com o
templavam o Seu meigo semblante. homem toda a estrada espinhosa, até poderem
18 Compreendendo o significado do tre- juntos galgar o monte perdido, triunfando
mendo sacrifício, prostraram-se a Seus pés e gloriosamente sobre o reino da morte.
com lágrimas clamaram: 5 A árvore da ciência do bem e do mal
19 Nós somos merecedores da morte Se- monumento da rebeldia será então desfeita,
nhor, mas Tu és inocente e não deves sofrer dando lugar a uma árvore gloriosa que, unin-
em nosso lugar! do sua copa à árvore da vida, se tornará no
20 Enxugando-lhes as lágrimas, o Eterno arco comemorativo da grande vitória.
com ternura lhes falou: 6 Sobre o santo monte redimido, repousa-
21 “Meus filhos, Eu os amo com um eter- rá então para sempre o torno universal, que
no amor”. pelos fiéis triunfantes será nomeado: o trono
22 Eu morrerei no lugar de vocês. de Deus e do Cordeiro”.
23 Ante esta confirmação, o casal ergueu 7 Adão e sua companheira, após ouvirem
a voz numa lamentação dolorosa. Diziam: palavras tão confortadoras e cheias de espe-
24 Nós matamos o Criador! Nós matamos rança, ergueram a voz num cântico de grati-
o Criador! dão e louvor.
25 Mas Deus passou a consolar o casal 8 Conheciam agora o infinito amor de seu
com palavras de esperança, dizendo: Criador e estavam dispostos a servi-Lo.
26 Após sorver o cálice da eterna morte, 9 Depois de consolar o casal, Deus levou-
Este Homem retomará a vida e subirá ao céu. os para fora do Éden.
27 Intercederei ali pelo homem perdido, 10 Não lhes foram fácil se despedir da-
concedendo a todos aqueles que, arrependi- quele precioso lar; ali haviam despertado para
dos, aceitarem meu sacrifício, as vestes de a vida nos braços do Eterno; ali desfrutaram
minha vitória. momentos de pura felicidade, em companhia
28 Juntos, triunfaremos finalmente sobre do Criador, dos anjos e dos dóceis animais.
o reino do pecado que se desfará em cinzas 11 Uma saudade infinita parecia envolver
sob nossos pés. o casal em seus passos de abandono.
29 Criarei então um novo Céu e uma nova
Terra, onde unicamente a justiça e o amor
reinarão.
MELQUISEDEQUE, 43, 44, 45 29
Satanás fica irado com a promessa de Deus os seus trinos, voavam agora distantes, fazen-
para com o homem do soar tão tristes cantos!
3 Tudo estava mudado na natureza.
9 Quem verteria a seiva da vida, até ver a mas protegido e guiado pelo Eterno prosse-
última estrela apagar-se em seu céu?! guia em sua missão.
10 Adão e Eva depois de refletirem por 7 Quando as sombras do anoitecer come-
longo tempo, contemplando o berço da morte çaram a envolver a colina, o casal que vivia
construído pôr suas mãos, entreolharam-se tão dura prova de fé, discerniu um pontinho
inquietos com essa questão decisiva: branco que saltitava no gramado vindo em
11 Quem se oferecerá? direção deles.
12 Essa indagação nascida de sua culpa, 8 À medida em que se aproximava, aquele
fez vibrar no profundo de suas lembranças a vulto parecia falar de esperança, de vida e
voz do bendito Criador em Sua revelação de calor.
infinita bondade: 9 Ao verem que o grande milagre aconte-
13 “Eu os amo com um eterno amor; Eu cera, correram ao encontro do cordeiro, en-
morrerei em vosso lugar". volvendo-o nos braços.
14 Agradecido, o casal prostrou-se reve- 10 Ele estava fatigado, mas não descansa-
rentemente ante o sedento altar, vendo-o pela ria: daria descanso.
fé, saciado pelo dom do eterno amor. 11 Estava sedento, mas não beberia: daria
de beber ao altar que clamava por sangue.
Deus prova a fé do casal 12 Aquele cordeiro tinha vontade de viver
nos braços do homem, mas morreria, para que
outrora, mas para ferir, sangrando o preço do 2 Por várias vezes crescia em brilho, afu-
perdão. gentando para distante a fria escuridão, ba-
19 Só um gesto, nada mais, e a estrela se nhando a natureza com os seus raios de vida.
apagará para sempre dos olhos inocentes, 3 Por vezes, as trevas trazendo o seu ven-
fazendo brilhar na face culpada a luz da sal- to frio, quase bania por completo a chama.
vação. 4 Essa, todavia, num grande esforço ali-
20 Adão, trêmulo hesita em compaixão. mentava-se do sangue do cordeiro, lançando
21 No cordeirinho manso e submisso, ao alto sua ardente chama, inundando de luz e
pronto a morrer em seu lugar, vê o Salvador calor tudo aquilo que havia ao redor.
prometido. 5 O conflito entre a luz nascida do sacrifí-
22 Com o coração arrependido, num es- cio e as trevas naquela noite, descerravam aos
forço doloroso, crava o cutelo de pedra no fiéis do Universo muitas lições importantes -
peito do animalzinho que perece em suas verdades que ocupariam suas mentes por toda
mãos sem sequer dar um gemido. a eternidade.
23 O poder da noite imediatamente é que- 6 Naquela chama, ora ardente em seu bri-
brado pelo brilho do fogo da aceitação. lho, ora fustigada pelos ventos da noite, os
24 Sua luz revela ao ser humano sua trá- fiéis viam uma representação do conflito
gica condição: milenar entre o bem e o mal; conflito que sem
25 Vendo as mãos manchadas pelo san- trégua se estenderia até o alvorecer eternal.
gue inocente, o casal sente-se culpado por 7 O Eterno, no penhor de Seu futuro sa-
aquela morte. crifício, acendera em meio das trevas, a luz da
26 Em pranto ajoelham-se ante o altar que verdade, e essa seria mantida acesa no cora-
já não lhes reclama sangue, mas oferece luz, ção do ser humano, em virtude de Seu sangue
aceitando o imerecido perdão. que seria derramado para remissão da culpa.
27 Erguendo-se, o casal contempla demo- 8 Contra essa luz, o inimigo arremessaria
radamente o corpo ferido do pobre cordeiri- todos os ventos frios da maldade, banindo do
nho, sem poder agradecer-lhe pela riqueza coração de muitos o seu doce brilho.
concedida em troca de seu tão rude golpe. 9 Quantos jazeriam perdidos por recusa-
28 Banhados pela suave luz do sacrifício, rem a luz do perdão divino, ficando envoltos
Adão e sua companheira permanecem a medi- pelas trevas da escura noite!
tar, até serem vencidos por um profundo sono. 10 Depois de longas horas de combate
29 Recostando-se ao solo coberto de relva surge no céu os sinais do amanhecer.
macia adormecem docemente sob os cálidos 11 A escuridão que com ira havia lançado
raios do perdão, certos de que seu brilho e seus ventos sobre a imorredoura chama pro-
calor perdurariam até serem as trevas daquele curando bani-la, torna-se confusa ante os
sábado desvanecidas completamente pelo sinais do amanhecer.
fulgurante sol. 12 O céu tingido de um vermelho vivo,
faz lembrar o sangue que jorrara do peito do
O significado do sacrifício cordeiro para que a chama do perdão pudesse
iluminar a noite humana.
Satanás propõe aos rebeldes uma armadilha 13 Sabia o quanto Adão e sua companhei-
para acabar com o homem ra amavam aqueles cordeiros que, ao morre-
rem sobre o altar, ofereciam-lhes luz e calor.
pedindo-o para repetir esse sublime nome 2 Enquanto brincava no jardim, seus olhi-
que, qual chave de felicidade, sempre descer- nhos curiosos voltavam-se muitas vezes para
rava-lhes um paraíso de eterno amor. o sol que parecia acariciá-lo com um sorriso
5 Todas as hostes da luz inclinaram-se de esperança.
com alegria ao ouvir a pequena criança pro- 3 Vendo-o, porém, caminhar em direção
nunciar o nome do divino Rei. do ocidente, o pequeno correu para sua mãe,
perguntando-lhe:
66 A CONTEMPLAÇÃO do Éden
distante banhado em sol fez nascer
no coração juvenil de Caim pensamentos de
clamar ao Eterno.
6 Sua presença visível poderia, quem sa-
be, salvar aquele filho querido que a cada dia
aventura. tornava-se mais rebelde.
2 Ele começou a pensar:
3 Este paraíso não está tão longe como Deus aparece para Caim
afirmam papai e mamãe.
4 Por que esperar e sofrer tanto tempo?!
5 Ele é tão belo!
6 É dele que surge todos os dias o sol!
68 O CRIADOR ouviu o clamor dos
pais aflitos.
2 Embora soubesse que Sua aparição difi-
7 Se o conquistarmos será fácil deter a luz cilmente quebraria no coração do jovem Caim
em sua nascente; seu espírito rebelde, estava disposto a cumprir
8 Assim viveremos num paraíso de eterno o pedido.
sol. 3 Estenderia os braços amigos a Caim,
9 As ideias de aventura de Caim, enchiam procurando com amor conquistar-lhe o cora-
o coração de Adão e Eva de tristeza. ção.
10 Viam que seu interesse era somente 4 Como conhecia os seus anseios e so-
pelo tempo presente; ele sonhava com um nhos de aventura, facilmente poderia identifi-
paraíso de felicidade e luz conquistado por car-Se com ele, cativando-o, pois era também
sua força. Alguém que sempre carregara no peito sonhos
11 Em seus planos, não sentia necessida- de aventura;
de de um Salvador; 5 Não fora a criação do Universo uma
12 Para que, se era tão jovem, inteligente, grande aventura?!
cheio de vida e ideais?- dizia. 6 Não fora o Seu sonho vê-lo cravejado
de sóis fulgurantes, iluminando bilhões de
mundos com o seu brilho?!
7 Não era também o Seu maior sonho
atravessar o vale da morte, em busca da
MELQUISEDEQUE, 68 43
conquista do Éden distante, prendendo para trazia na face um brilho superior ao do sol,
sempre o Sol em seu céu?! mas não ofuscante.
8 Tinham muita coisa em comum! 26 Contemplando-O com admiração,
9 Caim estava curioso naquela sexta-feira. Caim exclamou:
10 Na face dos pais via ânimo e alegria, 27 Ele é jovem como eu, e se parece com
frutos de uma fé grandiosa. o Sol!
11 Incentivado por essa expressão de con- 28 Adão e Eva, comovidos pela grande
fiança, o jovem passou a ajudá-los nos prepa- saudade tinham vontade de saltar ao peito do
rativos para o santo sábado. Salvador e beijá-Lo, mas deixaram que Ele Se
12 O Sol finalmente esquivou-se rolando encontrasse primeiro com Caim.
para o poente, deixando como de costume seu 29 Com alegria viram o precioso filho en-
rastro de saudade que anunciava medo. volvido nos braços do grande amigo, que era
13 Em meio às trevas, Caim discerniu o parecido com o seu astro.
vulto branco do cordeiro sendo erguido para o 30 Depois de longo abraço, Deus abraçou
altar pelas mãos do pai; esse incansável sa- e beijou também o querido casal, companhei-
cerdote que sempre estava implorando ao ros no sofrimento.
Criador pela salvação de seu amado filho. 31 Com alegria saíram a passear pelos
14 Com a mão erguida, Adão preparava- jardins da colina. Ao centro iam o Criador e
se para o golpe que poderia, quem sabe, que- Caim, ladeados por Adão e sua companheira.
brar no coração de Caim sua incredulidade, 32 Quanta felicidade experimentavam
fazendo nascer num só momento a crença na nesses passos!
salvação. 33 Estavam completos.
15 De seus lábios escapa-se então o pedi- 34 Caim, conquistado pela afeição do Pai
do da fé: Eterno, mostrou-Lhe seus animais de estima-
16 Pai Eterno ouve o meu pedido; meu fi- ção e seu pequeno jardim carregado de lindas
lho precisa de Ti! flores.
17 Somente um olhar Teu poderá con- 35 Como estava encantado por vê-los co-
quistá-lo; Venha Senhor! loridos naquela noite desfeita pelo brilho do
18 Esta oração sincera caiu nos ouvidos Criador, como sob a luz do dia!
daquele filho comovendo-o. 36 Parecia até mesmo que o Sol baixara a
19 Somente a prece já seria suficiente pa- eles.
ra convencê-lo da existência real de um Sal- 37 Ao pensar no Sol, Caim como o amava
vador. muito, passou a falar sobre ele dizendo:
20 Enquanto enxuga as lágrimas da emo- 38 Como ele é belo e bom!
ção, Caim estremece ao ouvir o ruído do 39 Quando ele vai-se embora, deixa em
golpe da morte. suas lágrimas de sangue um sentimento de
21 Tudo era solene naquele momento; tristeza e temor.
22 Viria o Criador do mundo em resposta 40 Tudo desaparece em sua ausência: os
à oração do amor?! animais, o jardim; até os passarinhos silenci-
23 Como O encararia em sua incredulida- am os seus cantos!
de?! 41 Mas basta ele dizer que vai aparecer,
24 Um forte brilho envolveu logo toda a tudo se enche de encanto;
colina banhando também o vale oriental. 42 A natureza se desperta de mansinho,
25 Os olhos arregalados de Caim pousa- parecendo ainda temer as trevas, mas quando
ram então nos olhos amáveis do Criador, que as vê fugir, fica alerta e canta;
44 MELQUISEDEQUE, 69
43 Os animais, os passarinhos, o jardim, 60 Essa história não lhe dava prazer, pois
tudo volta a viver feliz! mostrava uma noite longa de sacrifícios sobre
44 Mas, esta felicidade sempre acaba!!! o altar, e de um Salvador a perecer em dor.
45 Após falar estas palavras, Caim fitando 61 Em realidade, Caim não via razões pa-
o Criador indagou curioso: ra tudo isso.
46 Papai sempre diz que foi você quem 62 Por que não banir logo o sofrimento
criou o Sol. É verdade? colorindo as trevas de luz?!
47 Com um sorriso de sinceridade Deus 63 Num esforço para conquistá-lo, o
respondeu-lhe que sim. Eterno com muito amor fitou aquele jovem
48 Quando Você o fez no princípio, con- insatisfeito, e disse-lhe que, somente o sangue
tinuou Caim, ele já fugia para o poente? de Seu sacrifício poderia fazer o Sol para
49 Ele nunca foge, respondeu o Eterno, é sempre brilhar, num reino de eterna felicidade
o mundo quem foge dele. e paz.
50 Ele fica triste com essa ingratidão! 64 Não havia outro caminho para essa
51 Mas como? Perguntou Caim, contem- conquista.
plando curioso Sua face de luz. 65 Por isso deveria ser paciente, descan-
52 Com palavras carinhosas, Deus passou sando-se sob o Seu cuidado.
a contar-lhe a história de Lúcifer que, em sua 66 Após conversar por longo tempo com
ingratidão baniu de seus olhos e dos olhos de Caim, na tentativa de fazê-lo reconhecer sua
uma multidão de criaturas, o brilho de Sua necessidade de salvação, o Eterno voltando-
face - o Verdadeiro Sol. Se para o casal, passou a consolá-los com a
53 Depois de assim agir, iludiu a muitos promessa do nascimento de outro filho.
dizendo que foi o Sol quem fugiu deles. 67 Mais trinta e seis sacrifícios seriam
54 Continuou o Criador dizendo: Com sua contados, e seus braços envolveriam o segun-
astúcia, o anjo rebelde procurou arrastar o ser do filho.
humano para as trevas, e conseguiu. 68 Nasceria também da dor, mas traria
55 O Sol naquele dia, chorou tantas lá- nos olhos o brilho e o consolo da salvação.
grimas de sangue, que banhou todo o céu. 69 O seu testemunho de fidelidade ficaria
56 Em seu último suspiro de luz, porém, perpetuado por todas as gerações, no símbolo
ele prometeu ao mundo já tomado pelas tre- de um altar coberto de sangue.
vas, voltar um dia a brilhar para sempre,
enchendo todo o seu seio de vida. Caim volta a rebelar-se
57 Após falar-lhe estas palavras, o Eterno
fitando aquele jovem, com expressão de
tristeza nos olhos concluiu dizendo:
58 Hoje, o anjo rebelde promete a seus
69 AS SEMANAS iam se passando,
trazendo ao casal novas de alegrias e
tristezas: de um coração cheio de vida a pul-
seguidores que irá com sua força deter o sol, sar no ventre de Eva, e de um vazio com
mas ele jamais conseguirá realizar esse plano, cheiro de morte a crescer no coração do jo-
pois não possui o laço que poderá detê-lo: o vem Caim.
amor. 2 Ainda que ele tenha ficado deslumbrado
59 Cabisbaixo, Caim ouviu dos lábios do ante a manifestação de Deus, em nada essa
Criador essa história de promessas, a qual já aparição mudou-lhe sua maneira arrogante de
se cansara de ouvir de seus pais. pensar sobre o sentido da vida.
3 Ele não via sentido nos sacrifícios ofe-
recidos no altar.
MELQUISEDEQUE, 70, 71 45
4 Nos dias que seguiram o seu encontro 5 Filhinho, o teu pai é Deus.
com o Criador, ele argumentava com os seus 6 Deu-lhe então o nome de Abel.
pais dizendo: 7 Quando no alvorecer Caim testemunhou
5 Se eu fosse poderoso como o Eterno, eu a alegria de seus pais pelo nascimento daquele
jamais me submeteria ao sacrifício para re- filho, foi possuído por sentimentos de ciúmes
conquistar o reino perdido. e mágoas.
6 Ele é forte, e brilha como o sol. 8 Com grande ira disse-lhes que, por sua
7 Ele poderia com uma só palavra expul- vida, somente os vira chorar.
sar todas as trevas, devolvendo-nos o paraíso 9 Seria esse pequeno intruso o único dig-
8 Para que tanto sofrimento?! no de suas alegrias?!
9 Com essa argumentação, Caim supu- 10 Adão e Eva com carinho procuraram
nha-se mais sábio que o Criador. mostrar a Caim o quanto o amavam, e que o
10 Quem sabe, num próximo encontro te- nascimento de Abel não devia entristecê-lo,
ria oportunidade de aconselhá-Lo. mas alegrá-lo pelo privilégio de ter um irmão
11 Dessa forma, o jovem Caim aprofun- que lhe seria amigo e companheiro;
dava-se cada vez mais no abismo do orgulho 11 Poderiam trabalhar unidos na trans-
e do egoísmo, lugar de ilusões para onde se ia, formação do mundo num paraíso de paz.
pensando estar caminhando para a vitória.
12 Não fora Lúcifer juntamente com um Abel crescia em esperança
terço das hostes celestes atraídos por essa
mesma ilusão?!
13 O bondoso Deus, todavia, não selaria o
destino de Caim sem antes procurar de todas
71
mental.
ABEL, envolvido pela graça divina
crescia em sua natureza física e
O nascimento das filhas de Adão que julgava necessária para detê-lo antes de
sua partida.
Caim sai de casa em direção ao Éden Caim sente medo em sua jornada
75
Caim.
NA COLINA distante, permanecia a
família rogando incessantemente por
50 MELQUISEDEQUE, 76, 77
A família de Caim prepara para o dia do 8 Eva, em passos lentos, cheia de tristeza,
sacrifício e vão rogar a Deus por ele seguiu seu esposo rumo ao altar, acompanha-
da por Abel e suas duas filhas.
prosseguir sua jornada, orientado pelo fogo 11 Cheio de ânimo prosseguiu em seus
que lhe indicaria o rumo de seu lar. passos de fé.
12 Embora lhe fosse impossível enxergar
Adão roga a Deus por Caim e compreender todos os obstáculos que surgi-
am em seu caminho fazendo-o tropeçar,
27 Sem conter a alegria, Adão com um 2 Decidiram lançar sobre ele densas tre-
brado de vitória saltou para junto de seu filho, vas espirituais, causando angústia e desânimo
envolvendo-o em seus braços. em sua nova experiência.
28 Toda a família o acompanhou nesse 3 Estavam certos de que persistindo com
gesto carinhoso, festejando com risos e lágri- essa pressão, alcançariam vitória.
mas de emoção, o retorno daquele filho e 4 Conhecendo os planos de Satanás, o
irmão amado. Eterno ordenou Seus anjos a combaterem as
29 Sob a luz do altar, todos assentaram-se trevas que circundariam o jovem Caim.
finalmente, passando a ouvir com atenção a 5 Ainda que conhecesse o seu futuro de
experiência passada por Caim naquela densa rebeldia, o Criador faria todo o possível para
floresta. mantê-lo a salvo das garras do inimigo.
30 Ele contou do medo que sentiu naquela 6 Sobre a colina, naquele lar repleto de fe-
primeira noite fora de casa; falou do vale da licidade, Caim tornara-se após sua conversão
morte, onde viu tantos ossos de animais devo- no motivo principal dos louvores e comemo-
rados com ferocidade; contou da luz que rações.
surgira ao entardecer, fazendo-o apressar seus 7 Como uma criança, humilde e submissa,
passos julgando ser o surgimento de um sol. Caim andava entre os seus tendo na face o
31 Falou do brilhante anjo que o atraíra brilho do amor e da esperança, que eram
para as divisas do Éden, levando-o com seus nutridos sob a luz do altar.
conselhos e palavras de sabedoria e amor a 8 Com lágrimas de gratidão distinguia
uma mudança de rumo. agora em cada cordeirinho imolado o Reden-
32 Contou de seu retorno, das lutas e ten- tor vindouro que pereceria em dor para ofere-
tações que teve de enfrentar a cada passo. cer-lhes a luz da eterna vitória.
33 Concluiu contando da alegria que sen- 9 Com alegria, Caim testemunhava diante
tiu, ao ver naquela noite o surgimento do fogo de sua família e diante do vasto Universo, da
sobre o altar, que semelhante a uma estrela, paz que agora inundava sua alma agora renas-
guiou os seus passos através daquele vale cida;
tomado pelas trevas. 10 Jamais experimentara antes sensação
34 Para a família, consolada pelo retorno de tanta liberdade, de tanto amor.
de Caim, surgiu finalmente o alvorecer da 11 Sobre sua mente refrigerada, contudo,
alegre vitória, trazendo em sua brisa o aroma começou a baixar as sombras da provação que
dos verdejantes prados edênicos cobertos de se intensificaram até mergulharem-no em
eternas flores. escura noite.
35 Naquela manhã de sábado, uniram-se 12 Era assediado por tantas tentações que
em cânticos de gratidão ao Criador, pela vida, pareciam revigorar em seu coração os sonhos
pelo perdão, e pela certeza de que sua feliz ilusórios de seu passado.
união jamais seria maculada pelo pecado. 13 Vozes pareciam gritar em seus ouvidos
dizendo:
Caim trilha nos caminhos do Eterno, mas 14 Deixe esse caminho que não leva a ne-
Satanás lança sobre ele trevas espirituais nhuma vitória!
15 Chega desses sacrifícios sangrentos
favor da verdade revelada por o Eterno, Abel maculado por um culto diferente daquele
e sua irmã mais nova colocaram-se ao lado estabelecido pelo Criador.
dos pais. 5 O ideal foi crescendo no coração daque-
17 Somente a irmã mais velha, que culti- le jovem casal, trazendo sonhos de um lar
vava no íntimo grande admiração por Caim, repleto de crianças a brincar num paraíso
permaneceu indecisa, favorecendo seu irmão banhado em sol.
mais velho nas discussões que tiveram lugar. 6 Caim, o senhor e mestre daquela nova
18 Embora contassem com a queda de to- família, a guiaria numa caminhada de vitória,
da a família humana, as hostes inimigas da luz iluminados pelo brilho de um fogo mais
se alegraram em ter novamente Caim como brilhante que o do cordeiro, que se ergueria de
escravo. seu altar coberto de flores e frutos.
19 Batalhariam agora pela conquista da- 7 Semelhante a Caim, Abel que se tornara
quela jovem indecisa que, unida ao irmão, também adulto, enamorou-se de sua irmã
poderia se tornar mãe de uma geração pecado- mais nova - aquela que desde a infância esti-
ra, no seio da qual se fortificaria o reino das vera ligada a ele por laços de íntima afeição.
trevas. 8 Juntos caminhavam pelos campos,
20 Ao tomarem consciência da posição apascentando o rebanho, enquanto considera-
rebelde de Caim, Adão e Eva, seguidos por vam com interesse os ensinos de amor escri-
seus dois filhos fiéis, passaram a rogar-lhe tos na natureza.
com amor, tentando convencê-lo do erro. 9 Adão e Eva, bem como o Criador e suas
21 Aquele filho, contudo, mantinha sua hostes fiéis, encontravam consolo e esperança
posição sem ser agressivo. na experiência desses dois jovens que, jamais
22 Estava confiante de ter aprovação do deixaram de refletir nos olhos a chama aque-
Criador para suas ideias revolucionárias. cida daquele altar que indicava-lhes o cami-
nho sangrento da redenção.
Caim tem a ideia de formar sua própria
família e assim criar um novo tipo de sacrifí- Caim pede sua irmã em casamento à Adão, o
cio ao Criador qual aguarda uma resposta do Eterno
10 Caim, semelhante a Adão, seria sacer- Universo, sendo considerados a partir desse
dote e mestre; ato, uma só carne.
11 Deveriam, portanto, construir um altar, 7 Essa união, geradora de vida, consistiria
para sobre ele oferecer sacrifícios. num simbolismo perfeito da união do Eterno
12 Sua companheira, em semelhança de com o ser humano, em virtude do sacrifício
sua bondosa mãe, deveria ser submissa e do Salvador.
sempre pronta a auxiliá-lo nas lides diárias. 8 Com essas orientações e ordens do
13 Com alegria, Caim e sua companheira Eterno, tornou-se claro para aqueles jovens
ouviram de Deus essas palavras de orientação pretendentes ao matrimônio, que a única
e aprovação ao casamento. oferta aceitável, que poderia trazer a benção
14 Abel e sua companheira que aos pés do da verdadeira união, seria o sacrifício de um
Criador ouviam atentos Suas palavras de cordeiro.
aprovação ao casamento dos irmãos, entreo- 9 Em meio ao júbilo daquela família, a
lhavam-se movidos por um intenso desejo de luz de Deus dissipou-se finalmente, ocultan-
formarem também um lar, onde seguindo o do-O de seus olhos.
exemplo dos pais, poderiam desempenhar um 10 Sob a luz do altar, permaneceram ale-
ministério de amor. gres a conversar sobre aquele futuro de felici-
15 Lendo em seus olhos o desejo nascido dade que acenava-lhes agora tão próximo.
no coração, o Eterno com um sorriso os en- 11 O sol surgiu finalmente, trazendo em
volveu com Seus braços, e disse-lhes que seus cálidos raios um alvorecer de brisa man-
poderiam construir também o seu altar. sa a beijar-lhes a face com o aroma do Éden,
16 Com lágrimas de emoção, Abel e sua trazendo-lhes à lembrança as emoções daque-
irmã prostraram-se aos pés do Criador, agra- le primeiro sonho de Adão.
decendo-Lhe por conferir-lhes tão sagrado
dom. Caim e Abel demarcam suas terras e esco-
lhem um local para construírem seus altares
O Eterno instrui sobre oferta de sacrifício
para confirmação dos casamentos
87 CAMINHANDO pelos campos
férteis sobranceiros à colina, a pe-
tos?!
4 Seria aceita a sua oferta de flores e fru-
2 Caim e Abel, juntamente com suas 5 Não seria melhor retroceder em seus
companheiras, haviam sido instruídos desde à passos, tomando um cordeiro para o altar?!
infância sobre o caminho da obediência. 6 Invisíveis aos olhos de Caim, legiões de
3 Haviam também recebido orientações anjos procuravam influenciá-lo em sua solene
diretas do Eterno com respeito ao verdadeiro decisão.
sacrifício. 7 Em sua luta espiritual, chegou quase a
abandonar seus planos, mas seu orgulho
repeliu finalmente essa opção: seria
MELQUISEDEQUE, 90, 91 59
humilhante àquelas alturas, confessar diante alegria de estarem para sempre unidos ao
de sua irmã e de sua família, a inconsistência Redentor, o amante Esposo da alma humana.
de sua teologia. 9 A não aprovação da oferta, traria amar-
8 Enquanto contemplava no horizonte o ga decepção, pois além de não receberem a
último lampejo do arrebol, Caim rompendo benção do Criador, teriam consciência de
com o apelo do Espírito divino, reafirmou-se estarem trilhando por um caminho de rebel-
em sua decisão: dia, desligados do Autor da vida.
9 Ofereceria flores e frutos em lugar de 10 Foi com um misto de alegria e tristeza,
um cordeiro, inaugurando uma nova modali- que Adão e Eva dirigiram-se ao altar naquela
dade de culto pensando que, certamente, noite, depondo sobre o mesmo a ovelha para o
poderia ser aceita pelo Eterno. sacrifício.
11 Depois de tantos anos junto aos seus
Adão aconselha Caim a retroceder de sua filhos, nos quais por palavras e exemplo,
ignorância, mas ele não aceita procuraram mostrar o caminho da salvação,
colhiam agora respostas de obediência e
31 Seus rogos, porém, não trouxeram ne- 4 Impulsionados pelo orgulho, Caim e sua
nhuma resposta além de um eco vazio, perdi- irmã rejeitaram os conselhos dos pais que
do naquela noite. somente queriam a felicidade deles.
32 Vencido pela vergonha da tragédia, 5 Remoendo em lamúria sua amarga de-
Caim prostrou-se, revolvendo-se em inconso- cepção, Caim permaneceu o restante da noite
lável pranto. a revolver-se em insônia.
33 Satanás exultou ao testemunhar o de- 6 Em seus sentimentos e pensamentos,
sespero de Caim que, com gemidos maldizia sobrevinham agora as sombras do ódio e da
o Criador por não haver se manifestado sobre vingança.
o altar. 7 Estava irado contra o Criador, por haver
34 Festejava por ter conseguido através rejeitado sua oferta.
do engano levar Caim novamente a manifes- 8 Contemplando ao longe a chama da
tar diante do Universo sua rebeldia. aprovação, sob a qual Abel e sua companheira
35 Estava contente também em ver que viviam sua feliz união, Caim encheu-se de
Caim não estava sozinho em sua queda, mas indizível inveja que explodiu dentro dele num
tinha sua irmã a seguir-lhe os passos. furor sem limites.
36 Agora lutaria para mantê-los cativos 9 Lá estava o filho preferido - aquele a
sob o seu poder, tornando-os inimigos decla- quem não tolerara desde a infância.
rados do Eterno e de seus seguidores. 10 Por que seria ele mais digno?!
37 O Criador, embora entristecido pela 11 Por que poderia gozar maiores privilé-
desobediência de Caim, alegrava-se em poder gios?!
honrar diante do Universo aquele casal obedi- 12 Inspirado pelo espírito maligno, quan-
ente que, no cordeiro imolado, via a promessa do o sol já estava quase raiando, Caim come-
de um Redentor que no futuro nasceria para çou a maquinar um terrível crime.
redenção de todos os pecadores que o aceitas- 13 Disse para si:
sem. 14 Se eu não sou digno de viver sob a luz
38 Abel e sua companheira após consola- da benção divina, nem tão pouco o meu irmão
rem-se da dor do rude golpe, banhados pelos será;
raios aquecidos daquela chama, uniram-se em 15 Aguardarei o momento oportuno, para
sublime ato de amor, esse que poderia gerar apagar de seus olhos todo o brilho da felici-
vida. dade.
Caim maquina o mal contra Abel O Eterno aparece para Caim e pede para que
se arrependa
94
íntima.
AS PALAVRAS do Eterno mergu-
lharam Caim na mais terrível luta
2 Com o coração dominado pelo mal, di-
zia para si naquela noite, que era a primeira
da semana:
MELQUISEDEQUE, 95 63
3 Assim que raiar o dia, visitarei o lar de sangue de inocentes animais, mas cumpriria a
Abel. vontade divina, sacrificando um cordeiro para
4 Fingindo estar arrependido, pedirei dele alcançar a benção sobre o seu matrimônio,
um cordeiro para o meu altar. mas o faria distante, no campo.
5 Pedirei que ele me acompanhe até o re- 18 Após cumprir esse compromisso, re-
banho, que pernoita em pastagens distantes; tornaria para ela, e seriam a partir de então
6 Sei que ele de boa vontade me atenderá. uma só carne.
7 Quando em nossos passos, nos encon- 19 Abel alegrava-se naquela manhã ao la-
trarmos distantes de seu lar, eu o farei com- do de sua amada que, com um sorriso desper-
preender a dor sentida pelos cordeiros. tara como de um sonho, reclinada ao seu
8 Depois de matá-lo, o esconderei na flo- peito, onde pulsava um coração o qual não
resta, longe do alcance dos olhos de sua com- podia ela imaginar, enviaria naquele dia, num
panheira e de seus pais. último esforço, a seiva da vida, para não mais
9 Comemorarei então o seu fim, unindo- retornar.
me à minha companheira, como ele o fez após 20 Abel seria como um cordeiro sobre o
a morte do cordeiro. altar.
10 Quando surgir o entardecer - esse que 21 Depois de cingir-se com o instrumento
com seu arrebol não trará mais Abel para o da morte, Caim com passos movidos por uma
seu lar- fugirei com minha irmã para o vale de decisão que não seria revogada, ladeou a casa
onde regressei outrora, e de lá jamais voltarei de seus pais, aproximando-se do lar de Abel
a essa colina hostil, onde cordeiros perecem que, ainda aos pés do altar, permanecia com
sem culpa. sua companheira, trocando juras de um amor
11 Caminharemos assim até alcançarmos eterno.
o berço da luz, que estende-se nas campinas 22 O olhar de ternura de Abel, sob o bri-
do Éden. lho do alvorecer trouxe para aquela jovem
12 Ali, longe dos rogos e conselhos desse uma lembrança que a comoveu.
meu intolerável pai, oferecerei ao Senhor da 23 Acariciando sua face coberta pela bar-
luz, cultos de flores e frutos: produtos que ba macia qual lã, com os lábios trêmulos de
nascem sob seu brilho. emoção, sussurrou-lhe:
13 O sol em sua marcha oculta, anunciou 24 Querido, o seu olhar é para mim como
no horizonte distante os sinais do amanhecer, o olhar de um cordeiro: me traz segurança,
num clarão que, refletido por uma nuvem, paz e esperança.
tornava-a parecida a um manto banhado em 25 Sou grata por poder contemplar esses
sangue. olhos em que brilha o amor!
14 Caim que trazia nos olhos as marcas da 26 Tudo o que eu quero, é que eles jamais
insônia ocultou à sua companheira o motivo se fechem para mim!
que não o deixara dormir. 27 Com emoção Abel beijou sua compa-
15 Sorriu simplesmente após ver surgir o nheira depois de ouvir suas palavras de cari-
Sol, e saiu prometendo regressar assim que nho, e respondeu-lhe com um sorriso:
sacrificasse no campo um cordeiro. 28 Querida, somente a morte os poderá
16 Achando estranha sua atitude, sua irmã fechar; mas mesmo a morte não poderá serrá-
perguntou-lhe o porquê de não oferecer a los para sempre, serrá-los para sempre, pois
oferta sobre o altar. no alvorecer eternal, eles se abrirão para você
17 Ele desculpou-se dizendo que manteria com um brilho que jamais será desfeito por
seu propósito jamais macular o seu altar com essa sombra!
64 MELQUISEDEQUE, 95
29 Abel dizia essas palavras, quando os naquele lugar enquanto tomaria um cordeiro
passos de Caim se fizeram ouvir em aproxi- gordo para o seu altar.
mação. 43 Não ouvindo resposta de Caim, Abel
30 Ao ouvirem-no chamar por Abel, saí- olhou para traz, e surpreendeu-se ao ver que o
ram-lhe ao encontro, e ficaram felizes ao vê- semblante de Caim estava transtornado e seus
lo expressar sua decisão de sacrificar um olhos não expressavam gratidão, mas ira.
cordeiro.
31 Como não possuía rebanho, desejava Caim mata Abel
adquirir um de seu irmão.
32 Abel prontamente autorizou-o a tomar 44 Abel voltando-se para ele, perguntou-
de seu rebanho, não somente uma ovelha, mas lhe o porquê de sua infelicidade.
quantas precisasse, até que formasse o seu 45 Disse-lhe que Deus o amava, e visto
próprio rebanho. que estava decidido a oferecer-Lhe um cor-
33 Caim, com um sorriso agradeceu-lhe a deiro, o seu casamento seria abençoado e
dádiva, mas acrescentou: desfrutariam paz na alma.
34 Meu caro irmão, não aprecio abusar de 46 Em resposta às palavras amorosas de
sua bondade, mas eu gostaria imensamente Abel, Caim disse-lhe friamente:
que você me acompanhasse até o rebanho, 47 Você é o cordeiro que eu quero te sa-
pois as ovelhas certamente fugirão de mim crificar!
que não sou pastor. 48 Depois de fazer-lhe esta cruel declara-
35 Abel consentiu de boa vontade em ção, Caim tirou do interior de sua veste uma
acompanhá-lo. faca de pedra e avançou sobre o seu irmão
36 Abraçou então sua companheira, pro- que, pálido rogava-lhe, deferindo-lhe um
metendo logo regressar - promessa que em profundo golpe na face.
dor veria desfazer-se no seu corpo ferido e em 49 O sangue imediatamente jorrou como
seus olhos a escurecer em sangue, semelhante de um cordeiro, fazendo Abel estremecer de
ao triste arrebol que não o traria de volta para medo.
os braços de sua amada. 50 Teria já chegado o dia de depor a vi-
37 Abel alegrou-se ao saber que seu ir- da?!
mão tomara a decisão de sacrificar um cordei- 51 Enquanto com um gemido indagava,
ro. sentiu outro golpe que em sua violência o fez
38 Enquanto caminhavam rumo ao reba- tombar ao solo.
nho, conversavam sobre a experiência do 52 Em sua mente atordoada pela dor, num
casamento: benção alcançada mediante o último esforço de sua consciência, lembra-se
sangrento sacrifício. daquelas juras de amor trocadas no alvorecer.
39 Quando já estavam distantes de seus 53 Em seu delírio de morte parecia ouvir
lares, avistaram o rebanho que pastava sob o sua amada dizer-lhe com os lábios trêmulos
sol matinal. pela emoção:
40 Abel adiantou-se em seus passos fa- 54 Querido, o seu olhar é como o olhar de
zendo soar sua voz de pastor. um cordeiro;
41 As ovelhas de uma só vez ergueram a 55 Tudo o que eu espero, é que eles ja-
cabeça, olhando na direção do bom pastor. mais se fechem para mim!
42 Caminhando em direção ao rebanho, 56 Revive assim com esforço, seu último
Abel pediu a seu irmão que o aguardasse beijo acompanhado por sua promessa que a
fez sorrir:
MELQUISEDEQUE, 96 65
57 Somente a morte os poderá fechar; ção de seu crime, o qual pretendia para sem-
mas mesmo ela não os poderá serrar para pre ocultar de sua esposa.
sempre, pois no alvorecer do dia eternal eles
se abrirão para você com um brilho que ja- A esposa de Abel fica preocupada por não
mais será desfeito por essa sombra. aparecer
58 Após lembrar este juramento de amor,
Abel vencido por um golpe fatal, mergulhou
na inconsciente treva, seguro de que em breve
essa sombra seria banida de seus olhos, no dia
96 BANHADA pela luz do arrebol,
aquela jovem esposa sorria, certa de
que abraçaria o seu Abel antes da noite.
da ressurreição. 2 Contemplando o sol em seu declinar so-
bre as campinas de onde esperava vê-lo re-
Caim esconde o corpo de Abel e foge gressar, com saudade lembrava do alvorecer
que em sua luz revelara os olhos de seu espo-
59 Caim somente cessou de golpear seu so, compassivos como os de um cordeiro.
irmão, depois de certificar-se de que ele esta- 3 Emocionou-se ao lembrar do pedido que
va realmente sem vida. num sussurro lhe fizera:
60 Arrastou-o então até a floresta, dei- 4 Tudo o que eu quero é que seus olhos
xando-o ali coberto com folhagens de capim. jamais se fechem para mim.
61 Retornando para sua casa, Caim mos- 5 Lembra-se de sua resposta carinhosa:
trou à sua companheira as marcas de sangue 6 Querida, somente a morte poderá fechá-
em suas mãos, e disse que atendera ao pedido los; mas mesmo essa não poderá cerrá-los
divino, sacrificando um cordeiro. para sempre, pois no alvorecer eternal eles se
62 Agora estavam livres para se unir sob a abrirão para você com um brilho que jamais
benção do Senhor. será desfeito por essa sombra.
63 Vencidos pela paixão carnal uniram-se 7 Com essa lembrança, a jovem esposa
então sob o brilho daquele sol que já não viu enfim o sol mergulhar em seu túmulo de
brilhava para Abel. morte e vida, envolvendo com seu último
64 Quando o sol tingia o horizonte com clarão a campina vazia e seu coração que a
seu arrebol, Caim lembrando-se de seu crime pulsar com saudade, permaneceria também
levantou-se sobressaltado, e disse para a sua vazio.
companheira que em seu sacrifício, prometera 8 Franzindo a testa com preocupação,
ao Senhor da luz apresentar suas flores e aquela jovem indagava:
frutos como uma oferta de gratidão pela 9 Por que não vem o meu amado?!
benção alcançada. 10 Movida pelo anseio, correu até a casa
65 Essa oferta deveria ser oferecida nas de seus pais, onde imaginava o encontrar.
divisas do Éden por ocasião do alvorecer. 11 Chamando-o, porém, não ouviu ne-
66 Precisavam, portanto, partir imediata- nhuma resposta além do ruído dos passos de
mente. seus pais que, curiosos saíram-lhe ao encon-
67 Sem questionar a vontade de seu mari- tro, indagando:
do, aquela jovem reuniu apressadamente suas 12 Filha, você está procurando por Abel?
vestes e a oferta de gratidão, e partiram para Ele ainda não chegou?
dentro da noite. 13 Não, respondeu a filha, já com lágri-
68 Caim tinha pressa, pois sabia que a au- mas nos olhos, ele ainda não chegou!
sência de Abel naquela noite, traria a revela- 14 Embora preocupados aqueles pais
abraçaram a filha procurando consolá-la,
66 MELQUISEDEQUE, 97
dizendo que ele logo estaria em seus braços. 33 Ele cuidará dele, e o trará no alvore-
15 Em sua preocupação velada, pergunta- cer!
ram então à filha: 34 As palavras de consolo de Adão, con-
16 Já faz tempo que ele saiu? tudo, longe de suavizarem o pranto daquela
17 Logo após despertarmos, no alvorecer jovem, mergulhou-a em maior sofrimento,
- respondeu. fazendo-a reviver em lembranças as promes-
18 A esta resposta, seguiu um silêncio de sas de Abel proferidas naquela manhã;
inquietantes indagações, enquanto juntos 35 Ele havia dito que se algum dia os seus
tentavam divisar em vão seu vulto sob aquele olhos fossem apagados pela morte, eles se
prado banhado pelo último rastro de luz. abririam para ela no alvorecer do sábado
19 Suspirando profundo, Adão já suspei- eterno.
tando um possível mal, indagou de sua filha:
20 Ele saiu sozinho? Caim foge com sua companheira
21 Soluçando ela respondeu:
22 Caim nos despertou pela manhã, pe-
dindo um cordeiro, e Abel saiu com ele.
23 Preocupado, Adão saiu silencioso e di-
97 CAIM e sua companheira em seus
passos apressados de fuga, encontra-
ram-se finalmente distantes da colina, mergu-
rigiu-se à casa de Caim. lhados naquele vale de trevas que jamais
24 Chamando ali por ele, não ouviu ne- entregaria de volta àqueles pais sofredores
nhuma resposta. seus filhos rebeldes.
25 Rompeu então através das folhagens 2 Caim agora, ao lado de sua esposa, re-
para o interior daquela cabana, onde leu no gozijava-se zombando das trevas, prometendo
triste vazio um presságio doloroso de traição, desfazê-la em breve com sua força.
confirmado numa veste manchada de sangue, 3 Vencidos pelo cansaço, tombaram ao
apagando-se na penumbra. solo, onde adormecidos ficaram até serem
26 Vencido pela angústia, Adão caiu ao despertos pelo alvorecer.
solo rompendo-se em pranto; 4 Refeitos da fadiga, continuaram a jor-
27 Não querendo, contudo, revelar seu nada pelo caminho da aventura, em passos
desespero à sua filha e esposa que precisavam que faziam Caim se lembrar daquela cami-
de consolo para vencerem aquela triste noite, nhada interrompida pela incoerência.
Adão num esforço imenso enxugou as lágri- 5 Quão tolo havia sido, pensava, em dar
mas e firmou-se contra as emoções, ao ouvir ouvido a voz do anjo!
os passos delas em aproximação. 6 Se houvesse continuado em sua missão,
28 Do lado de fora, Eva e sua filha espe- possivelmente já teriam um paraíso banhado
rançosas de encontrarem ali Abel em visita a por uma eterna luz.
seu irmão, indagou: 7 Entardecia quando o casal fugitivo al-
29 Eles estão aí papai? cançou o vale de ossos, lugar em que Caim
30 A voz esperançosa de sua filha em outrora sentira grande medo.
meio àquela noite, foi qual seta a sangrar seu 8 Ao passar por aquele lugar, Caim es-
coração, e temia responder sua pergunta. tremeceu.
31 Finalmente caminhou na direção de 9 Temia agora não as trevas que lenta-
sua filha, e vendo-a sofrer pela ausência de mente baixavam sobre o vale, mas a luz.
seu companheiro, procurou consolá-la dizen- 10 Percebendo o seu temor, sua compa-
do: nheira perguntou-lhe:
32 Filha confie no poder do Criador. 11 Você está temendo as trevas?
MELQUISEDEQUE, 97 67
12 Estou temendo a luz, respondeu Caim. os seus olhos, revelou diante deles a face do
13 Aquela que me fez caminhar rumo à Eterno, mais brilhante que o sol.
morte. 29 Não sabendo como encará-Lo em Sua
14 Não entendendo o que ele queria dizer, luz de justiça, Caim temendo ser castigado
sua companheira insistiu para que ele esclare- pelo seu crime, curvou a cabeça entre as
cesse o mistério. mãos.
15 Com impaciência, Caim revelou que 30 O Criador indagou-lhe então com seri-
estavam nas divisas do Éden; lugar onde edade:
encontrou-se outrora com o anjo. 31 Onde está Abel o seu irmão?!
16 Tendo dito isto, apontou para a es- 32 Como insistisse nesta pergunta, Caim
querda acrescentando: envergonhado por ter de confessar o seu
17 Sigamos nesta direção, pois não quero terrível crime diante de sua companheira, de
encontrá-lo novamente. quem queria ocultar, respondeu simplesmen-
18 Tomando-a pelo braço, caminharam te:
rápidos, aproveitando a última luminosidade 33 Não sei. Sou eu o guardador de meu
do arrebol. irmão?!
34 Indignado por esta resposta de despre-
O Eterno aparece para Caim zo e irresponsabilidade, o Eterno disse-lhe
com firmeza:
19 Quando enfim seus passos não podiam 35 Que fizeste Caim! A voz do sangue do
ser dados sem dificuldades por causa das seu irmão clama a mim desde a terra.
trevas, contemplaram por entre as ramagens
um brilho que, mais intenso que o do sol, A maldição e o sinal de Caim
permaneceu por um momento, desvanecendo-
se. 36 Agora continuou Deus; maldito será
20 Imóvel ao lado de Caim, sua esposa, nesta terra que recebeu o sangue inocente de
curiosa indagou: seu irmão.
21 Você viu? 37 Com voz cheia de tristeza, o Eterno
22 Sim, respondeu Caim a tremer. continuou:
23 O que será? 38 Até este dia, o cobri de bênçãos, fa-
24 À essa indagação, Caim não respon- zendo prosperar o seu labor na terra, dando-
deu, simplesmente tomou-a pela mão e disse: lhe prazer nesta realização; desde agora, já
25 Voltemos, fujamos dessa luz que nos não poderei abençoá-lo, pois pela espontânea
poderá matar. rebeldia você cerrou os canais desta benção.
26 Sem compreender o mistério, a jovem 39 Por isso caminhará sempre vagabundo
esposa o seguiu em passos rápidos que, aqui e sobre esta terra amaldiçoada por sua culpa,
acolá, eram impedidos por tropeções que os fugitivo da luz desta face que sempre lhe
lançavam ao chão. sorriu perdão e salvação, até tombar vencido
27 Nessa fuga, porém, não conseguiram pela rebeldia dentro da eterna noite.
esquivar-se do brilho que surgiu-lhes mais 40 Depois de revelar sua triste e irremedi-
forte diante dos olhos. ável situação, o Criador ergueu a voz e chorou
28 Enquanto espantados tentavam num amargamente.
último esforço fugir noutra direção, foram 41 Duro Lhe era despedir para a morte
detidos por uma forte mão que, desvendando aquele filho amado que, pela insistente rebel-
dia selara seu destino eterno.
68 MELQUISEDEQUE, 98, 99
42 Caim todo trêmulo, tomado pelo medo rem o seu corpo dilacerado, sob aquele capim
e horror pela sua deplorável condição, com coberto de moscas.
desespero clamou a Deus: 7 Diante desta cena de terrível humilha-
43 Volta Senhor, volta! Conceda-me so- ção, ergueram as vozes em gritos de pavor,
mente uma benção! não suportando a dor da separação.
44 Movido pelo Seu infinito amor, o 8 Ali permaneceram em agonia, até verem
Eterno tornou-se para Caim que trêmulo Lhe o sol tombar em seu mais melancólico entar-
falou de seu temor: decer.
45 Tenho medo dos perigos da floresta, e 9 Quão dolorosa lhes era o pensamento de
daqueles que quererão no futuro procurar-me terem de regressar para casa, deixando ali o
para vingar o sangue de meu irmão que der- amado Abel a desfazer-se em sua fria noite.
ramei. 10 Lembrando de sua infância, quando
46 O Criador teve compaixão de Caim, em seu leito o cobriam com amor, prometen-
prometendo-lhe proteção. do despertá-lo no alvorecer com um beijo,
47 Como sinal dessa promessa, acariciou- aqueles pais com um doloroso esforço o
lhe a face, fazendo-lhe desaparecer a abun- cobriram novamente com aquele capim, com
dante barba. a certeza de que no alvorecer do dia eterno o
48 Depois deste gesto de pai amoroso que beijariam em seu em seu despertar feliz.
acaricia o filho mesmo na eterna partida, 11 Com dificuldade deixaram finalmente
Caim viu desaparecer diante de seus olhos o aquele lugar já tomado pela noite e apalpa-
brilho daquela face banhada pelas lágrimas, ram-se na direção daquelas casas vazias, cujas
produzidas por sua ingratidão. paredes floridas já não trariam para eles ale-
gria.
Adão e sua família encontra o corpo de Abel
A esposa de Caim teme a morte, devido o que
tronco de árvore, onde permaneceu até vê-lo 25 Ali construiriam um altar estabelecen-
levantar a face lisa, chamando por ela. do o seu novo lar.
7 Reconhecendo ser a voz de seu esposo,
moveu-se em sua direção, mas logo deteve-se Caim casa-se e constrói um altar para cultuar
dominada pelo receio. o sol
8 Indagando em seu coração sobre o mis-
tério de sua face agora lisa, disse-lhe:
9 Tenho medo de aproximar-me de você!
10 Depois de expressar o seu temor, reve-
100 CAIM e sua companheira alcan-
çaram finalmente em sua jornada
um vale que, coberto por densa floresta esten-
lou outro maior: dia-se ao oriente do paraíso.
11 Tenho também medo de fugir de você! 2 Ali naquele ambiente de aparência hos-
12 Erguendo-se com um sorriso, Caim til teriam temido, se não fosse a promessa
perguntou-lhe: assinalada na face de Caim.
13 Por que você me teme? 3 Almejando encontrar além um lugar
14 Porque temo a morte, respondeu aflita. melhor, construíram ali um altar provisório,
15 Eu também, até ontem era como você, onde no alvorecer do primeiro dia de uma
tinha medo da morte, disse-lhe Caim. nova semana, ofereceram ao Senhor revelado
16 Agora não a teme mais? Indagou-lhe na face do Sol, flores e frutos, símbolos de
sua esposa. fecundidade.
17 Não a temo, respondeu Caim, passan- 4 Sob a luz do alvorecer uniram-se nova-
do a mão no rosto liso. mente naquele ato comemorativo da vitória
18 Mas o que baniu-lhe o seu temor? Per- que julgavam haver encontrado.
guntou-lhe a jovem, temendo ainda aproxi- 5 Depois de unir-se à sua mulher, Caim
mar-se. ergueu-se ante o altar dedicando ao Senhor
19 Vê minha face agora lisa? Este é o si- representado pelo sol, o seu lar.
nal de uma promessa feita pelo Senhor. 6 Pediu que os tornassem fecundos para
20 Qual promessa? Perguntou-lhe sua darem a muitos filhos o direito de contemplar-
companheira, aproximando-se agora sem lhe a face de brilho.
receio. 7 Caim concluiu sua oração de consagra-
21 Caim falou-lhe então da benção pro- ção, com uma promessa confirmada por um
metida e confirmada naquele sinal, da qual sinal, dizendo:
partilharia também ela, se o seguisse em seus 8 Se atentares para a nossa súplica, tra-
passos. zendo em teu brilho fecundidade, construire-
22 Não encontraria segurança e vida, con- mos por onde andarmos altares em honra a ti,
tudo, ausentando-se dele. onde o adoraremos com ofertas de gratidão.
23 Consolada pela promessa de proteção 9 Como sinal de nossa fidelidade, consa-
garantida no rosto liso de seu esposo, aquela graremos para o teu culto, este dia que nos
jovem o seguiu numa longa caminhada em une sob tua luz, o qual chamaremos pelo teu
contorno ao Éden. nome: O Dia do Sol.
24 Planejavam contorná-lo, alcançando o
vale oriental que estendia-se para além de seu
impenetrável prado;